Além do preconceito 15

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Além do Preconceito é um desses livros que nos leva a entender o nosso próprio limite, a visualizar dentro de nós a nossa incapacidade de amar o outro e ao mesmo tempo se amar. É uma lição de como devemos encarar os monstros que criamos, sem que possamos encontrar rédeas para freá-lo. Numa linguagem simples, nos ensina a termos coragem para aprender com aqueles que achamos inferiores, pois, na verdade, somos nós que somos limitados.

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São Paulo – 2016

Além do preconceitoWilton da Silva Altino

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Copyright © 2016 by Editora Baraúna SE Ltda.

Capa Jose Junatas da Costa

Diagramação Camila C. Morais

Revisão Priscila Loiola

CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTESINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ

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A469a

Altino, Wilton da Silva Além do preconceito / Wilton da Silva Altino. - 1. ed. - São Paulo : Baraúna, 2015.

ISBN 978-85-437-0438-8

1. Altino, Wilton da Silva -- Narrativas pessoais. 2. Autobiografia. I. Título.

15-26382 CDD: 928.69 CDU: 929:821.134(81)

________________________________________________________________14/09/2015 15/09/2015

Impresso no BrasilPrinted in Brazil

DIREITOS CEDIDOS PARA ESTAEDIÇÃO À EDITORA BARAÚNA www.EditoraBarauna.com.br

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Dedicatória

Eu quero dedicar este trabalho aos meus familiares, irmãos, parentes e amigos. Todos aqueles que acreditaram na minha inteligência e capacidade de fazer alguma coisa.

Mas, principalmente, a duas pessoas, uma delas, não se encontra mais entre nós, minha saudosa mamãe Ana-cleta, que foi a responsável por tudo que eu sou hoje, e meu pai Antônio.

É essa a minha dedicação. WILTON ALTINO

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Apresentação

O que dizer do escritor e poeta Wilton? Poderia eu, no auge da minha intelectualidade, fazer usufruto de uma gleba de palavras para satisfazer o seu ego, mas como um amante da superação impostas por certos preconceitos, me curvo diante da sua sapiência e agradeço a Deus por tê-lo como meu amigo, pois o seu livro não é simplesmente uma história, é, na verdade, um ensinamento para aqueles que não têm a coragem de lutar pelos seus ideais e espera que só Deus faça a sua parte. É amigo abençoado por Deus.

(Prof. Jonatas.)

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Com as letras se formam as palavras, com as palavras se escrevem frases, com as quais os poetas fazem verso, poesia e grandes histórias de amor. E é no mundo dos po-etas que gostaria de navegar, pegando carona nas asas da saudade para voltar ao passado, e, também, contar uma história que é muito emocionante e verdadeira.

Essa história que vou narrar é a vida de um rapaz defi-ciente nascido em Teresina, capital do Piauí, dia 12 de no-vembro de 1967. Essa pessoa de que estou falando sou eu mesmo, Wilton, pois foi esse o nome que ganhei do meu padrinho de batismo, José Alves de Oliveira, que na época era professor e Sargento da PM daquele Estado e o melhor amigo do meu pai. Sinto-me um rapaz muito honrado por ter esse nome, que foi escolhido por aquele homem.

Wilton de Altino, com certeza alguém já ouviu esse nome algumas vezes pela rádio em vários lugares do Bra-sil. Meu nome completo é: Wilton da Silva Altino, filho de um casal humilde, que não tinha condições financei-ras, mas criou-me dando o mais importante na vida de qualquer criança: amor, carinho e respeito. E assim eu fui crescendo, no interior do Maranhão. Por quê? Nós mu-damos de residência, antes que eu completasse um ano de idade, e foi nesse lugar que comecei a entender algumas coisas da vida.

