ACOMPANHAMENTO PSICOLÓGICO NOS CASOS DE DISFUNÇÃO...
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ACOMPANHAMENTO PSICOLÓGICO NOS CASOS DE DISFUNÇÃO PROFISSIONAL
RESUMO
Relatório Final de Estágio Supervisionado, que teve por objetivo descrever uma experiência de estágio vivenciada na área de Psicologia Organizacional e do Trabalho, realizado em órgão Público do Estado de Pernambuco, em Unidade voltada para a gestão de pessoas. A principal atividade realizada foi a de Atendimento e Acompanhamento Psicológico de Servidores em Casos de Disfunção Profissional. Para dar suporte teórico às atividades, foram usados, basicamente, os fundamentos da Orientação Profissional e do Aconselhamento Psicológico, além de estudos e discussões acerca das principais demandas trabalhadas. As principais questões encontradas com relação à Disfunção Profissional durante a prática estiveram relacionadas ao alcoolismo, a depressão, ao estresse e ao relacionamento interpessoal. A atividade de acompanhamento consistiu, essencialmente, em atender as pessoas que estavam apresentando um desempenho deficiente no local de trabalho, para oferecer o apoio necessário à readaptação às rotinas de trabalho e, dependendo da complexidade dos casos surgidos, fazer orientações no sentido de encaminhar os demandantes para acompanhamento psiquiátrico e/ou psicológico da própria instituição, ou, até mesmo, para tratamento/internamento em clínicas especializadas. Para promover a integração entre teoria e prática, a estagiária foi supervisionada por profissional habilitado na área e orientada na Universidade por professor com conhecimentos técnicos sobre o campo de atuação do Psicólogo Organizacional e do Trabalho. O objetivo desta experiência foi proporcionar a oportunidade de se aplicar as competências profissionais do psicólogo na prática cotidiana de uma organização, na perspectiva de uma melhor formação. Palavras chave: Psicologia; Disfunção profissional; Acompanhamento.
UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS
DEPARTAMENTO DE PSICOLOGIA CURSO DE GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA
ACOMPANHAMENTO PSICOLÓGICO NOS CASOS DE DISFUNÇÃO PROFISSIONAL
MARIA CECÍLIA SOUTO MAIOR DA FONSÊCA
Relatório Final de Estágio Supervisionado
Relatório de estágio supervisionado, elaborado pela aluna Maria Cecília Souto Maior da Fonseca, sob orientação do Prof. José Teotonho de Barros Padilha, apresentado ao colegiado para conclusão do Curso de Psicologia.
1. INTRODUÇÃO
As definições da Psicologia têm variado ao longo dos anos e são reflexo da linha
teórica escolhida por seus autores. Muchinsky (2004, p.2) a define “como um estudo
científico do pensamento e do comportamento”. A partir desse conceito, é imperioso
destacar que Psicologia passou a ser vista como ciência apenas no final do século XIX,
quando Wilhelm Wundt criou o primeiro Laboratório de Experimentos em
Psicofisiologia, na Alemanha. Desde então, esta ciência foi se distanciando de idéias
abstratas e espiritualistas, fortalecendo seu vínculo com princípios e métodos
científicos.
A Psicologia científica parece ter se consolidado apoiada nos fundamentos de
três escolas em especial, quais sejam: Associacionismo, Estruturalismo e
Funcionalismo. Com o seu desenvolvimento, surgiram novas teorias que deram um
novo rumo à Psicologia e dentre essas, as mais importantes são: Behaviorismo, Gestalt e
Psicanálise (Bock, 2002).
Os profissionais da área de Psicologia, ao que nos parece, possuem uma atuação
muito especializada, de modo que precisam desenvolver e aplicar, da melhor forma,
uma intervenção no processo psicológico do homem, para que este possa enfrentar, com
possibilidade de sucesso, as dificuldades encontradas. Os conhecimentos adquiridos por
meio de pesquisas científicas contribuem para uma correta e efetiva atuação dos
psicólogos.
Mas é a partir das informações obtidas no contato com o seu cliente, que o
psicólogo decidirá de que forma procederá sua intervenção, podendo esta se dar, por
exemplo, através de uma terapia, de um treinamento, orientação de grupo ou até mesmo
uma intervenção institucional, sempre visando a melhoria da saúde e bem-estar daquele
que está recebendo o seu serviço.
A Psicologia pode ser subdividida em diversas especializações, e dentre essas, a
área que reúne o maior número de psicólogos é a psicologia clínica. Mas é
imprescindível ressaltar que a Psicologia deve ser vista como um todo, podendo ser
aplicada em diversos espaços. Interessante o entendimento de Bock (2002, p. 159):
Estamos querendo dizer, com isso, que não há uma Psicologia Clínica, outra Escolar, e ainda outra Organizacional, mas há uma Psicologia, como corpo de conhecimento científico, que é aplicada a processos
individuais ou a relações entre pessoas, nas escolas, nas indústrias e nas clínicas, assim como em hospitais, presídios, orfanatos, ambulatórios, centros de saúde etc.
Como a área de atuação do psicólogo pode ser muito ampla, vamos deter nossos
relatos à inserção do homem no ambiente de trabalho e o estudo da Psicologia acerca
deste tema. Passemos a uma breve explanação sobre a Psicologia Organizacional e do
Trabalho.
A Psicologia Organizacional, segundo Spector (2004), surgiu diante da
necessidade de se estudar o homem e suas relações dentro das organizações; há uma
preocupação maior com o indivíduo do que havia na Psicologia Industrial.
Compreender o comportamento humano e aumentar a satisfação do trabalhador no
ambiente laboral aparecem como principais objetivos dessa área de estudo da
Psicologia.
Em sua atuação, o psicólogo organizacional parece envolver o uso de princípios
psicológicos para resolver problemas (como, por exemplo, o estresse e um desempenho
deficiente) que interferem na capacidade produtiva, mas não fazem um atendimento
clínico, embora possam e até devam recomendá-lo.
A fim de expressar com mais detalhes a atuação do psicólogo organizacional,
segue o pensamento de Spector (2004, p.05):
Os psicólogos organizacionais não lidam diretamente com os problemas emocionais ou pessoais do funcionário. Essa atividade pertence ao domínio da psicologia clínica. Entretanto, um psicólogo organizacional pode recomendar a contratação de um psicólogo clínico para auxiliá-lo em problemas como o de alcoolismo.
