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    Psico-USF, v. 14, n. 1, p. 83-93, jan./abr. 2009   83

     Avaliação da agressividade na família e escola de ensino fundamental

     Maria Cristina Rodrigues Azevedo Joly 1 – Universidade Sã o Francisco, Itatiba, Brasil Anel ise Si lva Dias – Univ ersidade São Francisco, Itatiba, Brasil

     Jane te Apar ec ida da Si lva Marini – Univer sidad e São Franci sco, Ita tiba, Bras il

    Resumo

    O estudo objetivou identificar a percepção de crianças do ensino fundamental acerca da agressividade na família eescola, verificando possíveis diferenças entre essa variável com gênero, faixa etária, série e tipo de escola. Aplicou-se uma escala de agressividade em 758 alunos brasileiros, de 2ª a 4ª séries, de ambos os sexos, sendo 50,4%meninas. Os participantes apresentaram poucas condutas agressivas. A agressividade familiar teve maiores índicesdo que a escolar. Identificou-se influência d o gênero sobre a agressividade geral dos participantes. Verificou-se queos meninos apresentaram índices de agressividade na família mais altos e significativamente diferentes em relaçãoàs meninas. Constataram-se diferenças significativas para idade e série apenas para agressividade familiar.Palavras-chave : avaliação psicológica; agressividade familiar; agr essividade escolar.

     Aggressiveness assessment in the family and fundamental school

     Abstract

    The study aimed to identify the perception of children from the fundamental school between aggressiveness in the

    family and in the school, verifying possible differences among this variable with gender, age, grade and type ofschool. The aggressiveness scale was applied in 758 brazilian students, from second to fourth grade, of bothgenders, from which 50,4% were girls. The parti cipants revealed few aggressive actions. The ag gressive behavior inthe family had higher level than the one in the school. The influence of gender on the aggressiveness of theparticipants was identified. Boys showed higher and more significant levels of agressivity in the family than girls.Significative differences for age and grade were ascertained only in family aggressiveness.Keywords : psychological assessment; aggression in the family; ag gression in the school.

    Considerações sobre agressividade1 

     A agressividade é uma das tendências deresolução de conflitos interpessoais muito

    estudada. No entanto, a agressão é uma condutaque, além de episódica, não é facilmente definível,assumindo diferentes formas de manifestação, cujaevolução está sujeita à influência de variáveis tantobiológicas quanto sociais (Leme, 2004). Para Buss(1961), a agressão é todo comportamento que fereou traz prejuízo a outros. Skinner (1974) relacionao comportamento agressivo a contingências desobrevivência e reforço em função do ambiente.Na concepção de Bandura (1973), a agressãotambém pode consistir na condução de estímulosnegativos de forte intensidade, provocandoferimentos físicos ou morais.

    Segundo Bee (1997), Gomide (2000),Chaves, Kelder e Orpinas (2002), dentre outrospesquisadores, deve ser dada atenção à influênciade determinadas condições ambientais que

    1 Endereço para correspondência:Universidade São Francisco, Programa de Pós-graduação StrictoSensu  em Psicologia. Rua Alexandre Rodrigues Barbosa, 45, Centro,13251-900, Itatiba-SP.E-mail: [email protected]

    propiciam ou não o desenvolvimento docomportamento agressivo. A privação de alimentoou espaço físico, a retirada do afeto, dos cuidadosparentais, a dor física ou psicológica, exposição

    frequente e/ou por longos períodos àagressividade, por meio de filmes e jogosinterativos (videogame e de computador), sãoalguns exemplos que podem ser determinantespotenciais de altos índices de agressividade.

    Outros aspectos que podem determinar ocomportamento agressivo são as experiênciaspessoais, padrões e condições sociais da família(Davidoff, 2001). Estes podem constituir-se emrisco à convivência, a princípio no núcleo familiar(Garcia & Yunes, 2006) e, posteriormente, naescola e sociedade (Bronfenbrenner, 1996).

