AGROECOLOGIA – O RETORNO À PROPRIEDADE RURAL · AGROECOLOGIA – O RETORNO À PROPRIEDADE RURAL...
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AGROECOLOGIA – O RETORNO À PROPRIEDADE RURAL
Simone Mandalozzo Ruppel 1
Orientadora: Vera Lucia Martiniak 2
Resumo:
No Curso Técnico em Agroecologia do Colégio Agrícola a maioria dos alunos são oriundos da agricultura familiar e dessa forma buscam uma formação profissional nesta área, cujo sistema de produção respeita as dinâmicas dos ecossistemas, articulando trabalho, cultura, ciência e tecnologia com respeito ao meio ambiente. No entanto, após e término do curso estes alunos não retornam às suas propriedades para aplicar e desenvolver os conhecimentos adquiridos no curso, provocando o êxodo rural. Deste modo, este projeto tem como objetivo divulgar o Curso Técnico em Agroecologia para a comunidade circunvizinha do Colégio Agrícola, bem como incrementar a aplicação dos conhecimentos adquiridos no curso, possibilitando a melhoria na qualidade da produção agrícola. Para tanto, utilizou-se como procedimento metodológico o levantamento das razões e motivos que levam o jovem a procurar outras profissões que não estão relacionadas com a formação agrícola. Para a coleta de dados da pesquisa foram utilizados os seguintes instrumentos: entrevistas com os alunos egressos para investigar as razões que os levaram a deixar o campo, mesmo com o conhecimento específico da área; com os alunos matriculados no 2º e 3º anos do Curso Técnico em Agroecologia foi realizado uma oficina pedagógica com o intuito de discutir com os alunos as reconfigurações do mundo do trabalho, em especial, a do campo, por meio de dinâmicas, recursos didáticos, textos e vídeos. Espera-se com este estudo oferecer elementos para que o aluno retorne a sua propriedade rural e tenha condições de aplicar o conhecimento adquirido no curso técnico.
Palavras-chave: agricultura familiar; agroecologia; propriedade rural
_________________________
1 Especialista, Engenheira Agrônoma, Professora do Colégio Agrícola Estadual Getulio Vargas –CAEGV,
Palmeira, Pr.
2 Doutora e Professora –UEPG, Ponta Grossa, Pr.
1 – Introdução
No Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE), um dos seus objetivos é
fazer com que o professor da Rede Pública Estadual de Ensino (SEED-PR) realize uma
intervenção para o melhor andamento da sua escola, fazendo com que alunos,
professores, funcionários e pais mudem para melhor sua realidade escolar por meio do
desenvolvimento do Projeto de Intervenção Pedagógica.
Este projeto foi importante para a escola e para os alunos envolvidos, pois com o
andamento das intervenções os alunos conseguiram visualizar suas propriedades rurais
de acordo com sua realidade, e assim com possibilidades para transformar e adequar a
natureza conforme suas necessidades.
Com a preocupação de fixar o homem no campo, por meio da construção de
conhecimentos e desenvolvimento de habilidades técnicas na área da agricultura
sustentável, o Colégio Agrícola Estadual Getúlio Vargas, localizado no município de
Palmeira, Paraná, oferta cursos voltados à formação do jovem do campo. O colégio
está localizado em uma área de transição entre o rural e o urbano, porém suas
atividades são voltadas em sua maioria às questões rurais.
Dentre os cursos ofertados pelo referido Colégio, optou-se por investigar o Curso
Técnico em Agroecologia integrado ao Ensino Médio, em especial a um dos objetivos
do curso, em fazer com que o aluno, após adquirir seus conhecimentos teóricos e
práticos, retorne a sua propriedade rural para aplicar esses conhecimentos,
possibilitando a melhoria da qualidade da produção agrícola.
Pode-se verificar que um dos objetivos centrais do curso é a fixação do homem
no campo e o desenvolvimento de uma agricultura sustentável não está acontecendo,
pois a maioria dos alunos busca outras profissões fora da área agrícola ou pecuária; ou
ainda, de outras profissões na cidade.
