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ALCELIRIA MARIA SOARES

A IDENTIDADE DO ALUNO COM DEFICIÊNCIA VISUAL NO TREINO DE

ORIENTAÇÃO E MOBILIDADE E OS REFLEXOS DA BAIXA AUTOESTIMA NO

EQUILÍBRIO EMOCIONAL.

Fonte: http://www.movimentolivre.org/artigo.php.id=143

CURITIBA - PR

Dezembro/2012

GOVERNO DO ESTADO DO PARANÁ

SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO

PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO

EDUCACIONAL – PDE

TURMA: 2.012

EDUCAÇÃO ESPECIAL – UTFPR ORIENTADORA: MARTA REJANE PROENÇA FILIETAZ

FICHA PARA IDENTIFICAÇÃOPRODUÇÃO DIDÁTICO – PEDAGÓGICA TURMA - PDE/2012

Título: A identidade do aluno com deficiência visual no treino de orientação e mobilidade e os reflexos da baixa autoestima no equilíbrio emocional

Autora Alceliria Maria Soares

Disciplina/Área Educação Especial

Escola de Implementação do Projeto e sua localização

Centro de Reeducação Visual / Rua do Rosário, 144 – 11º andar / Centro – Curitiba-PR

Município da escola Curitiba

Núcleo Regional de Educação Curitiba

Professor Orientador Marta Rejane Proença Filietaz

Instituição de Ensino Superior UTFPR – Universidade Tecnológica Federal do Paraná

Resumo

Discussão e troca de experiência entre os alunos com deficiência visual que passam por um processo de modificação em sua identidade, no seu dia-a-dia, no contexto familiar e social, assim como no modo de perceber-se e requer apoio de recursos específicos para sua mobilidade e independência na locomoção, como o uso da bengala. Define-se como público alvo alunos jovens e adultos em situação de perda da capacidade visual recente que estão em processo de aceitação da identidade enquanto pessoa com deficiência visual, de forma que, as reações emocionais inconstantes, de fragilidade emocional e de resistência refletem no desempenho acadêmico e social. Desta forma, este estudo entende que Educação Especial tem como uma das funções apoiar a formação global da pessoa através da educação, e requer ação de toda a comunidade escolar para que esta atitude de negação não interfira no processo de ensino aprendizagem. Assim, o enfoque será através de informação teórica e metodológica, bem como reflexões em pequenos grupos de alunos que estão perdendo a visão ao longo do tempo ou já estão cegos, salientando que estes conhecimentos são importantes para sua aceitação, interação acadêmica, potencialização e inserção social.

Palavras-chave cego; baixa visão; nova identidade, grupos de apoio; baixa autoestima

Formato do Material Didático Unidade Didática

Público Alvo

Alunos com Deficiência Visual

SECRETARIA DE ESTADO DE EDUCAÇÃO

SUPERINTENDÊNCIA DA EDUCAÇÃO

PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL – PDE

A IDENTIDADE DO ALUNO COM DEFICIÊNCIA VISUAL NO TREINO DE

ORIENTAÇÃO E MOBILIDADE E OS REFLEXOS DA BAIXA AUTOESTIMA NO

EQUILÍBRIO EMOCIONAL

ALCELIRIA MARIA SOARES

CURITIBA

2012

SUMÁRIO

O QUE É SER DIFERENTE?

CRONOGRAMA DE IMPLEMENTAÇÃO

1. INTRODUÇÃO

2. REFERENCIAL TEÓRICO

2.1. Políticas Públicas para as Pessoas com Deficiências

2.2. Contexto Histórico da Deficiência Visual

2.3. Fundamentos Legais

2.4. Orientação e Mobilidade

2.5. Modificação na sua Identidade

3. ESTRATÉGIAS DE AÇÃO

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

O QUE É SER DIFERENTE?

ICONES DESTE CADERNO

Leitura complementar

Indicações de filmes/ depoimentos

Informação complementar

CRONOGRAMA DAS AÇÕES DA IMPLEMENTAÇÃO

FEVEREIRO

1. Apresentação do

Tema para

equipe

pedagógica.

2. Apresentação do

tema para os alunos.

MARÇO

1. Nova Identidade

do deficiente

visual

2. Discutir com o grupo

seus sentimentos

com relação à perda

ou baixa visual.

ABRIL

1. Relatar a

importância do

uso da bengala

para locomover-

se com

autonomia e

segurança.

2. Troca de experiência

entre os alunos que

usam a bengala e os

alunos que ainda

resistem.

MAIO

1. Deficiência

Visual.

- Grupo de

discussão.

2. Contextualização.

- Grupo de

discussão.

TOTAL 32h 32h

“O que vemos para além do que

vemos não é mais parte do nosso espaço

visual, mas do nosso imaginário”.

David Zac

1. INTRODUÇÃO

Esta unidade didática visa atender as necessidades de alunos com deficiência

visual que precisam fazer uso da bengala para sua locomoção. São alunos com

visão subnormal ou cegos que frequentam o Centro de Reeducação Visual para

realizar exercícios de reeducação visual e orientação e mobilidade.

O tema proposto, do modo como se organizará as atividades, é a importância

do treino da bengala para a locomoção segura e autônoma contribuindo para que

este aluno sinta-se mais confiante em sua vida escolar, familiar e social.

É importante salientar que os alunos com deficiência visual que participarão

desta implementação têm mais de dezoito anos e, já possuem conhecimento e

experiências relacionadas a este tema.

Esta Unidade didática tem por finalidade contribuir na superação da baixa

autoestima do aluno cego ou com baixa visão para entender por meio da troca de

vivências com seus iguais de como é importante compreender sua nova condição

visual (identidade) e quanto o uso da bengala é importante para que se locomova

com independência e segurança.

A resistência em usar a bengala pode interferir nas interações sociais e no

processo ensino aprendizagem.

Os procedimentos utilizados na conscientização do aluno com deficiência

visual podem contribuir no sentido de ajudá-lo a superar as dificuldades impostas a

esta nova condição que se apresenta em sua vida, ou seja, a cegueira ou baixa

visão que antecede as técnicas para o treino de orientação e mobilidade.

Devido ao preconceito e à ignorância da sociedade, ou seja, uma herança

histórica de rejeição e discriminação ao diferente, o indivíduo com deficiência visual

sente-se marginalizado, tornando o relacionamento com a família e o meio, na

maioria das vezes, conturbado. Considera-se, neste contexto, importante conhecer

cada aluno, seus problemas, dificuldades/ limitações que o impedem de atingir

objetivos desejáveis a sua aprendizagem e integração social. (CANEJO, 1997)

O movimento e o caminhar livre e espontâneo estão entre as qualidades e

direitos mais importantes do ser humano. Esse movimento humano, de uma forma

geral, ocorre a partir de um estímulo interno ou externo, imediato ou previamente

experimentado. Por ser uma das ações fundamentais para a sobrevivência humana

qualquer imperfeição nos órgãos do sentido ou nos órgãos proprioceptivos que

comprometa a integridade do circuito sensitivo psicomotor acarretará limitações no

desenvolvimento da motricidade. (FELIPPE, 1997).

Para a pessoa com deficiência visual o desenvolvimento das habilidades de

orientação e mobilidade é fundamental no processo educacional. Este processo deve

ser iniciado em casa pelos pais ou responsáveis, tendo continuidade na escola por

um professor especialista em educação da área visual e, finalmente este treinamento

necessita ser concluído por outro professor especialista em Orientação e Mobilidade,

onde o aluno cego ou com baixa visão irá aprender técnicas mais avançadas,

proporcionando maior independência e favorecendo de forma efetiva o mesmo para

uma ampla integração e inclusão na sociedade.

Nos estudos de Weishaln (1990), Orientação é o processo de utilizar os

sentidos remanescentes para estabelecer a própria posição e o relacionamento com

outros objetos significativos no ambiente.

A pessoa com deficiência visual conquista a habilidade de compreender o

ambiente desde o nascimento e, vai aprimorando no decorrer de sua vida. Por este

motivo o professor especialista deve estar ciente da importância de nova orientação

sempre que houver mudança no espaço. E é certo que esta orientação acontece em

diferentes durações dependendo de cada situação.

O indivíduo com deficiência visual pode sentir dificuldades espaciais durante o

processo de orientação a partir da consciência de sua localização.

Destaca-se que é importante saber o que é orientação e mobilidade, como o

indivíduo com deficiência visual reage a esta necessidade de aprendizado para

potencializar a utilização de técnicas que ajudarão sua independência motora.