    O comportamento agressivo exerceinfluência direta sobre o desenvolvimento pessoale a vida em grupo. Os anos iniciais da vida de umacriança são de fundamental importância para odesenvolvimento de sua personalidade, relaçõessociais e adaptação social e psicológica durante ociclo vital. Nas interações que as criançasestabelecem entre si, podem-se encontrarcomportamentos positivos e negativos, como, porexemplo, agressão e altruísmo. Geralmentecrianças de 2 e 3 anos de idade, quando se sentemtristes ou frustradas, apresentam comportamentos

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    agressivos, como atirar objetos ou machucar-se.Na medida em que as crianças aperfeiçoam ashabilidades verbais, modifica-se tal expressão,passando de agressões físicas a um maior uso daagressão verbal, o que ocorre na meniniceintermediária, que vai até os 12 anos de idade

    (Bee, 1997; Lisboa & Koller, 2001).O comportamento agressivo expressa asdificuldades de interação e adaptação das criançase adolescentes por meio de seus comportamentos. As crianças que apresentam condutas agressivassabem que seus comportamentos são inadequados,porém têm dificuldades em considerar respostasnão-agressivas para a resolução de seus problemas,como se as soluções possíveis se limitassem emluta ou fuga, sem alternativas entre os doisextremos (Leme, 2004). A agressividade infantil éidentificada por meio do contato com o contextosócio-histórico no qual a criança se desenvolve,considerando suas características de personalidadee desenvolvimento; além de poder ser apontadacomo fator de risco para o ajustamento familiar,social e escolar (Bronfenbrenner, 1996; Lisboa &Koller, 2001).

     As investigações de Leme (2004)exemplificam tais relações. Investigou, em doisestudos, aspectos envolvidos na violênciainterpessoal e algumas inter-relações entrecognição e afetividade no funcionamentopsicológico. No primeiro estudo, a escala Children’s Act ion Tendenc y Sca le   (CATS) foi aplicada em uma

    amostra de 779 alunos de 2ª a 7ª série. No segundoestudo foi usada a versão abreviada com umaamostra de 320 alunos de 5ª a 7ª série. Noprimeiro estudo, as tendências de resolução deconflito encontradas foram a assertividade,submissão e agressividade. Foram verificadasdiferenças significativas nas médias de submissão eassertividade entre as duas amostras e diferençasentre os dois estudos nas tendênciaspredominantes de resolução de conflitos, pois nosegundo, submissão e agressividade sobrepujarama assertividade, que ficou em último lugar.

    Os ambientes nos quais as crianças vivem,como o contexto familiar e educacional,demonstram como a agressão pode influenciar oseu desenvolvimento psicológico. Algumasconsiderações sobre estes contextos fazem-senecessárias.

     Agr essiv idade no contexto famili ar e educa ciona lBolsoni-Silva e Marturano (2006)

    apresentaram uma revisão da literatura acerca depráticas parentais, contextos de aprendizagem e

    problemas de comportamentos, os quais foramassim definidos por serem agressivos ouhiperativos. Destaque será dado no presenteestudo aos comportamentos agressivos que sãoindiretamente mais valorizados pela família eescola, constituindo-se, muitas vezes, como base

    dos relacionamentos. Em geral, surgem pelainteração deficitária entre pais e filhos, no que serefere especialmente à comunicação e afeto,disciplina inconsistente, monitoramento esupervisão insuficientes das atividades infantis oudo adolescente.

    O modelo de comportamento que os paisapresentam tem grande influência sobre odesenvolvimento da agressão na criança. Abrutalidade na relação entre os pais e seus filhos,ensina às crianças, por meio da observação, o quefazer, assim, concluem que bater é apropriado epoderoso. A rejeição parental, a negligência, adisciplina rígida e a crueldade contra outros dafamília também estão ligadas à agressividade dosfilhos (Bazi, 2003).

