A Transferência:A Transferência:Uma leitura Uma leitura

Comparativa:Comparativa:• FERREIRA NETTO, Geraldino. Afinal, o que é a transferência; Doze Lições sobre Freud & Lacan; 2010; 47-62,

•LACAN, Intervenção sobre a Transferência; Escritos: 214-5;

Afinal, o que é a Afinal, o que é a transferênciatransferência

• Um fenômeno universal do amor;• Um fenômeno de confiança (crença)

mitológica;

Definição:Definição:• Processo constitutivo do tratamento

psicanalítico, mediante o qual, os desejos inconscientes do analisando, concernentes a objetos externos, passam a se repetir, no âmbito da relação analítica, na pessoa do analista, colocado na posição desses diversos objetos.

Apud( FERREIRA NETTO:2010,47).

Termos EsclarecidosTermos Esclarecidos• Transferência positiva: sentimentos amáveis;• Transferência negativa: sentimentos hostis;• Neurose de Transferência: substituta da

neurose original – neurose artificial dirigida ao analista pela repetição do drama edípico;– Histeria, obsessão e fobia;

• Neurose Narcísica: na neurose narcísica a libido reverteu-se para o Eu

A questão da TransferênciaA questão da Transferência• Uma oportunidade de manejo e de

interpretação da história recalcada;• E reação terapêutica negativa – recusa da

cura;• “um reviver do Complexo de Édipo, em

que o analista representa simbolicamente a mãe, o pai, ou os irmãos. Com isto, o paciente está solicitando ao analista que atualize também a operação de castração, evitando que a relação incestuosa imaginária se instaure ali novamente”

ContratransferênciaContratransferência• Conjunto das manifestações do

inconsciente do analista, relacionadas com as da transferência de seu paciente (apud FERREIRA NETTO: 2010, 52).

LACAN e a transferênciaLACAN e a transferência

Um sumário por Elizabeth Um sumário por Elizabeth RoudinescoRoudinesco

• - Intervenções Sobre a transferência: "a relação transferencial como uma sequência de inversões dialéticas, e sublinhou que os momentos "fortes" da transferência inscreviam-se nos tempos "fracos" do analista. A cada inversão, o analisando avança na descoberta da verdade

• - O Seminário, livro 8 - a transferência: introdução do desejo do psicanalista. Utilizando de uma adaptação de o Banquete, colocando Sócrates na posição de psicanalista apontando que o amor que o verdadeiro objeto de amor de Alcibíades é Agatão. A transferência é feita do mesmo estofo que o amor comum, mas é um artifício, uma vez que se refere inconscientemente a um objeto que reflete outro.

• - o Seminário, livro 9 - a identificação: a materialização de uma operação que se relaciona com o engano que consiste em o analisando instalar o analista no lugar do 'sujeito suposto saber', atribuir-lhe o saber absoluto.

• - O Seminário - livro 11: encenação , através da experiência analítica, da realidade do inconsciente, ligando a transferência com a pulsão.

(Roudinesco: 1998, 769)

Uma denúncia em 1958 Uma denúncia em 1958 • uma parcialidade e uma vulgaridade

no uso do termo:– "a sucessão ou a soma dos sentimentos

positivos ou negativos que o paciente vota a seu analista" (608)

Dúvidas em aberto:Dúvidas em aberto:• será que é o mesmo efeito da relação com o

analista que se manifesta no enamoramento primário observado no início do tratamento e na trama de satisfações que torna essa relação tão difícil de romper, quando a neurose de transferência parece ultrapassar os meios propriamente analíticos?

• Será que são a relação com o analista e sua frustração fundamental que, no segundo período da análise, sustentam a escansão [(ato de averiguar a métrica poética)] frustração-agressão-regressão, em que se inscreveriam os efeitos mais fecundos na análise?

ObservaçãoObservação• o manejo da transferência é idêntico

à noção dela, e ppor menos elaborada que seja esta na prática, ela só pode incluir-se nas parcialidades da teoria.

