AeroBote Projeto de um Ultraleve Pendular
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ESCOLA POLITÉCNICA DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA NAVAL E OCEÂNICA
PNV 2512 Projeto de Formatura II
AeroBote
Projeto de um Ultraleve Pendular
Gustavo Roque da Silva Ássi Fernando Henrique Bresslau
Orientação: Prof. Dr. Marcelo Martins
São Paulo, 10 de dezembro de 2003
AeroBote: Projeto de um ultraleve pendular
Gustavo Ássi – Fernando Bresslau 2
Agradecimentos
Ao nosso Deus, por conceder e benção da graduação nesta Universidade.
Ao nosso estimado orientador Prof Dr. Marcelo Martins.
Aos nossos queridos colegas, amigos e familiares.
A todos que contribuíram para a realização deste projeto.
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Resumo
AeroBote – Projeto de um Ultraleve Pendular
Este texto relata as atividades desenvolvidas pelos alunos Gustavo Roque da
Silva Ássi e Fernando Henrique Bresslau, sob orientação do Prof. Dr. Marcelo Martins,
durante o Projeto de Formatura, de acordo com a proposta das disciplinas Projeto de
Formatura I e II do Curso de Graduação em Engenharia Naval e Oceânica da Escola
Politécnica da Universidade de São Paulo.
Sintetiza a metodologia de projeto aplicada ao caso de ultraleve pendular para
operação na água fundamentada em uma metodologia de projeto para aeronaves leves
subsônicas. Analisa tecnicamente dois aspectos importantes do desenvolvimento da
aeronave: desempenho aerodinâmico e análise estrutural.
O desempenho aerodinâmico é abordado por duas frentes, numérica e
experimental, e propõe um ganho de desempenho de arrasto para a aeronave operando
em vôo de cruzeiro. O texto apresenta uma série de resultados obtidos em simulações
numéricas de CFD – Dinâmica dos Fluidos Computacional – e por ensaios realizados
com um modelo em escala 1:10 no Túnel de Vento do IPT. Ao final, obtém-se uma
economia da ordem de 15 %..
A estrutura do AeroBote é analisada pelo método computacional de elementos
finitos. Apresenta-se breve teoria aplicada ao assunto com as considerações e hipóteses
aplicadas a uma estrutura tubular. Como resultado, desenvolve-se um programa
computacional capaz de resolver estruturas simples. O programa deve ser ajustado em
projetos futuros.
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Índice
AGRADECIMENTOS.................................................................................................................2
RESUMO ......................................................................................................................................3
ÍNDICE .........................................................................................................................................4
ÍNDICE DE FIGURAS................................................................................................................7
ÍNDICE DE TABELAS E GRÁFICOS....................................................................................10
PARTE I: INTRODUÇÃO........................................................................................................11
1 APRESENTAÇÃO .............................................................................................................12
1.1 O AEROBOTE................................................................................................................12
2 PROPOSTA DE PROJETO ..............................................................................................13
2.1 MOTIVAÇÃO .................................................................................................................13 2.2 PROPOSTA DESTE TRABALHO........................................................................................13
3 METODOLOGIA DE PROJETO ....................................................................................16
3.1 METODOLOGIA DE PROJETO DE BARROS PARA UMA AERONAVE LEVE SUBSÔNICA .......17 3.2 METODOLOGIA DE PROJETO DE BARROS APLICADA AO PROJETO DO AEROBOTE..........36
4 AERONAVES SEMELHANTES......................................................................................45
4.1 TRIKE ÍCAROS...............................................................................................................45 4.2 POLARIS MOTOR...........................................................................................................45 4.3 BRIO FLYING BOAT ......................................................................................................46 4.4 ASA DELTA ...................................................................................................................46 4.5 BOTE INFLÁVEL ............................................................................................................48
5 PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS .....................................................................................49
5.1 PRINCÍPIO DO VÔO PENDULAR ......................................................................................49 5.2 PRINCÍPIO DAS ASAS DE VELAME ..................................................................................50
PARTE II: DESEMPENHO AERODINÂMICO....................................................................52
6 CFD – DINÂMICA DOS FLUIDOS COMPUTACIONAL ...........................................55
6.1 MODELOS NUMÉRICOS..................................................................................................55 6.2 OTIMIZAÇÃO DO MODELO.............................................................................................57 6.3 VISUALIZAÇÃO DO ESCOAMENTO .................................................................................60 6.4 COEFICIENTES DINÂMICOS............................................................................................63
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6.5 RESULTADOS NUMÉRICOS.............................................................................................65
7 ESTUDOS EXPERIMENTAIS.........................................................................................68
7.1 SEMELHANÇA DE REYNOLDS........................................................................................68 7.2 TÚNEL DE VENTO..........................................................................................................69 7.3 MODELO EM ESCALA ....................................................................................................70 7.4 BALANÇA DE MOMENTO ...............................................................................................71 7.5 RESULTADOS EXPERIMENTAIS ......................................................................................72
8 COMPARAÇÃO DOS RESULTADOS ...........................................................................74
8.1 ANÁLISE DOS RESULTADOS ..........................................................................................74 8.2 PROPOSTA DE SOLUÇÃO................................................................................................74 8.3 CONCLUSÃO .................................................................................................................74
PARTE III: ANÁLISE ESTRUTURAL...................................................................................76
9 MÉTODO DOS ELEMENTOS FINITOS .......................................................................77
9.1 INTRODUÇÃO TEÓRICA .................................................................................................77 9.2 MODELAGEM EM CAD (COMPUTER AIDED DESIGN)....................................................86 9.3 DESENVOLVIMENTO DO PROGRAMA COMPUTACIONAL.................................................89 9.4 MÉTODO DOS ELEMENTOS FINITOS .............................................................................102 9.5 OTIMIZAÇÃO DA ESTRUTURA......................................................................................104
REFERÊNCIAS .......................................................................................................................105
ANEXOS ...................................................................................................................................107
10 ANEXO 01: DOCUMENTAÇÃO DO PROJETO....................................................108
10.1 DESENHOS EM VISTA DIMENSIONAL............................................................................108 10.2 PERSPECTIVA ILUSTRATIVA ........................................................................................110 10.3 MOTOR .......................................................................................................................110
11 ANEXO 02: LEGISLAÇÃO .......................................................................................112
12 ANEXO 03: PROGRAMA DESENVOLVIDO, COM OS DADOS DE ENTRADA
DA ESTRUTURA ESTUDADA............................................................................................................115
12.1 DECLARAÇÃO DA GEOMETRIA DA ESTRUTURA ...........................................................115 12.2 DECLARAÇÃO DE FORÇAS E DESLOCAMENTOS ...........................................................117 12.3 MONTAGEM DA MATRIZ DE RIGIDEZ DO ELEMENTO....................................................118 12.4 MONTAGEM DA MATRIZ DE RIGIDEZ DA ESTRUTURA ..................................................119 12.5 SOLUÇÃO DO SISTEMA ................................................................................................120
13 ANEXO 04: DADOS DE ENTRADA E SAÍDA PARA ESTRUTURA DE TESTE
BIDIMENSIONAL.................................................................................................................................121
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13.1 NÓS E SEUS GRAUS DE LIBERDADE..............................................................................121 13.2 BARRAS E SEUS NÓS, INDICANDO DIREÇÃO (DO NÓ 1 AO NÓ 2) ...................................121 13.3 COMPRIMENTOS DAS BARRAS (MM)............................................................................121 13.4 ÂNGULOS DO SISTEMA DE COORDENADAS LOCAL EM RELAÇÃO AO SISTEMA DE
COORDENADAS GLOBAL........................................................................................................................121
13.5 MÓDULO DE ELASTICIDADE (DE YOUNG) DO MATERIAL ( ) ...............................121
13.6 CARACTERÍSTICAS DA SEÇÃO TRANSVERSAL (MM OU ) ......................................122 13.7 DECLARAÇÃO DE FORÇAS E DESLOCAMENTOS ...........................................................122 13.8 MONTAGEM DA MATRIZ DE RIGIDEZ DO ELEMENTO....................................................122
14 ANEXO 05: DADOS DE ENTRADA E SAÍDA PARA ESTRUTURA DE TESTE
BIDIMENSIONAL.................................................................................................................................123
14.1 DECLARAÇÃO DA GEOMETRIA DA ESTRUTURA ...........................................................123 14.2 DECLARAÇÃO DE FORÇAS E DESLOCAMENTOS ...........................................................124 14.3 MONTAGEM DA MATRIZ DE RIGIDEZ DO ELEMENTO....................................................125
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Índice de figuras
Figura 3.1 – Cronograma de um projeto de aeronaves leves subsônicas. ................................... 17
Figura 3.2 – Etapas da metodologia de projeto aplicada a uma aeronave leve subsônica. Barros
(2000) .................................................................................................................................. 18
Figura 3.3 – Motor selecionado: Rotax 503................................................................................ 40
Figura 3.4 – Esboço inicial da aeronave ..................................................................................... 41
Figura 3.5 – Geometria preliminar da asa delta .......................................................................... 42
Figura 3.6 – Esboço das três vistas da aeronave ......................................................................... 44
Figura 4.1 – Aeronave semelhante fabricada pela Trike Ìcaros .................................................. 45
Figura 4.2 – Aeronave semelhante fabricada pela Polaris Motor ............................................... 45
Figura 4.3 – Aeronave semelhante fabricada pela Brio Flying Boat .......................................... 46
Figura 4.4 – Modelos de asas delta fabricadas pela Trike Ícaros................................................ 47
Figura 4.5 – Botes convencionais adaptáveis: (a) FexBoat e (b) Arboat .................................... 48
Figura 5.1 – (a) Aeronave controlada por 3 eixos e (b) seu movimento de manobra.. ............... 49
Figura 5.2 – (a) Aeronave pendular e (b) seus graus de liberdade.. ............................................ 49
Figura 5.3 – (a) Aeronave pendular e (b) seu movimento de manobra.. ..................................... 50
Figura 5.4 – (a) Asa com velame inflado e (b) adicional de arrasto favorecendo a guinada. ..... 51
Figura 6.1 - Modelo simplificado elaborado para as primeiras simulações numéricas............... 55
Figura 6.2 – Modelo de bote adotado na atual solução. .............................................................. 56
Figura 6.3 – Comparação entre o modelo simplificado e a nova solução (azul)......................... 56
Figura 6.4 – Primeiro boneco tripulante utilizado nos modelos.................................................. 57
Figura 6.5 – Disposição do novos modelos de tripulantes. ......................................................... 58
Figura 6.6 – Ilustração do modelo com tripulantes, motor, tanque e pára-brisa. ........................ 59
Figura 6.7 – Instalação do canopy............................................................................................... 59
Figura 6.8 – Três vistas da aeronave. .......................................................................................... 59
Figura 6.9 - Linhas de fluxo ao redor do modelo. ....................................................................... 60
Figura 6.10 – Linha de fluxo para os ângulos de ataque de 0º e 15º. .......................................... 60
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Figura 6.11 – Linhas de corrente no modelo com canopy .......................................................... 61
Figura 6.12 – Vetores velocidade ao redor do modelo com canopy ........................................... 61
Figura 6.13 – Comparação entre as linhas de corrente para as configurações de canopy para 0º e
10º ....................................................................................................................................... 62
Figura 6.14 – Comparação entre os campos de vetores para as configurações de canopy para 0º e
10º ....................................................................................................................................... 62
Figura 6.15 – Padrão das malhas utilizadas nas simulações numéricas ...................................... 63
Figura 6.16 – Campo de pressão ao redor dos modelos para 0º e 15º......................................... 64
Figura 7.1 – Seção de testes do túnel de vento do IPT................................................................ 69
Figura 7.2 – Modelo construído para os ensaios experimentais.................................................. 70
Figura 7.3 – Comparação entre os modelos experimental e numérico........................................ 71
Figura 7.4 – Sistema para medição da força de arrasto no modelo............................................. 71
Figura 9.1 – Diagrama de corpo livre do elemento de nós 1 e 2 e seu sistema local de
coordenadas......................................................................................................................... 81
Figura 9.2 - Vista isométrica do modelo em CAD...................................................................... 87
Figura 9.3 - vista lateral............................................................................................................... 88
Figura 9.4 - vista de topo............................................................................................................. 88
Figura 9.5 - vista anterior ............................................................................................................ 89
Figura 9.6 - Nós e seus graus de liberdade.................................................................................. 91
Figura 9.7 - barras e seus nós orientados..................................................................................... 92
Figura 9.8 - posição angular dos elementos ................................................................................ 93
Figura 9.9 - estrutura bidimensional de teste .............................................................................. 94
Figura 9.10 - estrutura tridimensional de teste ............................................................................ 94
Figura 9.11 - Sistema de coordenadas locais alinhado de acordo com o primeiro método......... 95
Figura 9.12 - vetor de carregamentos alternativo........................................................................ 96
Figura 9.13 - estrutura hipoestática semelhante .......................................................................... 97
Figura 9.14 - estrutura isoestática ............................................................................................... 98
Figura 9.15 - matriz de deslocamentos........................................................................................ 98
Figura 9.16 - Reações (x, y, z) no apoio ..................................................................................... 98
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Figura 9.17 - matriz de deslocamentos........................................................................................ 98
Figura 9.18 - Reações (x, y, z) no apoio (dois nós)..................................................................... 99
Figura 9.19 – resolução pelo método das forças em equilíbrio................................................. 101
Figura 10.1 – Vista lateral (dimensões em metros)................................................................... 108
Figura 10.2 – Vista de planta (dimensões em metros) .............................................................. 109
Figura 10.3 – Vistas de frente e de trás (dimensões em metros) ............................................... 109
Figura 10.4 – Perspectiva ilustrativa ......................................................................................... 110
Figura 10.5 – Dados do motor Rotax 503 ................................................................................. 110
Figura 10.6 – Curvas de desempenho do motor Rotax 503 ...................................................... 110
Figura 10.7 – Desenho dimensional do motor Rotax 503......................................................... 111
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Índice de tabelas e gráficos
Tabela 2.1 – Cronograma das atividades..................................................................................... 15
Tabela 3.1 – Previsões de desempenho para o AeroBote............................................................ 36
Tabela 3.2 – Ordem estimada das dimensões do bote................................................................. 39
Tabela 3.3 – Ordem estimada das dimensões da asa................................................................... 39
Tabela 3.4 – Estimativas de carregamentos e potência ............................................................... 39
Tabela 3.5 – Motores Rotax empregados na aviação leve .......................................................... 39
Tabela 3.6 – Instrumentos e equipamentos ................................................................................. 40
Tabela 3.7 – Dimensões básicas iniciais ..................................................................................... 41
Tabela 3.8 – Estimativa de pesos ................................................................................................ 41
Tabela 4.1 – Ordem dos parâmetros estimados para a asa .......................................................... 47
Tabela 7.1 – Cálculo de Re no protótipo..................................................................................... 69
Tabela 7.2 – Cálculo de Re no modelo ensaiado ........................................................................ 69
Gráfico 3.1 – Aeronaves semelhantes: Velocidades X Área de asa............................................ 38
Gráfico 6.1 – Coeficiente de arrasto obtido nas simulações numéricas para V=20m/s............... 66
Gráfico 6.2 – Coeficiente de sustentação obtido nas simulações numéricas para V=20m/s ....... 66
Gráfico 7.1 – Coeficiente de arrasto obtido nos ensaios experimentais para V=20m/s .............. 72
Gráfico 7.2 – Coeficiente de arrasto obtido nos ensaios experimentais para V=10m/s .............. 73
Gráfico 8.1 – Comparação dos resultados numéricos e experimentais ....................................... 74
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PARTE I: INTRODUÇÃO
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1 Apresentação
1.1 O AeroBote
O AeroBote é uma proposta de aeronave de pequeno porte (categoria ultraleve) formada
pela adaptação de um bote inflável (reforçado com fibra de vidro) e de uma asa delta de velame
reforçada. O bote e asa são unidos por uma estrutura tubular onde são fixados os assentos dos
dois tripulantes e o grupo moto-propulsor. Esta aeronave, própria para operações de pouso e
decolagem da água, voa pelo princípio de vôo pendular, descrito adiante.
Popularizado como flying boat (barco voador, aero barco, trike aquático), esta versão de
aeronave desportiva é uma derivação do trike terrestre. Este, por sua vez, derivou-se da asa-
delta e dos princípios de vôo pendular. O AeroBote é constituído de um pequeno bote, com
motor e hélice aeronáuticos, em conjunto com uma asa-delta adaptada.
Desde a década de 80 o trike, principal representante da aviação leve pendular, ganhou
espaço entre os entusiastas do vôo livre e ultraleve. Apresentou-se como opção de baixo custo
além da segurança e facilidade do vôo em suas diversas aplicações.
Sua construção é muito simples o que torna comum a grande quantidade de projetos de
adaptação de trikes terrestres com botes infláveis, mesmo sem certificação de segurança.
O projeto de uma aeronave desta categoria satisfaz muito bem a proposta de um
trabalho de graduação em Engenharia. Além das ferramentas técnicas necessariamente
empregadas, uma visão metodológica do processo de projeto é satisfatoriamente empregada.
Certamente a multidisciplinaridade dos temas abordados neste estudo contribuirão para a
formação dos Engenheiros Navais e Oceânicos.
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2 Proposta de projeto
2.1 Motivação
O AeroBote apresenta na sua simplicidade seu maior diferencial. Por um baixo custo,
relativo as demais opções de aeronaves ultraleves, obtém-se uma aeronave versátil, apta para o
cumprimento de uma enorme variedade de missões. Dentre elas podemos destacar:
patrulhamento da costa, patrulhamento de regiões alagadas (Pantanal), transporte emergencial
de pequenos volumes, resgate e salvamento, fotografia aérea, pesquisas ambientais, transporte
de apoio, publicidade aérea, aerodesporto, turismo, etc.
Atualmente, a grande maioria de aerobarcos operando no Brasil são provenientes de
adaptações caseiras, montadas por entusiastas, muitas vezes sem conhecimento técnico. A outra
parte destas aeronaves é composta por modelos montados a partir de kits importados. Assim, o
mercado ainda é carente de uma opção nacional que apresente confiabilidade técnica e baixo
custo.
2.2 Proposta deste trabalho
Motivados pelos argumentos apresentados anteriormente, os alunos propõem o projeto
simplificado de uma aeronave desta categoria, seguindo os padrões de norma e legislação
brasileiros.
Obviamente o projeto integral de uma aeronave requer subprojetos detalhados de todos
os seus elementos e componentes bem como o estudo minucioso de seu comportamento. Por
conta desta complexidade este trabalho apresenta um escopo reduzido, focalizando em dois
aspectos especiais que compõem todo o desenvolvimento de um projeto real.
Além de uma breve introdução ao assunto e outra rápida apresentação dos princípios,
teorias, conceitos e hipótese adotados neste estudo, este trabalho pretende enfatizar a otimização
aerodinâmica em vôo de cruzeiro e o estudo de uma estrutura tubular alternativa. Assim, este
trabalho esta dividido em três partes: Parte I – Introdução, Parte II – Desempenho
aerodinâmico e Parte III – Análise estrutural
2.2.1 Escopo do trabalho
Compondo o escopo deste projeto, pretende-se abordar os seguintes tópicos:
• Apresentação das aeronaves semelhantes desta categoria. • Princípio do vôo pendular e considerações referentes ao comportamento da aeronave
em vôo.
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• Aplicação de uma metodologia de projeto para aeronaves leves subsônicas ao AeroBote.
• Dimensionamento da asa delta pela teoria de sustentação de asas de velame. • Dimensionamento do grupo moto-propulsor. • Otimização aerodinâmica de mínimo arrasto para vôo de cruzeiro através de métodos
computacionais e experimentos em túnel de vento. • Análise de uma estrutura tubular alternativa.
Como visto, muitas das etapas que compõem o projeto de uma aeronave desta categoria
não serão propositalmente contempladas neste texto.
2.2.2 Cronograma de atividades
Para o cumprimento dos temas listados no escopo, realizaram-se a seguintes atividades,
distribuídas conforme a ordem apresentada no cronograma da Tabela 2.1.
A. Identificação do projeto: detalhamento dos objetivos e necessidades, escopo, problema
de engenharia, contextualização e introdução ao tema.
B. Síntese teórica: revisão bibliográfica, princípios do vôo pendular, estabilidade,
segurança, legislação, aerodinâmica, método de elementos finitos aplicado à estruturas
tubulares e dinâmica dos fluidos computacional.
C. Pesquisa de veículos semelhantes: análise de projetos e contato com fabricantes
D. Pesquisa de mercado: análise de preços, custos e prazos; carência de modelos e
aceitação de configurações.
E. Pré-projeto de concepção: seleção dos modelos para projeto, estudo de viabilidade e
complexidade.
F. Etapas do projeto: definição das fases de projetos das configurações escolhidas.
G. Projeto de concepção: projeto da estrutura tubular.
H. Levantamento das cargas e simulação numérica dos arranjos estruturais por MEF.
I. Simulação numérica do modelo simplificado em CFD.
J. Simulação numérica do modelo completo em CFD.
K. Ensaios do modelo em túnel de vento.
L. Comparação dos dados numéricos e experimentais.
M. Projeto de adaptação: dimensionamento da asa, adaptação do motor (integração com
hélice e eficiência aerodinâmica da aeronave).
N. Documentação.
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Tabela 2.1 – Cronograma das atividades FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV
A ●●●● ●●●● B ●●●● ●●●● ●●●● ●●●● ●●●● ●●●● ●●●● ●●●● C ●●●● ●●●● D ●●●● ●●●● E ●●●● ●●●● F ●●●● ●●●● ●●●● G ●●●● ●●●● ●●●● ●●●● ●●●● ●●●● H ●●●● ●●●● ●●●● ●●●● ●●●● ●●●● I ●●●● ●●●● ●●●● J ●●●● ●●●● ●●●● ●●●● K ●●●● ●●●● ●●●● L ●●●● M ●●●● ●●●● N ●●●● ●●●●
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3 Metodologia de projeto
O desenvolvimento de projetos de aeronaves é cercado por uma série de metodologias
de projeto empreendidas ao longo dos anos. As quatro principais metodologias apresentadas na
literatura pesquisada se aplicam, de um modo geral, para qualquer projeto de aeronaves. São
elas: Torenbeck (1981), Raymer (1989), Roskan (1985) e Vandaele (1962).
Complementando estes métodos, foi desenvolvida nas últimas décadas uma
metodologia aplicada às necessidades do Centro de Estudos Aeronáuticos da Escola de
Engenharia da Universidade Federal de Minas Gerais (CEA – EEUFMG). O Prof. Dr. Cláudio
Pinto de Barros propõe uma metodologia aplicada ao projeto de aeronaves leves subsônicas
baseada na larga experiência deste grupo de pesquisa.
Antes de se aplicar uma metodologia de projeto diretamente no AeroBote algumas
considerações devem ser evidenciadas, uma vez que esta aeronave não se enquadra nas
categorias convencionais de projetos de aeronaves.
O método proposto por Barros se aplica a aeronaves leves subsônicas convencionais,
isto é, são aeronaves de “três eixos” de controle (como explicado no CAPITULO). Como o
AeroBote é um ultraleve de vôo pendular, algumas etapas não poderão ser aplicadas, por
exemplo, cálculos de empenagem ou superfícies de controle (ailerons, flapes, leme, cauda, etc.).