Devido a esses aspectos, este artigo centra-se na seguinte problemática: quais
os motivos que levam os alunos concluintes do curso a procurarem outras áreas de
atuação que não estão relacionadas com a agricultura? Por que a maioria dos alunos
não retorna as suas propriedades para aplicarem seus conhecimentos aprendidos em
salas de aulas?
2 – Agricultura Familiar
Normalmente a preocupação das pessoas da área rural é buscar uma
qualificação para seus filhos com o objetivo que eles voltem e apliquem seus
conhecimentos nas propriedades rurais. Um dos objetivos do Curso Técnico em
Agroecologia Integrado é manter o homem no campo por meio do fortalecimento da
agricultura familiar, justificando a escolha pela Pedagogia da Alternância que estimula a
presença do aluno junto a família e/ou comunidade.
Segundo Monteiro (2000, p.43) ao ter a família como parte integrante de sua
formação, o jovem, mediado pela escola, vai colocando sua realidade em perspectiva.
Ao ser capaz de objetivar sua realidade, estas aquisições adquirem um valor formativo.
A alternância soma em sua equação, o trabalho, a educação e a cultura. Como
consequência natural, o foco da educação do jovem sai da formação técnica para uma
formação mais integral, enraizada na construção das relações familiares e comunitárias.
No Colégio Agrícola Estadual Getúlio Vargas, o Regime de Alternância prevê que
os alunos alternem três semanas de atividades presenciais na escola e uma semana
vivenciada (semana de alternância) em sua propriedade e/ou comunidade, que é
previamente cadastrada e/ou em propriedades de outras comunidades previamente
cadastradas e conveniadas.
Ainda segundo Monteiro (2000, p.28) são três os pontos básicos da Pedagogia
da Alternância:
- a conjugação entre trabalho e propriedade rural e aprendizado escolar; - o envolvimento da família no processo de formação de jovens e na construção da escola; - a formação de cidadãos integrados social, comunitária e culturalmente, interessados em permanecer na zona rural. (MONTEIRO, 2000, p.28)
Devido às condições socioeconômicas atuais que algumas localidades dos
egressos se encontram fazem com que estes se desloquem para as cidades em busca
de trabalho e consequentemente ao terminar o curso não retornam as suas
propriedades rurais, tendo como consequência o aumento do êxodo rural. Muitos dos
alunos egressos vão trabalhar na cidade, seja em empresas multinacionais de
agrotóxicos e insumos agrícolas onde o salário seja mais atraente e não querem voltar
as sua s propriedades rurais.
Os pais desejam que seus filhos estudem e sejam empregados na área urbana
para não sofrerem as agruras do trabalho no campo. Alem disso, temos a inadequação
dos sistemas de produção que, desde a famosa Revolução Verde, vem expulsando
agricultores do campo. A agroecologia exige muito mais que técnicas, é uma filosofia de
vida, de recusarmos aquilo que a mídia nos impõe como modernidade.
Outra situação que acontece é que muitos pais dos alunos não querem que seus
filhos mudem algo na sua propriedade, pois há muito tempo fazem agricultura como
aprenderam com seus pais e avós e deste jeito acham que está dando certo. Como isto
não acontece, o aluno desiste de voltar a sua propriedade e busca outros empregos ou
continua estudando, sem ter a esperança de voltar a sua propriedade e fazer algo para
melhorar as condições de vida da família e da sua comunidade.
Muitas vezes a grande maioria dos alunos simplesmente sai do campo por pura
falta de conhecimento, pela ilusão da cidade e pelas facilidades que acreditam
encontrar e, muitas vezes sonhos que nem sempre se concretizam, talvez mudando
para sempre o seu futuro.
