Acompanhamento e animação da pessoa idosa manual

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Acompanhamento e Animação da Pessoa

Idosa

VELHICE – CICLO VITAL

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Todo o ser vivo nasce, vive, reproduz-se e morre, ou seja, o ciclo de vida começa com a conceção e termina com a morte.O aumento da esperança média de vida gerou um crescimento acentuado da população idosa, o que criou problemas, devido à falta de preparação da sociedade para esta realidade. Como se pode verificar, por exemplo, ao nível dos sectores – social e da saúde.Para melhor compreendermos esta realidade é importante perceber as diversas etapas de desenvolvimento do ser humano, que se caracterizam por tarefas biopsicossociais (são aquelas que a pessoa deve cumprir para garantir o seu desenvolvimento e consequente ajustamento psicológico e social). O ciclo vital é o conjunto das fases da vida onde é suposto realizar-se uma série de transições e de superar uma série de provas e de crises. Este ciclo desenvolve-se através do contacto com outros seres humanos e através da educação, uma criança passa de um modo gradual por diferentes idades e estatutos, como ser capaz e consciente nas formas de uma cultura, até enfrentar a morte como a conclusão de sua existência pessoal.Os indivíduos passam por diferentes etapas do ciclo de vida: a infância, a juventude, a maturidade, a velhice. A idade vai-se modificando ao longo do tempo e é essa modificação, concretizada em ciclos de vida, que determina estatutos e funções diferentes para os indivíduos. A um ciclo familiar segue-se outro. Um ciclo é o fim da jornada de uma geração, a que se segue outra geração.O facto de que as pessoas vivem mais tempo faz com que os idosos se tornem um núcleo da população relevante. A família atual entrecruza gerações.Exemplo:Netos (4.ª geração)Filhos (3.ª geração)Pais (2.ª geração)Avós (1.ª geração)

Formação do casalFamília com filhos pequenosFamília com filhos na escolaFamília com filhos adolescentesFamília com filhos adultos

1.1 Velhice e tarefas do desenvolvimento psicológico

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As tarefas são básicas em cada sequência do ciclo de vida. Há uma expectativa social de que as pessoas em cada sequência cumpram com êxito as suas tarefas. Na última parte do ciclo também a pessoa idosa tem tarefas de desenvolvimento a cumprir, de modo a ser feliz e a ter qualidade na sua vida.

Infância:Tarefa básica: Dominar a escrita e a leitura -» Servirá de instrumento para a sua independência, para uma comunicação mais ampla e efetiva, que posteriormente facilitarão as escolhas de formação e profissionalização, entre outras possibilidades.

Adolescência:Tarefa básica: Formação pessoal, emancipação -» Relacionam-se com a fase anterior e prolongam-se para o período seguinte. Permite a autonomia e independência.

Adulto: Tarefa básica: Responsabilidades cívicas e sociais;Estabelecer e manter um padrão económico de vida;Ajudar os filhos a serem futuros adultos responsáveis e felizes;Desenvolver atividades de lazer;Relacionamento com o marido ou mulher;Aceitar e ajustar-se às mudanças físicas da meia-idade e ajustar-se aos pais idosos.

Velhice:Tarefa básica: Ajustar-se ao decréscimo da força e saúde;Ajustar-se à reforma;Ajustar-se à morte do marido ou da mulher;Estabelecer filiação a um grupo de pessoas idosas;Manter obrigações sociais e cívicas assim como investir no exercício físico satisfatórios para viver bem a velhice.

Cumprir todas as tarefas é importante, como é importante também que os idosos contem com o apoio da família, da sociedade e dos profissionais que acuam na área. Dessa forma, ele poderá ter uma velhice bem sucedida e usufruir do prazer de ser e de viver, contribuindo para o bem de todos…

1.2 Teorias sobre o envelhecimento psicossocial

Teoria da continuidade:Afirma que o envelhecimento é uma parte integral e funcional do ciclo de vida.O indivíduo idoso tem todas as possibilidades de manter todos os seus hábitos de vida, preferências, experiências e compromissos construídos durante a vida.

Teoria da atividade:Existe um consenso sobre a relação entre as atividades sociais e a satisfação vivida.A velhice deve ser bem planeada e sucedida pressupondo a descoberta de novos papéis de modo a manter a autoestima para obter maior satisfação na vida.

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Tudo isto leva a hipótese de que a sociedade deve conservar a saúde valorizando o avançar da idade.

Teoria da desinserção:O envelhecimento é acompanhado por um desmembrar entre o indivíduo e a sociedade. Quando a desinserção é geral, o indivíduo modifica o seu sistema de valores. A perda do papel que desempenha na sociedade, a perda de relações pessoais e sociais acabam por tornar-se situações rotineiras e normais.Verifica-se que a diminuição da satisfação da vida é proporcional à diminuição das atividades diárias.

Fala-se do envelhecimento como se tratando de um estado tendencialmente classificado de “terceira idade” ou ainda “quarta idade”. No entanto, o envelhecimento não é um estado, mas sim um processo de degradação progressiva e diferencial. Ele afeta todos os seres vivos e o seu termo natural é a morte do organismo. É, assim, impossível datar o seu começo, porque de acordo com o nível no qual ele se situa (biológico, psicológico ou sociológico), a sua velocidade e gravidade variam de indivíduo para indivíduo.

1.3 Teorias psicossociais de Eric Erickson, R. Peck e Buhler

Eric Erickson (1950, 1982)Erickson propõe uma conceção de desenvolvimento em oito estádios psicossociais,

perspetivados por sua vez em oito idades que decorrem desde o nascimento até à morte, pertencendo as quatro primeiras ao período de bebé e de infância, e as três últimas aos anos adultos e à velhice. Erickson dá especial importância ao período da adolescência, devido ao facto ser a transição entre a infância e a idade adulta, em que se verificam acontecimentos relevantes para a personalidade adulta.Na Teoria Psicossocial do Desenvolvimento, este desenvolvimento evolui em oito estádios. Os primeiros quatro estádios decorrem no período de bebé e da infância, e os últimos três durante a idade

adulta e a velhice.Cada estádio contribui para a formação da personalidade total, sendo por isso todos importantes mesmo depois de se os atravessar.O núcleo de cada estádio é uma crise.A formação da identidade inicia-se nos primeiros quatro estádios.Erickson perspetivava o desenvolvimento tendo em conta aspetos de cunho biológico, individual e social.A teoria psicossocial em análise enfatizava o conceito de identidade, a qual se forma no 5º estádio, e o de crise que sem possuir um sentido dramático está presente em todas as idades, sendo a forma como é resolvida determinante para resolver na vida futura os conflitos.

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1. Confiança X Desconfiança (até um ano de idade): Durante o primeiro ano de vida a criança é substancialmente dependente das pessoas que cuidam dela, requerendo cuidado quanto à alimentação, higiene, locomoção, aprendizado de palavras e seus significados, bem como estimulação para perceber que existe um mundo em

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movimento ao seu redor. O amadurecimento ocorrerá de forma equilibrada se a criança sentir que tem segurança e afeto, adquirindo confiança nas pessoas e no mundo. 2. Autonomia X Vergonha e Dúvida (segundo e terceiro ano): Neste período a criança passa a ter controlo de suas necessidades fisiológicas e responder por sua higiene pessoal, o que dá a ela grande autonomia, confiança e liberdade para tentar novas coisas sem medo de errar. Se, no entanto, for criticada ou ridicularizada desenvolverá vergonha e dúvida quanto a sua capacidade de ser autônoma, provocando uma volta ao estágio anterior, ou seja, a dependência. 3. Iniciativa X Culpa (quarto e quinto ano): Durante este período a criança passa a perceber as diferenças sexuais, os papéis desempenhados por mulheres e homens na sua cultura entendendo de forma diferente o mundo que a cerca. Se a sua curiosidade “sexual” e intelectual, natural, for reprimida e castigada poderá desenvolver sentimento de culpa e diminuir sua iniciativa de explorar novas situações ou de buscar novos conhecimentos.4. Construtividade X Inferioridade (dos 6 aos 11 anos): Neste período a criança está sendo alfabetizada e frequentando a escola, o que propicia o convívio com pessoas que não são seus familiares, o que exigirá maior sociabilização, trabalho em conjunto, cooperatividade, e outras habilidades necessárias. Caso tenha dificuldades o próprio grupo irá criticá-la, passando a viver a inferioridade em vez da construtividade. 5. Identidade X Confusão de Papéis (dos 12 aos 18 anos): O quinto estádio ganha contornos diferentes devido à crise psicossocial que nele acontece, ou seja, Identidade Versus Confusão. Neste contexto o termo crise não possui uma aceção dramática, por tratar-se de a algo pontual e localizado com pólos positivos e negativos.6. Intimidade X Isolamento (jovem adulto): Nesse momento o interesse, além de profissional, gravita em torno da construção de relações profundas e duradouras, podendo vivenciar momentos de grande intimidade e entrega afetiva. Caso ocorra uma deceção a tendência será o isolamento temporário ou duradouro. 7. Produtividade X Estagnação (meia idade): Pode aparecer uma dedicação à sociedade à sua volta e realização de valiosas contribuições, ou grande preocupação com o conforto físico e material. 8. Integridade X Desesperança (velhice): Se o envelhecimento ocorre com sentimento de produtividade e valorização do que foi vivido, sem arrependimentos e lamentações sobre oportunidades perdidas ou erros cometidos haverá integridade e ganhos, do contrário, um sentimento de tempo perdido e a impossibilidade de começar de novo trará tristeza e desesperança.

Robert Peck (1955)Expande a teoria de Erickson, e descreve três ajustes psicológicos importantes para a fase final da vida:1. Definições mais amplas do eu contra uma preocupação com papéis de trabalho – São aqueles que definiram suas vidas pelo trabalho, direcionando seu tempo à conquista de méritos profissionais pessoais;2. Superioridade do corpo contra preocupação com o corpo – Aqueles para quem o bem-estar físico é primordial à existência feliz poderá ficar mergulhadas no desespero ao enfrentarem a diminuição progressiva da saúde, com a chegada da terceira idade, e

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o surgimento das dores e limitações físicas. Peck afirma que ao longo da vida, as pessoas precisam cultivar faculdades mentais e sociais que cresçam com a idade;3. Superioridade do eu contra uma preocupação com o eu – Provavelmente o mais duro e mais importante ajuste para o idoso seja a preocupação com a morte próxima. O reconhecimento do significado duradouro de tudo que fizeram ajudará a superar a preocupação com o eu, e continuarem a contribuir para o bem-estar próprio e dos outros.

Buhler (1935)Estabeleceu uma diferença entre as vidas baseadas apenas na Vitalidade e Mentalidade.Através da sua teoria constata-se, portanto, que as pessoas se desenvolvem também após a juventude.