    Bierman, Smoot e Aumiller (1993)realizaram pesquisa com 95 garotos divididos em 3faixas etárias (6-8; 8-10; 10-12). Os sujeitos foramselecionados com base sociométrica e avaliação daagressividade representando quatro grupos: (1)agressivo e rejeitado, (2) agressivo e não-rejeitado,(3) rejeitado e não-agressivo e (4) nem agressivo enem rejeitado. Observações de comportamento,avaliação do professor, avaliação dos colegas e

    entrevistas com questionários foram utilizadoscomo instrumentos para coletar informações quecaracterizaram os comportamentos agressivosdesses garotos nos domínios de conduta desociabilidade e companheirismo, adaptabilidade eresponsabilidade. Perfis problemáticos emergiram.Garotos agressivos-rejeitados apresentaram maiordiversidade de condutas severas do que osmeninos agressivos e não-rejeitados. O grupo nemagressivo nem rejeitado foi considerado pelosprofessores e colegas como deficientes emcomportamentos pró-sociais e socialmente

    insensíveis.No tocante ao contexto escolar, aagressividade pode ser decorrência da repetiçãodos padrões de relações familiares aprendidos oumesmo da frustração e do próprio fracassoescolar. Ao lado disso, assim como os pais, osprofessores podem ser modelos inadequados paraas crianças (Bolsoni-Silva & Marturano, 2006;Polônia & Dessen, 2005).

     Ao ing ressarem na educação infantil ,crianças agressivas têm problemas de

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    concentração, perceptivos e de aprendizagem. Suasdificuldades tendem a ser ignoradas nessa etapainicial de escolaridade e, dessa forma, a criança vaipara a escola fundamental sentindo-se incapaz decorresponder às expectativas. Frequentementeperdem o autocontrole, culpando os outros por

    seus problemas, comportando-se de maneiradesafiadora e destrutiva. Os professores ediretores das escolas, em geral, tendem aconsiderá-los um transtorno e puni-los ouridicularizá-los, gerando mais hostilidade ealienação (Papalia & Olds, 2000).

     Wagner e Biaggio (1996) identificaram arelação entre a forma como os pais lidam com suaagressividade e a maneira pela qual seus filhos pré-escolares se relacionam com os colegas.Participaram 80 crianças de ambos os sexos, comidade entre 3 e 5 anos, e seus pais. As criançasforam observadas por 90 minutos. Os pais foramavaliados pelo STAXI ( State-trait anger expressioninventory  ). Constatou-se que há uma cor relaçãosignificativa e positiva entre os escores nasubescala “raiva para fora” do STAXI de mães e ocomportamento total de agressão. Houve umaumento dos comportamentos agressivos, tantofísicos quanto verbais, com o passar dos anos dascrianças.

    Para lidarem com o embaraço de repetidosfracassos, essas crianças elevam o nível deagressividade e destrutividade. Tendem a se juntarcom outras crianças que têm histórico semelhante

    de fracasso e desprezo das autoridades e utilizamtais comportamentos para lidar com suasfrustrações e sentimentos negativos.Desenvolvendo-se em ambientes cuja exposição àagressividade é contínua e por longo tempo,assumem padrões agressivos de interação comoreferência, tornam-se pouco tolerantes àfrustração, demonstram baixa autoestima e falta demotivação para respeitar normas sociais (Bolsoni-Silva & Marturano, 2006).