A Transferência no Caso Dora e A Transferência no Caso Dora e as Inversões Dialéticasas Inversões Dialéticas

Primeiro desenvolvimento da Primeiro desenvolvimento da Verdade e usa inversãoVerdade e usa inversão

O Cenário descrito por DoraO Cenário descrito por Dora• "A Sra K e seu pao são amantes há tantos e

tantos anos, dissimulando isso sob a ficções às vezes ridículas. Mas, o cúmulo é que, desse modo, ela é oferecida sem defesa às investidas do Sr. K., para as quais seu pai fecha os olhos, tornando-a com isso objeto de uma troca odiosa“ (Escritos, 218)

• "Esses fatos estão aí, dizem respeito à realidade, e não a mim mesma. O que o senhor quer mudar nisso aí?“ (Escritos, 219)

O que toca a Freud na O que toca a Freud na transferência:transferência:

• Qual a resposta que ela esperava de Freud, se pinta um quadro no real?

• Lacan sugere que Freud está, como homem, sob suspeita. Ela o toma pela natureza de seu pai, e por exemplo de homem: o todo por sua parte: Lacan diz: “depois de colocar Freud à prova, irá ele mostrar-se tão hipócrita quanto o personagem paterno?”

O deslizamento dos O deslizamento dos significantes sobre o nome-do-significantes sobre o nome-do-

PaiPai

Fragmento:Fragmento:• Quando ficava com o ânimo mais exasperado,

impunha-se a ela a concepção de ter sido entregue ao Sr. K. como prêmio pela tolerância dele para com as relações entre sua mulher e o pai de Dora; e por trás da ternura desta pelo pai podia-se pressentir sua fúria por ser usada dessa maneira. Noutras ocasiões, ela sabia muito bem que era culpada de exagero ao falar assim. Naturalmente, os dois homens nunca haviam firmado um pacto formal de que ela fosse tratada como objeto de troca, tanto mais que seu pai teria recuado horrorizado ante tal insinuação. Mas ele era um desses homens que sabem como fugir a um conflito falseando seu julgamento sobre uma das alternativas em oposição (FREUD: 1905);

O nó de Dora: O nó de Dora: • Ao dizer, “o que o senhor quer”, o

sujeito do desejo é o desejo do outro, de Freud, inscrevendo Dora na passividade feminina e histérica como barrada em seu próprio desejo;

• Assegura uma expectativa no Real – “não há o que fazer”;

• Um imaginário sobre Freud que ocupa o lugar especular de seu pai, de homem;

A Inversão dialética: “Qual sua A Inversão dialética: “Qual sua parte nisto”?parte nisto”?

• Requer a presença do simbólico e continuação da análise gravitada pela transferência;

• é comparado àquilo que insurge contra o mundo na lei do coração;

O Segundo Desenvolvimento O Segundo Desenvolvimento da Verdade e sua inversãoda Verdade e sua inversão

Dora: Cúmplice e ProtetoraDora: Cúmplice e Protetora• Seu silêncio sobre o caso;• O jogo dos presentes reescreve sua posição

do quarteto: “sutil circulação de presentes preciosos”;– Dora recebe presentes de seu pai;– Recebe presentes do Sr. K, pelo dinheiro que lhe

sobra graças ao dinheiro que seu pai dá a sra. K;• Relação Edipiana de Dora com uma

identificação com o pai – a fortuna e impotência sexual pela base semântica de Vermögen;

• Por que Dora tem ciúmes de seu pai?

Os Presentes do Pai de DoraOs Presentes do Pai de Dora• “Não havia dúvida alguma de que ela [Sra.