Segundo Abravomay (1998) a população brasileira nas últimas décadas está
vivenciando o processo migratório campo-cidade devido às dificuldades de vida no
meio rural e da atividade agrícola em relação aos atrativos da vida urbana,
principalmente em opções de trabalho remunerado e propaganda de melhor qualidade
de vida.
No contexto da agricultura familiar, os questionamentos da juventude rural
supõem o entendimento de dupla dinâmica social. De um lado a dinâmica territorial que
relaciona a casa (família), vizinhança (comunidade local) e a cidade (mundo urbano-
industrial). Além de espaços distintos e sobrepostos, trata-se de espaços de vida que
se entrelaçam e que dão suporte a experiências dos jovens rurais e a sua inserção na
sociedade.
Segundo Wanderley (2009), a Agricultura Familiar é o cultivo de terra realizado
por pequenos proprietários rurais, tendo como mão-de-obra essencialmente o núcleo
familiar. Ao mesmo tempo em que é proprietária dos meios de produção assume o
trabalho no estabelecimento produtivo. A agricultura familiar precisa adaptar-se as
condições modernas de produzir e de viver em sociedade, muitas delas atuando na
agroecologia e nas técnicas da agricultura orgânica.
É por esse motivo que o Colégio Agrícola proporciona ao aluno egresso uma
perspectiva de totalidade, onde os conteúdos das disciplinas são contextualizados,
conforme visão sistêmica do processo produtivo. Isto significa recuperar a importância
de trabalhar com os alunos os fundamentos científicos - tecnológicos presentes nas
disciplinas da Base Nacional Comum (Ensino Médio) de forma integrada às disciplinas
da Formação Específica, evitando a compartimentalização na construção do
conhecimento. Propõe ainda uma formação na qual a teoria e a prática possibilitam
aos alunos compreenderem a realidade para além de sua aparência, onde os
conteúdos não têm fins em si mesmos porque se constituem em sínteses da
apropriação histórica da realidade material e social pelo homem.
A organização dos conhecimentos, nos cursos do Colégio Agrícola enfatiza o
resgate da formação humana onde o aluno, como sujeito histórico, produz sua
existência pelo enfrentamento consciente da realidade dada, produzindo valores de
uso, conhecimentos e cultura por sua ação criativa.
A integração curricular entre o Ensino Médio e o Profissional, objetiva integrar o
jovem ao contexto sociocultural atual, propiciando formação que possibilite uma escolha
profissional sintonizada com os requisitos técnicos e tecnológicos próprios de sua área
de formação.
Segundo Monteiro (2000, p.40) a LDB de 1996 propõe o seguinte para a
educação técnica de nível médio:
- a formação da pessoa, de maneira a desenvolver valores e competências necessárias a integração de seu projeto individual ao projeto da sociedade em que se situa; - o aprimoramento do educando como pessoa humana, incluindo a formação ética e o desenvolvimento da autonomia intelectual e do pensamento critico; - a preparação e orientação básica para a sua integração ao mundo do trabalho, com as competências que garantam seu aprimoramento profissional e permitam acompanhar as mudanças que caracterizam a produção do nosso tempo; - o desenvolvimento das competências para continuar aprendendo, de forma autônoma e critica, em níveis mais complexos de estudos. (MONTEIRO, 2000, p.40)
O Colégio oferta o Curso Técnico em Agroecologia Integrado atendendo a
demanda dos agricultores da região e da necessidade de um movimento que tenta fixar
o homem no campo, que surgiu apoiado por organizações sociais e não
governamentais, na busca de uma agricultura voltada para um desenvolvimento
sustentável. A formação ofertada por meio do curso busca contribuir para um processo
de conversão da agricultura convencional em um sistema agroecológico com maior
ênfase na produção de alimentos, estimulando o processo de agregação de valor aos
produtos, por meio da intervenção na agroindústria e comercialização da produção.
(PLANO DO CURSO TÉCNICO EM AGROECOLOGIA, 2010).