    Tendo como referência da literatura arelação entre padrão familiar de agressividade, os

    relacionamentos interpessoais na escola e odesempenho acadêmico, Gardner, Powell eGrantham-McGregor (1998) analisam as relaçõesentre aprendizagem e o comportamento deestudantes considerados agressivos comparadas àsdos não-agressivos. Foram avaliados 102 garotosagressivos e 103 garotos não-agressivos de 5ª e 6ªséries selecionados pelos próprios colegas e poravaliações de seus professores. O grupo de alunosagressivos foi significativamente de crianças mais velhas (  M =11,4 anos) do que os não agressivos

    (  M =11,1 anos). Análises preliminares indicarammaior envolvimento em brigas dos garotosagressivos, quando comparados com o grupo não-agressivo. Os garotos foram avaliados pelo Testede Desempenho Escolar (WRAT) e Teste deHabilidade Verbal ( Peabody Picture Vocabulary Test  ).

    Os pais dos garotos também foram avaliadosquanto à agressividade. O grupo agressivoapresentou escores significativamente mais baixosna relação entre condição socioeconômica edesempenho acadêmico e vocabulário. O grupoagressivo relatou receber significativamente maispunições nos lares e relatou com maior frequênciadiscussões e brigas entre os membros da família,tendo pais mais agressivos.

     Visando identificar o efeito das estratégiasde aprendizagem para diminuir as relaçõesagressivas infantis que se manifestam no ambienteescolar, Loreto e cols. (1998) investigaram 12alunos de 1ª série de ensino básico queapresentavam condutas agressivas. Osparticipantes frequentaram aulas extras comduração de seis semanas, nas quais aprenderam ausar estratégias de aprendizagem. Foramsubmetidos a pré e pós-teste para medir oaumento da efetividade do uso das técnicas e suarelação com o nível de agressividade. Verificou-seuma queda significativa do comportamentoagressivo das crianças, mostrando ser positivo oensino de estratégias de aprendizagem para tal fim.

    Sisto e Fernandes (2004) analisaram a

    relação entre agressividade e dificuldades deaprendizagem na escrita. Participaram 834 alunoscom idade de 8 a 12 anos, de escolas particulares eestaduais. Foram utilizados como instrumentos aEscala de Agressividade para Crianças e Jovens e a Avaliação das Dif icu ldades de Aprendizagem naEscrita (ADAPE). Os resultados apontaram que asdificuldades linguísticas e as medidas deagressividade escolar apresentam grandessemelhanças nos resultados das segundas eterceiras séries. Observou-se que o aumento doserros na escrita foi acompanhado do aumento das

    pontuações em agressividade escolar. Contudo,houve uma diferenciação estatisticamentesignificativa quanto ao gênero, em alunos dequarta série. As meninas apresentam coeficientespositivos e os meninos apresentam correlaçõesnegativas, quanto à dificuldade em escrita eagressividade.

    Considerando que múltiplos fatores estãoenvolvidos na ocorrência de comportamentosagressivos, Chaves, Kelder e Orpinas (2002)realizaram um estudo com o objetivo de avaliar a

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    diferença de agressividade entre 5.831 crianças doensino fundamental de origem latina quefrequentavam escolas públicas americanas. Foramdivididas em dois grupos – as que jogavam videogame frequentemente e as que eram poucoexpostas a essa atividade. Um relacionamento

    linear foi observado, entre o tempo gasto jogandoe as pontuações de agressividade. Altos escoresagressivos foram significativamente associadoscom jogos agressivos em meninos e meninas. Amaioria dos estudantes que jogavam, “lutavam” naescola. Os estudantes latinos que estavam maisadaptados à língua e à cultura americanamostraram preferência por jogos mais violentos. Verif icou-se, também, que os alunos que relataramfalar mais espanhol em casa e com seus amigos,mostraram-se menos propensos a jogar videogamepor muito tempo e revelaram ter menorpreferência por jogos violentos.

    Gomide (2000) avaliou a influência defilmes violentos em comportamento agressivo emcrianças e adolescentes em dois experimentos, dosquais participaram 520 sujeitos de ambos os sexos.O comportamento agressivo foi medido por meiode observações após assistirem a filmes violentos enão-violentos. Os resultados apontaram que ocomportamento agressivo de crianças eadolescentes do sexo masculino aumentou apósassistirem a um filme violento. O mesmo nãoocorreu com as crianças e adolescentes do sexofeminino. Contudo, quando a violência refletiu

    abusos físico, psicológico e sexual, houve umaumento significativo do comportamentoagressivo em adolescentes de ambos os sexos.