A expansão da Psicologia Organizacional e seu processo de desenvolvimento
aconteceram a partir de 1913, conforme evolução relatada por Spector (2004):
Quadro 01: Linha do tempo com os principais acontecimentos da Psicologia Organizacional:
Quadro 01. LINHA DO TEMPO COM OS PRINCIPAIS ACONTECIMENTOS DA PSICOLOGIA ORGANIZACIONAL
1913 É publicado o primeiro compêndio de psicologia organizacional
1917 São desenvolvidos os testes psicológicos para admissão de funcionários
1921 O primeiro Ph.D. de psicologia organizacional é concedido
1921 A Psychological Corporation é fundada
1924 São iniciados os estudos de Hawthorne
1939 Inicia a Segunda Guerra Mundial
1964 A lei que protege os direitos civis é aprovada nos Estados Unidos
1970 A APA (Associação Americana de Psicologia) aceita o nome da Divisão de Psicologia Industrial e Organizacional
1991 A lei que favorece os americanos com invalidez é aprovada nos Estados Unidos
From: Spector (2004)
O progresso da história da Psicologia Organizacional mostrou a preocupação em
trazer melhores condições de trabalho para os funcionários. De tal modo, percebe-se que
a Psicologia Organizacional surge no ambiente de trabalho visando fortalecer as
relações humanas que ali se estabelecem; atua na compreensão dos comportamentos
apresentados, buscando proporcionar o bem-estar para os trabalhadores (tanto físico
como emocional), dentro das organizações.
Os estudos de Spector (2004) mostram que as principais atividades dos
psicólogos organizacionais parecem estar relacionadas à: análise de tarefas e sua
condução, objetivando solucionar a demanda organizacional; realização de pesquisas;
planejamento e execução de programas voltados à seleção, treinamento avaliação de
desempenho de funcionários; implementação de mudanças organizacionais.
Uma visão mais recente nos mostra que a Psicologia Organizacional possui um
vínculo com as atividades administrativas de uma empresa e suas metas podem
extrapolar a visão tradicional de ‘adequação’ dos indivíduos ao ambiente de trabalho.
Nesse sentido, o pensamento de Zanelli (2002, p. 35):
Trata-se de priorizar o desenvolvimento da pessoa, por meio de mudanças planejadas e participativas, nas quais o homem possa adquirir maior controle de seu ambiente. O crescimento individual a que se pretende, deve conduzi-lo a aprender sua inserção nas relações do grupo com a estrutura organizativa e com a sociedade.
Com relação à Psicologia do Trabalho, Campos (2008) nos informa que esta é
advinda da Psicologia Organizacional e busca a valorização da dignidade e da
subjetividade da pessoa humana nas relações entre trabalhador e empresa. A Psicologia
do Trabalho aparece como interlocutora do trabalhador no espaço organizacional em
que ele está inserido.
O psicólogo do trabalho, assim, atua nas dificuldades organizacionais ligadas à
gestão de pessoas e estuda o comportamento humano na relação de trabalho. O campo
de atuação do psicólogo do trabalho não se restringe apenas aos trabalhos de
recrutamento, seleção e treinamento de pessoal. Campos (2008, p.06) aponta uma
possibilidade de atuação realmente muito ampla do psicólogo do trabalho e diz:
Creio ser pertinente ainda à atuação do psicólogo do trabalho propor alternativas para o desemprego, trabalho em cooperativas, táticas e estratégias de sobrevivência organizacional e, mais precisamente, debater os processos psicossociais que possibilitam a construção de relações significativas.
No entendimento de Fiorelli (2003), a atuação do psicólogo dentro da
organização se faz de maneira ampla, contemplando fenômenos relacionados ao
funcionamento de indivíduos e grupos, estendendo-se às mais diversas áreas e
abarcando diversos fatores (estruturais e socioculturais), que afetam o indivíduo e a
Organização.
Conflitos interpessoais podem surgir a qualquer momento no ambiente de
trabalho e, diante destes, é fundamental que o psicólogo trabalhe com a equipe, usando
técnicas comportamentais e cognitivas que contribuam para tornar os profissionais
menos sensíveis a essas situações e com mais habilidade para gerenciá-las.
No que diz respeito à melhoria das relações interpessoais no ambiente de
trabalho, Fiorelli (2003, p. 25) nos informa que “técnicas ligadas à habilidade para dar e
receber feedback e aumento da disposição para o trabalho cooperativo vêm obtendo
sucesso, nas mais diversas organizações”. Após essas ações do psicólogo no ambiente
de trabalho, tanto os funcionários como a organização podem, ambos, ser beneficiados.
Por fim, pode-se percebe que o papel do psicólogo dentro da organização se faz
necessário para promover o crescimento pessoal e profissional dos funcionários, bem
como contribuir para o bem-estar destes quando no ambiente laboral.
1.1. Importância do Estágio Profissional em Psicologia Organizacional e do Trabalho.
A vivência do estágio se mostra como um momento essencial para uma boa
formação profissional, pois é durante essa prática que o estudante faz um treino acerca
da matéria aprendida na graduação. O estágio possibilita ao estudante integrar as
diversas disciplinas do curso e testar o seu conhecimento sobre elas.
O estágio proporciona ao aluno a oportunidade de verificar, antecipadamente,
como será sua vida enquanto profissional; como é a realidade prática daquilo que está
aprendendo na teoria.
Durante a realização dessa experiência, é possível se perceber que além de serem
chamados a promover a integração entre teoria e prática, os estudantes são
supervisionados por um profissional da área, geralmente com conhecimento técnico,
que os instiga a solucionar demandas sociais de maneira inovadora. Ao fazer referência
aos objetivos do estágio, Campos (2008, p. 13) faz as seguintes colocações:
Os estágios objetivam oferecer treinamento e orientação em forma de supervisão; capacitar o aluno de forma ética, técnica e conceitual; atender da maneira mais eficaz possível às demandas da comunidade; e reavaliar continuamente os programas aplicados.
Outra importância do estágio está no acompanhamento feito por um supervisor,
pois esta supervisão tem como um dos objetivos sanar dificuldades encontradas pelo
estagiário no exercício da atividade profissional.
Essa troca de informações e saberes entre estagiário e supervisor parece
indispensável para o bom acompanhamento do caso ou situação, além de capacitar o
estudante para a compreensão e manejo de situações institucionais e de grupo, onde lhe
é possibilitado traçar e expor estratégias para a melhor solução do caso. Avaliações
contínuas e pontuações acerca do desempenho de suas atividades se mostram muito
enriquecedoras para aquele que está dando os primeiros passos como profissional.
O estágio, para quem estuda e pretende atuar na área de Psicologia
Organizacional e do trabalho é muito importante, pois, é nesse momento que o
estudante inicia o processo de conhecimento real da organização. A partir de então, vai
se tornando capaz de fazer uma análise do contexto organizacional, identificando os
pontos fortes e fracos da instituição, pensando em possíveis intervenções, a fim de
elevar a capacidade produtiva como um todo.
Perante as constantes mudanças que a globalização impõe às organizações,
mostra-se de grande importância uma familiarização do estudante com a realidade
institucional, para que possa intervir, quando acionado, da maneira mais eficiente.
