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Escola de Direito do Rio de Janeiro – FGV Graduação em Direito – Rio Curso de Microeconomia – 2009 / I Prof. Pôrto Gonçalves A DIVISÃO DO TRABALHO E SEUS PERCALÇOS Considere os seguintes fatos: A) O chinês produz camisetas de algodão de baixa qualidade e as vende, entre outros lugares, na porta da Hering em Blumenau, por R$ 1,00 a camiseta. A Hering encerrou sua linha de produção de camisetas de baixa qualidade e demitiu empregados, pois não pôde competir com tal preço. B) O Sol ilumina o Brasil 12 horas em cada dia. Fornece luz de graça e abundantemente, num verdadeiro “dumping” vindo do exterior e, portanto, diminui o potencial de produção e emprego na indústria brasileira de lâmpadas, velas etc... C) A opinião pública e os jornais europeus (alemães) afirmam que eles não deveriam importar carne “in natura” do Brasil, pois os alemães beneficiam e distribuem carne na Europa muito mais barato do que os brasileiros o fariam. Logo, eles deveriam usar esta sua vantagem para produzir na Alemanha a carne “in natura” (criar bois), gerando emprego etc, embora tal produção “in natura” seja mais cara na Alemanha que no Brasil. Os jornais brasileiros consideram um absurdo o Brasil exportar carne “in natura” sem beneficiá-la aqui, pois temos a matéria-prima e deveríamos criar empregos e adicionar valor no Brasil, antes de exportar. D) Alguns acham que os criadores de gado sempre deveriam abrir churrascarias, verticalizando seu empreendimento, adicionando valor a seu produto.

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Escola de Direito do Rio de Janeiro – FGVGraduação em Direito – RioCurso de Microeconomia – 2009 / IProf. Pôrto Gonçalves

A DIVISÃO DO TRABALHO E SEUS PERCALÇOS

Considere os seguintes fatos:

A) O chinês produz camisetas de algodão de baixa qualidade e as vende, entre outros lugares, na porta da Hering em Blumenau, por R$ 1,00 a camiseta. A Hering encerrou sua linha de produção de camisetas de baixa qualidade e demitiu empregados, pois não pôde competir com tal preço.

B) O Sol ilumina o Brasil 12 horas em cada dia. Fornece luz de graça e abundantemente, num verdadeiro “dumping” vindo do exterior e, portanto, diminui o potencial de produção e emprego na indústria brasileira de lâmpadas, velas etc...

C) A opinião pública e os jornais europeus (alemães) afirmam que eles não deveriam importar carne “in natura” do Brasil, pois os alemães beneficiam e distribuem carne na Europa muito mais barato do que os brasileiros o fariam. Logo, eles deveriam usar esta sua vantagem para produzir na Alemanha a carne “in natura” (criar bois), gerando emprego etc, embora tal produção “in natura” seja mais cara na Alemanha que no Brasil. Os jornais brasileiros consideram um absurdo o Brasil exportar carne “in natura” sem beneficiá-la aqui, pois temos a matéria-prima e deveríamos criar empregos e adicionar valor no Brasil, antes de exportar.

D) Alguns acham que os criadores de gado sempre deveriam abrir churrascarias, verticalizando seu empreendimento, adicionando valor a seu produto.

E) A GM produz carros de modo ineficiente (mais caros que os japoneses); mas ela e sua cadeia produtiva produzem os tanques americanos.

F) Algumas pessoas defendem a introdução de tarifas alfandegárias protecionistas entre os países, mas não entre os estados ou as províncias de um mesmo país.

G) Para criar empregos, algumas pessoas defendem que se cave buracos para tampá-los. Ou seja, durante o dia um grupo de operários cava um buraco e, à noite, outra turma de trabalhadores o tapa, deixando o terreno pronto para o pessoal do turno do dia cavá-lo novamente. Criam-se, assim, dois turnos de emprego!

H) Algumas pessoas defendem a eliminação das barreiras alfandegárias entre os países, formando um mercado comum. E já há vários deles no mundo atual.

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Estas pessoas dizem que haverá um aumento da eficiência e do PIB mundial caso se estabeleçam mais mercados comuns.

I) Dizem que, no sistema político de muitos países, “a soberania dos produtores” prevalece em relação à “soberania dos consumidores”, pois os produtores têm muito mais a perder, per capita, com a redução de tarifas, do que os consumidores têm a ganhar, também considerando o valor per capita do ganho. Logo, pressionado pelos produtores, que se organizam de modo efetivo, os governos tendem a colocar barreiras alfandegárias e resistem em retirá-las.

Analise os fatos descritos acima, com argumentos que envolvam:

1. Aspectos ambientais e de justiça social em relação aos trabalhadores (Por que a camiseta chinesa é tão barata?);

2. A formação de poder de mercado por parte dos produtores e a possível interrupção de fornecimento de um bem sem substitutos para o comprador (É preciso haver instituições supranacionais que coíbam a formação de monopólios?);

3. Questões de risco de mercado, reduzível pela verticalização, e de segurança nacional;

4. A questão da eficiência (Como deveria ser o comércio de carne entre o Brasil e a Alemanha? Criadores de gado devem abrir churrascarias para agregar valor ao seu produto? É bom criar empregos da maneira descrita em (G) ?). Pesquise quais são os argumentos da indústria nascente e da economia de escala, e use-os neste contexto;

5. O uso de barreiras ou subsídios fiscais na promoção do desenvolvimento regional (Como justificá-lo em termos de externalidades?);

6. Os problemas distributivos e políticos envolvidos na formação de blocos econômicos (O que é um mercado comum?; itens (H) e (J) ).