ALCUÍNO de YORK. Diálogo Entre Pepino e Alcuíno (c.781-790)

download ALCUÍNO de YORK. Diálogo Entre Pepino e Alcuíno (c.781-790)

of 9

description

ALCUÍNO de YORK. Diálogo Entre Pepino e Alcuíno (c.781-790)

Transcript of ALCUÍNO de YORK. Diálogo Entre Pepino e Alcuíno (c.781-790)

  • 6/10/2014 Dilogo entre Pepino e Alcuno (c. 781-790) | Histria Medieval - Prof. Dr. Ricardo da Costa

    http://www.ricardocosta.com/traducoes/textos/dialogo-entre-pepino-e-alcuino-c-781-790 1/9

    Selecione o idioma Powered by Tradutor

    Dilogo entre Pepino e Alcuno (c. 781-790)Trad. e notas: Jean Lauand (USP)

    P.: O que a escrita?

    A.: O guarda da Histria.

    P.: O que a palavra?

    A.: A delatora dos segredos da alma.

    P.: Quem gera a palavra?

    A.: A lngua.

    P.: O que a lngua?

    A.: O chicote do ar.

    P.: O que o ar?

    A.: O guarda da vida.

    P.: O que a vida?

    A.: A alegria dos ditosos, aflio dos miserveis, espera da morte.

    P.: O que a morte?

    A.: Um fato inevitvel, uma incerta peregrinao, lgrimas dos vivos, confirmao dostestamentos, ladro do homem.

    P.: Que o homem?

    A.: Servo da morte, caminhante passageiro, sempre um hspede em qualquer lugar.

    P.: A que semelhante o homem?

    A.: A um fruto.

    P.: Qual a condio humana?

    A.: A de uma candeia ao vento.

    P.: Como est ele situado?

    A.: Dentro de seis paredes.

    1

    2

    3

  • 6/10/2014 Dilogo entre Pepino e Alcuno (c. 781-790) | Histria Medieval - Prof. Dr. Ricardo da Costa

    http://www.ricardocosta.com/traducoes/textos/dialogo-entre-pepino-e-alcuino-c-781-790 2/9

    P.: Quais?

    A.: Acima, abaixo; diante, detrs; direita e esquerda.

    P.: De quantos modos ele varivel?

    A.: De seis modos.

    P.: Quais?

    A.: Pela fome e saciedade; pelo repouso e trabalho; pela viglia e sono.

    P.: O que o sono?

    A.: Imagem da morte.

    P.: O que a liberdade do homem?

    A.: A sua inocncia.

    P.: O que a cabea?

    A.: O cimo do corpo.

    P.: O que o corpo?

    A.: A morada da alma.

    P.: O que a cabeleira?

    A.: A veste da cabea.

    P.: O que a barba?

    A.: Distino do sexo, honra da idade.

    P.: O que o crebro?

    A.: O conservador da memria.

    P.: O que so os olhos?

    A.: Os guias do corpo, recipientes de luz, indicadores da alma.

    P.: O que so as narinas?

    A.: Os condutos dos aromas.

    P.: O que so os ouvidos?

    A.: Captadores de sons.

  • 6/10/2014 Dilogo entre Pepino e Alcuno (c. 781-790) | Histria Medieval - Prof. Dr. Ricardo da Costa

    http://www.ricardocosta.com/traducoes/textos/dialogo-entre-pepino-e-alcuino-c-781-790 3/9

    P.: O que a fisionomia?

    A.: A imagem da alma.

    P.: O que a boca?

    A.: A alimentadora do corpo.

    P.: O que so os dentes?

    A.: Moinho de morder.

    P.: O que so os lbios?

    A.: As portas da boca.

    P.: O que a garganta?

    A.: A devoradora da comida.

    P.: O que so as mos?

    A.: Os operrios do corpo.

    P.: O que so os dedos?

    A.: Plectro das cordas.

    P.: O que o pulmo?

    A.: Depsito de ar.

    P.: O que o corao?

    A.: Receptculo da vida.

    P.: O que o fgado?

    A.: O guarda do calor.

    P.: O que a blis?

    A.: A que suscita a irritao.

    P.: O que o bao?

    A.: O que produz a alegria e o riso.

    P.: O que o estmago?

    A.: O cozinheiro dos alimentos.

    P.: O que o ventre?

  • 6/10/2014 Dilogo entre Pepino e Alcuno (c. 781-790) | Histria Medieval - Prof. Dr. Ricardo da Costa

    http://www.ricardocosta.com/traducoes/textos/dialogo-entre-pepino-e-alcuino-c-781-790 4/9

    A.: O guarda das coisas frgeis.

    P.: O que so os ossos?

    A.: A fortaleza do corpo.

    P.: O que so as coxas?

    A.: Epistlios das colunas.

    P.: O que so as pernas?

    A.: As colunas do corpo.

    P.: O que so os ps?

    A.: Alicerce mvel.