1.2. Acompanhamento Psicológico e Disfunção Profissional.
A experiência de estágio desenvolveu-se em órgão Público do Estado de
Pernambuco, mais precisamente em Unidade voltada para a gestão de pessoas. Essa
Unidade, onde se realizou a experiência de estágio, tem por missão acompanhar e apoiar
os seus colaboradores, buscando a melhoria de seu desempenho laboral, através de
ações que visem seu bem-estar e qualidade de vida, contribuindo, assim, na eficácia da
prestação dos serviços. Compete, então, à unidade, criar sistemas de acompanhamento
dos servidores que estão apresentando dificuldades no seu desempenho profissional.
Basicamente, essas eram as principais atividades realizadas pela referida
Unidade: acompanhamento de servidores com inadequação e/ou disfunção profissional;
desenvolvimento de projetos e programas voltados para a valorização dos servidores -
principalmente em prol dos servidores com deficiência; além de realizações de eventos
voltados à capacitação de servidores dentro de temáticas específicas.
Em meio a todas as atividades citadas como realizadas e desenvolvidas pela
Unidade, a que a estagiária desempenhou 90% do tempo em que se encontrou à
disposição da Instituição concedente do estágio foi a de acompanhamento psicológico
de servidores que apresentavam disfunção profissional.
É possível perceber uma semelhança entre os atendimentos realizados na
Unidade com aquilo que prega o Aconselhamento, pois, a psicóloga da unidade e a
estagiária faziam considerações sobre a situação de disfunção do servidor e refletiam,
junto com ele, quais as novas diretrizes que poderiam ser tomadas a fim de obter uma
melhora na qualidade de vida daquele servidor, tanto a nível profissional como pessoal.
Pôde-se perceber a estreita relação entre aquilo que foi trabalhado no estágio e o
Aconselhamento, a partir da definição de Rosenberg (1987, p. IX): “Aconselhar, nesse
sentido, não significa fazer ou pensar pelo outro, mas fazer ou pensar com o outro”.
Havia um trabalho de ajuda, para que o indivíduo pudesse escolher um caminho a
trilhar. A profissional não escolhe o caminho pelo servidor, nem trilha esse caminho por
ele – há um trabalho de reflexão.
De acordo com essa breve explicação acerca dos passos da Psicologia e das
atividades realizadas pela estagiária na unidade onde foi realizado o estágio, passaremos
a fazer um estudo focado no Acompanhamento Psicológico em Casos de Disfunção
Profissional.
2. DESCRIÇÃO DO TRABALHO
As atividades de estágio, embasadas nas teorias acadêmicas descritas no capítulo
da fundamentação teórica, estão aqui relatadas numa relação de congruência entre a
teoria e a prática profissional. Este capítulo trata, portanto, da prática efetiva e reflexiva,
ocorrida no estágio. A maior parte do tempo programado foi dedicada ao Atendimento e
ao Acompanhamento Psicológico nos casos de disfunção profissional que foram
verificados na instituição.
2.1. Atividades Práticas
As atividades práticas foram cumpridas sempre com supervisão no local de
estágio e, simultaneamente, com a orientação recebida na Universidade, visando,
principalmente, o suporte acadêmico e o embasamento profissional, além da construção
do presente relatório.
A unidade onde se realizou o estágio supervisionado tem como atividade
principal atender, e se for o caso, acompanhar os servidores daquela instituição que
apresentam dificuldades na atuação laborativa, e que, por seu turno, interferem
diretamente como variável causal no desempenho profissional dos sujeitos afetados. Por
motivos diversos, alguns gestores colocam servidores à disposição, sendo estes, muitas
vezes, encaminhados para atendimento e possível acompanhamento na Unidade, a
depender das particularidades de cada caso.
A equipe de trabalho, durante o estágio, foi composta por 01 (uma) Psicóloga,
01 (uma) Analista com formação em Direito, 01 (um) Técnico, 01 (um) Estagiário de
Administração de Empresas e 01 (uma) Estagiária de Psicologia.
Apesar de a atividade de atendimento e acompanhamento de servidores em casos
de disfunção profissional ser a principal atividade realizada pela Unidade, há muitas
outras também atribuídas em particular a esta unidade, como: o acompanhamento de
programas, que buscam dar assistência ao servidor de licença médica e à família do
servidor falecido; projetos voltados à sensibilização dos gestores sobre a importância da
inclusão das pessoas com deficiência, como forma de facilitar as relações e interação,
como também a valorização do potencial desses servidores enquanto pessoa e
profissional; há também um programa que promove uma pausa durante o horário do
expediente para a redução do estresse. Além desses projetos e programas a Unidade
também organiza palestras e eventos integradores, objetivando a capacitação de
servidores; faz visitas institucionais e domiciliares abrangendo o Recife, a Área
Metropolitana e o Interior do estado.
Dentro da atividade de acompanhamento de servidores em casos de disfunção
profissional há outras ações que complementam o acompanhamento, como o caso do
Projeto “Sonho” (nome fictício, apenas para efeito desse relatório), que acontece uma
vez no mês e visa dar suporte aos servidores com demandas mais complexas e que
precisam de um acompanhamento profissional mais efetivo por parte da organização.
Esses atendimentos eram realizados de forma individual, em sala reservada
para esse propósito, contígua à Unidade. O ambiente se mostrava acolhedor e nele as
pessoas podiam expressar através da fala, do olhar, das emoções e dos gestos, os
desprazeres que estavam sentindo no ambiente laboral. A sala tinha uma acústica
adequada, onde não era possível, de fora dela, ouvir o que se estava sendo falando no
seu interior, considerando o sigilo das informações. Enfim, o setting de atendimento
guardava os elementos e características apropriados para um atendimento ético,
comprometido com os demandantes e dentro dos requisitos técnicos recomendados.
2.1.1. Atendimentos e Demografia
Os atendimentos eram realizados quando os servidores, a partir de uma
demanda, compareciam a unidade com alguma dificuldade pessoal que já estava
interferindo no seu desempenho profissional, ou após terem sido colocados, por alguma
outra razão, à disposição. Fatos como este os levavam a buscar os serviços oferecidos
pela Unidade, para que pudessem refletir sobre as dificuldades que poderiam estar
afetando o desempenho e, assim, buscar apoio e suporte para solucioná-las. Os
atendimentos eram feitos de forma individual, onde o servidor podia falar sobre suas
dificuldades sem medo de ser exposto aos demais colegas de trabalho. A maioria dos
casos ocorridos era de natureza menos complexa. O servidor, nestas circunstâncias, era
atendido apenas uma só vez e já conseguia amenizar a angústia, pois a demanda trazida
ao setting não exigia maior aprofundamento e podia ser mais facilmente resolvida (em
casos, por exemplo, de relacionamento e interação onde a simples mudança de lotação
resolvia o problema). Já as demandas mais complexas (casos de depressão, por
exemplo), exigiam um acompanhamento mais efetivo, tanto em relação ao estado de
saúde do servidor como da readaptação para a desenvoltura de suas atividades laborais.