Eu era uma criança fraquinha, muitas pessoas pensa-vam que não iria sobreviver, mas os cuidados de minha mãe e meu pai foram incansáveis e fizeram com que sobrevivesse. Meu pai me mimava muito, e o seu irmão, que é meu tio, falava pra meu pai: “Compadre Antônio, você está perden-do o seu tempo dengando uma criança doentia, você não vai

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criar ele, porque ele vai morrer, não tem jeito. O senhor sabe que esse menino veio só deixar saudades para vocês”.

Eu, que já sabia de algumas coisas, ouvia aquela proposta desagradável e começava a chorar. Agora ele é um admirador da minha inteligência e fala tão bem da minha pessoa, coisa que eu sei que não mereço; isso foi porque ele reconheceu que estava errado, e todo mundo erra. Errar é humano. Só não pode é permanecer no erro. E meu pai nem ligou para aquilo que seu irmão falou e continuou cuidando de mim com alegria e afeto.

Quando eu tinha 4 anos, nós tornamos a mudar de moradia, e foi nesse lugar que eu conheci várias pessoas, algumas delas até hoje são meus amigos. Foi nesse lugar que a minha irmã se casou e meu irmão nasceu. Com cinco anos de idade, eu não me segurava sentado, foi pre-ciso meu pai pegar um tamborete, tirar uma peça dele e virar com as pernas pra cima, e minha mãe forrar com uns panos e me sentar, e foi naquele assento que eu fiquei até os nove anos de vida. Como todas as crianças necessi-tam de brincar, comigo não foi diferente, mesmo sem ca-minhar e não pegar nada com as mãos, algumas vezes eu saía me arrastando para fora de casa para brincar na areia com um carrinho e outros brinquedos que eu ganhava de algumas pessoas, e gostava também de ficar debaixo da sombra de algumas árvores; a laranjeira, a mangueira, a goiabeira e outras mais.

Naquele tempo, meu pai comprou um rádio de pi-lha, e foi ouvindo o rádio que comecei a gostar de música e outras coisas relacionadas a esse meio de comunicação. Mas o que eu mais gostava era de ouvir histórias, contos

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de fadas, que falavam de reinado, rei, rainha e princesa. Histórias de aventura e romance, de briga, quero dizer, aquelas literaturas de cordel e outras histórias que meu pai contava pra mim, quando eu tinha 9 anos.

Meu pai resolveu ir embora para a Transamazônica, estado do Pará, no KM 258, próximo ao rio Arataú, e nós viemos morar em uma vicinal que ficava a 10 quilômetros fora da estrada. Não tinha caminho, era apenas uma vere-da. Para eu vir, me carregaram num paneiro. Pra quem não sabe, o paneiro é um cestão que o homem carregava nas costas feito com cipó da mata no qual cabem quarenta li-tros de cereais ou até mais de quarenta. Colocavam alguma coisa dentro até ficar pelo meio, forravam com uns panos e me colocavam dentro, e foi assim que eu cheguei naquela nova moradia, que era só mata pra todos os lados.

O barraco que era coberto com palha de coco de babaçu era no aberto, não tinha nada lá dentro e nem lá fora, só eram três pessoas: minha mãe, meu pai e eu. O meu irmão mais novo tinha ficado no Maranhão com a minha avó, não tinha casa por perto, o vizinho mais pró-ximo ficava na distância de 500 metros. Mas eu, que era inocente, achava ótima aquela aventura.

A gente ia se banhar no riacho, e eu via coisas que não conhecia: os peixinhos brincando na água, o açaizal com os cachos e os frutos maduros, o verde da floresta, o azul e o branco do céu e uma grande variedade de espécies de pássaro. Eu ficava encantado com o cantar daqueles pássaros colori-dos: periquitos, araras, papagaios, tucanos, jacus e outros. Mas também gostei de saborear algumas frutas da mata como o próprio açaí, cupuaçu, bacaba e a famosa castanha do Pará.