Contudo, feitas estas considerações, a metodologia apresenta um excelente roteiro de projeto a
ser seguido para aeronaves desta categoria.
Assim, a metodologia de projeto de Barros (2000) foi escolhida como a que melhor se
adapta as necessidades de projeto do AeroBote. Neste texto a metodologia de Barros será
apresentada em sua proposta original, isto é, sem que as adaptações necessárias ao projeto do
AeroBote sejam feitas. Deste modo, pretende-se passar ao leito uma noção previa dos itens que
compõem o projeto de uma aeronave podendo, posteriormente, destacar os pontos que serão
alterados para aplicação neste trabalho.
Em uma etapa seguinte deste texto a metodologia explicada será aplicada ao projeto do
AeroBote, desta vez destacando-se os pontos que devem ser alterados, corrigidos ou até mesmo
acrescentados para que o método se adapte ao projeto de um ultraleve pendular.
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3.1 Metodologia de projeto de Barros para uma aeronave leve subsônica
Nesta seção é apresentada a metodologia de projeto de Barros em sua proposta original.
A maior parte deste texto foi extraído do artigo “Uma metodologia de projeto para o
desenvolvimento de aeronaves leves subsônicas” (Barros, 2000).
O processo completo de desenvolvimento de uma aeronave, desde os primeiros estudos
até sua liberação para vôo, pode ser dividido em sete etapas principais que se desenvolvem
continuamente durante o projeto. São elas:
• Especificações e requisitos • Estudos preliminares • Anteprojeto • Projeto • Fabricação • Ensaios no solo • Ensaios em vôo
Ao longo do projeto estas etapas se distribuem consecutivamente. Em alguns casos há
uma sobreposição de etapas no tempo. Por exemplo, antes mesmo de concluída a etapa de
projeto pode-se iniciar parte da fabricação dos componentes.
De acordo com Barros, as etapas principais devem ser distribuídas cronologicamente
como apresentado na FIGURA. Também é importante ressaltar que a documentação do projeto
não é considerada como uma destas etapas, mas sim como um processo contínuo que deve estar
presente em todas as fases do processo.
DOCUMENTAÇÃO
ESPECIFICAÇÕESE REQUISITOS
ESTUDOSPRELIMINARES
ANTEPROJETO
PROJETO
FABRICAÇÃO
ENSAIOSNO SOLO
ENSAIOSEM VÔO
CRONOGRAMA DAS ETAPAS DE PROJETO
DOCUMENTAÇÃO
ESPECIFICAÇÕESE REQUISITOS
ESTUDOSPRELIMINARES
ANTEPROJETO
PROJETO
FABRICAÇÃO
ENSAIOSNO SOLO
ENSAIOSEM VÔO
CRONOGRAMA DAS ETAPAS DE PROJETO
Figura 3.1 – Cronograma de um projeto de aeronaves leves subsônicas.
Infelizmente, a proposta deste trabalho não envolve, a princípio, a construção de uma
aeronave, nem tampouco as etapas de ensaios de solo e vôo. Conseqüentemente o foco deste
texto será raciocinar sobre as quatro primeiras etapas do projeto completo, isto é, pode-se dizer
que este texto se limita ao projeto teórico do AeroBote.
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Contudo, como em todos os outros casos de projetos de aeronaves, é importante
destacar que as etapas de fabricação e ensaios devem ser consideradas mesmo que apenas
virtualmente. Em muitos projetos grandes dificuldades são identificadas nestas fases finais
implicando em modificações nas etapas anteriores.
ESPECIFICAÇÕESE REQUISITOS
Finalidade da aeronave
Missões típicas
Desempenho almejado
Características pretendidas
Requisitos
Filosofia de projetoESPECIFICAÇÕES
E REQUISITOS
Finalidade da aeronave
Missões típicas
Desempenho almejado
Características pretendidas
Requisitos
Filosofia de projeto
ESTUDOSPRELIMINARES
Métodos comparativosFichas técnicas
Tabelas comparativas
Lista de prioridades Escalonamento de prioridades
Delimitação do projeto
Configuração externa
Configuração interna
Ergonomia aplicada
Dimensionamento básico
Escolha do motor
Materiais e processos
Equipamentos e instrumentação
ESTUDOSPRELIMINARES
Métodos comparativosFichas técnicas
Tabelas comparativasMétodos comparativos
Fichas técnicas
Tabelas comparativas
Lista de prioridades Escalonamento de prioridadesLista de prioridades Escalonamento de prioridades
Delimitação do projeto
Configuração externa
Configuração interna
Ergonomia aplicada
Dimensionamento básico
Escolha do motor
Materiais e processos
Equipamentos e instrumentação
Configuração externa
Configuração interna
Ergonomia aplicada
Dimensionamento básico
Escolha do motor
Materiais e processos
Equipamentos e instrumentação
ANTEPROJETO
Estimativa de peso
Esboço inicial
Perfis da asa
Proporções gerais
Estabilidade e controle
Perfis da empenagem
Passeio do centro de gravidade
Modelo da cabine
Modelagem da fuselagem
Configuração externa
ANTEPROJETO
Estimativa de peso
Esboço inicial
Perfis da asa
Proporções gerais
Estabilidade e controle
Perfis da empenagem
Passeio do centro de gravidade
Modelo da cabine
Modelagem da fuselagem
Configuração externa
Estimativa de peso
Esboço inicial
Perfis da asa
Proporções gerais
Estabilidade e controle
Perfis da empenagem
Passeio do centro de gravidade
Modelo da cabine
Modelagem da fuselagem
Configuração externa
Figura 3.2 – Etapas da metodologia de projeto aplicada a uma aeronave leve subsônica. Barros
(2000)
Cada uma das etapas propostas ainda apresenta subdivisões em fases de aplicação. Cada
uma destas fases deve contribuir para o cumprimento dos objetivos de sua etapa. É muito
interessante destacar que, dentro das etapas, as fases do projeto devem se relacionar no sistema
de espiral de projeto, isto é, dentro de cada etapa haverá uma série de ciclos de projeto entre as
ESTUDOSPRELIMINARES
Cálculo de estabilidade e controle
Cálculo de desempenho aerodinâmico
Cálculo de cargas
Dimensionamento estrutural
Desenhos detalhados
PROJETO
Cálculo de estabilidade e controle
Cálculo de desempenho aerodinâmico
Cálculo de cargas
Dimensionamento estrutural
Desenhos detalhados
Cálculo de estabilidade e controle
Cálculo de desempenho aerodinâmico
Cálculo de cargas
Dimensionamento estrutural
Desenhos detalhados
ESTUDOSPRELIMINARES
Cálculo de estabilidade e controle
Cálculo de desempenho aerodinâmico
Cálculo de cargas
Dimensionamento estrutural
Desenhos detalhados
PROJETO
Cálculo de estabilidade e controle
Cálculo de desempenho aerodinâmico
Cálculo de cargas
Dimensionamento estrutural
Desenhos detalhados
Cálculo de estabilidade e controle
Cálculo de desempenho aerodinâmico
Cálculo de cargas
Dimensionamento estrutural
Desenhos detalhados
AeroBote: Projeto de um ultraleve pendular
Gustavo Ássi – Fernando Bresslau 19
fases até que as informações por elas geradas cumpram todos os requisitos da etapa. A Figura
3.2 apresenta esquematicamente as primeiras etapas do processo e as fases que as compõem.
Observando a divisão proposta para as etapas verifica-se que a metodologia de projeto
apresentada está mais proximamente relacionada com a metodologia de Vandaele. Por outro
lado, o conceito de Tabela Comparativa introduzido por Vandaele aparece substituído pelo
conceito mais geral de Métodos Comparativos, do qual a Tabela Comparativa representa apenas
o primeiro item. Também, a Delimitação do Protótipo é ampliada, incluindo-se os itens
Ergonomia e Estimativa dos Parâmetros Básicos.
Nas próximas seções as etapas deste processo serão detalhadamente explicadas e suas
fases serão posteriormente aplicadas ao projeto do AeroBote.
3.1.1 Especificações e requisitos
3.1.1.1 Finalidade da aeronave
No inicio do desenvolvimento do projeto deve-se ter bem definidos: qual será a
finalidade da aeronave, ou seja, qual será sua utilização típica; e qual será a infra-estrutura de
operação da aeronave.
A finalidade da aeronave, especificamente para o caso de veículos leves subsônicos,
normalmente se restringe a: instrução básica de vôo; instrução avançada (acrobática); transporte
pessoa, lazer e esportiva.
Quanto à infra-estrutura necessária para operação, têm-se: pistas asfaltadas de tamanho
médio; pistas de grama; pistas de terra curtas; operação de pouso e decolagem na água.
3.1.1.2 Missões típicas
A partir da finalidade da aeronave, devem-se definir quais missões típicas ela estará apta
para realizar: partida, taxiamento e decolagem; subida até a altitude de operação; navegação;
descida normal; tráfego e pouso. Em cada uma das missões deverão ser estipulados o tempo e o
consumo de combustível gastos.
No caso de missão acrobática de treinamento o item Navegação deve ser corrigido para
os gastos de operação em condições extremas.
3.1.1.3 Desempenho almejado
Nesta fase, devem-se especificar quais metas de desempenho deverão ser atingidas. As
metas de desempenho mais comuns são: velocidade máxima em vôo nivelado; velocidade de
cruzeiro a 85% (ou outra porcentagem conveniente) da potência máxima; velocidade de estol
AeroBote: Projeto de um ultraleve pendular
Gustavo Ássi – Fernando Bresslau 20
com flapes; razão máxima de subida; distâncias de decolagem e pouso; alcance máximo
(distância); autonomia máxima (tempo); teto máximo; capacidade acrobática.
A prática mais comum é eleger um destes itens como prioritário a ser otimizado, sem
negligência dos demais.
3.1.1.4 Características pretendidas
Nesta fase devem ser definidas quais características a aeronave deverá atender, como:
nível de elaboração construtiva; custo final da aeronave; exigências de manutenção;
características de vôo lento; qualidade de vôo; relação entre velocidade máxima e velocidade de
estol (elasticidade do vôo); faixa de alcance e de autonomia; materiais a serem utilizados; nível
de segurança passiva (crashworthiness); estilo.
Na etapa dos Estudos Preliminares estas características deverão ser dispostas seguindo
uma ordem de prioridades.
3.1.1.5 Requisitos
No processo de projeto de uma aeronave é muito importante a análise das normas
técnicas disponíveis a fim de se optar pela norma mais adequada ao caso. Para aeronaves
desenvolvidas no Brasil os requisitos da RBHA – Requisitos Brasileiros de Homologação de
Aeronaves – devem sempre ser atendidos. Normalmente, os RBHA remetem às principais
normas internacionais: FAR (Federal Aircraft Regulations – EUA) e JAR (Joint Airworthiness
Regulations – Europa).
Para aeronaves de pequeno porte, não pressurizadas, as seguintes normas são aplicáveis:
FAR-Part 23; e JAR-VLA.
A norma JAR-Part23 engloba quatro categorias: normal; utilitária; acrobática;
commuter. A categoria normal se aplica a aeronaves com 11 assentos ou menos e peso máximo
de decolagem de 5670kg, não sendo permitidas manobras acrobáticas. À categoria utilitária se
aplicam as mesmas restrições da normal, permitindo um número limitado de acrobacias. A
categoria acrobática também se destina a aeronaves com 11 assentos ou menos e peso máximo
de 5670kg, permitindo acrobacias sem restrições. A categoria commuter destina-se a aeronaves
propelidas a hélice, multimotoras, para 21 assentos ou menos e peso máximo de decolagem de
8620kg, não permitindo manobras acrobáticas.
A norma JAR-VLA é dedicada a aeronaves bem menores e apresenta as seguintes
restrições: no máximo dois assentos; peso máximo de decolagem até 750kg; velocidade de estol
não superior a 83km/h; aeronaves com um único motor; razão de subida não inferior a 2m/s;
distancia de decolagem com obstáculo a 15m não superior a 500m. A operação ainda é restrita a
AeroBote: Projeto de um ultraleve pendular
Gustavo Ássi – Fernando Bresslau 21
vôos diurnos e visuais (VFR – Visual Flight Reference), ficando proibido o vôo por
instrumentos.
3.1.1.6 Filosofia de projeto
Como filosofia de projetos de aeronaves destacam-se dois conceitos importantes,
chamados de solução mínima e solução livre.
O conceito de solução mínima, defendido por muitos projetistas (especialmente da
corrente européia), se baseia no pressuposto de que a aeronave deve ser aquela menor e mais
leve possível capaz de atender à missão a qual é destinada.
Kovacs (1986), em seu trabalho Filosofia de Projeto, explana este conceito dizendo que
a aeronave deve ser “a mais enxuta e mais espartana possível”. Ainda no contexto da solução
mínima, a famosa expressão de Bill Stout, “simplifique e adicione leveza”, permanece como
advertência importante até hoje. Também a expressão “keep it simple, stupid” nascida nos
escritórios de projeto de aeronaves dos EUA, no inicio da década de 40, é perfeitamente valida
até hoje.
Esta filosofia de projeto pode ser resumida em quatro tópicos:
• Assegurar peso baixo via solução compacta, tamanho pequeno e simplicidade. • Restringir os equipamentos ao nível da necessidade operacional. • Combinar méis de uma função (sempre que possível) para o maior número possível de
componente da aeronave. • Adotar grupo moto-propulsor com dimensões reduzidas e com peso específico e
consumo específico baixos.
Tais princípios podem ser aplicados a aeronaves de qualquer porte. O maior avião do
mundo pode ser projetado sob o conceito de solução mínima. Estes conceitos foram aplicados
no F-16 resultando no “avião de caça mais revolucionário e mais vendido nos últimos tempos”.
Na aplicação da solução mínima deve-se cuidar para não cair em certos exageros, como
no caso dos primeiros Lancair biplace, onde, para se ter o máximo de velocidade de cruzeiro,
reduziu-se tanto as dimensões do avião (principalmente da empenagem) que a aeronave ficou
obteve comportamento crítico em baixas velocidades. Tendo ocorrido uma série de acidentes
graves as autoridades australianas proibiram a operação desta aeronave no país. Posteriormente,
aumentou-se tanto o braço de alavanca das empenagens como suas áreas, eliminando os sérios
problemas de estabilidade e controle.
Em contraposição ao conceito de solução mínima pode-se definir o conceito de soluça
livre. Toda aeronave projetada sem a preocupação de atender a qualquer um dos quatro tópicos
acima está sob a filosofia de solução livre.
AeroBote: Projeto de um ultraleve pendular
Gustavo Ássi – Fernando Bresslau 22
Por considerarem o conceito de solução mínima como solução pobre, os defensores da
soluça livre propõem aeronaves mais equipadas, com mais sistemas redundantes (elétricos,
hidráulicos e pneumáticos), com blindagens mais robustas (mais pesadas), com maior conforto
para o piloto e tripulantes (maior espaço interno) e com maior quantidade de equipamentos
(eletrônicos e instrumentos em geral). Em contrapartida, terão aeronaves mais pesadas, com
maior consumo de combustível e mais caras.
Apesar disso, observa-se que tanto na aviação militar quanto na chamada aviação geral,
uma parcela cada vez maior de consumidores optando por mais conforto, segurança e, talvez,
posição social, tem preferido aeronaves projetadas neste conceito (Kovacs, 1986).
E importante ressaltar que o conceito de solução mínima não significa solução pobre,
mas deve ser entendida como solução coerente. Ambas as filosofias dentro da aviação geral, e
em particular na aviação leve, são empregadas em projetos atuais. Entretanto, o mais comum
tem sido adotar o conceito de solução mínima preservando-se critérios mínimos de conforto e
segurança operacional para os tripulantes.
3.1.2 Estudos preliminares
3.1.2.1 Lista de prioridades
Ao se desenvolver um projeto novo é comum existirem parâmetros antagônicos entre os
quais se deverá priorizar um em detrimento do outro. Por exemplo, alto desempenho
aerodinâmico se opõe à facilidade de construção; elevado índice de comodidade da tripulação
(cabine ampla) se opõe a desempenho elevado; alta segurança passiva (cabine resistente)
implica em aumento de peso, opondo-se ao aumento de desempenho; dentre outros.
A associação da finalidade básica da aeronave com a filosofia adotada para o projeto
definirá quais parâmetros devem ser beneficiados ou penalizados. Entre as filosofias, podem-se
adotar:
• Projeto visando facilidade construtiva • Projeto visando ganhos de desempenho • Projeto visando facilidade de manutenção • Projeto visando segurança operacional • Projeto visando facilidade de transporte (entre oficina e pista de pouso)
Escalonamento de prioridades
Uma vez definida da filosofia do projeto, deve-se elaborar uma lista escalonada das
prioridades a serem atendidas. Este escalonamento irá influenciar fortemente todos os aspectos
do projeto: configurações; dimensões; potência; nível de elaboração; materiais; custo; tempo de
fabricação; etc.
AeroBote: Projeto de um ultraleve pendular
Gustavo Ássi – Fernando Bresslau 23
Desta forma é possível adequar o projeto às prioridades estabelecidas.
3.1.2.2 Métodos comparativos
De acordo com Kovacs (1986), o desenvolvimento de aeronaves é uma atividade
“diretamente influenciada pelas características e desempenho dos modelos existentes e
disponíveis”. Embora, conforme menciona Kovacs (1986), “os projetistas de vocação são e
devem ser espontaneamente, instintivamente e entusiasticamente inovadores”, nenhuma
concepção de aeronave parte do nada. Este exame aprofundado do atual estado de soluções no
universo é fundamental para o desenvolvimento do projeto. Este processo nada mais é do que a
famosa Análise de Semelhantes.
Para este fim, e conveniente a elaboração de tabelas e gráficos que apresentam uma
série de aeronaves a serem analisadas com suas características básicas: dimensões, pesos, áreas,
parâmetros de desempenho, potência, etc.
O objetivo deste levantamento não é “engessar” o projeto, mas permitir que, através de
comparações, tendências possam ser extrapoladas visando à obtenção de um produto melhor nas
características que se busca otimizar. Os Métodos Comparativos não levam, necessariamente, a
um bom projeto, mas orientam o projetista na busca de uma solução melhor.
Há que se contar também com valores técnicos não considerados em projetos anteriores
e valores não quantificáveis, subjetivos, guiados pelo talento do projetista. “Todo projeto bem
sucedido é fruto da associação da técnica com a arte, do casamento do conhecimento com o
talento, da fusão do ponderável com o imponderável, do enlace do estruturar com o esculpir”.
As informações que perfazem os Métodos Comparativos podem ser organizadas pelos
seguintes meios:
• Fichas técnicas das aeronaves com gravuras das três vistas. • Tabela comparativa das características. • Gráficos relacionando características de aeronaves.
Outros fatores importantes que não são citados nos Métodos Comparativos também
devem ser considerados: manobrabilidade em acrobacia; capacidade de efetuar manobras
especiais; suavidade de comandos; proporcionalidade de comandos; docilidade de vôo;
facilidade de manutenção; custo de operação; potencial de venda.
Os itens “funcionalidade” e “estética”, impossíveis de quantificar, mas escalonáveis,
também são importantes. A avaliação destes itens pode envolver pesquisas com possíveis
consumidores do produto.
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Gustavo Ássi – Fernando Bresslau 24
Fichas técnicas
É muito importante, para efeito de avaliação geral, a montagem de fichas técnicas das
aeronaves analisadas. Tais fichas devem conter, na medida do possível: foto da aeronave;
ilustração em três vistas; dados técnicos de maior relevância.
As três vistas fornecem informações imprescindíveis sobre as proporções gerais da
aeronave. Os dados técnicos informam acerca das dimensões, pesos, desempenho e grupo
propulsor. Estes dados são recolhidos de catálogos de fabricantes, revistas técnicas e manuais
especializados.
Tabelas comparativa
Deve-se elaborar uma tabela comparativa onde os principais dados de diversas
aeronaves são anotados para efeito de comparação. Normalmente, estabelecem-se pelo menos
sete grupos de informações: dimensões externas; características da asa; características da
empenagem; áreas; pesos e cargas; desempenho; e grupo propulsor. Outras informações úteis
também podem ser somadas, como os materiais de construção, por exemplo.
Gráficos
A comparação por gráficos é a ferramenta mais usual para comparação. Este fato se dá
pela facilidade do engenheiro em interpretar os resultados representados entre dois eixos. Desta
forma, quaisquer parâmetros de comparação podem ser expressos graficamente formando um
excelente material de análise comparativa.
Os gráficos de barras são muito usados para comparar características de várias
aeronaves juntas. Mas, os gráficos que fornecem as informações mais valiosas são, geralmente,
os que relacionam duas grandezas parametrizadas para as aeronaves. Assim, em um mesmo
gráfico, é possível analisar as curvas de desempenho de varias aeronaves da mesma categoria.
Apenas para citar, alguns parâmetros são comumente plotados em gráficos nos projetos
de aeronaves: potência e velocidade; carga alar e velocidade; carga alar e razão de subida; carga
alar e velocidade de estol, etc.
Atualmente, além dos parâmetros clássicos, é conveniente acrescentar dois parâmetros
globais de desempenho de aeronaves. Ambos foram introduzidos pela CAFÉ Foundation em
Seeley (1993), são eles:
CAFÉ Challenge, que visa avaliar a eficiência das aeronaves leves segundo três fatores:
uma velocidade de referência (Vref, em milhas por hora), o índice de consumo de combustível na
velocidade de referência (C, em milhas por galão) e a carga útil (W, em libras), conforme segue.
( ) ( ) 6,03,1 WCVCAFE refChallenge ⋅⋅=
AeroBote: Projeto de um ultraleve pendular
Gustavo Ássi – Fernando Bresslau 25
CAFÉ Triaviathon, que considera a velocidade máxima (Vmax, em milhas por hora), a
razão de subida (R, em pés por minuto) e a velocidade de estol com flapes (VSO, em milhas por
hora), como segue.
( )( )( ) 94
2max
10410062528110625
×+
⋅⋅=
SOnTriaviatho V
RVCAFE
3.1.2.3 Delimitação do projeto
Configuração externa
Um estudo preliminar da configuração externa de uma aeronave envolve os arranjos
básicos que fundamentarão o restante do projeto. Neste item devem ser avaliadas as
configurações de cabines (número de passageiros e sua disposição: tandem ou lado a lado), asa
(asa baixa, média, alta ou parassol), trem de pouso (triciclo, convencional, monociclo, etc.),
grupo propulsor (trator ou impulsor), empenagem ou cone cauda (posição e categoria),
superfícies de controle (profundor, leme, ailerons, flapes, canard, etc.), dentre outras.
Configuração interna
Os arranjos internos de uma aeronave de pequeno porte influenciam muito o
desenvolvimento do projeto. Por natureza da solução, existe pouca disponibilidade de espaço.
Alguns elementos principais devem receber atenção especial, pois influenciam
preponderantemente nas características da aeronave, principalmente sobre a posição do seu
centro de gravidade. Como exemplo, destacam-se: a posição do tanque de combustível, dos
assentos dos tripulantes, das portas de acesso, do painel de instrumentos, das manetes de
controle e compartimento para bagagens.
Ergonomia aplicada
A ergonomia da cabine visa adequar o posto de trabalho aos tripulantes. Esta adequação
deve atentar para a comodidade oferecida, considerando-se as diversas estaturas e biótipos.