No período de estágio foram realizados 325 atendimentos. Alguns servidores
com quadros mais complexos ainda se encontram em acompanhamento; outros, que
atendidos apenas uma ou duas vezes (já que as demandas relacionadas à disfunção
profissional foram mais pontuais), puderam ter suas questões mais facilmente
resolvidas.
As principais demandas relacionavam-se mais especificamente ao alcoolismo, à
depressão, ao estresse e às dificuldades de relacionamento interpessoal no ambiente de
trabalho. O Gráfico abaixo mostra, através de percentuais, as demandas mais freqüentes
que foram identificadas e trabalhadas durante o período do estágio.
As demandas que não tiveram percentuais significativos foram agrupadas e
inseridas dentro do recorte ‘outros’, estando entre elas: dificuldades familiares,
insubordinação, problemas de saúde (como o câncer, aborto, doenças neurológicas,
doenças cardiológicas, problemas ósseos) e lotação em local muito distante da
residência. Como era necessário delimitar os principais assuntos trabalhados durante o
estágio, o gráfico acima apenas fez referência ao alcoolismo, estresse, depressão e
dificuldades de relacionamento interpessoal, pois foram as demandas mais ocorrentes.
A equipe da Unidade vem desenvolvendo ações preventivas, objetivando
minimizar a incidência dessas demandas, contando com o apoio das Gerências e
Diretoria. Aponta como meta para 2011 promover encontros que possibilitem reflexões
sobre essas temáticas com os gestores, trabalhando ferramentas de desenvolvimento de
equipes, além de dar continuidade aos projetos já existentes.
Os resultados apurados informam que, talvez pelas prováveis poucas diferenças
entre homens e mulheres com relação aos postos de trabalho hoje desempenhados, e
também pelas poucas diferenças de papéis sociais e familiares, é que se obtém este
quadro. Percentualmente, a diferença é pouco significativa ou quase insignificante: 49%
dos atendidos era do gênero masculino e 51% do gênero feminino.
A faixa etária das pessoas atendidas indica que a maior concentração está no
intervalo de 41 a 50 anos (36%) e também como segundo maior intervalo (28%) nas
pessoas com idades entre 51 e 67 anos, ou seja, poderíamos afirmar que 64% das
pessoas atendidas e acompanhadas representam o grupo dos mais idosos.
O dado parece ser bastante revelador na medida em que o indivíduo, ao avançar na
idade cronológica, parece tender a se desadaptar com mais facilidade do que os mais
jovens. Contudo, as atividades de estágio não tiveram nenhuma intenção de aprofundar
esta questão. Mas, o quadro, bastante elucidativo, pode servir, no futuro, para estudos
mais aprofundados desta questão pela própria Unidade.
A maioria dos servidores, após o atendimento, consegue se readaptar a um novo
local de trabalho, quando lhe é oportunizada a fala e a possibilidade de renovar as
relações interpessoais e até experimentar o exercício de novas atividades. Nesta
perspectiva, os feedbacks obtidos dão conta de que vêm sendo observadas boas
desenvolturas profissionais nas novas unidades de trabalho, após curto período de
tempo.
Alguns servidores, excepcionalmente, têm sido colocados à disposição por
inúmeras vezes, em pequeno espaço de tempo, tendo em vista apresentarem
desempenho aquém do esperado, em decorrência da dificuldade de se readaptar.
2.1.2. Acompanhamento dos Servidores
Como já mencionado anteriormente, alguns servidores são colocados à
disposição, para que possam ser ouvidos e acompanhados, se necessário, devendo ser
recolocados em outras unidades de trabalho. Geralmente, esses funcionários
acompanhados apresentam dificuldades nos relacionamentos interpessoais, problemas
de saúde, dificuldades de ordem emocional (estresse), uso de substância química
(álcool) ou alguma patologia mental (depressão). Quando um servidor era recebido para
atendimento, realizávamos algumas ações como:
a) Oportunizar momentos de escuta, existindo necessidade e consentimento do servidor.
Esses momentos também se estenderam, em alguns casos, aos familiares, amigos e
gestores;
b) Levantar junto à unidade responsável quais as unidades organizacionais que
necessitavam de pessoas, para assim colocar o servidor, em fase de readaptação, em
nova lotação, considerando o perfil da unidade e do gestor, bem como o interesse do
servidor;
c) Orientar os servidores com dificuldades mais complexas a procurar tratamento em
instituições especializadas, quando o mesmo se apresentasse como usuário de
substâncias químicas ou apresentasse alguma patologia mental, que necessitasse de
acompanhamento médico ou psicológico continuado;
d) Guiar o servidor no sentido de procurar o profissional de medicina que o acompanha,
visando ingressar com licença para tratamento de sua saúde, quando for observada a
incompatibilidade com o trabalho; e
e) Acompanhar o servidor em sua readaptação e recuperação, tanto dentro como fora da
organização.
Essas atividades, de forma combinada, constituíram o que foram os
procedimentos vivenciados durante o estágio com relação ao Acompanhamento
Psicológico em Casos de Disfunção Profissional.
É importante destacar que os atendimentos realizados contaram sempre com a
devida supervisão. Após o atendimento dos servidores que compareceram à Unidade,
estagiária e supervisora discutiram sobre a situação e dificuldades trazidas pelos sujeitos
e, em conjunto, definiram as intervenções que deveriam ser realizadas. A partir do
encaminhamento indicado para o caso, entraram em contato com a unidade de apoio
especializada, para que se pudesse dar um apoio mais especifico ao servidor, tomando
como base o conteúdo da demanda trazida por ele.
Muitas vezes, as pessoas eram encaminhadas para o Centro Médico do órgão,
onde recebiam um atendimento (clínico, psiquiátrico, psicológico) mais focado na
problemática apresentada pela demanda.
Como a maioria dessas pessoas chegava à Unidade após serem colocadas, por
seus gestores, à disposição - por apresentarem dificuldades que estavam interferindo na
qualidade do trabalho ou da equipe como um todo, elas já compareciam bastante
fragilizadas. Cabia, então, à equipe de atendimento refletir sobre a situação de saúde do
servidor e questionar se estes aceitariam ou não ser encaminhados para alguma unidade
de apoio especializada para receber um tratamento mais apropriado em função da
demanda apresentada. Quando esses servidores eram internados em instituições
especializadas, a unidade entrava em contato com a família (nos casos em que o contato
com o servidor configurava-se como impossibilitado) para acompanhar, à distância, o
desenrolar do processo, verificando a validade das licenças médicas e disponibilizando
o apoio necessário.