Como início deste processo à orientação e mobilidade, a pessoa com

deficiência visual necessita estar predisposto aos procedimentos, pois é um grande

desafio. Para que isto aconteça a autoestima do aluno deve ser positiva. Martin e

Bueno (2003) falam que o importante não é a pessoa cega ter bom potencial

intelectual a ser desenvolvido: se a autoestima for baixa com respeito ao êxito a ser

atingido, o fracasso estará garantido bem antes de qualquer atividade. Quanto maior

a autoestima, maior a possibilidade de sucesso no que o individuo se propõe a fazer,

tenha ele deficiência visual ou não. Sugere-se profissionalismo e sensibilidade para

atingir o objetivo de superar a recusa do uso da bengala devido à insegurança social

(vergonha ou medo de critica e gozações).

Olha o que Martin e Bueno disseram! (2003, p. 120)

A preocupação constante de todos nós que atuamos na área da educação

especial tem sido buscar conhecimentos, que possam ajudar a aprimorar nosso

trabalho com pessoas que dele necessitam, neste caso a pessoa com deficiência

visual, e atingir a qualidade de ensino das poucas instituições no Brasil que realizam

um atendimento de qualidade para crianças, jovens e adultos com deficiência visual

(cego e baixa visão). Tem verificado neste segmento educacional inúmeras

dificuldades provenientes à falta de infraestrutura tais como, falta de recursos

materiais, tecnológicos e de capacitação de apoio. Além do financeiro. Estas

instituições encontram grandes problemas para seu bom desempenho.

Principalmente no trabalho de orientação e mobilidade. Sabe-se das grandes

barreiras encontradas pelos professores especialistas, que trabalham em condições

mínimas para o exercício de suas funções. Junto a todas estas dificuldades

enfrentadas pelo professor especialista há também os problemas de não aceitação,

por parte de alguns alunos em usar a bengala para locomover-se com independência

e segurança.

Leia o que Fontana falou! (1991, p. 320)

Uma pessoa cega ou com baixa visão não estará pronta para

assumir uma vida social adequada até que tenha superado alguns traumas psicológicos em conseguência de sua cegueira. O perigo reside no fato de que, em muitos casos, costuma evitar as situações sociais, prolongando o isolamento, o que logo afetará a pessoa, produzindo-se um circulo vicioso no qual se dá o isolamento como consequência da insegurança, e o que ocorre é que quanto maior for o isolamento, maior a insegurança e vice-versa.

O professor deve sempre preocupar-se em ajudar cada um de seus alunos a atingir seu potencial. O que significa, contudo, que o professor deve agir de forma a proteger a autoestima dos alunos. Eles diferem de acordo com suas necessidades, e a pessoa com uma autoestima alta, forte, é menos sensível que as que possuem uma autoestima baixa; entretanto, em qualquer caso, isso significa atribuir, a pessoa, tarefas adequadas a sua competência, chamar a atenção para os sucessos em vez de salientar os fracassos.

“Por que foi que cegamos, Não sei, talvez um dia se

chegue a conhecer a razão, Queres que te diga o

que penso, Diz, Penso que estamos cegos, Cegos

que vêem, Cegos que, vendo não vêem”

José Saramago

2. REFERENCIAL TEÓRICO

2.1. POLÍTICAS PÚBLICAS PARA AS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA

As políticas sociais voltadas para as pessoas com deficiências no Brasil estão

asseguradas na Constituição federal de 1988 e regulamentadas pelo Decreto nº 914,

de 06 de setembro de 1993, porém não foram plenamente implantados.

Desta forma os cidadãos brasileiros com deficiência, ainda enfrentam

dificuldade de equiparação de oportunidades e de integração social.

O Brasil enfrenta grave problema de injustiça social, por concentração de

renda, dificuldade de acesso aos direitos básicos de saúde, habitação, alimentação,

educação e trabalho (FARIA, 1992), não se poderia imaginar que as pessoas com

deficiência estivessem a salvo.

O individuo com deficiência no Brasil representa 10% da população

(estimativa da ONU), está em todas as faixas etárias, e seus problemas se acentuam

nas classes de menor poder aquisitivo.

É fato que todas as sociedades apresentam entre seus membros pessoas que

fogem aos padrões considerados normais. Desta forma surge sentimento de

rejeição, medo, proteção e, finalmente, de respeito às diferenças, possibilitando a

integração da pessoa com deficiência na vida da comunidade. A deficiência é

resultado da fragilidade humana (AMARAL, 1994).

Para a Organização Mundial da Saúde, OMS, deficiência é a existência de

alteração estrutural ou fisiológica de parte do organismo humano. Neste conceito

vale a falta de um membro, redução da capacidade intelectual, existência de um

orifício anormal no corpo (ostoma). A incapacidade é consequência funcional da

deficiência, representando a dificuldade experimentada por alguém que tenha uma

deficiência na execução de tarefas do cotidiano. O termo desvantagem diz respeito

ao despreparo social, do ponto de vista de acesso físico e de aceitação das

necessidades específicas das pessoas com deficiências para alcançarem bom

desempenho social (BRASIL, 1993).

A política de assistência previdenciária foi estabelecida pelo Ato Normativo nº

34/1966, do Departamento Nacional de Previdência Social. Este é um marco

histórico, pois representam a primeira medida disciplinadora do atendimento dos

menores com deficiência dependentes de segurados.

Em 1978, com a nova reformulação do Ministério de Previdência e Assistência

Social, o programa de atendimento aos ―excepcionais‖ é transferido para a Legião

Brasileira de Assistência (LBA).

Em 1990, a LBA passa para o novo Ministério do Bem-Estar Social, porém

continua a coordenar os programas de reabilitação.

Durante todos esses anos, os principais conveniados são as sociedades

Pestalozzi, as APAEs e muitas clínicas privadas de atendimento multiprofissional

representadas pela Federação Brasileira de Instituições para Excepcionais

(FEBIEX).

A década de 70 foi marcada pelo início da organização das associações de

pessoas com deficiência em grupos específicos (físico, visual e surdez). Também

surgiram organizações de hansenianos, ostomizados e renais crônicos.

1981 foi adotado pelo Brasil como o ano da ―Pessoa Portadora de

Deficiência‖ 1 e iniciou uma série de estudos para avaliar sua atuação no setor.

Através da Lei n º 7853, de 24 de outubro de 1989, o Congresso Nacional

reestruturou a Coordenadoria Nacional para a Integração da ―Pessoa Portadora de

Deficiência‖ CORDE.

A CORDE permaneceu como o órgão coordenador das medidas e das ações

governamentais referentes às ―pessoas portadoras de deficiência‖.

O movimento de equiparação de oportunidades para as pessoas com

deficiência não pode atuar isoladamente das lutas sociais mais abrangentes. Para

que esta aliança se efetive, é fundamental possibilitarmos o crescimento de todos,

afastando-se quaisquer idéias de privilégios ou benefícios, indevidos. A sociedade

democrática e justa apóia todos os cidadãos, sem preconceitos ou discriminação.

1 O termo correto é pessoa com deficiência. No Brasil, tornou-se bastante popular entre 1986 e 1996, o uso do

termo portador de deficiência. Pessoas com deficiência vêm ponderando que elas não portam deficiência; que a

deficiência que elas têm não é como coisas que às vezes portamos e às vezes não portamos (como documento de

identidade, um guarda chuva). O termo correto passou a ser pessoa com deficiência. (SASSAKI, 2003)

2.2. CONTEXTO HISTÓRICO DA DEFICIENCIA VISUAL

São históricas as dificuldades pelas quais os indivíduos com deficiência visual

passam no decorrer dos tempos. Foram tempos de muita dependência e desprezo.

A deficiência visual apareceu na Pré- História simultaneamente ao homo

erectus.

Difícil ter entendimento de que o homem em questão tem ou não deficiência

visual, entretanto, devido a sua postura, é possível fazer inferência. Supomos que

neste período, devido às características do homem das cavernas, os indivíduos com

deficiência visual eram pessoas isoladas e tímidas.

Antes de Aristóteles (384 a.C. – 322 a.C.) e Galeno (129 - 217), poucos

indivíduos ―ditos normais‖ 2 tinham sensibilidade para perceber e reconhecer o valor

das pessoas com deficiência. Para os gregos o que importava era a beleza e a força

do corpo. Tanto a força quanto a estética era o objetivo de vida perseguido por todos.

Por esse motivo pensavam que justificava a eliminação de crianças que nascessem

sem o potencial que a sociedade da época esperava. Ou seja, a morte de crianças

com deficiência se justificava porque não se moldavam ao padrão de beleza e força

esperado. (BIANCHETTI, 1998, p. 29).