“Uma pessoa permanece jovem na medida em que ainda é capaz de aprender, adquirir novos hábitos e tolerar contradições.” (Marie von Ebner-Escherbach)

1.4 Do jovem adulto à meia-idade

O jovem adulto vai desenvolver o seu “eu” e a maneira como vê o outro. Este desenvolvimento permite uma separação psicológica dos pais da infância e uma relativa autossuficiência no mundo adulto. Vai facilitar a relação de reciprocidade com os pais.Verifica-se o desenvolvimento de amizades adultas, mais difíceis de serem mantidas, diferentes daquelas da adolescência. Amizades com pessoas de diferentes idades e de diferentes estatutos sociais.Desenvolve-se a capacidade para a intimidade emocional e sexual. Aqui temos presente a crise já falada por Erickson (intimidade vs. isolamento). O jovem adulto poderá criar intimidade com outros. A vertente negativa é o isolamento de quem não consegue partilhar afetos com intimidade nas relações privilegiadas. As virtudes básicas desta crise são o amor e a filiação.É neste idade que se tornam pai ou mãe em termos biológicos e psicológicos, isto é “engravidar até pode ser fácil; difícil é ser pai ou mãe).

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É nesta idade que se forma uma identidade profissional adulta, encontrando um lugar gratificante no mundo do trabalho. Dever-se-á desenvolver formas adultas de brincar, isto é, manter-se em contacto com “a criança de cada um de nós”. Não se deve esquecer que o brincar é a base do inventar, do criar, do descobrir, essenciais na atividade artística e científica.Toma-se consciência da limitação do tempo e da morte pessoal, de forma integrada.

1.5 A meia-idade e as tarefas evolutivas Aceitação do corpo que envelhece; Aceitação da limitação do tempo e da morte pessoal; Manutenção da intimidade; Reavaliação dos relacionamentos; Relacionamentos com os filhos: deixar ir, atingir igualdade, integrar novos membros; Relação com seus pais: inversão de papéis, morte e individuação; Exercício do poder e posição: trabalho e papel de instrutor; Novos significativos, habilidades e objetivos dos jogos na meia-idade; Preparação para a velhice.

1.6 Aspetos estruturais e funcionais da meia-idadePrincipais desenvolvimentos:

As mulheres entram na menopausa; Ocorre certa deterioração da saúde física e declínio da resistência e perícia; Sabedoria e capacidade de resolução de problemas práticos são acentuadas;

capacidade de resolver novos problemas declina; Senso de identidade continua a desenvolver-se; Dupla responsabilidade de cuidar dos filhos e pais idosos pode causar stress; Partida dos filhos tipicamente deixa o ninho vazio; Para alguns, sucesso na carreira e ganhos atingem o máximo para outros ocorre

um esgotamento profissional; Busca do sentido da vida assume importância fundamental; Para alguns, pode ocorrer a crise de meia-idade.

Alguns aspetos visíveis: Rugas; Cabelos brancos; Redução da agilidade; Redução da força física; Falta de firmeza nas mãos e pernas; Perda de sensibilidade no tato; Diminuição da capacidade de audição; Diminuição da capacidade de visão; Alterações no olfato e paladar; Voz torna-se mais fina;

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A artéria coronária com o passar dos anos tende a estreitar, tornando-se em parte bloqueada. A inadequada circulação sanguínea no cérebro produz sérios distúrbios da personalidade em pessoas idosas.

Mudanças no sistema nervoso. Redução da eficiência respiratória Com o envelhecimento o tempo de reação torna-se mais lento e o idoso sofre

algumas perdas de memória. Envelhecimento psicológico:

No processo do envelhecimento as mudanças biológicas, causam grande impacto no psiquismo do indivíduo, modificando-lhe a sua autoimagem e determinando o seu ajustamento no meio envolvente. O amor e respeito pelo mundo do indivíduo são fatores vitais para a preservação da identidade psicológica. Estes elementos são suficientes para o controlo das necessidades emocionais da pessoa idosa, no entanto nem sempre estão disponíveis, originando assim um problema. Deste modo é importante preservar um conjunto de valores na vida do idoso para que ele saiba ultrapassar os seus problemas.

PROCESSO DE ENVELHECIMENTO

Podemos, ainda salientar que o envelhecimento se concretiza mediante três formas. O normal – ausência de patologia biológica e mental séria; O patológico – afetado por doença/ patologia grave;

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Fatores ligados à idade (as mudanças biológicas que

ocorrem ao longo dos anos)

Fatores ligados à história (mudanças sociais, económicas e

políticas que alteram as condições concretas de vida das

pessoas)

Fatores ligados ao acontecimento de vida (variam

de pessoa para pessoa relativamente à sua ocorrência

ou não, à sua forma e ao momento em que ocorrem (ex. divórcio, reforma, doenças...)

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Envelhecimento ótimo/ bem-sucedido – sob condições favoráveis e propícias ao desenvolvimento psicológico.

VELHICE – ASPECTOS SOCIAIS

1.7 A velhice e a sociedadeVelhice e envelhecimento: Conceitos e análiseMitos da velhice (início da velhice e aptidões da velhice; negatividades da velhice; isolamento e solidão na velhice)

“A velhice hoje em dia dificilmente se pode comparar com um entardecer tranquilo.”

É perfeitamente possível hoje em dia permanecer na terceira idade e ainda estar física e mentalmente ativo.”

O conceito de velhice remete-nos, em primeira análise, para a noção de idade indiciando que a velhice se constitui num grupo de idade homogéneo. A idade não é um fator que pode, por si só, medir as transformações dependentes do envelhecimento. Acrescenta que as alterações surgidas com a idade dependem também do estilo de vida que cada um teve ao longo do seu percurso.As razões apontadas pela Organização Mundial de Saúde que fundamentam que a idade dos 65 anos e mais serve para definir as pessoas como idosas, vão no sentido de que com o avanço da idade, aumentam os riscos do sujeito, associando-os às modificações físicas, psíquicas e sociais influenciadas por fatores intrínsecos e extrínsecos ao sujeito.Identificamos os variados sentidos que o conceito idade pode assumir:- Idade cronológica como sendo a que se refere ao tempo que decorre entre o nascimento e o momento presente. O significado aqui atribuído dá-nos indicações sobre o período histórico vivido pela pessoa se, contudo, fornecer indicações prévias sobre o estado de evolução da mesma;- Idade jurídica que corresponde à necessidade social de estabelecer normas de conduta e determinar qual a idade em que o sujeito adquire determinados direitos e deveres perante a sociedade;- Idade física e biológica que tem em conta o ritmo a que cada indivíduo envelhece;- Idade psicoafectiva que reflete a personalidade e as emoções de um sujeito, não tendo esta limites em função da idade cronológica;- Idade social, relacionada à sucessão de papéis que a sociedade atribui a uma pessoa e que corresponde às suas condições socioeconómicas.Associando os fundamentos destas definições constatamos que todas elas incluem, na sua definição, a influência que a interação do sujeito tem com os padrões de vida que

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o rodeia e socializa. O fator idade não serve para esclarecer quem é velho e quem o não é. Algumas expressões usadas no domínio comum da sociedade ocidental mostram a dificuldade em romper com os preconceitos:“Tenho rugas, estou a ficar velho…”“Já não tenho força para nada.”“Os anos vão passando.”“Não fazem nada e estão a tirar o lugar aos mais novos.”“O trabalho não anda, estão todos velhos.”“A juventude, de hoje, não sabe nada. No nosso tempo é que era…”

De uma maneira geral, a sociedade vê a velhice como uma fase de declínio intelectual (“a memória está fraca”, uma fase na qual a demência se instala (estado de confusão, esquecimento e mudanças na personalidade irreversível). É uma fase na qual há uma mudança de estatuto – a reforma. Isto significa mais tempo livre ou a adoção de novos papéis e uma nova realidade física, económica e social.As mudanças corporais características da velhice são:

Aparência física/ cor do cabelo cinzenta/ branca; Órgãos dos sentidos (défice auditivo sobretudo no homem, diminuição da capacidade

de focalização dos objetos e outros); Músculos, osso e mobilidade (diminuição do peso e tonicidade muscular, diminuição

da altura, aparecimento de osteoporose, etc.) Órgãos internos (diminuição da capacidade de funcionamento do coração pela perda

da tonicidade muscular e ainda modificação do sistema imunitário, dado o declínio na produção de anticorpos).Diversos problemas cognitivos aparecem na velhice e poderão não ser reflexo da idade, mas de fatores, tais como: depressão, inatividade, efeitos secundários de medicação, isolamento social, pobreza, falta de motivação, falta de cuidados pessoais.No passado eram os mais velhos que desempenhavam o papel de formadores na transmissão de experiências e conhecimento.

Estas expressões sobre a velhice representam um fenómeno recente, associado às transformações económicas e sociais provocadas pela Revolução Industrial com início no séc. XVIII. As pessoas mais velhas transmitiam a sabedoria, a experiência inerente aos modos de produção (ensinavam um ofício aos mais novos).Após a Revolução Industrial, com o aumento da longevidade, associado ao desenvolvimento científico e tecnológico, os idosos tornou-se um peso, um obstáculo e um encargo. Com a ajuda da medicina, atualmente a terceira idade é uma parte considerável da população.

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A partir daqui a função social da família perdeu importância dando lugar ao aparecimento de um grupo de idade – os mais velhos – reconduzindo-o para um estatuto de inutilidade.A velhice torna-se visível e de expressão pública. Coloca-se, assim, a questão de saber como e quem assume a responsabilidade deste grupo etário, passando a ser encarado como um fenómeno social passível de resposta sociais.

A longevidade deve-se à melhoria da qualidade das condições económicas e sociais e ao aumento dos níveis gerais de higiene e saúde.Período Longevidade atual Longevidade futuraDa infância à puberdade 0 – 20 Anos 0- 30 AnosJovens adultos 20 – 40 Anos 30 – 60 AnosIdade madura 40 – 60 Anos 60 – 100 AnosIdoso A partir dos 65 anos 100 – 120 Anos

1.8 Mitos da velhice

Noções:

Estereótipo -» Os estereótipos são crenças socialmente compartilhadas a respeito dos membros de uma categoria social, que se referem a suposições sobre a homogeneidade grupal e aos padrões comuns de comportamento dos indivíduos que pertencem a um mesmo grupo social. Sustentam-se em teorias implícitas sobre os fatores que determinam os padrões de conduta dos indivíduos, cuja expressão mais evidente encontra-se na aplicação de julgamentos categóricos, que usualmente se fundamentam em suposições sobre a existência de essências ou traços psicológicos intercambiáveis entre os membros de uma mesma categoria social.

Estigma social -» é uma forte desaprovação de características ou crenças pessoais que vão contra normas culturais. Estigmas sociais frequentemente levam à marginalização.

Vários mitos até hoje cercam a condição da velhice. Dentre eles: “Mito da Senilidade" - Supõe que a velhice e a enfermidade andam juntas. A

maioria da população anciã é considerada com uma saúde incapacitada, associando velhice com senilidade ou deterioração mental. A velhice precisa ser vista como parte do ciclo vital e que o envelhecimento começa logo após o nascimento. As limitações não são enfermidades.

