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Universidade Estadual de Santa Cruz

GOVERNO DO ESTADO DA BAHIAJaques Wagner - Governador

SECRETARIA DE EDUCAÇÃOOsvaldo Barreto Filho - Secretário

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZAdélia Maria Carvalho de Melo Pinheiro - Reitora

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DIRETORA DA EDITUSMaria Luiza Nora

Conselho Editorial:Maria Luiza Nora – Presidente

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Lourival Pereira JúniorRaimunda Alves Moreira de Assis

Ricardo Matos Santana

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DIRETORA DA EDITUSMaria Luiza Nora

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Rita Santana

Ilhéus - Bahia2012

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©2012 by Rita Santana

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PROJETO GRÁFICO E CAPAGeorge Pellegrini

Ilustrações de capa:La columna rota, de Frida Kahlo (capa)

Lovers Man and Woman, de Egon Schiele (4ª capa)

REVISÃOMaria Luiza Nora

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

S232 Santana, Rita Alforrias / Rita Santana. - Ilhéus : Editus, 2012. 76p.

ISBN: 978-85-7455-271-2 1. Poesia brasileira. I. Título.

CDD – 869.93

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Às tias Dadá (in memoriam), Edna, Solange e Olívia.A Beatriz, minha mãe.A dona Dedé.

AGeorge e Baísa, a minha gratidão por Alforriasvirar livro nesta Casa.

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[...]E de todos, Soturno, nenhum foi tão coalescente

Tão colado à minha carne, como tu foste, ausente.Dirás demasiado. Mas fosca e acanhada, hoje,Peço-te com o luzir dos ossosCom a fragilidade de uma espuma n´águaQue me visites antes do adeus da minha palavra.

Hilda Hilst

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Sumário

PREFÁCIO(13)

A ESCRIBA(21)

ABISMAÇÃO(23)

ÁCAROS E CULPAS(25)

ACRIDEZ(27)

AGRESTIDADE(29)

ANDORINHA(31)

CASTIDADE(33)

CATEDRAL DE MARFIM(35)

CREPÚSCULO DAS VERTIGENS(37)

DESEJO EXU(39)

DESERTO(41)

DIÁRIO DA SEPARAÇÃO(43)

ECO E NARCISO(45)

ELÁDIO(47)

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EMBATE DE VÍBORAS(49)

ESBELTEZ(51)

HERDADE(53)ÍLIO (55)

INCLEMÊNCIAS(57)

MORTES COTIDIANAS(59)

MUDA NUDEZ(61)

O PALÁCIO DE CRISTAL(63)

PERCEPÇÃO DE QUERERES(65)

SELVA(67)

SEVERIDADE DAS HORAS(69)

SOLITUDE DO VENTO(71)

À SOMBRA DO DIVINO(73)

TARDO AMOR(75)

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PREFÁCIO

Dois signos são fundamentais para quem se propõe a apresentar um trabalho literário, a empreender, senão enquanto estratégia, este ato inaugural de leitura: o título e a epígrafe do livro. Começo, então, pelo título do novo trabalho de Rita San-tana - Alforrias, palavra marcada por um elemento da relação escravo/senhor, clímax de um movimento em direção à liberdade.

Poderíamos pensar/dizer: trata-se de uma lírica de temática afrodescendente, e iniciar um percurso em busca dessa mar-ca anunciada.  Dela, no entanto, eclodem dimensões metafóricas que se estendem à condição da mulher frente ao homem (ad-mitindo a possibilidade de um jogo eróti-

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co-amoroso) ou  à relação do poeta com a palavra. Trata-se, na verdade, de uma re-lação suplementar entre planos de sentido propostos nesta leitura, perseguindo rever-berações inerentes à própria constituição do discurso literário e, de modo mais con-tundente, lírico. Como exemplo, destaco o poema “Abismação” – estado equivalente ao poético, faz ecoar o  “Alumbramento” de Manuel Bandeira. Utilizando-se de sig-nos e imagens que remetem ao contexto da escravidão no Brasil – ancestrais, quilom-bola, alambique, moleque, plantação de mandioca, alforria - Rita Santana constrói, num jogo de remissão de sentidos, outras chaves interpretativas, posto que o alambi-que é “de saudades” e a alforria é “dos meus cometimentos”. Amorosos? São apenas su-gestões de leitura.

