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231 AGROTURISMO E SUSTENTABILIDADE: ESTUDO DE CASO DO ROTEIRO “O QUATRILHO” LOCALIZADO NA CIDADE DE GRAMADO-RS. OLIVEIRA, Jéssica Nunes 1 BRIDI, Guilherme 2 RESUMO O presente artigo busca apresentar a aproximação entre questões que envolvem as no- ções contemporâneas de “agroturismo” e “sustentabilidade”, pontuando-as, como enfo- que específico, no intuito de promover reflexões e debates acerca dos desdobramentos advindos de possíveis correlações. Nesse sentido, tem-se, como objetivo principal, ca- racterizar elementos de sustentabilidade advindos do agroturismo presentes na realidade das três propriedades que compõem o roteiro “O Quatrilho”. Como objetivos específi- cos, busca-se identificar se, e de que forma, houve aumento de renda com a inclusão da propriedade no referido roteiro; Mapear pontos que compõem o perfil sócio-econô- mico-demográfico das propriedades visitadas. Para o alcance destes objetivos foi reali- zado o estudo do Roteiro de Agroturismo denominado de “O Quatrilho”, localizado na cidade de Gramado-RS, com aplicação de instrumento de coleta de dados (formulário de entrevista) com os gestores das três propriedades que se constituem como pontos de visitação que compõem o roteiro, procurando, na medida do possível, identificar e ca- racterizar os preceitos de sustentabilidade que estariam (ou não), implícitos no referido roteiro turístico. PALAVRAS – CHAVE: Agroturismo, Sustentabilidade, O Quatrilho, Gramado-RS. RESUMEN Este artículo pretende presentar el enfoque de las cuestiones que rodean las nociones contemporáneas de “agroturismo” y “sostenibilidad”, puntuando ellos, como un enfo- que específico con el fin de promover la reflexión y discusión acerca de las consecuen- cias derivadas de posibles correlaciones. En este sentido, tiene como principal objetivo caracterizar los elementos de sostenibilidad derivados de agroturismo presente en la realidad de las tres propiedades que componen el guión “Quatrilho”. Los objetivos es- pecíficos, buscan identificar si, y cómo, un aumento de los ingresos con la inclusión de la propiedad en esa secuencia de comandos; puntos del mapa que conforman el perfil so- cioeconómico y demográfico de las propiedades visitadas. Para lograr estos objetivos se 1 Graduanda em Turismo pelo Centro Universitário Metodista- IPA – e-mail: [email protected] 2 Bacharel e Mestre em Turismo, Universidade de Caxias do Sul- Doutorando e m Desenvolvimento Regional- UNISC – e-mail: gui- [email protected]

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AGROTURISMO E SUSTENTABILIDADE: ESTUDO DE CASO DO ROTEIRO “O QUATRILHO”

LOCALIZADO NA CIDADE DE GRAMADO-RS.

OLIVEIRA, Jéssica Nunes1

BRIDI, Guilherme2

RESUMOO presente artigo busca apresentar a aproximação entre questões que envolvem as no-ções contemporâneas de “agroturismo” e “sustentabilidade”, pontuando-as, como enfo-que específico, no intuito de promover reflexões e debates acerca dos desdobramentos advindos de possíveis correlações. Nesse sentido, tem-se, como objetivo principal, ca-racterizar elementos de sustentabilidade advindos do agroturismo presentes na realidade das três propriedades que compõem o roteiro “O Quatrilho”. Como objetivos específi-cos, busca-se identificar se, e de que forma, houve aumento de renda com a inclusão da propriedade no referido roteiro; Mapear pontos que compõem o perfil sócio-econô-mico-demográfico das propriedades visitadas. Para o alcance destes objetivos foi reali-zado o estudo do Roteiro de Agroturismo denominado de “O Quatrilho”, localizado na cidade de Gramado-RS, com aplicação de instrumento de coleta de dados (formulário de entrevista) com os gestores das três propriedades que se constituem como pontos de visitação que compõem o roteiro, procurando, na medida do possível, identificar e ca-racterizar os preceitos de sustentabilidade que estariam (ou não), implícitos no referido roteiro turístico.PALAVRAS – CHAVE: Agroturismo, Sustentabilidade, O Quatrilho, Gramado-RS.