3 – Descrevendo os encaminhamentos metodológicos
A partir dos estudos realizados e das atividades pedagógicas pretende-se
descrever os procedimentos metodológicos, bem como analisar as intervenções
realizadas com os alunos do curso técnico. Para tanto, será apresentado as etapas
realizadas no decorrer do programa.
3.1 – A Produção Didático-Pedagógica
Por meio de atividades realizadas no desenvolvimento da produção didática
pedagógica, refletiu-se sobre as seguintes questões: Educação Rural e Educação do
Campo, Valorização do Ensino Agrícola, Espaço Urbano e Rural, Biodiversidade,
Agroecologia e Agricultura Sustentável.
Os alunos participaram destas atividades e produziram textos sobre as suas
considerações ao final de cada atividade. Na última atividade foi realizada postagens no
blog agroecologiacaegv.blogspot.com.br com fotos e vídeos dos alunos de suas
propriedades rurais e também seus comentários sobre as atividades realizadas.
3.2 – O Grupo de Trabalho em Rede – GTR
O Grupo de Trabalho em Rede é uma das atividades obrigatórias do PDE,
previstas no Plano de Integrado de Formação continuada do programa, cujo objetivo é
a socialização das produções dos professores PDE por intermédio da interação destes
com os demais professores da Rede Estadual de Ensino e que possam utilizar estes
exemplos em suas praticas pedagógicas. No PDE 2013, 15 professores se
inscreveram, mas 14 concluíram o curso. Este GTR teve colaborações muito boas para
este artigo e para o Projeto de Intervenção Pedagógica.
Um dos meios para incentivar os alunos do Curso Técnico em Agroecologia
Integrado a suas propriedades é fazer com que eles visualizem as diversas formas de
mudanças em seu meio a partir dos conhecimentos adquiridos, a experiência dos
alunos egressos que voltaram as suas propriedades e modificam seu meio, o resgate
do trabalho com uma agricultura mais limpa de contaminantes, melhorando a qualidade
de vida de todos na sua família e na comunidade.
A função da escola em trabalhar a educação do campo, com a oferta do ensino
técnico principalmente para os filhos de agricultores é uma estratégia importante, pois é
por meio da educação e do conhecimento que o aluno agricultor se sente mais
valorizado e com uma visão de negócio, de mercado, o que talvez seus pais não
tiveram essa oportunidade e passem a investir nas atividades agrícolas, mas com a
certeza de condições e incentivos.
Como poderíamos convencer um chefe de família que seu filho ou sua filha pode
propor mudanças significativas na Unidade de Produção Familiar, se ele sempre tomou
as rédeas das decisões na família? A agricultura familiar precisa ser fortalecida através
de programas de governo, incentivos, assegurando no campo à permanência das
novas gerações e sua participação nas atividades agropecuárias, disponibilizando aos
jovens do meio rural um ambiente favorável a constituição da cidadania e condições de
vida de qualidade, atuando diretamente na sua autonomia e no seu poder de decisão.
Diante da dificuldade sempre existe uma grande oportunidade no meio rural – o
Empreendedorismo Rural – de fundamental importância para que o aluno consiga
enxergar os diferentes potenciais que existem em suas propriedades, podendo
transforma-las em grandes agronegócios.
De acordo com a fala do professor Mauro Marcolino Carneiro no GTR 2013:
A temática juventude é por si só polemica, já que trata de indivíduos em fase de mudança psicossocial, isto é, pessoas que estão deixando de ser criança e partindo para a fase adulta. Abordando-se os jovens do meio rural, surgem questionamentos quanto à permanência na propriedade e consequente continuidade dos afazeres da família ou ao abandono da propriedade rural familiar com vistas à mudança do modo de vida das pessoas. (GTR 2013)
O meio rural não é mais apenas produtor agropecuário, passa a agregar valor e
bens que não eram de consumo, transformando o meio rural num espaço cada vez
mais heterogêneo e diversificado. A agricultura possibilita meios para que os
trabalhadores rurais tornem sustentável seu modelo de produção com vistas a melhorar
a condição de vida dos indivíduos envolvidos no processo de produção.