Deve-se considerar o acesso aos comandos, bem como as forças que deverão ser executadas
neles, a visibilidade externa (principalmente em se tratando de uma aeronave de recreio), as
cores utilizadas, o nível de ruído e vibração, o conforto térmico (especialmente em aeronaves de
cabines abertas), etc. Tudo isto visa proporcionar o menor desgaste físico e o menor índice de
risco aos tripulantes.
Os principais aspectos ergonômicos são enumerados: acesso a cabine; disposição dos
comandos; acesso aos comandos e ao painel; regulagem longitudinal e vertical dos assentos;
regulagem dos pedais; visibilidade externa; fixação dos cintos de segurança; disposição dos
instrumentos no painel.
AeroBote: Projeto de um ultraleve pendular
Gustavo Ássi – Fernando Bresslau 26
Dimensionamento básico
Esta etapa é conhecida na literatura internacional como o “sizing” da aeronave. Com
base na filosofia de projeto adotada, iniciam-se as estimativas das dimensões preliminares e
pesos da aeronave. Estas características estão intimamente ligadas à missão da aeronave,
estabelecida na fase inicial do projeto.
Com base na missão típica da aeronave, deve-se executar o seguinte procedimento:
• A partir da tabela comparativa, escolhe-se as aeronaves que mais se assemelham (em termos de parâmetros e missão) a aeronave pretendida.
• Elabora-se uma tabela reduzida contendo os seguintes parâmetros básicos: razão entre carga útil e peso máximo de decolagem; carga alar; alongamento; razão entre envergadura e comprimento da fuselagem; razão entre potência e peso.
• Calcula-se a média dos parâmetros da tabela reduzida (que não coincide com a média dos parâmetros de toda a tabela comparativa).
• Guiado pela tabela reduzida e pelo valor médio calculado, adotam-se valores para os itens básicos para o projeto em desenvolvimento. Cada valor deve levar em consideração não apenas a média, mas também a tendência do momento.
Existem também projetos com previsões de alterações futuras, como mudança de
missão da aeronave. Nestes casos, as futuras prováveis variações de pesos e dimensões devem
ser consideradas. Por exemplo, quando o projeto de uma aeronave pretende servir de base para a
geração de uma família de aeronaves. Neste caso, as características dimensionais da aeronave
mãe podem não ser as melhores para a missão individual do modelo, mas proporcionarão uma
melhor adaptação quando as novas aeronaves da mesma família (com pequenas variações
dimensionais e de missão) forem projetadas.
Com base nos dados comparativos levantados, iniciam-se as estimativas preliminares:
Peso vazio
Para iniciar a estimativa de peso vazio, arbitra-se a carga útil (peso dos tripulantes no
caso de uma aeronave desportiva sem transporte de carga); pequena quantidade de bagagem;
combustível; etc. Divide-se a carga útil arbitrada pela razão entre carga útil e peso total
escolhida anteriormente, obtendo-se a estimativa do peso máximo de decolagem. Subtrai-se a
carga útil do peso total para obter-se a estimativa do peso vazio (ou peso leve) da aeronave.
Convém destacar que, freqüentemente, o peso real da aeronave vazia, após sua
construção, é superior ao valor obtido pelo processo descrito anteriormente. Por experiência,
raramente ocorre o contrário, devido aos erros de construção não previstos. Peso rela maior que
o previsto acarretará em restrições operacionais na aeronave. É comum, mesmo nas grandes
indústrias, ter-se que fazer um programa de redução de peso na execução do segundo protótipo.
AeroBote: Projeto de um ultraleve pendular
Gustavo Ássi – Fernando Bresslau 27
Dimensões básicas
Para estimar a área alar, o alongamento, a envergadura e o comprimento da fuselagem,
recomenda-se o seguinte procedimento:
• Divide-se o peso máximo de decolagem pela carga alar escolhida anteriormente e obtêm-se a área da asa.
• A partir da área alar e do alongamento escolhido anteriormente, obtêm-se a envergadura da aeronave.
• Finalmente, o comprimento da fuselagem tem o seu valor estimado, multiplicando-se o valor da envergadura pelo razão entre envergadura e comprimento da fuselagem, também escolhido anteriormente.
Potência preliminar
A estimativa de potência da aeronave, é obtida multiplicando-se a razão entre potência e
peso escolhida pelo peso estimado para a aeronave.
Escolha do motor
O processo usual de escolha do motor pode ser resumido através do seguinte processo:
• Identificam-se, entre os motores oferecidos pelo mercado, aqueles cuja potência está próxima da potência necessária estimada.
• Para cada motor, efetuam-se os cálculos de desempenho.
• Caso não se obtenha, com nenhum dos motores testados, o desempenho almejado, selecionam-se motores mais potentes, refazendo-se o item anterior.
• Entre os motores que atenderam ao desempenho almejado escolhe-se aquele mais satisfatório, levando-se em consideração: a confiabilidade do motor; seu preço; seu consumo; sua relação entre potência e peso; o atendimento ao cliente pós-compra; etc.
Vale a pena comentar que o aumento de da razão potência e peso da aeronave melhora o
desempenho da aeronave e, em contrapartida, aumenta o seu custo operacional.
Materiais e processos
Para a definição de materiais e processos construtivos, os seguintes tipos básicos de
construção devem ser considerados: em madeira; em treliça de tubos; em alumínio; em
materiais compostos; e mista.
Equipamentos e instrumentação
A escolha da instrumentação e dos demais equipamentos que comporão o quadro da
aeronave deve ser norteada pela missão do modelo. Os instrumentos básicos para um vôo de
segurança nunca devem ser negligenciados no projeto (medidores, controles, comunicação,
etc.). Os equipamentos de segurança também recebem a devida importância (extintores, cintos
AeroBote: Projeto de um ultraleve pendular
Gustavo Ássi – Fernando Bresslau 28
de segurança, para quedas, materiais de sobrevivência, etc.). Existe uma série de equipamentos
que serão utilizados no modelo real de acordo com as exigências dos tripulantes e de novas
missões, convém lembrar que a instrumentação perfaz uma parcela considerável do custo de
uma aeronave de pequeno porte.
3.1.3 Anteprojeto
3.1.3.1 Esboço inicial
Uma vez cumpridas as etapas anteriores, inicia-se o desenho básico da aeronave em três
vistas: lateral, em planta e frontal. Este conjunto é tecnicamente conhecido como “as três vistas
da aeronave”.
O primeiro passo é executar, à mão livre, um esboço das três vistas, que será modificado
reiteradas vezes. No caso de aeronaves leves, recomenda-se que o esboço seja iniciado pelo
desenho do piloto (aquele de estatura mais elevada). Inicia-se pela vista lateral.
Em seguida estabelece-se um espaço para curso dos pedais. Tal espaço, no caso de
motor dianteiro, terá como limite à frente a parede de fogo. Acrescenta-se, em seguida, o espaço
para o cofre do motor, respeitando-se inclusive os espaços necessários para desmontagem de
suas partes, como os magnetos e carburadores, que às vezes necessitam de remoção para
manutenção.
Desenham-se as primeiras linhas de contorno da fuselagem. Neste ponto, deve-se prever
o posicionamento da asa e, especialmente, da longarina, evitando-se conflito da mesma com os
tripulantes.
Coloca-se o painel a uma distância de alcance cômoda para a tripulação. Traça-se o
restante do contorno da aeronave buscando-se, intuitivamente, um equilíbrio tanto em
centragem quanto em estética. Neste ponto já devem aparecer esboçados as empenagens,
canopy e o restante da asa, completando-se a vista lateral.
Conforme já mencionado, este esboço deve ser retrabalhado tantas vezes quantas
necessárias, até se chegar a proporções convenientes e, ao mesmo tempo, com aspecto estético
satisfatório.
Terminada a vista lateral, passa-se a elaborar a vista em planta da aeronave. A vista em
planta é conjugada à vista lateral e nesta são definidas, especialmente, as formas em planta da
asa, da empenagem horizontal e da fuselagem. Cuidado especial deve ser dedicado à largura da
cabine, resguardando a ergonomia da mesma.
Na elaboração das três vistas, alguns detalhes, muito importantes para o desempenho da
aeronave devem seguir uma orientação científica, quais sejam: forma do spinner; adelgaçamento
AeroBote: Projeto de um ultraleve pendular
Gustavo Ássi – Fernando Bresslau 29
da fuselagem; interseção entre asa e fuselagem; entrada de ar de arrefecimento; junção entre
empenagem e fuselagem; e posição e geometria do canopy.
3.1.3.2 Estimativa de peso (“resizing”)
O refinamento da estimativa do peso vazio da aeronave é feito através de estimativas
dos diversos pesos de todos os seus componentes, conforme o seguinte processo:
• A partir do valor de peso, obtido no ciclo anterior, faz-se uma estimativa dos pesos dos componentes da aeronave.
• Somam-se os pesos dos componentes para se ter a estimativa do peso vazio da aeronave neste novo ciclo.
• Compara-se o novo valor do peso ao antigo. O valor do peso vazio deve ser corrigido, alterando-se a carga útil na medida do necessário e de acordo com a conveniência, até que ele coincida com o novo peso calculado.
Nos itens do algoritmo acima, para se estimar o peso das asas, da fuselagem e da
empenagem horizontal, Pazmany (1963) sugere o uso das fórmulas e dos ábacos desenvolvidos
por K. L. Sanders.
3.1.3.3 Proporções gerais
Entende-se por uma aeronave com boas qualidades de vôo aquela que oferece segurança
operacional e seja fácil e agradável de pilotar. Assim, uma aeronave com boas qualidades de
vôo exige forças suaves do operador para realizar manobras e responde de um modo previsível
aos comandos. É sabido que, enquanto algumas aeronaves apresentam qualidades de vôo no
mais elevado grau, outras são consideradas marginais, de difícil pilotagem.
As qualidades de vôo estão ligadas às estabilidades estática e dinâmica (longitudinal
direcional e lateral), às forças nos comandos para vôo equilibrado e para manobras, às
velocidades de rotação no rolamento, tangagem e glissagem. Deve haver uma proporção
harmoniosa entre as forças nos comandos primários: no rolamento, força no manche
proporcional a 1; na tangagem, força no manche proporcional a 2; na glissagem, força nos
pedais proporcional a 3.
Quanto às forças nos comandos, se a variação de força no manche por "g" for muito
alta, ocorrerá cansaço excessivo do piloto. Caso contrário, se for muito baixa, poderá ocorrer do
piloto, inadvertidamente, aplicar, com pouca força, uma carga excessiva na estrutura da
aeronave.
Visando-se obter uma aeronave com boas qualidades de vôo, terminado o esboço
inicial, é conveniente fazer um estudo comparativo da proporcionalidade das dimensões básicas
da aeronave em desenvolvimento. Para isso, selecionam-se as aeronaves cujas formas mais se
AeroBote: Projeto de um ultraleve pendular
Gustavo Ássi – Fernando Bresslau 30
aproximam da aeronave em desenvolvimento e que sejam, reconhecidamente, detentoras de
boas qualidades de vôo.
Em seguida, elaboram-se tabelas contendo as principais proporções geométricas destas
aeronaves e as respectivas proporções da aeronave em desenvolvimento. Na medida em que
houver desproporção, volta-se ao esboço inicial, fazendo-se as modificações convenientes.
Barros recomenda que as seguintes proporções sejam analisadas: razão entre o braço da
empenagem horizontal e a corda média geométrica da asa; razão entre o braço da empenagem
vertical e a envergadura da asa; razão entre o comprimento da fuselagem e a envergadura da
asa; razão entre as envergaduras da empenagem horizontal e da asa; razão entre a corda da raiz
da asa e o comprimento da fuselagem; razão entre a área do profundor e a área da empenagem
horizontal; e razão entre a área do leme e a área da empenagem vertical.
3.1.3.4 Estabilidade e controle
As geometrias das empenagens são preliminarmente estabelecidas utilizando-se os
seguintes os de estabilidade: volume de cauda horizontal; e volume de cauda vertical.
A partir de uma tabela comparativa contendo os respectivos valores de volumes de
cauda das aeronaves mais competitivas, faz-se uma escolha judiciosa de qual valor adotar como
a estimativa preliminar.
Quanto menores forem os volumes de cauda escolhidos, menores serão os arrastos das
empenagens e, portanto, menor o arrasto total da aeronave e melhor o seu desempenho
aerodinâmico. Em contrapartida, piores serão as condições de estabilidade e controle,
especialmente no pouso e na decolagem. O raciocínio se inverte com de volumes de cauda
maiores.
3.1.3.5 Perfis da asa
Duas filosofias de projeto podem ser apontadas. A primeira, considerada a melhor
opção até o final da década de 80, adota asas mais afiladas com perfis diferentes na raiz e na
ponta. A segunda, adotada por alguns projetistas na década de 90, adota asas menos afiladas
com um único perfil da raiz até a ponta.
A primeira opção permite obter asas com bom desempenho aerodinâmico e
estruturalmente mais adequadas. São consideradas esteticamente mais aceitáveis. Adotam dois
perfis para contornar as dificuldades de estol comuns nas asas mais afiladas. São
construtivamente mais complexas.
AeroBote: Projeto de um ultraleve pendular
Gustavo Ássi – Fernando Bresslau 31
A segunda opção é construtivamente mais simples. Como as asas são, neste caso, menos
afiladas, as dificuldades com estol tornam-se pequenas, permitindo utilização de um único perfil
sobre toda a envergadura com desempenho aerodinâmico, em média, superior à primeira.
Uma vez escolhida a opção a ser adotada no projeto da aeronave, a escolha dos perfis
das asas dependerá da missão prioritária da aeronave. Uma vez definido o parâmetro a ser
priorizado, deve-se calcular o número de Reynolds para a raiz e para a ponta da asa. No caso de
se adotar a opção de um único perfil para a asa, deve-se calcular o número de Reynolds para a
sua corda média geométrica.
3.1.3.6 Perfis da empenagem
Nos aspectos gerais, a escolha dos perfis das empenagens segue a mesma orientação das
asas. Comumente são usados perfis simétricos, turbulentos ou laminares, com espessura relativa
variando entre 6% e 12%. No caso de empenagens em “T”, por questões estruturais, a espessura
relativa da empenagem vertical muitas vezes se estende até 15%.
Às vezes, quando os perfis da asa apresentam valores altos do coeficiente de momento
aerodinâmico utiliza-se, na empenagem horizontal, perfis assimétricos colocados na situação
invertida (extradorso como superfície inferior). Em casos extremos, adiciona-se a isso, slots no
bordo de ataque da empenagem horizontal.
Um parâmetro aerodinâmico que pode ser utilizado na escolha do perfil das empenagens
é a inclinação da curva de sustentação, que deve ser maximizada, para permitir empenagens
menores. É importante, contudo, examinar este parâmetro para os números de Reynolds
calculados para as cordas médias das empenagens.
3.1.3.7 Passeio do centro de gravidade
A posição do centro de gravidade da aeronave é importante para a sua pilotagem.
Quanto mais a frente estiver o centro de gravidade, maiores serão as deflexões do profundor e a
força no manche necessárias para vôo equilibrado, bem como as deflexões e forças para efetuar
manobras longitudinais.
Para posições do centro de gravidade excessivamente à frente, o profundor poderá não
apresentar autoridade suficiente para levantar o nariz da aeronave durante o pouso, podendo
provocar acidentes. Por outro lado, quanto mais para trás o centro de gravidade, menores serão
as deflexões do profundor e as forças no manche necessárias para equilíbrio e manobras
longitudinais.
Para posições do centro de gravidade excessivamente recuadas, o piloto com pequenas
forças ou deflexões no comando poderá, inadvertidamente, induzir solicitações excessivas na
AeroBote: Projeto de um ultraleve pendular
Gustavo Ássi – Fernando Bresslau 32
estrutura da aeronave ou, no caso de curvas a baixa velocidade, induzir a aeronave ao parafuso
chato com conseqüências desastrosas. Em casos extremos poderá ocorrer perda de estabilidade
com o fenômeno de reversão de comandos, no qual as ações do manche para cabrar ou picar a
aeronave ficam invertidas.
Considerando que as aeronaves operam com cargas variáveis (tripulantes, bagagem,
combustível, etc.), a posição do centro de gravidade (CG) é diferente para cada vôo. Mesmo
durante o vôo, alterações na posição de passageiros e no volume de combustível provocam
alterações na posição do centro de gravidade. Assim, através da simulação de todas as situações
possíveis, estima-se o passeio do centro de gravidade, ou seja, a sua posição crítica mais
dianteira e a mais traseira.
Quanto menor o passeio do centro de gravidade (mais próximos os limites dianteiro e
traseiro), menor poderá ser o volume de cauda horizontal e, em particular, a área da empenagem
horizontal. Como conseqüência, menor será o arrasto aerodinâmico e o peso da empenagem
horizontal. Em contrapartida, menor será a flexibilidade de variação no posicionamento das
cargas móveis.
Estimativa do passeio do centro de gravidade
Para estimar o passeio do centro de gravidade, devem-se decompor as cargas da
aeronave em fixas e variáveis. As fixas compõem a aeronave vazia (básica) e as variáveis são
aquelas correspondentes aos tripulantes, combustível, bagagens, etc. Elabora-se uma vista
lateral da aeronave identificando-se os diversos componentes com seus pesos e distâncias dos
seus centros de gravidade a um plano de referência.
Considerando a parcela fixa do peso da aeronave aplicado em um centro de massa e a as
posições críticas (mais a frente e mais a ré) de todas as cargas variáveis é possível chegar nos
limites a frente e a ré do passeio do centro de gravidade. Normalmente, os limites do passeio do
centro de gravidade obtidos em relação ao plano de referência são expressos em percentuais da
corda média aerodinâmica da asa.
Um valor seguro para o passeio do centro de gravidade, entretanto, só será
definitivamente determinado, após os cálculos de estabilidade e controle longitudinais,
efetuados na fase de Projeto.
3.1.3.8 Modelo da cabine
A complexidade da cabine, com todos os seus aspectos ergonômicos, torna praticamente
necessária a construção de um modelo em escala natural da cabine, chamado “mock-up”.
AeroBote: Projeto de um ultraleve pendular
Gustavo Ássi – Fernando Bresslau 33
O mock-up não necessita ser uma reprodução exata da cabine com revestimento e
pintura, mas precisa conter em escala natural todos os comandos ou dispositivos que possam
interferir na ergonomia da mesma. Recomenda-se que o mock-up contenha seções reproduzindo
um corte lateral, um corte em planta e cortes frontais. Os cortes frontais normalmente são feitos
em estações na região de acomodação dos tripulantes.
Em fase posterior do projeto, o mock-up poderá ser utilizado também para verificação
dos mecanismos dos comandos.
3.1.3.9 Modelagem da fuselagem
A modelagem da fuselagem deve seguir os seguintes critérios: produzir o menor arrasto
aerodinâmico possível; proporcionar rigidez estrutural na ligação entre os elementos da
aeronave; acomodar os equipamentos e controles da aeronave; seguir uma estética agradável
dentro da missão da aeronave; e permitir fácil manutenção como limpeza e pintura.
3.1.3.10 Configuração externa
Realizadas todas as atividades anteriores, é necessário verificar a coerência das
estimativas feitas. No caso de se detectar alguma inconsistência deve-se retornar aos itens
correspondentes, refazendo-se as estimativas quantas vezes forem necessárias, até que a
consistência seja plena.
Posteriormente, durante a fase de Projeto Detalhado, ao se efetuarem cálculos de
desempenho, estruturais, de estabilidade e controle etc., novas alterações poderão ser
necessárias.
3.1.4 Projeto
Concluído o Anteprojeto inicia-se o Projeto Detalhado que consiste em realizar todos os
cálculos necessários, detalhamentos de componentes, desenhos em escala apropriada para
fabricação, elaboração do relatório final do projeto e da programação de ensaios no solo.
3.1.4.1 Cálculo de desempenho aerodinâmico
Os cálculos aerodinâmicos e de desempenho podem ser resumidos nos seguintes itens:
determinação da polar de arrasto; determinação das curvas de potência disponível e potência
requerida; determinação da curva de razão de subida; determinação das curvas de alcance e de
autonomia em função da velocidade; determinação dos principais parâmetros de desempenho
aerodinâmico.
AeroBote: Projeto de um ultraleve pendular
Gustavo Ássi – Fernando Bresslau 34
3.1.4.2 Cálculo de estabilidade e controle
As superfícies aerodinâmicas de controle da aeronave devem ser adequadamente
defletidas para equilibrar a aeronave durante o vôo (anular o momento resultante em tomo dos
seus eixos). Assim, é importante obter os valores de deflexão e força nos comandos (manche e
pedais) necessários para pilotar a aeronave.
As deflexões de comando, por sua vez, são limitadas pelas correspondentes deflexões
das superfícies aerodinâmicas. Para deflexões muito acentuadas, as superfícies aerodinâmicas de
controle deixariam de proporcionar o efeito esperado. Normalmente, as deflexões máximas não
devem ultrapassar 30° (o valor exato vai depender do perfil adotado).
Também, é necessário evitar que o piloto faça forças exageradas durante o vôo. Para
isso as normas estabelecem dois limites: o limite de força contínua, que deve ser respeitado nas
situações de vôo prolongado (vôo de cruzeiro, por exemplo); e o limite de força temporária, que
deve ser obedecido durante algumas manobras ou situações de curta duração.
Para avaliar a estabilidade direcional e as deflexões do leme e forças nos pedais
necessárias para manter a glissada ou enfrentar ventos de través, pode-se utilizar o procedimento
descrito em Morelli (1976).
Parafuso e rolamento
Uma aeronave em operação normal, principalmente em curvas de média e grande
inclinação a baixas velocidades, corre o risco de entrar, involuntariamente, em parafuso. Caso
não se tenha condição de restabelecer a atitude da aeronave, o acidente será inevitável. Portanto,
no projeto de uma aeronave, é fundamental verificar se é possível restabelecer a atitude de uma
aeronave em parafuso. Para verificar esta capacidade, Raymer (1989) recomenda calcular o
parâmetro TDPF (Tail Damping Power Factor) definido em Bowman (1971).
Além disso, recomenda-se avaliar a máxima velocidade de rolamento da aeronave, a
qual pode ser obtida conforme Morelli (1976). O valor calculado deve ser compatível com os de
aeronaves similares.
3.1.4.3 Cálculo de cargas
Baseado nos fatores de carga limites para a aeronave, estabelecidos pelos requisitos
(JAR-VLA, FAR, Part 23, etc.), de acordo com a missão típica, devem-se elaborar os diagramas
de velocidade e fator de carga de manobra, de rajada e combinado. Este processo é chamado de
determinação do envelope de vôo.
Além disso, para o dimensionamento estrutural da aeronave é necessário considerar as
várias alternativas de carregamento às quais ela estará sujeita.
AeroBote: Projeto de um ultraleve pendular
Gustavo Ássi – Fernando Bresslau 35
Durante a operação ocorrem quatro tipos de cargas: cargas aerodinâmicas; pesos; cargas
inerciais; e cargas de reação com o solo.
• As cargas aerodinâmicas são provocadas pelo escoamento do ar na superfície externa da aeronave (são predominantes nas asas e nas empenagens).
• Os pesos, conseqüência da atração gravitacional, estão distribuídos ao longo da estrutura da aeronave.
• As cargas inerciais se devem à reação das massas dos componentes da aeronave às acelerações impostas.
• As cargas de reação com o solo surgem como decorrência do impacto do trem de pouso com o solo durante o pouso, a decolagem e o taxiamento.
