Adorno

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Theodor W. Adorno (1903- 1969) Música e Sociedade A Escola de Frankfurt Escola de teoria social interdisciplinar neo-marxista, particularmente associada ao Instituto de Pesquisa Social da Universidade de Frankfurt. A escola inicialmente consistia de cientistas sociais marxistas dissidentes que acreditavam que alguns dos seguidores de Karl Marx tinham se tornado "papagaios" de uma limitada seleção de idéias marxistas, usualmente em defesa do comunismo ortodoxo.

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Theodor W. Adorno (1903-1969)

Música e SociedadeA Escola de Frankfurt

Escola de teoria social interdisciplinar neo-marxista, particularmente associada ao Instituto de Pesquisa Social da Universidade de Frankfurt. A escola inicialmente consistia de cientistas sociais marxistas dissidentes que acreditavam que alguns dos seguidores de Karl Marx tinham se tornado "papagaios" de uma limitada seleção de idéias marxistas, usualmente em defesa do comunismo ortodoxo.

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Instituto de Pesquisas Sociais de Frankfurt (1924)

Alguns dos membros mais conhecidos:

Max Horkheimer (1895-1973)

Theodor W. Adorno (1903-1969)

Herbert Marcuse (1898-1979)

Erich Fromm (1900-1980)

Jürgen Habermas (1929)

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Paris, Capital do Século XIX

Walter Benjamim escreveu sobre as “passagens cobertas” de Paris

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Adorno e a Música

Textos de Adorno sobre música

Filosofia da Nova Música (Stravinsky e Schönberg)

O Fetichismo na Música e a Regressão da Audição

Sociologia da Música

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Adorno e a Tipologia da Escuta

São sete os principais tipos de escuta musical mapeados por Adorno no mundo contemporâneo. É possível certa transição entre um tipo e outro e até mesmo diferentes intensidades dentro de cada um:

o ouvinte especialista (ouvinte expert), o bom ouvinte (guter Hörer), o ouvinte consumidor de cultura, o ouvinte emocional (emotionale Hörer), o ouvinte ressentido (ressentiment Hörer), o ouvinte fã, o ouvinte do entretenimento (típico da Indústria Cultural).

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Adorno e a Tipologia da Escuta

O ouvinte especialista define-se segundo o critério de uma escuta perfeitamente adequada. Sua escuta é estrutural e seu horizonte é a lógica musical. Para ele, o ouvido participa igualmente do pensamento, cada elemento do que é escutado é, na maior parte do tempo, imediatamente presente como elemento técnico e a significação se revela essencialmente nas categorias técnicas. Este tipo de ouvinte costuma restringir-se ao círculo dos músicos profissionais

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Adorno e a Tipologia da Escuta

O bom ouvinte estabelece espontaneamente as relações entre as partes constitutivas da música, julga de modo fundamentado e não apenas segundo categorias de prestígio ou segundo a arbitrariedade do gosto. No entanto, este ouvinte não é plenamente consciente no que se refere às implicações técnicas e estruturais da obra.

É o que se chama, em geral, de “pessoa musical”.

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Adorno e a Tipologia da Escuta

O bom ouvinte tem boa cultura musical e sabe distinguir entre as formas antigas, o barroco, o clássico, o romântico, o impressionista e assim por diante. Está atento ao que se passa no mundo musical e sabe apreciar a música pelo prazer que ela lhe dá.

Adorno observa que o desenvolvimento de uma tal musicalidade necessita historicamente de uma certa homogeneidade de um grupo social relativamente compacto (elites aristocráticas ou burguesas).

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Adorno e a Tipologia da Escuta

O Ouvinte cultural ou ouvinte consumidor de cultura é um sucedâneo natural do bom ouvinte. Composto inicialmente por um tipo burguês que herda o espaço do público de concerto e de ópera, é também bastante informado sobre o que se passa no mundo musical, mas interessa-se mais pela quantidade das audições do que por sua qualidade. É o colecionador de CDs. Vai de uma sala de concerto para outra.

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Não é raro que o Ouvinte cultural disponha de um conhecimento extenso do repertório, porém um conhecimento que permite apenas falar dos temas das obras célebres que são incessantemente repetidos e identificar de imediato aquilo que ele percebeu. Para este tipo de ouvinte, o desenvolvimento de uma obra não importa: seu reconhecimento musical se atém a passagens precisas, a melodias pretensiosamente belas e aos momentos grandiosos.

É o ouvinte do fetichismo e do espetáculo na música.

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Adorno e a Tipologia da Escuta

Para o Ouvinte emocional a música é vista apenas como um pretexto para a liberação de suas energias pulsionais, senão reprimidas ou domesticadas pelas normas da civilização. Assim, este tipo pode ter uma reação muito forte quando escuta certas músicas que, segundo seus critérios particulares, soa de modo emocional: esta música lhe faz chorar.