    Em síntese, nos estudos descritos napresente investigação e na análise da literaturafeita por Bolsoni-Silva e Marturano (2006), aagressividade é um comportamentomultideterminado. As variáveis características dapessoa, história de vida familiar, práticas parentais,condições socioeconômicas, eventos estressantes econtexto familiar podem influenciar oaparecimento e/ou manutenção de

    comportamentos agressivos.Considerando-se que a criança ouadolescente, ao ser agressiva, pode ser rejeitadatanto pela família quanto pela escola e destacando-se, dentre as variáveis elencadas, o contextofamiliar e escolar, o presente estudo teve porobjetivo identificar a percepção de estudantes doensino fundamental acerca da agressividade nafamília e escola. Verificaram-se possíveisinfluências do gênero, idade e série frequentadapelos participantes sobre sua percepção.

    Método

    ParticipantesO estudo foi desenvolvido em seis escolas

    da rede pública (90,9%) e particular (9,1%) deensino, de três cidades do interior do estado de

    São Paulo. Participou uma população de 758crianças de segunda série (43,9%), terceira série(29,2%) e quarta série (26,9%). Os alunos eram deambos os sexos, sendo 50,4% do feminino e49,6% do masculino, com idade variando de 7 a 13anos, com uma média de 9,01 anos e desviopadrão de 0,96.

    InstrumentoEscala de Agressividade para Crianças e Jovens(Sisto & Bazi, 1998)

    Tem por objetivo fornecer três medidas deagressividade relativas à percepção decomportamentos agressivos em  situação familiar,escolar e agressividade geral. É composta pordezesseis afirmativas, sendo oito referentes àsituação familiar e outras oito referentes à situaçãoescolar. Para cada afirmativa, os respondentesassinalaram a resposta sim   ou não , em função dapresença ou ausência do comportamento descritono item. A cada resposta sim   foi atribuído umponto, e a resposta não foi desconsiderada. Dessamaneira, as subescalas de agressividade emsituação familiar e escolar variam de 0 a 8 pontoscada uma; e a Escala de Agressividade Geral, varia

    de 0 a 16 pontos. Alguns exemplos dos itens dasubescala para agressividade em situação familiarsão: Bato nos meus irmãos para defender os meus direitos ; Quando as pes soas da minha casa me xingam, sinto rai va ;Gosto de ameaçar os meus irmãos . E, para a subescalade agressividade escolar são: Faço brincadeiras com as pes soas da minha esc ola que deixam elas chate adas ; Machuco meus colegas da escola quando tenho vontade ;Faço inimigos facilmente na escola .

     A análise das caracter íst icas psicométricasdo instrumento realizada por (Sisto & Bazi, 1998)  revelou a existência de dois fatores (agressividade

    em situação familiar e escolar) pela análise fatorialdos itens. O estudo de precisão realizado com oinstrumento revelou que os coeficientes alfa são,para a subescala de agressividade em situaçãofamiliar, 0,76; para a subescala de agressividade emsituação escolar, 0,71; e para a escala geral, 0,80.

    Procedimento Após a aprovação do pro jeto pelo Comitê

    de Ética, foi realizado contato com as direções dasinstituições de ensino solicitando autorização.

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    Num segundo momento foi enviado aospais/responsáveis pelos alunos Termo deConsentimento Livre e Esclarecido, solicitandoautorização para a participação de seus filhos napesquisa. Participaram do estudo os alunos queentregaram o termo de consentimento assinado

    pelos pais ou responsável. A apl icação do instrumento foi realizadacoletivamente nas classes, com no máximoquarenta crianças, em horário escolar, pelapesquisadora. Foram esclarecidas as instruções,iniciando-se a aplicação, onde cada afirmativa foilida em voz alta pela aplicadora, fornecendotempo para que os alunos respondessem cadaitem. O tempo médio de aplicação variou de 10 a14 minutos.