3.1.4.4 Dimensionamento estrutural
O dimensionamento estrutural representa um dos itens mais trabalhosos do projeto e é
fundamental para a segurança do vôo. Deve, portanto, ser cuidadosamente executado.
Um ponto comum a todo dimensionamento estrutural de uma aeronave é a utilização de
dois fatores de segurança: o básico e o de qualidade. Assim, as cargas para dimensionamento
(Qd) devem ser obtidas através da expressão.
FQFSQQd ××= 1
onde Q1 representa a carga limite, FS denota o fator de segurança e FQ, o de qualidade.
A carga limite (Ql) é a máxima prevista para ocorrer em vôo (obtida para cada
componente).
O fator de segurança básico (FS) é imposto por norma. Tanto o JAR-VLA quanto o Part
23 estabelecem FS = 1,5.
O fator de qualidade (FQ) varia de acordo com o material estrutural utilizado e com o
componente em consideração.
Para o dimensionamento dos elementos estruturais, recomenda-se a seguinte
bibliografia básica:
• Bruhn (1965), Peery (1950) e Megson (1972) para os cálculos estruturais propriamente ditos.
• Silva Jr. (1962) e Albuquerque (1980) para dimensionamento de mecanismos em geral. • No caso específico de longarinas em madeira, recomenda-se utilizar também Brotero et
al. (1941). • Para estruturas em materiais compostos recomenda-se utilizar também Verein Deutcher
Ingenieure (1970) ou Ho1lmann (1996).
3.1.4.5 Desenhos detalhados
Por fim, os desenhos e relatórios do projeto da aeronave devem satisfazer as exigências
normativas, uma vez que deverão ser apresentados para homologação.
AeroBote: Projeto de um ultraleve pendular
Gustavo Ássi – Fernando Bresslau 36
Além disso, um bom relato de projeto, devidamente registrado e desenhado, torna-se a
melhor base de dados para desenvolvimentos futuros.
3.2 Metodologia de projeto de Barros aplicada ao projeto do AeroBote
Nesta seção a metodologia de projeto de Barros, apresentada e comentada
anteriormente, é aplicada às necessidades de projeto do AeroBote. Como mencionado, alguns
pontos serão negligenciados, outros alterados e outros ainda introduzidos.
3.2.1 Especificações e requisitos
3.2.1.1 Finalidade da aeronave
Aeronave com finalidade aerodesportiva, de lazer, instrução básica de vôo.
Características: vôo solo ou até dois tripulantes em tandem, operação de pouso e decolagem na
água, asa desmontável, bote inflável, possibilidade para ser rebocada por um automóvel.
3.2.1.2 Missões típicas
O AeroBote é projetado para satisfazer as seguintes missões de operação:
• Partida • Taxiamento (na água) • Decolagem • Subida à altitude de operação • Navegação de cruzeiro • Descida normal • Tráfego e aproximação • Pouso
3.2.1.3 Desempenho
Previsões de desempenho apresentadas na Tabela 3.1.
Tabela 3.1 – Previsões de desempenho para o AeroBote Peso máximo ao decolar 450Kg Velocidade de cruzeiro 70Km/h Autonomia (120Km) 2h a 3h Velocidade ao decolar 40Km/h Capacidade do tanque 30L Velocidade de estol 35Km/h Capacidade do tanque 30L Velocidade nunca exceder 100Km/h Espaço para decolagem 80m Máxima razão de planeio 7:1 Espaço para pouso 100m Fator de carga +5G –3G
AeroBote: Projeto de um ultraleve pendular
Gustavo Ássi – Fernando Bresslau 37
3.2.1.4 Características pretendidas
Deve ser uma aeronave de simples construção e manutenção, podendo ser montada em
poucos minutos antes do vôo. Seu custo final ao consumidor não deve exceder R$20.000,00
(estimado no ano de 2003 para venda em São Paulo - SP).
3.2.1.5 Requisitos
O AeroBote deve satisfazer as exigências da legislação brasileira para operação de
aeronaves desportivas ultraleves. Por isso, enquadra-se sob a portaria normativa do
Departamento de Aviação Civil (DAC Nº 927/DGAC). Os pontos de destaque da legislação
vigente são apresentados no Anexo 02.
3.2.1.6 Filosofia do projeto
Por se objetivar uma aeronave de baixíssimo custo, principalmente o custo operacional,
de manutenção simples, fácil montagem e desempenho satisfatório, decide-se pela filosofia de
solução mínima.
3.2.2 Estudos preliminares
3.2.2.1 Lista de prioridades
Classificada como uma aeronave de vôo lento, e desempenho do AeroBote pode ser
sobrepostos por sua facilidade de construção. Resumidamente, o projeto prioriza as
características escalonadas a seguir, em detrimento às que dificultam ou encarecem o projeto.
1. Projeto visando facilidade construtiva 2. Projeto visando facilidade de manutenção 3. Projeto visando facilidade de transporte (entre oficina e pista de pouso)
3.2.2.2 Métodos comparativos
Diversos métodos de comparação entre aeronaves semelhantes podem ser utilizados
para se obter a ordem de grandeza dos parâmetros iniciais do AeroBote. No Gráfico 3.1
apresenta-se apenas uma comparação realizada entre aeronaves semelhantes.
AeroBote: Projeto de um ultraleve pendular
Gustavo Ássi – Fernando Bresslau 38
Gráfico 3.1 – Aeronaves semelhantes: Velocidades X Área de asa
20
40
60
80
100
120
10 15 20 25
Área da asa (m2)
Velo
cida
de (m
/s)
Mínima Máxima Cruzeiro
3.2.2.3 Delimitação do projeto
Configuração externa
• Dois tripulantes em tandem. • Asa delta alta sobre a estrutura tubular. • Bote inflável abaixo sem trem de pouso para operação no solo (esta opção pode ser
instalada em projetos futuros ou em adaptações). • Leme para controle do bote na água. • Grupo propulsor impulsor preso a estrutura atrás dos tripulantes.
• Tanque de combustível abaixo do motor, próximo ao piso do bote.
• Canopy transparente.
Configuração interna
• Painel de instrumentos à frente do bote sob o canopy. • Barra de controle com movimentação livre acima do canopy. • Assentos dos tripulantes em tecido de baixo peso, sem regulagens.
Ergonomia aplicada O AeroBote será pilotado pelo tripulante da frente. Ele deve ter liberdade para
movimentar a barra de sem tocar na estrutura, canopy ou no outro passageiro. Ambos devem ter visão ampla a fim de proporcionar um vôo panorâmico prazeroso. Além disso, o piloto deve ter visão livre para os instrumentos no painel.
O tripulante de trás ficará mais alto que o piloto, de modo que a cabeça do tripulante da frente fique na altura do peito do passageiro. O Piloto sentará entre as pernas do passageiro de trás.
AeroBote: Projeto de um ultraleve pendular
Gustavo Ássi – Fernando Bresslau 39
Dimensionamento básico (“sizing”)
Seguindo a ordem de grandeza das aeronaves semelhantes, o AeroBote terá as
dimensões básicas como apresentadas nas tabelas abaixo. No caso do bote, pretende-se seguir as
dimensões dos modelos infláveis disponíveis no mercado. As dimensões finais, definidas nos
ciclos seguintes da espiral de projeto, serão apresentadas nos desenhos de documentação do
projeto.
Tabela 3.2 – Ordem estimada das dimensões do bote Comprimento externo 3,5m Largura externa 2,0m Comprimento interno 2,5m Largura interna 0,8m Diâmetro dos flutuadores 0,5m Peso total 70kg
Tabela 3.3 – Ordem estimada das dimensões da asa Envergadura 10,0m Razão de planeio 7:1 Corda na raiz 3,0m Nervuras 20 Superfície alar 22m2 Razão de aspecto 5,0 Pano duplo na vela 40% Peso total 60kg
Tabela 3.4 – Estimativas de carregamentos e potência Peso vazio 200kg Carga alar 20kg/m2 Peso médio em cruzeiro 400kg Potência do motor 54HP Peso máximo na decolagem 450kg
Escolha do motor
O mercado de motores aeronáuticos de pequeno porte, especialmente desenvolvidos
para aviação leve e ultraleve, é liderado pelo fabricante austríaco Rotax Motors Co. Os modelos
mais utilizados são apresentados na Tabela 3.5.
Tabela 3.5 – Motores Rotax empregados na aviação leve Rotax 447 40 HP Rotax 618 UL 74 HP Rotax 503 (B e C) 47 a 54 HP Rotax 912 (UL e S) 80 e 100 HP Rotax 582 (c e E) 64 HP Rotax 914 115 HP
Dentre os motores citados acima, escolhe-se o modelo Rotax 503 de 54HP com base na
análise de aeronaves semelhantes. Vale destacar que este motor possui baixo custo relativo e
requer pouca manutenção. Os códigos B e C referem-se ao tipo de caixa de redução. Os dados
técnicos do motor escolhido são apresentados no Anexo 01. A Figura 3.3 apresenta o motor
selecionado.
AeroBote: Projeto de um ultraleve pendular
Gustavo Ássi – Fernando Bresslau 40
Figura 3.3 – Motor selecionado: Rotax 503
Materiais e processos
O AeroBote deve ser construído com materiais de baixo custo sem a necessidade de
ferramental pesado. Um bom parâmetro comparativo neste item são os home-built kits de
aeronaves ultraleves desportivas. Neste projetos o entusiasta é capaz de montar sua própria
aeronave seguindo um projeto detalhado de construção.
O bote inflável de borracha, reforçado com fundo em fibra de vidro e espuma de
poliuretano, é uma adaptação de modelos disponíveis no mercado. A princípio dois fabricantes
possuem botes adequados para vôo no AeroBote: Flexboat e Arboat, ambas do estado de São
Paulo.
A estrutura tubular deve ser de aço com juntas soldadas. A asa delta será adaptada dos
modelos empregados nos trikes terrestres. Um fabricante é recomendado: Trike Ícaros, também
de São Paulo. O Canopy deve ser confeccionado em poliestireno de alto impacto ou
policarbonato montado em uma estrutura de alumínio.
Equipamentos e instrumentação
De acordo com a legislação as aeronaves desta categoria somente podem voar com
visibilidade total durante o dia. Não é permitido o vôo apenas por instrumentos.
Os equipamentos básicos que devem equipar o AeroBote são listados na Tabela 3.6.
Tabela 3.6 – Instrumentos e equipamentos Altímetro Rádio VHF Velocidade do vento Horizonte artificial
AeroBote: Projeto de um ultraleve pendular
Gustavo Ássi – Fernando Bresslau 41
3.2.3 Anteprojeto
3.2.3.1 Esboço inicial
Figura 3.4 – Esboço inicial da aeronave
Tabela 3.7 – Dimensões básicas iniciais Comprimento externo 3,05m Boca máxima 1,75m Comprimento interno 2,25m Largura interna 0,75m Diâmetro dos flutuadores 0,50m
3.2.3.2 Estimativa de peso (“resizing”)
Tabela 3.8 – Estimativa de pesos Bote inflável 68kg Tripulante 1 90kg Estrutura 35kg Tripulante 2 90kg Asa delta 55kg Combustível 30kg Motor 45kg Peso leve 203kg Peso de carga 210kg
3.2.3.3 Proporções gerais
Este tópico não será abordado neste trabalho.
AeroBote: Projeto de um ultraleve pendular
Gustavo Ássi – Fernando Bresslau 42
3.2.3.4 Estabilidade e controle
Este tópico não será abordado neste trabalho.
3.2.3.5 Perfis da asa
Este tópico não se aplica integralmente ao projeto do AeroBote por se tratar de uma
aeronave com asa delta de velame. Assim, não é possível definir um perfil permanente para a
asa do AeroBote, mas sim uma série de hipóteses e considerações sobre o comportamento e os
efeitos do vôo de uma asa entelada com lona flexível. O comportamento de uma asa que se infla
com o vento é muito diferente de outra com perfil rígido bem definido.
Neste tópico caberia uma análise detalhada do comportamento da asa delta. Pro conta de
suas propriedades e características recomenda-se também um estudo experimental em túnel de
vento. Infelizmente, tais estudos não foram contemplados no escopo deste projeto.
Porém, uma estimativa da geometria da planta da asa, bem como uma aproximação do
seu perfil médio para vôo nivelado, são apresentadas na Figura 3.5.
Figura 3.5 – Geometria preliminar da asa delta
3.2.3.6 Perfis da empenagem
Este tópico não se aplica ao projeto do AeroBote uma vez que a aeronave não possui
empenagem.
3.2.3.7 Passeio do centro de gravidade
Por se tratar de uma aeronave de controle pelo princípio de vôo pendular, esta seção é
de extrema importância para o projeto do AeroBote. Esta etapa deve receber especial atenção
em um outro trabalho a ser desenvolvido sobre o mesmo tema. Infelizmente não pôde ser
abordada neste texto.
3.2.3.8 Modelo da cabine
O mock-up da cabine será estudado no modelo em escala 1:10.
AeroBote: Projeto de um ultraleve pendular
Gustavo Ássi – Fernando Bresslau 43
3.2.3.9 Modelagem da fuselagem
Este tópico não se aplica integralmente ao projeto do AeroBote. Em seu lugar deve ser
estudada a modelagem da estrutura tubular, abordada em outra seção deste trabalho.
3.2.3.10 Configuração externa
Este tópico não será abordado neste projeto.
3.2.4 Projeto
3.2.4.1 Cálculo de desempenho aerodinâmico
Este tópico será especialmente abordado em uma seção a seguir como uma das
propostas principais do escopo do projeto.
3.2.4.2 Cálculo de estabilidade e controle
Os cálculos de estabilidade e controle de vôo do AeroBote são muito interessantes por
se tratar de uma aeronave de princípio pendular. Assim, todo o controle de vôo não se dá pela
deflexão de superfícies de controle (como ailerons, por exemplo), mas pela variação da posição
do centro de gravidade em relação à linha de aplicação da forca de sustentação (o nó do
pêndulo). Este tópico também não será aprofundado neste trabalho.
3.2.4.3 Cálculo de cargas
Neta seção deve-se determinar o envelope de vôo do AeroBote. Infelizmente este
procedimento não será aplicado neste trabalho.
3.2.4.4 Dimensionamento estrutural
Uma vez que o AeroBote é composto por um bote inflável convencional montado sob
uma asa estruturalmente preparada para vôos de trikes terrestres, o dimensionamento estrutural
abordado neste projeto se restringirá aos cálculos da estrutura tubular. Este tópico também será
estudado em uma seção especial a seguir.
3.2.4.5 Desenhos detalhados
Os desenhos de documentação do projeto são apresentados no Anexo 01 com todos os
dados de projeto abordados neste estudo. Contudo, as três vistas da aeronave já são apresentadas
na Figura 3.6.
AeroBote: Projeto de um ultraleve pendular
Gustavo Ássi – Fernando Bresslau 44
Figura 3.6 – Esboço das três vistas da aeronave
AeroBote: Projeto de um ultraleve pendular
Gustavo Ássi – Fernando Bresslau 45
4 Aeronaves semelhantes
Nesta seção apresentam-se os modelos selecionados para a base de dados de aeronaves
semelhantes, cujas informações seriam aproveitadas nas estimativas preliminares do pré-projeto
do AeroBote.
4.1 Trike Ícaros
A Trike Ícaros Indútria Aeronáutica Ltda é a maior fabricante nacional de trikes
terrestres. Tem sede em Guarulhos e equipe de treinamento em Atibaia – SP. Pela experiência
no mercado, alcançaram qualidade reconhecida do excelente projeto e fabricação do
equipamento. Contudo, a Trike Ícaros não fabrica trikes aquáticos e não mostraram interesse em
desenvolver um projeto no momento. A empresa também comercializa as asas
independentemente para montagens de outros fabricantes.
Figura 4.1 – Aeronave semelhante fabricada pela Trike Ìcaros
4.2 Polaris Motor
Figura 4.2 – Aeronave semelhante fabricada pela Polaris Motor
A Polaris Motor é a mais conhecida fabricante de trikes anfíbios na Europa. Sediada na
Itália, possui aeronaves em quase todos os países daquele continente e algumas unidades no
AeroBote: Projeto de um ultraleve pendular
Gustavo Ássi – Fernando Bresslau 46
Brasil. Seu projeto consagrado e de muito fácil construção é copiado por inúmeros construtores
e entusiastas.
4.3 Brio Flying Boat
A Brio Flying Boat Ltda surgiu como maior fabricante em série de trikes aquáticos
(flying boats) do país. Sediada no Rio de Janeiro e equipe de treinamento em Angra dos Reis –
RJ, dedica-se a fabricação de trikes aquáticos. A empresa possui o projeto da estrutura metálica
que é montada nos botes de asas de outros fornecedores.
O modelo Brio consiste na montagem de uma estrutura em aço inoxidável tubular que
une um bote inflável a uma asa delta reforçada (fabricada pela Trike Ìcaros). Nesta estrutura são
fixados o grupo propulsor, tanque de combustível e assentos para duas pessoas.
Figura 4.3 – Aeronave semelhante fabricada pela Brio Flying Boat
4.4 Asa delta
As asas delta utilizadas nos modelos de aeronaves semelhantes seguem o mesmo padrão
construtivo dos planadores individuais. Porém, as asas nesta categoria devem ser reforçadas
para suportar não apenas o peso de um piloto, mas a carga do motor, estrutura e bote, além dos
carregamentos aerodinâmicos mais intensos e variáveis nas condições de vôo mais rápido.
Todas as asas encontradas são construída com tubos de alumínio e tirantes de cabos de
aço. Sem dúvidas este método construtivo apresenta uma das piores influências no desempenho
aerodinâmico da asa: os tirantes de aço. Já existem projetos de asas que empregam, no lugar do
longos fios esticados, estruturas tubulares com aspecto afilado, proporcionando melhor
desempenho no avanço da asa. Porém, por causa do elevado custo desta solução, os tirantes
ainda são largamente utilizados.
A estrutura de tubos e varetas de alumínio possui o extradorso (parte de cima) revestido
por uma lona sintética de Nylon®, que irá suportar a pressão aerodinâmica. Em alguns modelos
é instalada uma estrutura rígida e leve Mylard® (também pode ser moldada em espuma de
AeroBote: Projeto de um ultraleve pendular
Gustavo Ássi – Fernando Bresslau 47
poliuretano) para dar a forma geométrica do bordo de ataque. A fim de se melhorar o
desempenho da sustentação, especialmente durante as manobras, costuma-se revestir com um
outro trecho de tecido uma parte do intradorso da asa. Este tipo de entelamento é chamado de
pano duplo e é representado através da porcentagem da área coberta pelo segundo pano. Assim,
costuma variar entre 0%, para asas simples de baixo desempenho, 40% para asas de médio
desempenho a 80% em asa acrobáticas de alto desempenho aerodinâmico.
Todas as asas de aeronaves semelhantes analisadas apresentam coeficiente de
sustentação da ordem de CD≈0,01 para as condições criticas de peso máximo ao decolar e
velocidade de estol. Seguindo estes parâmetros, estima-se que a asa do AeroBote deva se
enquadrar nos parâmetros expressos na Tabela 4.1.
A Figura 4.4 apresenta modelos de asas delta fabricadas pela Trike Ìcaros e empregadas
em seus modelos de aeronaves terrestres. A Brio Flying Boat também utiliza estas mesmas asas
nas suas aeronaves anfíbias.
Tabela 4.1 – Ordem dos parâmetros estimados para a asa Envergadura 10 a 11m Razão de planeio 7:1 Corda na raiz 3m Nervuras 19 Superfície alar 20 a 22m2 Razão de aspecto 5,5 Pano duplo na vela 40% Peso total 55Kg
Figura 4.4 – Modelos de asas delta fabricadas pela Trike Ícaros
AeroBote: Projeto de um ultraleve pendular
Gustavo Ássi – Fernando Bresslau 48
4.5 Bote inflável
Figura 4.5 – Botes convencionais adaptáveis: (a) FexBoat e (b) Arboat
Os botes infláveis fabricados no país que mais se adaptam ao uso em uma aeronave
desta categoria são fabricados pela FlexBoat (uma tradicional indústria, especializada em botes
infláveis, instalada na cidade de Atibaia – SP) e pela Arboat (indústria sediada na capital
paulista). Estes botes são compostos por dois módulos: um casco rígido conformado em fibra de
vidro e os flutuadores infláveis presos a este casco. A Figura 4.5apresenta os modelos citados.
AeroBote: Projeto de um ultraleve pendular
Gustavo Ássi – Fernando Bresslau 49
5 Princípios fundamentais
5.1 Princípio do vôo pendular
O controle do vôo pendular difere da teoria de vôo das aeronaves convencionais. Estas
são controladas em seus três eixos de liberdade (por isso são denominadas aeronaves de três
eixos) que permitem os movimentos de arfagem, rolamento e guinada (pitch, roll e yaw).
O controle destes movimentos é proporcionado pelas superfícies de controle
(profundores, ailerons e leme) localizados nas asas e empenagem da aeronave, de modo que as
resultantes das forças que a dirigem são aplicadas nas asas e na fuselagem.
Resumidamente, pode-se dizer que as forças de controle se originam na variação da
força de sustentação gerada nos perfis dos fólios (asa e empenagem) destas superfícies de
controle.
Figura 5.1 – (a) Aeronave controlada por 3 eixos e (b) seu movimento de manobra..
Arfagem (pitch)
Rolamento (roll)
Guinada (yaw)
Arfagem (pitch)
Rolamento (roll)
Guinada (yaw)
Figura 5.2 – (a) Aeronave pendular e (b) seus graus de liberdade..
Diferentemente, o controle do vôo pendular não está relacionado a nenhum destes eixos
de liberdade, nem à variação dos pequenos fólios de controle. Como o próprio nome diz, a
aeronave é controlada como um pêndulo. A física do movimento de um pêndulo é muito
simples e seus conceitos podem ser diretamente extrapolados para o caso da aviação pendular.
É intuitivo observar que, em vôo estabilizado (nivelado), a aeronave deve estar em
equilíbrio estático. Isto é, como um pêndulo, o centro de massa tende a se alinhar na mesma
vertical com o centro das forças de sustentação. Quando estes centros não estiverem alinhados
surgirá um momento restaurador que equilibrará o sistema. Este momento pode ser
desestabilizador, dependendo das condições de estabilidade do modelo (centro de massa acima
AeroBote: Projeto de um ultraleve pendular
Gustavo Ássi – Fernando Bresslau 50
do centro e sustentação), mas estas situações fogem completamente da finalidade do vôo
pendular.
Assim, o princípio do controle de vôo torna-se muito simples. Para controlar a aeronave
basta que a posição de um dos centros seja alterada, o momento restaurador se encarrega de
estabilizar o modelo em uma nova configuração de equilíbrio. Deste modo a asa se inclina em
relação ao horizonte e a nova componente lateral da força de sustentação se encarrega de
direcionar a manobra.
Figura 5.3 – (a) Aeronave pendular e (b) seu movimento de manobra..
No caso das aeronaves convencionais o centro das forças de sustentação é alterado
quando as superfícies controladoras são acionadas. Já nas aeronaves pendulares, o centro de
gravidade que é deslocado, provocando uma nova posição de equilíbrio no sistema.
Este princípio de vôo é facilmente observado nos vôos-livres (asa-delta) onde o piloto
utiliza o movimento do próprio corpo para deslocar o centro de gravidade do sistema. No caso
do trike, ou AeroBote, acontece o mesmo procedimento, apenas considerando que o piloto não
mais movimenta seu corpo, mas toda a estrutura do equipamento (piloto, bote, estrutura, motor e
equipamentos) em relação à asa.