Nos casos em que a estratégia de mudança de lotação, como meio de readaptar
o servidor, poderia minimizar a dificuldade, cabia entrar em contato com o Núcleo
responsável pela lotação, para processar a mudança ao novo local de trabalho,
obedecendo às diretrizes da instituição. Após a efetivação da mudança, o
acompanhamento se dava mediante contatos com os próprios funcionários e seus novos
gestores, para saber sobre a inserção e adaptação ao novo local de trabalho. Havia uma
preocupação maior e um acompanhamento mais efetivo com relação aos servidores que
foram re-lotados, e com os que haviam sido encaminhados para instituições de saúde ou
de apoio psicológico.
No sentido de evitar a exposição das dificuldades apresentadas a partir dos
Cargos na instituição concedente de estágio, foram substituídas as suas denominações,
para a finalidade deste relatório, utilizando-se as nomenclaturas: Cargos A, B e C.
Mostra-se indispensável informar que para a investidura no Cargo A, a pessoa precisa
ter como nível de instrução o Curso Superior Completo em qualquer área de formação.
Já para o Cargo B, é indispensável ter concluído o Curso de Direito, enquanto que para
a investidura no Cargo C é necessário, apenas, ter concluído o Nível Médio.
As dificuldades de relacionamento interpessoal, demanda de maior incidência
entre as demais, mostrou que entre os profissionais acompanhados, aqueles que ocupam
o Cargo C (81% do total e do gênero feminino também 81% dos casos atendidos) foram
os que mais demonstraram problemas de interação social e de comunicação.
13%
6%
81%
Incidência das Dificuldades de
Relacionamento Interpessoal
Cargo A
Cargo B
Cargo C
19%
81%
Dificuldade de
Relacionamento
Interpessoal por Gênero
Homens
Mulheres
O índice de servidores que apresentaram problemas de alcoolismo esteve
notavelmente mais presente entre os ocupantes do Cargo C, num índice de 64%,
enquanto que os investidos no Cargo B representam 36% dos casos. Não foi detectado
nenhum caso entre as pessoas que ocupam o Cargo A, e também não se verificou
qualquer índice entre pessoas do sexo femino, sendo, portanto, 100% dos casos
presentes em pessoas do gênero masculino.
O alcoolismo como sendo um estado patológico originado pelo consumo
excessivo do álcool, tem sido há muito tempo considerado como uma doença pela OMS
– Organização Mundial da Saúde, além de ser um dos mais recorrentes e debatidos
temas nas organizações do mundo moderno.
Neste quadro evidencia-se naturalmente uma forma de mecanismo de fuga,
quando o indivíduo parece consumir álcool como uma forma de fugir de uma realidade
que lhe parece ser ameaçadora (BARBOR, 2003). E, neste quadro que se mostra tão
presente nos casos dos atendimentos realizados durante o estágio, há que se considerar
que mais uma vez os investidos no Cargo C apresentam maior índice desse tipo de
sintoma advindo das demandas surgidas para acompanhamento.
O sintoma depressão, por sua vez, se mostra também numa maior incidência
neste mesmo tipo de profisional (Cargo C), pois traz 63% de pessoas com problemas de
humor depressivo.
A maior concentração de sintomas depressivos está no grupo das mulheres
(54%). E, com os dados colhidos dos atendidos e acompanhados, se pode inferir que
parece haver predisposições diferentes, do ponto de vista do gênero. Enquanto os
homens parecem utilizar mais o mecanismo de fuga através do álcool, as mulheres
tendem mais à depressão. É no caso do humor depressivo, a forma de reação contra a
realidade ameaçadora. Nas mulheres, o sofrimento talvez seja mais intenso do que nos
homens, através dos quadros depressivos. Ademais, as mulheres foram as mais afetadas
por essa patologia mental, a partir dos dados obtidos com esse levantamento.
No sentido de dar continuidade ao trabalho de Acompanhamento Psicológico em
Casos de Disfunção Profissional, a Unidade realizava, uma vez por mês, o Encontro
“Sonho” (nome fictício, para evitar exposição) com alguns servidores que precisavam
de acompanhamento mais efetivo e contínuo. Nesses encontros, buscava-se estimular o
processo criativo dos participantes, através de reflexões e percepções de si mesmo e dos
outros, com relação às posturas apresentadas, tanto no âmbito familiar como laboral.
Nesta ação eram trabalhadas, também, questões referentes às mudanças; ao cuidado
com a saúde, ao relacionamento interpessoal. Nessas atividades, eram apresentados
textos referentes ao tema de cada encontro, no intuito de se discutir questões que
poderiam ajudar a maiores reflexões para um desenvolvimento de posturas mais
adequadas ao ambiente de trabalho, como também numa perspectiva mais pedagógica,
orientar as pessoas a cuidar melhor da saúde.
2.1.3. Programas Realizados
Nessa mesma perspectiva pedagógico-construtivista, foram realizados alguns
programas voltados para a melhoria e a valorização da qualidade de vida dos servidores.
Dentre todos os Programas, aqueles que merecem atenção especial estiveram voltados
para a assistência aos servidores com deficiência (física e mental), como também aos
servidores sob algum tipo de licença do trabalho.
2.1.3.1. Programa de Inclusão de Pessoas com Deficiência.
Dentro do programa de inclusão de pessoas com deficiência, foram feitas duas
ações importantes, quais sejam:
a) Um levantamento anual para identificar as principais dificuldades
encontradas no exercício das funções dos servidores (por exemplo,
dificuldades de locomoção dentro do ambiente de trabalho, no caso
dos cadeirantes; dificuldades audiovisuais durante o uso dos
equipamentos eletrônicos, no caso dos deficientes auditivos e visuais);
b) O projeto “Paz” (nome fictício), que objetiva, através de uma palestra,
sensibilizar os gestores sobre a importância da inclusão das pessoas
com deficiência, não pelo cumprimento de cotas previstas na
legislação, mas como forma de facilitar as relações e interação, como
também a valorização do seu potencial enquanto pessoa e profissional.
O citado levantamento foi feito a partir de uma entrevista semi-estruturada,
realizada, por telefone, com os servidores, em seus locais de trabalho. O objetivo maior
desse levantamento era verificar as dificuldades que os servidores enfrentavam no
exercício de suas atividades laborais, sendo, nestas ocasiões, pesquisados quais os
equipamentos que poderiam ser disponibilizados para melhorar as suas condições de
trabalho já que apresentavam limitações sob, principalmente, o ponto de vista físico. E,
a partir desses contatos, providências eram tomadas para minimizar as dificuldades
identificadas, como também para potencializar a satisfação, estimulando a motivação e
o interesse do servidor com deficiência para o trabalho. Durante o levantamento, os
entrevistados também apontaram dificuldades no trajeto para o trabalho e no horário do
expediente. Dessa forma, cabia também à Unidade verificar possibilidades de lotação
próxima a residência do servidor, em parceria com o Núcleo responsável pelas lotações,
no intuito de alocar o servidor em local de fácil acesso, tendo em vista a sua deficiência.