    Resultados e discussão

     A análise descri tiva dos dados revelou queo escore total de agressividade dos participantesfoi de 4,17 pontos, em média, com desvio padrãode 2,86. De forma geral, os participantesapresentaram poucas condutas agressivas, uma vezque a média alcançada não atingiu o ponto médioda escala (8 pontos). Foram observadas duasconcentrações de pontuações. A primeira entre 0 e5 pontos, responsável por 73,4% das respostas,sendo essas pertencentes aos itens da subescalafamiliar; e a segunda, compreendendo o intervalode 6 a 10, pontos indicando uma porcentagem de

    24,4%, referindo-se à subescala escolar.Identificou-se influência do gênero sobre a

    agressividade geral dos participantes [ t (756)=-3,40; p

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    desafiadora e destrutiva, como reação padrãoanterior, muito provavelmente já aprendida como

    forma de controlar situações adversas (Polônia &Dessen, 2005).

    184194310 202623N =

    Série

    quarta série

    terceira série

    segunda série

       A  g  r  e  s  s   i  v   i   d  a   d  e   F  a  m   i   l   i  a  r

    10

    8

    6

    4

    2

    0

    -2

    Escola

    Particular

    Publica

     Figura 1. Média da agressividade familiar por série e tipo de escola

     Ao lado disso, está como são atendidas econsideradas as dificuldades dos estudantes pelosprofessores e pares, como destacam Papalia e Olds(2000). Pode-se inferir ainda, com base no estudo

    de Bierman, Smoot e Aumiller (1993) que essapostura dos profissionais da escola leva os alunosagressivos a se sentirem rejeitados, tendendo ademonstrar mais comportamentos agressivos.

    251061211166 12981251368N =

    Idade

    1110987

       A  g  r  e  s  s   i  v   i   d  a   d  e

       F  a  m   i   l   i  a  r

    10

    8

    6

    4

    2

    0

    -2

    Gênero

    feminino

    masculino

     Figura 2. Média da agressividade familiar por idade e gênero

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    Na Figura 2, observa-se que osparticipantes que possuem sete, nove e onze anosapresentam maiores índices de agressividade. Verif ica-se um menor escore aos oito e aos dezanos, havendo menor agressividade aos 8 anos.

    Resultado semelhante foi encontrado no estudo deGardner, Powell e Grantham-McGregor (1998),entre as crianças de 5ª e 6ª série cujo grupo dealunos mais velhos (  M =11,4 anos) apresentouescores mais altos de agressividade. Também se

     verifica que, dos sete aos dez anos de idade, amédia apresentada pelas crianças do gênerofeminino são menores do que as do gêneromasculino, e apenas aos onze anos as meninasapresentaram uma média mais alta quando

    comparadas aos meninos. Porém, é relevanteressaltar que, para as idades de sete (  N =14) e onzeanos (  N =37), a amostra é pequena, pois são osmais novos e mais velhos frequentando a 2ª e 4ªséries, respectivamente.

    Tabela 1. Valores de média, desvio padrão e índices de t   de Student para o gênero e tipo de escola nasubescala de agressividade familiar

     Agressividade Familiar N Média Desvio padrão t pfeminino 382 2,81 1,88Gêneromasculino 376 3,31 1,90

    -3,66 0,00

    particular 69 3,38 1,98Tipo de escola

    pública 689 3,02 1,89

    1,47 0,14

    significativo para  p< 0,01; α=0,05

     Verif icou-se que os meninos apresentaramíndices de agressividade mais altos esignificativamente diferentes em relação àsmeninas (Tabela 1). Os resultados do presenteestudo são semelhantes aos de Sisto e Fernandes(2004) e Leme (2004), que mostram a tendênciados meninos a apresentarem condutas maisagressivas, quando comparados com as meninas.