    P.: O que o sangue?

    A.: Humor das veias, alimento da vida.

    P.: O que so as veias?

    A.: As fontes da carne.

    P.: O que o cu?

    A.: Uma esfera que roda sobre si mesma, um imenso teto.

    P.: O que a luz?

    A.: A face de todas as coisas.

    P.: O que o dia?

    A.: Estmulo ao trabalho.

    P.: O que o sol?

    A.: O esplendor da terra, a beleza do cu, graa da natureza, a glria do dia, o distribuidor dashoras.

    P.: O que a lua?

    A.: O olho da noite, doadora de orvalho, aquela que anuncia as tempestades.

    P.: O que so as estrelas?

    A.: A pintura que adorna o cu, piloto dos navegantes, o encanto da noite.

  • 6/10/2014 Dilogo entre Pepino e Alcuno (c. 781-790) | Histria Medieval - Prof. Dr. Ricardo da Costa

    http://www.ricardocosta.com/traducoes/textos/dialogo-entre-pepino-e-alcuino-c-781-790 5/9

    P.: O que a chuva?

    A.: A fecundao da terra, a me dos frutos.

    P.: O que a neblina?

    A.: Noite do dia, trabalho para os olhos.

    P.: O que o vento?

    A.: Perturbao do ar, mobilidade das guas, secura da terra.

    P.: O que a terra?

    A.: A me de tudo o que cresce, a que alimenta os viventes, o celeiro da vida, a devoradora detodos.

    P.: O que o mar?

    A.: O caminho da coragem, a fronteira da terra, o que separa as regies, o hospedeiro dos rios, afonte das chuvas, refgio nos perigos, encantadores prazeres.

    P.: O que so os rios?

    A.: Curso que no acaba, refeio do sol, irrigao da terra.

    P.: O que a gua?

    A.: Sustentculo da vida, limpeza das sujeiras.

    P.: O que o fogo?

    A.: Calor excessivo, aquecimento para os que nascem, sazonamento do que germina.

    P.: O que o frio?

    A.: O febricitar dos membros.

    P.: O que o gelo?

    A.: A perseguio das plantas, a perdio das folhas, a priso da terra, a fonte das guas.

    P.: O que a neve?

    A.: gua seca.

    P.: O que o inverno?

    A.: O exlio do vero.

    P.: O que a primavera?

    A.: A pintora da terra.

    4

  • 6/10/2014 Dilogo entre Pepino e Alcuno (c. 781-790) | Histria Medieval - Prof. Dr. Ricardo da Costa

    http://www.ricardocosta.com/traducoes/textos/dialogo-entre-pepino-e-alcuino-c-781-790 6/9

    P.: O que o vero?

    A.: O revestir da terra, o sazonamento do que germina.

    P.: O que o outono?

    A.: O celeiro do ano.

    P.: O que o ano?

    A.: A quadriga do mundo.

    P.: E quem a conduz?

    A.: A noite e o dia, o frio e o calor.

    P.: E quem dirige as rdeas?

    A.: O sol e a lua.

    P.: Quantos so seus palcios?

    A.: Doze.

    P.: Quem so os governantes dos palcios?

    A: ries, Touro, Gmeos, Cncer, Leo, Virgem, Balana, Escorpio, Sagitrio , Capricrnio,Aqurio e Peixes.

    P.: Quantos dias ficam morando em cada palcio?

    A.: O sol, 30 dias e 10 horas e meia; a lua, 2 dias, 8 horas e 2/3 de hora.

    P.: Mestre, tenho medo de ir ao alto!

    A.: Quem te trouxe para o alto?

    P.: A curiosidade.

    A.: Se tens medo, descerei. Eu te seguirei aonde quer que vs.

    P.: Se eu soubesse o que um navio, prepararia um para ti, para que viesses a mim.

    A.: Um navio uma casa errante, hospedaria em qualquer parte, um viajante que no deixapegadas, um vizinho da areia.

    P.: O que a areia?

    A.: O muro da terra.

    P.: O que so as ervas?

    A.: A veste da terra.

  • 6/10/2014 Dilogo entre Pepino e Alcuno (c. 781-790) | Histria Medieval - Prof. Dr. Ricardo da Costa

    http://www.ricardocosta.com/traducoes/textos/dialogo-entre-pepino-e-alcuino-c-781-790 7/9

    P.: O que so os legumes?

    A.: Os amigos dos mdicos, o louvor dos cozinheiros.

    P.: O que que faz doce o amargo?

    A.: A fome.

    P.: O que que faz com que o homem no se canse?

    A.: O lucro.

    P.: O que o sonho dos acordados?

    A.: A esperana.

    P.: O que a esperana?

    A.: Refrigrio nos trabalhos; evento incerto.

    P.: O que a amizade?

    A.: A igualdade das almas; a igualdade dos amigos.

    P.: O que a f?

    A.: A certeza das coisas no sabidas e admirveis.