Por meio de relatos do médico e, por influência do ministro do império Couto

Ferraz, D. Pedro II descobriu que o número de pessoas com deficiência no Brasil era

muito grande. Os indivíduos com deficiência visual também reivindicavam que algo

fosse feito por eles e por pessoas com outras deficiências. Países europeus já se

dedicavam ao ensino e ao atendimento às pessoas com deficiência. Mesmo não

havendo nada organizado para o atendimento dessas pessoas era evidente que as

preocupações eram terapêuticas, o que iniciou a discriminação e a exclusão.

Uma lei no Brasil Imperial chamou atenção: O projeto de lei do deputado

Cornélio Ferreira França, da província da Bahia, na Assembléia de 1835, propõe a

criação da função de professor de primeiras letras para o ensino de cegos e ―surdos-

2 A palavra normal tem sua origem etimológica no latim norma, termo que designa um tipo de esquadro usado na

carpintaria para traçar ângulos retos. Quando atribuído a aspectos da conduta humana, normal traduz-se como

uma diretriz a ser seguida como parâmetro de um comportamento socialmente estabelecido. Nesta linha de

idéias, o adjetivo normal diz respeito a tudo aquilo que é permitido ou proibido do ponto de vista ético, inclusive

no mundo físico. Em contrapartida, anormal seria a qualidade do que se mostra contrário às concepções

admitidas em dado momento histórico. (ADIRON, 2006)

mudos‖ 3 na capital do Império e nas capitais da província. (ROCHA; GONÇALVES,

1987). O projeto não foi aprovado. Sendo arquivado pelo fato do deputado estar em

final de mandato.

Em 12 de setembro de 1854, D. Pedro II inaugurou o Imperial Instituto de

Meninos Cegos, hoje chamado de Instituto Benjamin Constant (IBC). Isto só foi

possível porque o médico particular do imperador, Dr. Xavier Sigaud, percebeu que a

filha cega, Adéle, apresentava atraso na alfabetização. Como não havia nenhum

especialista no país foi chamado o professor José Alvarez de Azevedo, que estudava

na escola francesa de Valentin Haüy. Esta escola especializada em cegos era a mais

importante da Europa. Desta forma, Azevedo era o professor melhor qualificado para

trabalhar com crianças com deficiência visual.

Até que surgissem outras escolas especializadas na educação do indivíduo

com deficiência visual o ensino se concentrava no Imperial Instituto de Meninos

cegos, no Rio de Janeiro. Exceto pelos trabalhos voluntários e autodidatas que

aconteciam em outros estados. A segunda escola de cegos foi inaugurada em 1926,

Instituto São Rafael, em Belo Horizonte. O ensino especializado descentralizou-se e,

alunos com deficiência visual puderam ter acesso às novas técnicas. Este

movimento educacional permitiu que os cegos adquirissem, em 1942, sua

emancipação política através do direito ao voto. Esta conquista certamente ajudou a

educação especial a iniciar o processo de transformação. (ROCHA, 1987, p.187)

Até o século XVIII, definições sobre deficiências eram incutidas de um

discurso do misticismo. No século posterior, as instituições atendiam alunos

especiais, ou seja, pessoas com deficiência, com disciplinas próprias como:

pedagogia de anormais; pedagogia teratológica; pedagogia curativa ou terapêutica;

pedagogia de assistência social; pedagogia emendativa. Desta forma percebemos

uma vertente médica para a educação dos indivíduos com deficiência que ainda hoje

encontramos em alguns centros de educação.

Esta afirmação comprova a origem médica de nossas escolas especiais. Por

este motivo as escolas comuns e especiais necessitam resgatar seu espaço como

3 Hoje não se fala mais “surdo- mudo” e sim surdo. O surdo tem a mesma capacidade fonética de produzir sons

com o aparelho fonador, contudo e pelo fato de não ouvirem, e só por essa razão, são considerados surdos. Por

esta razão, o surdo só será também mudo se, e somente se, for constatada clinicamente deficiência na sua

oralização, impedindo-o de emitir sons. (http://pt.wikipedia.org/wiki/Surdo-mudo)

proposta pedagógica e não como uma parte da medicina.

A referência que norteia as ações na educação especial surgiu em 1994, no

Encontro de Salamanca4, Espanha. Organizações governamentais e não

governamentais reunidas estabeleceram critérios para que todos os países do

mundo investissem na educação inclusiva. O Encontro de Salamanca consagrou-se

como um marco na educação especial.

O aluno com baixa visão faz parte desta educação inclusiva. E o que significa

baixa visão?

É a pessoa com rebaixamento da acuidade visual de um ou ambos os olhos.

Este rebaixamento não é resolvido com a utilização de correções ópticas simples,

isto é, com o uso de óculos ou de lentes de contato. O rebaixamento manifesta-se

sob diversas intensidades. Pode ser leve ou até a perda total de visão. (MARTIN,

2003, p. 27)

Embora a Organização Mundial da Saúde – OMS – considere a pessoa com

uma acuidade inferior a 20/200 no melhor olho corrigido como cego, ―cegueira legal‖,

sabe-se que a pessoa com 1% de visão não é mais considerado cego e sim baixa

visão. (OMS, 2003)

Quando apenas um olho é afetado a pessoa tem cegueira unilateral e a

cegueira bilateral acontece quando os dois olhos são atingidos.

A cegueira pode também ser congênita, quando a criança nasce cega ou

adquirida ao longo do tempo.

É quando o indivíduo tem algumas limitações ao realizar suas atividades

cotidianas devido ao seu rebaixamento visual, o qual ocorre em ambos os olhos.

Quando apenas um dos olhos é afetado, não é considerada visão subnormal, pois a

medida se faz a partir do olho de melhor visão. (FAYE, 1972)

A deficiência visual, assim como os outros tipos de deficiência, assume em

nossa sociedade uma diferença em que é considerada uma desvantagem. A

concepção do senso comum da pessoa cega torna-se restrita à limitação visual, que

ela deixa de ser vista um ser humano completo e passa a ser frequentemente

4 Conferência mundial de educação Especial em Salamanca, Espanha, entre 07 e 10 de junho de 1994,

reafirmando o compromisso para com a Educação para todos, reconhecendo a necessidade e urgência do

providenciamento de educação para as crianças, jovens e adultos com necessidades educacionais especiais dentro

do sistema regular de ensino e re-endosso da Estrutura de Ação em Educação Especial, em que, pelo espírito de

cujas provisões e recomendações, governo e organizações sejam guiados.

percebida como um ser humano imperfeito.

No entanto, o cego tem condições de se desenvolver como qualquer pessoa,

desde que lhe sejam dadas condições adequadas para tal. Ou seja, é necessário

que o ambiente onde ela viva seja adaptado para sua limitação e possa possibilitar-

lhe acesso às informações visuais por outras vias.

Um ambiente adaptado e o estimulo da pessoa cega ficam prejudicados se

não houver reconhecimento de suas potencialidades, como fala Ormelezi (2006, p.

176): ―Para os pais, os profissionais e as instituições em geral, a impossibilidade do

ver confunde-se com a impossibilidade do existir, do aprender, do comunicar-se, do

relacionar-se, do fazer parte, entrar para a cultura e tornar-se sujeito‖.

2.3. FUNDAMENTOS LEGAIS

A educação dos indivíduos com necessidades educacionais especiais, nos

últimos anos, mostra que, não só os alunos com deficiência, mas pertencentes às

camadas sem condições humanitárias sempre foram marcadas por lutas na busca

dos direitos e da efetivação delas.

Para tanto, a Educação Inclusiva é o resultado de muitas discussões, estudos

teóricos e práticas que tiveram a participação e o apoio de organizações de pessoas

com deficiência e educadores, no Brasil e no mundo que se fundamentaram e

documentaram com a finalidade de construir uma sociedade para todos.

1948 - Declaração Universal de Direitos Humanos (ONU) estabelece que os

direitos humanos como fundamentais de todos os indivíduos. Todas as

pessoas devem ter respeitados os seus direitos humanos: direito à vida, à

integridade física, à liberdade, à igualdade e à dignidade, à educação.

1971 - Declaração dos Direitos das Pessoas ―Mentalmente Retardadas‖

(ONU) proclama os direitos das pessoas com deficiência intelectual.

1975 – Declaração dos Direitos das ―Pessoas Deficientes‖ (ONU) estabelece

os direitos de todas as pessoas com deficiência.

1980 – Carta para a Década de 80 (ONU) estabelece metas dos países

membros para garantir igualdade de direitos e oportunidades.

