Alagoas em Peso da Régua, uma nova centralidade urbana · urbana e social em mudança Ciclo de...
Transcript of Alagoas em Peso da Régua, uma nova centralidade urbana · urbana e social em mudança Ciclo de...
Arte Urbanano Bairro de Alagoas
Publicação da Responsabilidade de _
Distribuição Gratuita_ Junho de 2008_ ano 1_ nº2
Habitação e Reabilitação Urbana
Alagoas em
Peso da Régua, uma nova
centralidade urbanaLançamento da Edição
da Revista Monumentos
dedicada a Vila Viçosa
índice
editorial
arrendamento
Porta 65 Jovem - alterações legislativas
IHM
Investimentos Habitacionais
da Madeira
habitação social
Odivelas um município sustentável
habitação
Evolução ao longo do tempo dos
programas: Habitação a Custos
Controlados, Realojamento
e Reabilitação Urbana
reabilitação urbana
A Bouça de Siza um sucesso de coesão
urbana e social
em mudança
Ciclo de conferências no IHRU
e Apresentação da iniciativa
JESSICA no IHRU
_1
_2
Director:
Eng. Nuno Vasconcelos
Projecto e Produção:
Dr. Luís Macedo e Sousa
Design Gráfico e Paginação:
Maria Alexandra Reis Silva
Conteúdos:
redacção da Causas Comuns
Impressão:
Europam
Tiragem:
7.500 exemplares
nº2_Junho 2008
Causas Comuns é uma publicação
periódica do Instituto da Habitação
e da Reabilitação Urbana
ficha técnica
_6
em mudança
Doutora Maria João Freitas -
importância da consolidação
dos programas integrados
de reabilitação urbana
reabilitação urbana
Alagoas - Régua mostra à Europa
exemplo de requalificação
reabilitação social
Lagarteiro sai do mapa
dos bairros críticos
património arquitectónico
IHRU participou nas
I.as Jornadas do Património
e Apresentação da 27.ª Edição
da Revista MONUMENTOS
_12
_17
_22
_26
_27
_32
_36
_40
www.portaldahabitação.pt
A Iniciativa “Porta 65 Jovem” que,
em Setembro de 2007, substituiu o antigo
“Incentivo ao Arrendamento por Jovens”(IAJ),
foi agora sujeita a uma alteração legislativa
visando corrigir algumas deficiências
que lhe foram apontadas.
O coordenador técnico da “Porta 65 Jovem”,
Angenor Afonso, resume o essencial dessas
alterações, bem como analisa os resultados
do primeiro período de candidaturas.
arrendamento
Eng. Angenor Afonso
texto_Carlos Peralta
Angenor Afonso refere em primeirolugar as inovações que o Porta 65-
-Jovem trouxe em relação ao antigoIAJ, que vigorou desde 1992até 3 de Setembro de 2007:“O IAJ era um processo que tinhamuitos papéis. Todos os diasentravam novas candidaturas queeram analisadas através de umprocesso moroso e burocratizado.A grande inovação que trazo Porta 65-Jovem é que esteprograma é totalmente desmate-rializado, tudo é feito “on line”mediante o preenchimentode determinados écrans, formulá-rios e os documentos são anexadosem formato PDF (contratode arrendamento, Bilhete de Iden-tidade, recibo da renda, entreoutros). Tudo funciona numaplataforma tecnológica criada parao efeito”.Outro aspecto relevante diz respeitoao facto da autenticação dos jovens
ser feita através do site das decla-rações electrónicas da DirecçãoGeral de Contribuições e Impostos(DGCI) isto é, os jovens acedemà plataforma preenchendo o seuNIF (número de identificação fiscal)e a respectiva senha de acesso.A partir daí, no site da Porta 65-
-Jovem surgem imediatamentevários dados como o nomedo candidato, a morada fiscal, datade nascimento, etc. Em seguidacom introdução do Distrito,Concelho, Freguesia e artigode matriz do prédio, o sistemaregressa ao “site” das Finançasonde vai buscar os dadosdo locado, (morada, tipologia, entreoutros). A plataforma tecnológica,perante esses dados faz logo umaprimeira triagem propondo acei-tação ou rejeição da candidaturasendo, posteriormente, validadainternamente pelos serviços.Está previsto que, em breve,a verificação de rendimentostambém seja feita através dasFinanças por meio de um
“webservice” que está a ser criado.
De notar que também é verificado,
via Finanças, se o jovem é proprie-
tário de algum imóvel.
Período de
transição curto
Segundo o Coordenador
da Iniciativa, nesta primeira fase,
o período de transição foi muito
curto, já que a lei saiu em
3 de Setembro e em 3 de Dezembro
foi aberta a 1ª fase de candidaturas
com a plataforma informática
totalmente operacional.
Tratando-se de um novo sistema
de apresentação de candidaturas,
o período de transição e de adap-
tação às regras do novo programa
deveria ter sido mais longo, tendo
havido algumas dificuldades
na adaptação aos procedimentos
de candidatura por parte dos jovens
(utilização de novas tecnologias).
Porta65 Jovem - alterações legislativas
Conseguir maior acessibilidadenuma plataforma mais amigável
Causas Comuns_ Jun2008_ 3
A atestar o que foi referido está
o facto de apenas terem sido
submetidas 3561 das 9746
candidaturas que acederam
à plataforma nesta primeira fase.
Após a sua análise foram feitos
2329 pedidos de esclarecimento,
devido a documentação incompleta
ou inválida, entre outros motivos.
“Mesmo assim estão atribuídos
e a ser pagos cerca de 1544 subsí-
dios que já receberam subvenção
em Março e Abril”.
Angenor Afonso acrescenta que
embora a candidatura seja aceite
pelo sistema, a mesma carece ainda
de apreciação para que possa ser
sujeita a concurso. Por exemplo,
quando se introduz o contrato
de arrendamento não existe
interpretação do seu conteúdo;
há, portanto, que à posteriori ser
feita a sua análise por parte dos
técnicos deste serviço, comparando-o
com os dados introduzidos na
plataforma e com o recibo da renda.
Para além das dificuldades inerentes
à novidade tecnológica um forte
factor de restrição de acesso foi
a taxa de esforço máxima exigida:
“verificou-se que das cerca de
6.000 candidaturas não submetidas
cerca de metade excedia a taxa
de esforço (40%). Isto porque
a nova lei exigia que a renda não
excedesse 40% do rendimento
do agregado. Por outro lado, como
os valores máximos da renda admi-
tida por tipologia em algumas
regiões eram difíceis de cumprir,
sobretudo nos grandes centros,
as casas arrendadas não se
enquadravam nos parâmetros
da nova legislação”.
De acordo com este responsável
“os rendimentos também limitaram
muitos jovens, já que as exigências
da legislação quanto a esse aspecto
eram um pouco complexas,
o que gerou uma grande confusão
tanto na submissão como na análise
dos documentos comprovativos.
Os jovens enganaram-se muito,
juntando documentos inadequados,
além de terem confundido
benefícios fiscais com rendimentos
bem como as categorias de rendi-
mentos em que estavam tributados,
etc. A confusão foi imensa!”.
O que foi alterado
a partir
das candidaturas
de Abril
- “Agora todos os rendimentos sãorelativos ao ano imediatamenteanterior ao da candidaturae comprovados atravésda respectiva declaração de IRS.Nas candidaturas de Setembroe Dezembro já não deverá sernecessário preencher os camposdos rendimentos porque haveráum “webservice” que irá buscaresses dados às Finanças.Em Abril tal não foi possíveluma vez que aquela entidadeem causa ainda não dispunhadesses elementos”.
arrendamento
- Outra alteração introduzida pelonovo Decreto-Lei ajusta o limitemáximo de taxa de esforço,de 40% para 60%;- Antes era estabelecidoum período transitório paraos antigos beneficiários do IAJos quais só poderiam concorrerno primeiro período em Dezembro.Agora todos os beneficiáriosdo IAJ, actuais ou anteriores,podem concorrer à Porta 65-Jovem,em igualdade de condições comos demais, desde que não tenhamdividas para com o IHRU.-Clarificam-se as regras de contabi-lização das importâncias auferidaspelos bolseiros de investigação.- Foi introduzida uma limitação:o rendimento do agregado jovemnão pode exceder quatro vezesa retribuição mínima mensalgarantida (RMMG) corrigidaem função da composiçãoe dimensão do agregado.- Foram também feitos ajustes aosvalores das rendas máximasadmitidas, de forma a serem maisconsentâneos com o mercadode fogos de arrendamentonas várias regiões do país.- Por último salienta-se a reorga-nização dos escalões e dos critériosde hierarquização das candidaturas,em função de ponderaçãodiferenciada da composição
do agregado jovem, da proporcio-nalidade entre renda real e rendamáxima admitida, bem como entrea taxa de esforço real e a taxade esforço máxima (60%).À primeira e segunda faeses de 2008,candidataram-se 5508 jovens,candidaturas estas que se encontramagora em processo de apreciação.
Plataforma renovada
Quanto às reclamações, AngenorAfonso afirma, “houve muitasreclamações, mas até agorasó em três delas foi consideradoque os candidatos tinham razão.As outras atribuem-se a errosde utilização da plataforma.Não quero ainda deixar de salientarque os serviços fizeram um esforçono sentido de contactar (telefonica-mente, por sms e mail) os candi-datos que tinham hipóteses de veras suas candidaturas aprovadase cujas candidaturas apresentavam
pequenos erros, fáceis de corrigir.”
Deixa, ainda, um alerta: “estamos
a fazer o cruzamento da informação
dos antigos beneficiários do IAJ
com os dados constantes das novas
candidaturas ao Programa
Porta 65–Jovem. Se alguma
apresentar actualmente um
contrato com alteração de dados,
nomeadamente no que se refere
ao valor da renda, tal poderá levar
à devolução de incentivos recebidos
no âmbito do IAJ, caso tais
alterações não tenham sido
comunicadas atempadamente pelos
candidatos, enquanto beneficiários
do extinto programa de apoio
ao arrendamento.
O coordenador da Iniciativa
Porta 65-Jovem termina garantindo
que toda a plataforma informática
foi renovada com o apoio
de uma empresa especializada,
contratada para o efeito, no sentido
de a tornar mais amigável para
o utilizador e mais eficiente
no que respeita à análise das
candidaturas submetidas.
Causas Comuns_ Jun2008_ 5
Apoiar as famílias carenciadas tem sido a prioridade da IHM
(Investimentos Habitacionais da Madeira E.P.E.).
Arrendamento social, recuperação de imóveis degradados,
habitação económica, arrendamento privado,
cooperativas de habitação e concessão de direitos de superfície,
são algumas das faces visíveis da acção de uma instituição
que procura dar a todos a possibilidade de viverem numa
casa condigna. Paulo Atouguia Aveiro, Presidente do Conselho
de Administração do IHM lança ainda um alerta:
o velho paradigma da inexistência física de habitações
foi substituído pela dificuldade de acesso à mesma.