RESUMENEste artículo pretende presentar el enfoque de las cuestiones que rodean las nociones contemporáneas de “agroturismo” y “sostenibilidad”, puntuando ellos, como un enfo-que específico con el fin de promover la reflexión y discusión acerca de las consecuen-cias derivadas de posibles correlaciones. En este sentido, tiene como principal objetivo caracterizar los elementos de sostenibilidad derivados de agroturismo presente en la realidad de las tres propiedades que componen el guión “Quatrilho”. Los objetivos es-pecíficos, buscan identificar si, y cómo, un aumento de los ingresos con la inclusión de la propiedad en esa secuencia de comandos; puntos del mapa que conforman el perfil so-cioeconómico y demográfico de las propiedades visitadas. Para lograr estos objetivos se

1 Graduanda em Turismo pelo Centro Universitário Metodista- IPA – e-mail: [email protected] Bacharel e Mestre em Turismo, Universidade de Caxias do Sul- Doutorando e m Desenvolvimento Regional- UNISC – e-mail: [email protected]

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realizó estudio Agroturismo hoja de ruta llamada “Quatrilho”, ubicado en Gramado-RS, con la aplicación del instrumento de recolección de datos (formato de entrevista) con los responsables de las tres propiedades que son como visitar los puntos que componen el guión, que mira a la medida de lo posible, para identificar y caracterizar los principios de sostenibilidad que podrían ser (o no), implícitos en este recorrido turístico.PALABRA-CLAVE: Agroturismo, Sostenibilidad, Quatrilho, Gramado-RS.

1. CONSIDERAÇÕES INICIAISO presente artigo possui como ideia central a busca pela aproximação entre

questões que envolvem as noções contemporâneas de “agroturismo” e “sustentabilidade”, pontuando-as, como enfoque específico, no intuito de promover reflexões e debates acerca dos desdobramentos advindos de possíveis correlações entre os referidos assuntos. Nessa direção, foi realizado o estudo do Roteiro de Agroturismo denominado de “O Quatrilho”, localizado na cidade de Gramado-RS, com aplicação de instrumento de coleta de dados (formulário de entrevista) com os gestores das três propriedades que se constituem como pontos de visitação que compõem o roteiro, procurando, na medida do possível, identificar e caracterizar os preceitos de sustentabilidade que estariam (ou não), implícitos no referido roteiro turístico. Nesse sentido, tem-se, como objetivo principal, caracterizar elementos de sustentabilidade advindos do agroturismo presentes na realidade das três propriedades que compõem o roteiro “O Quatrilho”. Como objetivos específicos, busca-se identificar se e de que forma houve aumento de renda com a inclusão da propriedade no referido roteiro; Mapear pontos que compõem o perfil sócio-econômico-demográfico das propriedades visitadas. Compreende-se, igualmente, que diante da atual conjuntura, na qual os estudos de sustentabilidade aparecem na vanguarda das preocupações nacionais e internacionais, há um monopólio de parte significativa das atividades de pesquisa, de ensino e, por conseguinte, das práticas sociais de uma maneira geral. Além disso, emergem de imediato questões que buscam contemplar possíveis formas inovadoras para sua aplicação, de maneira concreta, exequível e imediata, em se tratando, neste trabalho, do enfoque no setor de Agroturismo. Nessa definição, cumpre ressaltar que este trabalho não tem a intenção de fazer generalizações, mas sim servir como alicerce seguro para a construção de posteriores estudos de maior abrangência sobre o mesmo assunto. Dessa forma, o epicentro das discussões aqui abordadas envolve uma análise, ainda que inicial, das relações entre sustentabilidade e agroturismo, e possíveis desdobramentos que envolvem ambos os temas. No plano do conteúdo escolhido como tema, vale destacar Costa (2002), que considera os princípios de sustentabilidade a partir da ideia de desenvolvimento sustentável necessariamente ligado à capacidade de progredir, sem agressão ou dano aos recursos utilizados, trazendo benefícios a ambos os atores envolvidos no processo; nesse caso, o indivíduo e o ambiente contemplando a