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“Mito do Isolamento Social” - Acredita ser a exclusão, o repouso, a solidão, o melhor para a vida do idoso. Existe aqui uma confusão que mistura o fato de um idoso não poder mais realizar tarefas produtivas e remuneradas como se esta fosse a única forma de interação social que se pode produzir.

“Mito da Inutilidade” - Nasce de uma sociedade capitalista onde as pessoas valem pelo que elas produzem e pelo que elas conseguem possuir em função disto. É um mito totalmente baseado na produção material e na ganância.

“Mito da Pouca Criatividade e da Capacidade Para Aprender” - Afirma que as pessoas em idade avançada não têm mais capacidade. É certo que os idosos contam com maior lentidão e não possuem mais tanta atenção, memória e agilidade. Porém são capazes de aprender muito, o que se necessita é criar outras formas de ensino que se voltem para as necessidades e habilidades anciãs. Não se pode querer de um ancião que aprenda como uma criança ou um jovem.

“Mito da Assexualidade” - nasceu de tabus culturais e de atitudes de muitos profissionais. As pessoas velhas são julgadas como carentes de desejos sexuais e, no caso de manifestarem este desejo, são tidas como anormais. Se julga que a sexualidade e as relações sexuais estejam reservadas para os jovens e geralmente sexualidade é confundida com genitália, e não vista como uma dimensão do ser humano que está presente sempre.

Um conceito mais recente que define a velhice como uma fase do processo evolutivo, vem substituindo na maioria das sociedades o antigo significado do envelhecer, conceito que trazia toda uma carga de negatividade. A velhice não se constituía objeto de preocupação social, antes, os idosos eram tratados com atitudes filantrópicas e benevolentes com o intento de ocultar os valores negativos que a sociedade que se modernizava lhe impunha. Considerava-se o idoso como alguém que existiu no

passado, que realizou o seu percurso psicossocial e espera o momento fatídico para sair da cena do mundo.Atualmente, a velhice passa a ser objeto de cuidado e atenção especiais, que eram certamente inexistentes nos últimos dois séculos. A mudança que se observa nas relações que a sociedade estabelece com a velhice, não se verifica apenas pela mudança de valores, mas pelo aumento da esperança

de vida devido ao progresso da medicina que com todo o seu aparato tecnológico enfrenta as doenças crónicas favorecendo a longevidade e contribuindo dessa forma como um dos fatores para o aumento significativo da população idosa, principalmente nos países jovens.

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O aumento da faixa populacional considerada idosa tem exigido das sociedades e do poder público um novo e sensível olhar sob a forma de investimento em políticas sociais que contemplem o idoso em suas necessidades bio psicossociais.A sociedade e o estado não podem mais ignorar o idoso, que se tornou ator na cena política e social, redefinindo imagens estereotipadas nas quais a velhice aparece associada à solidão, doença, viuvez e morte, enfatizando essa fase de vida como uma condição desfavorável, muitas vezes indesejada.Uma iniciativa que aqui, como em outros países se vem fomentando são as Universidades Abertas da Terceira Idade, instituições públicas e privadas que têm trazido para dentro de seus espaços um número cada vez maior de idosos que procuram retomar o seu lugar na sociedade, participando como sujeitos de saber e não apenas como objetos de estudo. Vários são os preconceitos, mitos e ideias erróneas sobre o envelhecer que somados às mudanças, perdas e incertezas que acompanham esta etapa da vida, transformam-se em verdadeiros "Fantasmas do Envelhecer". Isso dificulta a relação das pessoas com essa nova imagem, levando-as a rejeitar o envelhecimento como um "processo dinâmico, gradual, natural e inevitável.Outro preconceito que dificulta ao idoso lidar com o processo de envelhecimento é a associação de velhice à enfermidade. Nesse sentido, é importante lembrar que o envelhecimento é um processo individual, único, influenciado pela história biopsicossocial do indivíduo. Mas são poucas as enfermidades próprias do envelhecer, a pessoa que envelhece adoece como qualquer outro. O que se recomenda é uma maior atenção à sua saúde física e psíquica e o estímulo ao autocuidado uma vez que as suas defesas estão diminuídas, ocorrendo maior exposição às doenças.A ideia de enfermidade incorporada ao imaginário da pessoa que envelhece, leva-a a perceber-se doente e incapaz, a resignar-se com este estado, negando-se a aceitar os limites naturais e resistindo assim a descobrir formas mais saudáveis de conviver com eles. Na medida em que se oferece ao idoso e à sociedade em geral informações sobre o processo natural do envelhecimento e alternativas para um envelhecer ativo, esse imaginário vai-se modificando. Essa é uma tarefa que deve desafiar toda essa população de idosos que ingressa nesse novo século.Baseada nas modificações intelectuais que podem ocorrer com o envelhecimento principalmente em relação à memória, tem-se a falsa ideia de que há uma completa deterioração das funções cognitivas, perdendo assim, o idoso a sua capacidade de aprendizagem. Este preconceito tem suas raízes também numa visão ainda hoje deturpada da educação que se destina aos jovens com o objetivo de os preparar para competir no mercado de trabalho, isto é, para produzir. Por isso, parece tão estranho a

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figura do idoso ocupando um lugar nas salas de aula, nas oficinas, disputando vagas nas universidades e até mesmo no mercado de trabalho.É certo, conforme mostram os estudos sobre este aspeto do envelhecimento, que a capacidade de aprender na idade mais avançada não é a mesma que na juventude, porém mais uma vez é preciso retomar o conceito de "diferente" ao qual nos referimos antes para aceitar a ideia de que os idosos continuam a aprender de outra forma, com outro ritmo, com outros interesses. O preconceito em relação à sexualidade é um dos que mais pesam sobre a pessoa que envelhece. Dois fatores que influenciam estas crenças:

a dificuldade em distinguir sexualidade e genitalidade; que a sexualidade é própria para a juventude.

Uma das formas de reconhecimento do corpo relaciona-se com as primeiras experiências de contato do bebé com a mãe o que influencia na aceitação da imagem corporal e na perceção do corpo como fonte de prazer. Ao envelhecer a imagem desse corpo dececiona na medida em que supõe uma desilusão no outro. Isto provoca um trauma que é agravado ainda mais pela cultura de valorização da estética e da imagem física como se vê atualmente. Daí a importância de resgatar outros "códigos percetivos e sensoriais" como o código tátil e do contato com o próprio corpo e o do semelhante. A imagem corporal desfavorável de si influencia a atividade sexual e como nos mostra Simone de Beauvoir,"Uma outra barreira é a pressão da opinião". A pessoa idosa dobra-se ao ideal convencional que lhe é proposto. Teme o escândalo, ou simplesmente o ridículo. Torna-se escrava d’ "o que vão dizer". Interioriza as obrigações de decência e de castidade impostas pela sociedade. Seus próprios desejos a envergonham, e ela os nega "... (Beauvoir, 1990, p.393)".Sabemos que as modificações fisiológicas que ocorrem com o envelhecimento contribuem para a diminuição das respostas aos estímulos como a ereção do pénis, a lubrificação da vagina e outras. O desejo, a capacidade de excitar-se e alcançar o orgasmo mantêm-se, por toda a vida numa pessoa saudável, orgânica e psicologicamente.A mulher que sempre foi vítima dos mitos e ideias erróneas sobre a menstruação, a gravidez e o parto e cuja educação rígida a impediu de viver o prazer, vê -se nessa fase da vida, impedida, pela família e pela sociedade, de exercer o direito à sua sexualidade. Torna-se assexuada. Embora se saiba que "biologicamente a sexualidade da mulher é menos atingida pela velhice do que a do homem" (Beauvoir, 1990, p.425), para elas, chegar à menopausa significa não só parar de reproduzir, mas, abdicar de toda possibilidade de prazer.Quanto ao homem, a quem foi dado todo o direito ao sexo, envelhecer significa diminuir o seu poder e isto torna-se mais penoso para ele do que para a mulher. Para ambos, sob pena de serem vistos como anormais, desejo, prazer, atividade sexual, estão proibidos negando a sexualidade como uma função humana que está presente

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em todas as fases do desenvolvimento com características diferentes em cada uma delas. A aceitação das mudanças e a busca de informações sobre o envelhecimento ajudam a diminuir a influência negativa dos preconceitos sobre a sexualidade uma vez que estes têm mais poder de interferência do que as modificações decorrentes da idade.Para muitas pessoas o fato de o idoso evocar as suas lembranças é sinal de que as suas funções intelectuais estão a entrar em deterioração. "A reminiscência permite recordar pensando ou relatando fatos, atos ou vivências do passado. É uma atividade psíquica universal, necessária na velhice porque favorece a integração do passado ao presente, reforçando a identidade. Propicia exercitar a memória, resignificar a vida e ajuda a manter a memória coletiva". Portanto, “recordar é um processo vital, normal e saudável do envelhecer" diz Viguera.

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Mito

Imagem negativa da velhice.Frequentemente associada à doença, morte, improdutividade, dependência, decadência e solidão.Criança para brincar, adulto para trabalhar e o velho para descansar. "Não é para a senhora fazer nada, tem que descansar..."A memória e a inteligência diminuem com a idade. "Demente..."O velho não aprende, é desatento, não presta atenção a nada. "Caduco..." Velho assexuado, perde o interesse e a capacidade sexual. "Velho depravado / velha assanhada..."Velho não tem futuro. Já deu o que tinha que dar. "Isso não é mais para mim..."Velho volta a ser criança. "Agora ela é que é a minha filha. É o meu bebé..."O velho só deve conviver com velho. O velho vive do passado. "No meu tempo..." "Não é do meu tempo..."

Fato

A velhice é uma etapa vital peculiar. Existem velhos ativos, sadios, participantes.Doença, inatividade e morte pode ocorrer em qualquer faixa etária.Todas as idades, todas as funções. Projeto de vida não só para descansar, nem para viver só por coisas fúteis. O velho pode brincar, trabalhar e descansar.Não diminuem necessariamente, mas modificam-se. Necessidade de exercitar a memória continuamente. Produção intelectual, artística, empresarial, social, religiosa, pessoas com mais de 65 anos.Apreendem e prestam atenção ao que lhes interessa, ao que corresponde às suas necessidades, aos seus anseios. Existem velhos que ocntinuam a produzir a nível económico, social, cultutal e artístico.Relações sexuais mantidas. Ocorre redução da frequência, falta de interesse, de parceiros.As pessoas devem preparar-se para envelhecer, fazer planos e projetos. O projeto da vida pressupõe criatividade, autonomia, educação permanente.O velho é uma pessoas que envelheceu, com a sua história de vida, o seu passado, tem um presente, e é necessário construir um futuro sem anular as outras etapas da vida. A maioria das pessoas veem a velhice, desconsiderando toda uma história de vida.Laços de amizade fazem bem ao corpo e alma. O ser humano é um ser social. Grupos da terceira idade, grupos da igreja, centros de convivência são importantes. Mas não deve ocorrer só entre idosos, existe a necessidade do entrelaçamento de gerações. Muitas vezes o presente e o futuro não são promissores. Como competir com a a tecnologia e o mundo globalizado? No entanto é possível a pessoa idosa manter-se atualizada, adaptar-se a diferentes situações.