Segundo Carneiro (1997) o ritmo das mudanças destas relações sociais e de
trabalho no campo transforma as noções de urbano e rural em categorias simbólicas
construídas a partir de representações sociais que, em algumas regiões fica mais difícil
delimitarem fronteiras claras entre as cidades e o campo a partir de uma classificação
sustentada em atividades econômicas ou mesmo em hábitos culturais.
Segundo Carneiro & Castro (2007) as formas de sociedades rurais
contemporâneas apresentam transformações no âmbito das concepções de mundo,
estilo de vida, modalidades de trabalho e dos processos de tomada de decisão. A partir
deste contexto, ocorre a desvalorização do meio rural por parte da juventude e tem
contribuído para a constante saída de jovens para as cidades em busca de novos
horizontes profissionais e pessoais.
Um dos grandes desafios da pequena propriedade rural hoje baseia-se nas
dificuldades em manter o agricultor no campo, tendo em vista que seus filhos, na
maioria das vezes desesperançados por situações de clima, políticas governamentais,
baixa estima de ser agricultor e ainda ser pequeno agricultor, não possuem todas as
parafernálias que estão a disposição dos grandes e tecnificados produtores,
desestimulando o jovem a permanecer no campo e sair a procura de novas
oportunidades iludido as vezes por sonhos que se tornam pesadelos nas grandes
cidades.
A migração do jovem rural para a cidade é justamente em busca de melhores
condições de trabalho e de vida através de um emprego com uma remuneração
adequada. A falta de alternativa que garantam a sobrevivência no meio é uma das
causas desta migração. A agroecologia pode ser uma alternativa para o fortalecimento
da agricultura familiar e suas técnicas devem ser tratadas pela educação do campo. O
pequeno produtor rural tem que ter em mente que se faz agroecologia com rotação de
culturas, o não uso de defensivos agrícolas, combatendo a erosão, fazendo analises da
água potável, usar a fixação biológica do solo conhecendo os adubos verdes. Usar
solução como biodigestores, tratamento de esgoto, incorporação de restos de culturas
no solo, dizer não as queimadas, refazer a mata nativa e mata ciliar, cuidar das fontes
de água faz da propriedade rural uma empresa rural sustentável.
Um meio para garantir que a agroecologia possa ajudar e manter o jovem no
campo será a desconstrução dos conceitos da agricultura irracional na educação do
campo, levar o jovem a ver que produzir sem qualidade levara o produtor a não ter
qualidade de vida. Devem-se valorizar os pequenos, a pequena propriedade, mostrar
ao jovem que o pequeno é bonito, o bom é o local onde se vive. Dominar a produção
agrícola para que se consiga agregar valores a sua produção. O papel do professor não
é tentar comparar a vida urbana com a vida rural, cada uma tem suas peculiaridades,
beleza, mas tentar valorizar os locais onde seus alunos moram. Resgatar métodos mais
naturais de viver, de praticar a agricultura, resgatando ainda os valores familiares.
Com o uso de fotos, dinâmicas de grupos e outras atividades os alunos são
motivados para que sintam a necessidade de participar do processo, sendo peça
fundamental de transformação, e que poderão ser instrumentos de mudança em seu
meio e que é possível voltar para sua propriedade e investir nela, com capacidade de
sustentação e manutenção dessa propriedade, possibilitando que eles tenham uma
compreensão de que essa realidade pode ser utilizada como ferramenta que contribui,
auxilia e complementa a construção do conhecimento e do saber adquirido no colégio
agrícola.
4 – Atividades desenvolvidas com os alunos do curso técnico
4.1 – Projeto de Intervenção Pedagógica
As atividades ocorreram durante o primeiro semestre de 2013 com 10
intervenções, sendo 5 com cada turma com duração de 4 horas cada. Estas atividades
foram desenvolvidas com os alunos do 2° e 3° ano do Curso Técnico em Agroecologia
– Integrado do Colégio Agrícola Estadual Getulio Vargas (CAEGV), Palmeira, PR.
