AH, FALA SÉRIO, AÊ! PRECONCEITO LINGUÍSTICO PRA QUÊ?2015.ão Fala Sério, de autoria da...
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Universidade Federal de Campina Grande
Programa de Ps-Graduao em Linguagem e Ensino 1
ANAIS ELETRNICOS ISSN 235709765
AH, FALA SRIO, A! PRECONCEITO LINGUSTICO PRA QU?
Francielly Coelho da Silva franciellycdsp@gmail.com
Universidade Federal do Rio Grande do Norte
RESUMO
Por se tratar de uma coleo que, com seus temas e linguagem atuais, alm do gnero discursivo, crnica, desperta facilmente o interesse dos adolescentes da faixa etria que ensinamos (8 e 9 anos), por perceber que, em alguns momentos, a narradora da histria deixa transparecer o quanto h de preconceito em seu olhar sobre o modo de falar das pessoas a sua volta, com este trabalho, me proponho a analisar de que modo se apresenta o preconceito lingustico uma das crnicas da coleo Fala Srio, de autoria da jornalista e escritora Thalita Rebouas, cujo pblico-alvo so os adolescentes. Alm disso, busco discutir, com base em Bagno (2004), Bortoni-Ricardo (2005), Azambuja (2012), Tavares (2013), Vieira (2013), Grski; Freitag (2013) e Cyranka (2014) de que maneira se pode levar reflexo os alunos sobre esse tipo de preconceito que se apresenta na coleo supracitada, tomando como base um ensino de lngua que considere a variao e a mudana. Proponho trs atividades que podem ser desenvolvidas em sala de aula a partir dessas crnicas. Acredito, desse modo, poder contribuir para um ensino de lngua em que com base na variao e na mudana se combata o preconceito lingustico a partir do entendimento do porqu que ele existe e do porqu que no deveria existir.
Palavras-chave: Preconceito Lingustico. Variao Lingustica. Ensino.
1. Para incio de conversa...
Por que escrevo este artigo? Eis as duas razes... Primeiro, porque, como
pesquisadora e sociolinguista, sinto-me no dever social de expandir populao o
mailto:franciellycdsp@gmail.com
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que aprendi na universidade. Segundo porque, como professora da educao bsica, tento a meu modo, discutir questes com que me deparo em meu cotidiano e que
acredito que meus colegas de profisso tambm se deparem. Penso: em vez de
compartilhar angstias (enquanto professora) ou dizer o que no deveria ser feito no
trabalho com a variao lingustica em sala de aula (enquanto pesquisadora), melhor
unir os conhecimentos adquiridos ao longo de minha formao, especialmente, no
mestrado, com a experincia de sala de aula e apresentar propostas (prticas possveis)
de como discutir o tema nas aulas.
E por que abordar o preconceito lingustico e no outra temtica? Bem. Porque,
de fato, me inquieta presenciar, todos os dias, atitudes de preconceito em relao ao
modo como meus alunos falam. incmodo ouvir de professores e dos prprios alunos
o quanto eles falam errado e feio, ou mesmo, no sabem falar, o quanto eles, com
seus usos, destroem a lngua. Exatamente para discutir essa questo que tanto me
incomoda e que, com certeza, se repete em tantas e tantas escolas brasileiras, pensei
tomar para mim um pouco da responsabilidade de contribuir, de algum modo, para a
reflexo do tema. Mas isso ainda poderia significar pouco, uma vez que j existem
diversos artigos e livros que discutem de modo bastante interessante o preconceito
lingustico. Precisava contribuir mais. Por isso, pensei em propor algo prtico.
Como trabalho com alunos de ensino fundamental, frequentemente leio livros
que os interesse. Da que, na escola em que trabalho, surgiu a coleo Fala Srio...,
composta por seis livros de crnicas, escrita por Thalita Rebouas. Os alunos
mostraram bastante interesse na leitura dessas obras. Foi ento que resolvi l-los
tambm a fim de saber de que tratavam. Os livros apresentam crnicas interessantes
para os adolescentes. Uma delas me chamou ateno em especial. Trata-se da crnica
cada uma que me aparece... 5. A personagem protagonista, narradora da histria,
estudante de jornalismo, Malu, se mostra bastante preconceituosa no que se refere
fala de um rapaz que demonstra interesse por ela. Encontrada a crnica, muito
adequada para a discusso do tema, precisava planejar de que modo a utilizaria em
sala para discutir o preconceito lingustico. Preciso, porm, esclarecer que, aqui,
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apresento apenas a proposta, e no, o relato da experincia que vivenciei com meus alunos.