Um novo paradigma
para a habitação em Portugal
habitação social
Dr. Paulo Atouguia
texto_Carlos Peralta
Quais foram as primeiras
preocupações em termos de
habitação social na Madeira?
Em 1976, quando a Constituiçãoda República criou as RegiõesAutónomas, a Madeira tinhaum panorama muito difícilem termos de habitação.Existiam muitas situaçõesde graves carência habitacional,agravadas pelo facto de haverreduzida oferta de fogos, os custosde construção serem inflacionadospela necessidade de importaçãode todos os materiaise o rendimento das famíliasmadeirenses ser o mais baixoa nível nacional. É natural, porconseguinte, que a política socialde habitação tenha sido, desde essadata, uma preocupação fundamentaldos vários executivos regionais.Numa primeira fase, foi regionali-zado o Fundo de Fomento
da Habitação, que teve algumadimensão na Madeira e, numsegundo momento, foi criadano âmbito da AdministraçãoPública Directa, a DirecçãoRegional de Urbanismo, Habitaçãoe Ambiente. Daí procurou-seir para o terreno, construindo fogosem quantidade para atender àssituações mais graves. É nessa data,início dos anos 80, que principiaa construção dos maiores bairrossociais da Madeira, algunscom mais de 300 fogos, comoo Conjunto Habitacional da Nazaré,
1483 fogos habitacionais.
Esse modelo evoluiu mais tarde
para o actual IHM?
O modelo institucional evoluiu,em 1991, para um Instituto Público– o Instituto de Habitaçãoda Madeira – e, em 2004, paraum entidade pública empresarial– a Investimentos Habitacionaisda Madeira, E.P.E., o que trouxe
maior flexibilidade de gestãoe capacidade de captaçãode recursos para o investimento.
Na altura, quais eram as linhas
de orientação?
Antes de mais, construir pararesolver as situações graves atravésde arrendamento social.A par desta solução, foi aprovei-tado o poder legislativoda Assembleia Legislativa Regionale criou-se um sistema em quese procuraram adequaràs diferentes situações de carênciahabitacional respostas específicas,apelando à participação dasfamílias na resolução do seuproblema habitacional e tentando,com os mesmos recursos, resolvermais situações e de forma maiscélere. Temos um sistemade habitação social em queas candidaturas estão sempreabertas. É feita uma triagem daspessoas que se candidatama apoios, as quais são acompanha-
Causas Comuns_ Jun2008_ 7
IHM - Investimentos Habitacionais da Madeira
Adaptar os programas nacionaisàs especificidades da Madeira
no Funchal, que tem hoje
das pela equipa de assistentessociais que procura manteractualizada a lista de candidatoscom as carências habitacionais,definido prioridades, e encami-nhando as famílias para um dosseis programas de ajuda habitacional,adequado à situação concreta.
Mas a Madeira tem outras
especificidades...
Dentro do programade Arrendamento Social, temosuma preocupação permanente como acompanhamento dos inquilinose a actualização dos seusrendimentos, como medidade justiça social e por formaa motivar aqueles que podemrecorrer a outras soluções habita-cionais para que libertem os fogosde arrendamento em benefíciode outras famílias carenciadas.Em relação aos demais programasde ajuda, procuramos privilegiaro Programa de Recuperaçãode Imóveis Degradados (PRID) que,
sobretudo nas zonas rurais, apoiafamílias proprietárias sem recursosna reabilitação as suas casas,na medida em que é uma soluçãode primeiro mundo ao nível social,urbanístico e paisagístico.
Existem programas que
promovem a habitação própria?
O apoio a cooperativasde habitação a custos controladosé outro dos programas desenvol-vidos na Região.Foram incrementados e potencia-dos os apoios existentes a nívelnacional, conjugando-os comapoios regionais, nomeadamente,a cedência de terrenos já infra--estruturados e a atribuiçãode um subsídio específicode 40 euros por metro quadradode área construída, contribuindopara que os preços baixasseme mais famílias pudessem terhabitação própria por esta via.Outra alternativa é o programade direitos de superfície, que atribui
lotes de terreno infra-estruturados,com projecto-tipo, em regimede direito de superfície porum período de 70 anos, renovávelpor períodos de 30. Este programa,tendo em conta as limitaçõesda Madeira em termos de faltade disponibilidade dos terrenos,tem hoje natureza residual.
Pode falar um pouco sobre
o Programa de Habitação
Económica?
Foi criado em 1996 e pretendeapoiar famílias com algumacapacidade de poupançae de contracção de um créditobancário, mas em que o valoraforrado mensalmente não lhespermitia arrendar, nem comprarno mercado privado.Assim, o Governo Regional,estabelecendo parcerias compromotores privados, apoiaprojectos de habitação a custoscontrolados, homologadostecnicamente pelo IHRU (e even-
habitação social
tualmente por este financiados)e encaminha para aquisiçãoos candidatos inscritos junto destainstituição, apoiando a famíliaatravés de um subsídio à aquisição,variável consoante a capacidadefinanceira, e que poderá ir até25% do valor do fogo.
Há ainda um último programa,
destinado a aproveitar
as habitações privadas devolutas
para fins sociais…
Sim, desde 1996, existe na Madeirao Programa de ArrendamentoPrivado, através do qual o IHMpode arrendar fogos no mercadoprivado e subarrendá-los a preçossociais a famílias carenciadas.Aqui, o apoio social é a diferençaentre a renda social e o que é pagopelo IHM aos proprietáriosprivados. Esta iniciativa decorreda constatação de que o mercadohabitacional evoluiu de umcontexto em que havia um déficede habitações para uma situação
em que o problema é a insuficiên-cia de recursos das famíliascarenciadas para acederemàs muitas habitações disponíveis.
Reabilitar e utilizar
os activos
desocupados
Acha que terá de haver uma
reformulação da missão do IHM?
Terão de se procurar sempresoluções mais eficazes, masa missão terá de continuar a sera mesma. Hoje, o problemaé a desadequação evidente entreas condições da oferta e da procura,e não a insuficiência de fogos,dado residirem na Madeira cercade 77 mil famílias e existirem maisde 100 mil habitações.Mas as famílias que precisamefectivamente de uma habitaçãocontinuam com dificuldade
em conseguir acesso.É também evidente que o perfildas famílias que procuram o apoiopúblico no acesso ao direitoà habitação mudou substancial-mente, da família numerosaa residir em habitação precáriaou degradada para os agregadosmonoparentais com baixos rendi-mentos ou de cidadãos idososautónomos sem apoio familiar,alteração que exige novas respostas.É também necessário, e cada vezmais numa Região comum território exíguo e elevadadensidade populacional,preocuparmo-nos com a reabilita-ção habitacional e com o aprovei-tamento dos activos desocupadosexistentes no mercado.
Que medidas têm sido tomadas
neste âmbito?
Essencialmente por duas formas:procurando resolver problemashabitacionais dando prioridadeàs alternativas de reabilitação –
Causas Comuns_ Jun2008_ 9
e encaminhando as famílias paraum dos seis programas de ajudahabitacional, adequado à situaçãoconcreta.
Mas a Madeira tem outras
especificidades...
Dentro do programa deArrendamento Social, temos umapreocupação permanente com oacompanhamento dos inquilinose a actualização dos seusrendimentos, como medida dejustiça social e por forma a motivaraqueles que podem recorrer aoutras soluções habitacionais paraque libertem os fogos dearrendamento em benefício deoutras famílias carenciadas. Emrelação aos demais programas deajuda, procuramos privilegiar oPrograma de Recuperação deImóveis Degradados (PRID) que,sobretudo nas zonas rurais, apoiafamílias proprietárias sem recursosna reabilitação as suas casas, namedida em que é uma solução de
primeiro mundo ao nível social,urbanístico e paisagístico.
Existem programas que
promovem a habitação própria?
O apoio a cooperativas dehabitação a custos controlados éoutro dos programas desenvolvidosna Região. Foram incrementadose potenciados os apoios existentesa nível nacional, conjugando-oscom apoios regionais,nomeadamente, a cedência deterrenos já infra-estruturados e aatribuição de um subsídioespecífico de 40 euros por metroquadrado de área construída,contribuindo para que os preçosbaixassem e mais famíliaspudessem ter habitação própriapor esta via.Outra alternativa é o programa dedireitos de superfície, que atribuilotes de terreno infra-estruturados,com projecto-tipo, em regime dedireito de superfície por um períodode 70 anos, renovável por períodos
de 30. Este programa, tendo emconta as limitações da Madeira emtermos de falta de disponibilidadedos terrenos, tem hoje naturezaresidual.
Pode falar um pouco sobre o
Programa de Habitação
Económica?
Foi criado em 1996 e pretendeapoiar famílias com algumacapacidade de poupança e decontracção de um crédito bancário,mas em que o valor aforradomensalmente não lhes permitiaarrendar, nem comprar no mercadoprivado. Assim, o GovernoRegional, estabelecendo parceriascom promotores privados, apoiaprojectos de habitação a custoscontrolados, homologadostecnicamente pelo IHRU (eeventualmente por estefinanciados) e encaminha paraaquisição os candidatos inscritosjunto desta instituição, apoiandoa família através de um subsídio
habitação social
- apoio PRID e recuperaçãode imóveis degradados paraarrendamento social– em detrimento de novasconstruções, e financiando, atravésdo programa de arrendamentoprivado, a afectação a fins sociais– pelo arrendamento no regimede renda apoiada a famíliascarenciadas - dos fogos devolutosexistentes no mercado.
Recentemente foram inaugurados
vários conjuntos habitacionais –
Queimada, no Machico; Santa,
em Porto Moniz; e Palmeira,
em Câmara de Lobos. Como é que
se enquadram nestes programas
que mencionou?
Esses projectos sintetizam a políticado IHM. O conjunto habitacionalda Queimada, em Machico,é uma operação de reabilitaçãode um edifício com 44 fogos, queintegra um bloco de apartamentosinacabado há 30 anos,recuperando-o para fins sociais.
Já o conjunto habitacionalda Santa resulta de uma colabo-ração entre o IHM, a Câmarade Porto Moniz e o IHRU, ao abrigoda qual se construíram 21 fogosa custos controlados no meio rural.Aí são conjugados dois tiposde programa – 13 fogos serãovendidos a famílias subsidiadasao abrigo do Programade Habitação Económica e 8 fogosserão comprados pelo IHM,no âmbito de um acordode colaboração com o IHRU, paraarrendamento social a famíliasem situação de grave carênciahabitacional do concelho.Por último, o empreendimentoda Palmeira está inserido numbairro social em Câmara de Lobose insere-se na reabilitação do bairroque já apresentava sinais profundosde degradação. Estes 40 fogos vãopermitir, por um lado, resolversituações de sobreocupaçãode fogos e, por outro, fazeralgumas transferências de famílias
por motivos de deficiênciamotora e saúde.