Na primeira intervenção foi trabalhado o conceito de Educação Rural e Educação
do Campo, onde foi utilizado o filme Jeca Tatu de cunho social e natureza crítica,
denunciando questões como o contexto arcaico do universo rural e o descaso com
doenças como o amarelão, na época sério problema de saúde publica.
Após assistirem o filme, o ponto alto foi a discussão dos alunos acerca do tema e
o que tem em comum com os dias de hoje na área rural: a compra de votos pelos
políticos, o personagem principal era humilde e pobre, mas, acima de tudo era honesto,
não importava a situação em que ele se encontrasse, as pessoas tinham uma
dificuldade maior em aprender a ler e escrever, sendo que hoje em dia há mais
oportunidades para os agricultores e seus filhos.
Com a tecnologia, hoje as oportunidades se tornaram mais fáceis para famílias
que vivem no campo, pois o governo criou muitos programas beneficiando a área rural,
liberando creditos para o agricultor adquirir máquinas, implementos e terras. O governo
também criou programas para o produtor produzir e ter garantias de venda de seus
produtos. Com esses recursos, os agricultores familiares podem ter uma vida melhor
através do seu trabalho sem precisar sair do campo e ter que ir para as cidades,
contribuindo ainda mais para o êxodo rural.
Um dos professores participantes do GTR mostrou outro filme deste estilo, que é
Tapete Vermelho, roteiro de Rosa Nepomuceno e dirigido por Luiz Alberto Pereira de
2006, com a seguinte sinopse: Quinzinho (Matheus Nachtergaele) tem uma promessa a
cumprir: levar seu filho, Neco (Vinícius Miranda), à cidade para assistir a um filme
do Mazzaropi. Eles moram num pequeno sítio no interior de São Paulo. Nessa
verdadeira odisséia por cidades do interior paulista, ele também leva sua esposa
Zulmira (Gorete Milagres), que parte a contragosto, e o burro Policarpo. Na jornada,
eles encontram peculiaridades regionais e passam por situações mágicas, relacionadas
à crendice popular.
No mesmo dia os alunos assistiram uma parte deste filme o qual demonstra o
que o capital fez com a cultura caipira e a seguir foi discutida a importância dele para a
agricultura familiar. A discussão ocorreu entre os alunos que comentaram a união da
família em percorrer as cidades do interior paulista, sobre as crendices populares que
todos os familiares mais velhos como avós acreditam e realizam e sobre as
peculiaridades regionais de suas cidades de origem.
Na segunda intervenção, que teve como tema a Valorização do Ensino Agrícola,
foi trabalhado o Bingo Humano, onde os alunos aprenderam um pouco mais sobre as
características dos seus colegas, suas cores favoritas, sua família, sua comida e
esporte favorito. Os alunos acharam muito interessante pois a atividade proporcionou
um momento de interação muito boa, fazendo com que eles não tivessem dificuldades
em achar outros colegas com as mesmas características que as suas, mesmas
preferências e mesmo favoritismo.
Outro objetivo desta segunda intervenção foi trabalhar os objetivos do Colégio
Agrícola, de acordo com o Plano de Curso dos Cursos Técnicos, onde os alunos quase
nem sabiam sobre os objetivos e acharam bem interessante, pois vai de encontro com
o objetivos deles em estarem estudando no colégio.
Na terceira intervenção que teve como tema Propostas para o Ensino Agrícola,
as atividades foram os vídeos sobre o colégio agrícola, onde ex-alunos do Curso
Técnico em Agroecologia participaram de um projeto e filmaram sobre diversos temas
como: irrigação na horta, leiteria, sistemas agroflorestais e silvicultura. Esses filmes
estão na internet para divulgar as atividades que ocorrem no colégio durante o curso.