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sustentabilidade sob a perspectiva econômica, ambiental e social. De outra parte, em se tratando do Agroturismo, sublinha-se os ensinamentos de Guzatti (2003), quando aponta que a referida atividade constitui-se como um dos principais agentes do desenvolvimento sustentável no espaço rural.

2. CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO

2.1 ROTEIRO O QUATRILHOLocalizado nas localidades de Campestre do Tigre e Tapera, conhecidos por ser

os locais aonde viveram os protagonistas do livro e filme homônimo, o roteiro turístico “O Quatrilho” possibilita ao turista ser convidado a conhecer a história das famílias que colonizaram as terras da referida região. O roteiro conta com visita a três propriedades com efetiva caracterização histórico-cultural em que se possibilita conhecer e vivenciar as práticas das mesmas. Como elementos adicionais do passeio, o turista possui contato direto com elementos do cultivo de frutas e a produção de vinho, um moinho colonial, além do o cenário inspirador que conta com a visita a um mirante, promovendo uma aproximação com a natureza e, ao mesmo tempo, oferecendo opções de mesa farta. A combinação desses elementos transforma a experiência do roteiro e passeio em um momento muito agradável aos turistas que usufruem do mesmo3.

3. REFERENCIAL TEORICO

3.1 SUSTENTABILIDADEEste trabalho, propôs-se a adotar, dentro do possível, um critério objetivo de

construção conceitual. Inicialmente, será abordado o contexto que envolve as discussões sobre sustentabilidade, para que, posteriormente, sejam examinadas as articulações e cruzamentos do tema em questão com a agroecologia e o agroturismo.

Guardando coerência com o critério de construção mencionado no parágrafo anterior, e com base nos apontamentos de Costa (2002), um conceito objetivo de sustentabilidade é aquele que traz a ideia de desenvolvimento sustentável necessariamente ligado à capacidade de progredir, sem agressão ou dano aos recursos utilizados, trazendo benefícios a ambos os atores envolvidos no processo; nesse caso, o indivíduo e o ambiente.

Como se percebe, pelo significado intrínseco de beneficiamento recíproco entre indivíduo e ambiente, o conceito de sustentabilidade é tido como relativamente novo, se considerarmos o contexto histórico do desenvolvimento da sociedade, que nem sempre se

3 Disponível em: http://www.gramado.rs.gov.br/pt-BR/turista/roteiro-agroturismo. Acesso em 01/07/2015

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preocupou com a preservação dos recursos naturais. No entanto, cabe aqui a reflexão de que as gerações passadas, principalmente as comunidades de origem indígena, pareciam saber aplicar muito bem as bases desse princípio sustentável, embora ainda não estivessem próximas de elaborar uma definição conceitual para o referido termo.

Dessa forma, ainda para Costa (2002), parece evidenciar-se que a ideia de desenvolvimento sustentável surgiu a partir da preocupação com o caráter “predatório”, o qual a sociedade inclinou-se a corporificar, com muita voracidade, durante todo o século XX.

Com efeito, o consumo desenfreado, a exploração de nossas riquezas vegetais e minerais, aliados à pouca preocupação em preservar os recursos naturais do meio em que vivemos, fazem com que esse nosso contexto seja matematicamente insustentável; ficando evidente que repensar as formas e processos de exploração dos recursos naturais tornaram-se imprescindíveis e vitais, para que possamos buscar novamente o equilíbrio com o ambiente.

Conforme Machado (2005), o conceito de Desenvolvimento sustentável passou a ser amplamente utilizado a partir da década de 1980, em relatórios oficiais e artigos como o “ Estratégia para conservação mundial”, publicado pela União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais.