Como conseqüência desta nova posição de equilíbrio as componentes aerodinâmicas de
arrasto e sustentação farão a aeronave manobrar. Como será apresentado a seguir, ainda há uma
componente de arrasto que auxilia na manobra.
5.2 Princípio das asas de velame
O escoamento a redor de fólios rígidos é bem conhecido e suas propriedades de
sustentação e arrasto são bem determinadas. Porém, quando utilizamos asas com velame (ou
vela, lona) percebemos um comportamento próprio devido a não rigidez do conjunto.
A asa é composta por elementos estruturais rígidos que tem a finalidade de suportar a
pressão aplicada na área da vela transmitindo a força para o ponto de aplicação. Quando sofre a
ação desta pressão a vela se infla e assume o formato de um fólio, que proporcionará a
sustentação necessária.
AeroBote: Projeto de um ultraleve pendular
Gustavo Ássi – Fernando Bresslau 51
As asas de velame também apresentam um princípio muito interessante que auxilia no
controle das manobras. Por se tratar de uma estrutura não rígida, a asa pode deformar-se de
acordo com a carga de pressão aerodinâmica que recebe, isto é, a vela (velame) pode inflar-se
de maneiras diferentes ao longo de sua envergadura.
Quando a asa é inclinada (rolamento) ao se iniciar uma curva o lado do velame interior
ao raio da curva recebe maior carga de pressão aerodinâmica inflando-se mais que o outro lado.
Assim, o perfil da asa na metade interna torna-se mais abaulado apresentará um ganho na
componente de arrasto. Tendo a asa um arrasto maior em uma de suas metades, receberá um
momento que tenderá a guiná-la para o lado da curva, favorecendo a manobra.
Figura 5.4 – (a) Asa com velame inflado e (b) adicional de arrasto favorecendo a guinada.
Outro fenômeno diferente ocorre na outra metade da asa. A metade do velame do lado
externo da curva terá uma velocidade relativa ao vento maior que o lado interno, devido ao raio
da curva. Esta velocidade maior causará um aumento na componente da sustentação no lado
externo. Este ganho de sustentação em um lado causa outro momento que tende rolar a asa para
o lado interno da curva.
Pela soma destes dois fenômenos, a medida que a curva se inicia, a asa tende a
favorecer cada vez mais a manobra. Porém, facilmente percebemos que, cada vez mais, a asa
está entrando em um parafuso, isto é, sua tendência natural é descrever uma espiral em torno do
centro da curva que iniciou. Por causa disto o piloto deve controlar a manobra com cautela,
impedindo que a asa colapse neste parafuso. Para tanto, basta compensar a manobra com um
movimento para o lado oposto sempre que necessário, controlando a guinada e rolagem da asa.
AeroBote: Projeto de um ultraleve pendular
Gustavo Ássi – Fernando Bresslau 52
PARTE II: DESEMPENHO AERODINÂMICO
AeroBote: Projeto de um ultraleve pendular
Gustavo Ássi – Fernando Bresslau 53
Na Parte III deste texto apresenta-se uma síntese do estudo desenvolvido sobre o
comportamento aerodinâmico do AeroBote. Como foi claramente evidenciado na definição do
escopo deste trabalho, pretende-se avaliar o desempenho aerodinâmico da aeronave apenas para
a condição de vôo de cruzeiro nivelado. Considerando que a maior parte do tempo de sua
operação o AeroBote passará realizando esta missão, uma análise do comportamento do veículo
nestas condições é necessária e interessante.
Por se tratar de uma aeronave desenvolvida e construída por entusiastas (muitas vezes
sem conhecimento técnico adequado) e, em muitos casos, montada em oficinas caseiras
reutilizando grande parte de peças adaptadas de automóveis (principalmente motorizarão) e
botes, o desempenho aerodinâmico dos botes voadores sempre apresenta pontos que podem ser
otimizados em um estudo mais cuidadoso. Como desempenho aerodinâmico em vôo de cruzeiro
traduz-se por consumo e autonomia da aeronave, uma eficiente otimização deste parâmetro é,
no mínimo, atraente para o usuário desportivo. Lembrando que os botes voadores são escolhidos
por causa das condições de vôo lento e tranqüilo. Assim, a otimização aerodinâmica está mais
relacionada com economia de combustível que aumento da velocidade de cruzeiro.
Como já foi mencionado anteriormente, existem muitos pontos de um bote voador que
podem ser otimizados para gerar menor perda de energia por arrasto. Claramente, a substituição
dos tirantes de aço por barras estruturais de perfil afilado já contribuiriam para esta otimização.
Porém, neste trabalho não se enfoca a apresentação de propostas alternativas para o projeto da
asa. Entende-se que as asas delta disponíveis no mercado já passaram por um processo de
evolução ao longo do tempo, de modo que uma análise de otimização demandaria um esforço
considerável. Se os tirantes não foram substituídos até hoje por barras afiladas existe um motivo
mais forte que prevaleceu ao longo da experiência.
Mas, a montagem dos botes voadores é uma solução relativamente recente, de modo
que o conjunto, a aeronave como um todo, ainda está passando por este processo de evolução.
Por isso, entende-se que a relação entre o esforço demandado e o resultado de um desempenho
melhorado é mais viável quando se estudam os sistemas relacionados ao bote. Isto é, o bote e
seus sistemas adaptados (posição dos tripulantes, motor, tanque, estrutura tubular, etc.) ainda
tem muito para melhorar, de modo que um estudo rápido traria um resultado mais significativo
para o desempenho do veículo como um todo. Resumindo, não se pretende “caçar” os detalhes,
mas analisar o veículo como um todo que pode ser melhorado.
Em uma primeira análise já se percebe que, em contraste com a asa, um bote inflável
convencional não foi projetado para voar! Ou seja, o projeto fluido dinâmico de um bote de
pequeno porte (considerado de baixíssimo desempenho na industria naval) considera apenas os
fenômenos hidrodinâmico no casco. Isto é obvio, quando se desloca pela água as cargas do ar no
AeroBote: Projeto de um ultraleve pendular
Gustavo Ássi – Fernando Bresslau 54
bote são desprezíveis frente à resistência ao avanço hidrodinâmica. Por conta disto, a geometria
do bote como um todo não foi desenvolvida para voar, mas sim para navegar! Logo, um bote
pode ser otimizado aerodinamicamente para gerar menos arrasto quando se desloca pelo ar.
Em suma, esta seção pretende avaliar o desempenho aerodinâmico do bote montado
com seus elementos mais volumosos e rombudos (tripulantes, motor e tanque de combustível),
desconsiderando o efeito do arrasto da estrutura tubular (que não pode ser desprezado em fases
futuras do projeto), e propor uma solução simples e aplicável que otimize as perdas de arrasto
sem alterar drasticamente um projeto já construído de bote voador.
Os tripulantes devem ser especialmente considerados como elementos geradores de
arrasto, pois as dimensões de uma pessoa são da mesma ordem de grandeza das dimensões da
aeronave. Além disso, em todos os projetos de aeronaves desta categoria, os tripulantes são
expostos de maneira a receber toda a carga aerodinâmica no corpo.
Neste trabalho, o estudo aerodinâmico do AeroBote segue duas abordagens de naturezas
distintas, mas complementares. Pretende-se atacar o problema com: análises numéricas geradas
por processamento computacional e ensaios experimentais de modelos em escala. A ferramenta
numérica permite uma fácil análise do comportamento do escoamento ao redor dos elementos,
facilitando a proposta de soluções. Contudo, os valores numéricos devem ser validados com
medições experimentais a fim de comprovar os resultados simulados.
Finalmente, espera-se avaliar o comportamento da força de arrasto para uma série de
condições de vôo parametrizadas pelo ângulo de ataque do conjunto em relação ao escoamento
incidente. Desta forma, tenciona-se determinar uma configuração do vôo (ângulo de ataque de
referencia) que gere a menor perda por arrasto possível. Como o AeroBote não tem uma
geometria axi-simétrica, muito provavelmente o ângulo de ataque de menor arrasto será
ligeiramente diferente de zero.
AeroBote: Projeto de um ultraleve pendular
Gustavo Ássi – Fernando Bresslau 55
6 CFD – Dinâmica dos Fluidos Computacional
Além das aplicações teóricas e observações dos fenômenos aplicados em outros
modelos, a utilização das ferramentas de simulação numérica apresenta boa vantagem na
redução de tempo e recursos despendidos nas análises preliminares dos ensaios físicos. Assim,
neste projeto, pretende-se empregar estudos de dinâmica dos fluidos computacional – CFD –
para análise preliminar dos modelos a serem ensaiados fisicamente.
Os ensaios computacionais nada mais são que robustas ferramentas numéricas capazes
de resolver as equações de Navier-Stokes para uma série de nós discretizados no domínio do
escoamento. Porém, como se trata de uma ferramenta de simulação iterativa, diversas hipóteses
numéricas são adotadas, de modo a se obter uma modelagem do fenômeno fiel à encontrada na
realidade.
6.1 Modelos numéricos
6.1.1 Bote
Este capítulo, bem como a aplicação das ferramentas de CFD ao projeto, é dividido em
duas etapas. Na primeira pretende-se obter conhecimento da teoria da Dinâmica dos Fluidos
Computacional e familiaridade com os pacotes computacionais escolhidos para as simulações.
Já na segunda etapa, pretende-se iniciar as simulações numéricas com a geometria real definida
como potencial solução para o problema. Como um modelamento mais próximo do real tem as
geometrias mais elaboradas, um estudo inicial baseado em um exemplo fictício simplificado não
representa desperdício dos recursos. Além disso, enquanto a solução simplificada estiver sendo
estudada numericamente, a solução real também será analisada.
Em um primeiro estudo foi elaborado o modelo numérico simplificado apresentado na
Figura 6.1. Apenas um modelo de bote e asa (sem estrutura tubular) com a finalidade de se
verificar a aplicação das simulações numéricas.
Figura 6.1 - Modelo simplificado elaborado para as primeiras simulações numéricas.
AeroBote: Projeto de um ultraleve pendular
Gustavo Ássi – Fernando Bresslau 56
Iniciando a segunda etapa das aplicações de CFD, apresenta-se o modelo escolhido
como potencial solução. Facilmente verifica-se que a geometria do bote, bem como seu nível de
detalhamento, se aproxima à de um bote inflável real. De fato este foi um parâmetro atendido na
composição desta solução. Uma vez que o objetivo do projeto é adaptar um bote inflável
fabricado na atualidade, nada mais correto que iniciar a busca de alternativas nos modelos
encontrados no mercado.
O bote apresentado nesta solução é baseado na geometria do bote inflável da FlexBoat
do Brasil (apresentado anteriormente). No modelo criado para as simulações numéricas não há a
necessidade de um detalhamento dos elementos internos do bote. Neste caso apenas interessa
estudar o comportamento do escoamento ao redor de seu volume, como ao redor de qualquer
outro corpo rombudo.
Figura 6.2 – Modelo de bote adotado na atual solução.
Figura 6.3 – Comparação entre o modelo simplificado e a nova solução (azul).
O bote projetado nesta segunda etapa é apresentado na Figura 6.2, onde se destacam a
forma afilada da proa e a curvatura do casco rígido (curvatura real bem diferente da utilizada no
AeroBote: Projeto de um ultraleve pendular
Gustavo Ássi – Fernando Bresslau 57
primeiro modelo simplificado). Na Figura 6.3 é possível observar a comparação entre as
geometrias dos dois modelos acima citados.
6.1.2 Tripulante
O AeroBote é uma aeronave sem cabine, isto é, é uma aeronave aberta onde o piloto e
demais tripulantes ficam expostos ao meio. O AeroBote também pretende ser uma aeronave
pequena, com dimensões da mesmo ordem do comprimento de uma pessoa adulta. Assim, pelo
fato dos tripulantes serem tão significantes comparados às dimensões da aeronave; e por
receberem em seus corpos grande parte do escoamento incidente, o volume ocupado pelos
tripulantes na aeronave também influenciará no escoamento.
A presença de uma pessoa no bote afeta significativamente o comportamento do
escoamento ao redor. Além do arrasto causado por estes novos corpos, o escoamento sofrerá
uma interferência que poderá afetar até mesmo o escoamento no intradorso (parte de baixo) da
asa. Por conta disso, considera-se relevante que o volume ocupado por uma pessoa adulta seja
levado em conta em um modelo numérico de CFD. Por isso, desenvolveu-se um modelo com
forma humana, um boneco, para ser incorporado nas simulações numéricas.
A Figura 6.4 ilustra o primeiro boneco simplificado utilizado e sua disposição dentro do
bote, simulando a posição de pilotagem em vôo de cruzeiro.
Figura 6.4 – Primeiro boneco tripulante utilizado nos modelos.
6.2 Otimização do modelo
Em um novo ciclo da espiral do projeto algumas melhorias foram implementadas na
geometria do modelo. Apenas para citar, as análises iniciaram com um modelo grosseiro de
bote, passando para uma geometria refinada (próxima da real) e recebendo um modelo de
tripulante.
AeroBote: Projeto de um ultraleve pendular
Gustavo Ássi – Fernando Bresslau 58
Neste ciclo pretende-se avaliar o desempenho aerodinâmico do bote e seus apêndices
(sem considerar-se a asa e estrutura) para uma nova geometria ainda mais refinada. Nesta fase
as seguintes alterações foram implementadas:
• Novo modelo de tripulante.
• Configuração com dois tripulantes em tandem.
• Configuração com volume do motor e tanque de combustível.
• Instalação de um canopy (pára-brisas)
Ao final deste ciclo pretende-se atingir a configuração de modelo a ser ensaiada no túnel
de vento do IPT. Assim, os ensaios que serão realizados posteriormente terão as mesmas
condições das simulações resolvidas numericamente.
6.2.1 Novo modelo de tripulante
O modelo de tripulante adotado para as simulações da etapa anterior foi melhorado de
modo a representar com maior fidelidade as dimensões de um corpo humano. Além disso, a
presença de partes relativamente pequenas (comparando com as dimensões do bote), como
mãos e pés, dificultava o processamento numérico computacional. Como solução, a Figura 6.5
apresenta os novos modelos de tripulantes, dispostos na configuração de vôo em tandem.
Figura 6.5 – Disposição do novos modelos de tripulantes.
6.2.2 Motor e tanque de combustível
O tempo gasto (ou recursos despendidos) em simulações numéricas aumenta com a
riqueza de detalhes do modelo. Muitas vezes, um modelo muito detalhado não apresenta
solução favorável próxima da real, pois as pequenas dimensões da malha numérica que o
envolvem provocam erros de convergência numérica. Assim, a fim de se obter uma simulação
em CFD condizente com um modelo real, deve-se ponderar quais partes do modelo devem ser
consideradas. Trechos muito detalhados devem ser desconsiderados.
Desta forma, verificou-se que os elementos dimensionalmente relevantes, com
possibilidades de alterar o escoamento de forma significativa, são quatro, além do bote: os
tripulantes, o motor, o tanque de combustível e o canopy. O modelo que será utilizado nas
AeroBote: Projeto de um ultraleve pendular
Gustavo Ássi – Fernando Bresslau 59
simulações numéricas, e posteriormente será construído para os ensaios em túnel de vento, é
apresentado na Figura 6.6.
Figura 6.6 – Ilustração do modelo com tripulantes, motor, tanque e pára-brisa.
6.2.3 Instalação de um canopy
Observando os detalhes de simulações anteriores, como o apresentado na Figura 6.10,
pode-se sugerir a instalação de um canopy na proa do bote. Além do conforto para os
tripulantes, que recebem a carga de pressão aerodinâmica diretamente no corpo, um canopy
pode contribuir para a redução no arrasto da aeronave.
Figura 6.7 – Instalação do canopy.
Figura 6.8 – Três vistas da aeronave.
AeroBote: Projeto de um ultraleve pendular
Gustavo Ássi – Fernando Bresslau 60
Esta solução foi implementada nas análises deste ciclo e será considerada nos ensaios
em túnel de vento. A Figura 6.7 ilustra a instalação do equipamento e a Figura 6.8 ainda
apresenta as três vistas da nova configuração simulada.
6.3 Visualização do escoamento
6.3.1 Modelo simplificado
Em primeira análise, pretende-se obter uma visualização do escoamento ao redor do
modelo nas configurações de vôo de cruzeiro, também chamado de vôo nivelado. Simulações
do modelo de bote em vôo foram efetuadas na velocidade de cruzeiro do projeto e sob sete
variações do ângulo de ataque.
• Velocidade de cruzeiro: 20 m/s ≈ 70 km/h
• Ângulos de ataque investigados: 0º, 2º, 4º, 6º, 8º, 10º e 15º.
Com a visualização do escoamento é possível analisar as influências que as estruturas
mais robustas exercem umas nas outras, como: bote, asa, tripulantes e grupo propulsor. Também
é possível encontrar pontos críticos onde haja descolamento, recirculação, estagnação dentre
outros efeitos importantes para o controle da eficiência da aeronave.
Figura 6.9 - Linhas de fluxo ao redor do modelo.
Figura 6.10 – Linha de fluxo para os ângulos de ataque de 0º e 15º.
Na Figura 6.9 é possível visualizar as linhas de corrente ao redor do modelo constituído
pelo bote e o boneco tripulante simplificado. Nas ilustrações apresentadas na Figura 6.10 é
AeroBote: Projeto de um ultraleve pendular
Gustavo Ássi – Fernando Bresslau 61
possível visualizar as linhas de fluxo no plano de simetria do modelo para as duas configurações
extremas de ângulos de ataque simulados (0º e 15º).
6.3.2 Modelo aperfeiçoado
O modelo aperfeiçoado (geometria mais próxima da real) foi simulado para as mesmas
sete condições de ângulo de ataque (0º, 2º, 4º, 6º, 8º, 10º e 15º) e velocidade de cruzeiro (20 m/s)
simuladas para o modelo simplificado. Nesta etapa foram analisadas duas configurações
distintas (com e sem canopy) visando o entendimento futuro de uma possível solução para
redução de arrasto.
Figura 6.11 – Linhas de corrente no modelo com canopy
Figura 6.12 – Vetores velocidade ao redor do modelo com canopy
AeroBote: Projeto de um ultraleve pendular
Gustavo Ássi – Fernando Bresslau 62
A Figura 6.11 apresenta as linhas de corrente e a Figura 6.12 os vetores velocidade ao
redor dos elementos para a configuração com canopy. A Figura 6.13 apresenta uma comparação
entre as linhas de corrente e a Figura 6.14, entre os vetores no plano de simetria para as
configurações sem e com canopy.
Figura 6.13 – Comparação entre as linhas de corrente para as configurações de canopy para 0º e
10º
Figura 6.14 – Comparação entre os campos de vetores para as configurações de canopy para 0º e
10º
AeroBote: Projeto de um ultraleve pendular
Gustavo Ássi – Fernando Bresslau 63
Finalmente, a Figura 6.15 apresenta a malha utilizada nas simulações numéricas.
Figura 6.15 – Padrão das malhas utilizadas nas simulações numéricas
6.4 Coeficientes dinâmicos
6.4.1 Arrasto
Outra grandeza importante a ser estimada numericamente é o campo de pressões ao
redor do modelo. Definida a aplicação deste campo sobre o veículo é possível obter os
coeficientes dinâmicos responsáveis pelos fenômenos mais importantes deste estudo:
sustentação e arrasto.
Integrando-se numericamente o campo de pressões em toda a superfície do modelo é
possível estimar a resistência ao avanço em vôo. Também é possível estudar a sustentação
gerada pela asa. Os campos de pressões na superfície dos modelos são apresentados na Figura
6.16 para os ângulos de ataque de 0º e 15º.
Assim, tomando-se os resultados das simulações numéricas da atual configuração,
integrando o campo de pressões na superfície externa de todo o casco e projetando a
componente desta força resultante na direção do escoamento incidente, obtém-se a medida do
arrasto.
Vale a pena destacar dois aspectos interessantes a respeito destes campos de pressões.
Pode-se notar a pressão elevada na região do tronco (peito e abdômen) do boneco. Esta pressão,
causada pela estagnação da velocidade no corpo do tripulante, causa uma grande perda por
arrasto. Também pode-se notar a mudança do ponto de estagnação na proa do bote para os
diferentes ângulos de ataque. Perceba também a forte magnitude da pressão nos pilotos para na
configuração sem canopy em contrate com a solução do pára-brisas.
AeroBote: Projeto de um ultraleve pendular
Gustavo Ássi – Fernando Bresslau 64
Figura 6.16 – Campo de pressão ao redor dos modelos para 0º e 15º
A força de arrasto (sempre na direção do escoamento incidente) pode ser
adimensionalizada considerando a velocidade do escoamento incidente e uma área de
referência. Normalmente, em projetos de aeronaves, todas as forças de arrasto são
adimensionalizadas considerando-se a área de referência da projeção da asa. Porém, como as
dimensões da asa ainda são variáveis indefinidas deste projeto, optou-se por se tomar como
referência a área projetada do bote, uma vez que, neste ponto, pretende-se estudar o
comportamento de arrasto do bote.
A força de arrasto adimensionalizada resulta no coeficiente de arrasto, expresso na
equação a seguir:
22
1 VSFdCd
⋅⋅⋅=
ρ Eq. 6-1
Onde Fd é a força de arrasto; ρ é a densidade do ar nas condições de vôo; S é a área de
referência; e V é a velocidade do escoamento incidente (velocidade de cruzeiro).
Mas, o coeficiente de arrasto varia com o ângulo de ataque do corpo em relação ao
escoamento incidente. Isto é, quando a geometria que o escoamento enxerga o corpo é alterada
o Cd se altera, ou seja, o corpo gera mais ou menos arrasto.
Assim, a curva que relaciona o comportamento de Cd com a variação do ângulo de
ataque do corpo é de suma importância para qualquer projeto aeronáutico. De posse desta curva
AeroBote: Projeto de um ultraleve pendular
Gustavo Ássi – Fernando Bresslau 65
é possível determinar qual a força de propulsão necessária para que o corpo se mantenha em
velocidade de cruzeiro com um ângulo de ataque diferente do ângulo de projeto.
Por outro lado, quando o comportamento de arrasto do corpo não é conhecido (caso do
bote) esta curva auxilia no desenvolvimento do ângulo de ataque de cruzeiro que causará menor
perda por arrasto. No caso do bote, por exemplo, pode ser que o ângulo que gere menor arrasto
não seja o ângulo de ataque nulo. Por isso pretende-se obter esta curva, auxiliando no projeto do
ângulo que o bote deve permanecer durante o vôo de cruzeiro.
6.4.2 Sustentação
Analogamente à força de arrasto, é possível desenvolver a mesma análise para a força
de sustentação. Basta aplicar a mesma teoria em outro eixo de coordenadas, obtendo-se o
coeficiente de sustentação Cl, cuja definição é análoga ao Cd considerando a força de
sustentação.
A principio, esta investigação foi motivada pelo fato do bote ter a geometria aproximada
de um fólio invertido. Isto é, por ter uma curvatura na sua parte inferior (fundo do casco) e um
piso plano o bote poderia funcionar como um fólio invertido, gerando uma forca de sustentação
para baixo, comprometendo a aeronave, principalmente aumentando a carga na asa.