    Cabe destacar que, segundo revisão feitapor Cia, Williams e Aiello (2005), apesar do pai ter

    uma interação com os filhos que equivale a 25%,da que tem a mãe, sua influência como modelopara os meninos e o suporte afetivo dispensado aeles são aspectos que possibilitam umdesenvolvimento infantil saudável ou vulnerável.Identificaram que o maior índice decomportamentos agressivos em crianças, tanto nafamília quanto na escola, ocorreu quando o pai se

    mostrava hostil, agressivo, coercitivo e apresentavacomportamentos antisociais.

    Não houve diferença significativa por tipode escola frequentada. Apesar do escore médio daescola particular ter sido maior que o da pública,não foi suficiente para diferenciar os gruposestatisticamente (Tabela 2). É importante lembrarque os participantes da escola particular equivalema 9,1% do total. Faz-se necessário investigar essarelação com grupos mais homogêneos, pois esse

    dado pode vir a indicar resiliência – superação defatores de estresse e adversidade (Rutter, 1999) –por parte dos alunos de escola pública, por umlado, e baixa resistência à frustração, falta demotivação, indícios de depressão, por outro lado,para os estudantes da escola particular (Bolsoni-Silva & Marturano, 2006).

    Tabela 2. Valores de média, desvio padrão e índices de ANOVA por idade e série frequentada na subescalade agressividade familiar

     Agressividade Famili ar N Média Desvio Padrão F p

    7 anos 14 3,21 1,978 anos 252 2,74 1,969 anos 246 3,14 1,8710 anos 204 3,29 1,84

    Idade

    11 anos 37 3,30 1,88

    2,81 0,02

    2ª. série 333 2,85 2,003ª. série 218 3,28 1,83

    Série

    4ª. série 202 3,16 1,793,88 0,02

    significativo para  p< 0,01; α=0,05

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    Constataram-se diferenças significativaspara idade e série quanto à agressividade familiar(Tabela 2). As diferenças entre 8 e 10 anos(  p

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    251061211166 12981251368N =

    Idade

    1110987

       A

      g  r  e  s  s   i  v   i   d  a   d  e   E  s  c  o   l  a  r

    10

    8

    6

    4

    2

    0

    -2

    Gênero

    feminino

    masculino

     Figura 4. Média da agressividade escolar por idade e gênero

     Verif ica-se, na Figura 4, que a médiaapresentada pelas meninas foi menor que à dos

    meninos aos sete, oito e dez anos. Mostraram-seequivalentes aos nove e onze anos.

    Tabela 3. Valores de média, desvio padrão e índices de t   de Student para o gênero e tipo de escola na

    subescala de agressividade escolar Agressividade escolar N Média Desvio padrão t pfeminino 382 1,02 1,46Gêneromasculino 376 1,22 1,54

    -1,78 0,07

    particular 69 1,22 1,62Tipo de escolapública 689 1,11 1,49

    0,58 0,62

    significativo para  p< 0,01; α=0,05

    Não se constataram diferençassignificativas por gênero e tipo de escolafrequentada para agressividade escolar no presente

    estudo (Tabela 3). A idade e série também nãoinfluenciaram os índices de agressividade escolar(Tabela 4).

