Alcool Reducao Danos

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    MINISTRIO DA SADESecretaria de Ateno Sade

    Departamento de Aes Programticas Estratgicas

    LCOOL E REDUO DE DANOSuma abordagem inovadora para pases em t rans io

    Ttulo or igina l :Alcohol and harm reduct ion an innovat ive

    approach for countr ies in trans i t ion

    1. ediotraduzida e ampliada

    Srie F. Comunicao e Educao em Sade

    Braslia DF2004

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    2004 Ministrio da Sade. permitida a reproduo parcial ou total desta obra, desde que citada a fonte.Direitos patrimoniais de autoria cedidos ao Ministrio da Sade para edio desta obra traduzida e ampliada.

    Ttulo original: Alcohol and harm reduction an innovative approach for countries in transition

    ICAHRE International Coalition on Alcohol and Harm ReductionVijzelstraat 77, 1017 HG Amsterdam, The Netherlands

    Tel: + (31) 20 3303 449Fax: + (31) 20 3303 450E-mail: [email protected] page : www.icahre.org

    Obra organizada por:Ernst Buning, Mnica Gorgulho, Ana Glria Melcop, Pat OHare

    Publicado por: ICAHRE (Coalizo Internacional sobre lcool e Reduo de Danos)Apoio financeiro: Quest for Quality BV Amsterdam (Q4Q www.q4q.nl) e International Harm Reduction Association(IHRA www.ihra.net)

    Verso traduzida e ampliada:MINISTRIO DA SADESecretaria de Ateno SadeDepartamento de Aes Programticas Estratgicas

    rea Tcnica de Sade MentalEsplanada dos Ministrios, Bloco G, Edifcio Sede, sala 606CEP: 70058-900, Braslia - DFTels.: (61) 315 2313 / 315 3319 Fax: (61) 315 2313

    E-mail: [email protected] page : www.saude.gov.br

    Srie F. Comunicao e Educao em Sade

    Tiragem: 1. edio Traduzida em por tugus Ampliada 2004 5.000 exemplares

    Traduo: Mariane Arantes Rocha de Oliveira Editora Universidade de Braslia (UnB)Reviso tcnica e textos adicionais : Francisco Cordeiro Ministrio da Sade

    Equipe editorial:Normalizao: Leninha SilvrioConferncia final: Mara Pamplona e Paulo Henrique de Cast roDiagramao: Srgio Ferreira

    Impresso no Brasil /Printed in Brazil

    Ficha Catalogrfica

    Brasil. Ministrio da Sade. Secretaria de Ateno Sade. Departamento de Aes Programticas Estratgicas.lcool e reduo de danos: uma abordagem inovadora para pases em transio / Minis trio da Sade, Secretaria

    de Ateno Sade, Departamento de Aes Programticas Estratgicas. 1. ed. em portugus, ampl. Braslia:Ministrio da Sade, 2004.

    144 p.: il. (Srie F. Comunicao e Educao em Sade)

    ISBN 85-334-0776-9

    ISBN: 90-77367-01-2: Alcohol and harm reduct ion an innovative approach for countries in t ransition

    1. lcool - preveno e controle. 2. Transtornos relacionados ao uso de lcool. I. Brasil. Ministrio da Sade.Secretaria de Ateno Sade. Departamento de Aes Programticas Est ratgicas. II. Ttulo. III. Srie.

    NLM WM 274

    Catalogao na fonte Editora MSEDITORA MSDocumentao e InformaoSIA, Trecho 4, Lotes 540/610CEP: 71200-040, Braslia DF

    Tels.: (61) 233 1774 / 233 2020Fax: (61) 233 9558

    E-mail:[email protected] page:http://www.saude.gov.br/editora

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    SUMRIO

    Apresentao . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5

    Prefcio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7

    Prembulo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11

    Introduo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13

    Consumo de lcool em pases em transio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19

    lcool e reduo de danos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29

    lcool e sade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37

    Um brinde vida: reflexes sobre violncia, juventude ereduo de danos no Brasil . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49

    Reduo de danos no ambiente de trabalho . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 73

    Vamos parar por aqui? Os desafios da abordagem dereduo de danos nas violncias no trnsito . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 85

    O papel da mdia na promoo do uso responsvel de lcool . . . . . . . 103

    Discusso . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 111

    lcool e reduo de danos: construo de uma polticaintersetorial efetiva . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 127

    Lista de notas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 141

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    Aprese

    ntao

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    Apresentao

    fato conhecido que os graves problemas de sade pblica decor-rentes do consumo de bebidas alcolicas no vinham merecendo no Brasil,at o momento, uma resposta governamental efetiva, por meio de umapoltica pblica enrgica e abrangente. Em geral, os danos sociais e saderelacionados ao lcool s encontram acolhida na sade pblica quando osproblemas j so graves, e a interveno se torna menos eficaz. Este diagns-tico o Ministrio da Sade do atual governo j fez, e iniciou o enfrentamentoda questo, atento sua gravidade, complexidade e obrigatria abordagemintersetorial.

    Bastam dois exemplos para nos darmos conta da imensidade dodesafio. Primeiro, o exemplo de uma distoro: na populao dos hospitaispsiquitricos brasileiros, quase um quarto dos pacientes foram internados portranstornos ligados ao consumo do lcool, e em torno de 40% apresentam oconsumo prejudicial de lcool como parte do quadro clnico. Sabemos quea internao nos hospitais psiquitricos apresenta inmeras desvantagenspara a recuperao destes pacientes, contribuindo para sua estigmatizao e

    isolamento social. Entretanto, nossos hospitais gerais tm absoluta resistnciaa atenderem pacientes com este tipo de problema, resultando em um impas-se assistencial grave, que s agora comea a ser energicamente enfrentadopelo SUS. Outro exemplo, este ainda mais trgico: no Brasil, os acidentesautomobilsticos com vtimas, em mais de metade dos casos, apresentam aconcomitncia do uso de lcool pelo motorista. No caso dos atropelamen-tos, tambm as vtimas, em metade dos casos, usaram lcool. Poderiamser mencionados tambm os acidentes de trabalho e acidentes domsticosrelacionados ao lcool, e vrias outras situaes.

    Por tudo isso, o Ministrio da Sade considera extremamente rele-vante que o paradigma da reduo de danos se incorpore poltica pblicapara o lcool. O governo do presidente Luiz Incio Lula da Silva constituiuum Grupo Tcnico Interministerial, coordenado pelo Ministrio da Sade,que vem propondo, de maneira integrada e articulada, as aes governa-mentais para enfrentar o problema. Trata-se de uma estratgia abrangente,envolvendo, alm da sade pblica, a educao, os meios de comunicao

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    (com o inadivel controle da propaganda de bebidas), os rgos que re-gulamentam o trnsito, no Ministrio das Cidades, as aes pedaggicascompartilhadas com os profissionais de bares e restaurantes, tudo isto soba ampla perspectiva da reduo dos danos e dos riscos sociais.

    A publicao no Brasil da presente coletnea vem se juntar aeste esforo do governo e da sociedade para a construo efetiva de umapoltica pblica intersetorial que reduza os dados associados ao consumode bebidas alcolicas.

    Humberto CostaMinistro da Sade

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    Construodeumapolticaintersetorial

    efetiva

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    Prefcio

    Durante visitas a vrios pases em desenvolvimento nos ltimosanos, geralmente com projetos relacionados ao uso de drogas injetveis eHIV, sempre me espantei com a magnitude dos problemas decorrentes douso de lcool. Em muitos pases em desenvolvimento, o consumo de lcoolcresce a cada dia, embora geralmente com uma base pequena. A maioriadesses pases no tem experincia em lidar com esse tipo de problema.Por exemplo, eles no tm a tradio de formar grupos de auto-ajuda para

    alcoolistas. O sistema de sade em muitos pases deficitrio. As pessoasgeralmente viajam muito, por estradas esburacadas, em veculos lotados,com sede e calor. O consumo de lcool nessas condies ainda maisalarmante que nos pases desenvolvidos.

    As ltimas dcadas presenciaram o surgimento de um novo grupode pases, chamados pases em transio, para marcar sua passagemde um comando central para as economias de livre mercado. O consumoelevado de lcool acompanhou as crises polticas e sociais na transio

    dos pases da ex-Unio Sovitica, causando uma reduo significativa naexpectativa de vida e um aumento dos problemas sociais. Muitos outrospases transnacionais passaram por experincias semelhantes, embora amaioria em menor escala. Tentativas para reduzir a demanda e a ofertade lcool continuam a ser implementadas nesses pases, embora comgrande dificuldade, e que precisam ser acompanhadas de outras medidaselaboradas principalmente e diretamente para reduzir os custos sade,sociais e econmicos do consumo prejudicial de lcool. Esses pases pos-

    suem algumas caractersticas em comum com pases desenvolvidos; h,por exemplo, um longo histrico em lidar com problemas relacionadosao lcool.

    Estudos recentes, organizados pela Organizao Mundialda Sade, documentaram a destruio causada pelo lcool em pasespobres. Como o crescimento da economia traz uma nova riqueza paraesses pases, o consumo de lcool geralmente aumenta. Novos portos,

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    aeroportos e estradas incentivam a importao de lcool de outros pases.De repente, novas instalaes industriais so construdas para produzirbebidas alcolicas localmente em nome da substituio de importaes.Isso age como um estmulo maior para o consumo de lcool. Com maiscrescimento econmico, uma mudana maior do fluxo de populao

    rural para reas urbanas na busca por empregos resulta no aumento doconsumo de lcool.

    Durante os ltimos 25 anos do sculo passado, houve grandesavanos na preveno dos problemas relacionados ao lcool. A maioriadesses avanos foi aplicada em pases desenvolvidos, onde o consumode lcool e os problemas decorrentes dele vm caindo nas ltimas d-cadas. Os pases desenvolvidos geralmente possuem experincias com

    problemas decorrentes do lcool para basear suas polticas. A maioriadas pesquisas sobre o controle desses problemas realizada em pasesindustrializados. A preveno de problemas relacionados ao lcool nospases desenvolvidos baseia-se em um grande nmero de polticas deeficcia conhecida, inclusive tentativas de reduo de demanda pelo au-mento sutil de impostos, reduo de oferta pela limitao de densidade debares, horas de expediente e condies de trabalho de lugares que vendemlcool, diminuio da venda de lcool a pessoas embriagadas em locaiscom alvar, implementao de uma srie de intervenes eficientes na

    reduo de mortos e feridos em acidentes de trnsito causados por lcoole auxlio s pessoas que consomem lcool em nveis arriscados para quereduzam ou eliminem seu consumo.