A composição e as valências
que a IHM possui são
diferentes do IHRU?
Sim, são diferentes. Verticalizamosa actividade e possuímosas valências de que necessitamos,numa estrutura com cercade 140 pessoas. Como exemplo,o Gabinete de Estudos e Projectosdesenvolve projectos elaboradospor técnicos nossos, frutoda experiência acumulada nestesmais de 20 anos. A Direcçãode Serviços Técnicos fazo lançamento e gestão dasempreitadas e, depois, assegura,directamente e em outsourcing,a manutenção dos fogos da IHM.Mas, naquela que será porventuraa maior diferença em relaçãoao IHRU, temos cerca de 25 técnicos,entre assistentes sociais, sociólogose educadores sociais, que fazema triagem e encaminhamento dos
Causas Comuns_ Jun2008_ 11
candidatos, e continuama acompanham as famílias nossasinquilinas nos próprios bairrossociais, procurando fazer acompa-nhar a melhoria de condiçõeshabitacionais da criação de condi-ções objectivas de inclusão social.
Como é financiado o IHM?
Com a passagem a EntidadePública Empresarial (E.P.E.)o nosso financiamento juntodo Governo Regional passou a serobtido através da celebraçãode contratos programa para finan-ciamento do plano de investimen-tos, além de um protocolode indemnizações compensatóriasque suporta o diferencial entreas rendas social e as rendastécnicas. A estes valores acrescemas nossas receitas próprias,provenientes das rendas sociaise comerciais – dos espaçosnão-habitacionais – e os reembolsosdos apoios no âmbito do PRID,naquelas situações em que
os candidatos não estão isentosde reembolso. Temos tambéma celebração de acordosde colaboração com o IHRU,no âmbito do PROHABITA,e as comparticipações dos fundoscomunitários, ao abrigo de algumasmedidas previstas no âmbitodo actual programa operacionalpara a RAM.
Pode falar um pouco da relação
da IHM com o IHRU, antes INH?
As nossas relações com o INH,agora IHRU, têm sido sempreexcelentes e tem-se conseguidouma grande colaboração a diversosníveis. Com a criação do IHM,em 1991, foi celebradoum protocolo de cooperaçãotécnica, com base no qualrepresentamos o IHRU em algumassituações, nomeadamentena fiscalização e acompanhamentodos empreendimentos de habitaçãoa custos controlados construídospor privados na Madeira, e que
são financiados por aqueleInstituto Público. Em 2002,celebrámos um protocolo como antigo Instituto de Gestãoe alienação do Patrimóniohabitacional do Estado (IGAPHE,hoje integrado no IHRU) – tendoem vista a promoção do Incentivoao arrendamento jovem (IAJ),hoje substituído pelo programaPorta 65.Finalmente, se até 2003 os acordosde colaboração no âmbito do PEReram celebrados unicamente entreo INH e os municípios, a partirdessa data, na sequência de umareivindicação antiga do GovernoRegional, foi introduzidaa possibilidade das RegiõesAutónomas poderem beneficiardaqueles apoios, facto que já deuorigem à celebração e execuçãode diversos acordos de colaboraçãoentre o IHRU e a IHM.
Susana de Carvalho Amador,
presidente da Câmara Municipal de Odivelas,
analisa os problemas habitacionais
de um concelho com apenas dez anos de existência,
mas apostado em criar condições
estruturais para a sustentabilidade.
Fala da erradicação das barracas,
através da implementação do PER, que já vai na fase II,
e elogia a cooperação estabelecida com o IHRU.
Identifica, ainda, algumas das preocupações
do Executivo que dirige: realojar as famílias carenciadas
e procurar fixar os jovens no concelho.
Um novo paradigma
para a habitação em Portugal
habitação social
Dra. Susana Amador
texto_Carlos Peralta
Quais são as principais
preocupações em termos
habitacionais sentidas em
Odivelas?
Odivelas é um jovem município,
celebra este ano o seu 10º aniversá-
rio, e sofreu um forte crescimento,
sobretudo a partir das décadas
de 70 e 80. O território do concelho
caracteriza-se, por um lado, por
uma importante componente rural,
em freguesias como Caneças
e Famões e, por outro, por zonas
urbanas de grande densidade
populacional, com taxas de ocupa-
ção bastante elevadas, como
as freguesias de Odivelas, Pontinha
e Póvoa de Santo Adrião.
Este crescimento aconteceu
em muitos casos sem os necessários
critérios de ordenamento territorial,
permitindo o surgimento de bairros
de barracas, alguns em localizações
precárias e até inseguras.
A habitação é um direito social
elementar, reconhecido pelas leis
fundamentais do Estado, pelo que
constitui uma área estratégica
prioritária do actual Executivo
camarário, com vista a promover
melhores condições de vida
às famílias e a proceder à requalifi-
cação e ordenamento do território.
A escassez de recursos com que
nos confrontamos, quer em termos
de capacidade de investimento,
quer no que concerne ao reduzido
parque habitacional municipal,
mais objectivas e eficazes.
[ver caixa]
Em termos de realojamento,
por exemplo, pode referir
alguns dados?
Desde a instalação do Município
de Odivelas, em 1998, foram
efectuados um total de 143
realojamentos, 55 dos quais
no actual mandato. Do total dos
realojamentos efectuados em
10 anos pela Câmara, cerca de 40%
foram realizados em pouco mais
de dois anos. Isto demonstra
o ritmo de trabalho imprimido
e a importância que conferimos
à habitação.
No entanto, queremos fazer ainda
mais e melhor. Ainda temos 1115
pedidos de habitação, provenientes,
na sua maioria, das freguesias
de Odivelas e da Pontinha.
Esta política passa pelo estabeleci-
mento de parcerias com diversas
entidades públicas e privadas para
encontrar soluções para ultrapassar
as dificuldades, nomeadamente
a nível financeiro, que nos impe-
dem de executar essa política com
a celeridade que gostaríamos.
Um dos problemas estruturais que
afecta o concelho é o mau planea-
mento e a falta de ordenamento
do território, muito por via da falta
de investimento que o território
sofreu ao longo de muitas décadas
e das dificuldades económico-
-financeiras que o país atravessa
e que sentimos particularmente.
Estamos a corrigir as assimetrias
Causas Comuns_ Jun2008_ 13
Um município sustentávelresolve melhoras questões da habitação
aguça-nos o engenho e impele-
-nos para a adopção de medidas
do território através da adopção
de medidas importantes, como
a elaboração de um novo Plano
Director Municipal (PDM),
o primeiro elaborado exclusiva-
mente para e pelo município e que
alterará o perfil do Concelho.
Estamos, como referido, a encontrar
soluções para a falta de recursos
financeiros, através de parcerias
com diversas instituições ligadas
ao sector da habitação.
Em que consiste o Programa
Especial de Realojamento (PER),
a quem se destina e quais são
os seus objectivos?
O PER, criado através do Decreto-
-lei n.º163/93, visa erradicar
barracas e habitações similares,
bem como requalificar territórios.
Concede apoios financeiros para
construção, aquisição, ou arrenda-
mento de fogos, bem como para
a reabilitação de fogos ou prédios
devolutos. Em 2000, a Câmara
assinou um protocolo com o então
Instituto Nacional da Habitação (INH),
conferindo-lhe apoio financeiro
para o realojamento dos 528 agre-
gados familiares inscritos no PER,
residentes em seis das sete
freguesias do Concelho.
Este número tem vindo a ser
reduzido e, hoje, temos inscritas
no PER 330 famílias a viver
em condições precárias.
A I Fase do PER na Arroja foi
concluída, tendo, em Setembro
último, a Câmara entregue
as primeiras 64 habitações a
famílias residentes em construções
precárias nessa freguesia.
Foram erradicados dois bairros
de barracas e conseguiu-se conferir
dignidade à vida das famílias,
aumentar o nível de segurança
habitacional e requalificar
o território.
Está em curso a II Fase do PER
na Arroja, com a construção
de 174 fogos – 28 no âmbito
do PER e os outros 146 para venda
a custos controlados, a jovens com
menos de 39 anos e que trabalhem
ou residam há mais de dois anos
no concelho. Está, ainda, prevista
a III Fase do PER na Arroja com
a construção de mais 28 fogos.
Aposta num
município
sustentável
O que é que a autarquia pode
fazer para apoiar estes munícipes?
A Divisão da Habitação identificou
113 agregados familiares a residir
em barracas que não se encontram
integrados no PER. No entanto,
a autarquia não esgota a sua
actuação, em termos de Habitação
Social no PER, nem limita as suas
relações ao IHRU, não obstante da
sua importância para o Município.
A Câmara tem celebrado protocolos
com outras entidades e tem
desenvolvido outros projectos,
a fim de ir encontro das neces-
sidades da população em geral
e promover a melhoria das
habitação social
condições de vida das famílias
de menores recursos, bem como
a fixação dos jovens no Concelho
de Odivelas.
Nesse sentido, o Município estabe-
leceu protocolos com cooperativas
de habitação, nomeadamente
a MARVI e a FENACHE – Federação
Nacional das Cooperativas
de Habitação Económica, ao abrigo
dos quais desenvolvemos alguns
empreendimentos habitacionais
e a promoção e recuperação
do parque habitacional existente.
A habitação é apenas um aspecto
das políticas sociais...
Considero que o âmago dos
problemas de habitação assume
grande complexidade. Muitas
vezes, a habitação é a ponta
de um iceberg, em que a solução
pode não passar exclusivamente
por aí. Um município sustentável,
com elevado nível socio-económico
e sem problemas estruturais graves,
tem certamente mais capacidade
para resolver as questões
da habitação. A estratégia política
tem de passar pela criação
de emprego e apoio ao tecido
empresarial, dinamização
da economia e criação de riqueza,
aposta na educação e cultura,
ordenamento territorial
e a sustentabilidade ambiental.
Só assim poderemos alcançar
a justiça social.
A Câmara Municipal está apostada
em criar essas condições estruturais
enquanto vai resolvendo
as dificuldades conjunturais que
surgem e combatendo as assimetrias
de modo a aumentar o nível
de desenvolvimento e a qualidade
de vida das populações.
Qual é relação existente entre
a Câmara e o IHRU?
Considero a relação com o IHRU
e o seu Presidente, Nuno Serpa
de Vasconcelos, excelente.
Desde a sua instalação que
o Município de Odivelas tem,
no IHRU, um dos seus principais
parceiros. Tal como já afirmei,
em 1999, foi celebrado um proto-
colo entre as duas entidades para
concretização do PER baseado
no recenseamento efectuado pela
Câmara de Loures, visto o território
do Concelho de Odivelas pertencer
à data ao Município de Loures.
No ano seguinte foi assinado
um outro que apoiou a autarquia
no realojamento de 528 famílias
no âmbito do PER, como referi.