6.4.3 Momento e polar de arrasto
Além das forças dinâmicas resultantes do efeito das pressões na superfície dos corpos,
um escoamento fluido também pode gerar um momento, principalmente se o corpo em estudo
for assimétrico (como o bote é). Neste caso, o escoamento incidente fará surgir um momento
que tenderá a girar o corpo ao redor do eixo Y, isto é, transversalmente ao sentido do
escoamento. Este momento também varia com o ângulo de ataque.
Com as duas curvas de Cd e Cl é possível traçar a Curva de Polar de Arrasto para o
modelo. Esta curva representa qual o arrasto gerado quando a aeronave necessita de um certo
valor de sustentação. Porém, a curva polar de arrasto somente tem sentido prático quando a
sustentação gerada pela asa (a principal fonte de sustentação) é computada no cálculo, do
contrario a curva fica sem utilidade real. Por conta disto ela não será apresentada neste texto,
mas destaca-se sua importância em fases futuras do projeto.
6.5 Resultados numéricos
O Gráfico 6.1 apresenta o comportamento do coeficiente de arrasto Cd em função do
ângulo de ataque da aeronave. Analisando as curvas de arrasto, verifica-se que o ângulo de
ataque que causa o menor arrasto ocorre em 0º. Este é um resultado muito importante, pois
AeroBote: Projeto de um ultraleve pendular
Gustavo Ássi – Fernando Bresslau 66
indica qual deve ser a verdadeira angulação do bote para que as perdas por arrasto sejam
minimizadas no vôo de cruzeiro.
Gráfico 6.1 – Coeficiente de arrasto obtido nas simulações numéricas para V=20m/s
Cd x alfa (20m/s) - SIMULAÇÔES NUMÉRICAS
0,15
0,18
0,20
0,23
0,25
0,28
0,30
0 2 4 6 8 10 12 14 16
ângulo de ataque
Cd
Caso A (NUM) Caso B (NUM)
Gráfico 6.2 – Coeficiente de sustentação obtido nas simulações numéricas para V=20m/s
Cl x alfa (20m/s) - SIMULAÇÔES NUMÉRICAS
-0,05
0,00
0,05
0,10
0,15
0,20
0,25
0 2 4 6 8 10 12 14 16
ângulo de ataque
Cl
Caso A (NUM) Caso B (NUM)
Nos dois gráficos apresentados o Caso A representa a simulação do modelo sem canopy,
enquanto o Caso B representa a configuração com o acessório.
AeroBote: Projeto de um ultraleve pendular
Gustavo Ássi – Fernando Bresslau 67
Também é possível verificar o efeito do canopy na diminuição do arrasto. A curva do
Caso B aparece claramente abaixo da curva do modelo sem o acessório. Ambas têm o mesmo
comportamento mas diferem quantitativamente.
Analisando a curva apresentada no Gráfico 6.2 realmente verificamos que o modelo
apresenta uma forca de sustentação negativa (para baixo) até a faixa do ângulo de ataque de
transição (por volta de 6º). A partir deste ponto, onde o coeficiente fica positivo, a inclinação do
modelo gera uma forca de sustentação positiva, que tende a aliviar a carga na asa.
Porém, durante o projeto deve-se avaliar o compromisso entre a sustentação e o arrasto
gerados pelo modelo, escolhendo a situação que favoreça o projeto da aeronave. Esta análise
pode ser feita com a curva de polar de arrasto calculada para a aeronave completa, incluindo a
asa.
Verifica-se também que a carga de pressão no piloto é menor para um ângulo de ataque
elevado, uma vez que o tripulante encontra-se na “sombra” do bote em relação ao escoamento.
AeroBote: Projeto de um ultraleve pendular
Gustavo Ássi – Fernando Bresslau 68
7 Estudos experimentais
Como mencionado em outra seção, os ensaios experimentais com modelos reduzidos
são utilizados para validação das simulações numéricas computacionais. Neste capítulo serão
apresentadas as hipóteses e considerações adotadas nos ensaios realizados no túnel de vento.
Estes experimentos objetivam a medição da força de arrasto (coeficiente de arrasto)
aplicada no modelo em escala para posterior comparação com os valores calculados pelos
campos de pressão numéricos.
7.1 Semelhança de Reynolds
Um dos problemas sem solução em todos os ensaios de modelos em escala em túneis de
vento é a reprodução fiel do número de Reynolds do caso real. O número de Reynolds é um
parâmetro adimensional que relaciona as forças de inércia com as forcas viscosas na mecânica
dos fluidos. Reynolds é definido pela Equação.
νδ
μδρ ⋅=
⋅⋅=
UURe Eq. 7-1
Onde ρ é a densidade do fluido, U é a velocidade do escoamento, δ é a dimensão
característica da estrutura imersa, μ é a viscosidade e ν a viscosidade cinemática do fluido.
Para que os dados experimentais possam ser comparados com os valores do protótipo
real o número de Reynolds deve ser o mesmo nas duas condições, uma vez que a natureza dos
fenômenos que geram o arrasto tem origem na viscosidade dos fluidos. Ou seja, o número de
Reynolds do modelo no túnel de vento deve ser o mesmo que o medido para o AeroBote em
vôo. Claro que extrapolações podem ser feitas (e são mesmo nos ensaios das empresas
aeronáuticas mais conceituadas mundialmente), porém deve-se procurar a melhor aproximação
entre os Reynolds real e de ensaio possível.
A dificuldade de reprodução está no fato que Reynolds é proporcional a escala entre
protótipo e modelo. Assim, se o modelo for 50 vezes menor que o real a velocidade do túnel
deve atingir 50 vezes a velocidade de vôo. No caso de uma aeronave de grande porte esta
semelhança nunca é alcançada pois as velocidades dos túneis de vento não alcançam as faixas
desejadas, mas no caso do AerBote, onde escala pretendida é da ordem de 10 vezes, os valores
de Reynolds ficam quase na mesma ordem. Uma solução é mudar o fluido de trabalho,
realizando ensaios de aeronaves em canais de água circulante.
AeroBote: Projeto de um ultraleve pendular
Gustavo Ássi – Fernando Bresslau 69
Dadas as condições de vôo e as dimensões do AeroBote real, calcula-se o número de
Reynolds pela Equação 7-1. A velocidade é a própria velocidade de cruzeiro e a dimensão
característica escolhida é a boca máxima do bote, de acordo com a Tabela 7.1.
O modelo construído é 10 vezes menor que o protótipo, portanto o Reynolds do ensaio é
10 vezes menor que o real. Considerando a faixa de velocidade de operação da aeronave (onde
não ocorrem efeitos transônicos) a ordem de grandeza desta diferença ainda permite uma análise
comparativa sem maiores problemas de extrapolação. A Tabela 7.2 apresenta as condições de
Reynolds do ensaio.
Tabela 7.1 – Cálculo de Re no protótipo Velocidade de cruzeiro 20 m/s Densidade do ar (25ºC) 1,23 kg/m3 Boca máxima do bote 1,8 m Viscosidade do ar (25ºC) 1,78x10-5 kg/m.s Reynolds do protótipo ReP≈2,5x106
Tabela 7.2 – Cálculo de Re no modelo ensaiado Escala do modelo 1:10 Densidade do ar (25ºC) 1,23 kg/m3 Boca máxima do bote 0,18 m Viscosidade do ar (25ºC) 1,78x10-5 kg/m.s Velocidade do túnel 20 m/s Reynolds do protótipo ReP≈2,5x105
7.2 Túnel de vento
O túnel de vento utilizado nos ensaios experimentais está instalado no Laboratório de
Anemometria do Agrupamento de Vazão do IPT – Instituto de Pesquisas Tecnológicas do
Estado de São Paulo. A figura apresenta uma foto da seção de testes do túnel.
É um túnel de circuito aberto propelido por um ventilador centrífugo com vazão
controlada pela rotação do motor e abertura do bocal de admissão. A seção quadrada de lado
0,5m foi projetada para operar com perfil de velocidades plano entre 0,5m/s e 40m/s. O
laboratório está instrumentado com tubos de Pitot, anemômetros de fio quente um LDA
(Anemômetro a Laser Doppler) para medição da velocidade do ar.
Figura 7.1 – Seção de testes do túnel de vento do IPT
AeroBote: Projeto de um ultraleve pendular
Gustavo Ássi – Fernando Bresslau 70
7.3 Modelo em escala
O modelo em escala 1:10 foi esculpido em blocos de isopor de alta densidade,
estruturados sobre uma quilha central de chapa de poliestireno de alto impacto, até chegar em
sua forma aproximada. Aplicou-se uma resina seladora a base de óleo de mamona a fim de
proteger o isopor da corrosão dos solventes. Sobre a resina, o casco foi moldado com massa
plástica de poliéster até sua geometria final. O modelo rígido foi então acabado com massa
rápida, lixado e pintado com tinta automotiva. As peças representando os tripulantes, motor e
tanque de combustível foram confeccionadas pelo mesmo processo. Ver Figura 7.2.
Todos os elementos foram então fixados nos pontos da quilha por parafusos e apoios de
varetas de latão. O canopy foi confeccionado em uma chapa de alumínio de 1mm de espessura
instalada na proa do bote. Todos os elementos podem ser desmontados de modo que o bote pode
ser ensaiado em todas as configurações possíveis. A Figura 7.3 apresenta uma comparação do
modelo em escala ensaiado com o modelo numérico simulado.
Figura 7.2 – Modelo construído para os ensaios experimentais
AeroBote: Projeto de um ultraleve pendular
Gustavo Ássi – Fernando Bresslau 71
Figura 7.3 – Comparação entre os modelos experimental e numérico
7.4 Balança de momento
Como explicado, os ensaios objetivam a medição da força de arrasto no modelo. Por
conta disto, foi construído um sistema simples utilizando uma balança de massa convencional
para medição desta componente. A Figura 7.4 esboça o funcionamento do dispositivo.
O mecanismo possui dois braços solidários em “L” articulados na junção perpendicular.
Assim, a força horizontal aplicada em um braço é transferida para o outro que através do
momento na articulação. A força vertical no segundo braço é aplicada na balança para a leitura.
O modelo é fixado na extremidade do braço vertical e todo o conjunto é instalado na seção de
testes do túnel de vento. O braço que suporta o modelo possui ainda um dispositivo para medir
o ângulo de ataque relativo ao modelo.
Figura 7.4 – Sistema para medição da força de arrasto no modelo
7.4.1 Análise de incerteza do experimento
Para validar os dados experimentais deve-se proceder uma análise de incerteza dos
ensaios. Este estudo não será apresentado neste texto.
AeroBote: Projeto de um ultraleve pendular
Gustavo Ássi – Fernando Bresslau 72
7.5 Resultados experimentais
O Gráfico 7.1 apresenta os resultados das medições de arrasto para as três configurações
ensaiadas no túnel de vento para velocidade de 20m/s. O Caso A representa o modelo sem
canopy, Caso B representa o modelo com canopy e Caso C representa o bote sozinho (sem
tripulantes, motor, tanque e canopy).
Novamente verifica-se a diferença entre as curvas com e sem canopy. O resultado no
túnel de vento confirma a simulação numérica de que o canopy ajuda na redução do arrasto. O
mesmo comportamento é observado para outro número de Reynolds, com velocidade de 10m/s,
como apresentado no Gráfico 7.2.
Gráfico 7.1 – Coeficiente de arrasto obtido nos ensaios experimentais para V=20m/s
Cd x alfa (20m/s) - ENSAIOS EXPERIMENTAIS
0,05
0,10
0,15
0,20
0,25
0,30
0,35
0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20
ângulo de ataque
Cd
Caso A (EXP) Caso B (EXP) Caso C (EXP)
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Gráfico 7.2 – Coeficiente de arrasto obtido nos ensaios experimentais para V=10m/s
Cd x alfa (10m/s) - ENSAIOS EXPERIMENTAIS
0,15
0,25
0,35
0,45
0,55
0,65
0,75
0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20
ângulo de ataque
Cd
Caso A (EXP) Caso B (EXP) Caso C (EXP)
AeroBote: Projeto de um ultraleve pendular
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8 Comparação dos resultados
8.1 Análise dos resultados
O Gráfico 8.1 apresenta a variação do coeficiente de arrasto em função do ângulo de
ataque para as três configurações calculadas numérica e experimentalmente. Verifica-se boa
coerência entre os dados, destacando-se o ponto de menor arrasto por volta de 2º.
Gráfico 8.1 – Comparação dos resultados numéricos e experimentais
Cd x alfa (20m/s)
0,05
0,10
0,15
0,20
0,25
0,30
0,35
0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20
ângulo de ataque
Cd
Caso B (EXP) Caso A (EXP) Caso C (EXP) Caso A (NUM) Caso B (NUM)
8.2 Proposta de solução
Como produto das análises desta seção, propõem-se as seguintes soluções no projeto do
AeroBote:
• Instalação de um canopy na proa da embarcação.
• Vôo nivelado com ângulo de ataque relativo de 2º (ângulo de menor arrasto).
• Dispositivo para ajuste da posição longitudinal do tanque de combustível como controle do centro de gravidade.
8.3 Conclusão
Empregando-se as medidas propostas o desempenho aerodinâmico da aeronave melhora
cerca de 15%.
AeroBote: Projeto de um ultraleve pendular
Gustavo Ássi – Fernando Bresslau 75
Supondo que um motor de 54 HP utiliza 60% de sua potência para manter o AeroBote
em vôo de cruzeiro a 70 km/h (20 m/s). As curvas de performance e consumo do motor são
dadas no catálogo do fabricante apresentado no Anexo 01. Supondo também que o AeroBote
voe cerca de 75% do tempo em missão de cruzeiro. Estimando o preço da gasolina de aviação
em US$1,50 (dólares), a economia do usuário é da ordem 0,3 litros por hora, perfazendo cerca
de US$0,50 por hora.
Claramente percebe-se que a instalação de um canopy contribui para a melhora do
desempenho da aeronave. Mas, as dimensões, geometria, inclinação e demais características do
canopy não foram estudadas neste trabalho. Ou seja, o canopy foi instalado, mas seus
parâmetros não foram otimizados. Certamente, um estudo específico de otimização das
variáveis de projeto do canopy contribuirá ainda mais na maximização do desempenho.
O ajuste do centro de gravidade através do posicionamento do tanque de combustível
contribuirá para nivelar o AeroBote no ângulo de ataque de menor arrasto em qualquer
configuração de vôo. Isto é, suponha que o piloto faça um primeiro vôo com uma criança e, em
seguida, com um adulto. A posição do centro de massa da aeronave certamente será diferente
nos dois vôos, logo, o AeroBote voará com ângulos de ataque diferentes e, conseqüentemente,
desempenhos diferentes. A solução é ajustar a posição do centro de massa para que a aeronave
voe com o ângulo de ataque de projeto nos dois vôos.
AeroBote: Projeto de um ultraleve pendular
Gustavo Ássi – Fernando Bresslau 76
PARTE III: ANÁLISE ESTRUTURAL
AeroBote: Projeto de um ultraleve pendular
Gustavo Ássi – Fernando Bresslau 77
9 Método dos elementos finitos
Na apresentação do dia 22 de setembro foi indicada a intenção do uso dos métodos de
elementos finitos (MEF) para a verificação da estrutura. O plano inicial foi desenvolver todo o
trabalho com a ajuda do pacote de elementos finitos Nastran, e sua interface gráfica Patran.
Em discussão com os professores da banca, porém, foi decidido que uma análise mais
básica de elementos finitos seria feita, de forma menos automatizada, utilizando-se o elemento
de treliça para a resolução por MEF. Dessa forma, o que se mostrará paralelamente nessa seção
será:
• resumida explicação teórica do método;
• aplicação da teoria no modelo proposto.
9.1 Introdução teórica
A análise por elementos finitos consiste em duas etapas:
1. a montagem do modelo e
2. resolução numérica.
O objeto real a ser estudado é uma estrutura tridimensional de tubos de seção
circular de aço inox 304L de 1”1/4 de diâmetro e parede de 3mm. Uma vez que se
trabalhará com medidas no sistema internacional, a medida do diâmetro em milímetros, é
31,75 mm. Por comodidade, tal medida será arredonda, para baixo, por questão de fator de
segurança, para 30 mm.
9.1.1 Elemento de cálculo
Todo objeto a ser modelado é discretizado pelo método dos elementos finitos. Em geral,
o passo dessa discretização, ou seja, o tamanho dos elementos discretos que compõem o objeto
de estudo, defini o nível de aproximação entre o real e o modelado: quanto menor o passo,
melhor a aproximação.
Para o caso estudado, isto não acontece, uma vez que se consegue obter a solução real
de problemas de barras através do MEF.
Idealmente o objeto deveria ser modelado usando-se o elemento de viga. Porém
decidiu-se em usar o elemento de treliça, muito mais simples.
AeroBote: Projeto de um ultraleve pendular
Gustavo Ássi – Fernando Bresslau 78
9.1.1.1 Elemento de viga
O elemento de viga é caracterizado como “uma barra reta, de comprimento muito maior
que as dimensões de sua seção transversal, e pode transmitir forças axiais, momentos fletores
nos planos que contêm seus dois eixos principais do plano da seção mestra transversal da viga,
forças cortantes nos mesmos planos de ação dos momentos fletores e momentos torçores em
relação ao eixo dos centros de torção da viga.” (Alves Filho, 2000, p.97)
Esse tipo de elemento apresenta doze graus de liberdade, o que eleva o número de
cálculos consideravelmente, porém retorna informações mais detalhadas sobre o comportamento
da estrutura.
9.1.1.2 Elemento de treliça
Decidiu-se por usar, devido a tal esforço computacional demasiado, por se usar o
elemento de treliça, que só possui dois graus de liberdade.
O elemento de treliça é muito semelhante geometricamente ao elemento de viga, mas,
ao contrário do elemento de viga, o elemento de treliça transmite apenas forças axiais.
9.1.1.3 Comparação
Fisicamente, a diferença entre os dois tipos de barra se evidencia na junção das barras.
Uma viga está rigidamente fixa às outras vigas da estrutura espacial, e tal junção rígida é a
responsável pela transmissão dos momentos citados acima. Já as barras treliçadas são unidas por
articulações, transmitindo apenas forças.
As forças transmitidas pelas articulações são percebidas por cada barra treliçada apenas
na direção axial da barra, o que facilita ainda mais os cálculos.
9.1.1.4 Justificativa
O principal objetivo de se decidir a usar o método de elementos finitos diretamente, e
não através de um pacote computacional, é garantir um bom entendimento do problema e da
solução gerada.
A geração do modelo é praticamente idêntica no caso do uso de elementos de viga ou
treliça, portanto esta etapa do processo pode ser estudada da mesma forma, independentemente
do elemento escolhido.
A parte computacional fica um pouco diferente, por causa do aumento do número de
graus de liberdade, ao se passar do elemento de treliça para o elemento de viga. Esse fato tem
AeroBote: Projeto de um ultraleve pendular
Gustavo Ássi – Fernando Bresslau 79
uma grande conseqüência: aumenta-se o número de incógnitas e também o número de equações
do sistema a ser resolvido.
É do entender dos formandos que essa complicação extra, embora traga informações
interessantes para o problema, aumentará em demasia a dificuldade de tratamento matemático
do problema, gerando um grande número de cálculos repetitivos.
Dessa forma, sugere-se que o problema seja encarado como um problema de treliças, e
resolvido. O resultado obtido será então analisado quanto à sua consistência.
Se necessárias informações mais detalhadas quanto ao comportamento da estrutura,
deve-se sim passar do elemento de treliça ao elemento de viga, porém então usar o pacote
computacional Nastran/Patran para lidar com a quantidade maior de cálculos.
Um confronto da nova solução com a velha fornecerá a possibilidade de se distinguir
discrepâncias eventuais entre o resultado fornecido pelo software e o esperado.
9.1.2 Matriz de rigidez
O conceito da matriz de rigidez pode ser bem explicado usando-se a analogia de uma
mola.
De acordo com a lei de Hooke, F k x= × .
Analisando matricialmente tal expressão, temos que { } [ ] [ ]F k x= ⋅ , sendo que cada
uma das matrizes acima é, na verdade, uma matriz de uma linha por uma coluna.
A força aplicada é representada pela matriz à esquerda do sinal de igualdade, k
representa o coeficiente de elasticidade da mola e o x é o deslocamento decorrente.
O elemento de mola é o elemento mais simples que se pode usar. Tem apenas um grau
de liberdade, e por isso a sua equação é composta de matrizes unitárias.
Para elementos mais complicados, a forma continua a mesma, porém o conteúdo muda.
As matrizes acima expostas aumentam de tamanho de acordo com o número de graus de
liberdade do elemento e recebem os seguintes nomes, respectivamente:
• matriz de carregamentos;
• matriz de rigidez e
• matriz de deslocamentos.
AeroBote: Projeto de um ultraleve pendular
Gustavo Ássi – Fernando Bresslau 80
9.1.2.1 Matriz de carregamentos
Em geral, boa parte dessa matriz faz parte dos dados fornecidos, ou conhecidos do
problema. Em realidade, o que acontece é que se conhece as forças e/ou momentos externos
atuantes no elemento. São chamados de externos as forças e/ou momentos que os outros
elementos aplicam no elemento analisado, ou então carregamentos reais observados. As
incógnitas da matriz são as forças e/ou momentos de reação, que existem nos pontos em que o
elemento interage com os outros elementos ou com o meio, ou seja, em suas extremidades (nós)
ou em seus vínculos, no último caso. Cada tipo de vínculo restringe um certo conjunto de graus
de liberdade, e surgem as forças e/ou momentos de reação devidos a essas restrições.
No caso do elemento de treliça, são usadas articulações nas conexões entre barras, e
também nos vínculos da estrutura com o seu meio. Portanto, não se espera encontrar momentos
na matriz de carregamentos, e essas posições da matriz de carregamentos são eliminadas.
É importante observar que só se pode aplicar
9.1.2.2 Matriz de deslocamentos
Da mesma forma que as forças externas preenchem parte das matriz de carregamentos
do elemento com dados conhecidos, as restrições dos vínculos impedem certos movimentos de
corpo rígido do elemento, fazendo com que se saiba, dessa forma, que alguns elementos da
matriz de deslocamentos são nulos.
No caso do elemento de treliça, pelo mesmo motivo apresentado na matriz de
carregamentos, não se tem as posições devidas aos deslocamentos rotativos, uma vez que as
rotações impostas a uma barra na treliça são aliviadas imediatamente pela livre rotação da barra
em suas articulações.
9.1.2.3 Construção da matriz de rigidez do elemento
Como visto na parte introdutória deste item, a matriz de rigidez do elemento relaciona
as forças atuantes no elemento e os deslocamentos que ocorrem.
Para uma barra de seção transversal plana e constante, vale a seguinte lei:
E AF dL×
= × .
Novamente, F é a força e d o deslocamento. E é o Módulo de Elasticidade do material,
A é a área da seção transversal e L é o comprimento da barra.
AeroBote: Projeto de um ultraleve pendular
Gustavo Ássi – Fernando Bresslau 81
Como a seção é tida constante, o conjunto de números E A
L×
é constante para cada
elemento. No caso estudado, com se usa apenas um material e um tipo de barra, esse conjunto
será constante para a estrutura inteira.
Fazendo-se o digrama de corpo livre de um elemento de treliça, tem-se os graus de
liberdade indicados na figura abaixo.