    Muitas dessas medidas so muito mais difceis de serem imple-mentadas em pases com poucos recursos, onde as populaes tendem a

    viver em zonas rurais. Nesses lugares, o lcool pode ser fcil e rapidamentefermentado a partir de frutas ou vegetais disponveis em climas geralmente

    mais quentes. Como difcil controlar a demanda e a oferta em pasesmenos desenvolvidos e em transio, ser que o papel da reduo dedanos para reduzir problemas decorrentes do lcool mais importantenessas reas?

    Embora o conceito de reduo de danos seja mais freqentementeassociado s drogas ilcitas, principalmente desde o surgimento do HIV/aids, as estratgias de reduo de danos vm sendo aplicadas em relao

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    ao lcool h muito tempo. Na China antiga, as autoridades levantavambarreiras em volta de canais para evitar que as pessoas embriagadasescorregassem dentro das guas geladas do inverno e morressem dehipotermia. Obviamente, isso no eliminava os esforos para diminuir aembriaguez, mas era estratgia bem sucedida para proteger a populao.

    Aceitando que a embriaguez sempre estar presente, h algum tempo ospesquisadores levantaram o assunto de deixar o mundo seguro para quembebe. Foi nessa poca que os cintos de segurana foram desenvolvidospara garantir que, mesmo implementados os esforos para diminuir aincidncia da mistura bebida-direo, eventuais motoristas embriagadose seus passageiros sobrevivessem ilesos a um acidente de carro ilesos.Na poca, muitos criticaram a idia, alegando que os motoristas iriambeber mais sabendo que sua segurana seria maior ao usar o cinto desegurana. A hiptese da compensao de risco ainda persiste tantosanos depois e deve sempre ser considerada quando medidas de reduode danos so implementadas. No entanto, deve-se sempre considerar quenovas medidas introduzidas com a melhor das intenes podem ter efeitosimprevisveis e negativos.

    A Associao Internacional de Reduo de Danos cresceu apartir de uma srie de conferncias anuais que tiveram incio em 1990,na cidade de Liverpool. J na terceira conferncia, em Melbourne, em

    1992, a aplicao de polticas de reduo de danos em relao ao lcool(e tabaco e drogas ilcitas) estava presente na agenda. E permanece desdeento. Quatro entre cinco pessoas moram em pases em desenvolvimentoou em transio. J hora de se dar mais nfase elaborao de maneiraseficazes de se reduzir os problemas decorrentes do lcool nesses pases. Asabordagens de reduo de danos precisam ser consideradas juntamentecom o controle da demanda e da oferta. O objetivo deve ser reduzir oscustos sade, sociais e econmicos das nossas bebidas favoritas reco-nhecendo a magnitude desses custos e especialmente a grande proporoda populao que a cada ano passa por experincias negativas devido embriaguez (prpria ou de terceiros). As doenas cardiovasculares so,comparativamente, menos comuns nas populaes mais jovens dos pasesem desenvolvimento (embora estejam aumentando) e, por isso, tentarreduzir a mortalidade da populao mais velha por meio da promoo doconsumo moderado no uma questo to sria como em pases desenvol-

    vidos ou em transio. Alm disso, quase todos os estudos sobre consumomoderado e mortalidade so realizados em pases desenvolvidos.

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    A Associao Internacional de Reduo de Danos tem a honrade ter estado presente na 1aConferncia Internacional sobre Reduo deDanos e lcool, e no livro que surgir a partir da. Esperamos que essaatividade leve a outros esforos, culminando em benefcios s vidas daspessoas que vivem nos pases em desenvolvimento e em transio de

    todo o mundo.

    Dr. Alex Wodak,Presidente da Associao Internacional de Reduo de Danos

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    Umb

    rinde

    vida

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    Prembulo

    Organizar um livro sobre lcool e reduo de danos foi o pri-meiro desafio; focalizar os pases em transio foi o segundo. Resolvemospublicar este livro por razes visveis. Ficamos alarmados com o evidentesofrimento humano e com as perdas econmicas relacionadas ao consumoprejudicial de lcool. Ficamos chocados pela falta de ateno pblica ea atitude aparentemente tendenciosa da mdia em no oferecer uma co-bertura maior sobre o assunto, embora ateno e dinheiro pblico sejam

    investidos na rea de substncias psicoativas ilcitas e aids.

    Muitos pases em transio esto no momento desenvolvendopolticas pblicas. Portanto, consideramos que esse seria o momentoideal para chamarmos ateno para o controle dos efeitos prejudiciais doconsumo de lcool.

    Agora que o livro est concludo, vemos que nossos esforosvaleram a pena: um livro que trata do assunto a partir de ngulos dife-rentes; informativo e por vezes provocativo, com temas que sero muitodebatidos. Aborda novas maneiras de complementar as polticas conven-cionais com intervenes pragmticas e sem julgamentos de valor.

    Esperamos que voc, leitor, inspire-se a fazer parte daICAHRE(Coalizo Internacional sobre lcool e Reduo de Danos), para comparti-lhar suas experincias e conhecimentos com outros membros da coalizo.Pensar juntos, usar nosso bom senso e reforar nosso compromisso certa-

    mente trar resultados mais eficientes em termos de polticas de reduodas conseqncias danosas do consumo de lcool.

    Abril, 2003Os Editores

    Pre

    mbulo

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    Introduo

    AICAHRE(Coalizo Internacional sobre lcool e Reduo deDanos) espera que este livro contribua para o desenvolvimento de pol-ticas inovadoras na reduo dos danos decorrentes do lcool em pasesem transio. Tais polticas so inadiveis. Convocamos polticos, formu-ladores de polticas e a mdia a implementar medidas ativas que tratemdo problema, dando-lhe a ateno necessria. No podemos mais fecharos olhos para os problemas decorrentes do uso do lcool e deixar que as

    questes relacionadas ao uso de drogas ilcitas atraiam ateno maior. Osdanos causados pelo lcool tambm merecem ateno.

    Os pases desenvolvidos tm uma longa tradio de polticasrelacionadas ao lcool que, at certo ponto, so eficientes. Pases em tran-sio, por outro lado, tm sua prpria realidade e contexto cultural, seushistricos de consumo de lcool e sua prpria forma de tratar os problemasindividuais e sociais. Em vista disso, que se discute (a) se as polticasocidentais atuais so relevantes no contexto dos pases em transio e (b)

    se novos conceitos devem surgir e ser desenvolvidos. AICAHREinova eapresenta um primeiro esboo de tais conceitos, que serviro de base formulao de novas polticas.

    A maioria dos autores que contribuiu com este livro especialistana rea de drogas e no de lcool. Por um lado, pode-se dizer que isso um retrocesso e que um grupo novato na rea ter que inventar a rodanovamente. Por outro, a experincia coletiva dos colaboradores sobre

    reduo de danos, uso de drogas e as realidades dos pases em transiotrar uma nova viso e abordagem sobre como responder a esses desafiosde uma maneira no-convencional.

    Os editores reconhecem esse dilema e convidam todos a fazeremparte daICAHREe a contriburem com suas experincias no desenvolvi-mento de intervenes mais eficientes na reduo dos danos decorrentesdo lcool.

    Introduo

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    Histrico

    Em agosto de 2000 foi realizado, em Recife, Brasil, o SeminrioItinerante Latino-Americano. O Seminrio desenvolveu-se incentivando

    as polticas locais sobre drogas, com base nos princpios de criao desinergia, direitos humanos, envolvimento da sociedade civil e pragmatis-mo. Durante o seminrio, os organizadores depararam-se com inmerasquestes acerca do papel do lcool e opinies sobre lcool e reduo dedanos. indiscutvel que os danos causados pelo lcool superam os da-nos causados pelas drogas e, ainda assim, o uso de drogas ilcitas recebemais ateno. Desde agosto de 2000, os organizadores do seminriotrabalham com a elaborao do conceito de lcool e reduo de danos.Como resultado desta iniciativa, uma grande conferncia foi realizada em

    Recife em agosto de 2002: a 1aConferncia sobre lcool e Reduo deDanos, em busca de uma poltica abrangente de lcool para os pases emtransio e em desenvolvimento.Essa conferncia atraiu mais de 600participantes, representando no s especialistas em lcool, pesquisado-res e formuladores de polticas, mas tambm grupos de pessoas que sodiretamente afetadas pelas conseqncias danosas do lcool, como aspopulaes prisionais e indgenas, profissionais do sexo, crianas de rua erepresentantes comunitrios. Ao fim da conferncia, foi criada a Coalizo

    Internacional sobre lcool e Reduo de Danos (ICAHRE

    ).

    Sobre a ICAHRE

    Seus objetivos:

    Promover polticas de lcool com o objetivo de reduzir os danosdecorrentes do consumo, que sejam:

    o pragmticas: baseados em fatos e no em crenas;o realistas: o consumo de lcool faz parte de muitas sociedades,

    com seus efeitos positivos e negativos;

    o isentas de julgamento: aqueles que tm e/ou causam pro-blemas relacionados ao lcool no devem ser condenados;

    o voltadas para a autonomia: fortalecimento de responsabilidadeindividual juntamente com medidas baseadas em controleexterno;

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    o inclusivas: em vez de falar sobre os indivduos e comunidadesque enfrentam problemas relacionados ao lcool, inclu-losna elaborao de polticas e intervenes;

    o criadoras de sinergia: estimular a cooperao entre todasas partes interessadas, reconhecendo e respeitando as di-

    ferenas e encarando essas diferenas como desafios e noobstculos.

    Promover educao sobre o lcool de forma honesta, factual evoltada para o fortalecimento da responsabilidade individual;

    Reivindicar que a indstria de lcool:

    o evite promover o lcool entre os jovens;

    o evite associar o consumo de lcool a uma imagem bem

    sucedida;o incluir mensagens nas embalagens dos produtos alertando

    sobre (1) os riscos de beber e dirigir e (2) os riscos do con-sumo de lcool durante a gravidez.

    Promover a troca de informao e experincias;

    Incentivar a pesquisa e a avaliao das intervenes de reduode danos e os estudos de avaliao dos danos decorrentes dolcool, facilitando a divulgao dos resultados;

    Dar ateno especial ao desenvolvimento de polticas e inter-venes de reduo de danos do lcool em pases em transioe em desenvolvimento.