De acordo com esses documentos, para Costa (2002), entende-se que o desenvolvimento sustentável não é um estado permanente de harmonia; mas, sim, parte de um processo de mudança, no qual a exploração dos recursos, a orientação dos investimentos e os rumos do desenvolvimento de novas tecnologias estão de acordo com as necessidades atuais e futuras, promovendo, dessa forma, um equilíbrio social, econômico e ecológico.

De uma forma geral, as reflexões aqui apontadas buscam contemplar a ideia de sustentabilidade como a capacidade de realizar avanços sem agressão/dano permanente aos recursos utilizados.

Assim sendo, dando sequência à lógica proposta para este trabalho, serão abordados aspectos que envolvem um campo de estudos que, em sua forma concepcional, possui relação direta com preceitos de sustentabilidade.

3.2 AGROECOLOGIADe acordo com os apontamentos de Caporal e Costabeber (s.a.), a Agroecologia

possui sua gênese conceitual como um novo enfoque científico e multidisciplinar, buscando consolidar-se como base para um movimento de transição a modelos de agricultura sustentáveis e, consequentemente, contributivos para o desenvolvimento rural sustentável, através do uso de tecnologia ou na mudança da base técnica da agricultura; possibilitando, através desse novo viés, o surgimento de novas relações sociais, e de um redimensionamento na relação dos homens com o meio ambiente

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Corroborando essas concepções conceituais de Agroecologia, para Sevilla Guzmán (2001), a Agroecologia constitui-se em um novo campo de estudos que contribui para a construção de estratégias que busquem o desenvolvimento rural, através da ênfase com vistas a promover o desenvolvimento endógeno e a realçar a importância da construção e reconstrução do conhecimento local, como base para os processos de transição agroecológica, tal como já mencionado por Caporal e Costabeber (s.a.).

Em complemento ao acima exposto, ainda em Caporal e Costabeber (s.a. p.03), encontramos as afirmações:

[...], como nos ensina Gliessman (2000), o enfoque agroecológico pode ser definido como “ a aplicação dos princípios e conceitos da Ecologia no ma-nejo e desenho de agroecossistemas sustentáveis”, num horizonte temporal, partindo do conhecimento local que, integrando ao conhecimento científico, dará lugar á construção e expansão de novos saberes socioambientais, ali-mentando assim, o processo de transição agroecológica[...]

De outra parte, por definição de Agroecossistema, compreende-se, segundo Gliessman (2000, p.61),

[...] um local de produção agrícola - uma propriedade agrícola por exemplo -compreendido como um ecossistema. O conceito de agroecossistema pro-porciona uma estrutura com a qual podemos analisar os sistemas de produção de alimentos como um todo, incluindo seus conjuntos complexos de insumos e produção e as interconexões que os compõem.

Na esteira de mesmo entendimento, somam-se também as considerações de Assis e Romeiro (2002), os quais apontam que, através da busca por agroecossistemas sustentáveis, a agroecologia assume características de menor dependência possível de insumos externos, possibilitando que haja, de maneira mais efetiva, a preservação dos recursos naturais. Nessa direção, os sistemas agroecológicos possuem como função-base maximizar a reciclagem de energia e nutrientes, reduzindo, assim, a quantidade de perdas destes recursos entre os processos produtivos.

Ainda para Caporal e Costabeber (s.a.), a Agroecologia incorpora dimensões complexas, que incluem variáveis econômicas, sociais e ambientais, culturais, políticas e éticas da sustentabilidade. Os autores consideram, como importantes e indispensáveis requisitos, a necessidade de que a agricultura sustentável atenda aos seguintes critérios:

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• Uso de recursos renováveis e acessíveis;• Utilização dos impactos benéficos do ambiente local;• Aceitação e/ou tolerância das condições locais;• Manutenção a longo prazo da capacidade produtiva;• Preservação da diversidade biológica e cultural;• Utilização do conhecimento e da cultura da população local;• Produção de mercadorias para consumo interno e para a exportação;• Baixa dependência de inputs comerciais.Sob essa lógica de critérios sustentáveis, contemplados atualmente pela

Agroecologia, parece ficar evidenciada a dimensão ampla e complexa com que se pode pensar os desdobramentos e a pluralidade de utilização da mesma.