As chuvas intensas que se abateram
sobre Odivelas no passado dia
18 de Fevereiro originaram diversas
consequências. A situação mais
grave foi o aluimento de terras
verificado na Serra da Luz,
colocando em risco as famílias que
ali habitavam. Foi necessário
evacuar mais de 30 pessoas, retirar
os seus bens e proceder ao seu
realojamento, enquanto encontrá-
vamos uma solução mais duradoira.
A solução encontrada foi
a apresentação de uma candidatura
ao Programa PROHABITA que
decorreu em tempo recorde face
ao trabalho desenvolvido pelos
serviços da Câmara, à disponibilidade
empregue e à visão estratégica
demonstrada pelo IHRU. Graças
ao empenho e determinação
do IHRU, este processo foi
concluído em tempo recorde, o que
permitiu que a 14 de Abril tivés-
semos entregue as chaves das casas
a 14 famílias, numa cerimónia
onde estiveram presentes
o Presidente do IHRU e o Secretário
de Estado do Ordenamento
do Território e das Cidades,
Quais são as prioridades
da Câmara no que diz respeito
à Habitação?
A habitação é uma prioridade
na política municipal, pelo que
tem merecido um investimento
linhas estratégicas que abrangem
todas as freguesias, que estão a ser
implementadas e que queremos
ver concluídas o mais breve
possível, nomeadamente: concluir
o processo de erradicação das
barracas; terminar a II fase do PER
Arroja e dar início à III fase, que
Causas Comuns_ Jun2008_ 15
João Ferrão .
significativo. Definimos algumas
f
habitação social
permitirá dispor de mais de 200
novos fogos; iniciar o projecto
“Odi-Vilas” no bairro
do Barruncho, freguesia da Póvoa
Santo Adrião, que venceu recente-
mente o Concurso Internacional
Europan 9; bem com a construção
de um projecto integrado
constituído por 33 unidades
residenciais e dois equipamentos
sociais na Ramada.
Temos outros projectos no âmbito
das diferentes parcerias, designada-
mente com o IHRU, que nos
permitirá, por exemplo, a erradicar
os núcleos de barracas na Pontinha
e concluir a candidatura
ao PROHABITA na vertente
do arrendamento para obter apoio
financeiro para a habitação
de 90 famílias carenciadas.
No fundo, iremos dar continuidade
e aprofundar a relação entre
o Município e o IHRU.
Estamos certos de que o desenvol-
vimento do concelho e a melhoria
da qualidade de vida da população
passa por esta ligação institucional
que, apesar de ter limites bem
definidos e respeitados, tem
permitido um relacionamento
interpessoal que valorizo
e considero muito enriquecedor.
A presidente da Câmara de Odivelas adianta
ainda que o Executivo tem vindo a implementar
um conjunto de linhas programáticas baseados
em objectivos concretos, como:
*_ Erradicar o maior número possível
de construções precárias recenseadas no PER
e realojar as famílias ali residentes em novas
habitações, numa óptica de integração
social e urbanística;
*_ Encontrar soluções de realojamento para
as famílias que, não estando recenseadas
no PER, habitam construções precárias
inseridas em Núcleos PER;
*_ Possibilitar a desocupação de terrenos
fundamentais para a realização de operações
de requalificação urbana, através do realojamento
das famílias aí residentes ao abrigo
do Programa PROHABITA;
*_ Promover a construção de habitação
de custos controlados para venda a agregados
familiares em situação de carência habitacional
do concelho, dado ênfase às pessoas entre
os 18-39 anos, ajudando a fixar
população jovem;
*_ Apoiar e incentivar a apresentação
de candidaturas aos Programas RECRIA,
RECRIPH e SOLARH, para melhorar as condições
de habitabilidade e requalificar
arquitectónica e sócio-demograficamente
zonas históricas do Concelho.
Os principais objectivos habitacionais de Odivelas
Evolução ao longo
do tempo dos programas de:
*_Promoção de Habitação a Custos Controlados
*_Realojamento de população vivendo
em condições deficientes (barracas)
*_Reabilitação Urbana
Causas Comuns_ Jun2008_ 17
habitação
texto_Enga. Maria da Luzgráficos_Enga. Maria da Luz
*_1. Promoçãode Habitação aCustos Controladospara venda
Em 1983, estando ainda a cargodo Fundo de Fomento da Habitação(FFH) a execução da políticahabitacional do Estado, a Portarian.º 580/83, de 17 de Maio, veioenquadrar a promoção de habitaçãode interesse social fomentada pelossectores público, cooperativo
e privado, e definir o conceitode Habitação a Custos Controlados
(HCC), considerando o apoiofinanceiro da Administração Centralaos diversos tipos de promoçãoe fixando como destino dos fogosa venda ou o arrendamento.A “máquina” do FFH era, na altura,demasiado pesada para respondercom eficácia às expectativas dosvários tipos de promotoresenvolvidos, em particular dosprivados, pressionados pela criseque então se vivia no sectorda construção.É neste contexto que, em 1984,é criado o Instituto Nacional
de Habitação (INH), peloDecreto-Lei n.º 177/84, de 25 de
Maio, suprindo o vazio orgânicoprovocado pela extinção do FFH.Foi-lhe conferido o estatutode instituto público, compersonalidade jurídica, dotadode autonomia administrativae financeira e património próprio.Numa fase inicial, a actividadedo INH restringiu-se, quaseexclusivamente, a apoiar os promo-tores de HCC para venda, mediantea concessão de financiamentosa médio prazo. A procura de apoioà promoção para arrendamentonão era grande por parte dosmunicípios e Instituições Particula-res de Solidariedade Social (IPSS),dadas as condições financeirasem que esse apoio era prestado(empréstimos a longo prazo,com bonificação da taxa de juro,mas sem qualquer comparticipaçãoa fundo perdido). Por outro lado,o INH, que se assumia nessa fasecomo instituição essencialmentefinanceira, não se mostravaparticularmente “entusiasmado”com tal aplicação de capitais, cujarotatividade punha em riscoa solvência da instituição e,consequentemente, a manutençãodo seu estatuto, conseguido atravésda receita obtida com o financia-mento à promoção de HCC paravenda. Daí que o “apoio à promo-ção de HCC para venda” tenhapassado a designar-se, simplesmente,
INH - Fogos HCC promovidos por ano
0
1 000
2 000
3 000
4 000
5 000
6 000
7 000
1984
1985
1986
1987
1988
1989
1990
1991
1992
1993
1994
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
Ano
Fo
go
s
por “apoio à promoção de HCC”,com os inerentes mal-entendidosdaí decorrentes.Com o passar do tempo e a descidadas taxas de juro, constatou-seque o papel de “instituição essencial-mente financeira” tinha os seusriscos (concorrência poderosa nessaárea) e decide-se privilegiar o apoiotécnico aos promotores e o controloe incentivo à qualidade.Começa então a ser divulgadoum novo conceito de HCC, no qualo controlo ficava centrado nãosó nos custos, como também numrecém-criado quadro recomendativo(Recomendações Técnicas paraHabitação Social) e institucional(o próprio quadro técnico do INH)de acompanhamento e incentivoà melhoria da qualidade construtivae, mesmo, arquitectónica dosedifícios e respectivos espaçospúblicos de vizinhança. Chegouaté a ser usada a expressão“Habitação de Qualidade a Custos
Controlados”, em contrapontoao antigo conceito de Habitação
Social, já então com fortesconotações negativas.Note-se que, para além dos fogosde HCC para venda promovidoscom o apoio financeiro do INH,a quase totalidade dos fogosutilizados no realojamento obedeceaos parâmetros da HCC, querquando promovidos directamente
pelos municípios e IPSS para talfim e apoiados financeiramentepelo INH, quer quando adquiridospelas referidas instituiçõesa promotores de HCC para venda.
*_2. Realojamentode populaçãovivendo em condiçõesprecárias (barracas)
Em 1987, ano da criação do Insti-tuto de Gestão e Alienação do Patri-mónio Habitacional do Estado(IGAPHE), o Decreto-Lei n.º 226/87,
de 6 de Junho, institui a possibilidadede estabelecimento de acordos
de colaboração entre
os municípios, o IGAPHE
e o INH para o realojamento
de populações residentes
em condições precárias (barracas).Para tal regulamenta-se o apoiodo Estado através do IGAPHE(comparticipação a fundo perdido)e do INH (empréstimo bonificadoa longo prazo).Em 1993, tendo-se verificado quenas zonas onde o problema dasbarracas era mais agudo (ÁreasMetropolitanas de Lisboa e Porto)a situação não tinha evoluído comose esperava, lançou-se, através
Causas Comuns_ Jun2008_ 19
INH / IGAPHE - Fogos para realojamento promovidos por ano
0
1 000
2 000
3 000
4 000
5 000
6 000
7 000
8 000
9 000
19
87
19
88
19
89
19
90
19
91
19
92
19
93
19
94
19
95
19
96
19
97
19
98
19
99
20
00
20
01
20
02
20
03
20
04
20
05
20
06
20
07
Ano
Fo
go
s
habitação
do Decreto-Lei n.º 163/93,de 7 de Maio, um novo programa,mais apelativo para os municípios,o Programa Especial de
Realojamento (PER).
O apoio do Estado era igualmentedado através do IGAPHE(comparticipação a fundo perdido)e do INH (empréstimo bonificadoa longo prazo), mas em condiçõesmenos pesadas para os municípios.Uma das inovações do PERfoi a obrigação de demolição dasbarracas na sequência do realoja-mento dos respectivos moradores.Em 1997, o Decreto-Lei n.º 30/97,de 28 de Janeiro, transfereas competências do IGAPHE nosdomínios do realojamento (Acordosde Colaboração e PER) para o INH,agilizando assim todo o processo,como é visível nos gráficosde evolução da actividade.Em 2004, através do Decreto-Lein.º 135/2004, de 3 de Junho,é criado um novo programa multi-soluções, o PROHABITA, que tempor objectivo a resolução globaldas situações de grave carênciahabitacional de agregadosfamiliares residentes no territórionacional, recorrendo querà construção de habitação nova,quer à reabilitação de construçãoprópria e permanente, ou atéao arrendamento de prédios
ou fracções autónomas.O PROHABITA é concretizadomediante a celebração de acordosde colaboração entre os municípiosou associações de municípiose o IHRU, sendo as condições definanciamento análogas às do PER.