1983 -1992 — Década das Nações Unidas para as Pessoas com Deficiência

A Lei Federal n.º 7.853, de 24 de outubro de 1989, estabelece os direitos

básicos da pessoa com deficiência.

A acessibilidade é a possibilidade e a condição de alcance para utilização,

com segurança e autonomia, dos espaços, mobiliários e equipamentos

urbanos, das edificações, dos transportes e dos sistemas e meios de

comunicação, por pessoa com deficiência ou mobilidade reduzida. A

acessibilidade diz respeito também aos materiais didáticos utilizados pelos

alunos com deficiência.

1990 – Conferência Mundial sobre Educação para Todos (ONU) aprova a

Declaração Mundial sobre Educação Para Todos5 (Conferência de Jomtien,

Tailândia) e o Plano de Ação para Satisfazer as Necessidades Básicas de

Aprendizagem; promove a universalização do acesso à educação.

1993 – Normas sobre Equiparação de Oportunidades para Pessoas com

Deficiência (ONU) estabelecem padrões mínimos para promover igualdade de

direitos (direito à educação em todos os níveis para crianças, jovens e adultos

com deficiência, em ambientes inclusivos).

1993 – Declaração de Manágua6 Delegados de 39 países das Américas

exigem inclusão curricular da deficiência em todos os níveis da educação,

formação dos profissionais e medidas que assegurem acesso a serviços

públicos e privados, incluindo saúde, educação formal em todos os níveis e

trabalho significativo para os jovens.

1994- Declaração de Salamanca7 - Princípios, Política e Prática em Educação

Especial proclamada na Conferência Mundial de Educação Especial sobre

5 A Conferência Mundial sobre Educação para Todos é chamada para março de 1990 (Ano Internacional de Alfabetização),

em Jomtien na Tailândia, tendo como meta primordial a revitalização do compromisso mundial de educar todos os cidadãos

do planeta. Porém, anterior a esta, tivemos um processo preparatório que incluiu algumas reuniões regionais como a de Quito,

no Equador, em 1989, cujo público alvo era os países latino-americanos.

6 Queremos uma sociedade baseada na equidade, na justiça, na igualdade e na interdependência, que assegure

uma melhor qualidade de vida para todos sem discriminações de nenhum tipo; que reconheça e aceite a

diversidade como fundamento para convivência social. Uma sociedade na qual o respeito à dignidade do ser

humano e a condição de pessoa de todos os seus integrantes sejam valores fundamentais; que garanta sua

dignidade, seus direitos, sua autodeterminação, sua contribuição à vida comunitária e seu pleno acesso aos bens

sociais.

7 Conferência Mundial de Educação Especial em Salamanca, Espanha, entre 07 e 10 de junho de 1994,

reafirmando o compromisso para com a Educação para todos, reconhecendo a necessidade e urgência do

Necessidades Educacionais Especiais reafirmam o compromisso para com a

Educação para Todos e reconhece a necessidade de providenciar educação

para pessoas com necessidades educacionais especiais dentro do sistema

regular de ensino.

1999 – Convenção Interamericana para a Eliminação de Todas as Formas de

Discriminação contra a ―Pessoa Portadora de Deficiência‖ – Guatemala –

condena qualquer discriminação, exclusão ou restrição por causa da

deficiência que impeça o exercício dos direitos das pessoas com deficiência,

inclusive à educação.

1999 - Declaração de Washington - Representantes dos 50 países

participantes do encontro ―Perspectivas Globais em Vida Independente para o

Próximo Milênio‖, Washington DC, Estados Unidos, reconhecem a

responsabilidade da comunidade no fomento à educação inclusiva e

igualitária.

Direito à Educação: como qualquer cidadão, a pessoa com deficiência tem

direito à educação pública e gratuita assegurada por lei, preferencialmente na

rede regular de ensino e, se for o caso, a educação adaptada às suas

necessidades em escolas especiais, conforme estabelecido nos art. 58 e

seguintes da Lei Federal n.º 9.394, de 20 de dezembro de 1996, art. 24 do

Decreto nº 3.289/99 e art. 2º da Lei nº 7.853/89.

Serviço de apoio Especializado: conforme determina o § 1º, do art. 58 da Lei

Federal nº 9.394/96, o Poder Público, havendo necessidade, é obrigado a

equipar a escola regular, visando o eficaz atendimento do aluno com

deficiência.

Educação Profissional: o art. 59, inciso IV, da Lei Federal n.º 9.394/96, e o

art.28, do Decreto n.º 3.298/99, asseguram o seu acesso à educação especial

para o trabalho, tanto em instituição pública quanto privada, que lhe

proporcione efetiva integração na vida em sociedade. Nesse caso, as

instituições são obrigadas a oferecer cursos de formação profissional de nível

básico, condicionando a matrícula da pessoa com deficiência à sua

providenciamento de educação para as crianças, jovens e adultos com necessidades educacionais especiais dentro

do sistema regular de ensino e re-endosso da Estrutura de Ação em Educação Especial, em que, pelo espírito de

cujas provisões e recomendações, governo e organizações sejam guiados.

capacidade de aproveitamento e não ao seu nível de escolaridade. Ainda

deverão oferecer serviços de apoio especializados para atender às

peculiaridades da pessoa com deficiência, como adaptação de material

pedagógico, equipamento e currículo; capacitação de professores, instrutores

e profissionais especializados; adequação dos recursos físicos, como

eliminação de barreiras ambientais.

Educação Superior: como qualquer cidadão ele tem direito à educação

superior, tanto em escolas públicas quanto privadas, em todas as suas

modalidades que são determinadas pelo art. 44, da Lei Federal n.º 9.394/96, e

art. 27, do Decreto n.º 3.298/99. Essas modalidades são: cursos sequenciais

por campo de saber, de diferentes níveis, abertos a candidatos que atendam

aos requisitos estabelecidos pela as instituições de ensino; de graduação

abertos a candidatos que tenham concluído o ensino médio ou equivalente e

tenham sido classificados em processo seletivo; de pós-graduação, abertos a

candidato diplomados em curso de graduação e que atendam às exigências

das instituições de ensino; e de extensão, abertos a candidatos que atendam

requisitos estabelecidos em cada caso pelas instituições de ensino.

Habilitação e Reabilitação: conforme o art. 2º parágrafo único, alíneas "c"e "d"

da Lei Federal n.º 7.853/89; artigos 17, 18, 21 e 22 do Decreto Federal

3.298/99 e art. 89 da Lei Federal n.º 8.213 de oito de dezembro de 1991, o

Poder Público está obrigado a fornecer uma rede de serviços especializados

em habilitação e reabilitação, bem como garantir o acesso nos

estabelecimentos de saúde público e privado.

Direito ao Trabalho: A Lei Federal n.º 8.112, de 11 de dezembro de 1990,

art.5º, reserva um percentual dos cargos e empregos públicos para as

―pessoas portadoras de deficiência‖ e define os critérios para sua admissão.

Em concursos públicos federais, (no âmbito da Administração Pública Federal,

ou seja, empresas públicas federais, sociedades de economia mista pública,

autarquias federais, fundações públicas federais e também a própria União)

até 20% das vagas são reservadas às pessoas com deficiência.

O direito ao voto, a Constituição Federal e o Código Eleitoral não fazem

qualquer restrição à pessoa com deficiência intelectual. A Constituição

Federal, aliás, permite o voto do analfabeto e do menor com idade entre 16 e

18 anos, o qual, nos termos do Código Civil, é relativamente incapaz.

Conta bancária: a pessoa com deficiência intelectual pode perfeitamente ter

conta bancária. No entanto, se for menor dezoito anos, quem administrará a

conta serão seus pais ou representante legal judicialmente nomeado. Se for

maior de dezoito anos e interditado, quem administrará a conta será o

curador.

Transporte gratuito: a Lei Federal nº 8899, de 29/06/94, prevê a concessão de

passes livres no sistema de transporte interestadual à pessoa com deficiência.

Esta isenção também deve estender-se ao seu pai ou sua mãe ou à pessoa

que tem responsabilidade sobre o mesmo, caso a pessoa com deficiência não

tenha condições de locomover-se sozinho.

2002 - Declaração de Caracas constitui a Rede Iberoamericana de

Organizações Não-Governamentais de Pessoas com Deficiência e suas

Famílias.

2002 - Declaração de Sapporo, Japão representando 109 países, três mil

pessoas, em sua maioria com deficiência, na 6ª Assembléia Mundial da

Disabled Peoples International - DPI, para erradicar a educação segregada e

estabelecer política de educação inclusiva.