Partindo dessas considerações, embora sem desconsiderar a importância e a amplitude de dimensões desse assunto, será dado enfoque específico, conforme o propósito inicial deste trabalho, para o uso da Agroecologia com fins turísticos, dando origem ao segmento conhecido como Agroturismo.

3.3 AGROTURISMOConforme as considerações de autores como Trigo (2003) e Barretto (2006), o

crescimento do turismo, nas últimas décadas, e a sua complexificação como fenômeno possibilita muitas discussões. Como resulta evidente das observações dos autores, essa ampliação das questões e sujeitos envolvidos pelo turismo é decorrente justamente da abrangência de sua categoria como fenômeno, e dos impactos que a atividade pode apresentar, tanto em âmbito social, econômico, cultural, político e ambiental, em diversos atores.

Em seus estudos do tema, Ignarra (2003) sinaliza, em se tratando da complexidade do turismo contemporâneo, um possível caminho para a organização e profissionalização da atividade, consolidando-se na segmentação em diversificadas tipologias de turismo, utilizando-se de critérios específicos de seleção. Para o autor, quanto mais as características do público-alvo forem conhecidas, maior será a eficácia das técnicas de viabilização da atividade. A inserção de novos segmentos e público-alvo faz com que o turismo contemple e envolva propostas de criação de alternativas para determinados tipos de turista, fazendo, dessa forma, com que a atividade turística esteja em constante desenvolvimento.

Sem entrar no mérito da importância de se discutir cada um dos segmentos que compõem o turismo atualmente, é forçoso que se dê enfoque para as discussões que envolvem o segmento do Agroturismo, não só por esse o tema específico do presente trabalho; mas justamente pelo fato de que, em sua origem, o Agroturismo possui, subjacentemente, os preceitos de sustentabilidade, possibilitando, inclusive, reflexões acerca de suas relações com os conceitos de Agrocologia aqui contemplados.

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Dessa forma, em se tratando do Agroturismo, observa-se os apontamentos de Guzatti (2003, p.17)

[...] o agroturismo é apontado como uma ferramenta importante na cons-trução de um desenvolvimento sustentável do espaço rural. Isso porque seu principal produto é o(a) agricultor(a), seu modo de vida, sua cultura e tradi-ções, seu trabalho e o meio ambiente onde vive, justificando-se o interesse da atividade turística em manter e valorizar estes “bens”. Assim, são indicadas inúmeras possibilidades para os agricultores familiares nesta atividade: a pro-dução de alimentos saudáveis, o processamento destes alimentos em peque-nas indústrias, a preservação da natureza e da cultura, a prestação de serviço, o lazer, dentre tantas outras atividades que se multiplicam no espaço rural e consagram-se como novas oportunidades de geração de renda e de trabalho.

Vislumbrando este mesmo cenário, para Pires et Al (2009), as atividades do Agroturismo ocorrem eminentemente em propriedades rurais, com a proposta de participação efetiva dos turistas nas atividades cotidianas das famílias que os hospedam. Os autores acrescentam ainda que tais atividades ocasionam consideráveis alterações no cotidiano das famílias e do município receptor, intervindo positiva e negativamente, não somente no espaço natural, mas também cultural e familiar da população

Do modo com é posta essa questão, Guzatti (2003) ressalta a linha teórica conceitual que identifica o Agroturismo como um segmento que possui relação direta com à agricultura familiar, possibilitando, inclusive, a integração e interação com a produção agrícola, meio ambiente, cultura local, entre outros.