    Diferentemente da agressividade familiar,observou-se que na subescala escolar osparticipantes apresentaram menores condutas deagressividade, confirmando os resultadosencontrados por Sisto e Fernandes (2004), queafirmam maiores índices de agressividade emsituação familiar do que em situação escolar. Faz-se necessário salientar que a escala de

    agressividade familiar apresenta uma maiorporcentagem de crianças (  N =22,6%) queapresentaram condutas agressivas em relação ao

    total de participantes e às agressivas na escola(  N =4,2%).Leme (2004) analisa que há transferência

    de agressividade entre contextos, sendo ageneralização mais frequente de casa para a escola.Cabe destacar que se tem investigado oscomportamentos agressivos de crianças mais emrelação ao ambiente familiar do que ao escolar,apesar de existir já verificada uma relação entre asdificuldades de aprendizagem e problemas decomportamento, em especial a agressividade,

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    Psico-USF, v. 14, n. 1, p. 83-93, jan./abr. 2009  

    enquanto um desvio de comportamento social(Bolsoni-Silva & Marturano, 2006).

     A agressividade infantil direcionada aoscolegas da mesma idade e ao grupo de iguais,segundo Lisboa e Koller (2001), é diferenciadadaquela dirigida aos professores e aos pais e

    familiares. Essa diferença certamente baseia-se napercepção da autoridade que pais e professoresocupam. Um grande número de estudos brasileiro,como analisaram Bolsoni-Silva e cols. (2006),relativos a tais aspectos no contexto escolar,referem-se à avaliação das habilidades sociais.

    Tabela 4. Valores de média, desvio padrão e índices de ANOVA por idade e série frequentada na subescalade agressividade escolar

     Agressividade escolar N Média Desvio padrão F p7 anos 14 0,79 0,978 anos 252 1,13 1,609 anos 246 1,09 1,39

    10 anos 204 1,12 1,50

    Idade

    11 anos 37 1,43 1,67

    0,60 0,66

    2ª. série 333 1,16 1.563ª. série 218 1,18 1,47

    Série

    4ª. série 202 0,99 1,42

    1,38 0,32

    significativo para  p< 0,01; α=0,05Considerações finais

    Objetivou-se com este estudo caracterizarcrianças que frequentam o ensino fundamentalquanto à sua percepção acerca da agressividade nafamília e na escola, e verificar também as possíveisrelações desta variável com gênero, faixa etária,série e tipo de escola.

    Dentre os aspectos encontrados com osresultados apresentados, observou-se que a Escalade agressividade familiar apresentou escoresuperior às outras duas escalas de agressividade.Observaram-se diferenças significativas deagressividades entre os gêneros, já que os meninosapresentam mais comportamentos agressivosquando comparados às meninas, comprovando-seresultados de outras pesquisas (Gomide, 2000;Leme, 2004; Sisto & Fernandes, 2004). Houvediferenças significativas entre as Escalas de Agressividade Fami liar e Geral para os gêneros,para a Escala Familiar entre as séries. Percebe-se anecessidade de pesquisas futuras para a verificaçãodos resultados apresentados, com relação aos tipos

    de escolas, já que neste estudo a amostra da escolaparticular foi significativamente inferior à daescola pública.

    Outras variáveis como ambiente familiar,relacionamento entre pais e filhos, entre outros,podem ser investigadas futuramente. Isto, porestarem relacionadas ao contexto familiar, o qualrevelou, no presente estudo, maior índice médiode comportamentos agressivos.

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    Recebido em março de 2008Reformulado em setembro de 2008 Aprovado em novembro de 2008 

     

    Sobre as autoras:

    Maria Cristina Rodrigues Azevedo Joly  é doutora em Psicologia pela Universidade de São Paulo. Atuacomo docente na graduação e pós-graduação em Psicologia da Universidade São Francisco.

     Anelise da Silva Dias é graduada em Psicologia com mestrado em Avaliação Psicológica Educacional pelaUniversidade São Francisco e atualmente doutoranda com bolsa CAPES.

     Janete Aparecida da Silva Marini   é graduada em Pedagogia com mestrado em Avaliação PsicológicaEducacional pela Universidade São Francisco e doutoranda em Educação pela Unicamp. Atua comodocente em curso de g raduação na universidade Unianchieta e como diretora de escola de educação básicana prefeitura do município de Jundiaí.