Diálogo amoroso revelador da herança afro no universo semântico permeia outros momentos de Alforrias. O signo de terri-torialidade, anunciado no título do poema “Herdade”, converte-se em par amoroso marcado pela insubmissão e luta  obsti-nada (“És em mim a Herdade. / O feudo imensurável dos  meus quilombos”).  Em

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“Mortes cotidianas”, o sentimento de ban-zo expressa uma dada condição de mulher. E “Ácaros e culpas” tece  uma imagem de separação: “E você seguiu sem  mim em di-áspora sem par.”

Confi gura-se no livro Alforrias a exis-tência de uma voz inequivocamente lírica, que se deixa perceber pelo formato como são concebidos os poemas que o integram e pelas peculiaridades com que são tecidas essas vozes. Note-se que já não falo de uma voz lírica que tudo abarca, mas de uma plu-ralidade de vozes, todas elas pertencentes à construção poética de um mesmo sujei-to: Rita Santana. Sem dúvida, trata-se da poesia de uma mulher, com suas variadas nuances, que passam a circunscrever luga-res discursivos referentes a duas principais linhas de força:  a percepção feminina sen-sorial, corpórea, de si e do masculino, e a afi rmação da palavra como o lugar de inser-ção do poeta no mundo.

O primeiro poema – “A Escriba” – é o espaço em que o eu lírico (que é também Rita Santana) assume-se como poeta. Lugar de compromisso, traça uma diferença entre “a escrivã das coisas vãs” e “a escriba criva-

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da de falas” (ela própria, agente da poesia), lembrando ao leitor a oposição estabelecida por Roland Barthes entre o escritor-escre-vente e o scriptor. Escriba que voltará a se afi rmar no poema “Severidade das Horas” (“Enquanto também eu canto / Meu pran-to doce de Escriba”)

Na vertente anunciada por este poe-ma inaugural, incluem-se outros. O poema “Andorinha”  realça a matéria poética e o lugar do poeta, embora em outra dicção, que tangencia o mais comum da vida (“As andorinhas existem!”) e os sentimentos hu-manos, em especial, a dor da perda, a au-sência. Destaca-se nesse poema o jogo de palavras, atenuador, em alguns momentos, da solenidade ou complexidade poética de outros.

O diálogo entre a poeta e a mulher afl ora no poema “Deserto”, quando essas duas identidades permitem o confronto en-tre duas dimensões temporais: “Ainda on-tem estive mulher e foi bom. / Hoje, sou dada a versos e continuo a ser mulher.” Já em “À sombra do Divino”, reserva-se o es-paço do sagrado como refúgio para a soli-dão do poeta anunciada no verso inicial (“A

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quem dedicar versos, se estou só?”).Chegamos, fi nalmente, nesse traçado

de leitura dos poemas de Alforrias, à ver-tente erótico-amorosa, cuja temática do-minante permite aglutinar as demais, nelas ampliando-se ou fazendo-as convergir para si. Num traçado dos perfi is feminino e mas-culino, a identifi cação do segundo a partir do olhar do primeiro, estabelece-se uma gradação do mais sugestivamente ao mais explicitamente erótico, de acenos a uma corporeidade e percepção dos sentidos. Na confl uência do erotismo com a violência e a perversão, o  poema “Embate de víboras” estabelece uma síntese na estrofe fi nal: “Eu e Tu:  / Adultério, torpezas e vilanias.”

Já  no poema “Ílio”, questiona-se a identidade feminina a partir de elementos do seu corpo. E em “Muda Nudez”, explici-ta-se no corpo o pertencimento da mulher a um homem. O poema “Acridez” transita no limiar ou fronteira entre  o prazer e a dor, e “Crepúsculo das Vertigens” acentua as contradições e complexidades da relação masculino / feminino.

     Concluo, afi rmando: nenhuma epí-grafe é  inocente. Também assim acontece

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com Rita Santana, ao eleger a companhia de Hilda Hilst para abertura de Alforrias. Epígrafe cujos rastros seguidos pelo leitor permitiram, ao fi nal, confi rmar-se a exis-tência das linhas de força que dinamizaram esse trabalho poético e o profícuo diálogo entre duas escritoras, sujeitos do espaço da sua respectiva dicção, que guardam entre si uma outra afi nidade, no que toca aos deslocamentos de paradigmas literários.  A despeito do signifi cativo investimento nas sonoridades da língua, tão adequado à ex-pressão lírica, Rita Santana consegue asso-ciar concisa dicção lírico-dramática a uma expansão (sem derramamento) dos temas eleitos, que se desdobram em nuances ou vertentes de matizes diversos. Marcas que delineiam o perfi l do seu livro Alforrias. 

Lígia Telles

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