Figura 9.1 – Diagrama de corpo livre do elemento de nós 1 e 2 e seu sistema local de coordenadas
A matriz de rigidez para um elemento de mola é: k kk k
−⎡ ⎤⎢ ⎥−⎣ ⎦
.
Como no caso de uma barra a constante k pode ser substituída por E A
L×
, a matriz de
rigidez de um elemento de mola é
E A E AL L
E A E AL L
× ×⎡ ⎤−⎢ ⎥⎢ ⎥
× ×⎢ ⎥−⎢ ⎥⎣ ⎦
.
A expressão completa para o elemento é: 1 1
2 2
E A E Af uL Lf uE A E A
L L
× ×⎡ ⎤−⎢ ⎥⎧ ⎫ ⎧ ⎫= ⋅⎢ ⎥⎨ ⎬ ⎨ ⎬× ×⎩ ⎭ ⎩ ⎭⎢ ⎥−⎢ ⎥⎣ ⎦
.
Coordenadas locais e globais
Uma coisa é analisar o elemento em diagrama de corpo livre, isolado do meio, com um
sistema de coordenadas próprio (na figura, representado pela seta x+. Atenção à grafia
minúscula do nome do eixo).
O sistema de coordenadas é convenientemente alinhado com o comprimento da barra,
de modo que a força, que é sempre axial, tem apenas uma dimensão.
AeroBote: Projeto de um ultraleve pendular
Gustavo Ássi – Fernando Bresslau 82
Outra coisa é analisar a estrutura como um todo. Esta também tem uma matriz de
rigidez, que é formada por uma combinação das matrizes de rigidez de todos os elementos da
estrutura.
Para que se possa juntar os diversos componentes da matriz dos diversos elementos, é
necessário que esses componentes tenham agora um sistema de coordenadas em comum,
chamado global e representado por letras maiúsculas (X, Y, Z). Dessa forma, as forças axiais
atuantes nas barras são decompostas nas direções desse sistema global de coordenadas.
O sistema global, no caso de estruturas espaciais, deve, claramente, ser tridimensional.
Escolhe-se uma origem e três eixos de orientação. É conveniente que a origem coincida com um
nó da estrutura, e, no caso do modelo estudado, a origem se localizará no nó situado no canto
inferior esquerdo traseiro da estrutura. Implicitamente definiram-se também as direções dos
eixos:
• Eixo X: na horizontal, da esquerda para a direita.
• Eixo Y: também na horizontal, perpendicular ao eixo X e orientado de modo que seu
valor aumenta positivamente ao se afastar do observador.
• Eixo Z: na vertical, de baixo para cima. Definido como produto vetorial dos outros dois
eixos, ou pela regra da mão direita.
Matriz de transformação (mudança de base)
A passagem de coordenadas locais para globais ocorre com o uso de uma matriz de
transformação. Mas, para que isso seja possível, as matrizes de rigidez do elemento devem ter as
mesmas dimensões, tanto no sistema local como no global.
Mas vimos que o sistema local é unidimensional, uma vez que as forças e
deslocamentos têm apenas uma componente, enquanto que no sistema global essas entidades
terão três dimensões. Estaremos comparando então uma matriz 2x2 com outra 6x6.
O artifício que se usa nesse caso é ignorar a não-existência das compontes
perpendiculares a x no sistema local. Dessa forma, teremos componentes de forças e
deslocamentos também em y e z. Para que isso não distorça a realidade, atribui-se um valor nulo
a essas componentes. Tem-se então duas matrizes 6x9, que podem ser relacionadas entre si por
uma matriz de transformação.
Matriz 2x2: 1 11 1
E AL
−⎡ ⎤×⋅ ⎢ ⎥−⎣ ⎦
.
AeroBote: Projeto de um ultraleve pendular
Gustavo Ássi – Fernando Bresslau 83
Matriz 9x9:
1 0 0 1 0 00 0 0 0 0 00 0 0 0 0 01 0 0 1 0 0
0 0 0 0 0 00 0 0 0 0 0
E AL
−⎡ ⎤⎢ ⎥⎢ ⎥⎢ ⎥×⋅ ⎢ ⎥−⎢ ⎥⎢ ⎥⎢ ⎥⎢ ⎥⎣ ⎦
.
Resta definir esta matriz de transformação. Ao se representar concomitantemente os
sistemas local e global em relação ao elemento, percebe-se que os eixos do sistema local
formam ângulos com os eixos do sistema global. Esses ângulos serão identificados por um par
de letras: (a,b). A primeira letra sinaliza o eixo de onde parte o ângulo, e a segunda, o eixo a
onde chega. Ou seja, o ângulo (x,X) parte do eixo x e chega ao eixo X.
Para se descrever um ponto no espaço, dado em coordenadas locais, em coordenadas
globais, usa-se A matriz de transformação, ou mudança de base. Esta, por ser uma
transformação linear, funciona da seguinte forma:
11
33
...x a Xy Yz a Z
⎧ ⎫ ⎡ ⎤ ⎧ ⎫⎪ ⎪ ⎪ ⎪⎢ ⎥= ⋅⎨ ⎬ ⎨ ⎬⎢ ⎥⎪ ⎪ ⎪ ⎪⎢ ⎥⎩ ⎭ ⎣ ⎦ ⎩ ⎭
.
Os valores de a11 a a33 são como segue:
11 12 13cos( , ) cos( , ) cos( , )a x X a x Y a x Z= = =
21 22 23cos( , ) cos( , ) cos( , )a y X a y Y a y Z= = =
31 32 33cos( , ) cos( , ) cos( , )a z X a z Y a z Z= = =
Como, no sistema de equações do elemento a ser resolvido é o seguinte:
1 1
1 1
1 1
2 2
2 2
2 2
1 0 0 1 0 00 0 0 0 0 00 0 0 0 0 01 0 0 1 0 0
0 0 0 0 0 00 0 0 0 0 0
x x
y y
z z
x x
y y
z z
f uf u
f uE Af uLf u
f u
⎧ ⎫ ⎧ ⎫−⎡ ⎤⎪ ⎪ ⎪ ⎪⎢ ⎥⎪ ⎪ ⎪ ⎪⎢ ⎥⎪ ⎪ ⎪ ⎪⎢ ⎥×⎪ ⎪ ⎪ ⎪= ⋅ ⋅⎨ ⎬ ⎨ ⎬⎢ ⎥−⎪ ⎪ ⎪ ⎪⎢ ⎥⎪ ⎪ ⎪ ⎪⎢ ⎥⎪ ⎪ ⎪ ⎪⎢ ⎥
⎢ ⎥⎣ ⎦⎪ ⎪ ⎪ ⎪⎩ ⎭ ⎩ ⎭
,
ou, resumidamente,
{ } [ ] { }ef k u= ⋅
AeroBote: Projeto de um ultraleve pendular
Gustavo Ássi – Fernando Bresslau 84
é necessário transformar os elementos dessa equação de coordenadas locais para
coordenadas globais.
Temos, por enquanto, a matriz mudança de fase que faz o contrário:
1
1
1
2
2
2
cos( , ) cos( , ) cos( , ) 0 0 0cos( , ) cos( , ) cos( , ) 0 0 0cos( , ) cos( , ) cos( , ) 0 0 0
0 0 0 cos( , ) cos( , ) cos( , )0 0 0 cos( , ) cos( , ) cos( , )0 0 0 cos( , ) cos( , ) cos(
x
y
z
x
y
z
f x X x Y x Zf y X y Y y Zf z X z Y z Zf x X x Y x Z
y X y Y y Zfz X z Y zf
⎧ ⎫⎪ ⎪⎪ ⎪⎪ ⎪⎪ ⎪ =⎨ ⎬⎪ ⎪⎪ ⎪⎪ ⎪⎪ ⎪⎩ ⎭
1
1
1
2
2
2, )
X
Y
Z
X
Y
Y
FFFFF
Z F
⎧ ⎫⎡ ⎤⎪ ⎪⎢ ⎥⎪ ⎪⎢ ⎥⎪ ⎪⎢ ⎥ ⎪ ⎪⋅⎨ ⎬⎢ ⎥⎪ ⎪⎢ ⎥⎪ ⎪⎢ ⎥⎪ ⎪⎢ ⎥
⎢ ⎥ ⎪ ⎪⎣ ⎦ ⎩ ⎭.
Como não há mudança nos comprimentos dos vetores devidas a essa transformação, ou
seja, x x X X⋅ = ⋅r rr r
, se a matriz mudança de base for chamada de [ ]T , então [ ] [ ]TT T I= e,
portanto, [ ] [ ] 1TT T −= . Assim, { } [ ] { }TF T f= ⋅ . Analogamente, { } [ ] { }TU T u= ⋅ .
O sistema do elemento, em coordenadas globais, é: [ ] { } [ ] [ ] { }eT F k T U⋅ = ⋅ ⋅ .
Multiplicando ambos os membros da equação por [ ] 1T −,
[ ] [ ] { } [ ] [ ] [ ] { } [ ] { } [ ] [ ] [ ] { }{ } [ ] [ ] [ ] { }
1 1 1
1 .e e
e
T T F T k T U I F T k T U
F T k T U
− − −
−
⋅ ⋅ = ⋅ ⋅ ⋅ ⇔ ⋅ = ⋅ ⋅ ⋅
⇔ = ⋅ ⋅ ⋅
Essa relação acima permite que se obtenha a matriz de rigidez do elemento em
coordenadas globais: [ ] [ ] [ ] [ ]T
e eK T k T= ⋅ ⋅ .
9.1.2.4 Construção da matriz de rigidez da estrutura
A partir das matrizes de rigidez dos elementos, montar-se-á a matriz de rigidez da
estrutura. Isso agora é possível, com as matrizes de rigidez dos elementos em coordenadas
globais.
Para tanto, é necessário identificar unicamente cada elemento da estrutura, e, ainda
mais, indicar o seu sentido, estabelecendo inequivocamente os seus nós 1 e 2, para que se possa
AeroBote: Projeto de um ultraleve pendular
Gustavo Ássi – Fernando Bresslau 85
definir os ângulos do eixo x local em relação aos eixos globais. A orientação não precisa seguir
critério algum, porém tem que ser estabelecida.
Considere-se no momento que a estrutura tem N nós. Cada nó tem 3 graus de liberdade.
A estrutura tem, ao todo, 3*N graus de liberdade, e, portanto, 3*N componentes de força e 3*N
componentes de deslocamento.
Forças nodais: { }
1
2
3 1
3
...
N
N
FF
FFF
−
⎧ ⎫⎪ ⎪⎪ ⎪⎪ ⎪= ⎨ ⎬⎪ ⎪⎪ ⎪⎪ ⎪⎩ ⎭
.
Deslocamentos nodais: { }
1
2
3 1
3
...
N
N
UU
UUU
−
⎧ ⎫⎪ ⎪⎪ ⎪⎪ ⎪= ⎨ ⎬⎪ ⎪⎪ ⎪⎪ ⎪⎩ ⎭
.
Deve-se identificar a seguir os ângulos formados por cada eixo de orientação de cada
elemento, especificamente o eixo x, que identifica a direção axial do elemento. Desses ângulos
tira-se os cossenos, e pode ser prático montar uma tabela com esses valores, e provavelmente
seus produtos. É de se esperar que muitos valores sejam repetidos, talvez facilitando o trabalho
computacional.
Com essas informações, e as informações do material e geometria do elemento (E, A,
L), monta-se as matrizes de rigidez de cada elemento. Nessa etapa, as colunas e linhas das
matrizes devem ser numeradas de acordo com a força nodal e o deslocamento nodal que
representam. Por exemplo, se o elemento 4 tiver as forças nodais de F19 a F25 (19 a 21 para o
primeiro nó e 22 a 25 para o segundo), deslocamentos correspondentes, então suas linhas serão
numeradas de acordo.
A matriz de rigidez da estrutura terá 3*N linhas e colunas. Para compor o elemento (i,j)
da matriz, soma-se todos os componentes (i,j) das matrizes de rigidez dos elementos que têm os
graus de liberdade i e j.
AeroBote: Projeto de um ultraleve pendular
Gustavo Ássi – Fernando Bresslau 86
Ao se montar as matrizes coluna (vetores) das forças e deslocamentos nodais, deve-se
ter o trabalho de se separar as forças aplicadas das reações. Os deslocamentos estarão
relacionados com os vínculos aplicados, e com as forças existentes. Forças de reação indicam a
existência de um grau de liberdade travado, então sabe-se que nesse grau de liberdade o
deslocamento é nulo. As incógnitas ficam então por conta dos deslocamentos dos nós não
vinculados e por conta das forças de reação. Se bem montada, a equação matricial fica da
seguinte forma:
11 12
21
GLs restritos(deslocamentos=0)Reações Relaciona
forças aplicadas Forças aplicadas Deslocamentos com deslocamentos incógnitasincógnitas
K K
K
⎡ ⎤ ⎧ ⎫⎢ ⎥ ⎪ ⎪⎧ ⎫ ⎢ ⎥⎪ ⎪ ⎪ ⎪= ⋅⎨ ⎬ ⎨ ⎬⎢ ⎥⎪ ⎪ ⎪ ⎪⎢ ⎥⎩ ⎭
⎪ ⎪⎢ ⎥ ⎩ ⎭⎣ ⎦
.
Resolve-se então as seguintes equações:
{ } [ ] { } [ ] { }11 12Desl. Desl.Re nulos incog.K K= ⋅ + ⋅
e
{ } [ ] { } [ ] { }21 22Desl. Desl.F. aplic nulos incog.K K= ⋅ + ⋅ .
Ora, { }Desl.nulos realmente é nulo, portanto os primeiros elementos dos membros da direita
das equações podem ser eliminados. Determina-se inicialmente os deslocamentos incógnitas
pela segunda equação, e, inserindo os na primeira equação, obtém-se as reações, resolvendo-se
o problema.
9.2 Modelagem em CAD (Computer Aided Design)
O método dos elementos finitos só poderá ser aplicado a um modelo geométrico
construído e referenciado de acordo com as técnicas estabelecidas na seção anterior.
AeroBote: Projeto de um ultraleve pendular
Gustavo Ássi – Fernando Bresslau 87
A partir das fotos já mostradas anteriormente foi construída uma estrutura real em
sistema CAD.
As suas vistas são mostradas abaixo.
Figura 9.2 - Vista isométrica do modelo em CAD
Na figura acima pode-se notar o sistema de coordenada global, e numeração e
orientação de uma barra e seus nós.
AeroBote: Projeto de um ultraleve pendular
Gustavo Ássi – Fernando Bresslau 88
Figura 9.3 - vista lateral
Figura 9.4 - vista de topo
AeroBote: Projeto de um ultraleve pendular
Gustavo Ássi – Fernando Bresslau 89
Figura 9.5 - vista anterior
As características do material analisado são as seguintes:
• Módulo de elasticidade, ou de Young: 190 GPa;
• Tensão de escoamento: 520 MPa;
• Tensão de ruptura: 860 MPa;
• Coeficiente de Poisson: 0,3;
• Densidade: 7920kg/m3.
A seção transversal, como comentado anteriormente, é anular, com diâmetro externo de
30 mm e diâmetro interno de 24 mm.
9.3 Desenvolvimento do programa computacional
Foi desenvolvido com êxito um programa computacional, baseado no software
Mathematica, que resolve exatamente estruturas treliçadas tridimensionais. Ver Anexo 03.
O programa foi testado em exemplos de estruturas sob o efeito de esforços cujos
resultados já são conhecidos, o que provou o bom funcionamento do programa.
AeroBote: Projeto de um ultraleve pendular
Gustavo Ássi – Fernando Bresslau 90
O algoritmo do programa segue a metodologia exposta anteriormente, baseada em
Alves Filho, 2000, e, portanto, não será discutido extensivamente.
Preparação dos dados de entrada do programa
O programa desenvolvido precisa dos seguintes dados de entrada:
• Nós e seus respectivos graus de liberdade
• Barras e seus respectivos nós iniciais e finais
• Comprimentos das barras
• Posicionamento espacial das barras (em ângulos)
• Características da seção transversal
• Características do material
É conveniente que se explique como alguns desses dados devem ser colocados e
inseridos no programa.
9.3.1 Nós e respectivos graus de liberdade
Os dados têm a forma de uma vetor coluna cujo cada elemento é um vetor linha de três
elementos.
O primeiro passo é numerar cada nó da estrutura. Essa numeração não necessita de
nenhuma ordem específica, porém, uma vez estabelecida, não poderá ser mudada.
O segundo passo é numerar os graus de liberdade. Nesse caso a ordem é de suma
importância, e é imprescindível que os primeiros graus de liberdade a serem numerados são
aqueles restringidos por restrições de movimento. Tal passo é importante pois essa numeração
dividirá a matriz de rigidez da estrutura em quatro quadrantes.
No vetor criado, as informações são assim armazenadas:
• A posição no vetor coluna é o número do nó
• A posição em cada vetor linha é a identificação do grau de liberdade: 1=x, 2=y, 3=z.
AeroBote: Projeto de um ultraleve pendular
Gustavo Ássi – Fernando Bresslau 91
Figura 9.6 - Nós e seus graus de liberdade
9.3.2 Barras e seus respectivos nós iniciais e finais
Os dados têm a forma de uma matriz com B linhas e 2 colunas, sendo B o número de
barras da estrutura.
Deve-se começar numerando as barras. Novamente, a ordem da numeração não importa,
porém não deve ser mudada.
Após a numeração das barras, estas recebem um sentido.
As barras são identificadas pelos nós que elas ligam, e seu sentido é determinado pela
ordem em que os nós aparecem na linha da matriz correspondente ao número da barra.
AeroBote: Projeto de um ultraleve pendular
Gustavo Ássi – Fernando Bresslau 92
Figura 9.7 - barras e seus nós orientados
9.3.3 Posicionamento espacial das barras (em ângulos)
Além de ser necessário indicar a direção da barra no espaço definido pelo sistema de
coordenadas globais, é necessário indicar as direções dos eixos de coordenadas dos sistemas
locais. Para tanto, é necessário medir os nove ângulos entres os dois sistemas de coordenadas.
Esse trabalho é feito no sistema de CAD, porém é muito vagaroso e repetitivo.
Os ângulos são colocados em B matrizes quadradas de 9 elementos que são os B
elementos de um vetor coluna.
AeroBote: Projeto de um ultraleve pendular
Gustavo Ássi – Fernando Bresslau 93
Figura 9.8 - posição angular dos elementos
Execução do programa
Uma vez com os dados prontos, o programa foi rodado. O resultado obtido foi
insatisfatório, com deslocamentos na ordem de 1011 metros. Claramente, ocorreu um problema
numérico, o cálculo não convergiu.
AeroBote: Projeto de um ultraleve pendular
Gustavo Ássi – Fernando Bresslau 94
Para tentar resolver esse problema, uma série de hipóteses foi imaginada, e cada
hipótese foi testada.
9.3.4 Hipóteses de falha
9.3.4.1 Falha no programa escrito
Para se ter certeza de que o programa escrito está correto, foram inseridos no programa
os dados de um problema mais simples, bidimensional, com resultados conhecidos. O programa
funcionou perfeitamente. Ver Anexo 04.
Figura 9.9 - estrutura bidimensional de teste
Não obstante, o problema bidimensional foi transformado em tridimensional e inserido
novamente no programa. Os resultados bateram mais uma vez.
Figura 9.10 - estrutura tridimensional de teste
AeroBote: Projeto de um ultraleve pendular
Gustavo Ássi – Fernando Bresslau 95
Conclusão: o programa calcula corretamente estruturas de treliças tridimensionais em
equilíbrio.
9.3.4.2 Inconsistência nos dados de entrada
Como pode ser percebido nas matrizes apresentadas acima, os dados de entrada podem
ser confusos.
Grande atenção deve ser dada à numeração dos nós, barras e graus de liberdade. Os
procedimentos descritos anteriormente devem ser seguidos à risca.
Um aspecto em particular deve receber maior atenção: a localização angular das barras
no espaço. Isso pois o sistema local de coordenadas pode ser definido de infinitas formas, pois a
sua rotação em torno do eixo local x é livre. Não obstante, um procedimento para a definição do
posicionamento dos eixos locais de coordenadas deve ser adotado.
O seguinte método foi adotado:
1. um triedro de vetores representantes das direções principais do sistema global de
coordenadas é deslocado ao primeiro nó da barra;
2. o conjunto é rotacionado no plano definido pelo vetor da direção X e pela barra
estudada, de modo que o vetor X coincida com esta.
Um outro procedimento que pode ser adotado, e que talvez seja útil se se quiser
automatizar a definição dos sistemas locais de coordenadas consiste em se alinhar o eixo local x
com a barra, e os eixos y e z com os planos definidos pelos eixos Y e Z e a barra,
respectivamente. Mais sobre isso será discutido na seção que tratará sobre as recomendações
para o desenvolvimento futuro do trabalho aqui proposto.
Figura 9.11 - Sistema de coordenadas locais alinhado de acordo com o primeiro método
Os dados de entrada foram rigorosamente examinados, e alguns erros foram detectados.
Porém, mesmo após a correção destes erros, a falha persistiu.
9.3.4.3 Falha do solver numérico do Mathematica
O problema poderia ser endêmico ao ambiente no qual o programa foi escrito, o
Mathematica.
AeroBote: Projeto de um ultraleve pendular
Gustavo Ássi – Fernando Bresslau 96
Para eliminar tal hipótese, a matriz de rigidez encontrada, e o vetor de esforços foram
exportados e transformados para um formato legível no MatLab, e a solução foi buscada nesse
novo ambiente. O resultado foi novamente de divergência numérica.
9.3.4.4 Estrutura fora do equilíbrio
A segunda hipótese levou em consideração que os dados fornecidos ao programa são de
uma estrutura fora do seu ponto de equilíbrio. Aplicadas as forças, a tendência da estrutura é se
deslocar ao ponto de equilíbrio, causando grandes deslocamentos.
Teste aplicado: mudou-se o vetor de carregamentos para um que contivesse apenas três
forças dimensionadas de modo que o Centro de Gravidade da estrutura ficasse abaixo do ponto
de apoio (articulação), caracterizando uma estrutura em equilíbrio.
Resultado: ainda assim a estrutura não foi calculada pelo programa.
Figura 9.12 - vetor de carregamentos alternativo
9.3.4.5 Estrutura “destravada”
Um outro teste que foi feito usando-se o vetor de carregamentos foi a verificação da
existência de movimento de corpo rígido para parte da estrutura.
AeroBote: Projeto de um ultraleve pendular
Gustavo Ássi – Fernando Bresslau 97
Como o método dos elementos finitos funciona bem apenas para ângulos (ou
deslocamentos) pequenos, caso a estrutura não está “travada” corretamente, deslocamentos
angulares de algumas barras podem ser muito grandes, levando a uma degeneração da matriz de
rigidez.
Esse caso foi verificado com a aplicação gradativa de esforços na estrutura. Caso a
hipótese estivesse correta, o programa funcionaria bem para pequenas cargas, atingindo um
ponto a partir do qual a resposta divergiria.
O verificado foi que, para se obter respostas na ordem de grandeza de metros, os
esforços aplicados teriam que ser da ordem de 10-11 kgf.
9.3.4.6 Estrutura hipoestática
A estrutura apresentada é hipoestática, uma vez que apresenta movimentos de corpo
rígido nas três rotações da articulação de apoio.
Embora se esperasse que o programa, uma vez com a estrutura em equilíbrio, não
“percebesse” que a estrutura fosse hipoestática, essa alternativa foi devidamente estudada.