Alem dos filmes do colégio agrícola, o ponto alto desta intervenção foi a
discussão dos alunos sobre os benefícios que o colégio trouxe para suas vidas.
Algumas considerações dos alunos:
- o colégio mudou a vida para melhor, fez ver o mundo com olhos de adultos ou
jovens e não mais com olhos de crianças;
- o regime de internato fez com que a maioria aprendesse a ter mais
responsabilidades, seja durante as aulas, mas também no convívio com outras pessoas
de diferentes regiões no mesmo quarto;
- aprender um jeito diferente de fazer agricultura e pecuária, fazer a agricultura
orgânica respeitando as formas de vida, cuidando mais do meio ambiente e da
comunidade onde eles estão inseridos;
- o colégio ensinou a nunca desistir dos sonhos, correr atrás e lutar sempre;
- o colégio ajudou alguns a sorrir mais, serem menos tímido, mais
independentes, viver em grupos, valorizar mais seus familiares, aprender a resolver
seus problemas sem a ajuda dos pais.
- novas amizades e amizade sincera com os colegas da sala de aula, com alunos
de outras turmas;
- amizades com os professores e funcionários do colégio;
- orgulho de ser granjeiro, de saber que sem a agricultura a cidade não se
desenvolve, orgulho de ter raízes no campo e de ter vindo do meio rural.
A quarta intervenção teve como tema o Curso em Agroecologia – Conceito de
Espaço Rural e Urbano e Biodiversidade. Foram discutidos os conceitos acima e após
realizadas discussões sobre o meio ambiente, poluição, os benefícios de se morar no
campo e as agruras da cidade. Foram vistas também fotos das propriedades de alguns
alunos e de ex-alunos, valorizando suas propriedades, as paisagens e os animais, as
construções das casas e jardins das famílias, mostrando as belezas de se morar no
campo.
O ponto alto do encontro foi a apresentação das redações dos alunos que
moram no campo, onde foi pedido para esses escreverem como enxergam suas
propriedades. Muitos deles viram suas propriedades com outros olhos, antes achavam
feias e depois de lida a redação passou a valorizar sua casa, sua família e o trabalho de
seus pais. Bem interessante esta discussão.
Houve ainda durante o encontro uma valorização das suas cidades, mostrando
as belas paisagens das regiões mostradas, das cidades dos ex-alunos e até das
cidades dos alunos do Curso Técnico em Agroecologia.
Para o encontro seguinte, foi pedido aos alunos que trouxessem fotos ou vídeos
de suas propriedades ou dos estágios que realizaram para postar num blog do Curso
Técnico em Agroecologia.
Na última intervenção, cujo tema foi Conceitos de Agricultura Sustentável e
Agroecologia, foram discutidos conceitos importantes, como agricultura sustentável e
agroecologia, que se configuram como elementos importantes para o desempenho do
Técnico em Agroecologia na propriedade rural. Numa agricultura sustentável, todos os
elementos estão relacionados entre si, o homem e a natureza devem estar em
harmonia, os recursos naturais (solo, vegetação, animais e água) devem estar
integrados.
Como muitas das famílias dos alunos no Curso Técnico em Agroecologia
trabalham com a cultura do fumo foi utilizada a música “O Plantador de Fumo” da
autoria de Edson Lagni para uma discussão, cuja letra fala sobre a dura realidade dos
produtores de fumo. Os alunos comentaram que seus pais são “escravos” das
empresas de fumo e a letra é a triste realidade dos produtores de fumo.
O ponto alto da intervenção foi a empolgação dos alunos em postarem no blog
agroecologiacaegv.blogspot.com.br do Curso Técnico em Agroecologia suas fotos e
seus comentários a respeito do curso e dos encontros realizados.