    Sobre este livro

    O objetivo deste livro facilitar e estimular a discusso sobreo tratamento de danos relacionados ao lcool, de maneira pragmtica.

    um livro que provoca debates em vez de dar solues imediatas. umprimeiro passo para definir os danos decorrentes do lcool e se concentraprincipalmente nos pases em transio. A justificativa que a maioria dospases em transio est em processo de desenvolvimento de polticas delcool mais abrangentes, onde escolhas ainda esto sendo feitas. Embora ospases em transio possam se beneficiar de experincias bem sucedidas,que fique claro que suas realidades e ambientes culturais diferem muitodos pases desenvolvidos, o que torna uma transferncia direta de polticas

    Introduo

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    e intervenes menos eficiente. Este livro aborda a realidade dos pasesem transio e delineia questes especficas que devem ser consideradasna elaborao de polticas de lcool.

    Aqui no se promove a abstinncia, pois sabemos que h efeitospositivos no uso moderado de lcool, como relaxamento, socializaoem festas, etc. Alm disso, o uso moderado (3 ou 4 copos por semana),aparentemente protege as pessoas acima de 45 anos de doenas cardio-

    vasculares.

    Dito isso, no h razo para negar os efeitos prejudiciais dolcool a curto e longo prazos. Os efeitos relacionados ao uso crnicodelcool so conhecidos e documentados: problemas de sade, como cirrose

    e doenas cardiovasculares, alm de problemas sociais como distoro dosrelacionamentos sociais, perda de emprego, etc. A Organizao Mundialda Sade (OMS)1calcula que 50% dos danos relacionados ao lcool soatribudos ao uso crnico. Notadamente, os outros 50% podem ser atribu-dos embriaguez aguda. Esse tipo de danos atinge pessoas que no soclassificadas com alcoolistas ou consumidores prejudiciais, mas pessoasnormais que causaram algum danos por beber muito como, por exemplo:

    violncia interpessoal, sexo sem proteo, deficincias, ferimentos e mor-tes, acidentes causados por pedestres bbados, quedas, envenenamentoacidental, suicdio e abandono do emprego.

    No Captulo 3, Ernst Buning descreve a situao atual comrelao ao lcool e aos danos em pases em transio. evidente quefaltam dados confiveis sobre o consumoper capita. Em casos onde osinvestimentos so baixos, o melhor concentrar-se nos dados sobre osdanos do lcool do que nos dados do consumoper capita.

    Os dados sobre os danos relacionados ao uso crnico de lcoolesto documentados e baseiam-se nas pesquisas realizadas em pasesdesenvolvidos. Os dados sobre os danos relacionados embriaguez aguda(de pessoas consideradas no alcoolistas) so poucos. Portanto, algunscasos so apresentados e recomendam-se mais pesquisas.

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    Introduo

    No Captulo 4, Bill Stroach define claramente o que reduode danos e discute o mrito do paradigma de reduo de danos na reade lcool. importante considerar que a reduo de danos complementaas polticas tradicionais em vez de competir com ela.

    No Captulo 5, Ewa Osiatynska desenha um quadro conciso dasituao dos danos sade decorrentes do consumo de lcool. Ela descre-

    ve grupos que no devem consumir nenhum lcool, como por exemplo,grvidas ou lactantes; crianas e jovens; motoristas; pessoas que operammquinas e pessoas com doenas especficas onde o consumo de lcool contraindicado. O captulo encerra com seis recomendaes.

    No Captulo 6, Mnica Franch trata da questo do lcool e vio-

    lncia do ponto de vista de um pas em transio, o Brasil. Concentra-sena violncia entre os jovens, descrevendo estratgias espontneas que ajuventude adota na tentativa de se proteger da violncia quando bebem,e nas limitaes dessas estratgias. O captulo encerra com um lembreteao leitor, de que as polticas de reduo de danos em pases em transiodevem levar em conta as grandes desigualdades sociais e deve tentarmelhorar a cidadania da populao.

    No Captulo 7, Paulina Duarte discute a reduo de danos noambiente de trabalho. Ela apresenta dados alarmantes sobre a porcenta-gem de pessoas empregadas que tm problemas com lcool, seus efeitose conseqncias (abandono do trabalho, acidentes, custos adicionaisaos empregadores). A importncia do papel dos profissionais de sadedo trabalhador e de recursos humanos tambm salientada. Ela d umexemplo de uma campanha muito prtica antes do carnaval, onde osfuncionrios so incentivados a se divertir e se comportar de uma formaque no os prejudique nem a terceiros. O uso responsvel do lcool

    parte da campanha.

    No Captulo 8, Ana Glria Melcop trata da questo do lcool edo trnsito. Ela levanta uma questo importante: os acidentes de trnsitocausados pelo lcool so intencionais ou no? Ela insiste que as pessoasque bebem e dirigem esto arriscando suas vidas e a de terceiros e queacidentes de trnsito causados por lcool devem ser classificados comointencionais e, portanto, como violncia. Esse ponto de vista provocativo

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    certamente gerar debates. Ela resume algumas estratgias para evitar e/oureduzir as situaes de risco do trnsito para pedestres e motoristas.

    No Captulo 9, Mnica Gorgulho discute o papel da mdia. Amdia desempenha um papel importante na representao de substnciaspsicoativas na populao em geral. Ela descreve a grande diferena en-tre o tratamento que a mdia d a substncias psicoativas lcitas e ilcitase recomenda que aes sejam tomadas para que a mdia se torne umaliado poderoso na mudana de percepo no que diz respeito ao usode substncias psicoativas e que abra as portas para polticas de lcoolmais eficientes.

    No ltimo captulo, so discutidos os vrios ingredientes para

    uma poltica inovadora de reduo de lcool em pases em transio.Primeiramente, modelos diferentes, como o modelo mdico, o modelobaseado na abstinncia, o modelo do AA e o modelo da OMS. Logo depois,a realidade dos pases em transio destacada a partir de vrios ngulos,seguida de um pargrafo sobre a diferena entre substncias psicoativaslcitas e ilcitas. O captulo encerra com a elaborao do paradigma dareduo de danos, sua utilidade para o desenvolvimento de polticas delcool e um resumo dos desafios concretos que devem ser enfrentados naimplementao das estratgias de reduo de danos.

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    Consumo de lcool em pases em transio

    Ernst Buning

    Este artigo traz informaes sobre o consumo de lcool empases em transio e em desenvolvimento. A maioria dos dados refere-seao consumoper capita. Discute-se o valor dos dados disponveis sobre aelaborao de polticas pblicas.

    A Tabela 1 mostra o consumo oficial de lcool em vrias regiesdo mundo e as mudanas ocorridas no perodo 1990 1999. Emboratenha sido relatada uma queda na ltima dcada, o consumo oficial delcool na Europa ainda lidera a lista.

    Tabela 1. Consumo total de lcool porregio do mundo (19901999)

    RegioNmerode pasesincludos

    Consumo total delcoolper capita- 1990 (litros de

    lcool puro)

    Consumo de l-coolper capita- 1999 (litros de

    lcool puro)

    Porcentagemde mudana(19901999)

    Europa Ocidental 20 8,60 8,09 -5,9Unio Europia 15 9,89 9,29 -6,1Europa Oriental 10 5,96 7,19 20,6Amrica Latina 11 3,84 3,99 3,9Amrica do Norte 2 7,38 6,66 -9,8

    Australsia 2 8,55 7,48 -12,5Resto do mundo 14 1,66 2,39 43,7Total mundial 59 3,41 3,85 12,3

    Vale observar que esses nmeros so limitados pela disponibilidade de dados, e baseiam-se nos pases listados no livro World Drink Trends, de 2000.

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    Nas tabelas seguintes, h um resumo do consumo de lcoolem vrias regies, que podem ser consideradas em transio e emdesenvolvimento. Alguns pases da Europa Central e Oriental, comoEslovnia e Repblica Checa, apresentam pontuaes muito altas. Na

    Amrica Latina e no Caribe o consumo de lcool menor que na regio

    da Europa Central e Oriental (ver Tabela 2). Na sia, apenas a Repblicada Coria e a Tailndia possuem pontuaes altas.

    Tabela 2. Consumoper capitade lcool puro (litros) maior que4,0 por adulto acima de 15 anos de idade, em pases em

    transio e em desenvolvimento (fonte: OMS)

    Europa Central e Oriental, pases de independncia recente e Rssia

    Classificao P a s T o t a l1 Eslovnia 15,15

    4 Repblica Checa 14,358 Iugoslvia 13,17

    9 Eslovquia 13,00

    10 Hungria 12,85

    15 Crocia 11,7529 Bulgria 9,52

    35 Latvia 8,7039 Bsnia e Herzegovina 8,25

    41 Belarus 8,1442 Federao Russa 8,08

    43 Estnia 8,07

    44 Polnia 7,93

    47 Cazaquisto 7,71

    55 Litunia 6,23

    68 Ex-Repblica Iugoslava da Macednia 4,8670 Georgia 4,50

    72 Azerbaijo 4,16Continua

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    Amrica Latina e Caribe

    Classificao P a s T o t a l5 Guiana 14,03

    12 Bahamas 12,09

    25 Paraguai 9,7127 Argentina 9,5831 Venezuela 9,41

    34 Antilhas Holandesas 8,78

    37 Barbados 8,37

    40 Uruguai 8,17

    49 Chile 7,0653 Haiti 6,55

    54 Colmbia 6,4157 Repblica Dominicana 5,90

    58 Belize 5,8559 Panam 5,74

    60 Costa Rica 5,72

    62 Brasil 5,57

    65 Mxico 5,0469 Suriname 4,68

    74 Peru 4,00 s i a

    Classificao P a s T o t a l2 Repblica da Coria 14,40

    36 Tailndia 8,64

    51 Filipinas 6,7764 China 5,39

    73 Rep. Democrtica Popular do Laos 4,12

    f r i c a

    Classificao P a s T o t a l46 frica do Sul 7,72

    52 Gabo 6,76

    61 Libria 5,6871 Maurcio 4,33

    Fontes:Bancos de Dados Estatsticos da FAO, 1998; Produktschap voor Distilleerde Dranken,

    1997; Escritrio Estatstico da ONU, 1997; Diviso de Populaes da ONU, 1994.

    Continuao

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    Algumas questes relacionadas ao consumoper capita

    Os dados apresentados acima baseiam-se em registros oficiais

    e no foram ajustados em relao a: contrabando;

    consumo de lcool por turistas;

    consumo alm-mar;

    estoques;

    compras em duty-free;

    bebidas alcolicas domsticas;

    lcool produzido e comercializado clandestinamente.