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A qualidade de vida dos idosos sofre os efeitos de numerosos fatores, entre eles o preconceito dos profissionais, familiares e dos próprios idosos em relação à velhice. Há, assim, a necessidade de trabalhar esses mitos desde a infância, através dos meios de comunicação social, nas escolas, nas famílias.

“É fundamental estimular ações que promovam educação gerontológica continuada, visando combater a maior forma de violência: o Preconceito contra a Velhice. Só assim será possível construir uma sociedade livre de discriminação, negligência, maus tratos, exploração e opressão.” (Machado & Queiroz, 2002)

1.9 Representações da morte

Morte pode ser definida como sendo o cessar irreversível de: 1. do funcionamento de todas as células, tecidos e órgãos; 2. do fluxo espontâneo de todos os fluídos, incluindo o ar (“último suspiro”) e o

sangue; 3. do funcionamento do coração e pulmões; 4. do funcionamento espontâneo de coração e pulmões; 5. do funcionamento espontâneo de todo o cérebro, incluindo o tronco cerebral

(morte encefálica); 6. do funcionamento completo das porções superiores do cérebro (neocórtex); 7. do funcionamento quase completo do neocórtex; 8. da capacidade corporal da consciência.

Podemos considerar a morte como a maior das crises que o homem enfrenta. Todos nós enfrentamos crises, algumas superáveis outras não e embora estejam sempre presentes há uma diferença que interfere na possibilidade de seu enfrentamento; na terceira idade as perdas aceleram-se, sendo que o tempo para superá-las é menor. Pode ocorrer, no entanto, o idoso sentir-se incapacitado ou frágil para enfrentá-las instalando-se assim uma crise mais séria. Mesmo considerando que envelhecer e adoecer não sejam sinónimos, não podemos ignorar que determinadas enfermidades são mais frequentes em idosos. Existem as doenças psicossomáticas e ainda as modificações orgânicas que não são doenças, ou seja, rugas, cabelos brancos, pós-menopausa, postura encurvada, reflexos mais lentos, tudo isto se reflete na autoestima. Todos os conflitos gerados por estas situações, geram a preferência pela morte em detrimento da dor física ou psíquica. Como se não bastasse há ainda o preconceito contra o envelhecimento, o sentimento de ser um fardo pesado a alguém. A sensação de perdas das pessoas que se ama, da beleza, do vigor, da saúde, da utilidade gera a imagem do “espelho quebrado”.

Aspetos sociológicos: Nas sociedades primitivas os idosos eram venerados, fonte de sabedoria e experiência, hoje houve inversão de valores, os idosos são marginalizados e perdem sua valorização social. A sociedade vem assistindo mudanças em relação à

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imagem do idoso. Em parte, devido ao aumento da expectativa de vida e os problemas decorrentes do despreparo quanto a que atitudes devem ser tomadas tanto no que diz respeito a aspetos sociais de atenção a saúde como a um sistema previdenciário que os apoie. Atitudes preconceituosas têm feito da terceira idade um fardo aos que a possuem. O ideal não é simplesmente prolongar a vida como a ciência tem feito, mas que haja condições favoráveis a uma vida digna onde não haja omissão quanto às condições do idoso. A verdade é que a velhice não é um problema social, mas a forma com que a sociedade tem lidado com ela tem trazido problemas sociais. A possibilidade de ações multidimensionais, tendo em vista as características da velhice e das suas determinantes biopsicossociais assustam-nos, principalmente a partir do momento da nossa conscientização de que também passaremos por esse processo que nos coloca a uma pequena distância da morte, responsável por nos banir de uma sociedade que pensamos depender de nós, mas que nos transcende. A morte biológica significa o fim do organismo humano, mas o ser social só deixa de existir a partir do momento em que uma série de cerimónias de despedida é realizada e a sociedade reafirma a sua continuidade sem ele. Existe grande diferença entre conceitos pensados como sinónimos. Envelhecimento, idoso e velhice distinguem-se quanto aos seus aspetos. O envelhecimento é o processo que ocorre durante o curso da vida, onde há modificações biológicas, psicológicas e sociais. O ser humano modifica-se somaticamente do nascimento até a morte. O idoso geralmente é especificado pelo tempo cronológico, mas existem questões físicas, funcionais, mentais e de saúde que podem influenciar. O idoso é o resultado do processo de desenvolvimento, do seu curso de vida. Faz parte de uma consciência coletiva. A velhice é a última fase do processo de envelhecimento. É um conceito abstrato, sendo impossível delimitá-la em tempo ou em características.

Cada pessoa teme mais um certo aspeto da morte. Afirma-se que se deve considerar a morte sob duas conceções:

1. A morte do outro: o medo do abandono, envolvendo a consciência da ausência e da separação.

2. A própria morte. A consciência da própria finitude, a fantasia de como será o fim e quando ocorrerá.

Ao pensar a sua morte, cada pessoa pode relacioná-la a um dos seguintes aspetos:

a) Medo de morrer: Quanto à própria morte, surge o medo do sofrimento e da indignidade pessoal. Em relação à morte do outro é difícil ver o seu sofrimento e desintegração, o que origina sentimentos de impotência por não se poder fazer nada.

b) Medo do que vem após a morte: Diante da própria morte existe a ameaça do desconhecido, o medo de não ser e o medo básico da própria extinção. Em

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relação ao outro, a extinção evoca a vulnerabilidade pela sensação de abandono.

O que parece mais temido na morte depende da época de vida de cada um e das circunstâncias do momento como, por exemplo: o perigo eminente devido a situações externas de guerras, crimes, violência; perturbações internas que ameaçam o sujeito, como medos e fobias, ou mesmo a morte de alguém.

Para alguns a morte amedronta, pois é vista como fim ou como perda da consciência idêntica ao adormecer, desmaiar ou perder o controlo. O medo da morte pode conter também o medo da solidão, da separação de quem se ama, o medo do desconhecido, o medo do julgamento pelos atos terrenos, o medo que possa ocorrer aos dependentes, o medo da interrupção dos planos e fracasso em realizar os objetivos mais importantes da pessoa. São tantos os medos, que algum sem dúvida faz parte da nossa vida.

Os fatores que mais influenciam, no sentido de conter o medo da morte, são: a maturidade psicológica do indivíduo, a sua capacidade de enfrentamento, a orientação e o envolvimento religiosos que possa ter e a sua própria idade.

Resumo:

Momento trágico (viuvez, reforma, etc.)

Rutura a nível pessoal, familiar e social

Dificuldade em adaptar-se

Espera emocional negativa (desilusão com a vida, insónias, depressão)Alteração do grupo de amigos

A velhice traz consigo a perspetiva de morte. Mesmo com o aumento da esperança de vida é sempre um período finito. Esta finitude passa a ser mais consciente com a chegada da velhice. A perda de amigos, familiares e de pessoas de referência social reforça esta caraterística.

Quando existe uma doença grave, ou outra condição de saúde, incluindo aspetos físicos, mentais e sociais que gera sofrimento, a morte passa a ser não só uma probabilidade mas também uma alternativa.

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1.10 Problemas sociais da velhice1.11 A pessoa idosa no final do séc. XX

O envelhecimento tornou-se uma questão social e urgente.Nas últimas décadas, os avanços da medicina e a melhoria da qualidade de vida contribuíram para o aumento da expectativa de vida da população. Esta situação modificou a pirâmide etária, que se estreitou na base (infância e adolescência), e se alargou no topo (velhice), pelo aumento da expectativa de vida e a diminuição da mortalidade infantil.

Contudo, a modernidade é paradoxal: ao mesmo tempo que a expectativa de vida aumenta, os idosos vivem num mundo estranho para eles. Além de preparar os idosos para essa nova configuração social, a sociedade deve-se reestruturar e reeducar-se para recebê-los.A representação da pessoa idosa sofreu modificações através da história devido às mudanças sociais que reivindicavam políticas sociais para a velhice e a criação de novas categorias adaptadas à condição moral e “ética” do velho. No séc. XIX, na França, a velhice caracterizava as pessoas que não podiam assegurar o futuro financeiro, sendo designadas de acordo com a sua posição social: “velho” ou “velhote” para os despossuídos que não podiam vender o seu trabalho; e “idosos” para aqueles com prestígio e posses.Hoje, a representação da velhice é marcada pela inserção do indivíduo de mais idade na produção, estando vinculada à invalidez e à incapacidade de produzir. O termo “velho”, na maioria das vezes, está carregado de conotações negativas, sendo empregado para reforçar a exclusão social daqueles que não produzem mais dentro dos moldes das sociedades capitalistas.A partir dos anos 60, mudanças em França tornaram os vocábulos “velho” e “velhote” pejorativos, sendo suprimidos dos textos oficiais e substituídos pelo termo “idoso”, transformando a representação das pessoas mais envelhecidas.

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Surge, então, um novo vocábulo para designar o grupo: a “terceira idade”, etapa interposta entre a reforma e a velhice. Entretanto, a colocação de todos os idosos sob o rótulo de terceira idade tem criado novos recortes como o “velho jovem” e o “jovem velho”. A terceira idade torna-se categoria classificatória de uma classe heterogénea, mascarando a realidade social.Assim, constatando-se o prolongamento da vida sem a melhoria das suas condições, torna-se o idoso um estorvo social face à economia capitalista.As categorias de idade são construções histórico-sociais. A “terceira idade”, por ex., é uma criação das sociedades ocidentais contemporâneas, implicando na criação de uma nova etapa de vida, acompanhada de agentes, instituições e mercados especializados.Os recortes de idade trazem a associação de práticas sociais. Estabelecem direitos e deveres, definem diferenças entre gerações, distribuem poder e privilégios, o que pode ser percebido na idade para entrada e saída do mercado de trabalho, para votar, para casar, para morrer (socialmente), para estudar, etc. A idade geracional, por ex., estabelece-se culturalmente, independentemente da estrutura biológica e dos estádios de maturidade. A ideia de gerações supõe pessoas

que vivenciaram as mesmas épocas, e a mudança de geração implica mudanças de comportamento, na produção de uma memória coletiva e construção de uma tradição. Os idosos ativos, através das suas práticas sociais, contribuem para essa mudança de comportamento e criação de uma memória coletiva, a serviço da resistência à velhice e ao

estigma do “velho” improdutivo e dependente.Numa cultura estruturada no modo produtivo, a saída do mercado de trabalho modifica radicalmente a vida das pessoas, diminuindo-se obrigações trabalhistas e familiares, seguindo-se mais rápido em direção à velhice social. Com a criação da reforma, o ciclo de vida é modificado em três etapas: a infância e adolescência (tempo de formação), a idade adulta (tempo de produção) e a velhice (tempo de repouso).A reforma pode ser recebida de diferentes formas pelos idosos: uns aceitam-na como recompensa pelos anos em que trabalharam, outros recebem-na de forma negativa, associando-a ao afastamento social e à perda do papel produtivo, tornando-se um sintoma social do envelhecimento.Na sociedade atual, prega-se o respeito aos mais velhos enquanto se exige deles um lugar para os jovens na produção, pois a valorização do profissional é proporcional à sua juventude e capacidade de produção.Afastando-se do processo produtivo, o idoso torna-se responsabilidade do Estado que lhe paga a reforma.