2002 – Congresso Europeu de Pessoas com Deficiência proclama 2003 o Ano

Europeu das Pessoas com Deficiência.

2004 - Ano Iberoamericano da Pessoa com Deficiência realizada na Bolívia,

da qual o Brasil é membro, define a questão da deficiência como prioridade,

fortalecendo as instituições e as políticas públicas direcionadas à inclusão das

mesmas.

2.4. ORIENTAÇÃO E MOBILIDADE

Ao final da Segunda Guerra Mundial houve um grande número de veteranos

de guerra com deficiências adquiridas, iniciou-se um trabalho científico e

tecnicamente fundamentado, voltado para a mobilidade das pessoas cegas. Esta

iniciativa partiu do Dr. Richard Hoover, que modificou um antigo método em que

usavam a bengala curta, ortopédica e branca, passando a adotar a bengala longa

como uma extensão tátil-cinestésica. Esse método experimental recebeu o nome de

―Técnicas de Hoover‖, sendo desenvolvida, primeiramente, no Valley Forge Hospital

da Pensilvania, nos Estados Unidos da América. (FELIPPE, 1997)

A ―Técnica de Hoover‖ foi aperfeiçoada no Veteran Administration Hospital,

Illinois, sendo adotada pelos veteranos de guerra cegos. Devido à divulgação da

experiência, vários profissionais foram enviados para o Hines em Illinois, a fim de

aprender a técnica, mas sem uma instrução formal que os qualificassem como

instrutores de mobilidade. Assim mesmo, muitas instituições de reabilitação

começaram a utilizar a ―Técnica de Hoover‖ em seus programas.

Como o trabalho utilizando a ―Técnica de Hoover aumentou de tal maneira

que o governo Federal patrocinou o primeiro curso Universitário no Boston College.

Os graduados passaram a ser chamados de peripatologistas8. (FELIPPE, 1997)

Em 1958, o Office of Vocational Rehabilitation salientou, durante um

seminário, a necessidade de um estudo sobre treinamento de mobilidade e, em

1959, a American Foundation for Overseas Blind patrocinou uma conferência sobre

―Orientação e Mobilidade‖ em Nova York.

Suterko (1967) assinala que o desenvolvimento das habilidades de orientação

e mobilidade é parte essencial do processo educacional da pessoa cega ou com

baixa visão progressiva. Esta orientação deve ter início no lar pelos pais, seguido no

ensino formal pelo professor especializado em deficiência visual e, finalmente ser

concluído por um professor especialista em Orientação e Mobilidade, quando são

ensinadas as técnicas mais avançadas, visando à possível independência e

favorecendo efetivamente para a real integração e inclusão na sociedade.

Leia o que Gockman (1969, p.27) afirma sobre pessoas com deficiência

8 Peripatologia – o estudo de se andar à volta. (FELIPPE, 1997)

visual.

Na condição de não mais enxergar, a pessoa passa por um processo de

modificações em sua identidade, no seu dia-a-dia, no contexto familiar e social,

assim como no modo de perceber-se. Parnof (2010, p. 29)

O indivíduo com deficiência visual passa por muitas situações de stress

devido a sua condição diante da sociedade. Gugel (2008) fala que no período da

Antiguidade, considerava-se a cegueira como uma forma de punição, ou seja, a

pessoa com deficiência visual havia sido punida por Deus devido a um pecado e, por

isto, merecedor da cegueira.

A pessoa com deficiência visual entende como fatores negativos suas

impossibilidades e preconceitos do meio devido à falta de visão.

É importante compreender o sentido etimológico de cada palavra. De acordo

com Cunha (1999, p. 526 e 564), a palavra orientar vem do latim ―óriens‖ (―orientis‖)

que, em português, quer dizer oriente, ou seja, ―o lado onde o Sol nasce‖. A palavra

mobilidade também tem origem no latim, que quer dizer ―móbilis‖ (móvel), que deriva

de ―movére‖: mover.

No Dicionário Júnior da Língua Portuguesa (G. MATTOS, 2001), orientar tem

como significado ―indicar a alguém a direção a tomar; dirigir, guiar, determinar os

pontos cardeais, indicar o rumo exato‖ e, mobilidade é a propriedade do que é

―móvel‖, qualidade de se mover com facilidade; sendo assim, orientação é aprendida,

e mobilidade é inata.

Orientação e Mobilidade: mover-se de forma orientada, com sentido, direção e

Eu também acredito que apesar do que podemos crer ou esperar, uma grande maioria de pessoas com deficiência visual nunca será capaz de se locomover com independência, isto porque não receberam nenhum tipo de instrução de orientação e mobilidade ou porque a receberam de maneira insuficiente... Só quando estabelecerem programas de orientação e mobilidade nas instituições especializadas em deficiência visual, e o professor especialista tomar consciência da necessidade de desenvolver tais programas é que começaremos a ver que a maioria das pessoas com deficiência visual se converteu em pessoas capazes, independentes e livres.

utilizando-se de várias referências como pontos cardeais, lojas comerciais, mapas,

placas, leitura, e outras para chegarmos ao local desejado. Isto significa que a

orientação e mobilidade se aplicam a toda e qualquer pessoa que necessita chegar a

algum local e que, dispõe de todas essas referências para cumprir sua rota. A

orientação e mobilidade faz parte de nossa rotina.

Como proposta do atendimento educacional especializado (AEE) o

atendimento do aluno com cegueira ou baixa visão no que diz respeito à orientação e

mobilidade, caberá ao professor especializado oferecer a esse aluno o conhecimento

dos espaços da instituição que ele frequenta. O aluno deverá ter o tempo necessário

a fim de que possa explorar todos os espaços da escola para, aos poucos, construir

em sua mente o mapa mental de cada um deles.

Para reforçar esta construção mental, a confecção de maquetes ou mapas

táteis torna-se interessante, considerando sua forma de comunicação mais eficiente

para que ela reforce seu aprendizado.

A prioridade do treino de orientação e mobilidade é que o indivíduo com

deficiência visual possa locomover-se sem medo e com a maior independência

possível.

2.5. MODIFICAÇÃO NA SUA IDENTIDADE

“A cegueira ao criar uma formação peculiar de

personalidade, reanima novas forças, muda as

direções normais das funções do organismo e, de

uma maneira criadora e orgânica, refaz e

transforma a psique e a persona. Portanto, a

cegueira não é somente uma deficiência, uma

incapacidade, mas, em um certo sentido, uma fonte

de manifestação das capacidades, uma força. Por

mais estranho e paradoxal que seja.”

Ida Maria Freire

Nós, seres humanos, pensamos que todo indivíduo que perdeu algo que

consideramos importante está de luto pela perda, seja ela deficiência, bens material

ou qualquer outra coisa.

Luto implica em perda. O processo de luto é uma reação à perda de algo que

afetivamente era importante, seja a morte de um ente querido, a perda da visão e

assim por diante. Apesar de ser um processo muito difícil, a dor não deve ser

negada; é só vivendo a dor que a pessoa pode superar o luto. Dessa forma, ao

contrário do que muita gente pensa, falar sobre a perda é fundamental. Assim, uma

mãe que conversa com seu filho sobre a morte do pai, que olha os fatos, que chora

com ele, o ajuda a se recuperar da grande perda. Isto também acontece com a

pessoa que perde a visão. A duração do processo de luto varia de acordo com as

características pessoais de cada um; como aconteceu a perda, em quais

circunstâncias ela aconteceu. Em geral, o luto é um processo de longo prazo.

(KÜBLER – ROSS, 2005)

Antes de ser superior, a deficiência deve ser admitida segundo três níveis:

reconhecimento dos fatos, aceitação das implicações e acolhida da experiência. No

reconhecimento: o indivíduo entende a natureza e a extensão de suas limitações, a

probabilidade de permanência e as realidades da estigmatização social, porém não

gosta de cada parcela disto. A deficiência é tida como tragédia e tem Valencia

negativa. Aceitação: o indivíduo reconhece a realidade de sua condição sem sentido

de perda, demonstrando aceitação do que é sem recriminação. Os fatos e

implicações da deficiência estão interados no estilo de vida escolhido. Ele vê a

deficiência como um inconveniente que pode ser controlado e tem Valencia neutra.