    Se o mesmo mtodo for utilizado todo ano, os dados sobre oconsumo de lcoolper capitasero teis no monitoramento de tendncias;por exemplo, o aumento ou a diminuio do consumoper capita, assimcomo variaes no tipo de lcool consumido (cerveja, vinho, destilados).Esses dados podem vir a ser teis na elaborao de polticas pblicas desade. No entanto, os dados de consumoper capitano devem ser a ni-

    ca fonte de informao. Para dar um exemplo, inclumos dados da OMSsobre estudos voltados para o clculo do consumoper capitareal. Comopode ser visto na Tabela 3, h grandes diferenas entre o consumo oficiale o consumo real. Estima-se, para exemplificar, que no Brasil o consumoreal seja mais de 2,5 vezes maior que o consumo oficial. No Equador, aproporo 4 vezes maior e, no Qunia, 7,5 vezes maior.

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    Tabela 3 Consumoper capitade lcool puro (litros) por adultoacima de 15 anos de idade, atualizada para incluir a produo e

    comrcio no-oficial

    Pas Ano Oficial Atualizao Fonte

    Brasil(Dunn &Laranjeira,1996)

    1996 5,07 14,01

    Atualizado pela estimativado governo de que 1 bilhode litros de pinga so produ-zidos sem permisso.

    Chile(OPAS, 1990)

    1990 7,86 9,43Aumento de 20% paraincluir a produo clan-destina.

    Equador

    (OPAS, 1990)1990 2,10 8,40

    Atualizado pela produoclandestina, estimada em 3vezes a produo normal.

    Estnia(Jernigan, 1997)

    1995 8,07 10,74

    Atualizado pelas estimativasda polcia de que o mercadonegro representa 25% dototal do mercado.

    Hungria(Fekete, 1995)

    1995 11,47 14,52Aumento de 2,5 litrospercapita reflete o consumono-oficial de lcool.

    Qunia(Partanen, 1993)

    1990 2,29 17,29

    Atualizado para refletir aestimativa de 80-90 (85%)do total de lcool derivadodo setor informal.

    Repblica deMoldova(Vasiliev, 1994)

    1993 12,67 18,1

    Atualizado para refletir aestimativa de que o consu-mo no-oficial responde por70% do consumo total.

    Federao Russa 1993 6,99 14,49

    Atualizado para refletir aestimativa de que o consu-

    mo no-oficial per capitaera de 7,5 litros.

    Eslovnia(Cesabek-Travnik, 1995)

    1993 14,90 24,19

    Atualizado para refletir a es-timativa de que o consumono oficial era entre 7 e 8litrosper capita.

    Fonte:OMS Continua

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    frica do Sul(Parry, 1997)

    1995 7,81 10,0Atualizado para incluir aestimativa da produo totalde cerveja de Sorghum.

    Repblica da

    Macednia

    1992 6,33 12,66Atualizado para refletir aestimativa de que 50% da

    produo total caseira.

    Ucrnia(Krasovsky &Viyevsky, 1994)

    1993 4,17 13,00

    Atualizado para refletir aestimativa de que a produ-o total no-oficial era de7 litrosper capita.

    Fontes das estimativas de produo oficial: Bancos de Dados Estatsticos da FAO; Produktschap

    voor Distilleerde Dranken, 1997; Diviso de Populaes da ONU, 1994.

    O mtodo atual, onde os dados de consumoper capitaso co-letados, claramente insatisfatrio. Neste sentido, a OMS recomenda que:Devido importncia das estimativas do consumoper capitados adultosno planejamento e avaliao de polticas pblicas, a pesquisa colaborativainternacional deve ser incentivada a aprimorar os mtodos de obtenode informao para auxiliar os pases a terem estimativas de consumopercapitamais exatas.Embora esta seja uma boa recomendao, acreditamosque, se apenas os recursos mais limitados esto disponveis, deve-se dar

    prioridade ao registro de danos relativos ao lcool em vez do consumoper capita. Afinal, o discernimento apropriado sobre os vrios tipos dedanos relacionados ao uso de lcool, sua prevalncia e as situaes nasquais eles ocorrem so melhores indicadores para a elaborao de polticaspblicas que simplesmente o mero consumoper capita.

    Danos oficiais relativos ao consumo de lcool

    Dados sobre os danos relacionados ao lcool em pases emtransio e em desenvolvimento so difceis de apurar. So raros os es-tudos sobre o assunto e no existem padres internacionais claros. Umaprimeira tentativa foi feita pela OMS na publicao International Guidefor Monitoring Alcohol Consumption and Related Harm (2002).

    Continuao

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    Os indicadores de problemas atribudos principalmente ao consu-mo, a longo prazo, do lcool so: doenas do fgado, problemas de sademental, sndrome fetal alcolica, cnceres e doenas cardiovasculares. Osdados apresentados no relatrio da OMS baseiam-se principalmente empesquisas realizadas em pases desenvolvidos, o que no deve ser visto

    como um obstculo, pois elas tratam da influncia do lcool no corpohumano e, provavelmente, as pesquisas em pases em desenvolvimentono apresentariam resultados muito diferentes.

    Na publicao Global Burden of Disease (Carga Global deDoenas), de 1996, Murray e Lopez apresentaram uma viso geral dosanos de vida perdidos por morte prematura ou vida com incapacitao(do inglsDALY - Disability-Adjusted Life Years) para vrias doenas. Eles

    calcularam que, em 1990, em escala mundial, mais de 47 milhes de anosde vida perdidos por incapacitao poderiam ser atribudos ao consumode lcool. Este nmero equivale aos anos de vida perdidos atribudos prtica de sexo sem proteo. Mundialmente, estima-se que a mortalidaderelacionada ao lcool seja de 774.000 pessoas/ano.

    De acordo com o Guiada OMS, os indicadores de danos atribudosprincipalmente dos efeitos de curto prazo do consumo de lcool so:

    acidentes de trnsito relacionados com bebida; ferimentos no-intencionais e mortes provocadas por uso de

    lcool;

    suicdio;

    violncia interpessoal.

    A maioria dos estudos (34 dos 39 citados) foi realizada empases desenvolvidos. Considerando que a OMS tem acesso aos bancos

    de dados das pesquisas, isso pode indicar que os pases em transio eem desenvolvimento no possuem recursos para conduzir seus estudossobre danos e efeitos do lcool a curto prazo ou ainda no consideramo tema prioridade. Em razo disso, alguns estudos de caso so apresen-tados a seguir.

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    Uganda

    Pesquisadores do Programa de Aconselhamento em PesquisaMdica sobre AIDS em Uganda entrevistaram 2.374 adultos sexualmente

    ativos, em 15 vilas do sudoeste desse pas. De acordo com o estudo, oconsumo de lcool pode aumentar o risco de infeco por HIV ao reduziras chances de uso de preservativo, pelo aumento da atividade sexual epela falta de controle pessoal.

    Mxico

    Um estudo realizado em conjunto por Mxico e Estados Unidos,conduzido por Cherpitel e colegas (1993), encontrou uma taxa maior deenvolvimento com lcool entre pessoas que deram entrada em serviosde emergncia no Mxico (21% x 11%), e uma proporo ainda maiorentre bebedores com padro prejudicial nos mesmos locais nos EstadosUnidos (21% x 6%).

    Segundo a Pesquisa Domiciliar Nacional, 73% dos problemasrelacionados ao lcool que incluem famlia, emprego, acidentes e pro-

    blemas com a polcia foram causados por pessoas que ainda no eramconsideradas dependentes. Calcula-se que essa alta taxa de problemasocasionados por eventos de grave intoxicao por lcool seja fruto dopadro usual de consumo (MEDINA-MORA et al,1991).

    Zmbia

    Um estudo realizado com 1095 pessoas maiores de 15 anosem Zmbia, Lusaka e Mwacisomp indicou as conseqncias sociais eindividuais do consumo de lcool. 16% dos homens revelaram que emalgumas situaes ficaram intoxicados mesmo quando havia uma razoimportante para ficar sbrio (comparado com 4% entre as mulheres).Por volta de 17% dos homens (7% das mulheres) tiveram no ano ante-rior alguma situao negativa relacionada ao lcool durante o trabalho.

    A populao rural referiu ter mais problemas comparada populaourbana (RITSON, 1985).

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    ndia

    Chengappa (1986) estimou que na ndia 25% dos acidentes detrnsito esto associados ao consumo de lcool.

    frica do Sul

    No Relatrio Mundial sobre Violncia e Sade discute-se arelao entre o lcool e a violncia e a possibilidade do lcool ser umfator estimulante, reduzir a inibio, atrapalhar os julgamentos e dimi-nuir a habilidade de interpretar sinais. Em algumas culturas, discutidaa expectativa coletiva de que beber justifica alguns comportamentos.Nesse sentido, um exemplo perturbador da frica do Sul foi citado emum estudo de 1999, conduzido por Tyberberg, do Centro de PesquisaEpidemiolgica da frica do Sul, Conselho de Pesquisa Mdica, que diz:... Na frica do Sul, por exemplo, os homens falam do uso de lcool deforma premeditada para ter coragem de bater em suas parceiras, como asociedade espera que eles faam....

    Concluso

    Visto que no h dados confiveis disponveis, difcil avaliar seos pases em transio e em desenvolvimento possuem nveis semelhan-tes de consumo de lcool, se comparados aos dos pases desenvolvidos.Em alguns casos, os danos relacionados ao consumo de lcool tm sidoaferidos. Recomendamos que as Diretrizes da Organizao Mundial daSade sejam obedecidas para que tenhamos um quadro mais claro damagnitude dos danos relacionados ao lcool nestes pases. Tal informa-

    o essencial para que se avance na construo de estratgias para oconsumo de lcool.

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    Referncias bibliogrficas

    ABRAHAMS, N.; JEWKES, R.; LAUBSHER, R.I do not believe in democracyin the home: mens relationships with and abuse of women. [Tyberberg]:Centre for Epidemiological Research in South Africa; Medical ResearchCouncil, 1999.

    ALCOHOL in developing countries, proceedings from a meeting. [Norway]:[NAD], 1990. ISBN 95-147-3113-1. (NAD Publication, n. 18).

    GLOBALstatus report on alcohol. [S. l.]: WHO publication, 1999.

    WORLD HEALTH ORGANIZATION WHO.Report on violence and health.Edited by Etienne, G. Krug et al. Geneva, Switzerland: WHO, 2002

    . The measurement of alcohol consumption and harm in Mexico:a case study. Published in International Guide for monitoring alcoholconsumption and related harm. [S. l.]: WHO 2002.