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Novas estratégias para a transição para a reforma precisam de ser criadas com o objetivo de preparar as pessoas para a mudança, de forma a se programarem para alcançar novos projetos de vida após a reforma.A velhice, na sociedade industrial capitalista, tem ficado à margem dos interesses produtivos. O idoso tem sido rejeitado, e somente aqueles com prestígio social e de classes favorecidas podem esquivar-se da marginalidade social através dos seus bens acumulados. Ser idoso neste contexto é lutar para continuar a ser homem, para sobreviver, sendo impedido de lembrar e ao mesmo tempo sofrendo as adversidades de um ser que gradualmente se desagrega.A sociedade industrial atribui à velhice a manutenção de papéis sociais do passado, relacionados à força produtiva, e que não correspondem mais ao idoso. Nesta sociedade, os idosos não podem errar. Deles esperamos infinita tolerância, perdão, ou uma abnegação servil para a família. Momentos de cólera, de esquecimento, de fraqueza são duramente cobrados aos idosos e podem ser o início do seu banimento do grupo familiar.Na velhice, a dificuldade de realizar tarefas fica evidente: as distâncias mais longas, as escadas mais difíceis de subir, as ruas mais perigosas para atravessar. O mundo torna-se uma ameaça e falhas são condenadas, tornando o idoso inseguro, com medo da solidão e da marginalização social.A relação dos familiares com o idoso também se modificou. Representado como frágil, é poupado de discussões e decisões familiares. Desta forma, é-lhe negado a possibilidade de conflito através da abdicação do diálogo. Isto contribui para que ele reclame do abandono dos filhos e sinta-se banido e rejeitado.Conscientizar-se de que envelhecer é um processo natural não significa aceitar a velhice. Poucos são os idosos que conservam a jovialidade do espírito, a alegria de estar vivo, a esperança no futuro, sem revoltar-se com a nova situação.Os valores juvenis hoje difundidos têm feito com que o idoso se sinta inútil e indesejado, tornando-se depressivo, ansioso, introspetivo e reflexivo, pensando no tempo que falta viver. A velhice torna-se ruína, uma vez que não se conserva os padrões de juventude eternamente. Tudo isto leva à criação de estereótipos que caracterizam o envelhecimento: ser improdutivo, incapaz de aprender, doente, exigindo cuidados, inferior ao jovem. Isto cria um abismo e um conflito de gerações entre jovens e idosos.

O homem tende a abandonar o espaço do trabalho para o espaço doméstico, a mulher tende a se adaptar melhor à velhice, pois não se afasta tanto da esfera privada do lar. Elas tendem a conceber a velhice com tranquilidade, liberdade e felicidade, sem a autoridade comum dos maridos, e sem preocupação com o espaço público. Para eles, a velhice tende a traduzir-se pela desobrigação do trabalho, possibilidade de desfrute e lazer.

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Homens tendem a avaliar a sua idade pela produção no trabalho e as mudanças na saúde, enquanto as mulheres a avaliam de acordo com as mudanças no núcleo familiar (saída dos filhos, chegada dos netos, etc.).Na velhice é preciso saber refletir sobre o vivido, assumindo novas posturas, como o resgate de valores e modos de viver ainda não assumidos; o rompimento de rotinas, a retomada de planos de vida incompletos; o resgate de desejos pessoais; o retorno às emoções e sentimentos; e a reconstrução da identidade pessoal e social com base em novos interesses e motivações. A vida é um “jogo de ganhos e perdas” e o problema da velhice tem sido não saber tirar proveito desse jogo, pois ao interpretar a vida, em compreender o outro, em ser sensível e em perceber o que é essencial, em descobrir habilidades, e em dedicar-se ao outro. Envelhecer não é seguir um caminho já traçado mas, pelo contrário, construí-lo permanentemente.Em função das suas representações sociais sobre a velhice, idosos assumem práticas sociais que valorizam ou não a si mesmos. Para uns, ser idoso é começar a adoecer, não ver bem, esquecer tudo, deprimir-se, sentir-se inferior e perder o entusiasmo pela vida. Para outros, é tempo de novas experiências e conquistas, de convívio com amigos, viagens, ajuda aos outros e desenvolvimento de capacidades.

1.12 Mudanças de atitudes do idoso frente a velhice

Hoje, interesses em como viver o máximo possível, morrer dignamente, encontrar auxílio no envelhecimento, participar de decisões da comunidade e família, e prolongar o respeito e autoridade, são comuns e observados entre os idosos. Estes interesses configuram uma nova postura em relação ao envelhecimento através da participação em causas que deem significado à vida.A década de 90 ofereceu um novo tipo de poder aos idosos. Por exemplo, os novos valores sobre a saúde, qualidade de vida e longevidade. A velhice tornou-se um investimento. Idosos com boa situação económica têm mais tempo livre para desfrutar a vida, passando a encarar a velhice positivamente. Os idosos são libertados das obrigações familiares e ocupacionais, e, por outro lado, têm oportunidades para desfrute próprio, oportunidade de autoconstrução, de busca de independência e melhoria da qualidade de vida.A imagem do avô contador de histórias é cada vez menos aparente. Hoje, um homem de 50 ou 60 anos não é idoso, pensamento comum décadas atrás. A capacidade de ação, autonomia nos cuidados consigo mesmo, participação social e disposição para novos projetos estão a modificar valores, e os idosos são valorizados pelas capacidades de ação e jovialidade. A palavra de ordem é a prevenção do envelhecimento na juventude.Um novo estilo de vida surge entre os idosos. Eles preocupam-se com a dieta, o vestuário, a aparência corporal e a atualização com o que acontece no mundo. Hoje está a surgir um novo idoso. Através de uma postura mais ativa, o idoso redireciona a vida e a procura novidades que proporcionam satisfação e o valorizam socialmente.O grande desafio da velhice é aceitar-se a si mesmo, despojando-se de estereótipos sociais impostos, não temendo o aparecimento dos primeiros fios de cabelos brancos,

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pois a velhice é inerente à existência. Devemos viver a nossa temporalidade, não nos submetendo a uma cronologia medida artificialmente através dos rótulos. O homem é um ser inevitavelmente direcionado para morrer, o que o faz atuar na sociedade de maneira envolvente, até atingir a velhice, quando a liberdade do deixar está plenamente desenvolvida.

1.13 Envelhecimento ativo

Noção: É a capacidade das pessoas que avançam em idade terem uma vida produtiva na sociedade e na economia que quer dizer que possam determinar a forma como reparam o tempo entre as atividades de aprendizagem, o trabalho, o lazer e os

cuidados a outros.Assenta na possibilidade de os indivíduos poderem optar por manter uma atividade remunerada ou não.O projeto de uma vida adulta prolongada revela-se um desafio pessoal – quem sou eu, onde estou, para onde vou. Exige esforço, é expressão de liberdade e de autonomia, está associado ao conceito de progresso, tenta controlar o futuro, altera a perceção do tempo e permite encarar a realidade como relacional.

Foram identificados comportamentos que classificaram como mais favoráveis, quer à reconstrução dos laços sociais, quer dos papéis e dos estatutos, com efeitos positivos no envelhecimento e na prevenção dos riscos: riscos sociais (isolamento e solidão); riscos ambientais (barreiras, habitação desadequada); riscos de saúde (incapacidades e dependências). Agrupam-se em dois grandes grupos: Internos (autoestima, capacidade de relação com os outros, satisfação pessoal) e externos (rendimentos, redes de inserção, acesso à tecnologia, acesso aos cuidados de saúde, a serviços de proximidade).O envelhecimento ativo tem representado uma estratégia de governação dos sistemas de segurança social, de forma a retardar e/ou a evitar as saídas precoces do mercado de trabalho.Em relação à evolução dos pensionistas de velhice, no caso português, no horizonte 1990-2020, as estimativas apontam para um aumento de cerca de 60% deste grupo, ao mesmo tempo que os pensionistas de sobrevivência apontam 100%.

As múltiplas questões a enfrentar, decorrentes das mudanças na estrutura das populações com alongamento da vida adulta são: emprego, financiamento das reformas, modos de vida, relações sociais, solidariedades e cooperação entre gerações, habitat, cobertura dos riscos de saúde, entre outras.Melhorar os níveis de saúde, de escolarização/ qualificação e de acesso a oportunidades de desenvolvimento pessoal ao longo da vida são fatores essenciais de sustentabilidade de sociedades com aumentos da longevidade sem paralelo na história.Implementar uma política de envelhecimento obriga a um esforço decidido no sentido da eliminação das formas de segregação pela idade.

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Políticas de emprego, de formação ao longo da vida, de rendimentos, de informação, de acesso a cuidados de saúde (preventivos, curativos e de reabilitação) e de acesso a serviços sociais entendem-se como estratégias de promoção da qualidade de vida de todos os cidadãos de todas as idades.

Envelhecer de uma forma ativa deve ser entendido como um direito e um dever que a todos congrega: indivíduos pelo incentivo à cidadania, coletivo pela assunção de políticas integradoras, de discriminação positiva (anti exclusão), de garantia de direito à autodeterminação e à participação na vida das comunidades e da sociedade, e bem assim à oferta de cuidados adequados à preservação da autonomia. Todas as pessoas idosas, mesmo em situação de dependência, devem poder envelhecer permanecendo ativas. É necessário precavermo-nos contra o risco de privilegiar as pessoas idosas mais jovens em detrimento das pessoas muito idosas e de ter bem presente que a relação entre atividade e saúde (nomeadamente a estimulação mental) mantém-se válida para as muito idosas. O investimento na prevenção da doença, das incapacidades e da perda de competências constituem eixos de maior importância.Acessibilidades, adaptação ao habitat, comunicação, serviços de proximidade, são eixos estratégicos orientados para a qualidade de vida de todos e consequentemente do envelhecimento de todos de forma ativa, com dignidade e segurança. As condições habitacionais não devem sabotar a situação de saúde e a autonomia das pessoas

idosas. É desejável que a habitação para as pessoas idosas obedeça a características e normas específicas, designadamente em termos de projeto, sistemas de aquecimento, segurança e conforto, e ainda às características locais, tais como serviços de proximidade e outras facilidades num ambiente social e natural agradável, conducente à interação de todas as pessoas

de todas as idades.Os cuidados e os transportes têm impactos significativos na capacidade das pessoas idosas viverem de forma independente.A qualidade de vida de todas as pessoas depende, para além de fatores económicos, de fatores sociais e espaciais das nossas aldeias, vilas e cidades. (ONU, Habitat II, 1999)

A qualidade da intervenção social pode medir-se pela libertação do sofrimento e do isolamento, pela dinamização/ integração em redes de sociabilidade, pela promoção de projetos de valorização das capacidades dos indivíduos e do seu desenvolvimento pessoal e pelo fluxo das trocas interpessoais e intergeracionais.A intervenção social numa estratégia de envelhecimento ativo orienta-se para o benefício de todos ao contribuir para o reconhecimento do valor social dos que envelhecem e para uma maior visibilidade das trocas e da partilha do património económico, socia e cultural entre gerações.