2.1.3.2. Programa “Esperança” (nome fictício)
O Programa Esperança consistia em prestar apoio emocional e orientação de
ordem administrativa aos servidores que se encontravam sob algum tipo de licença do
trabalho. Ainda, em diversas situações, eram também enviados cartões de condolências
nos casos de falecimento de familiares, e também de felicitações nos casos de
nascimento de filhos ou matrimônio. Quando as pessoas acompanhadas entravam de
licença médica, eram feitos contatos telefônicos para avaliação da situação de saúde
desses servidores e para lembrar e verificar a validação das licenças. Os cartões
personalizados eram os mais variados possíveis e todos alusivos ao objetivo do
Programa. A ação de Assistência à família do servidor falecido tem como principal
objetivo prestar solidariedade e apoio de ordem emocional, e também de ordem
administrativa (burocracias relacionadas às formalizações dos óbitos) para as famílias.
2.2 Atividades Teóricas
As reflexões sobre as atividades teóricas aconteceram em dois locais distintos:
na instituição concedente do estágio e na Universidade Federal de Pernambuco.
Importante se fez, durante a experiência de estágio, ancorar-se nos referenciais teóricos
que embasaram e subsidiaram as práticas vivenciadas. Fizeram-se presentes, durante
todo o decorrer do estágio, momentos em que a estagiária se debruçou no arcabouço
teórico apontado pelo orientador e pela supervisora, o que lhe trouxe aprendizado e,
conseqüentemente, mais segurança para o exercício das atividades práticas. Utilizando
os recursos que dispõem, os estudantes podem otimizar a troca de idéias e sugerir
leituras que ajudem nas práticas que estão vivenciando. Essas leituras podem servir
como veículos de crescimento, proporcionando impacto no conhecimento aplicado à
realidade do contexto profissional.
2.2.1. No Estágio
No local de estágio, as atividades teóricas aconteceram durante a supervisão de
estágio, com sugestões de leituras de textos referentes aos temas trabalhados na
Unidade, além de incluir discussões posteriores a estes estudos, no sentido de se refletir
sobre o que foi lido e sua relação com a prática. Não houve agendamento prévio de dias
e horários para a supervisão de estágio, tendo em vista tal procedimento ocorrer
diariamente, durante o exercício das atividades, havendo abertura para reflexões e
orientações. A leitura de textos direcionou-se para temas como alcoolismo, deficiências,
estresse, depressão, qualidade de vida no trabalho, e outros pertinentes à realização das
atividades práticas. A sugestão dos temas ocorreu por parte da supervisora e também
pelo próprio interesse da estagiária. As discussões giraram em torno “do como” as
atividades estavam sendo realizadas e de que procedimentos e melhorias poderiam ser
implementadas durante os processos de intervenção no setting dos atendimentos, e
como as reflexões e as teorias estudadas poderiam ser aplicadas em favor de uma prática
cada vez mais efetiva.
2.2.2. Na Universidade
As orientações de estágio dentro da Universidade ocorreram em dois momentos
distintos. O primeiro foi voltado para discussão em pequenos grupos sobre a absorção
da prática de estágio para composição do relatório final. Estes encontros eram divididos
pelas áreas de atuação de cada estagiário. Nestes encontros foram debatidas as
experiências dos diversos alunos sobre os estágios em andamento. Depois, cada aluno
isoladamente era orientado mais detalhadamente sobre suas práticas; sobre os textos
bibliográficos pertinentes e sobre a elaboração dos relatórios de estágio. As aulas de
estágio também propiciaram a participação e a interação de todos os estagiários de
Psicologia, quando ocorria a realização dos seminários discursivos, onde todo o grupo
de estagiários, tanto da disciplina estágio supervisionado I, como de estágio
supervisionado II, puderam assistir as apresentações dos relatórios finais.
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS A disciplina de estágio se mostra como um desafio para os estudantes do curso
de graduação em Psicologia, pois prepara os acadêmicos para aplicar competências
profissionais na prática cotidiana. As demandas do mercado exigem, cada vez mais, um
profissional engajado, competente e atuante, e que participe do dia-a-dia da sociedade e,
principalmente, do mercado de trabalho.
No exercício da prática profissional, o estagiário pode se deparar com um
mercado de trabalho e uma realidade que não demandam os conhecimentos que foram
aprendidos durante a graduação, pois, sem a menor sombra de dúvidas há um enorme
gap entre a teoria da academia e a teoria que hoje lastreia as atividades dos profissionais
de psicologia, pelo menos neste campo da psicologia organizacional e do trabalho. A
partir do estágio, tive a possibilidade de conjugar teoria e prática e descobrir novas
possibilidades teóricas para uma melhor atuação. Por isso é tão importante que os
acadêmicos conheçam a realidade prática antes de sair da universidade, para assim, ter
maior consciência e mais informação a respeito da profissão escolhida.
Antes de se começar o exercício das atividades práticas, os estudantes parecem
ter apenas noções de como devem atuar em determinada atividade. A partir da
experiência, de fato, o estagiário passa a saber melhor como fazer, utilizar e atualizar os
conhecimentos adquiridos em favor da sua atuação.
O estágio se mostrou, também, como a oportunidade em que o futuro
profissional pode se permitir errar. Esse errar enquanto estagiário pressupõe a
capacidade do estudante testar as teorias que domina; aprender novas teorias; seguir as
orientações dos supervisores de estágio, além de sugerir e efetuar melhorias nas
atividades que está executando. Um estágio bem feito, onde o estudante questiona; tira
dúvidas com relação às atividades práticas e pode corrigir erros, parece ser uma
oportunidade de se começar a carreira profissional de forma bem estruturada.
Nesse contexto, os estudantes e professores trabalham em conjunto nos projetos
que conjugam informações práticas e profissionalizantes, que envolvem um conjunto
articulado de ações e teorias, para uma excelente formação.
Os professores devem incentivar os seus alunos a ter um pensamento mais
crítico, rompendo a visão departamentalizada, e abrindo novas perspectivas de saber e
de fazer, além, é claro, de possibilitar um atuar embasado nas competências necessárias,
diga-se de passagem: saber, fazer e agir no trabalho da psicologia aplicada.
A subárea do estágio, “acompanhamento psicológico em casos de disfunção
profissional” induz o profissional a estar bem atento à saúde mental, tanto no nível
individual como coletivo, tendo todo o cuidado e toda a ética ao fazer identificações de
patologias; interpretações; avaliações das condutas e prestar orientações. Ainda,
salientando mais apropriadamente, deve ter muito cuidado com a questão da ética ao
trabalhar com a comunicação, lembrando sempre do dever do sigilo, além de
administrar bem as forças de trabalho que incidem sobre estas situações, buscando a
harmonia do homem com o ambiente laboral. Devemos, contudo, ressaltar que esses
pontos aqui mostrados e reforçados não são exaustivos, mas muito importantes para o
exercício profissional do psicólogo neste campo.