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    lcool e reduo de danos

    Bill Stronach

    O lcool a droga psicoativa mais usada na maioria dos pases,tanto para a celebrao como para o sofrimento, pois libera as inibies.

    As pessoas consomem lcool para relaxar e se divertir. Para muitos, olcool uma companhia nos eventos sociais e, na maior parte das vezes,o consumo de lcool implica riscos relativamente baixos, tanto para quembebe como para terceiros.

    Mas h um outro lado do uso de lcool. Ele responsvel pormuitos danos nas esferas sociais e individuais. Depois do tabaco, o lcool a segunda maior causa de mortes relacionadas a drogas. Na maioriados pases, o lcool tem um impacto ainda maior em termos de mortes,ferimentos e custos econmicos se comparado com as drogas ilcitas. Olcool tem impactos em qualquer estgio de doena, em todos os gruposetrios, de maneira direta e indireta. Toda poltica abrangente e signifi-cativa de sade pblica deve ter como prioridade maior a mudana das

    quantidades de lcool consumidas, dos padres de consumo e dos danossubseqentes.

    Algumas consideraes preliminares

    Para a maioria das pessoas de pases onde o consumo de l-cool comum e lcito, o lcool uma substncia socialmente aceita. At

    recentemente, muitas pessoas falavam de lcool e de outras drogas coma sugesto implcita de que o lcool era diferente das outras drogas.

    Alm disso, o fato de o consumo de lcool ser legal na maioriados pases significa que, de certa forma, ele mais seguro que as outrasdrogas. Porm, legalidade no confere segurana.

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    dever da comunidade entender o impacto do lcool alm dasconsequncias de acidentes de carros ou de reportagens que ocasional-mente saem na mdia sobre violncia causada por lcool. Drogas comoherona e ecstasyso providas naturalmente de caractersticas e potenciaisnegativos muito maiores que os do lcool.

    Ento, quais so os danos provocados pelo consumode lcool?

    importante iniciar com uma viso geral. Os danos e problemasa curto prazo do consumo de lcool so geralmente acidentes de carrotraumticos, violncias e agresses, atividade sexual no planejada ou no

    desejada, conflitos com a lei ou com o patro. Mortes acidentais, como afo-gamento, so freqentemente associadas ao consumo de lcool. Em algumascomunidades, onde h uma grande produo de lcool ilicitamente, o enve-nenamento pode ser uma ocorrncia comum. Geralmente, esses episdiosso resultados de exagero de consumo ou de compulso bebida. Os danosa longo prazo so resultados de consumo pesado (ou de alto risco) por umperodo maior de tempo. Danos a rgos fsicos (corao, fgado), perda derelacionamentos pessoais ou de emprego ou problemas financeiros podemsurgir a partir do consumo exagerado e prejudicial de lcool.

    Respondendo s conseqncias do consumo de lcool

    A resposta tradicional ao uso/abuso de lcool tem sido baseadano paradigma demanda/oferta. A maioria das sociedades possui restriessobre a produo, venda e publicidade de lcool. No entanto, em muitascomunidades onde a produo ilcita de lcool comum, as sanes do

    governo so, obviamente, ineficazes. Os detalhes de leis especficas variamde pas para pas ou de regio para regio; porm o controle sobre a ofertapode ser um importante passo no controle do consumo de lcool. Modificara demanda de lcool atravs de programas comunitrios ou escolarestambm uma boa estratgia. No que diz respeito reduo de consumo,elas tm pouco impacto. Da mesma forma, a taxao e o aumento dospreos pode alterar os padres de consumo. Existem slidas evidnciasde que a reduo do consumo pode reduz os problemas associados.

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    Contudo, existem limitaes importantes no contexto e no im-pacto do modelo demanda/oferta e a que a abordagem de reduo dedanos pode desempenhar um papel importante e complementar. Antesde qualquer comentrio sobre o papel da reduo de danos como estra-tgia complementar no controle de problemas relacionados ao lcool,

    necessrio definir as expresses usadas.

    A definio operacional de reduo de danos

    A Associao Internacional de Reduo de Danos (IHRA) definereduo de danos como polticas e programas que tentam principalmentereduzir, para os usurios de drogas, suas famlias e comunidades, as conse-

    qncias negativas relacionadas sade, a aspectos sociais e econmicosdecorrentes de substncias que alteram o temperamento (verPolicy Papersem www.ihra.net). Esta a definio mais sucinta e til. Seu foco notrato das conseqncias do uso de drogas em vez de enfatizar apenas areduo do consumo de uma determinada droga. Ela pode ser aplicadatanto para drogas lcitas como ilcitas. Da mesma forma, tambm podese aplicar produo legal e clandestina de lcool.

    Dois comentrios so pertinentes definio. Primeiro, ela no

    incentiva nem fecha os olhos para o uso de drogas, pois reconhece queexistem danos e conseqncias envolvidas. Segundo, a reduo de riscos,como definida acima, no rejeita a abstinncia. De fato, algumas pessoasdefendem que a maneira mais eficiente de reduzir os danos , em primeirolugar, no usar drogas.

    Embora prticas e polticas de reduo de danos venham sen-do implementadas h anos, talvez com outro nome, foi a epidemia de

    aids que convergiu as reas mdicas e de sade pblica a reagir a umaameaa global de forma especfica e pragmtica. A abstinncia sexuale a interrupo do uso de drogas injetveis no passavam pela cabeadas pessoas, por isso uma srie de estratgias realistas e pragmticas foiimplementada. Essas caractersticas realismo e pragmatismo so oesprito da reduo de danos.

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    Em pases cuja reao epidemia de aids foi relativamenteeficaz, as polticas eram direcionadas tanto s conseqncias de deter-minados comportamentos quanto mudana ou eliminao dos prprioscomportamentos.

    Reduo de danos uma estratgia cotidiana

    Antes de analisar a aplicao da estratgia de reduo de da-nos para o consumo de lcool, vale salientar que todos ns aplicamos osprincpios da reduo de danos na vida cotidiana. Um exemplo clssico o da segurana nas estradas. Cintos de segurana, barreiras protetorasnas estradas e zonas de impacto na frente dos carros reduzem a pos-

    sibilidade de ferimentos em um acidente. As pessoas ainda dirigiro oscarros algumas vo dirigir perigosamente, despeito das leis de trnsito porm, as possibilidades de danos sero reduzidas.

    Beber gua necessrio para a existncia humana, mas emalguns lugares do mundo este um comportamento de risco. Por isso seferve a gua para reduzir a contaminao ou bebe-se gua engarrafada.O mesmo se aplica a andar deskate um esporte potencialmente peri-goso para os jovens. Ainda assim, eles procuram a adrenalina, mas se

    protegem com joelheiras e cotoveleiras, capacetes e outros equipamentosde segurana para reduzir os danos. A lista das atividades cotidianas queenvolvem os princpios da reduo de danos infinita.

    Reduo de danos e lcool

    A poltica da IHRA, mencionada anteriormente, um bom

    ponto de partida. A reduo de riscos tem um longo e distinto registrode polticas de controle de lcool. Tentativas para reduzir diretamente osproblemas relacionados ao lcool sem necessariamente reduzir o consumoso complementares, e no concorrentes, das estratgias conhecidas dedemanda e oferta.

    Embora a reduo de danos tenha sido tradicionalmente iden-tificada com as drogas ilcitas, ela tambm se aplica ao lcool e a outras

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    substncias, como o tabaco. Considerando que o consumo de lcool ircontinuar, e que o abuso de lcool tambm, os princpios e estratgiasde reduo de danos so lgicos e comprovadamente eficientes. Os ele-mentos-chave da reduo de danos so universais. Tais elementos, oucaractersticas, devem permear as estratgias de polticas ou intervenes

    de sade pblica que buscam aplicar os princpios de reduo de danos.Esses elementos so:

    A estratgia de reduo de danos complementar s estratgiasde controle da demanda e da oferta;

    Seu foco nas conseqncias e no nos comportamentos em si;

    A estratgia realista e reconhece que o consumo de lcoolno ser interrompido em muitas comunidades, e continuar

    a criar problemas para indivduos e comunidades; A estratgia de reduo de danos no julga o consumo de

    lcool e sim a reduo dos problemas advindos dele;

    uma estratgia pragmtica ela no busca polticas ou es-tratgias que sejam inatingveis ou que criem mais danos quebenefcios.

    A estratgia de reduo de danos reconhece os direitos humanosindividuais ela est calcada na aceitao da integridade e responsabi-

    lidade individuais.

    Reduo de danos e lcool: estratgia na prtica

    A substncia

    A produo de produtos com baixo teor alcolico e sua dispo-nibilidade imediata so opes. Muitas pessoas escolhem esses produtospara que possam continuar consumindo lcool, com uma possibilidademenor de embriaguez, doenas e riscos.

    No entanto, existem desafios reais. Para muitos, e especialmentepara os jovens, as bebidas de baixo teor alcolico so uma afronta suamasculinidade. necessrio mudar tal cultura e esse um exerccio delongo prazo, que inclui uma mudana na forma como o lcool promovido,assim como uma mudana nas concepes aceitas pela comunidade.

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    Em alguns pases, aditivos como tiamina (vitamina B) so adi-cionados ao produto e est comprovado que em alguns casos, os riscos sade so realmente reduzidos.

    O ambiente

    O ambiente onde se bebe deve ser mais seguro para que aquelesque optarem por consumir lcool possam faz-lo com relativa segurana,o que tambm afetar quem no bebe um ambiente mais seguro agarantia de que eles no sero vtimas de danos. Estudos sugerem quebares barulhentos, lotados e inacessveis criam problemas. Estabelecimentosque toleram a embriaguez e permitem que os funcionrios do bar sirvampessoas j embriagadas so propcios para problemas.

    A ligao do lcool com a violncia tambm est documentada.O lcool servido em copos de vidro; os estabelecimentos comerciaispoderiam servir as bebidas em copos de plstico ou de material maisresistente. Assim, o perigo de um copo quebrado ser usado como arma eliminado, bem como a chance de que ocorra um acidente com cacosde vidro.

    Muitos estabelecimentos de jogos, embora sirvam bebida alcoli-ca, criaram reas secas, ou seja, reas onde no permitido o consumode lcool. Este pode ser comprado no local, os gerentes s podem servirbebidas com baixo teor alcolico, excluindo os destilados, ou ento permitira compra de apenas uma bebida por vez.

    A atividade

    Beber geralmente uma atividade social realizada em grupos.Se o lcool o ponto focal dessa atividade, ele pode criar problemas.Porm, se tal atividade tambm envolve comer e danar, ou jogar sinuca, provvel que o lcool seja menos relevante e assim alguns problemaspossam ser evitados.