Além disso, Guzatti (2003, p.54-55) destaca algumas características que melhor identificam a atividade de Agroturismo, sendo as mesmas:

- o agroturismo é desenvolvido em propriedades rurais familiares que ma-nejam adequadamente os recursos naturais. Trata-se de um turismo ambien-talmente correto, que busca uma convivência harmônica com a natureza, promovendo a educação ambiental. Além disso, o agroturismo deve contribuir para uma harmonização da paisa-gem rural local.- o agroturismo deve oferecer aos visitantes produtos (in natura e transforma-dos) produzidos na unidade familiar e/ou entorno rural, com qualidade [...];[...]- o agroturismo valoriza e resgata o artesanato regional e a cultura da família do campo, além de manter os eventos típicos do meio rural (ex. Festa de São João), respeitando e valorizando o modo de ser do homem do campo. Além disso, os agricultores que desenvolvem o agroturismo em suas proprie-

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dades devem trabalhar em cooperação e solidariedade. - o agroturismo deve incentivar a diversificação da produção e propiciar a comercialização direta desta produção pelo agricultor. Além disso, o agroturismo deve contribuir para a revitalização da propriedade rural e para o resgate e manutenção da auto-estima dos produtores;

Nessa conjuntura, parece possível conceber uma perspectiva futura, em que o Agroturismo se consolide e seja reconhecido como um segmento do turismo que favoreça o desenvolvimento rural, através de aspectos como a sustentabilidade, a cooperação, a geração de renda e a manutenção do homem no campo. Enfim, que possa estar inserido como uma “subárea” da Agroecologia, sendo caracterizado como um de seus principais agentes contributivos, visando o alcance do objetivo macro, que diz respeito à busca pelo desenvolvimento sustentável no meio rural.

4 METODOLOGIA Conforme as concepções iniciais deste artigo, o método empregado foi o estudo de

caso, com aplicação de instrumento de coleta de dados (entrevista padronizada) de caráter qualitativo.

Segundo Yin (2010), o método estudo de caso contribui para o conhecimento de diversos fenômenos sejam eles, políticos, sociais, individuais, grupais. A importância do estudo de caso, surge da necessidade do pesquisador em compreender eventos sociais complexos.

Para Marconi e Lakatos (2007), a entrevista é a conversação entre duas pessoas, com o objetivo, de que uma delas, obtenha as informações sobre determinado assunto. Este instrumento é usado para coleta de dados, investigação ou ajudar no diagnóstico de um problema social

O instrumento de coleta de dados estava organizado em 11 perguntas abertas, as quais possibilitavam aos sujeitos entrevistados prestar as informações sob suas particularidades.

. 4.1 DEFINIÇÃO DOS SUJEITOS DA PESQUISA

Para a seleção dos sujeitos da pesquisa dos observou-se os seguintes critérios:

• Localização: Gramado. Os sujeitos estão “lotados” no município de Gramado – RS• Cargo: todos os sujeitos são sócio/proprietários dos estabelecimentos.• Contexto: os estabelecimentos são todos integrantes do roteiro “O Quatrilho”.

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4.2 COLETA DE DADOS A coleta de dados compreendeu as seguintes etapas: Agendamento prévio da visita

as propriedades, através da agência organizadora do roteiro e aplicação da entrevista de forma presencial, junto aos proprietários de cada um dos três pontos de visitação que compõem o roteiro.

5. ANÁLISE DOS DADOS E RESULTADOSConforme exposto no item anterior, foi aplicado instrumento de coleta de dados

junto as três propriedades que compõem o roteiro, sendo estas, denominadas, a partir de agora, de propriedade A, B e C.

Dentro desse contexto, serão compiladas, primeiramente, as respostas de cada uma das questões aplicadas, para posterior análise.

A primeira pergunta visava identificar qual o tempo em que a propriedade pertence às famílias em questão. Como respostas, a propriedade A pertence à família há cerca e 120 anos, sendo passada de geração em geração. Já a propriedade B pertence à família desde 1952. A propriedade C é a mais recente das três, sendo datada de 1972.