Acolhida da experiência: o individuo reconhece que sem a deficiência seria diferente

do que é, mas não tem vontade de sê-lo. Existe a valorização do fato de que a

deficiência foi, é, e continuará sendo um catalisador do crescimento, desde que lhe

seja permitido. A deficiência, como todas as outras experiências de vida é vista como

uma oportunidade ou um dom. ela tem Valencia positiva. É importante clarificar a

diferença entre ―deficiência‖ e ―incapacidade‖. Se alguém deve funcionar

afetivamente no mundo e ―aproveitar‖ a vida ao mesmo tempo, é necessário aceitar

sem rancor o fato de que é cego, surdo, com deficiência intelectual ou de outra forma

pessoa com deficiência. Entretanto, não é necessário nem recomendável aceitar

sequelas incapacitantes tais como: não trabalhar, não ter amigos, não ter vida

sexual, não se divertir e, acima de tudo, não ter trabalho. Não é sequer razoável

aceitar, sem questionar, um mercado de trabalho secundário, uma vida amorosa

frustrante, e momentos incertos de prazer que sempre acontecem segundo o

capricho de outrem. Isso ocorre quando se aceitam definições externas,

estereotipadas de ―incapacidade‖ ao invés de se descobrir, o que é melhor, o que

está realmente além do alcance da capacidade.

Para Erikson (1972) a identidade implica em definir quem é a pessoa, quais

são seus valores e que direção ela quer seguir em sua vida. Ele compreende a

identidade como uma concepção muito bem organizada do ego, composta de

valores, crenças e metas com as quais a pessoa está solidamente comprometida.

Sabemos que a instituição de ensino comum é fundamental para a integração

da pessoa na comunidade e, sobretudo do indivíduo com deficiência visual, que, ao

frequentá-la passa a participar ativamente da vida da comunidade a que faz parte.

Olha só o que Felippe e Felippe falam. (1997, p. 8)

Quando a pessoa se encontra numa condição de não mais enxergar, ela

passa por um processo de mudança em sua identidade, no seu dia-a-dia, em seu

contexto familiar e social, assim como na forma de perceber-se. Ocorrem alterações

em suas reações emocionais e mudança a sua rotina. O apoio da família e da

sociedade, vivenciados pela pessoa ao ter a perda da visão é fundamental para que

ela não se sinta discriminada.

A deficiência visual provoca no indivíduo reações diferenciada obrigando-o a

encontrar formas de lidar com esta perda. O trauma físico e social está entre estas

reações e, pode iniciar no hospital ou consultório no momento em que o médico

oftalmologista informa ao paciente sobre sua perda ou baixa visual, ou seja, a

maneira como esta informação for passada pode desencadear diversas reações. Se

a pessoa tiver sido preparada com antecedência, tendo informações sobre a

deficiência visual (cegueira ou baixa visão) e que recursos podem ser utilizados,

talvez a reação não seja tão devastadora. (RODRIGUES, 2004)

Ao ficar sabendo que não voltarão a enxergar a grande maioria não aceita ou

nega esta condição e procura diversos médicos oftalmologistas, ou pensam que a

vida acabou, ou tentam imaginar o que a família e a comunidade vão pensar e,

poucos procuram a reabilitação logo após ouvir o diagnóstico.

Barczinski (2001) diz que algumas reações acontecem porque a perda visual

significa para a pessoa à negação da limitação, a insegurança a respeito de si

mesmo, a desconfiança em relação à outra pessoa e suas intenções, o

O movimento e o caminhar livre e espontâneo estão entre as qualidades e direitos mais importantes do ser humano. No caso das crianças que nascem com deficiência visual (cego ou baixa visão) ou adquiriram essas condições ainda nos primeiros anos de vida a impossibilidade de usar total ou parcialmente a visão acarretará severos comprometimentos relacionados à capacidade de se orientar e se movimentar com independência e segurança, o que afetará ainda mais a aquisição e desenvolvimento de conceitos, interação consigo mesmo, com outras pessoas e com o meio.

ressentimento pela impressão de não ser aceito e querido pelo mundo. Na maioria

das vezes o indivíduo imagina que ser diferente é ser inferior e se isola de eventos

sociais podendo tornar-se mais introspectivo. Além de confundir a perda sensorial da

visão como perda física, sentindo-se mutilado. O indivíduo pode ter uma

desorientação inicial, por exemplo. Diminuição de sensações como olfato, tato,

memória, capacidade motora e sinestésica e do contato ou vínculo com o meio

ambiente e do campo visual, quer dizer, olha para algo que não se encontra mais ali.

Em alguns casos apresenta dificuldade nas habilidades básicas como: andar sozinho

ou até mesmo realizar tarefas que antes fazia de forma independente. Apesar de

estas reações serem as mais evidentes, não há uma regra geral. Cada pessoa reage

de uma forma diferente para esta perda visual.

Leia o que Vygotsky falou. (2000) p. 146

Vygotsky atribui papel fundamental à intervenção do aprender promovendo um

agir coletivo como alternativa na provocação desta aprendizagem e, que gera o

desenvolvimento do aluno. Para ele as interações sociais são muito importantes,

trazendo a idéia da mediação e da internalização como aspecto necessário para a

aprendizagem. (VYGOTSKY, 2000)

A pessoa com deficiência entra em conflito ao manter contato com o meio

externo. O que pode levá-la a uma enfermidade ou à morte, ou pode criar

possibilidades e estímulos para a supercompensação. Ou seja, o defeito torna-se

ponto de partida e principal força para o desenvolvimento psíquico da personalidade.

Exemplo, a cegueira cria dificuldades para a inserção da pessoa (cega) na vida.

Nesta direção estoura o conflito. De fato, o defeito se realiza como um desvio social.

A cegueira põe o indivíduo em uma posição social particular e difícil. O sentimento de

O aspecto emocional do indivíduo não tem menos importância do que os outros aspectos e é objeto de preocupação da educação nas mesmas proporções em que o são a inteligência e a vontade. O amor pode vir a ser um talento tanto quanto a genialidade [...]

inferioridade, a insegurança e a debilidade surgem como resultado da valorização

que o cego faz de sua posição. Como reação do aparato psíquico se desenvolve as

tendências de supercompensação. Está orientada a formação de uma personalidade

socialmente válida, a conquista de uma posição na vida social. (VYGOTSKY, 1997,

pp. 103-104)

O ser humano não está preparado, ou melhor, não aceita a perda visual. O

período que antecede esse momento é doloroso, cheio de angustia e medo. Depois

que ele acontece, não é fácil lidar com a perda, porém passa a ser mais

compreensível e mais fácil viver sem o que tanto queria e perdeu (a visão). Acredita-

se que a pessoa aprende ou se reorganiza para começar de novo e faz o melhor

possível para continuar a viver com as inúmeras perdas e/ou mortes que ocorrem

durante a vida. (KÜBLER-ROSS, 1998)

Com a perda o indivíduo passa por quatro estágios: negação, raiva, barganha

e depressão, para finalmente atingir o quinto e último que é o da aceitação.

Neste estágio, leia o que Kübler-Ross afirmaram. (1998, p.47)

Muito mais tarde é que o indivíduo nega e fala de sua perda e de sua vida

―como se fossem irmãs coexistindo lado a lado, encarando a [perda], sem perder as

esperanças‖. (KÜBLER-ROSS, 1998, P. 47)

Vygotsky (1997) fala sobre a concepção biológica da cegueira. Algumas vezes

o indivíduo crê que é através da compensação do funcionamento e desenvolvimento

de um orgão que a falta de outro é suprida. Mas apesar dos sentidos aguçarem

mais, deve-se lembrar que a insuficiência de um orgão origina e coloca em ação

novas formas e funções para que o indivíduo com deficiência visual se desenvolva.

A sociedade sempre teve uma atitude ambivalente para com os cegos,

ignorando-os na maioria dos casos ou venerando-os e acreditando que são

possuidores de poderes especiais. Ela em geral considera o indivíduo com

...se o indivíduo recebeu apoio para superar os estágios anteriores, não sentirá mais depressão nem raiva. No entanto a aceitação não quer dizer felicidade, embora venha mostrar que a morte e/ou perda não é uma coisa horrível, medonha como se pensava. Mas o fato de aceitar sua condição de pessoa com deficiência visual, também se deprime pela falta da mesma.

deficiência visual uma pessoa amarga e indefesa. Uma vida de cegueira é

considerada uma vida de escuridão e horror, o que, em alguns casos, desperta

atitudes de piedade, comiseração e, às vezes, generosidade. Esta sociedade exige

do cego uma apreciação das coisas e um comportamento semelhante ao do

indivíduo vidente. Por isso, deve assumir que no desenvolvimento cognitivo de

qualquer criança seja considerada a socialização, sua maturidade social e a ajuda

que ela própria puder receber. A pessoa com deficiência visual pode desenvolver

habilidades sociais iguais ou parecidas às dos seus pares videntes, embora, com

frequência, verifica-se atraso de dois ou três anos em seu surgimento, em

comparação aos videntes.