3.1. Avaliação do Estágio O estágio proporcionou, numa perceptiva bem sedimentada de estudos,
orientações, supervisões, aplicações práticas dos conhecimentos adquiridos ao longo do
curso, bem como uma revisão e atualização da literatura. Esta vivência possibilitou,
ainda, o cruzamento de experiências; a conquistas de espaços; o empreendimento de
atitudes desafiadoras; enfim, me propiciou muito aprendizado. As contribuições do
orientador, do supervisor e dos colegas de turma e de trabalho foram muito importantes
para a construção do meu saber e para a fixação dos pontos mais essenciais no que diz
respeito à atuação do psicólogo no ambiente laboral.
Na prática efetiva, atender, acompanhar e encaminhar pessoas para tratamento
em casos de disfunção profissional foi um grande desafio e uma experiência bastante
interessante, pois, foi um fazer psicológico que fugiu um pouco aos assuntos estudados
e ao meu conhecimento prévio, da Psicologia Organizacional e do Trabalho. Como já
dito, foi uma experiência muito desafiadora, mas que proporcionou muito crescimento
profissional e até mesmo pessoal. Fui capaz de vencer desafios, superar o temor e a
insegurança para trabalhar com o aquilo me era muito desconhecido e pude, ainda,
perceber outra maneira de se trabalhar com Psicologia em organizações, diferentemente
daquilo vem sendo proposto pelos subsistemas de RH.
3.2. A Supervisão do Estágio
A supervisora de estágio se mostrou como indispensável para o funcionamento
do meu aprendizado prático. Durante a experiência do estágio houve trocas freqüentes
de informações que foram imprescindíveis para o bom andamento dos casos
trabalhados, onde, inclusive, foi possível compreender e manejar as situações
institucionais e de grupo, que a todo instante surgiram, além de me permitir traçar
estratégias para promover uma prestação de serviços cada vez mais satisfatória.
A supervisão proporcionou muito aprendizado e desenvolvimento, para que eu
pudesse me adequar às rotinas da organização e ao uso dos instrumentos, suporte de
apoio e da própria teoria explorada. Nos momentos de supervisão pude perceber que
seria possível e viável uma atuação segura e apropriada ao psicólogo no universo das
organizações, tendo como foco a saúde mental do trabalhador, as injunções da
organização e o poder de transformação das pessoas na direção das suas relações com o
trabalho.
3.3. As Aulas de Orientação de Estágio As aulas de orientação na universidade, com o professor orientador, foram
decisivas para que eu pudesse perceber que a Psicologia do Trabalho não estava
fechada, nem imobilizada diante das práticas dos subsistemas da Administração de
Recursos Humanos, como tem sido a praxis dos muitos estágios ocorridos nesta área.
Houve sim, uma desconstrução dessas percepções arraigadas, com uma reconstrução de
visão e de saberes em outra perspectiva sobre a matéria. Foi como obter uma nova
versão do saber, direcionada para a valorização da inserção das pessoas na organização,
da saúde mental dos sujeitos e das relações interpessoais dos indivíduos no contexto
organizacional.
O professor orientador instigou o pensamento crítico entre nós estagiários,
fazendo com que buscássemos percepções e idéias muito além daquilo que
conseguíamos enxergar, enquanto estudantes da graduação. As aulas foram verdadeiras
incursões pela própria Psicologia Organizacional e do Trabalho, por sua historia, suas
perspectivas e principalmente por sua utilidade no mundo das organizações. A postura
científica nos foi apontada a todo o momento, ora pela investigação diagnóstica, ora
pela própria intervenção e até pela própria escrita acadêmica, nos dando suporte para a
construção dos planos e dos relatórios de estágio. Ainda, se faz necessário registrar as
observações com relação ao papel do psicólogo de forma ampla, e principalmente com
relação à ética profissional.
3.4. Auto-avaliação Um dos pontos mais importantes que a experiência de estágio me proporcionou
foi a percepção de que a Psicologia Organizacional e do Trabalho não se prende às
práticas e aos procedimentos técnicos da área de Recursos Humanos. Recrutar,
selecionar e treinar, sabemos, faz parte do universo no qual o psicólogo pode atuar, mas
não resume o trabalho dos profissionais da psicologia quando em organizações.
Importante dizer, então, que o trabalho realizado durante o estágio não tinha muita
relação com a rotina, os procedimentos e os afazeres das pessoas que atuam como
profissional de Recursos Humanos, como eu imaginava que seria o meu estágio
curricular.
Quando iniciei o estágio, guardava o sentimento de que talvez não pudesse pôr
em prática aquilo que havia aprendido nas disciplinas para o perfil de Psicologia do
Trabalho e pensando qual seria a base teórica para minha atuação. Fiquei surpresa com
a riqueza de informações e postulados acadêmicos em torno desse campo da psicologia
aplicada. Esse momento anterior ao início das minhas atividades foi bastante temeroso,
e até permeado de inseguranças, pois não imaginava como poderia alcançar os objetivos
estabelecidos no plano de estágio. A reformulação do cronograma, ajustando melhor as
minhas atividades, me assegurou uma postura mais firme e que me levou a acreditar ter
alcançado, de maneira sólida e concreta, os objetivos ali determinados.
Agora, no final da experiência, pude perceber que o psicólogo do trabalho é
chamado, durante sua atuação para ajudar as pessoas a promover o seu bem-estar e o
seu crescimento no ambiente laboral, além de trazer resultados positivos para o
ajustamento e a interação das pessoas na organização. Aprendi a pensar no ser humano
como um agente de sua vida nas relações cotidianas do trabalho e, ainda, que essas
relações não são imutáveis. Assim, cabe ao psicólogo propor ações com o objetivo de
melhorar a qualidade de vida no ambiente de trabalho e minimizar o sofrimento dos
trabalhadores quando em disfunção profissional.
APRESENTAÇÃO DO LOCAL E CONDIÇÕES NAS QUAIS A ATIVIDADE DE ESTÁGIO ACONTECEU
A experiência de estágio, que teve a duração de um ano, foi realizada em órgão
da administração pública do Estado de Pernambuco. A unidade onde se realizou o
estágio supervisionado tem como atividade principal atender e, se for o caso,
acompanhar os servidores daquela instituição que apresentam dificuldades na atuação
laborativa e que, por seu turno, interferem diretamente como variável causal no
desempenho profissional dos sujeitos afetados.
Esses atendimentos foram realizados de forma individual, em sala reservada
para esse propósito, contígua à Unidade. O ambiente se mostrava acolhedor e nele as
pessoas podiam expressar através da fala, do olhar, das emoções e dos gestos, os
desprazeres que estavam sentindo no ambiente laboral. A sala tinha uma acústica
adequada, onde não era possível, de fora dela, ouvir o que se estava sendo falado no seu
interior, considerando o sigilo das informações. Enfim, o setting de atendimento
guardava os elementos e características apropriados para um atendimento ético,
comprometido com os demandantes e dentro dos requisitos técnicos recomendados.