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O ouvinte emocional chega mesmo a chorar ouvindo peças de Tchaikovsky ou Chopin. Não está interessado na qualidade da música nem na sua estrutura. Acha que a música lhe dá descanso e serve para acalmar a vida estressada que leva no dia a dia. Em geral, a música lhe desperta emoções que ele mesmo costuma negar na sua vida cotidiana. A música cumpre apenas a função de ser uma espécie de trilha sonora para a recordação de fatos considerados marcantes em sua vida: a lembrança do primeiro beijo, o baile de formatura, a última reunião familiar na noite de Natal.

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Adorno e a Tipologia da Escuta

O ouvinte ressentido reage contra todos os anteriores. Não gosta das correntes atuais de música, nega o caráter de mercadoria da arte e prefere voltar a tempos antigos. A consciência musical das pessoas desse tipo é formada por organizações a que pertencem. Pregam os “valores imutáveis” da música.

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Adorno e a Tipologia da Escuta

Devido à sua rigidez, o ouvinte ressentido é vítima da mesma reificação que combate. Adorno identifica este tipo de escuta naqueles ouvintes que elegem a música de Bach (ou na música anterior a este) como parâmetro da “grande música”. A consciência destes ouvintes é regida pelas normas estritas das confrarias nas quais se encontram reunidos e que comumente aderem a ideologias conservadoras e reacionárias.

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O ouvinte fã (jazz-fan) é aparentado ao ouvinte ressentido por seus hábitos contrários à cultura musical oficial, assim como pela predileção ao sectarismo. Partilha com o ressentido sua aversão ao ideal musical “clássico-romântico”. Por se considerar um vanguardista audacioso, não percebe que o gênero de sua predileção, no caso o jazz, sucumbiu à estandardização das harmonias pré-estabelecidas da música comercial.

Podemos compará-lo ao rock ou ao pop de hoje.

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Adorno e a Tipologia da Escuta

O ouvinte do entretenimento é o mais importante em um nível quantitativo, pois sua escuta centra-se no entretenimento e nada mais. O tipo ouvinte do entretenimento está no domínio da indústria cultural, seja porque ela se conforma a ele segundo sua própria ideologia, seja porque ela cria todas as peças que ela mesma solicita. Devido ao seu contingente, é difícil classificar este ouvinte em um grupo social determinado.

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O ouvinte do entretenimento é fruto de uma ideologia unitária nivelada. Para ele, a música não é significação, mas fonte de estímulos. Sua escuta dispersa é fomentada pelo material previsto para tal escuta, o qual sutilmente apresenta sempre o mesmo sob a máscara do diferente. Ele se deixa banhar pela música do rádio e do cinema, sem verdadeiramente escutar.

A maneira específica desta escuta é aquela da distração, da desconcentração, interrompida às vezes por instantes de atenção e de reconhecimento.

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Adorno e a Tipologia da Escuta

O último tipo, o ouvinte indiferente à música não é fruto de uma falta de disposição natural ao universo musical, mas sim de um processo cultural vindo desde a infância (uma autoridade brutal) ou reforçado por hábitos profissionais técnicos.

O não-ouvinte é amusical, sofre de amusia. O grupo de maior reincidência deste tipo concentra-se naqueles que possuem um talento técnico extremo.

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Adorno e a Tipologia da Escuta

Adorno ausculta e denuncia os sintomas de uma massificação da escuta, indistinta em seu raio de ação, embora consciente de seus propósitos e conseqüências: seu objetivo nada mais é do que fomentar uma gradativa aniquilação da capacidade de ouvir, na qual a escuta interna, silenciosa e reflexiva, é impedida de se manifestar pelo constante ruído exterior. Adorno é o filósofo da escuta crítica, da ressonância e da sonoridade da música.

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Adorno - Pensamentos

A arte é a magia libertada da mentira de ser verdadeira.

A decadência da oferta espelha-se na penosa invenção dos artigos para presente, que já pressupõem o fato de não se saber o que presentear porque, na verdade, não se tem nenhuma vontade de fazê-lo.

A grandeza de uma obra de arte está fundamentalmente no seu caráter ambíguo, que deixa ao espectador decidir sobre o seu significado.

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Adorno - Pensamentos

Auschwitz começa em qualquer lugar quando alguém observa um matadouro e diz: são apenas animais.

A intolerância à ambigüidade é a marca da personalidade autoritária.

Só o astucioso entrelaçamento de trabalho e felicidade deixa aberta, debaixo da pressão da sociedade, a possibilidade de uma experiência humana propriamente dita.

Como escrever um poema após Auschwitz?