Alguns conceitos importantes:

Autonomia é a habilidade de controlar, lidar e tomar decisões pessoais sobre como se deve viver diariamente, de acordo com as suas próprias regras e preferências.

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Independência é, em geral, entendida como a habilidade de executar funções relacionadas à vida diária – isto é, a capacidade de viver independentemente na comunidade com alguma ou nenhuma ajuda de outros.

Qualidade de vida é “a perceção que o indivíduo tem da sua posição na vida dentro do contexto da sua cultura e do sistema de valores de onde vive, e em relação aos seus objetivos, expetativas, padrões e preocupações. É um conceito muito amplo que incorpora de uma maneira complexa a saúde física de uma pessoa, o seu estado psicológico, o seu nível de dependência, as suas relações sociais, as suas crenças e a sua relação com características proeminentes no ambiente” (OMS, 1994). À medida que um indivíduo envelhece, a sua qualidade de vida é fortemente determinada pela sua habilidade de manter autonomia e independência.

Expetativa de vida saudável é uma expressão geralmente usada como sinónimo de “expetativa de vida sem incapacidades físicas”. O tempo de vida que as pessoas podem esperar de cuidados especiais é extremamente importante para uma população em processo de envelhecimento.

Os fatores determinantes do envelhecimento ativo:

Fatores determinantes transversais: a cultura e o géneroA cultura modela a nossa forma de envelhecer, pois influencia todos os outros fatores determinantes do envelhecimento ativo.Os valores culturais e as tradições determinam muito como uma sociedade encara as pessoas idosas e o processo de envelhecimento, elas têm menor probabilidade de oferecer serviços de prevenção, deteção precoce e tratamento apropriado.Nos países asiáticos, a regra cultural é a valorização de famílias ampliadas e a vida em conjunto em lares com várias gerações da mesma família.

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Os fatores culturais também influenciam na busca de comportamentos mais saudáveis.As políticas e os programas precisam de respeitar culturas e tradições e, ao mesmo tempo, desmistificar estereótipos ultrapassados e informações erróneas.O género é uma “lente” através do qual se considera a adequação de várias opções políticas e o efeito destas sobre o bem-estar dos homens e das mulheres.O papel tradicional das mulheres como responsáveis pelos cuidados com a família pode conduzir ao aumento da pobreza e de problemas de saúde quando ficam mais velhas. Por outro lado, homens jovens e adultos estão mais sujeitos a lesões incapacitantes ou morte devido à violência, riscos ocupacionais e ao suicídio. Também assumem comportamentos de maior risco (beber, fumar…).

Fatores comportamentais determinantesA adoção de estilos de vida saudáveis e a participação ativa no cuidado da própria saúde são importantes em todos os estádios da vida. Um dos mitos do envelhecimento é que é tarde demais para se adotar esses estilos nos últimos anos de vida. Pelo contrário, o envolvimento em atividades físicas adequadas, alimentação saudável, a abstinência do fumo e do álcool, e fazer uso de medicamentos corretamente podem prevenir doenças e o declínio funcional, aumentar a longevidade e a qualidade de vida do indivíduo.

Fatores determinantes relacionados a aspetos pessoaisA biologia e a genética têm uma grande influência sobre o processo de envelhecimento.A razão principal dos idosos ficarem doentes com mais frequência que os jovens é que devido à vida mais longa, foram expostos por mais tempo a fatores externos, comportamentais e ambientais que causam doenças do que os indivíduos mais novos.Os fatores psicológicos, que incluem a inteligência e a capacidade cognitiva, são indícios fortes de envelhecimento ativo e longevidade. Durante o processo de envelhecimento normal, algumas capacidades cognitivas diminuem, naturalmente, com a idade. Entretanto, essas perdas podem ser compensadas por ganhos em sabedoria, conhecimento e experiência.Homens e mulheres que se preparam para a velhice e se adaptam a mudanças fazem um melhor ajuste na sua vida depois dos 60 anos.A maioria das pessoas fica bem-humorada à medida que envelhece e, em geral, os idosos não diferem muito dos jovens no que se refere à capacidade de solucionar problemas.

Fatores determinantes relacionados ao ambiente físicoDeve-se dar uma particular atenção aos idosos que moram em áreas rurais (cerca de 60% no mundo todo), onde os tipos de doença podem ser diferentes em função das condições de ambiente da falta de serviço de ajuda disponível. A urbanização e a migração dos jovens em busca de emprego podem deixar o idoso isolado em áreas rurais com poucos meios de se manter, e pouco ou nenhum acesso a serviços sociais e de saúde.Serviços de transporte público acessíveis e baratos são necessários em áreas rurais e urbanas. Isso é especialmente importante para os idosos com problemas de mobilidade.

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Os perigos no ambiente físico podem causar lesões incapacitantes e dolorosas nos idosos, e as mais frequentes são decorrentes de quedas, incêndios e batidas nos automóveis.Os padrões de construção devem levar em conta as necessidades de saúde e segurança das pessoas idosas, como os obstáculos nas residências que aumentam o risco de quedas precisam ser corrigidos ou removidos.

Fatores determinantes relacionados ao ambiente socialApoio social, oportunidades de educação e aprendizagem permanente, paz e proteção contra a violência e maus tratos são fatores essenciais do ambiente social que estimulam a saúde, participação e segurança, à medida que as pessoas envelhecem.

Fatores económicos determinantesRendaProteção social

TrabalhoEm todo o mundo, se mais pessoas pudessem ter, o quanto antes em sua vida, oportunidades de trabalho digno (com remuneração adequada, em ambientes apropriados, e protegidos contra riscos), iriam chegar à velhice ainda capazes de participar da forca de trabalho. Assim, toda a sociedade se beneficiaria. Em todas as partes do mundo, há um aumento do reconhecimento da necessidade de se apoiar a contribuição ativa e produtiva que idosos podem dar e fazem no trabalho formal, informal, nas atividades não-remuneradas em casa e em ocupações voluntárias.Nos países desenvolvidos, o ganho potencial do incentivo para as pessoas mais velhas trabalharem mais tempo não está sendo bem entendido. Mas quando o índice de desemprego está alto, há frequentemente uma tendência a reduzir o número de

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trabalhadores mais velhos como meio de se criar empregos para os jovens. Contudo, a experiência mostrou que a aposentadoria antecipada usada para dar espaço a novos empregos para os desempregados não foi uma solução eficaz.Nos países menos desenvolvidos, os idosos tendem a se manter economicamente ativos na velhice pela necessidade. No entanto, industrialização, adoção de novas tecnologias e mobilidade do mercado de trabalho estão ameaçando muito do trabalho tradicional dos idosos, especialmente nas áreas rurais. Os projetos de desenvolvimento precisam garantir que idosos sejam qualificados para esquemas de crédito e plena participação nas oportunidades de geração de renda.Tanto nos países em desenvolvimento quanto nos desenvolvidos, os idosos algumas vezes responsabilizam-se pela administração do lar e pelo cuidado com crianças, de forma que os adultos jovens possam trabalhar fora de casa.Em todos os países, os idosos qualificados e experientes atuam como voluntários em escolas, comunidades, instituições religiosas, negócios e organizações políticas e de saúde. O trabalho voluntário beneficia os idosos ao aumentar os contatos sociais e o bem-estar psicológico e, ao mesmo tempo, oferece uma relevante contribuição para as comunidades e nações.

1.14 Desafios de uma população em processo de envelhecimentoOs desafios de uma população em processo de envelhecimento são globais, nacionais e locais. Superar esses desafios requer um planeamento inovador e reformas políticas substanciais tanto em países desenvolvidos como em países em transição.

1.º Desafio: A carga dupla de doençasÀ medida que as nações se industrializam, mudanças nos padrões de vida e trabalho são inevitavelmente acompanhadas por uma transformação nos padrões das doenças. Essas transformações apresentam maior impacto nos países em desenvolvimento. Ainda lutando contra doenças infeciosas, desnutrição e complicações puerperais, esses países enfrentam um rápido crescimento das doenças não transmissíveis. Esta “carga dupla de doenças” reduz os recursos já escassos ao seu limite.Esta mudança no padrão de doenças transmissíveis para as não transmissíveis está ocorrendo rapidamente na maioria dos países desenvolvidos, onde as doenças crónicas, como cardiopatias, cancro e depressão estão cada vez mais se tornando as principais causas de morte e invalidez. Esta tendência irá crescer nas próximas décadas.

2.ºDesafio: O maior risco de deficiênciaNos países desenvolvidos e em desenvolvimento, as doenças crónicas são causas importantes e dispendiosas de deficiência e pior qualidade de vida. A independência de pessoas mais velhas é ameaçada quando deficiências físicas ou mentais dificultam a execução de atividades quotidianas.Com o passar dos anos, os portadores de deficiências tendem a encontrar mais obstáculos relacionados ao processo de envelhecimento.Diversas pessoas desenvolvem alguma deficiência mais tarde, que se relaciona ao desgaste do processo de envelhecimento (por exemplo, artrite) ou ao início de uma doença crónica, que poderia ter sido evitada (ex: cancro de pulmão, diabete e doença vascular periférica), ou uma doença degenerativa (ex: demência).

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A probabilidade de sofrer sérias deficiências cognitivas e físicas aumenta dramaticamente em pessoas de idade muito avançada.Entretanto, as doenças associadas ao processo de envelhecimento e o início de doenças crónicas podem ser prevenidas ou adiadas.Algumas mudanças na comunidade são importantes, tanto na prevenção de deficiências como na redução das restrições que pessoas com incapacidade geralmente enfrentam. Observou-se um progresso impressionante no tratamento a longo prazo de doenças crónicas como hipertensão e artrite, incluindo novas técnicas para diagnóstico e tratamento precoces. Os estudos recentes enfatizaram que o aumento do uso de acessórios – desde simples acessórios pessoais, como bengala, andarilho e corrimão, até tecnologias desejadas por toda a população como telefones – podem reduzir a dependência entre portadores de deficiência.Outras deficiências relacionadas à idade incluem perda de visão e audição. As mais frequentes causas de cegueira e deficiência visual relacionadas à idade incluem catarata (quase 50% de todos os tipos de cegueira), glaucoma, degeneração macular e retinopatia diabética.A perda auditiva leva a uma das deficiências mais difundidas, especialmente entre pessoas idosas. Essa perda pode causar dificuldades de comunicação, o que por sua vez pode levar à frustração, baixa autoestima, reclusão e isolamento social.Como as populações do mundo todo vivem por mais tempo, há uma necessidade premente de políticas e programas que ajudem a prevenir e reduzir a carga de deficiências na velhice tanto em países desenvolvidos como naqueles em desenvolvimento.