A equipe de trabalho, durante o estágio, foi composta por 01 (uma) Psicóloga,
01 (uma) Analista com formação em Direito, 01 (um) Técnico, 01 (um) Estagiário de
Administração de Empresas e 01 (uma) Estagiária de Psicologia.
A estagiária foi, durante todo o tempo, supervisionada pela Psicóloga da
Unidade, que fazia pontuações acerca do trabalho desenvolvido, buscando fortalecer e
agregar valores à formação da estudante.
O local de estágio sempre esteve em ótimas condições físicas (com instalações
novas, recursos tecnológicos) e proporcionou ótimas condições psicológicas à
estagiária, por se tratar de uma equipe muito unida, onde todos colaboravam com o
crescimento e desenvolvimento do seu próximo, tanto a nível profissional quanto
pessoal.
No capítulo sobre a descrição das atividades, há detalhes de como se procedeu a
maior parte do trabalho que foi desenvolvido ao longo do período de estágio.
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RESUMO Relatório Final de Estágio Supervisionado, que teve por objetivo descrever uma experiência de estágio vivenciada na área de Psicologia Organizacional e do Trabalho, realizado em órgão Público do Estado de Pernambuco, em Unidade voltada para a gestão de pessoas. A principal atividade realizada foi a de Atendimento e Acompanhamento Psicológico de Servidores em Casos de Disfunção Profissional. Para dar suporte teórico às atividades, foram usados, basicamente, os fundamentos da Orientação Profissional e do Aconselhamento Psicológico, além de estudos e discussões acerca das principais demandas trabalhadas. As principais questões encontradas com relação à Disfunção Profissional durante a prática estiveram relacionadas ao alcoolismo, a depressão, ao estresse e ao relacionamento interpessoal. A atividade de acompanhamento consistiu, essencialmente, em atender as pessoas que estavam apresentando um desempenho deficiente no local de trabalho, para oferecer o apoio necessário à readaptação às rotinas de trabalho e, dependendo da complexidade dos casos surgidos, fazer orientações no sentido de encaminhar os demandantes para acompanhamento psiquiátrico e/ou psicológico da própria instituição, ou, até mesmo, para tratamento/internamento em clínicas especializadas. Para promover a integração entre teoria e prática, a estagiária foi supervisionada por profissional habilitado na área e orientada na Universidade por professor com conhecimentos técnicos sobre o campo de atuação do Psicólogo Organizacional e do Trabalho. O objetivo desta experiência foi proporcionar a oportunidade de se aplicar as competências profissionais do psicólogo na prática cotidiana de uma organização, na perspectiva de uma melhor formação. Palavras chave: Psicologia; Disfunção Profissional; Acompanhamento
MEMORIAL
Um grande desafio. Talvez seja essa a melhor maneira de descrever a
experiência de estágio vivida há pouco. No início, guardava o sentimento de que talvez
não pudesse pôr em prática aquilo que havia aprendido nas disciplinas para o perfil de
Psicologia do Trabalho. Veio a indagação sobre qual seria a base teórica para minha
atuação, já que eu iria trabalhar com Acompanhamento Psicológico nos casos de
Disfunção Profissional, mas não tinha me preparado especificamente para aquela
atuação - fugia bastante do conhecimento teórico que havia aprendido na área escolhida.
A riqueza de informações e postulados acadêmicos que estão em torno desse campo da
psicologia aplicada foi uma surpresa. Esse momento anterior ao início das atividades foi
bastante temeroso, e até permeado pela vontade de desistir, pois não imaginava como
poderia alcançar os objetivos estabelecidos no plano de estágio. De certo modo, a
própria reformulação do cronograma, ajustando melhor as atividades, e o desejo de
vencer mais um desafio, me asseguraram uma postura mais firme e que me levou a
acreditar que poderia alcançar de maneira sólida e concreta, os objetivos ali
determinados – e que hoje, acredito ter alcançado.
Trabalhar com Acompanhamento Psicológico em casos de disfunção
profissional exige muita sensibilidade e persistência diante de uma era “tecnológica”,
em que se busca informatizar tudo e trocar, cada vez mais, postos de trabalhos por
máquinas. Além do mais, hoje em dia, muitas empresas preferem demitir aquele
empregado “dificultoso” do que tentar resolver seus problemas - relacionados com a
atividade laboral. É fundamental ter a consciência de que são as pessoas que conduzem
a organização para o futuro. Para a atuação como Psicólogo do trabalho é preciso se
libertar um pouco das amarras do capitalismo e do lucro, focando o trabalho
essencialmente no bem-estar do ser humano. É mister compreender o outro em sua
subjetividade, valorizá-lo e dar a devida importância a cada um dos recursos humanos,
pois a organização é feita de pessoas e precisa delas para promover as mudanças
necessárias para continuar movendo a grande máquina.
As demandas surgidas durante os atendimentos foram as mais diversas, o que
tornou o trabalho mais rico e dinâmico. Houve dias em que foram atendidas de quatro a
cinco demandas totalmente distintas (entre elas: dificuldades com uso imoderado de
álcool; problemas de relacionamento interpessoal; depressão) e nós, membros da
Unidade, tínhamos que receber aquela demanda e desenvolver, naquele momento, uma
ação que pudesse confortar o sujeito e, quem sabe, solucionar aquela dificuldade
trazida.
Agora, no final da experiência, pude perceber que o psicólogo do trabalho é
chamado, durante sua atuação, para ajudar as pessoas a promover o seu bem-estar e o
seu crescimento no ambiente laboral, além de trazer resultados positivos para o
ajustamento e a interação das pessoas na organização. Aprendi a pensar no ser humano
como um agente de sua vida nas relações cotidianas do trabalho e, ainda, que essas
relações são dinâmicas e imprevisíveis. Assim, cabe ao psicólogo propor ações com o
objetivo de melhorar a qualidade de vida no ambiente de trabalho e minimizar o
sofrimento dos trabalhadores quando em disfunção profissional.
Um dos pontos mais importantes que a experiência de estágio me proporcionou
foi a percepção de que a Psicologia Organizacional e do Trabalho não se prende às
práticas e aos procedimentos técnicos da área de Recursos Humanos. Recrutar,
selecionar e treinar, sabemos, faz parte do universo no qual o psicólogo pode atuar, mas
não resume o trabalho dos profissionais da psicologia quando em organizações.
Importante dizer, então, que o trabalho realizado durante o estágio não tinha muita
relação com a rotina, os procedimentos e os afazeres das pessoas que atuam como
profissional de Recursos Humanos, como eu imaginava que seria o meu estágio
curricular – a experiência vivida tornou-se mais enriquecedora por ter ampliado o meu
horizonte no que se refere a atuação do Psicólogo dentro das organizações.