*_3. Reabilitação
Urbana
Em 1988 (Decreto-Lei n.º 4/88,de 14 de Janeiro, alterado peloDecreto-Lei n.º 329-B/2000, de 22de Dezembro) é criado o RegimeEspecial de Comparticipaçãona Recuperação de ImóveisArrendados (RECRIA), programade apoio à reabilitação, atravésdo qual são concedidas aossenhorios, pela AdministraçãoCentral (inicialmente atravésdo IGAPHE e hoje através do IHRU)e pelo respectivo município,comparticipações a fundo perdidopara a execução de obrasde conservação e de beneficiação.Em 1996, o Decreto-Lei n.º 105/96,de 31 de Julho (posteriormentealterado pelo Decreto-Lei n.º 329-B/2000, de 22 de Dezembro),institui o Regime de Apoioà Recuperação Habitacional
em Áreas Urbanas Antigas(REHABITA), que consiste numaextensão do programa RECRIAe visa apoiar financeiramenteas câmaras municipaisna recuperação de zonas urbanasantigas (execução de obrasde conservação, de beneficiaçãoou de reconstrução de edifícioshabitacionais, assim comoas acções de realojamentoprovisório ou definitivo decorrentesde operações municipaisde reabilitação dos núcleos urbanoshistóricos que sejam declaradoscomo áreas críticas de recuperaçãoe reconversão urbanística).O acesso ao REHABITA pressupõea celebração de acordosde colaboração entre o IHRU,as câmaras municipais e outrasinstituições de crédito autorizadas.Em 1999 (Decreto-Lei n.º 418/99,de 21 de Outubro) é criadoo SOLARH, programa que permitea concessão de empréstimos semjuros pelo IHRU, para realizaçãode obras de conservaçãoem habitação própria permanentede indivíduos ou agregadosfamiliares cujo rendimento anualbruto obedeça a determinadoslimites. O montante máximo doemprestimo é o correspondente aocusto das obras, até ao limite de11.971,15 euros por habitação.
4_
Causas Comuns_ Jun2008_ 21
INH / IGAPHE - Fogos HCC, Fogos p/ realojamento e Fogos reabilitados, por ano
0
1 000
2 000
3 000
4 000
5 000
6 000
7 000
8 000
9 000
1984
1985
1986
1987
1988
1989
1990
1991
1992
1993
1994
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
Ano
Fo
go
s
INH / IGAPHE - Fogos reabilitadas por ano
0
500
1 000
1 500
2 000
2 500
3 000
3 500
4 000
4 500
1988
1989
1990
1991
1992
1993
1994
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
Ano
Fo
go
s
Fogos Solarh
Fogos Recria
Fogos Rehabita
Fogos reabilitados (Total)
INH/IGAPHE - Fogos reabilitados por ano
Do primeiro bosquejo no papel
até à última pincelada nas janelas,
ao arranjo final nos jardins, vão 35 anos
de alegrias e desalentos, desinteresse e esperança,
nostalgia e perseverança.
O Bairro da Bouça, no Porto,
troféu dos tempos heróicos da Revolução,
mais do que um projecto de habitação colectiva
constitui um grito de alerta para a necessidade
de repensar este sector da construção.
reabilitação urbana
texto_J.R./redacção Causas Comuns
fotos_J.R.
Um ano após a reinauguraçãodo Conjunto Habitacionalda Bouça, CAUSAS COMUNS foivisitar uma das histórias maisextraordinárias do cooperativismonesta área. Interrompido há30 anos, este traço curiosíssimodo arquitecto Siza Vieira pareceter guardado em si alguma da forçacom que germinavam as obrasnaquele tempo. Hoje, esteempreendimento premiadopelo Instituto da Habitaçãoe da Reabilitação Urbanaé já um marco incontornáveldo mapa cultural da cidade.«A qualquer hora há turistasa entrar por aqui dentro, a tirarfotografias», revela, habituado,com o seu quê de orgulho, um dosmoradores da primeira fase.António Silva traduz, com clareza,o seu tempo do passado - «diziamque isto era um mamarracho,tinham recusa e medo de vir aqui»
-, e o seu tempo de agora - «quelindas casas, tão engraçadas, logona Boavista e com metro à porta».
A solução cooperativa
«A conclusão do complexoda Bouça só foi possível atravésda solução cooperativa, e nãoconstitui apenas um grande sucessoa todos os níveis, como nos veiomostrar uma forma surpreendentede aculturamento», pensao presidente da FederaçãoNacional de Cooperativas deHabitação Económica (FENACHE).Guilherme Vilaverde confessa quea complexidade da obra foi muitoalém das questões técnicas, ondeas habitações existentes tinhamsido sucessivamente alteradas.«No plano social foi muito difícilrecuperar a confiança dosmoradores, desiludidos e como sonho da conclusão da obrapraticamente extinto», diz.
Quem não deixou morrer os sonhosem carteira, germinados aindaantes do 25 de Abril, foio arquitecto Álvaro Siza Vieira.A sua arquitectura urbanae habitacional ofereceu aosmoradores da Bouça, no calorda Revolução, este projectosingular. Desenhado paraum terreno em pleno centro doPorto, num dos seus principaiseixos ( rua / avenida da Boavista),o projecto recebeu luz verdeimediata da entidade queintervinha na área da habitaçãosocial, o Serviço Ambulatóriode Apoio Local (SAAL).O SAAL foi extinto, a políticamudou, e a maneira de fazerarquitectura em diálogo comas associações de moradores caiuem desuso, e de todo o bairroapenas foi possível pôrde pé um bloco de habitações.É a única prova viva desse tempo,para além dos testemunhospessoais do secretário de Estadoda Habitação do I Governo
Um sucesso de coesão urbana e social
A Bouça de Siza 4_3_
Causas Comuns_ Jun2008_ 23
reabilitação urbana
Provisório, o arquitecto NunoPortas, e do autor do projecto.Em 1999, vinte anos depois,a Câmara do Porto concluiu quesó uma solução institucionalpoderia desatar este nó-cegoe chamou o Movimento Cooperativo.«A FENACHE aceitou o desafioe apresentou um caminho: fundaruma cooperativa com a associaçãode moradores com o objectivode reabilitar a parte antiga( 52 habitações) e, ao mesmotempo, construir uma parte nova( mais 72 fogos) de acordo como projecto inicial de Siza Vieira»,recorda Guilherme Vilaverde.
Regeneração urbanaa custos controlados
«A credibilização desta solução –escreveu o júri do Prémio IHRUde Promoção Cooperativa 2007 –enfrentou sérias dificuldadese só com a grande força de vontade
e árduo trabalho desenvolvidopelas cooperativas (CETA e SeteBicas) junto da Associaçãode Moradores, se desenvolveuum processo de motivação,convencendo os residentes de queeles tinham de ser parteda solução». Num ano nasceua Cooperativa Águas Férreasque deitou mãos à obra,financiada pela Instituto daHabitação no regime do EstatutoFiscal Cooperativo.Construídos de raiz, os novos fogossão de tipologia e organizaçãoidênticas aos existentes, em duplex,com acesso directo do exterioràs habitações inferiores e, atravésde galerias, às superiores.O seu preço variou entre os 80 mileuros dos T2 e os 130 mil dos T5,estes com 162 metros quadrados.Todas as 128 famílias passarama dispor de garagem privativano subterrâneo, com respectivosarrumos. Ao tempo da primeirafase o metro quadrado custou cerca
de 20 euros, hoje vende-se por500 contos.Os fogos ficaram dispostosem quatro blocos de apartamentosque, confinados a norte porum muro que protegeda proximidade da linha do Metro,dão forma a pátios alongados.No lado oposto, na Ruada Boavista, o remate dos blocosé feito com volumes soltos,estabelecendo a ligação entreo novo conjunto e a malha urbanaenvolvente. A simplicidadede acabamentos reflecte a escassezde recursos, compensadosna elegância dos detalhes e dasproporções, bem assim no rigorda geometria dos apartamentos.«Em determinada altura nãoacreditei que fosse possível concluireste projecto, parecia-me que nãoera possível», confessou arquitectoSiza Vieira. Mas foi. O sonho daBouça foi cumprido. Aquando dafesta da reinauguração apareceramtodos de cravo ao peito.
2_
4_3_
Causas Comuns_ Jun2008_ 25
Referência para propostas alternativas
Num documento elaborado pela Secção Regional do Norte da Ordem dos Arquitectos,
a propósito de obras (entre elas a da Bouça) propostas para conferências,
exposições e visitas guiadas, pode ler-se:
«Embora a questão da Habitação Colectiva pareça resolvida num país em que a oferta
imobiliária excede a procura, os modelos correntes, a banalização das tipologias e a pobreza
da expressão formal (quando não por excesso) e a própria crise do negócio imobiliário
indicam que o nosso país carece urgentemente de repensar este modelo.
«A experiência pública de carácter social e de intenso envolvimento de moradores e projectistas,
do período pós-25 de Abril de 1974, apesar de fortemente ideologizada, pode constituir
uma referência séria para propostas alternativas adequadas às condições do presente,
e voltar a abrir um vasto campo e urgente de projecto, fundamentado na participação
directa e diversificada das populações».
A aventura da mudança em
ciclo de conferências no IHRU
Iniciou-se no passado dia 15 de Fevereiro, no auditó-
rio do edifício-sede do IHRU, um ciclo de conferências
subordinado ao tema “Experiência em torno da aven-
tura da mudança”, a decorrer até Junho, quinzenalmente.
Assim, procurando reflectir sobre o paradigma
da mudança, foi programado este primeiro ciclo
de conferências do IHRU, tendo-se optado por uma
vertente predominantemente interna e orientada
para a participação dos seus dirigentes e equipas.
Foram, para o efeito, convidados como oradores
reputados especialistas em diversas actividades que,
em comum, têm o facto de agir sobre a inovação
e a mudança com reconhecido sucesso.
A primeira destas conferências, intitulada
“Visão para organizações com futuro — o poder das
oportunidades”, foi proferida pelo Professor
Engenheiro António Câmara, fundador da YDreams,
seguindo-se sucessivamente António Quina sócio
fundador de “A Vida é Bela”, o Prof. João Bilhim,
presidente do conselho directivo do ISCSP e presidente
da comissão que elaborou o PRACE, o professor
cirurgião Manuel Antunes do Hospital da Universidade
de Coimbra e a finalizar a Dra. Anabela Pedroso pre-
sidente da Agência para Modernização Administrativa.
Apresentaçãoda iniciativa JESSICATeve lugar no dia 18 de Fevereiro, no auditório
do edifício-sede do IHRU, a apresentação formal
da Iniciativa JESSICA (Joint European Support for
Sustainble Investment in City Areas, que é desenvol-
vida pela Comissão Europeia juntamente com
o Banco Europeu de Investimento (BEI), que conta
também com a colaboração do Banco de Desenvolvi-
mento do Conselho da Europa (CEB).
A apresentação da JESSICA pretendeu marcar
o início oficial do processo de divulgação em Portugal
das potencialidades desta nova ferramenta financeira,
de utilização facultativa pelos Estados-Membros.