Para Vygotsky (1997) o meio social é uma das principais barreiras que

dificultam a construção de um novo caminho para a reestruturação da pessoa com

deficiência.

3. ESTRATÉGIAS DE AÇÃO

Deficiência é não enxergar nas pessoas, as suas verdadeiras eficiências”

Ronne Paulo de Magalhães

Considerando-se a importância da Orientação e Mobilidade realizada pelo

professor especialista para que o indivíduo com deficiência visual seja mais

autônomo é fundamental que esta pessoa (cega ou com baixa visão) deseje este

aprendizado. Ou seja, deve ter equilíbrio emocional para que possa receber estas

orientações de forma aberta e segura. Para isto é importante a criação de um grupo

de discussão entre os alunos cegos e com baixa visão para que os mesmos se

conscientizem de sua nova condição (identidade) e que troquem experiências com a

intervenção da professora pesquisadora para a partir daí superar esta dificuldade.

Desta forma algumas estratégias de ação são necessárias para a formação

deste grupo de discussão com ênfase nos aspectos emocionais e sócio culturais

desse aluno.

Veja o que Vygotsky falou. (2003, p.45)

Uma das sugestões é que estes alunos participem de um grupo de apoio onde

é importante a presença de outros colegas em igual condição, o professor de

orientação e mobilidade e o professor pesquisador ou psicopedagogo que fará a

mediação.

A interação social pressupõe a generalização e o desenvolvimento do sentido verbal; e a generalização só através do desenvolvimento da interação social se torna possível. As formas superiores de interação social mental que são uma característica tão importante do homem só são possíveis porque – através do pensamento – o homem reflete a realidade em termos generalizadores.

Neste momento é fundamental a descontração na conversa. Quem nunca

ouviu algo como: ―Não deixe a peteca cair‖, ―Tenha fé e tudo vai melhorar!‖, num

momento difícil da vida? Todos nós já passamos por situações em que ficamos

perdidos e não soubemos o que fazer. Neste momento nos sentimos sem esperança

e sem perspectiva de que as coisas vão melhorar. Algumas pessoas passam por

estas crises com mais facilidade que outras, porque não se colocam como vítimas

dos acontecimentos. Assumem uma posição de enfrentamento da dificuldade e

acreditam que podem ficar bem mesmo com o sofrimento. Assim não se excluem do

problema e tem a possibilidade de superá-lo. Mas para que isto aconteça é

importante que durante a conversa os alunos com deficiência visual e o professor

tenham empatia e demonstrem bom humor. Com bom humor, nossa mente mantém-

se relaxada, dando-nos condições para resolvermos e ultrapassarmos as

dificuldades e obstáculos que surgem. No dicionário Júnior de Língua Portuguesa

(MATTOS, 2001, p.377) ―humor é estado de alegria ou tristeza, calma ou raiva em

que se acha a pessoa: disposição de espírito; capacidade de fazer os outros rirem:

graça, humorismo; veia cômica‖. O humor é um acontecimento social, é um modo

das pessoas se relacionarem, se conhecerem e se socializarem. O que cada um

acha engraçado (ou o que ela se permite achar engraçado) diz sobre a pessoa e

sobre a visão do mundo. É importante ouvir o que o aluno tem para dizer, sua

história de vida, trajetória, experiências, o que passou na vida.

Como se adaptar a esta nova identidade?

Quais os caminhos para motivar e despertar a importância do uso da

bengala?

Por que é importante usar a bengala? Por que é importante a orientação e

mobilidade?

DINÂMICA DE GRUPO

Exercício para ajudar a melhorar a autoestima

Izabel Telles

O que é autoestima?

Auto – significa uma forma da pessoa se referir a si própria.

Estima – é o sentimento do bem querer, do respeito, da admiração, da alegria

em sentir, em valorizar com dignidade, com afeto, com compaixão.

Autoestima, portanto, é quando alguém se sente como uma pessoa digna de

ser amada, respeitada e valorizada, antes e acima de tudo, por si própria.

Baixa autoestima é quando este sentimento está abalado, destruído,

impotente ou mesmo falido.

É quando você acha que todos são melhores do que você e que sua vida não

vale mais a pena. Todos são mais felizes, mais bem sucedidos, mais capazes. No

popular, é quando você está se sentindo por baixo. O que fazer?

Primeiro: pare de se comparar com os outros. Nenhuma impressão digital é

igual à outra. Você também é único.

Segundo: não ouça noticiários da mídia que mostram para você homens e

mulheres moldados para o consumo. Você não é um carro que precisa mudar de

modelo todos os anos para ser consumido. Você é um ser humano dotado de corpo,

alma e espírito. Faça isso valer sobre os que querem transformar você em uma

marionete.

Terceiro: procure se relacionar com pessoas que aceitam você exatamente

como é. Não minta para você mesmo, não represente o que não é e não tente

agradar os outros. Seja autentico e realista. Só a verdade liberta.

Faça este exercício mental sempre. (Coloque uma música suave de fundo.)

Nascimento da autoestima:

Sinta, perceba, imagine ou faça de conta que você está sentado sobre um baú

no meio do deserto (não há nada a sua volta). Sinta seu espaço. Movimente-se

livremente. Imagine o vento batendo em seu rosto, seus braços e o barulho da areia

movimentada pelo vento. Saiba que este som representa você.

Respire fundo, imagine-se levando e erguendo a tampa do baú. Fantasie que

está tirando de dentro dele sementes que você jogará ao seu redor cada vez mais

alto e mais longe. Imagine o surgimento de um lago límpido, cactos, aves, água,

árvores, flores. Sinta o calor do Sol aquecendo sua pele.

Desperte para o calor e para a alegria de amar-se definitivamente.

Respire e sorria!!!

1º MOMENTO – Apresentação do tema

Neste primeiro momento do encontro com os alunos de orientação e

mobilidade explica-se o tema da unidade didática, realize a dinâmica acima e, de

maneira informal cada indivíduo falará como surgiu a dificuldade visual, qual foi à

primeira reação diante do diagnóstico e como se sente diante desta nova condição.

Cada um dos participantes pode fazer perguntas para o outro e fazer comentários

que possam contribuir de forma positiva para elevar a autoestima do colega. A

mediadora, no início da conversa pedirá autorização do grupo para gravar e num

outro momento retomar estas falas com os mesmos para detectar o que mudou.

Neste momento é fundamental a participação efetiva dos alunos.

Leia a fala de Fontana. (1991, p. 341)

Assim que o professor/mediador se conscientizar do papel vital

... a aprendizagem é realizada através da interação social, com o professor interagindo com os alunos e com os alunos interagindo entre si. O comportamento social em todos os pontos em que o contato é realizado entre pessoas e torna possíveis os resultados é de grande interesse para o professor. Quanto melhor eles compreenderem esse comportamento, mais eles serão capazes de fornecer ambientes de aprendizagem ideais para os alunos.

desempenhado na autoestima positiva do aluno com deficiência visual ou não, ele

poderá auxiliar muito através de conversas, a construir um quadro de como cada

aluno se vê.

É importante criar um ambiente de confiança para que os alunos sintam-se a

vontade para falar.

O professor/mediador deve deixar claro que tudo que for discutido no grupo

não pode ser comentado fora dele.

2º MOMENTO – Sua nova identidade

Neste segundo encontro é importante falar sobre as questões abordadas no

projeto de intervenção para que o grupo possa manifestar suas opiniões e

contribuições acerca do tema.

Discutir sobre o que significa esta nova condição (deficiência visual) para que

tenha consciência de uma nova identidade e quais as implicações para sua vida

educacional, familiar e social. Durante a conversa destacar o que é mais difícil: se

expor na escola, na comunidade e na sociedade enquanto pessoa com deficiência

visual com o uso da bengala ou locomover-se de forma independente e segura,

podendo desenvolver suas potencialidades sem necessitar da ajuda de outras

pessoas o tempo todo.

Essa nova identidade refere-se ao valor que atribuímos a nós mesmos. Um

dos principais fatores no desenvolvimento de problemas psicológicos relacionados a

não aceitação da perda visual é a incapacidade de alguns indivíduos para atribuir a

si mesmos seu real valor. Essas pessoas parecem incapazes de considerarem a si

mesmos como membros significativos aceitáveis da comunidade, mas cultivam, em

vez disso, sentimentos de inadequação e até mesmo de desesperança e, de forma

consistente, subestimam tanto suas habilidades quanto o respeito com que são

consideradas pelas outras pessoas.