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Arte e Mercadoria* O Kitsch *

Etimologia: o verbo kitschen significa "mascarar moveis para parecerem antigos" (pura simulação ou falsificação), enquanto o verbo verkitschen denota "fazer algo rápido para vender a baixo preço".

Kitsch designa objetos de valor estético distorcido e/ou exagerado, freqüentemente associados à predileção do gosto mediano e pela pretensão de, ao fazer uso de estereótipos e chavões, tomar para si valores de uma tradição cultural elevada.

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Arte e Mercadoria* O Kitsch *

A Indústria Cultural produz o Kitsch para suprir a demanda de classes sociais em ascensão, que não conseguem entender e aceitar a arte de vanguarda, com suas propostas inovadoras, mas desejam participar do "universo da arte”. Esta parte da população não teve a sensibilidade artística educada e, portanto, não desenvolveu o gosto, mas queria parecer culta e apreciadora da arte, porque tal situação lhe conferia status social.

Kitsch valor estético inferior, mau gosto.

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Arte e Mercadoria* O Kitsch *

Outra abordagem: a Semiologia e o Kitsch. Se toda linguagem é um sistema de signos, a

arte é um signo. Há três tipos de signos: ícones, índices e

símbolos. Se a relação entre o signo e o objeto

representado é de semelhança, temos o ícone: uma fotografia, um desenho que tenha semelhança com o objeto, uma palavra onomatopaica (bem-te-vi, cocorocó, etc).

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* O Kitsch * Se a relação é de causa e efeito, temos o

índice. Os sinais matemáticos (+, -, x e ÷ ) são signos indicadores das operações a serem efetuadas; a febre é signo de doença; o chão molhado pode ser signo (efeito) de chuva. Todos esses signos indicam o objeto representado.

Se a relação é arbitrária, convencional e necessita interpretação, temos o símbolo. Palavras, cores e outros objetos de uso cultural são símbolos (a cor do luto, por exemplo).

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Do ponto de vista do signo, se a arte expressa, o kitsch apenas implica em uma forma de uso. Se na arte o imaginário é reabilitado, no kitsch é simulacro, impostura. Para alguns autores, representa a crise de valores e de sentido da história contemporânea.

O artista se propõe a atravessar o cotidiano para tocar a aura. O kitsch faz o caminho contrário. Estabelece uma suposta arte como espetáculo, baseado num empilhamento que não tem expressão, que é o engodo da arte, ajudado pela mídia que vive e se nutre de aparências, de efeitos, ou simulações de efeitos.

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A indústria cultural considera a arte, outrora objeto de culto, como mercadoria, que não é fruível, mas consumível. A preocupação com a beleza e com a ética da arte é superada pela preocupação econômica. Os meios de comunicação dissolvem o valor ritual da arte como exemplar único e sacralizado, como resultado de momentos de inspiração geniais do artista, e criam a banalidade, a imitação, o falso, o profano, o produto, enfim, o kitsch.

Como diz Roland Barthes, “o kitsch é o grau zero do signo, não informa nem forma.”

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O Kitsch está restrito ao ícone, ou seja, são imagens representativas de ritos e credos, que os meios de comunicação lhes conferem. Não são imagens simbólicas produzidas pela arte e que o homem compreende através da história, mas ícones que o homem compreende através dos meios de comunicação de massa.

A arte caracteriza-se como símbolo, ou seja, um tipo de signo que requer interpretação, conhecimento, repertório de signos a serem estudados, pensados e adquiridos pela educação e o cultivo da própria arte.

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O poeta Ezra Pound (1885-1972) identifica a crise do valor da arte quando considerada mercadoria:

We see to kalon

Decreed in the market place.

(Nós vemos to kalon (o belo, em grego), decretado, estabelecido pela lei do mercado).

E.P. Ode Pour L’election De Son Sepulchre

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As tecnologias de informação abrem gigantescas possibilidades de transmissão de conhecimentos. Por enquanto, revolucionam a maneira como se manuseiam ou se consomem as informações. O que se precisa é refletir sobre essa ditadura dos meios de comunicação para que não se tornem eternamente instrumentos de poder e de dominação, mas um movimento entre a emoção, a vida e natureza.

A ideologia reprodutiva não deve servir apenas para empobrecer a cultura.

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Quanto mais esquecido de si mesmo está quem escuta, tanto mais fundo se grava nele a coisa escutada.

Walter Benjamin

Os homens criam as ferramentas. As ferramentas recriam os homens...

Hoje, o tirano governa não pelo cassetete e pelo punho; mas, disfarçado em pesquisador de mercado, ele conduz seu rebanho pelos caminhos da utilidade e do conforto.

Dar sentido ainda é monopólio humano.

Marshall McLuhan

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Filosofia da Música

Resumos e comentários elaborados pelo Professor Reinério L. M. Simões.

www.reinerio.net

UERJ – Curso de Filosofia e Arte

2009/2010