A segunda pergunta buscava analisar o que mudou nas propriedade após a inserção desse roteiro turístico. Todas responderam que o roteiro ajudou a aumentar a renda das famílias. A primeira propriedade também agrega a possibilidade de conhecer pessoas diferentes.

A terceira pergunta, buscava identificar quantos visitantes são recebidos por mês nas propriedades. Nenhuma delas faz um controle sobre esse número, no entanto o guia turístico, passou a informação de que em alta temporada são recebidos em torno de 640 visitantes e em baixa temporada, no máximo 360 visitantes.

A quarta e quinta pergunta, visava verificar se os proprietários possuem filhos, e caso sim, onde eles moram. Os proprietários A, possuem 2 filhos pequenos, que moram no local. Os proprietários B, possuem 3 filhos, sendo que a filha mais nova mora no local, e os 2 filhos mais velhos, moram próximos. Os proprietários C, possuem 2 filhos que moram na cidade de Canela-RS.

A sexta e sétima pergunta, buscava analisar se o negócio é apenas de cunho familiar e quem trabalha na propriedade. Todas responderam que o negócio é apenas de cunho familiar. Na propriedade A, trabalham os dois proprietários, e em época de colheita os vizinhos ajudam uns aos outros, ou é contratado um funcionário. Na propriedade B, trabalham os proprietários juntamente com os filhos. E na propriedade C, trabalham os dois proprietários juntamente com uma funcionária.

A oitava pergunta, buscava identificar da onde vem o sustento dessas famílias. O proprietário A, respondeu que o sustento de sua família vem do agronegócio e agroturismo. A proprietária B, disse que vem do agroturismo, agronegócio, artesanato e aposentadoria. A proprietária C, respondeu que seu sustento vem do café colonial, agroturismo e aposentadoria.

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A nona pergunta, buscava verificar se os proprietários tem a intenção de expandir seu negócio. A propriedade A, respondeu que não tem a intenção de expandir, pois dessa forma, deixa de ser um produto de cunho artesanal. A propriedade B, disse que no momento não estão pensando em expandir. A propriedade C não respondeu a este questionamento.

A décima e décima primeira pergunta, visavam identificar o que é produzido nas propriedades e onde são comprados os demais mantimentos. Na propriedade A, são produzidos vinhos, geleias, licores, doces feitos com frutas, sucos e graspa. Na propriedade B, existe a criação de animais, como porco e galinha para consumo, há plantação de milho e porongo, são feitos artesanatos com matéria prima local, e também, lenha para venda. Na propriedade C, são feitos todos os alimentos servidos no café colonial, inclusive embutidos, porém a matéria não é produzida no local. Todos os proprietários responderam que os demais mantimentos são comprados na cidade de Gramado.

Retomando o primeiro objetivo específico proposto para este trabalho, o qual consistia em identificar se e de que forma houve aumento de renda com a inclusão da propriedade no referido roteiro, percebe-se que o mesmo foi atingido através das questões 2 e 8 do formulário de entrevista, em que se observa que todas as propriedades informam que, de fato, houve aumento da renda com esse movimento. Contudo, foi igualmente identificado que o sustento pelo agroturismo da propriedade se dá de forma parcial, sendo necessário complementar a renda com fontes adicionais, tais como: agronegócio, artesanato, aposentadoria.

O segundo objetivo especifico, tinha o intuito de mapear o perfil sócio-econômico-demográfico das propriedades visitadas. Nesse sentido, pode-se perceber que no que tange ao perfil social, as famílias tem boas condições em receber os turistas em suas residências, todas atenderam seus visitantes com prazer. Também pode-se perceber na questão 7, onde a família A explica que em época de colheita os vizinhos ajudam uns aos outros, que existe uma boa relação social entre a comunidade em geral.