3º Desafio: Provisão de cuidado para populações em processo de envelhecimentoÀ medida que as populações envelhecem, um dos maiores desafios da política de saúde é alcançar um equilíbrio entre o apoio ao “autocuidado” (pessoas que cuidam de si mesmas), apoio informal (cuidado por familiares e amigos) e cuidado formal (serviço social e de saúde). Os cuidados formais incluem cuidados de saúde primários (prestados principalmente na comunidade) e cuidados institucionais (em hospitais ou casas de repousos).Uma boa parte dos cuidados que os indivíduos necessitam pode ser proporcionada por eles mesmos ou pelos cuidadores informais, e a maioria dos países aplica seus recursos financeiros de uma forma inversa, ou seja, a maior parcela das despesas é utilizada com cuidados institucionais.Em todo o mundo, os familiares, amigos e vizinhos (a maioria composta por mulheres) dão mais apoio e assistência para os mais velhos que necessitam de cuidados. Alguns legisladores temem que se propiciarem mais cuidado formal, as famílias se envolvam menos, mas alguns estudos demonstraram que não é bem assim. Quando há provisão de cuidados formais adequados, a assistência informal permanece como o principal aliado.A maioria das pessoas idosas que necessitam de cuidados prefere ser atendida na sua própria casa. Como a proporção de idosos aumenta em todos os países, viver em casa até uma idade mais avançada e com a ajuda de familiares irá se tornar cada vez mais comum.

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As informações e instruções sobre o envelhecimento ativo precisam ser incorporados ao currículo e aos programas de treinamento para todos os trabalhadores das áreas sociais, de saúde, de recreação, planeamento urbano e arquitetura.

4.º Desafio: A feminização do envelhecimentoAs mulheres vivem mais do que os homens em quase todos os lugares. Este fato reflete-se na maior taxa de mulheres por homens em grupos etários mais velhos.As mulheres têm a vantagem da longevidade, mas são vítimas mais frequentes da violência doméstica e de discriminação no acesso à educação, salário, alimentação, trabalho significativo, assistência à saúde, heranças, medidas de seguro social e poder político. Essas desvantagens cumulativas significam que as mulheres, mais que os homens, tendem a ser mais pobres e a apresentar mais deficiência em idades mais avançadas.Por causa de sua posição de cidadãs de segunda-classe, a saúde das mulheres mais idosas é geralmente negligenciada ou ignorada. Além disto, muitas mulheres possuem pouca ou nenhuma renda devido aos anos de trabalho não remunerado. O cuidado familiar é frequentemente suprido em detrimento da segurança econômica e da boa saúde na idade mais avançada.

5.º Desafio: Ética e iniquidadesAlguns avanços científicos e a medicina moderna suscitaram várias questões éticas.Em todas as culturas, os consumidores precisam estar bem informados sobre as falsas declarações de produtos anti envelhecimento e os programas que são ineficazes ou mesmo prejudiciais.As sociedades que valorizam a justiça social devem lutar para assegurar que todas as políticas e práticas sejam mantidas e para garantir os direitos de todas as pessoas, independente da idade.A idade avançada frequentemente exacerba outras desigualdades pré-existentes associadas à raça, etnia ou ao gênero.Para as pessoas idosas e pobres, as consequências dessas experiências anteriores são agravadas através de outras exclusões de serviços de saúde, esquemas de crédito, atividades geradoras de renda e processos decisórios. As desigualdades quanto à atenção à saúde ocorrem quando porções de populações pequenas e comparativamente prósperas e em processo de envelhecimento, especialmente em países desenvolvidos, consomem um montante desproporcional dos recursos públicos para seus cuidados.

6.º Desafio: A economia de uma população em processo de envelhecimentoNota-se um aumento de custos resultantes da explosão do envelhecimento nos vários países.

7.º Desafio: A criação de um novo paradigma (modelo)A terceira idade foi tradicionalmente associada à aposentadoria, doença e dependência. Mas estas ideias não são a realidade, pois muitos idosos ainda se encontram no ativo.É o momento de termos um novo paradigma, que perceba os idosos como participantes ativos de uma sociedade com integração de idade, contribuintes ativos, e

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beneficiários do desenvolvimento. Reconhece a importância das relações e do apoio entre familiares e diferentes gerações.Requer programas que apoiem o aprendizado em todas as idades e permitam às pessoas entrar e sair do mercado de trabalho para assumir o papel de cuidadores em diferentes momentos.Essa abordagem apoia a solidariedade entre as gerações e fornece maior segurança para crianças, pais e pessoas idosas.Educar os jovens sobre o envelhecimento e cuidar da manutenção dos direitos das pessoas mais velhas irão ajudar a reduzir e eliminar a discriminação e o abuso.

1.15 Ser velho hoje, no meio rural e no meio urbanoEm primeiro lugar, devemos distinguir o idoso rural do idoso urbano. Em segundo lugar, devemos olhar o idoso no contexto da família, incluindo filhos e netos.Finalmente, deverão ser analisadas as relações sociais complexas fora da família.Assim, o idoso, no meio rural, era uma figura privilegiada no seio da comunidade. À sua figura estava ligada toda a história familiar e patrimonial; fossem ricas ou pobres, as famílias mantinham no seu seio o idoso. O seu património constituía como que uma garantia de assistência á velhice. Embora a divisão do património resultasse de um sistema de desigualdades no seio das comunidades, a verdade é que idoso, através do seu património, estava presente na família e geria os seus bens até ao dia em que morria. Na família, o idoso era uma ponte de ligação ou relacionamento com a geração seguinte. Este modelo rural começou a ser alterado há dois séculos através da industrialização e consequente crescimento das sociedades urbanas, e a maior parte dos idosos de hoje já fogem ao perfil anterior e enquadram-se no perfil do que chamamos de idoso urbano. O idoso urbano defronta-se com vários problemas resultantes de viver na cidade moderna, o maior dos quais é a solidão. A solidão é mais do que o resultado do abandono a que alguns filhos votam os pais. A fuga dos jovens para as periferias na procura de uma melhor qualidade de vida e de sucesso material a todo o custo, retira-lhes tempo para outras ocupações, nomeadamente para o convívio com a família. O idoso é o elo mais fraco da família, e por isso o primeiro a ser posto no fim da cadeia de relações familiares.A isto há que juntar o envelhecimento da população urbana. O envelhecimento da população urbana é um fenómeno relativamente recente e muito intenso, que resulta da ida das novas gerações para bairros novos. Na cidade ficam os idosos.Esta situação deverá ser mudada: a solução está na alteração da fisionomia das cidades, e na mudança de atitude perante os idosos. Os cidadãos, nas suas respostas sociais, têm de aceitar que a sociedade tem um dever de gratidão a cumprir com aqueles que protagonizaram o êxodo rural da década de 60 e que fizeram crescer as cidades. No caso dos centros históricos, a solução está na sua renovação urbana, de modo a que os jovens se fixem lá.

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1.16 Respostas institucionais1.17 Pensar novas respostas

Cada vez mais, torna-se fundamental manter a pessoa idosa no seu meio social tendo em vista o seu bem-estar físico, psíquico e emocional. Desta forma, questiona-se cada vez mais a institucionalização da pessoa idosa como resposta social prevalente, verificando-se uma tendência para a atuação conjunta dos vários organismos institucionais, quer a nível nacional como a nível local no sentido de criar respostas alternativas à institucionalização do idoso. Criaram-se nos últimos anos respostas tais como: os serviços de apoio domiciliário, centros de dia e de convívio, e até mesmo os serviços de acolhimento domiciliário. A nível nacional, as respostas sociais institucionais existentes podem caracterizar-se segundo dois tipos: o acolhimento permanente que engloba os equipamentos de colocação institucional de idosos, tais como: os lares, as residências e famílias de acolhimento; o acolhimento temporário, de carácter não institucional, reúne os serviços de apoio e acompanhamento local dos idosos, tais como: os serviços de apoio domiciliário.Cada vez mais, as instituições tentam oferecer serviços que promovam um envelhecimento bem-sucedido, que potenciem a conservação do empenhamento social e do bem-estar subjetivo, conceitos estes difundidos pelos especialistas nesta matéria.Nos últimos anos têm vindo a realizar-se vários estudos no sentido de se saber quais os fatores que mais contribuem para a melhoria da qualidade e diversidade das respostas sociais que permitam uma maior satisfação das necessidades da pessoa idosa, quer esteja ou não institucionalizada. Um dos estudos mais ambiciosos neste domínio foi conduzido por Cameron (1975) que refere que os sentimentos de felicidade, de tristeza, e de bem-estar subjetivo não se degradam com a idade e que os idosos não têm uma satisfação de viver inferior à dos jovens. A variabilidade entre os indivíduos parecem, pelo contrário, aumentar com o envelhecimento, neste sentido fala-se cada vez mais de velhices e não de velhice, não existindo assim a velhice, mas antes dando ênfase à existência da heterogeneidade com que cada idoso vive o seu próprio processo de envelhecimento, sendo este, altamente influenciado pelo suporte social de que dispõe, permitindo ao mesmo tempo a manutenção da sua participação social, tanto quanto possível.Desde as investigações de Durkheim (1987), que o isolamento e a ausência das relações com os outros são fatores de predição dos comportamentos suicidas, que foram também ao encontro dos estudos feitos com idosos. Neste sentido, os equipamentos sociais têm de basear todas as suas resposta fazendo com que as pessoas percebam o seu potencial, promovendo o seu bem-estar físico, social e mental ao longo do curso da sua vida, o que inclui uma participação ativa dos seniores nos mais variados domínios da sociedade, intervindo nas questões económicas, espirituais, culturais, cívicas e até mesmo ao nível da participação das políticas sociais.Donald (1997) formulou algumas classes gerais que podem servir de referência às respostas sociais, tais como:

O bem-estar físico, em que se destacam os aspetos materiais, saúde, higiene e segurança;

As relações interpessoais, que pode incluir a família, amigos e participação na comunidade;

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O desenvolvimento pessoal, que representa as oportunidades de desenvolvimento intelectual, e autoexpressão;

As atividades recreativas que podem subdividir-se em três partes: Socialização, entretenimento, passivo ou ativo;

As atividades de carácter espiritual, em que estão envolvidas, a atividade simbólica, religiosa e o autoconhecimento.