    Uma estratgia muito prtica seria o consumidor planejar oseu nvel de gastos antes de comear a beber a maioria das pessoasconsegue fazer isso.

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    Planejamento para beber

    Uma das manifestaes mais bvias do uso excessivo de lcoolso os acidentes, geralmente de carro. A maioria das pessoas sabe quando

    vai beber. O planejamento feito com antecedncia uma medida sensvel

    e eficiente de reduo de danos. Alm do estabelecimento de limites paraa bebida, outros planos podem evitar problemas relacionados ao lcool:no beber sozinho; garantir carona com um motorista que no tenha be-bido; estabelecer um limite de gastos; saber o que est sendo servido (sea bebida est misturada ou no); e no aceitar bebidas de estranhos.

    O conhecimento de quem bebe

    A disseminao de informaes sobre o lcool e a educaodo pblico so promovidas como estratgias eficientes de preveno hdcadas. No entanto, seu impacto sobre o comportamento ainda discu-tvel. A hiptese de que a educao escolar sobre o lcool poderia afetaro hbito de beber (em anos futuros) comprovadamente irreal.

    Contudo, razovel presumir a utilidade de se conhecer os efeitosdo lcool no corpo e no comportamento humanos; assim, quem decidirbeber estar, de alguma maneira, ciente dos problemas que podero surgir,

    o que no significa que iro mudar seu comportamento, ou mesmo reduziros problemas mas para algumas pessoas este ser o resultado.

    A divulgao de informaes sobre como manejar o prprioconsumo de lcool e o de amigos importante. Muitos jovens so inexpe-rientes e esto sujeitos forte presso dos colegas para assumir os riscosda adolescncia.Kitsde primeiros socorros so ferramentas pragmticasque podem ser teis entre amigos que bebem.

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    sadelcool e sade

    Ewa Osiatynska

    Vrios fatores afetam a sade, mas apenas problemas genti-cos e malformaes esto alm do nosso controle. A maioria dos fatoresque influencia a sade pode ser controlada e ajustada. Obviamente, issodepende do conhecimento, da conscincia e da maturidade, assim comodas condies de vida de uma pessoa. As pessoas nem sempre pensaramassim; tal abordagem e compreenso da prpria sade so resultados do

    desenvolvimento da civilizao, da conscincia a respeito da sade populare do progresso da pesquisa mdica.

    A presena de lcool na cultura e os comportamentos habitu-ais das pessoas em muitos pases confere substncia justa cidadania.

    Apesar dos efeitos prejudiciais do abuso do lcool, difcil imaginar suatotal ausncia em nossa vida. No entanto, alguns crculos de defensoresantilcool identificam qualquer uso de lcool como alcoolismo (ou alcoo-lismo em potencial). Essa abordagem, observada em vrios pases do Leste

    Europeu, irreal e ineficiente. Ainda mais quando mdicos e pesquisadoresj afirmaram repetidas vezes que o uso moderado de lcool por adultossaudveis pode contribuir para o bem-estar e a boa sade, at mesmo napreveno de vrias doenas.

    Grupos de alto risco

    A discusso a respeito dos efeitos danosos do lcool sobre asade enfatiza quatro categorias de potenciais consumidores para qualquerquantidade de uso de lcool, mesmo que moderado e espordico.

    As crianas e os jovens que no atingiram maturidade fsica com-pleta sofrero uma sucesso de efeitos prejudiciais se consumirem lcool.Consumido com regularidade, o lcool pode obstruir o desenvolvimentoemocional e psicolgico e contribuir para uma variedade de doenas do

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    sistema nervoso central, podendo tambm prejudicar a funo vital dergos internos.

    As pesquisas revelam que os efeitos do lcool consumido porgestantes ou lactantes (mesmo que em doses moderadas) podem serpercebidos no desenvolvimento de fetos e no comportamento dos bebs.Duas doenas srias a sndrome alcolica fetal e o efeito fetal do lcool foram identificadas como conseqncias diretas do uso do lcool nagravidez.

    Pacientes tratados por doenas que requerem a contra-indica-o do consumo do lcool (diabetes, doenas tratadas com medicaopsicotrpica, doenas do fgado e do pncreas, inflamao da mucosa,

    doenas da laringe, traquia e brnquios e doenas do sistema imuno-lgico, etc.) fazem parte de uma categoria que tambm inclui um grupomuito especfico: os alcoolistas em recuperao, cujas recadas requeremabstinncia total.

    A quarta categoria inclui as pessoas que consomem lcool mo-deradamente, mas no em situaes especficas. As situaes que exigemabstinncia total de lcool referem-se s atividades em que seja necessriodirigir ou operar mquinas industriais ou tcnicas.

    Danos decorrentes do consumo de lcool

    A Organizao Mundial da Sade recomenda a substituiodo termo alcoolismo por sndrome da dependncia de lcool oudependncia de em lcool (estatsticas noF10.2; ICD 10) e consumoprejudicial de lcool (noF10.1).

    O termo consumo prejudicial abarca os conceitos usadoshoje, como abuso de lcool, uso prejudicial de lcool ou problemasrelacionados ao lcool.

    O consumo prejudicial pode resultar em uma srie de compli-caes, como:

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    Problemas de sade: surgimento e/ou agravamento de doenase maior incidncia de traumatismos e/ou ferimentos;

    Problemas psicolgicos e psiquitricos, que incluem agressi-vidade, depresso, doenas de ansiedade e crises psicticasrelacionadas ao lcool;

    Problemas sociais e interpessoais:

    o conflitos familiares relacionados com violncia domstica,resultados de uma variedade de efeitos fsicos e /ou psicol-gicos traumticos, tanto a curto quanto a longo prazo entreos membros da famlia do consumidor irresponsvel;

    o fim da harmonia entre os vizinhos;

    o problemas no ambiente de trabalho (e tambm acidentes);

    Conflitos com a lei, como dirigir embriagado, crimes violen-tos cometidos aps ou durante o consumo de lcool, delitosrelacionados a comportamentos agressivos ou anti-sociaisconseqentes do abuso de lcool.

    Vale mencionar que no so apenas as duas primeiras catego-rias que incluem danos sade relacionados ao lcool. Danos sociaise conflitos com a lei tambm incluem efeitos que podem, direta ouindiretamente, causar problemas fsicos e/ou psicolgicos de sade (prin-

    cipalmente para terceiros). O consumo prejudicial de lcool por um fun-cionrio pode levar a acidentes, causando danos aos colegas de trabalhoe ao ambiente em si. Longos conflitos interpessoais, comuns para quembebe exageradamente, podem afetar o bem-estar e a atmosfera geral doambiente de trabalho.

    Os danos listados na categoria conflitos com a lei geralmentecausam problemas concretos de sade, como nos casos em que o lcool

    considerado um fator dos crimes violentos.Portanto, a discusso sobre danos sade causados pelo

    consumo prejudicial deve considerar o danos em um contexto maisamplo, e no s considerar os efeitos do etanol em determinados rgosou sistemas internos de quem bebe. Este assunto tratado na prximaparte deste captulo.

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    Efeitos do lcool

    Fgado

    O fgado reage relativamente rpido ao consumo de lcool e propenso aos seus danos. A patognese dos problemas relacionados aolcool tem sido pesquisada em detalhes; sabemos que os danos mais pe-rigosos podem incluir degenerao do fgado, hepatite e cirrose. A cirrose uma doena progressiva, irreversvel e fatal. Mulheres que bebem somais propensas a essa doena do que os homens.

    Sistema digestivo

    O consumo prolongado de lcool pode irritar a mucosa e, con-seqentemente, causar inf lamao do esfago. A relevncia do lcool nodesenvolvimento de cncer do esfago ainda desconhecida. A cirrosepode causar varizes no esfago (quase sempre seguidas de hemorragiasfatais). Tambm comprovado que o consumo do lcool um fator impor-tante que contribui para lceras gstricas, cncer de coln, pancreatite e,conseqentemente, propicia um risco maior de hipoglicemia e diabetes.

    Deficincias nutricionais

    Os mecanismos de deficincias nutricionais em consumidoresexagerados de lcool so complexos e pouco conhecidos. Vale mencionaro fato de que o lcool, como uma substncia altamente energtica, saciaa demanda urgente de calorias do corpo, saciando a fome. Tal fenmeno,combinado com a menor absoro e disfuno do canal alimentar, podecontribuir para uma deficincia de vitaminas, de absoro de protenas,de zinco e de outras substncias nutricionais.

    O consumo exagerado de lcool causa deficincias graves devitamina B1, cido flico e vitamina A.

    Sistema circulatrio

    O lcool afeta os mecanismos que regulam a presso sangnea. sabido que quanto maior a quantidade de lcool ingerida, maior a pro-penso ao aumento de presso arterial. O consumo exagerado aumenta

    o risco de anemia.

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    Geralmente, diz-se que o lcool pode ter um efeito benficona preveno de doenas coronrias; porm, aqueles que insistem nessaafirmao so os prprios consumidores compulsivos de lcool.

    Sistema endcrino

    O consumo pesado de bebidas alcolicas pode causar umasrie de doenas hormonais, inclusive secreo anormal de testosteronae luteotropina, assim como uma diminuio na motilidade dos esper-matozides e prejuzos em sua estrutura. Homens que consomem lcoolpodem sofrer efeminao (crescimento de glndulas mamrias, atrofiado testculo, anormalidades no crescimento dos plos, perda de barba,etc.). As mulheres podem sofrer atrofia do ovrio e masculinizao (plosno rosto, voz grossa, etc.). Essas mudanas podem vir acompanhadasde diminuio da libido, irregularidades no ciclo menstrual, esterilidadee menopausa prematura. O lcool tambm afeta o funcionamento datireide e das glndulas supra-renais.

    Disfuno sexual

    Apesar da noo popular de que o lcool benfico e estimulao desempenho sexual, os fatos provam o contrrio. O lcool desinibe

    (diminui a timidez) e pode estimular a libido. No entanto, o uso pesadode lcool por muito tempo pode causar impotncia. Altas concentraesde lcool no sangue causam disfuno ertil, ejaculao tardia e orgasmobrando. Muitas mulheres que bebem sofrem de perda de libido, poucalubrificao vaginal e ovulao irregular.