O IHRU, na qualidade de ponto focal nacional,
organizou a sessão, envolvendo os agentes
interessados na temática da política das cidades,
designadamente, as autoridades nacionais de gestão
dos programas operacionais, os autarcas
e as Sociedades de Reabilitação Urbana (SRU), bem
como algumas instituições financeiras.
em mudança
Causas Comuns_ Jun2008_ 27
“Hoje, o IHRU tem uma missão de intervenção
e proximidade que não é só construir casas.
A nova missão do Instituto é, no fundo,
olhar a habitação como um instrumento
importante na linha das políticas de cidade”.
Palavras de Maria João Freitas,
vogal do Conselho Directivo do Instituto
da Habitação e Reabilitação Urbana,
que fala de experiências e projectos,
bem como dos desafios das intervenções
sócio-territoriais e da gestão de proximidade.
Importância da consolidação dos programas integrados
Gestão de proximidade seráfactor de desenvolvimento
*_Doutora Maria João Freitas
texto_Carlos Peralta
fotos_arquivo do IHRU
A passagem do paradigmada habitação social para um novoparadigma de política socialda habitação alarga a missãodo IHRU. É aqui que entrao conceito de programaintegrado?A actual missão do Institutoalargou-se a intervençõessócio-territoriais, ou seja, a utili-zação do instrumento habitaçãocomo factor de desenvolvimentolocal integrado numa linha maisalargada – a política das cidades.Isto faz uma enorme diferençana abordagem das questõesda habitação, deixando de serapenas o apoio à promoçãohabitacional, o acesso à habitação.
Como se desenvolvem essasintervenções?Como promotor, o Instituto iniciouesta abordagem com os projectos
dos fundos EEA/ex-EFTA, Alagoas(Régua) e Rabo de Peixe (Açores),sob o tema “Velhos Guetos,Novas Centralidades”.São dois territórios muitoperiféricos, mas com potencialidadede voltar a ganhar centralidade.Estas iniciativas constituíramuma semente importante parao desenvolvimento da metodologia,que está a ser aplicada na Iniciativa“Bairros Críticos”.
A Iniciativa Bairros Críticosé já mais alargada....A Iniciativa Bairros Críticoscontempla candidaturas aosmesmos fundos, mas não só.É um projecto governamentalem que foi atribuída ao IHRUa responsabilidade da gestão.Trata-se de uma iniciativa que,do ponto de vista do modelode gestão, da estruturade participação e de financiamento,é mais complexa, mas bebedos primeiros passos daquelesdois projectos.
em mudança
Causas Comuns_ Jun2008_ 29
É a partir dos exemplos quereferiu que o IHRU vaidesenvolver novos projectos?Estão em preparação as situaçõesdos bairros apoiados pelo Estado,caso, por exemplo, dos bairrosherdados do IGAPHE, agorapropriedade do IHRU. Estão a seranalisados os territórios em quea intervenção na habitação possaser um desencandeador de promo-ção e inserção nos tecidos urbanos,no que têm de físico e social,porque as pessoas que aí vivemsão muito segregadas.
Desenvolvimentolocal pela intervençãono edificadoe no espaço público
Essas intervenções já beneficiamdas experiências anteriores?Existe alguma continuidade dadapela consolidação da intervençãodo IHRU em projectos de desenvol-vimento local, através da optimi-zação da intervenção integradano edificado e no espaço público.O facto do IHRU estar envolvidonestes projectos tem vindoa consolidar algum conhecimento,“know how” e metodologiade alavancagem de intervençõesintegradas nos territórios.Nomeadamente, em termos
de trabalho institucional conju-gando a ligação entre o IRHU,enquanto representantedo Governo Central, as autarquiase algumas estruturas regionaiscomo o Governo Regional no casodos Açores ou, na Régua,a Direcção Regional da SegurançaSocial de Vila Real. Os “BairrosCríticos” já são um projecto muitomais abrangente em termos querde parcerias interministeriais, locaisou de parcerias entre estas duasesferas de actuação.
Sendo diferentes, estas frentespodem ser vistas como factoresde consolidação dos projectosde intervenção sócio-territorialintegrados?Sim, como é o caso desta terceiralinha que remete para a interven-ção nos bairros actualmentepropriedade do IHRU.Está a iniciar-se um procedimentode obras estruturantes, sobretudono edificado, acompanhadas poruma equipa com valências na áreasocial, que começará a trabalhara comunicação com a populaçãoa propósito das obras. Mas quetambém consolidará o levantamentoe actualização da informação,para se passar para sistemasde gestão de proximidade maisefectivos, com a contratualizaçãoexterna de equipas específicaspara fazer essa gestão.
Algo diferente dos projectosanteriores...Quer nos bairros “Velhos Guetos,Novas Centralidades”, querna Iniciativa “Bairros Críticos”,quer ainda noutros iniciativasde candidaturas ao QREN, porexemplo, os projectos nasceme se consolidam em torno de estru-turas inter-institucionais a váriosníveis de desempenho, seja ao níveldo Governo central, de governoslocais, ou de parcerias locais.No caso da gestão dos Bairrosdo IHRU vamos iniciar umaoptimização da gestão, sendo umadas competências das equipas quefarão a gestão de proximidademontar, caso não existam,ou ligar-se, no caso de já existirem,às estruturas de parceria local,designadamente as redes sociaislocais e outras que intervenhamno território em função de questõessectoriais. No caso da gestão quese vai desenvolver do parquehabitacional do IHRU assumiremoso papel de proprietários, optimi-zando a gestão e incentivandoa ligação às estruturasde parcerias necessárias.
São territórios degradados?Iniciaremos uma intervençãofaseada em cerca de 130 territóriosdiferentes e dispersos pelo país,muitos deles degradados. Queremosmarcar a presença activa devida
em mudança
ao Estado, enquanto proprietário,valorizando o patrimónioe as vivências nesses territórios.Muitos destes locais pecam porterem tido uma gestão esparsa,ou por terem uma gestão nãocoincidente no tempo entreas intervenções físicas e algumacompanhamento social que possater sido feito. A nossa intençãonesses territórios, mesmo nãoestando inscritos em grandesintervenções integradas, é fazeruma gestão que permitao desenvolvimento de intervençõesintegradas orientadas parao desenvolvimento sócio-territorial.Quando se fala de consolidaçãodeste tipo de intervenções fala-sede passos difíceis e morosos.Há vários factores prévios que têmde ser trabalhados, para depoisse darem passos em frente.
Que passos são esses ?Nalguns casos, é a concretizaçãodas obras no edificado,a ligação com os espaços públicos,porque não chega a intervençãonas casas, é preciso perceberque estes espaços públicos sãoocupados por pessoas comrelações específicas entre elase problemas que necessitamde acompanhamento.Mas, sobretudo, necessitam de serterritórios adoptados pelas própriasenvolventes. É aqui que se faz
a ligação às políticas de cidade. Secontribuirmos para o queé fundamental, fazer que essesbairros tenham vida e rosto,sejam respeitados, existam paranós e para as áreas envolventes,acreditamos que serviráde alavancagem para fazer ligaçãocom outros projectos maiores,mais integrados, necessáriospara estes locais.
Pode explicar melhoro trabalho dessas equipasque já referiu?Estão a ser preparados projectosde intervenção física nos bairros,que serão acompanhados por umaequipa com valências nas áreassociais, técnicos do serviço social,sociologia, antropologia e geogra-fia. Estes técnicos procurarãorestabelecer a comunicação coma população, acompanhandoa realização das obras físicas.Além disso, vão actualizara informação junto das famílias,fazer a despistagem de situaçõesproblemáticas e desenvolverparcerias necessárias paraas resolver. Estas equipas serão“task forces” que acompanharãoas intervenções no edificado.Vão preparar o terreno paraequipas de gestão de proximidadeque vamos contratualizar para,essas sim, se responsabilizarempela gestão desses territórios.
Porta 65 – Gestão
e Proximidade
Nessa segunda fase, das equipasde gestão de proximidadecaminhar-se-á para uma vertentedo Porta 65, a designada Porta65 – Gestão e Proximidade?Entra na linha da resoluçãodo Conselho de Ministrosque é a Porta 65, sendo um dosseus instrumentos o Porta 65--Gestão e Proximidade.Da experiência do passado relevaa necessidade de manterpatrimónio, enquanto houverprocura habitacional sem respostano mercado, ou seja não alienaro parque habitacional público.Mas a gestão poderá sercontratualizada e externalizada.
O que traz de novo a “Porta 65– Gestão e Proximidade”?É dizer: a permanência dumpatrimónio habitacional públicoé importante como instrumentode intervenção, como recursode oferta que possa respondera determinadas procuras.A gestão de proximidade nãoprecisa de estar na estruturado Estado central, pode sercontratualizada com cooperativas,com IPSS, com associaçõesde moradores, com empresas.Estas entidades responderão
Causas Comuns_ Jun2008_ 31
a determinados critérios de gestãodefinidos pelo IHRU.As entidades serão acompanhadaspor formação específica relativaa esta gestão de proximidadee serão objecto de monitorizaçãoda intervenção para assegurarpadrões de qualidade base.
Em resumo, o que consideraimportante destacar?O IHRU sabe que a intervençãofísica nestes territórios consolidadosé uma alavacagem importante sefor acompanhada de umaestratégia, de um planode mais médio/longo prazo.No caso do património do IHRU,tendo como ponto de partidaa recuperação dos edifícios, podeir bastante mais além, aproveitando
a entrada, através do edificado,para promover a valorização daspessoas que lá vivem. Poderácomeçar-se pelo conhecimento,estabelecendo uma relação, para,depois, se consolidar uma gestãode proximidade. Essa gestãotrabalhará, no que for necessário,especificidades locais, necessidadesde mobilidade, processosde integração sócio-territorial.
Daí a importância do trabalhoem rede?Esse trabalho será feito em rede,potenciando o tecido socialde intervenção existente.Ser propriedade do IHRU nãosignifica que se tenha de resolvertudo. Tem de se aprendera trabalhar em parceria, algumas
já montadas no território.O IHRU está interessadoem integrar essas parcerias, dandoo seu contributo específico.Através da intervenção integradanos territórios esperamosaligeirara pressão de problemasexistentese melhorar a vivênciaquotidiana das pessoas.Sem trabalho institucional,ou mesmo interministerial, comoo caso dos Bairros Críticos, semtrabalho em rede, ninguém podepretender que resolverá sozinhoproblemas que podem serespecíficos daquele local, mas que,na sua maior parte, estãorelacionados com o que se passana sociedade portuguesa e mesmo,por vezes, fenómenos resultantesjá de processos de globalização.
reabilitação urbana
De bairro maldito, símbolo da marginalidade
e por isso votado ao esquecimento
durante quase três décadas,
o Bairro Alagoas na cidade do Peso da Régua
é hoje modelo de sustentabilidade ambiental
e requalificação urbana.
Em apenas três anos, o projecto de reabilitação
liderado pelo IHRU transformou
um velho gueto numa nova centralidade.
texto_J.R./redacção Causas Comuns
fotos_J.R.