Antes de exp-la, no entanto, acredito ser relevante refletir sobre alguns
questes. Por isso, este artigo encontra-se dividido da seguinte forma: primeiro,
apresento em que preceitos da Sociolingustica o professor de lngua materna deve se
embasar a fim de trabalhar a variao e a mudana; depois, reflito sobre o preconceito
lingustico propriamente; por fim, apresento a proposta de atividade para discusso do
tema em sala de aula.
2. Sociolingustica, para que te quero?
Alguns preceitos da Sociolingustica so considerados por pesquisadores da rea
essenciais prtica docente: o entendimento de que a lngua homognea e,
historicamente, situada; de que todas as variantes lingusticas possuem significado
social e que a avaliao dos falantes em relao a essas formas interferem nos rumos
da mudana; de que a lngua faz parte da identidade sociocultural de qualquer
grupo/comunidade; de que preciso ter noo de norma(s) lingustica(s) e da
motivao poltica da escolha de uma norma padro. Da ser recomendvel ao
professor que (re)conhea fenmenos de variao e de mudana existentes no
Portugus Brasileiro (PB) em seus diferentes nveis lingusticos e regies do pas, em
diferentes pocas, seja na modalidade falada, seja na escrita, e que, a partir da,
busque entender as motivaes lingusticas e/ou sociais da variao e da mudana que
envolvem os fenmenos por ele estudado (GRSKI; FREITAG, 2013, p. 21).
Ao aceitar a heterogeneidade da lngua, assim como sua historicidade, o
docente no considerar como vlida apenas uma nica variante. Ao contrrio,
entendendo que a lngua muda ao longo do tempo, no encarar como erro os usos
lingusticos de seus discentes. E sim, como variaes ou mudanas naturais no PB. No
desvalidar as variantes utilizadas por eles.
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Ao entender que a lngua fator de identificao sociocultural de grupos/comunidades, poder auxiliar na tarefa de fortalecimento da identidade dos
grupos/comunidades a que os discentes pertencem, fazendo-os reconhecer
importncia nas variantes que utilizam, buscando aprofundar o conhecimento das
regras gramaticais e dos fatores que influenciam seus dizeres.
Ao reconhecer que no existe apenas uma norma culta, mas vrias, poder
proporcionar aos seus discentes as reflexes necessrias para que se adequem
linguisticamente aos mais diferentes contextos exercendo os papis que lhes so
devidos enquanto cidados.
O docente bem fundamentado na Sociolingustica, reconhece que existem
fatores tanto lingusticos quanto extralingusticos que interferem na escolha de uma
variante em detrimento de outra e que os fenmenos no se processam do mesmo
modo em todas as regies do pas em todos os contextos. Da ser relevante sua
constante atualizao para o conhecimento de pesquisas realizadas na rea (seja na
leitura de livros, artigos, dissertaes e teses, seja na participao em eventos), alm
de ser, ele prprio, um pesquisador dos modos de falar das comunidades a que seus
alunos pertencem.
No entanto, mesmo que o professor se conscientize e concorde com o que foi
exposto acima, certamente, ter muito o que enfrentar, seja pela possibilidade de
outros professores de sua rea no entenderem seu ponto de vista, seja por parte da
coordenao de sua escola e at dos pais (com seus modos de enxergar a lngua e seu
ensino modelados por suas experincias anteriores enquanto alunos e pela prpria
mda).
No que se refere oposio desta, citam Grski; Freitag (2013, p. 37), como
exemplo, a revista Veja, edio 2236, de 28 de setembro de 2011, que acusa os PCN
(1997) de incentivar o ensino do que eles chamam de portugus errado e de
determinar aos professores que no corrijam o modo de falar de seus alunos. De
acordo com a revista, o documento est ancorado em uma ideologia segundo a qual
distinguir o certo do errado no ensino do idioma 'preconceito lingustico'. E
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completa que descabido formar crianas que sero preteridas no mercado do trabalho por no saber usar corretamento o idioma..
Ora, os PCN no incentivam o ensino do portugus errado. At porque, como
nos diz Bagno (2004, p. 25), essa ideia elitista e no-cientfica. O que quer dizer que,
para a cincia lingustica, no h portugus errado, e sim, uma ideia errada do que
seja o portugus. S podendo se qualificar de erro lingustico aquilo que
comprometesse a comunicao entre os interlocutores, tal q