    Sistema imunolgico

    O consumo prolongado de lcool retarda as funes do sistema

    imunolgico, que resulta em uma maior propenso para doenas infeccio-sas, pneumonia, tuberculose, e mesmo cncer. O lcool afeta a atividadedos linfcitos na produo de anticorpos e diminui sua atividade. Pode-sedizer que o consumo intenso de lcool afeta, de forma irreversvel, todasas funes do sistema imunolgico.

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    Problemas de pele e doenas sexualmente transmissveis

    Problemas de pele (rachaduras, coceiras, hipercromatismo, etc.)so conseqncias diretas ou indiretas dos efeitos do lcool no fgado e emoutros rgos do sistema digestivo. Pesquisas confirmam que a populao

    que bebe tem uma tendncia 5 vezes maior de ter doenas venreas doque os abstmios; a proporo entre mulheres de 29 vezes. O abuso douso de lcool tambm responsvel pelo maior risco de infeco por HIV(e, por conta do fraco sistema imunolgico, tambm maior a incidnciade todos os sintomas de aids).

    Cncer

    O papel oncolgico do lcool um dos assuntos mais estudadospor pesquisadores. Provavelmente, devido inquestionvel significncia dolcool como fator contribuinte de tantas doenas e enfermidades, pode-sededuzir que o lcool desempenha um papel importante no desenvolvimentode certas formas de cncer, especialmente de fgado, estmago, laringe,esfago, traquia, coln e prstata.

    Tem-se observado cncer de mama entre mulheres que bebemcom maior freqncia que entre as mulheres que no bebem; este fato

    pode ser atribudo ao efeito danoso do lcool no sistema imunolgico, eno pela influncia direta do lcool sobre o rgo.

    Gravidez e feto

    comprovado que aps 40-60 minutos da ingesto de lcoolpor uma gestante, a concentrao de lcool no sangue fetal fica equiva-lente concentrao de lcool no sangue da me. Como o lcool intoxica

    principalmente organismos muito jovens, mulheres que bebem durante agravidez tm uma incidncia maior de parto prematuro, parto aceleradoou abortos retidos e abortos espontneos.

    Recm-nascidos de mes que consumiram lcool durante agravidez podem apresentar sintomas leves a severos de abstinncia (tre-mores, tenso muscular, fraqueza, problemas de sono, choro, dificuldadede sugar, etc.). Outros problemas podem incluir retardo no crescimento,

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    dificuldades de concentrao e ateno. As complicaes mais srias sodecorrentes da sndrome alcolica fetal (definida em 1968). Os sintomasincluem baixo peso, sade instvel, atraso no desenvolvimento e altafreqncia de doenas do desenvolvimento.

    Problemas psiquitricos e psicolgicos

    Quadros psicticos agudos decorrentes do lcool (Delirium tremens,iluses ou paranias, doena de Korsakoff, etc.) aparecem quase sempreem alcoolistas crnicos e caracterizam-se pelo padro mais destrutivo deconsumo. As pessoas tambm podem sofrer de depresses crnicas.

    Aqueles que abusam de lcool, mas no so dependentes, no

    entanto, podem encobrir, com a compulso por bebida, algumas doenaspsiquitricas. O efeito prolongado de embriaguez no crebro pode causarmudanas de personalidade, como a deteriorao da vida emocional,perda de interesses, diminuio de motivao social, perda da capacidadede planejamento e organizao, etc.

    Obviamente, as mudanas negativas afetam a qualidade dasrelaes interpessoais e o estilo de vida (familiar, conjugal, profissional) epodem diminuir significativamente a harmonia da famlia e do ambiente

    de trabalho.

    Ferimentos

    Pessoas que bebem tm mais tendncia a ferimentos aciden-tais. A razo para isso causada diretamente pelo lcool, que diminui aconcentrao, percepo e avaliao da situao. Pesquisas indicam umacorrelao entre a bebida e vrios tipos de acidentes traumticos (mesmofatais) causados por acidentes de carro, quedas, incndios, afogamentosou ferimentos (alm de acidentes de trabalho).

    Os ferimentos causados por lcool so considerados problemasmdicos e sociais srios, tanto em pases desenvolvidos como nos pasesem desenvolvimento. As estatsticas nos pases ocidentais mostram queos ferimentos so a quarta causa de morte (depois de ataque cardaco,derrames e cncer). Na populao abaixo de 40 anos, ferimentos causadospor lcool so a causa mais freqente de morte.

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    H 1.500 anos a.C. um escriba egpcio escreveu que o consu-mo no moderado de lcool poderia causar fraturas e outros ferimentos.Sabemos qual a principal causa de ferimentos entre motoristas quebebem. Motoristas bbados causam muito mais acidentes com morte quemotoristas que no haviam bebido no momento do acidente.

    Violncia relacionada ao lcool

    Os comportamentos agressivos tm muito a ver com o consumoexagerado de lcool. Este fato pode ser observado tanto em um ambientecriminal como nos lares. No fcil interpretar relevncia das palavrasviolncia, agresso, crime, principalmente se elas se referem inten-o de machucar outra pessoa. No entanto, muitos estudos indicam queo consumo de lcool pode provocar comportamentos violentos acima doque se considera acidental.

    Outro fato importante que deve ser levado em considerao a porcentagem de pessoas que abusam do lcool entre reincidentes napriso (em todos os pases onde se levantaram as estatsticas). inte-ressante notar que no s o agressor como tambm a vtima podem terconsumido lcool antes ou durante o crime. Tambm foi detectado lcoolna maioria das investigaes de casos de estupro violento e tambm em

    outros crimes sexuais.

    Violncia domstica

    Vrios estudos demonstram que mais de 50% dos casos de es-pancamento de esposas tm relao direta com consumo de lcool peloespancador. Uma anlise dos casos investigados de abuso ou neglignciade crianas no Canad revelou que o agressor havia consumido lcool em87% dos casos. Abusos sexuais e atos incestuosos contra crianas tambm

    foram comprovadamente cometidos sob a influncia do lcool. Estudose dados estatsticos destacam os efeitos fsicos mais comuns do abuso dolcool. No entanto, problemas psicolgicos e doenas ps-traumticasno devem ser minimizados ou ignorados. Vtimas de um estilo de vidabaseado na violncia domstica podem apresentar problemas de longoprazo ou at incurveis como doenas de natureza afetiva, neurtica ede desenvolvimento.

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    Recomendaes

    necessrio informar (permanentemente) aos potenciaisconsumidores de lcool sobre fatos reais baseados em pes-quisas acerca dos efeitos nocivos do consumo irresponsvel

    do lcool; O governo deve priorizar a educao das equipes mdicas (cl-

    nicos gerais ou mdicos de famlia, residentes, ginecologistas,equipe de emergncia e enfermeiros) na rea de prevenoe avaliao precoce dos danos causados pelo abuso ou usoprejudicial de lcool;

    Programas no ambiente de trabalho sobre preveno de abusode lcool devem ser implementados por todas as empresascom grande nmero de funcionrios. Devem ser oferecidostreinamento a gerentes e supervisores visando o reconheci-mento precoce de problemas com lcool;

    Motoristas embriagados envolvidos em acidentes devem rece-ber, alm das punies legais, a oportunidade de participar deprogramas de educao sobre os efeitos do lcool no corpo ena mente humanos;

    Criminosos violentos, inclusive agressores domsticos, devemreceber educao especial (com a possibilidade de tratamento

    de vrios nveis de alcoolismo no local de trabalho), em todosos casos onde o lcool tiver sido o fator contribuinte da vio-lncia;

    A publicidade de bebidas alcolicas considerada um fatorimportante que influencia os jovens a se tornarem consumidoresem potencial. Ela deve ser fiscalizada e, conseqentemente,obrigada a obedecer s regulamentaes legais para reduzireventuais danos.

    As recomendaes acima podem exigir novas regulamentaes naslegislaes criminais, de famlia, ambiente de trabalho e trnsito em algunspases. Talvez seja til o estabelecimento de um Conselho, no governamental,de profissionais qualificados para trabalhar com os respectivos rgos no sentidode propor e aplicar aes concretas que abordem os problemas, objetivandoencontrar as maneiras mais eficientes de reduzir os danos decorrentes do usoe, principalmente, do abuso de lcool em nossas sociedades.

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    Um brinde vida:reflexes sobre violncia, juventude e reduode danos no Brasil

    Mnica Franch1

    Gabriel perdeu a vida numa madrugada de domingo, a poucosmetros da casa onde morava num bairro pobre da cidade do Recife, noNordeste do Brasil. Conheceu seu assassino horas antes de morrer, numdos inmeros bares com msica ao vivo que proliferam nas periferias dametrpole. Quem me contou a histria foi Lu, uma jovem de 17 anos que

    j namorou Gabriel e o acompanhou vrias vezes em seus percursos definal de semana. Segundo a ex-namorada, o jovem no usava drogasnem fazia coisas erradas. Mas sempre que saa para beber, metia-se emconfuso. Ele ia muito pelos amigos. Se amigo dele brigasse, ele tinha quebrigar tambm porque tinha que defender.Na noite da sua morte, Gabrielhonroumais uma vez sua fama de valente trocando socos e pontaps emdefesa de um amigo. O motivo da briga ningum soube me explicar nemmesmo parecia ser de muita importncia: s vezes olhar feio pra uma

    pessoa j o bastante. Voltando para casa, foi baleado por um de seusoponentes. Tinha apenas 19 anos.2

    Histrias semelhantes de Gabriel se repetem diariamente nasprincipais capitais brasileiras. A concentrao de mortes violentas na fai-xa etria dos 15 aos 24 anos nos autoriza a falar numa corporificaoda violncia na gerao mais jovem,3que vem assumindo dimensesepidmicas no Pas. O problema, entretanto, vai muito alm das nossas

    fronteiras. A violncia que vitima jovens, sobretudo do sexo masculino, um fenmeno que se expressa nos cinco continentes, principalmente noschamados pases em desenvolvimento e naquelas naes que passarampor rpidos processos de transio econmica e social, como o caso dospases do Leste Europeu.4Qual a relao entre a violncia que vitima

    jovens e o consumo do lcool, e o que pode ser feito para minimizar osriscos so as principais questes que norteiam este ensaio.