Muitos estudos vêm referir que a qualidade de vida, ou falta desta nos idosos, depende em grande medida do facto dos idosos possuírem autonomia para executar as atividades do dia-a-dia, manter uma relação familiar ou com pessoas significativas para si, ter recursos económicos suficientes e desenvolver/participar em atividades lúdicas e recreativas continuamente.Segundo Jacob (2002), as respostas sociais tendem a evoluir, sendo que os estudos apontam para:

O aumento da procura deste tipo de serviços, havendo um elevado nível de procura expressa não satisfeita (lista de espera) nas valências para idosos;

Que os atuais centros de convívio poderão evoluir para as chamadas universidades de terceira idade, tornando-se assim mais dinâmicos, e com uma maior adesão por parte dos idosos, sendo mais ativos;

Para que os Centros de Dia funcionem todos os dias da semana (fins de semana e férias) e em horário mais alargado;

Que os serviços de apoio domiciliário tenderão a aumentar, assim como os serviços tenderão a funcionar todos os dias, mesmo no horário noturno;

Que os lares tenderão a diminuir, tornando-se cada vez mais especializados em grandes dependentes e idosos com demências;

Que irão surgir mais residências, versões mais reduzidas (até 25 utentes) e melhorados os lares;

Que o trabalho com idosos irá ser cada vez mais especializado e exigente; Para que exista um aumento bastante significativo de atividades de animação

para sénior.Tendo em conta os estudos realizados nesta área que vieram contribuir para encarar de forma diferente o processo do envelhecimento, bem como, as problemáticas que se colocam, a necessidade de uma formação específica e contínua dos recursos humanos destas instituições e equipamentos sociais, quer ao nível das chefias, quer ao nível dos seus colaboradores, tornam-se fundamentais. Essa formação deve ser específica e contínua, uma vez que, numa sociedade em constante mudança vão surgindo novas realidades e novas problemáticas que este tipo de serviços deverá dar resposta. Assim, é necessário que as instituições e equipamentos sociais tenham um espírito de abertura suficiente face ao exterior, no sentido de estarem em pleno contacto com o meio, sendo capazes das necessárias adaptações, quer ao nível das políticas sociais, quer ao nível das respostas que efetivamente prestam. Assim, e só assim, este tipo de serviços e equipamentos sociais poderão colocar o utente, o cliente no centro de toda a sua atuação, sendo este o princípio primordial de toda e qualquer resposta social, de acordo com as novas orientações.

Embora os apoios sociais e financeiros dirigidos aos idosos se continuem a revelar insuficientes no nosso país, parece-nos relevante salientar algumas formas de equipamentos disponíveis, nomeadamente:

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Lares de Idosos – equipamentos coletivos de alojamento permanente ou temporário, destinados a fornecer respostas a idosos que se encontrem em risco, com perda de independência e/ou autonomia.

A insuficiência de lares de idosos estatais tem dado origem a uma verdadeira proliferação de lares privados (que visam essencialmente fins lucrativos), que muitas vezes funcionam clandestinamente e sem as condições que confiram aos idosos o mínimo de dignidade.

Lares para Cidadãos Dependentes – constituem respostas residenciais a idosos, que apresentam um maior grau de dependência (acamados).

Centros de Dia – constituem um tipo de apoio dado através da prestação de um conjunto de serviços dirigidos a idosos da comunidade, cujo objetivo fundamental é desenvolver atividades que proporcionem a manutenção dos idosos no seu meio sociofamiliar.

Centros de Convívio – são centros a nível local, que pretendem apoiar o desenvolvimento de um conjunto de atividades sócio recreativas e culturais destinadas aos idosos de uma determinada comunidade.

Apesar das respostas sociais nem sempre corresponderem ao desejável, vai-se notando uma crescente preocupação em implementar respostas inovadoras, destacando-se recentemente:

O Apoio Domiciliário – consiste na prestação de serviços, por ajudantes e/ou familiares no domicílio dos utentes, quando estes, por motivo de doença ou outro tipo de dependência, sejam incapazes de assegurar temporária ou permanentemente a satisfação das suas necessidades básicas e/ou realizar as suas atividades diárias. É um tipo de apoio que conquistou muitos adeptos, na medida em que se caracteriza pela prestação de um serviço de proximidade com cuidados individualizados e personalizados. Além disso, é preservada a família e a casa que constituem para o idoso um quadro referencial muito importante para a sua identidade social.

Acolhimento Familiar – consiste em apoios dados por famílias consideradas idóneas que acolhem temporariamente idosos, quando estes não têm família natural ou tendo-a não reúne estas condições que proporcionem um bom desempenho das suas funções.

As Colónias de Férias e o Turismo Sénior – são prestações sociais em equipamentos ou não, que comportam um conjunto de atividades que pretendem satisfazer as necessidades de lazer e quebrar a rotina, proporcionando ao idoso um equilíbrio físico, psíquico, emocional e social.

O Termalismo – é uma medida que visa permitir aos idosos em férias tratamentos naturais, reduzindo assim o consumo de medicamentos. Proporciona também a deslocação temporária da sua residência habitual, permitindo deste modo o contacto com um meio social diferente, promovendo a troca de experiências, que quebram ou reduzem o frequente isolamento social.

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1.18 O idoso no contexto familiarCom o advento das transformações fisiológicas e psicológicas ocorridas durante o processo de envelhecimento, o idoso tende, com o avanço dos anos, a viver uma vida social mais restrita, cingindo-se deste modo cada vez mais à sua família. Em consequência, esta torna-se um fator básico não só à sobrevivência do idoso, mas também para que este se mantenha emocionalmente equilibrado, face às contingências do declínio biopsicossocial.De facto, a família é uma célula fundamental, enquanto lugar privilegiado de trocas intergeracionais. É aí que as gerações se encontram, se entreajudam e completam de forma intensa. No entanto, nas sociedades onde a expectativa de vida está a ser ampliada, as relações familiares apresentam novos desafios e de acordo com Nelson e Nelson (citado por Freitas et al, 2002) há questões éticas que devem ser consideradas:

“Os membros da família não são substituíveis por similares ou pessoas melhor qualificadas.

Os membros da família são vinculados uns aos outros. A necessidade de intimidade produz responsabilidade. As famílias são histórias em andamento…”

O decurso e desenvolvimento da Sociedade Humana tem mostrado que como “unidade social a família é capaz de resolver ou ajudar a resolver problemas biopsicossociais, individuais ou coletivos, apesar de poder ser também geradora de conflitos e doenças”. Neste sentido a família tem de ser uma estrutura cujo desenvolvimento se obtém através dos esforços dos seus membros na realização de várias tarefas nomeadamente: adaptação, proteção, participação, crescimento e suporte na afetividade (Nina e Paiva, 2001).Destas ações sobressai o facto de que cada um dos elementos da família tem uma série de papéis determinados, que servem de base para a sua identidade na sociedade. Cada membro tem uma personalidade que pode sair dos limites da família, mas estes fazem uma série de coisas “juntos” e outras em “separado”. Assim, surge a necessidade de se criarem regras que dirijam a conduta da família e dos seus membros.Estas regras não são descritas e vão-se estabelecendo a partir de um processo de convivência: afetam a privacidade, a interação, a autoridade e a tomada de decisões.Esta interação e adaptação a novos papéis e funções implica que as famílias mudem para se adaptarem e esta capacidade de adaptação; mudança e crescimento são essenciais para o progresso a longo prazo no ciclo da vida familiar. Basta considerar as necessidades da cultura, da temporalidade, a coabitação com uma sociedade industrial, urbana, que se introduz vigorosamente no seu seio, assumindo muitas vezes funções que foram, durante muito tempo, pertença exclusiva do agregado ou núcleo familiar (Antunes, 1999).É verdade que ao longo da vida ocupamos múltiplos papéis, e isto significa e simultaneamente implica, que nos devamos ir preparando para os mesmos. Um desses papéis é o envelhecimento e a coabitação com os idosos, dentro dos espaços aceites e organizados culturalmente.Sem pretendermos ”inventariar” as múltiplas funções que têm sido atribuídas pelos estudiosos à família, gostaríamos no entanto de destacar algumas pela pertinência que assumem neste estudo:

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Ajudar cada membro da família é uma função que engloba o apoio físico, financeiro, social e emocional que são aspetos relevantes para a maioria dos idosos. Este apoio verifica-se através de estruturas organizadas de papéis familiares interdependentes e baseiam-se nas reações emocionais dos seus membros. Vivem em grupo e cultivam sentimentos de pertença e de corresponsabilização.

Por outro lado, o estabelecimento de autonomia e independência para cada um dos seus membros tem-se revelado uma medida geradora e facilitadora de crescimento pessoal para os indivíduos, que se desenvolvem e adaptam no seio da família, assumindo particular destaque nos elementos mais velhos.

Outras funções defendidas são: Adaptação – que consiste na utilização de recursos dentro e fora da família,

para a solução de um problema, nomeadamente quando o equilíbrio da família estiver ameaçado durante uma crise.

Participação – ou seja a partilha na tomada de decisões e das responsabilidades, pelos membros da família.

Crescimento – maturidade física e emocional e ainda realização conseguida pelos membros da família através do mútuo apoio e orientação.

Afeto – relações de cuidados ou ternura que existem entre os membros da família.

Decisão – compromisso assumido de dedicar tempo a outros membros da família, encorajando-os física e emocionalmente. Além disso, implica também uma decisão de bens e espaço.

Quando uma família demonstra integridade nestas cinco componentes funcionais, poder-se-á considerar uma família “saudável”, ou “funcional” mas se porventura a integridade não existe, então poderemos defrontar-nos com “disfunções familiares” mais ou menos graves.Entender a dinâmica familiar dos idosos é uma questão de crucial importância, na medida em que eles tendem por vezes a mascarar o seu real posicionamento no agregado familiar.Existem evidências de que a estrutura familiar tem sofrido violentos abalos e consequentes transformações na sociedade moderna.Foram vários os fatores que contribuíram para essas transformações: as migrações obrigaram as famílias nucleares a tornarem-se mais “individualistas”; a mobilidade social ligada à cidade e ao trabalho industrial distende os laços entre irmãos; a educação estabelece uma clivagem no seio familiar e fá-las desintegrarem-se; sucedendo de uma forma idêntica em relação à grande assimilação de novos valores, atitudes, condutas ligadas à industrialização, à cidade e ao prestígio dos estranhos.Estas transformações levam naturalmente a estrutura familiar e social a não ser capaz de resolver os problemas que se colocam hoje aos idosos: a família tradicional oferecia quase em exclusividade uma série de serviços, que hoje são fornecidos tanto por instituições privadas como estatais. Ela já “não é capaz” de assegurar a cada membro as funções que tradicionalmente lhe cabiam e que passavam por satisfazer necessidades físicas (como a alimentação, habitação e cuidados globais), psíquicas (como a autoestima, o afeto, o equilíbrio) e as sociais (como a identificação, relação, comunicação e pertença a um grupo).

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No desenrolar destas “incapacidades de resposta” a família tem sido publicamente responsabilizada pelo abandono dos seus idosos, contribuindo para tal a generalização de uma ideia, um pouco mítica, da família extensa de outrora.Assistimos atualmente à “substituição do papel familiar” pelas chamadas redes sociais de apoio (onde são incluídas as instituições para idosos).

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