    P.: O que admirvel?

    A.: Agora h pouco, vi um homem, em p, que nunca existiu, um morto andando.

    P.: Desvenda-me como pode ser isso.

    A.: A imagem refletida na gua.

    P.: Como que eu, tendo tantas vezes visto isso, no o entendi por mim mesmo?

    A.: J que s um bom rapaz e dotado de natural engenhosidade, vou te propor mais algumasadmirveis; provars se, por ti mesmo, podes adivinh-las.

    P.: Sim e se eu errar, tu me corrigirs.

    A.: Farei como desejas. Um desconhecido, sem lngua e sem voz, falou comigo; ele nunca existiu,nem existir. algum que no conheo e nem ouviria.

    P.: Acaso um sonho te importunou, mestre?

    A.: Sim, filho, acertaste. Ouve esta agora: vi mortos gerarem um vivo e o hlito do vivo consumiuos mortos.

    5

    6

  • 6/10/2014 Dilogo entre Pepino e Alcuno (c. 781-790) | Histria Medieval - Prof. Dr. Ricardo da Costa

    http://www.ricardocosta.com/traducoes/textos/dialogo-entre-pepino-e-alcuino-c-781-790 8/9

    P.: Esfregando-se galhos secos, nasce o fogo que consome os galhos.

    A.: Acertaste. Ouvi mortos falando muitas coisas.

    P.: Nunca falaram bem, a no ser quando suspensos no ar.

    A.: , verdade. E eu vi o fogo no apagado repousar na gua.

    P.: Tu te referes ao slex, parece-me.

    A.: , isso mesmo! Vi um morto sentado sobre um vivo e no riso do morto, morreu o vivo.

    P.: Isto sabem nossos cozinheiros.

    A.: Mas, psst!, pe teu dedo sobre a boca; no acontea que os meninos ouam o que . Fui eucom outros a uma caada, na qual o que apanhamos no trouxemos conosco e o que nopudemos caar, sim, trouxemos conosco.

    P.: a caada dos camponeses, no ?

    A.: . Vi o que nasceu, antes de ser concebido.

    P.: Viste e talvez comeste.

    A.: Comi. O que o que no e tem nome e responde a quem faz barulho?

    P.: Pergunta aos papiros na floresta.

    A.: Vi um morador correndo junto com sua casa; ele calava, mas ela fazia barulho.

    P.: Prepara-me uma rede e eu to mostrarei.

    A.: Quem o que no podes ver, seno de olhos fechados?

    P.: O que dorme profundamente indicar-te-.

    A.: Vi um homem com oito na mo; de oito, tirou sete e ficou com seis.

    P.: As crianas, na escola, sabem isso.

    A.: O que que sem cabea fica maior?

    P.: Vai a tua cama e descobrirs.

    A.: Eram trs: um, nunca nasceu e morreu uma vez; outro, nasceu uma vez e nunca morreu; oterceiro, nasceu uma vez e duas vezes morreu.

    P.: O primeiro homnimo da terra; o segundo, do meu Deus; o terceiro, do homem pobre.

    A.: Dize as iniciais dos nomes.

    P.: 1, 5 e 12.

    7

  • 6/10/2014 Dilogo entre Pepino e Alcuno (c. 781-790) | Histria Medieval - Prof. Dr. Ricardo da Costa

    http://www.ricardocosta.com/traducoes/textos/dialogo-entre-pepino-e-alcuino-c-781-790 9/9

    A.: Vi uma mulher voando, ela tem o bico de ferro, o corpo de madeira, a cauda emplumada e portadora da morte.

    P.: a companheira dos soldados.

    A.: Que o soldado?

    P.: A muralha do Imprio, o pavor do inimigo, um servio glorioso.

    A.: O que que e que no ?

    P.: O nada.

    A.: E como pode ser e no ser?

    P.: enquanto palavra; no , enquanto realidade.

    A.: Quem o mensageiro mudo?

    P.: O que tenho aqui comigo.

    A.: O que tens a contigo?

    P.: Uma carta tua.

    A.: Que a leias com proveito, filho.

    Notas

    Patrologia Latina (PL) 101, 975-980.

    Cf. Heb 9, 15-17.

    H, no original, um jogo de palavras: homo-pomo.

    Frigorificus o que tem febre (cf., por exemplo, Gregrio de Tours in PL 71, 711C ou 325A ou 771B. Devoesta observao, e a seguinte, ao saudoso D. Joo Mehlmann O.S.B.

    "Louvo aquele que disse que as esperanas so os sonhos dos acordados", diz tambm ANTONIUSMELISSA PG 136, 788C. A formulao atribuda a Aristteles (DIGENES LARCIO, De vitis phil., 1.5, I,11,18).

    Mirum, admirvel, designa tambm adivinha.

    O original, provavelmente enganado, diz 1, 4 e 12.

    1.

    2.

    3.

    4.

    5.

    6.

    7.