Foi realizada ainda uma discussão sobre os resultados finais dos encontros,
relatados a seguir:
- revisão dos conteúdos das salas de aula de uma forma diferente;
- encontros foram divertidos, fazendo com que os alunos pudessem conhecer os
colegas de sala de aula;
- filme, musica e fotos utilizadas de encontro com a realidade dos alunos;
- troca de conhecimentos entre os colegas;
- interação com os temas propostos;
- uma outra visão sobre a sua propriedade;
- a vontade de voltar a sua propriedade após o termino do curso.
Como os encontros foram realizados no período noturno, muitos alunos acharam
muito proveitosos, pois assim tinham um compromisso com a Professora Simone e a
noite passava mais rápido. Infelizmente, o colégio não oferece muitas oportunidades de
diversão aos alunos internos.
A seguir algumas das postagens dos alunos no blog do Curso de Agroecologia:
Figura 01 – Animais da propriedade de residência de um aluno
Fonte: www.agroecologiacaegv.blogspot.com.br
Figura 02 – Paisagem da propriedade de residência de um aluno
Fonte: www.agroecologiacaegv.blogspot.com.br
Foto da residência de uma aluna em São João do Triunfo, mostrando sua horta
orgânica, trabalho realizado durante suas semanas de alternância.
Figura 03 – Horta orgânica na residência de uma aluna
Fonte: www.agroecologiacaegv.blogspot.com.br
Alguns comentários dos alunos registradas durante a intervenção:
Figura 06 – Comentários dos alunos no blog
Fonte: www.agroecologiacaegv.blogspot.com.br
5 – Considerações
Os questionamentos e atividades ocorridas durante as intervenções serviram
para os alunos compreenderem que o campo e suas nuances são importantes para o
retorno aos modelos agrícolas atrativos ao pequeno produtor e sua família, pois só
poderemos desejar o retorno dos nossos alunos ao campo agroprodutivo ecológico
quando estivermos vivenciando a vida da família ou aproximando a escola ao campo,
participando de dias de campo, visitas técnicas ou feiras ou exposições agropecuárias.
Outra consideração é a continuação destes encontros com os alunos no
contraturno das aulas, para que eles desenvolvam seu senso crítico, observador,
indutor de sua historia, seja através de fotos, vídeos, musica e também através de
incentivo para que eles próprios criem seus vídeos, musicas ou outras apresentações.
Apesar de discutir o futuro dos alunos do colégio agrícola, nós professores temos
que ter maturidade para aceitar as decisões dos jovens em deixar o campo ou não.
Nosso papel enquanto educadores é construir os conhecimentos com nossos alunos e
visualizar os caminhos a serem traçados. Mas a decisão sempre será deles.
O objetivo principal das intervenções foi atingido, pois consegui sensibilizar os
alunos para a vantagem de permanecerem no campo e futuramente avaliar os
resultados obtidos pela mudança que estes alunos proporcionarão em suas
propriedades, promovendo o desenvolvimento do campo, através da qualidade do
trabalho.
Referências
ABRAMOVAY, R. et al. Juventude e agricultura familiar: desafios dos novos padrões
sucessórios. Brasília, DF: UNESCO, 1998. Blog www.agroecologiacaegv.blogspot.com.br CARNEIRO, M.J. Política Pública e Agricultura Familiar: uma leitura do Pronaf. Inf:
Revista Estudos Sociedade e Agricultura, n°8, abril, 1997.
CARNEIRO, M. J.; CASTRO, E. G. C. Juventude rural em perspectiva. Rio de
Janeiro: Mauad X, 2007. MONTEIRO, Marcos Antonio. Retrato Falado da Alternância: sustentando o Desenvolvimento Rural através da Educação. São Paulo: FAT, 2000.
Plano de Curso do Curso Técnico em Agroecologia. Colégio Estadual Getúlio Vargas. Palmeira, 2010. Texto cedido pelo estabelecimento de Ensino. WANDERLEY, Maria N.B. O mundo rural como espaço de vida: reflexões sobre a
propriedade da terra, agricultura familiar e ruralidade. Porto Alegre. Ed. UFRGS, 2009.