Em relação ao perfil econômico, nas questões 10 e 11 verificou-se que em todas as propriedades são produzidos os elementos que geram a maior parte da renda familiar, tanto para consumo interno quanto para venda, e também que são comprados na cidade local, tudo aquilo que lhes é necessário e não é produzido em suas propriedades, isso faz com que haja movimentação de dinheiro dentro da cidade. Em contrapartida, na questão 9, percebeu-se que os proprietários não tem a intenção de expandir seu negócio por achar que não tem necessidade ou por receio de que perca a identidade de agronegócio. Também identificou-se que apenas a família C contrata mão de obra local, as demais efetuam contrações apenas em época de colheita ou não há nenhuma contratação, dessa forma sendo apenas um negócio de cunho familiar, como pode-se perceber na questão 6.

Sobre perfil demográfico, pode-se identificar na questão 1 que as propriedades pertencem aquelas famílias há muito anos, sendo a mais recente, a propriedade C, que está

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na família desde 1972. Essas propriedades foram passadas de geração em geração. Também identificou-se, que os proprietários possuem entre 2 e 3 filhos que moram nas propriedades e ajudam nos negócios, apenas os filhos da família C, não moram na propriedade. Sendo assim, é provável que os mesmos deem continuação aos negócios das famílias.

Como objetivo principal, buscou-se caracterizar elementos de sustentabilidade advindos do agroturismo presentes na realidade das três propriedades que compõem o roteiro “O Quatrilho”.

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS Ao concluir este trabalho, constata-se que, desde o seu aparecimento, em termos

gerais, o tema sustentabilidade vem suscitando, com toda procedência, uma onda de crescentes preocupações, ao mesmo tempo em que obtém o reconhecimento de seu valor científico, através de citações nas mais diferentes áreas da literatura científica.

Mais ainda, o indispensável debate sobre as questões que envolvem a sustentabilidade do planeta tem se revelado nas sucessivas decisões e intervenções de autoridades públicas e privadas, e em sua adoção como conteúdo obrigatório em diferentes cursos acadêmicos, nas grandes universidades do país.

Ao abordar o tema de forma objetiva, procurando ser fiel ao espírito científico que presidiu este trabalho desde a sua elaboração, entende-se ter sido pertinente e necessária a inclusão, em termos específicos, de outras áreas, como a de Agroecologia e Agroturismo, sobretudo em respeito às pequenas comunidades que vivem exclusivamente do Agroturismo, já que, como foi evidenciado ao longo do texto, autores como Guzatti (2003), indicam que a referida atividade tem a função de preservar e resgatar a cultura local, contribuindo, particularmente, para o desenvolvimento rural.

Nesse sentido, tem-se, como objetivo principal, a intenção de aprimorar e aprofundar, incansavelmente se necessário, as questões que se desdobram e se imbricam entre Sustentabilidade, Agroecologia e Agroturismo, de modo a colaborar com a ampliação de seus conteúdos e horizontes, buscando a atualização em novos temas que, certamente, irão surgindo, na mesma medida em que a humanidade progride.

E esse empenho em manter, sempre viva e atual, essa discussão a respeito do Agroturismo, relacionando-o com Sustentabilidade, Agroecologia e Desenvolvimento Rural tornou-se um dever irrecusável e incontornável desta e das próximas gerações, face a premente necessidade de uma revisão substancial dos conceitos que dizem respeito à preservação da vida e da sustentabilidade do planeta.

Enfim, apesar das gerações anteriores terem permanecido praticamente omissas e inertes frente ao problema da sustentabilidade, o tratamento que se exige hoje, em algumas situações-limite, implicou modificações sociais e ambientais que não podem mais ser desconsideradas, preteridas ou relegadas. E o Agroturismo tem se mostrado uma das

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possíveis e eficazes soluções para que se possa trilhar um novo caminho de resgate do equilíbrio econômico, social e ambiental das futuras gerações.

Contudo, para o caso específico abordado neste artigo, há que se ponderar que ainda a necessidade clara de maior atenção, investimento, valorização, planejamento e organização por parte de todos atores da governança turístico envolvidos, para que se consolide futuramente o cenário de promissor potencial de desenvolvimento e geração de renda para os sujeitos inseridos no mesmo que se apresenta no atualidade.

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