A cultura de guariroba em sistemas agroflorestais na regio do Cerrado

Por Jos Teodoro de Melo (pesquisador da Embrapa Cerrados) e Daniel Pereira Guimares (pesquisador da Embrapa Milho e Sorgo).

A utilizao de sistemas agroflorestais uma alternativa para as pequenas propriedades rurais propiciando aproveitamento simultneo da rea para cultivos agrcolas e florestais. Essa caracterstica, aliada viabilidade econmica, social e ecolgica, aponta os sistemas agroflorestais como uma das melhores solues para a busca da sustentabilidade no setor agrcola.

Os sistemas agroflorestais podem ser feitos com espcies florestais e agrcolas (alley cropping), com espcies florestais nativas e exticas consorciadas a reas de pastagens (sistemas silvopastoris), quebra-ventos, sistemas de faixas florestais para proteo dos cursos d'gua e cultivos de espcies medicinais e aromticas em reas florestais (permacultura). Embora ainda incipientes no Cerrado, esses sistemas j se encontram difundidos com xito nas demais regies do Pas.

Produo de palmceas

Os sistemas agroflorestais podem ser usados para a produo de palmceas. O cultivo de palmceas oferece boas perspectivas para a melhoria da renda dos produtores, permitindo inclusive o estabelecimento de agroindstrias nas propriedades. Das palmceas cultivadas no Cerrado, a guariroba (Syagrus oleracea) ocupa lugar de destaque pelo seu palmito, ou broto terminal, de sabor amargo, um prato tpico da regio.

O cultivo de espcies florestais em plantios homogneos exige amplos espaamentos. O consrcio entre as culturas representa uma estratgia importante para utilizao desses espaos. Entre as espcies florestais, o mogno (Swietenia macrophylla King), a seringueira (Hevea brasiliensis M. Arg.) e o neem (Azadirachta indica) oferecem perspectivas de retorno econmico e uso nesses sistemas agroflorestais.

Visando oferecer alternativas de sistemas agroflorestais e, ao mesmo tempo, aproveitar o potencial das espcies nativas do Cerrado, a Embrapa Cerrados implantou, em 1996, experimentos consorciando a guariroba com o mogno, a seringueira e o neem. Os experimentos foram instalados no ms de dezembro daquele ano, em Latossolo Vermelho-Amarelo distrfico, na cidade de Planaltina, localizada no Distrito Federal.

Cada parcela da espcie florestal corresponde a 25 rvores, no espaamento de 9 x 6m. A guariroba foi plantada no espaamento de 3,0 x 0,5m. O plantio das espcies florestais foi feito em sulcos de 40cm de profundidade, recebendo a seguinte adubao por metro de sulco: calcrio dolomtico (300g); superfosfato simples (350g); cloreto de potssio (20g); brax (5g); sulfato de cobre (8g); sulfato de mangans (4g) e sulfato de zinco (4g); esterco de curral 10 litros/cova. A adubao de manuteno consistiu na aplicao de nitroclcio (40 g/planta) e cloreto de potssio (20 g/planta) aos 30 e 60 dias aps o plantio.

O plantio da guariroba foi feito em sulcos de 40cm de profundidade, utilizando-se a seguinte adubao de plantio por metro de sulco: 300g de calcrio dolomtico, 350g de super simples, 20g de cloreto de potssio, 5g de brax, 8g de sulfato de cobre, 4g de sulfato de mangans e 4g de sulfato de zinco. A adubao nitrogenada foi efetuada aos 20 e 50 dias aps o plantio com a aplicao parcelada de 50g de uria/metro de sulco. Foram aplicados anualmente, em dezembro, janeiro e maro, 30g de sulfato de amnio e 10g de cloreto de potssio/planta.

Os resultados mostraram que cultivo de seringueira, mogno e neem no prejudicou o crescimento nem a sobrevivncia da guariroba, cujo dimetro variou de 10,1 a 10,7cm, quando consorciada com neem e em plantio puro, respectivamente. A altura de insero das folhas variou de 1,3 a 1,4m, dependendo do tratamento. Com estas dimenses e nesta idade, a guariroba j pode ser colhida para a produo de conserva. A alta taxa de sobrevivncia (acima de 90%) reflete a adaptao da espcie ao solo distrfico e clima da regio.

A consorciao com guariroba favoreceu o crescimento em altura e dimetro das espcies florestais. Este maior crescimento, provavelmente, se deve adubao usada na guariroba. Os resultados obtidos com o consrcio entre a guariroba e essas espcies florestais demonstram que os sistemas agroflorestais so uma soluo para grande parte dos problemas hoje enfrentados pelo meio rural, tais como a necessidade de melhorar a renda do produtor, a segurana alimentar, o desflorestamento e a degradao dos solos.A utilizao desses sistemas representa importante alternativa para a preservao dos recursos naturais e para a busca de sustentabilidade do empreendimento agrcola.

Jos Teodoro de Melo pesquisador da Embrapa Cerrados, em Planaltina (DF)e-mail: mailto:teodoro@cpac.embrapa.br, e Daniel Pereira Guimares pesquisador da Embrapa Milho e Sorgo, em Sete Lagoas (MG), e-mail:mailto:daniel@cnpms.embrapa.br

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