«A singularidade desta obra reside
no facto de ter atravessado dois
Governos e duas equipas autárquicas
diferentes, o que revela a validade,
a riqueza e a justeza do projecto»,
realçou na cerimónia com rematou
a visita a Alagoas o secretário
de Estado do Ordenamento
do Território e das Cidades,
professor João Ferrão.
O membro do Governo considerou
«notável» o rigor com que foi
cumprido o calendário financeiro
do projecto, a «visão larga» que
o enforma e, por fim, a qualidade
do trabalho da equipa que esteve
no terreno, destacando o «fio
condutor» da obra que foi
a Dra. Maria João Freitas, repre-
sentante do IHRU no Executivo
de Alagoas, e o coordenador
do projecto, Arq. Fernando Seara.
«Dizem que no Interior do país não
há competências, não há técnicos,
não há força, pois Alagoas
é o exemplo do acreditar através
de uma nova perspectiva de futuro»,
comentou o Prof. João Ferrão, para
quem a reabilitação completa deste
bairro abre outro ciclo na política
social da habitação em Portugal.
22 de Abril de 2008 foi um dia
de festa para os moradores
de Alagoas.
O secretário de Estado liderou
a visita oficial que deu por con-
cluído o Projecto, inaugurando
o conjunto final de novos
equipamentos. Acompanharam-no
o presidente do IHRU, Engº Nuno
Vasconcelos, o presidente
da Câmara de Peso da Régua,
Nuno Carvalho Gonçalves,
o presidente do Centro Distrital
de Vila Real da Segurança Social,
Engº Rui Santos em representação
do secretário de Estado da Segu-
rança Social, e o Governador do
Distrito, Dr. António Martinho.
Apontar caminhos
O Bairro Alagoas, recorda-se
( ler Causas Comuns de Janeiro
de 2008), é constituído por oito
blocos habitacionais onde residem
cerca de 600 pessoas, num total
de 160 famílias. Na sua entrada
norte foi montado um apelativo
conjunto escultórico de cubos
de pedra, utilizados por figuras
representando o trabalho,
o descanso e o apontar caminhos.
A placa que assinala a sua inaugu-
ração foi descerrada em simultâneo
pelo secretário de Estado e pelo
enviado da EFTA, o diplomata
norueguês Runar Jensen.
Runar Jenses congratulou-se com
o êxito da aplicação do dinheiro
(85 por cento de 1,7 milhões
de euros) com que foi financiado
o Projecto Alagoas por via
do mecanismo financeiro
do Espaço Económico Europeu.
Alagoas é uma nova centralidade urbana
Régua mostra à Europaexemplo de requalificação
Causas Comuns_ Jun2008_ 33
reabilitação urbana
Ao longo do passeio pelo bairro,
os ilustres visitantes também
inauguraram várias placas
toponímicas, um «parque radical»
e um campo de jogos ao ar livre.
A escassos metros, de resto,
encontra-se o Pavilhão Municipal
Multiusos, de que o Bairro Alagoas
também pode usufruir.
Enquadrando o limite sul
do território da nova centralidade
nasceu um edifício modelar com
o objectivo de acolher as actividades
colectivas de cultura, recreio
e lazer, outro multiusos de nome
esclarecedor: Edifício ABA -
- Associações Bairro Alagoas.
Ali foi publicamente assinado
um protocolo de cedência entre
Câmara da Régua e IHRU, «tendo
em vista a consolidação do pro-
grama Velhos Guetos, Novas
Centralidades» e traduzido
na comparticipação, a fundo
perdido, de 999.616,90 euros.
«Este é um projecto unanimemente
considerado exemplar, mas devia
ser a regra e não a excepção»,
considerou, na sua intervenção,
o presidente da Câmara de Peso
da Régua. Nuno Gonçalves ilustrou
o que disse: «A obra cumpriu
prazos, ultrapassou objectivos
e fez felizes todos os que nele
trabalharam, contribuindo de forma
decisiva para elevar a auto-estima
desta população». «Era um bairro
dissonante pela negativa, agora é
dissonante pela positiva», rematou
o autarca duriense.
Exclusão da pobreza
A auto-estima da população subiu
como resultado da renovação
de mentalidades que decorreu
sempre em paralelo à renovação
de espaços. Os «serões» mantêm-
-se, muito participados, a consciên-
cia social e as obrigações cívicas
são ali discutidas e combinadas –
todos podem falar, e é possível
falar sobre tudo.
Em Janeiro passado, por exemplo,
chegou a altura de escolher a cor
da tinta para pintar o bairro.
Foi convocada uma reunião
da população para a Escola P3
de Godim, ali ao lado, onde
se deslocou uma equipa da Facul-
dade de Arquitectura de Lisboa
que apresentou um estudo da cor.
Verde estava conotado com
a imagem negativa do passado.
Mas os moradores superaram isso
e assumiram manter verde
o seu bairro.
Ao nível da gestão, apesar de ter
chegado ao fim a missão da Comis-
são Executiva (constituída por
Câmara, Segurança Social
e IHRU), o acompanhamento
de Alagoas vai ser mantido.
Equacionar desenvolvimento
económico com justiça social
a isso obriga. «Uma equipa
de técnicos de reinserção social,
que já está no terreno desde Junho
de 2007, vai continuar a trabalhar
no bairro», anunciou na cerimónia
do edifício multiusos o próprio
presidente da Segurança Social
de Vila Real. Para o dr. Rui Santos,
«sustentabilidade, coesão social,
exclusão da pobreza são áreas
de uma atenção obrigatória
e permanente». Ao longo destes
três anos que durou a implementação
do projecto, a intervenção
no terreno integrou actividades
múltiplas envolvendo qualificação
profissional, desenvolvimento
de competências pessoais e sociais,
dinamização de seminários
no ensino escolar para adultos para
uma população beneficiária
de Rendimento Social de Inserção
(RSI). Não faltou apoio às iniciativas
promovidas pela Associação
de Moradores. Também este
trabalho foi distinguido. Entidades
envolvidas, públicas e privadas,
e esforços individuais receberam
diplomas de gratidão.
Recuperar a dignidade
As duas últimas acções da equipa
que durante três anos dirigiu
o Projecto Alagoas tiveram apre-
sentação especial. O Arqº Fernando
Seara anunciou a distribuição
gratuita por toda a população
de dois livros que lhe é expres-
samente dirigida. O álbum ilustrado
«História de Vidas» e o Guia
do Morador. E os primeiros
exemplares foram oferecidos
ao membro do Governo.
«História de Vidas» mostra o desen-
rolar do projecto e as vidas
de vinte famílias em Alagoas.
Profusamente ilustrado com
fotografias, avós, pais, filhos
e netos são eles os protagonistas
do livro. «Foi para eles que traba-
lhamos, este é o agradecimento
da sua disponibilidade e da sua
generosidade», disse o coordenador
do Projecto no terreno. O Guia
do Morador «é um guia para ajudar
a manter e conservar o seu espaço»
e tem «tudo» para esse efeito.
Direitos e deveres, como cuidar
dos espaços exteriores, como zelar
pelos edifícios, como cuidar da sua
casa, relações de vizinhança e de
bairro, organização de moradores
e todos os contactos de interesse
(serviços públicos, escolas,
associações, saúde e urgências).
«Estamos muito felizes, damos
o valor a tudo isto porque só nós
sabemos o que aqui passamos»,
diz o presidente da Associação
de Moradores e Amigos do Bairro
Alagoas, João Norton. O seu caso
é esclarecedor. Vivia «ao fundo
da Régua», onde hoje se construiu
o cais. Todos os anos o rio cobria
as casas ribeirinhas. «Mesmo depois
de se construir a barragem
sofremos quatro cheias».
Até que foram todos – 15 casais
– alojados num edifício da Compa-
nhia Velha. Entretanto, o bairro
nasceu e «a câmara não nos
mudava porque não tinha dinheiro
para pagar a pintura na Companhia
a que ficara obrigada; oferecemos
para isso o subsídio a que tínhamos
direito e viemos a correr para aqui!»
«Nunca é tarde para recuperar
a dignidade», comentava João
Norton, no dia da conclusão
do Projecto Alagoas.
Causas Comuns_ Jun2008_ 35
1_Pavilhão Multiusos
2_Escultura alusiva
ao novo bairro
2_1_
reabilitação urbana
Aprovadas as ideias e assinados os compromissos
entre as partes envolvidas, a Iniciativa Bairros Críticos –
- coordenada pelo Instituto da Habitação -
- arranca no Porto com a recuperação
do seu exemplo mais dramático,
o estigmatizado bairro da zona oriental da cidade,
onde até o nome causa impressão: Lagarteiro.
texto_J.R./redacção Causas Comuns
fotos_J.R.
As casas, manchadas de degrada-ção, encontram-se sobrelotadas.Nas paredes há quadros de drogae desemprego. Pelas escadasabaixo, por vezes surgem sinaisde violência doméstica. Cá fora,as ruas ainda apresentam algunsburacos de prostituição.O telhado do desconforto cobreas habitações todas por igual, masa humidade ataca mais umas queoutras, sabe-se lá porquê.Às janelas rouba-se a roupa queestá a secar. A miséria tantose pinta no interior com as coresde um biberão vazio, comono exterior com carcaçasenferrujadas de ex-automóveis.O ar que se respira é de um intensocheiro a tristeza.Há muitos anos que a populaçãodo bairro mais oriental do Portoolha para esta tela sombria e nota
os tons da indiferença, do aban-dono, progressivamente carrega-dos. Contudo, os que cá estão desde1973 nunca perderam a esperançade uns cenários melhores paraos seus filhos. Presos na exclusão,eles nunca deixaram de perscrutaro horizonte, onde viram crescernovas casas, novos prédios, novasestradas e até um novo estádio queparece um dragão a guardara cidade rica. O dia sonhado parao Largateiro, sem nuvense os sorrisos de volta, está aí.«Isto é para eles, coitadinhos»,diz a Dona Maria, apontando paraos seus netos lá dentro no recreioda escola.O insucesso escolar, de resto, é umaboa tinta para traçar o perfil doLagarteiro. «Os meninos do bairrotêm dificuldade de aprendizagemnão por que sejam burrinhos
ou tenham menos inteligência»,explica o experiente assistentesocial da Junta de Campanhã,
José António Pinto. Explica ele,enquanto guia a CAUSAS COMUNSpelas ruas do Lagarteiro: «Estascrianças não aprendem, não só pora escola não ser atractiva,os currículos desajustados darealidade cultural, mas porqueo pai pode estar preso, a mãe estáa prostituir-se, o irmão ficoua injectar-se, porque vivem commais nove pessoas num T1,a família sobrevive com os 200euros de reforma dos avós, e elesnão têm lugar no ATL do bairro».«A Iniciativa Bairros Críticosconstitui a solução almejadadurante anos a fio, num territórioonde as dores de cabeça paraautarquia provinham não apenasdo espaço físico mas tambémda área social», enquadra o presi-dente da Junta de Freguesiade Campanhã, Fernando Amaral.No Lagarteiro, a auto-exclusãoentranhou-se de tal forma queé comum ouvir aos moradores
Recuperar as casas e quem vive lá dentro
Lagarteiro sai do mapados bairros críticos
Causas Comuns_ Jun2008_ 37
reabilitação urbana
4_3_
frases como «Precisava ir ao Porto»,«Amanhã vou ao Porto».