Olha o que Fontana disse. (1991, p.315)

Quando o indivíduo com deficiência visual está com a autoestima baixa

frequentemente considera as outras pessoas injustas, as dificuldades como fracasso

e tendem a não se arriscar estabelecendo para si objetivos artificialmente pequenos.

Ele fica excessivamente magoado por criticas e ansiosos para obter aprovação,

porque dão grande importância ao que os outros pensam dele.

A autoestima é a avaliação que uma pessoa faz de si mesma. Portanto, a

pessoa que tem baixa autoestima tem uma péssima avaliação de si. Geralmente,

esses indivíduos se sentem com um reflexo mais feio de si. Eles sempre acham que

as pessoas a sua volta são mais bonitas, magras, inteligentes e interessantes que

eles, mesmo não as sendo.

Sendo assim, a baixa autoestima é reflexo da consciência da pessoa, e não

do que o mundo realmente enxerga e percebe. Por isso, a baixa autoestima pode

atrapalhar a vida de quem a tem.

Trazendo essa breve introdução para o nosso espaço, o espaço das pessoas

com deficiência é possível identificar uma grande parte dos nossos coirmãos

infectados com esse vírus cruel da baixa autoestima.

Quando se fala sobre amizade, namoro, casamento, filhos, emprego a pessoa

com deficiência olha para nós com espanto e estranheza deixando transparecer que

essas coisas não poderiam jamais fazer parte das suas vidas, isso é baixa

autoestima na essência.

A capacidade de adquirir bens, de ser alguém de valor e inserido na

sociedade não pode estar atrelado à deficiência seja ela qual for, você pode e tem

condições de conseguir o que quiser basta acreditar em si, e deixar a baixa

autoestima de lado e com certeza um novo horizonte nascerá e com ele as

conquistas e realizações de uma vida pautada na autoestima positiva.

A pessoa com a autoestima baixa sente-se triste, isolada, temerosa, relutante para participar, autoconsciente e supersensível a críticas. Ela subestima, de maneira consistente a si mesma, tendendo a apresentar um baixo rendimento na aprendizagem e preocupam-se, na maior parte do tempo, com seus próprios problemas.

Para contribuir com a discussão vou mostrar alguns depoimentos (vídeo) de

pessoas que perderam a visão e depois de algum tempo perceberam o quanto o

apoio dos amigos e o uso da bengala foi importante no processo de locomoção

independente e segura.

Sugestão:

Link: http://www.youtube.com/watch?v=gy6zdrF6tkM (Duração:

2min13s)

―Dia Mundial da bengala branca‖

http://www.youtube.com/watch?v=dhLY1DCTkIs (Duração: 6min02s)

―Dia da Bengala Branca – Praça Alegria‖

http://www.youtube.com/watch?v=OWC8ZvtZOTo (Duração: 4min37s)

―Matéria Bengala‖

Após ouvir os depoimentos comentar sobre cada um deles procurando

relacionar a sua experiência.

Comentar os aspectos positivos comentados nos depoimentos. Eles deixam

claro que o uso da bengala é muito importante na locomoção segura, autônoma e

independente.

3º MOMENTO – Depoimento de um convidado

Convidar colegas que passaram pelo mesmo problema de identidade e se

conscientizaram da importância do uso da bengala para sua independência social.

Este momento de troca de experiência contribui muito para melhorar a

autoestima dos alunos de forma positiva.

Importante neste momento apresentar depoimentos de pessoa que se

encontram nas mesmas condições de deficiência visual e, como as mesmas

encontraram caminhos para superar este momento de luto e reagir a seu favor. O

indivíduo com deficiência visual pode nunca aceitar esta nova identidade, mas terá

condições de compreender que a orientação e mobilidade pode contribuir de forma

positiva em sua vida independente.

Neste momento teremos um aluno cego para relatar sobre sua experiência

com esta nova identidade.

Aluno convidado: Profº. Cayo Miguel Angel Martin Cristóbal (Foi professor da

Pontifícia Universidade Católica do Paraná - PUC) e perdeu a visão devido a

descolamento de retina.

Após o depoimento do colega, deixar os alunos à vontade para perguntar e,

também, falar sobre como esta vivência do profº. Cayo Miguel os ajudou a perceber

a importância do apoio das pessoas e do uso da bengala.

4º MOMENTO – Grupo de discussão

Deixar claro para o grupo que estes encontros e discussões não encerram

com o final da implementação deste projeto. Estes momentos serão inseridos em

nosso plano de trabalho.

É fundamental termos claro que estes encontros serão um reforço riquíssimo

para o desenvolvimento intelectual, social e afetivo dos alunos com deficiência visual

que frequentam o Centro de Reeducação Visual.

Tudo que possa contribuir para uma aprendizagem mais efetiva do indivíduo é

importantíssimo.

Leia o que Coll, Marchesi e Palacios disseram. (2004, p. 22)

A idéia de integração esteve estreitamente associada à utilização do conceito de necessidades educativas especiais. As duas formulações são tributárias dos movimentos sociais de caráter mais global que se consolidaram a partir dos anos 1960 e que requeriam maior igualdade para todas as minorias que sofriam algum tipo de exclusão. Dessa perspectiva mais política, a necessidade de integração surge dos direitos dos alunos e é a concretização na prática social do princípio da igualdade: todos os alunos devem ter acesso à educação de forma não segregadora.

A formação de grupos de discussão e de apoio também integra o aluno com

deficiência visual na instituição de ensino, na comunidade e no grupo social.

Neste momento sugerir um filme para esquentarmos a discussão.

Filme: A cor do paraíso

Link: http://www.youtube.com/watch?v=p1J8aI9UAvY (Duração: 1h26s.08)

Como os alunos são cegos ou com visão subnormal o

professor/mediador deve descrever as cenas onde não será possível para os

mesmos saber o que está acontecendo.

Após assistirem o filme abrir para a discussão.

O que achou da atitude do professor?

Falar sobre como é ou era sua relação com seus pais em virtude de sua

deficiência visual.

Salientar que a deficiência visual não impede o indivíduo de realizar suas

atividades.

Destacar que a autoestima positiva é fundamental para a aceitação desta

nova identidade.

Segundo Humphreys (2000) uma pessoa que possui baixa autoestima possui

também uma hipersensibilidade às mensagens provenientes do meio em que vive,

ou seja, qualquer coisa que alguém diga sobre ela (seja bom ou ruim) terá grande

valor para essa pessoa. As pessoas dependem da visão dos outros para formarem a

visão de si mesmos. Quando as crianças recebem dos pais mensagens de

desaprovação, de crítica ou ridicularizantes, como por exemplo, ―você é um

estúpido‖, ―feio‖, ―preguiçoso‖, entre outros, elas começam a formar sua autoimagem

a partir dessas mensagens. Os pais também passam a exigir dos filhos a perfeição,

que nem sempre é alcançada. Quando existe uma grande distância entre a

autoimagem dos filhos e o ―filho perfeito‖ idealizado pelos pais, emerge um grave

problema de autoestima.

A elevada autoestima significa que a pessoa se respeita e se sente digna da

estima dos outros, considerando-se bom, mas não melhor e nem pior do que as

outras pessoas. As pessoas que possuem uma elevada autoestima, apesar de suas

limitações e deficiências, buscam o amadurecimento e o aperfeiçoamento, sem

lamentar-se (Oliveira, 1984).

"Todas as pessoas nascem cegas, e passam a enxergar o mundo apenas quando começam a pensar por si próprias.‖

Felipe

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

De acordo a conquista legal da pessoa com deficiência visual observa-se que

as oportunidades educacionais e à participação social aumentaram. Contudo, em

relação ao indivíduo com deficiência visual observam-se os resquícios históricos

associados à incapacidade que se perpetuam na comunidade escolar, social e,

inclusive, nas famílias.

Elevar a autoestima do indivíduo com deficiência visual exige que a pessoa

vidente reconheça e elogie os progressos que observarem, sempre que for possível.

Dessa maneira ela aceitará as críticas sem perder a autoestima. A retroalimentação

verbal e física são elementos vitais para manter a motivação e a constância. Sua

autoestima crescerá conforme aumentem os comentários positivos sobre suas

ações. É fato que quando nossa autoestima está elevada acreditamos ser capazes

de fazer bem muitas coisas, já com a autoestima negativa nem sequer fazemos

qualquer tipo de tentativa. Com a pessoa com deficiência visual acontece da mesma

forma.

Assim, na concepção que a educação atua no papel preponderante das

mudanças sociais de forma consciente, espera-se que esta Unidade Didática

represente um referencial para a inserção educacional, social e afetiva das pessoas

com deficiência visual de forma mais efetiva.

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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