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    Apontamentos para uma crnica inquieta

    Sobre as violncias no Brasil de hoje

    Nas ltimas dcadas, a violncia passou a ser uma das princi-pais preocupaes dos brasileiros. Fala-se dela tanto nos grandes debatescomonas rodas modestas de mesa de bar. Afeta os negcios, as bolsas,as relaes afetivas, os lazeres, as dinmicas familiares, as artes, o dis-curso religioso, o jornalismo e as agendas polticas. At recentemente, ospoetas cantavam um Brasil abenoado por Deus, cujas belezas naturaiscontracenavam com a alegria de um povo de natureza pacfica e sensual.Hoje, pelo contrrio, dominam as metforas da cidade partida, daguerra silenciada e do apartheid social. Os brasileiros passaram a viver

    imersos numa cultura do medo, cuja expresso mais evidente so osgastos na chamada indstria de segurana, que h muito deixaram deser exclusividade das elites: grades, blindagens, policiamento privado, etc.5Mudaram os brasileiros ou mudou o olhar sobre a violncia?

    Emaranhando o enredo redefinies e indefinies

    A Histria do Brasil, como a de tantos outros pases pelo mun-do afora, pontilhada por evidncias de prticas violentas. A violnciafundadora do colonizador contra o colonizado, a violncia infringida aosnegros no sistema da escravatura, a violncia sexual do homem brancocontra as mulheres de outras etnias ilustram de que maneira, desde cedo,a prtica de submeter o outro pela fora fincou suas razes no solo doPas. Seria intil pensar, entretanto, que todas essas manifestaes foramreconhecidas, em seu tempo, como violaes graves aos direitos humanos.Sendo a violncia, antes de tudo, uma imposio de vontade, ela costumaser exercida por quem tem mais poder. E quem tem mais poder consegue,

    no raro, legitimar socialmente suas prticas.

    Perceber um determinado ato como uma forma de violnciadepende, destarte, do contexto social, histrico e cultural, variando consi-deravelmente entre diferentes grupos numa mesma sociedade. A definiode violncia raramente consensual ou estvel. Ela se processa numa arenade lutas por significados, onde as normas, as instituies, os valores, ashierarquias sociais e a ao de diversos atores entram em jogo:

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    ...[a violncia] representada por aes humanas realizadas porindivduos, grupos, classes, naes, numa dinmica de relaes,ocasionando danos fsicos, emocionais, morais e espirituais a ou-trem. Na verdade, entende-se, aqui, que no h um fato denomina-do violncia e sim violncias, como expresses de manifestao da

    exacerbao de conflitos sociais cujas especificidades necessitam serconhecidas. Tm profundos enraizamentos nas estruturas sociais,econmicas e polticas, e tambm nas conscincias individuais,numa relao dinmica entre condies dadas e subjetividade[...] Este conceito pode ser compreendido, no campo das relaespessoais e institucionais, como um limitante dos direitos, de umlado, ou como um grito de expresso dos oprimidos, no outrolado da moeda. (MINAYO, 1998, 14).

    A violncia, portanto, no nica, mas plural, o que faz comque muitos autores prefiram usar o termo violncias. Ela est ligada aprticas, a sensibilidades e noo do outro. A violncia silencia, oprimee nega a diferena, impedindo a possibilidade de uma vida democrtica.Mas ela pode, tambm, veicular o descontentamento de um grupo comuma determinada realidade social. Neste ponto, a violncia passa a seruma linguagem acionada por aqueles que no tm acesso aos espaos

    hegemnicos de produo de significados.6Acusar o outro de violento uma estratgia comumente usada pelos detentores do poder para des-qualificar lutas sociais que ameaam seus privilgios. Diferenciar, refinar,redefinir o que o senso comum subsume no vago conceito de violncia um primeiro passo para desmascarar outras violncias, ocultas ousimblicas.

    Freqentemente, a visibilidade de uma determinada violncia est

    ligada ao de movimentos sociais que lutam para ampliar as esferas deefetivao dos direitos humanos. Foi assim que aconteceu no Brasil coma violncia contra as mulheres, outrora considerada questo de ordemdomstica.O reconhecimento de uma nova violncia um processoque amide transborda as fronteiras nacionais, envolvendo grupos quelutam pelos direitos humanos, organismos multilaterais como a ONU eoutros atores do cenrio internacional. Da mesma maneira, as dinmicasda violncia tambm desconhecem alfndegas e controles. Negcios

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    clandestinos, como o trfico de armas e de drogas ilcitas, movimentamcomplexas redes internacionais de produo, distribuio e consumo cujoslucros se depositam em parasos fiscais espalhados pelo mundo afora.7

    Repensar a violncia no Brasil implica, por fim, tomar p dasenormes desigualdades que esfacelam o tecido social, servindo como panode fundo contra o qual se desenham as violncias do dia-a-dia. Segundorecente estudo do Ipea,8as diferenas econmicas entre os brasileiros soimensas: os 10% mais ricos detm 28 vezes mais renda do que os 40%mais pobres. No Relatrio sobre o Desenvolvimento do Mundo 2000-2001,do Banco Mundial, o Brasil aparece em terceiro lugar em desigualdade,com um ndice Gini de 60,0 (1996), perdendo apenas para Serra Leoa,62,9 (1989) e Repblica Centro-Africana, 61,3 (1983). Pela sua posio

    na sociedade, os jovens figuram entre os segmentos mais vulnerveis aessa violncia primeira embora tambm sejam capazes de oferecer asrespostas mais criativas.

    Viver muito perigoso

    O impacto das violncias na juventude

    Fazer um cruzamento entre violncia e juventude demandaalguns cuidados. verdade que os jovens so os mais atingidos pela vio-lncia, liderando todas as estatsticas de mortalidade por causas externas.Tambm certo que o mundo do crime exerce um inegvel fascnio entre

    jovens das periferias urbanas, que encontram nele uma maneira de conse-guir acesso a bens de consumo e de obter prestgio e poder. Igualmente,a juventude dourada das grandes cidades tem galgado as manchetesde jornais pelo seu envolvimento em atos violentos que vo da chamada

    delinqncia comum a violncias de forte impacto entre a opinio pblica,como o parricdio e o crime tnico.

    Apesar dessas evidncias, h de se extremar a vigilncia parano incorrer no erro comum de atribuir juventude, principalmente

    juventude pobre, a responsabilidade pela sensao de insegurana pblicaque tomou conta do Pas nos ltimos anos. Nossa proposta deslocar oeixo da represso para a compreenso, evitando incorrer na estigmatizao

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    da juventude, que to pouco acrescenta para a melhora das perspectivasde vida desse segmento.

    Os nmeros da morte

    Desde meados dos anos 70, as taxas de homicdios dispararamno Brasil, assim como em muitos pases da Amrica Latina. Coincidindocom o esgotamento dos regimes militares, a violncia poltica foi arrefe-cendo na regio. Mas o advento da democracia no veio acompanhadoda to desejada paz social. As grandes metrpoles latino-americanasassistiram impotentes ao aumento da criminalidade e ao fortalecimentoda organizao social do crime. No Brasil, cresceram assustadoramente osassaltos e os furtos. Expandiram-se negcios clandestinos como o roubo a

    entidades financeiras, o trfico de drogas e de armamentos sofisticados.9

    Embora, como j dissemos, a violncia no possa ser equacionada coma criminalidade, esta tem sido, sem dvida, sua manifestao mais visvelnos ltimos tempos.

    O grande salto nas taxas de homicdios tem preocupado bas-tante ao poder pblico e aos brasileiros de um modo geral. Segundo oMinistrio da Justia, no ano de 1979 aconteciam no Brasil 9,44 homi-cdios para cada 100.000 habitantes. Em 1985, a taxa j alcanava os

    14,98 e, desde ento, no parou de subir: em 1990, aconteceram 20,83homicdios/100.000 habitantes; em 1995, a taxa foi de 23,85; e em 2000,de 27.10Essas mortes tm uma geografia inequvoca: elas se concentramnos bairros social e economicamente deprimidos das grandes cidades.Tm tambm cor (os negros morrem mais), sexo e idade: as vtimas pre-ferenciais so homens jovens.

    No ano de 2000, por exemplo, 12,2% das mortes ocorridas no

    total da populao foram conseqncia das chamadas causas externas(acidentes de trnsito, homicdios e suicdios). J no recorte de 15 a 24anos de idade, o percentual atingiu nada menos que 70,3%, sendo que39,2% das mortes aconteceram por homicdio. As mortes violentas estoaumentando mais nas faixas de 15 a 19 anos e de 20 a 24 do que na faixados 10 aos 14 anos. Quanto distribuio por sexo, as taxas de homicdiosfalam por si: em 2000, aconteceram 97,1 assassinatos em cada 100.000homens jovens (15 a 24 anos) e 6,0 em cada 100.000 mulheres jovens.

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    A maioria desses assassinatos (74,2%) foi causada por arma de fogo.11Araa na violncia aparece, principalmente, quando se focaliza a vtima.Num levantamento feito por meio de notcias de jornais pelo MovimentoNacional de Direitos Humanos, em Salvador (1996 a 1999), apenas 1%das vtimas de assassinato foi notificada como branca: 30,7% eram negros

    e 68,3% de cor no noticiada.12

    O mapa internacional das mortes de jovens tambm apresentauma distribuio bastante desigual. No ano de 2000, foram assassinados9,2 de cada 100.000 jovens (15 a 29 anos) no mundo, segundo constano World report on violence and health da World Health Organization. Asmenores taxas, com mdia de 0,9 homicdio por 100.000 habitantes, estonos pases ricos da Europa, em partes do continente asitico e do Pacfico.

    Os homicdios aumentam a 17.6 por 100.000 na frica e atingem as maisaltas taxas na regio da Amrica Latina: 36,4/100.000. Com uma taxa de32,5 homicdios por 100.000 jovens (15 a 29 anos), o Brasil aparece naquinta posio e quase quatro pontos abaixo da mdia da Regio. Entreos chamados pases desenvolvidos, apenas os Estados Unidos tm taxasacima dos 10 homicdios por 100.000 habitantes (taxa de 11).13A morta-lidade por homicdios entre jovens constitui, portanto, um problema dosdenominados pases em desenvolvimento ou em transio, constituindo

    mais uma expresso do acirramento das desigualdades no mundo.Uma fenda por onde escoam vidas

    Quando se trata de compreender o extraordinrio aumento daviolncia atingindo jovens, fatores individuais, familiares, sociais, culturaise polticos devem ser levados em considerao. A lista em que propomosa continuao apenas uma das possveis leituras do fenmeno, comespecial destaque situao brasileira.

    s portas do Paraso pobreza, consumo e expectativas juvenis

    Nos pases em desenvolvimento e em transio, as criseseconmicas e a implementao de polticas de ajuste estrutural tiveramefeitos nefastos para a maioria da populao, incluindo os jovens: ...real

    wages have often declined sharply, laws intended to protect labour have beenweakened or discarded, and a substancial decline in basic infraestructure

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