Programou-se uma estrutura hipoestática simplificada, semelhante à estrutura real.
Figura 9.13 - estrutura hipoestática semelhante
Os resultados foram coerentes e parecem corretos. Conclusão: o programa calcula
estruturas hipoestáticas.
Outro teste relacionado foi a transformação da estrutura hipoestática em uma estrutura
isoestática. Os resultados de ambos os casos devem ser interpretados diferentemente, mas, como
se pode ver,.são correspondentes.
AeroBote: Projeto de um ultraleve pendular
Gustavo Ássi – Fernando Bresslau 98
Figura 9.14 - estrutura isoestática
Resultados computacionais
Estrutura triangular hipoestática
Figura 9.15 - matriz de deslocamentos
Figura 9.16 - Reações (x, y, z) no apoio
Estrutura triangular isoestática
Figura 9.17 - matriz de deslocamentos
AeroBote: Projeto de um ultraleve pendular
Gustavo Ássi – Fernando Bresslau 99
Figura 9.18 - Reações (x, y, z) no apoio (dois nós)
Comparação
Os deslocamentos em ambos os casos podem ser considerados idênticos, excetuando-se
a inversão de seus sinais. Aparece também, no caso hipoestático um pequeno deslocamento em
X nos dois pontos de aplicação das forças. Como esses deslocamentos são de uma ordem de
grandeza inferior aos outros, podem ser desconsiderados.
Já nas forças de reação aparecem duas forças em X inesperadas no segundo caso. Como
ambas são de módulo igual e sinal oposto, cancelam-se. Poderia-se, por isso, desconsiderá-las.
Por outro lado, talvez se verificasse o deslocamento causado por essas forças nas duas
barras da base da estrutura, talvez se chegasse aos deslocamentos em X nesses nós comentados
para a primeira estrutura.
A conclusão desse teste, além da prova do funcionamento pleno do programa para
estruturas hipoestáticas, é que é possível analisar a estrutura coerentemente, mesmo após a sua
transformação para uma estrutura isostática.
Essa transformação não foi aplicada à estrutura do aerobote, e poderia ficar como
sugestão de teste futuro, caso não se consiga resolver a estrutura de outras formas.
9.3.4.7 Abandono do programa
Devido ao problema, aparentemente de convergência numérica, e levando em
consideração o curto tempo disponível para a busca de resultados, decidiu-se por abandonar o
programa escrito no Mathematica e partir para o uso de um pacote comercial.
A decisão, embora difícil, é coerente. A proposta da programação de um software de
elementos finitos teve, como principal motivador, o objetivo de aprendizado do método. Como
o programa se mostrou funcional, pelo menos para estruturas mais simples que a analisada, de
maneira convincente, o objetivo foi alcançado. O problema não está na lógica da programação,
mas sim no tratamento numérico usado pelo ambiente, ao qual não se tem acesso.
9.3.4.8 Tentativa com o Nastran
No início da investigação das possibilidades de resolução do problema, foram
analisados com mais detalhes o programa de MEF Nastran, e seu interpretador gráfico Patran.
AeroBote: Projeto de um ultraleve pendular
Gustavo Ássi – Fernando Bresslau 100
Embora tenha-se feito um breve curso de Nastran com o aluno de pós-graduação Fábio
Okamoto, ficou rapidamente claro que não seria possível chegar a resultados numéricos com o
pouco tempo disponível.
Com a ajuda do Engenheiro Fábio Okamoto, importou-se a estrutura em formato IGES
(CAD) para o Nastran, e uma tentativa rápida de resolução, com valores aproximados foi feita.
Houve também uma divergência numérica, mais especificamente, os elementos da diagonal da
matriz de rigidez ficaram grandes demais.
O após essa breve tentativa, que deixou claro que a resolução do problema iria
demandar muito tempo, e levando-se em conta que não se teria a disponibilidade do programa, o
Nastran foi abandonado.
9.3.4.9 Resolução pelo método de somatória de forças
Embora tenha-se preterido a resolução analítica do problema em prol do aprendizado do
método dos elementos finitos, uma tentativa de se resolver a estrutura dessa maneira foi
realizada.
O início do programa é idêntico, com a declaração da geometria, características da
seção, do material, etc. A diferença é que o sistema de equações a ser montado é diferente.
O princípio baseia-se no equilíbrio de forças em cada nó da estrutura. Para que este
esteja em equilíbrio, ou seja, não tenha aceleração, pelo Teorema do Baricentro, a resultante nó
deverá ser nula. Aplicando-se este princípio para cada nó, tem-se u número suficiente de
equações.
Abaixo ilustra-se o processo no programa. Preferiu-se por indicar manualmente o nó
estuda e as barras que chegam ou partem desse nó, pois a programação da automação desse
processo, embora simples, é muito passível de erros de digitação.
Montagem das equações
Forças axiais
Nó 1
Barra 1
AeroBote: Projeto de um ultraleve pendular
Gustavo Ássi – Fernando Bresslau 101
X
Y
Z Barra 2
X
Y
Z Barra 3
X
Y
Z Figura 9.19 – resolução pelo método das forças em equilíbrio
Note-se que a cada barra que é analisada a força axial dessa barra, ainda incógnita, é
decomposta nas três direções principais do sistema global de coordenadas e somada ao vetor de
carregamentos, que posteriormente deverá ser igualado a zero, constituindo, então, um sistema
de equações.
Este processo não foi terminado devido ao atraso no cronograma, porém espera-se um
bom desempenho do programa.
AeroBote: Projeto de um ultraleve pendular
Gustavo Ássi – Fernando Bresslau 102
9.3.5 Conclusões sobre o estudo estrutural
A obtenção das forças atuantes nos elementos da estrutura, que inicialmente seria um
processo direto, foi desdobrada no estudo do Método dos Elementos Finitos e na confecção de
um programa próprio para tal obtenção. É claro que isso demandou mais tempo do que o
previsto, uma vez que, inicialmente, planejava-se apenas desenhar a estrutura e usar uma
ferramenta computacional pronta para a sua análise.
Além desse imprevisto aumento de trabalho para a análise da estrutura, as complicações
com o lado operacional da proposta desarranjaram ainda mais o cronograma, de modo que não
se obteve os resultados numéricos esperados, nem tampouco se pode fazer a análise da
adequação da solução ou a proposição de outras soluções.
Entretanto, o resultado desta análise foi positivo. O resultado mais palpável deste
processo consiste em um programa para resolução exata de estruturas de treliças pelo Método
dos Elementos Finitos, escrito em Mathematica, que pode ser facilmente utilizado para outras
estruturas.
A metodologia aqui seguida também se mostrou coerente, e, junto com a metodologia
mais geral apresentada por Barros, poderá ser seguida futuramente em estruturas similares.
O aprendizado do método de elementos finitos ocorreu de fato, e maior proficiência em
programação também foi adquirida.
Provou-se ainda que o programa escrito resolve sem problemas estruturas hipoestáticas,
e que estas podem ser transformadas em estruturas isostáticas equivalentes.
Recomendações para o seguimento do trabalho
Não se pode concluir o projeto da aeronave sem o estudo criterioso da estrutura.
Portanto, este deverá ser terminado, e, para tanto, algumas recomendações podem ser
observadas.
9.4 Método dos elementos finitos
9.4.1 Programa próprio
O programa apresentado no Anexo 01 deve ser utilizado para a resolução do problema.
Porém a definição da geometria da estrutura deverá ser completamente revista.
Inicialmente, deve-se conferir se todas as partes da estrutura realmente não apresentam
movimento de corpo rígido. É possível que barras extras sejam inseridas na estrutura, e a
necessidade destas deve ser verificada.
AeroBote: Projeto de um ultraleve pendular
Gustavo Ássi – Fernando Bresslau 103
A numeração dos nós, barras e graus de liberdade deverá ser toda refeita e devidamente
documentada.
Finalmente, a determinação dos ângulos que definem a posição espacial de cada barra
deverá ser revista. Os métodos mencionados anteriormente poderão ser usados, dando-se
preferência ao segundo método. O ideal, na verdade, seria uma mudança mais profunda nesta
parte do programa.
Atualmente, a geometria da estrutura é definida polarmente. Ou seja, tem-se a posição
do primeiro nó, definido como origem do sistema de coordenas globais, os comprimentos das
barras e seus ângulos. Sugere-se que tal método seja trocado por um método de coordenadas
cartesianas.
Deve-se localizar os nós em relação à origem do sistema de coordenas globais,
anotando-se as suas coordenadas X, Y e Z. A partir dessas coordenadas, os outros dados
geométricos, nominalmente os comprimentos de barras e as suas orientações espaciais (ângulos)
deverão ser calculados pelo Teorema de Pitágoras. A definição dos eixos x e y locais deverá
seguir o segundo método descrito anteriormente.
Se essa atitude for tomada, o uso do programa para outras estruturas será ainda mais
simplificado, e a única entrada de dados geométricos será o vetor de posições dos nós. Assim
evita-se o grande risco de erros de digitação que certamente ocorreram na declaração, por
exemplo, do vetor de ângulos. A automação da definição de sistemas de coordenadas locais
também evitará confusões de orientação.
9.4.2 Análise de tensões
Quanto à análise dos resultados obtidos, algumas sugestões também poderão ser feitas.
Para que se possa aplicar os fatores de segurança, deve-se antes de mais, nada, a partir das
forças obtidas com o programa, calcular as tensões nas barras, compará-las com as tensões de
escoamento do material.
9.4.3 Elementos de barras
Vale lembrar que o programa modela a estrutura por elementos de treliça. Como
explicado no texto, o melhor elemento para a situação seria o elemento de barra. Desta forma,
uma análise que use elementos de barra em um pacote comercial de Elementos Finitos é muito
recomendável, para se ter também os valores dos momentos nos nós.
AeroBote: Projeto de um ultraleve pendular
Gustavo Ássi – Fernando Bresslau 104
9.5 Otimização da estrutura
No presente trabalho ofereceu-se uma solução alternativa à encontrada no mercado. O
objetivo inicial era que essa solução fosse melhor que a já existente. Porém não existiu a
proposta de que esta solução fosse ótima.
O programa de treliças resultante deste trabalho pode ser aproveitado para a busca de
solução ótima, que posteriormente poderá ser detalhada em um programa mais poderoso de
elementos finitos, como mencionado acima.
As principais variáveis para essa otimização seriam:
• material;
• seção transversal;
• número e disposição das barras.
A função objetivo poderia conter como fatores o peso total da estrutura, sua área
projetada no plano YZ, seu custo em matéria prima e facilidade de construção.
AeroBote: Projeto de um ultraleve pendular
Gustavo Ássi – Fernando Bresslau 105
REFERÊNCIAS
AeroBote: Projeto de um ultraleve pendular
Gustavo Ássi – Fernando Bresslau 106
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AeroBote: Projeto de um ultraleve pendular
Gustavo Ássi – Fernando Bresslau 107
ANEXOS
AeroBote: Projeto de um ultraleve pendular
Gustavo Ássi – Fernando Bresslau 108
10 ANEXO 01: Documentação do Projeto
10.1 Desenhos em vista dimensional
Figura 10.1 – Vista lateral (dimensões em metros)
AeroBote: Projeto de um ultraleve pendular
Gustavo Ássi – Fernando Bresslau 109
Figura 10.2 – Vista de planta (dimensões em metros)
Figura 10.3 – Vistas de frente e de trás (dimensões em metros)
AeroBote: Projeto de um ultraleve pendular
Gustavo Ássi – Fernando Bresslau 110
10.2 Perspectiva ilustrativa
Figura 10.4 – Perspectiva ilustrativa
10.3 Motor
Figura 10.5 – Dados do motor Rotax 503
Figura 10.6 – Curvas de desempenho do motor Rotax 503
AeroBote: Projeto de um ultraleve pendular
Gustavo Ássi – Fernando Bresslau 111
Figura 10.7 – Desenho dimensional do motor Rotax 503
AeroBote: Projeto de um ultraleve pendular
Gustavo Ássi – Fernando Bresslau 112
11 ANEXO 02: Legislação
O AeroBote, assim como os trikes terrestres, são classificados como aeronaves
ultraleves desportivas de acordo com a portaria normativa do DAC - Departamento de Aviação
Civil (DAC Nº 927/DGAC, 04 de junho de 2001) que define:
“Veículo Ultraleve” ou “Ultraleve”, significa uma aeronave muito leve
experimental tripulada, usada ou que se pretenda usar exclusivamente em operações aéreas
privadas, principalmente desporto e recreio, durante o horário diurno, em condições visuais,
com capacidade para 2 (dois) ocupantes no máximo, podendo ser autopropulsado, ou não
(...)
Este artigo cita o Regulamento Brasileiro de Homologação Aeronáutica – RBHA 103A
- que dispõe sobre veículos ultraleves. Deste regulamento destacam-se os seguintes artigos:
103.7– FABRICAÇÃO E MONTAGEM
(a) As empresas fabricantes de veículos ultraleves ou conjuntos
para montagem de veículos ultraleves devem cumprir o previsto no RBHA
38.
(b) As pessoas interessadas em projetar, construir, montar ou efetuar grandes
modificações em veículos ultraleves, devem cumprir o previsto no RBHA 37.
103.27 – ENTIDADES REPRESENTATIVAS (ASSOCIAÇÕES)
(b) Para efeito de representação perante a Autoridade Aeronáutica, os veículos
ultraleves são agrupados nos seguintes tipos:
(3) Ultraleves - englobando veículos auto-propulsados de controle pendular (“trike”,
“flying-boat”, etc), sustentados por velame (“paramotor”) e demais aeronaves
aerodinamicamente convencionais.
A operação e construção do AeroBote devem seguir as normas contidas nos
Procedimentos para a Construção Amadora de Aeronaves Experimentais, de onde destacam-se
os artigos:
37.3 – DEFINIÇÕES
(a) Aeronave experimental de construção amadora: É toda aeronave construída por
um amador e para a qual não foi possível demonstrar à Autoridade Aeronáutica o
cumprimento de todos os itens dos padrões de aeronavegabilidade aplicáveis a ela.
37.5 - GERAL
(a) Ninguém pode operar, em território brasileiro, uma aeronave experimental
construída por amador, a menos que exista um Certificado de Marca Experimental e um
Certificado de Autorização de Vôo, Experimental, válidos, emitidos pelo Departamento de
Aviação Civil para a aeronave.
AeroBote: Projeto de um ultraleve pendular
Gustavo Ássi – Fernando Bresslau 113
(b) A construção amadora de uma aeronave experimental pode ser efetuada a
partir de:
(1) Projeto desenvolvido pelo próprio interessado.
(2) Plantas e desenhos fornecidos por pessoas diretamente detentoras dos
direitos sobre os mesmos, ou por terceiros autorizados para tanto.
(3) Peças existentes de modelos de aeronaves homologadas no Brasil ou no
exterior.
(4) Conjuntos fabricados por terceiros.
37.27 – PROJETO
(a) O projeto deve prever proteção contra cantos, bordas cortantes e saliências que
possam causar ferimentos aos ocupantes.
(b) É exigida a instalação de cintos de segurança, abdominais e de ombro, para
cada ocupante, de preferência aprovados para uso aeronáutico. Para aeronaves ultraleves é
facultada a utilização apenas de cinto abdominal.
(c) A aeronave deve ser provida de meios adequados de proteção contra fogo. Deve
haver uma "parede de fogo" isolando o compartimento do motor do resto do avião. Pelo
menos um extintor de incêndio deve equipar a cabine, em local acessível para uso em vôo,
exceto quando se tratar de aeronave ultraleve.
(d) Ninguém pode introduzir modificações em projetos já comprovados pelo
número de horas de vôo acumuladas sem antes realizar estudos suficientes que permitam
verificar a viabilidade de introduzi-las.
(e) O projeto de tanques de combustível deve prever espaço para expansão de
gases, decantação, suspiro e sistema de drenagem.
37.29 - CONSTRUÇÃO
(a) Os interessados na construção de aeronaves experimentais devem adquirir e se
familiarizar com as informações constantes nas publicações aplicáveis ao tipo de aeronave
que pretende construir.
(b) A instalação do grupo moto-propulsor deve ser submetida a um teste de, pelo
menos, 30 (trinta) minutos de operação no solo, nas várias rotações, a partir da marcha lenta
até a potência máxima, simulando as situações mais críticas, a fim de se certificar que todos
os sistemas associados estão operando adequadamente.
(c) Deve ser utilizado combustível recomendado pelo fabricante do motor.
(d) Não é exigida a utilização de materiais aprovados para uso aeronáutico na
construção de aeronaves experimentais. Entretanto:
(1) Sempre que forem utilizados materiais não aprovados para uso
aeronáutico, eles deve ser submetidos a ensaios a fim de se verificar se suas propriedades e
características são adequadas à utilização pretendida; e
AeroBote: Projeto de um ultraleve pendular
Gustavo Ássi – Fernando Bresslau 114
(2) Em função das características e da complexidade da construção ou
modificação, o DAC pode exigir a utilização de materiais aprovados para a utilização
aeronáutica, tais como: hélices, motores, cubos de roda, freios, polias, rebites, parafusos,
arruelas, porcas, fiação, cabos de comando, esticadores e matéria prima para construção de
longarinas de asas, ferragens de fixação e outros elementos da estrutura primária.
(e) Serviços especiais tais como soldagem, usinagem, rebitagem, etc, devem ser
executados por pessoas experientes no tipo de serviço.
(f) Partes estruturais feitas em materiais compostos (fibra de vidro, fibra de
carbono, etc.) devem ser feitas segundo normas e processos de uso industrial aprovados.
(g) Cada tanque convencional de combustível, metálico ou não-metálico, com
paredes não suportadas pela estrutura adjacente da aeronave, deve ser submetido a um
ensaio de pressão hidrostática e deve suportar, sem falha ou vazamento, a pressão de 24,13
kPa (3,5 psig) ou aquela pressão desenvolvida durante a aplicação do fator de carga
máximo de manobra com o tanque totalmente abastecido, a que for maior. Cada tanque
integral e cada tanque não-metálico com paredes suportadas pela estrutura adjacente da
aeronave deve ser submetido a um ensaio de pressão hidrostática com valor de pressão a ser
definido por pessoal técnico especializado.
(h) Deve ser instalado um sistema para drenagem e ventilação em caixas fechadas
para baterias.
Finalmente o AeroBote deve estar de acordo com o Regulamento Europeu JAR-VLA, como registrado
acima. Este código está sob análise e suas conclusões relevantes serão apresentadas oportunamente.
(i) A seu critério, sempre que surgirem dúvidas sobre a resistência ou
comportamento de partes, peças ou conjuntos estruturais, o DAC pode determinar que o
artigo seja submetido a ensaios estáticos e/ou dinâmicos no solo, podendo, inclusive, exigir
acompanhamento técnico do CTA durante a realização de tais ensaios.
A aeronave ainda deve satisfazer os Requisitos de Aeronavegabilidade descritos no RBHA 26, donde
destacam-se os seguintes artigos:
Portaria nº 316/DGAC, de 24 de setembro de 1991
Aprova a Norma que estabelece os requisitos de aeronavegabilidade para aviões
muito leves.
1- GERAL
Para concessão de certificados de homologação de tipo de aviões muito leves será
adotado integralmente o Regulamento Europeu JAR-VLA, em inglês com todas as suas
emendas e apêndices.
AeroBote: Projeto de um ultraleve pendular
Gustavo Ássi – Fernando Bresslau 115
12 ANEXO 03: Programa desenvolvido, com os dados de entrada da estrutura estudada
12.1 Declaração da geometria da estrutura
12.1.1 Nós e seus graus de
liberdade
12.1.2 Barras e seus nós,
indicando direção (do nó 1
ao nó 2)
AeroBote: Projeto de um ultraleve pendular
Gustavo Ássi – Fernando Bresslau 116
12.1.3 Comprimentos das barras
(mm)
12.1.4 Ângulos do sistema de
coordenadas local em
relação ao sistema de
coordenadas global
AeroBote: Projeto de um ultraleve pendular
Gustavo Ássi – Fernando Bresslau 117
12.1.5 Módulo de elasticidade
(de Young) do material
12.1.6 Características da seção
transversal (mm)
12.1.7 Peso da estrutura (em kgf)
12.2 Declaração de Forças e deslocamentos
12.2.1 Forças de reação
12.2.2 Forças aplicadas
12.2.2.1 Pesos e Forças na estrutura (em coordenadas globais, em kgf)
Tripulante:
Combustível
Motor
Bote
AeroBote: Projeto de um ultraleve pendular
Gustavo Ássi – Fernando Bresslau 118
12.2.3 Deslocamentos devidos
às forças de reação
12.2.4 Deslocamentos nos
outros nós (incógnitos)
12.3 Montagem da matriz de rigidez do elemento
12.3.1 Em coordenadas locais:
AeroBote: Projeto de um ultraleve pendular
Gustavo Ássi – Fernando Bresslau 119
12.3.2 Em coordenadas globais
12.3.3 Matriz de transformação e
transformação de ke local
(kel) em ke global (keg)
12.4 Montagem da matriz de rigidez da estrutura
AeroBote: Projeto de um ultraleve pendular
Gustavo Ássi – Fernando Bresslau 120
12.5 Solução do sistema
13 ANEXO 04: Dados de entrada e saída para estrutura de teste bidimensional
13.1 Nós e seus graus de liberdade
13.2 Barras e seus nós, indicando direção (do nó 1 ao nó 2)
13.3 Comprimentos das barras (mm)
13.4 Ângulos do sistema de coordenadas local em relação ao sistema de coordenadas global
13.5 Módulo de elasticidade (de Young)
do material ( )
AeroBote: Projeto de um ultraleve pendular
Gustavo Ássi – Fernando Bresslau 122
13.6 Características da seção transversal (mm
ou )
13.7 Declaração de Forças e deslocamentos
13.7.1 Forças de reação
13.7.2 Forças aplicadas
13.7.2.1 Pesos e Forças na estrutura (em coordenadas globais, em kgf)
13.7.3 Deslocamentos devidos
às forças de reação
13.7.4 Deslocamentos nos
outros nós (incógnitos)
13.8 Montagem da matriz de rigidez do elemento
13.8.1 Em coordenadas locais:
13.8.2 Dados da saída
14 ANEXO 05: Dados de entrada e saída para estrutura de teste bidimensional
14.1 Declaração da geometria da estrutura
14.1.1 Nós e seus graus de
liberdade
14.1.2 Barras e seus nós,
indicando direção (do nó 1
ao nó 2)
14.1.3 Comprimentos das barras
(mm)
AeroBote: Projeto de um ultraleve pendular
Gustavo Ássi – Fernando Bresslau 124
14.1.4 Ângulos do sistema de
coordenadas local em
relação ao sistema de
coordenadas global
14.1.5 Módulo de elasticidade
(de Young) do material
( )
14.1.6 Características da seção
transversal (mm ou )
14.2 Declaração de Forças e deslocamentos
14.2.1 Forças de reação
14.2.2 Forças aplicadas
14.2.2.1 Pesos e Forças na estrutura (em coordenadas globais, em kgf)
AeroBote: Projeto de um ultraleve pendular
Gustavo Ássi – Fernando Bresslau 125
14.2.3 Deslocamentos devidos
às forças de reação
14.2.4 Deslocamentos nos
outros nós (incógnitos)
14.3 Montagem da matriz de rigidez do elemento
14.3.1 Em coordenadas locais:
14.3.2 Dados da saída