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Assim a gente foi vivendo, eu já estava me seguran-do sentado sem precisar da cadeira, pois meu pai tinha comprado dois vidros de remédios pra eu tomar, e eu me dei bem. Eu melhorei um pouco; assim o tempo foi passando lentamente. A única diversão que tinha era um rádio a pilha, eu gostava de ouvir os programas do rádio e escutava algumas emissoras de longo alcance, por exem-plo, a rádio pioneira de Teresina, a difusora de São Luis do Maranhão, a rádio Clube de Belém do Pará, a Brasil Central de Goiânia-Goiás, a Tupi do Rio de Janeiro e depois apareceu a Rádio Nacional da Amazônia, e foi ou-vindo essas rádios que eu tornei-me um ouvinte especial.

As coisas melhoraram um pouco quando a minha irmã, seu marido, seus três filhos e meu irmão vieram do Maranhão para morar com a gente, assim eu não ficava mais sozinho quando minha mãe saía pra fonte ou pra outros lugares... Lembro-me que um dia, eu e meu ir-mão estávamos sentados em uma esteira de palha de coco quando eu vi as galinhas espantadas, fiquei olhando pra ver o que era, para a minha surpresa, apareceu dentro de casa uma cobra enorme, daquelas venenosas, e vinha no nosso rumo. Já estava perto, dava só uns quatros metros pra onde nós estávamos, e eu falei: “Neto, olha a cobra!”.

Ele, que era pequeno, não iria enfrentá-la. Quando ele viu a cobra, não pensou duas vezes, se levantou e correu gritando para fonte onde minha mãe estava, meu pai tam-bém estava trabalhando perto e ouviu os gritos do menino e perguntou: “O que é isso?”. Ele respondeu: “Tem uma cobra dentro de casa”. Pai e mãe ouvindo aquilo deixaram tudo que estavam fazendo e foram pra casa correndo, a

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minha irmã mais seu esposo que moravam perto da gente ouviram os nossos gritos de alarme e foram pra onde eu estava. Chegaram os quatros de uma vez, meu pai, minha mãe, minha irmã e meu cunhado, e uma daquelas pessoas me tirou do sufoco, porque o Neto correu.

Eu virei e fiquei rolando, até cair dentro de uma vala que foi feita pra escorrer a água da chuva, enquanto alguém me pegava, meu pai dominava aquela serpente que já vinha encostando-se a mim, dava só um metro pra onde eu estava.

Depois daquele susto, todos nós respiramos ali-viados. Minha irmã me levou pra casa dela e meu pai e minha mãe voltaram para o serviço. Com poucos minu-tos, o meu cunhado e seu irmão viram outra cobra ainda maior do que a primeira e vinha no rastro da outra, os dois homens quiseram pegá-la, mas essa entrou em um buraco no chão desaparecendo para nunca mais...

Meu sobrinho Antônio, eu e minha irmã Delzuita

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Eu gostava de ver a roça quando era tempo de co-lheita, meu pai me levava para a casinha da roça, e lá eu comia milho verde assado, melancia, tomate e outras fru-tas, e gostava também de ver o arroz maduro. Gostava de ver meu pai e minha mãe colhendo, porque meu pai era um agricultor que para plantar, antes tinha que trabalhar pesado, roçava com a foice e derrubava de machado.

Nesse lugar, aos poucos as coisas foram se modi-ficando, foram chegando outras famílias e com algum tempo formaram uma escola, mas ficava distante da mi-nha casa uns 4 quilômetros.

Naquela escola, estudava as crianças da região, dessa forma a criançada iria ter a oportunidade de aprender a ler e a escrever.

Um dia, eu estava na casa da vizinha quando passou uma professora de outro setor, que falou para meu pai que se morasse perto de mim, ela iria me ensinar a ler. Eu ouvi isso e fiquei calado, pensando comigo que eu nunca iria aprender alguma coisa.

Na época, eu tinha treze anos de idade, e não demorou muito tempo para meu irmão começar a estudar naquele colégio. Era muito difícil, os alunos tinham que enfrentar água, lama, além de outras dificuldades, para chegar até a escola. Eu via meu irmão e meu primo andando para a escola e ia ler a lição deles, e aquilo foi o suficiente pra que