Pela cidadania
e a coesão social
Para os bairros do Lagarteirono Porto, da Cova da Mouraem Lisboa, e Vale da Amoreirana Moita, o sol começou a raiarem Agosto de 2005, altura em quefoi aprovada em Conselhode Ministros a iniciativa «Operaçõesde Qualificação e ReinserçãoUrbana de Bairros Críticos», desdeentão genericamente designada,simplesmente, por «BairrosCríticos». Vale a pena recordara justificação do diploma.Diz a Resolução 143/2005:«Pela concentração de problemassociais, pelos desfavorecimentoe menor capacitação das suaspopulações, pela concentraçãode grupos mais vulneráveis
às diferentes formas de discrimi-nação, pelo estigma social que lhesanda associado e pelo bloqueiode oportunidades, os bairroscríticos, por um lado, constituemo mais urgente desafio em termosde promoção de cidadaniae da coesão social e, por outro,representam um grande riscono que respeita a comportamentosque podem minar a qualidadede vida e de competitividade dasprincipais aglomeraçõesmetropolitanas».No plano prático, a parte consistentedestes processos de requalificaçãourbana e social passa pelaconstituição de grupos de trabalhoparticipados por seis ministérios(Ambiente, Administração Interna,Trabalho e Solidariedade Social,Saúde, Educação, Cultura)articulados com o Poder Local(câmara e junta de freguesia)e outras organizações.Estes grupos de trabalho, quedispõem de seis meses para efectuar
o diagnóstico da intervençãoe preparar um protocolode parceria, são apoiados peloInstituto de Habitação e Reabili-tação Urbana, explica a Directorado Gabinete de Projectos Sócio-Territoriais do IHRU. Vírginade Sousa disse à CAUSASCOMUNS que, uma vez assinadosos compromissos para avançar oprojecto, há que elaborar agora ascandidaturas de financiamento.Beneficiar do PROHABITA paraos Bairros Críticos, entre o IRHUe a Câmara do Porto, é um doscaminhos para realizar todasas obras exteriores nas habitaçõese algumas mesmo no seu interior.Mas o principal esteio financeiroprovirá dos fundos europeus EEAA(European Economic AreaAgreement). «Tudo isto requero seu tempo, projectos da Câmara,instalação e formação da equipade trabalho no bairro – se tudoisto demorar seis meses já serámuito bom», prevê Virgínia
2_de Sousa. As obras estão orçadasentre os 15 e os 17 milhões deeuros para o Lagarteiro.
Requalificar,
formar
No Lagarteiro residem cercade 1800 pessoas. O bairro ergueu-seem duas fases, a primeira, concluídaem 1973, criou 248 fogos,e da segunda, inaugurada quatroanos mais tarde, saíram outros198. Um total de 446 habitaçõesdistribuídas por 13 blocos de cérceadominante “rés-do-chão maistrês andares”.«Apesar de a população apresentaruma composição etária jovem,os moradores com mais de sessentaanos atingem os 15 por cento»,precisa José António Pinto, paraquem o retrato da qualificaçãoescolar nos mostra índices deveraspreocupantes. «No concelho
do Porto, os indivíduos maiores de15 anos com o ensino secundário,médio ou superior ultrapassam os36 por cento – aqui, esse nívelmédio das habilitações rondaapenas os seis por cento». Com oensino básico, no mesmo lequeetário, a cidade chegaaos 53 por cento, mas o bairrofica-se pelos 20. O «novo»Lagarteiro, por força da Iniciativa«Bairros Críticos» deveria estarpronto até 2011. A complexidadedas negociações fez prorrogaraquele prazo até 2013.Segundo Virgína de Sousa,as principais vertentes desteprojecto abarcam a requalificaçãototal do edificado e a sua envol-vente, a par de uma intervençãosocial enérgica junto da população,onde sobressaem ferramentasessenciais como a Escola em Rede,a Saúde é Vida, e a SegurançaActiva. Está prevista a aberturade novas vias, bem comoa construção de uma creche/jardim
de infância, nova esquadra da PSP,
um parque radical, pavilhões
polivalente, de interpretação
ambiental, e de apoio ao Parque
Oriental.
Hoje, pelas frinchas do Bairro
do Lagarteiro ainda passam o frio
e o vento. Não de forma tão forte
como quem os sente agrestes
dormindo na rua, mesmo com
plásticos a cobrir simulando tendas.
Sopra o frio e assobia o vento,
sem pedir licença. Dentro das casas
só não entram subsídios
de desemprego ou rendimentos
de inserção, seja ela qual for.
Mas o futuro vai mudar.
«Sim?, ainda não perdi a esperança
de ver isso!», suspira, na despedida,
a “Lolinha do Lagarteiro”,
80 anos de idade e figura
emblemática do bairro mais
sacrificado do Porto.
Causas Comuns_ Jun2008_ 39
património
A Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (SCML) decidiu
levar a cabo, em Fevereiro, no Centro Cultural de Belém,
em Lisboa, subordinado ao tema "Requalificar, Rentabilizar",
um evento que reuniu reconhecidos especialistas, nacionais
e estrangeiros, das áreas da arquitectura, do urbanismo,
do património e da acção social, e que contou com
a participação da Doutora Maria João Freitas, vogal do
Conselho Directivo do Instituto da Habitação
e da Reabilitação Urbana, em representação deste
organismo. O tema “A dimensão social do património”,
no qual interveio Maria João Freitas, foi moderado pelo
Prof. Doutor Augusto Mateus e contou, ainda, com as
intervenções individuais da Dr.ª Ana Sara Brito, vereadora
da Câmara Municipal de Lisboa, e do Dr. Rafael González
Millan, director de Relações Internacionais do Conselho
Geral da ONCE.
No âmbito da sua intervenção, a Doutora Maria João
Freitas procurou dar resposta às seguintes questões: porque
é que o património tem uma dimensão social? Quais as
dimensões sociais inerentes ao património habitacional
do Estado? Quais os desafios que se colocam ao Estado
com a introdução das dimensões sociais na abordagem
ao património?
Do conteúdo desta comunicação é possível concluir que
o património assume uma dimensão social, pois é uma
linguagem através da qual as sociedades e as comunidades
se afirmam e se expressam e na medida em que o habitat
exprime as consequências colectivas das escolhas
individuais; convoca uma pluralidade de actores e uma
diversidade de papéis que intervêm a diferentes escalas
e com diferentes níveis de poder; é um processo plural
e colectivo suportado numa diversidade de interesses,
conflitos, processos negociais, criatividade, expectativas
e ambições. Porém, com a introdução das dimensões
sociais na abordagem ao património habitacional
colocam-se diversos desafios ao Estado, destacando-se
o uso da sua legitimidade e responsabilidade pelos interesses
públicos e colectivos; o exercício dos seus poderes
exclusivos em matérias como o território; a criação
de instrumentos e condições que permitam o envolvimento
e o compromisso dos potenciais interesses, recursos
e capacidades participativas de todos os actores, de modo
a garantir resultados colectivos sustentáveis; por fim,
a criação de condições de confiança necessária a todas
as operações partilhadas.
IHRU nas1as Jornadas do Património
A cerimónia de apresentação
do número 27 da MONUMENTOS
teve lugar na Igreja de São
Bartolomeu, em Vila Viçosa,
no dia 25 de Janeiro, e contou
com as presenças do secretário
de Estado do Ordenamento
do Território e das Cidades,
Prof. Doutor João Ferrão, do presi-
dente do Conselho Directivo
do IHRU, Eng.º Nuno Vasconcelos,
do presidente da Câmara de Vila
Viçosa, Dr. Manuel João Condenado,
na qualidade de anfitrião da ceri-
mónia, e do Arq.º Nuno Portas,
como orador convidado.
A cerimónia foi presidida pelo
ministro do Ambiente, do Ordena-
mento do Território e do Desenvol-
vimento Regional, Prof. Engenheiro
Francisco Nunes Correia.
27.ª edição da MONUMENTOSapresentada em Vila Viçosa
»» Foi lançado o Concurso de Ideias para «Criação gráfica de logótipo do Sistema de Informaçãopara o Património Arquitectónico (SIPA)/Forte de Sacavém», no dia 25 de Março, pelas 15h00,no Forte de Sacavém, edifício-sede do SIPA. Ao evento presidiram os membros do conselhodirectivo do IHRU, promotor do concurso, e a apresentação/visita-guiada do SIPA esteve acargo do coordenador do Departamento de Inventário, Biblioteca e Arquivo, Dr. João Vieira.Com esta iniciativa o IHRU pretende promover a divulgação e o reconhecimento públicos querdo SIPA, quer das suas instalações e, simultaneamente, estimular a inovação e a criatividadejunto de jovens designers portugueses.
»» Enquanto sistema de informação o SIPA é, simultaneamente, um meio de qualificação doambiente construído e um instrumento de apoio às políticas de ordenamento do território,de desenvolvimento regional, de reabilitação urbana e de salvaguarda e valorização dopatrimónio arquitectónico, urbanístico e paisagístico.»» O SIPA promove o acesso a conteúdos sobre património arquitectónico, urbanístico epaisagístico como estratégia para:· aumentar a consciência colectiva e individual sobre a qualidade do ambiente construído ea importância da salvaguarda desse património atendendo ao seu potencial valor funcional,económico-financeiro, artístico e cultural, científico e tecnológico, histórico e documentale ou simbólico e identitário;· fomentar a investigação científica e técnica na área;· encorajar a utilização desses conteúdos como recurso educativo e fonte de fruição cultural;· melhorar a qualidade do desempenho e da acção dos diversos intervenientes na área.
»» O SIPA tem como público-alvo os agentes do património arquitectónico, urbanístico epaisagístico, bem como as comunidades científica e educativa e o público em geral.
»» O SIPA é constituído por uma equipa multidisciplinar e experiente nas áreas da arquitectura,história, história da arte e geografia, encontra-se fisicamente instalado no Forte de Sacavéme é disponibilizado ao grande público através do site , ou, localmente, a partir da consultaàs várias bases de dados, à biblioteca e aos arquivos.
solosarrendamento
habitação
habitação social
reabilitação urbanainovação
vidasem mudança
qualidade vida
urbanismo
investigação
IHRU_Instituto da Habitação e da Reabilitação Urbana
patrimónioarquitectóniconovas tecnologias