K] aceitava dinheiro dele, pois fazia gastos que seria impossível sustentar com seus recursos ou com os do marido. O pai começara também a dar grandes presentes à Sra. K. e, para disfarçá-los, tornou-se ao mesmo tempo particularmente generoso com a mãe de Dora e com ela própria. E a Sra. K., até então doentia, ela mesma obrigada a passar meses num sanatório para doentes nervosos por não poder andar, tornara-se agora uma mulher sadia e cheia de vida. (FREUD: 1905)

A Beleza dos Presentes do Pai A Beleza dos Presentes do Pai de Dorade Dora

• Noutra ocasião, mais triste do que com raiva, ela me disse estar convencida de que os presentes que o pai lhe oferecia eram escolhidos pela Sra. K., pois reconhecia seu gosto. De outra feita ainda, ela assinalou que a haviam presenteado, evidentemente por intervenção da Sra. K., com algumas jóias que eram exatamente idênticas às que vira na casa dela, expressando então em voz alta o desejo de possuí-las.

FragmentosFragmentos• a Sra. K. só amava seu pai porque ele era

“ein vermögender Mann” [“um homem de posses”], certos pormenores da maneira como se expressou (que omito aqui, como a maioria dos aspectos puramente técnicos da análise) levaram-me a notar que por trás dessa frase se ocultava seu oposto, ou seja, que o seu pai era “ein unvermögender Mann” [“um homem sem recursos”]. Isso só poderia ser entendido num sentido sexual - que seu pai, como homem, era sem recursos, era impotente (Freud, 1905);

Presentes do Sr. KPresentes do Sr. K• Assim, o Sr. K. pôde enviar flores a

Dora todos os dias por um ano inteiro enquanto esteve por perto, aproveitar todas as oportunidades de dar-lhe presentes valiosos e passar todo o seu tempo livre na companhia dela, sem que os pais da moça discernissem nesse comportamento o caráter de uma corte amorosa.

O Momento da InversãoO Momento da Inversão• Por que Dora tem ciúmes de seu pai

diante de tantas vantagens?• A segunda inversão dialética

A Segunda Inversão A Segunda Inversão DialéticaDialética

• Dora tem ciúmes de sua rival e tendência à inversão (?);

FragmentoFragmento• Por trás da seqüência hipervalente de

pensamentos que se ocupavam com as relações entre o pai de Dora e a Sra. K. ocultava-se, de fato, um impulso de ciúme cujo objeto era essa mulher - ou seja, um impulso que só se poderia fundamentar numa inclinação para o mesmo sexo. Há muito se sabe e já se tem assinalado que, na puberdade, com freqüência, tanto os meninos quanto as meninas, mesmo nos casos normais, mostram claros indícios da existência de uma inclinação para pessoas do mesmo sexo.

Terceiro Desenvolvimento da Terceiro Desenvolvimento da VerdadeVerdade

• Dora é fascinada pela brancura do corpo da senhora K;

• A troca de amabilidades entre as duas no interesse compartilhado pelo pai de Dora;

• As confidências sexuais que a Sra. K deixou vazar à seu marido, traindo Dora.

• Por que Dora era fiel a Sra. K?

Terceira Inversão dialéticaTerceira Inversão dialéticaO Valor Real de Objeto da Sra. O Valor Real de Objeto da Sra.

K para DoraK para Dora

• O mistério de ser feminino;• Dora sente-se, como mulher,

funcionalmente despedaçada – estádio do espelho, e a Sra. K é um ideal de contemplação;

Suas lembranças e Suas lembranças e desfragmentação na repetição desfragmentação na repetição

e na transferênciae na transferência

• Sua mais antiga lembrança: chupar seu polega enquanto puxa a orelha do irmão;– A feminilidade inseparável da fixação oral -

autogratificação;– O irmão como primeiro investimento de objeto;

• Tal investimento primário repetem nas figuras do Sr. K e Freud, e para Freud constitui um elo com a transferência (os fumantes do Sonho).

Concluindo a situação de Concluindo a situação de DoraDora

Seu problema é em aceitar-se como objeto de desejo do homem.

Conclusões de Lacan sobre a Conclusões de Lacan sobre a transferênciatransferência

• A transferência não é nada de real no sujeito senão o aparecimento, num momento de estagnação da dialética analítica, dos modos permanentes pelos quais ele constituí seus objetos (224);

Conclusões de Lacan sobre a Conclusões de Lacan sobre a transferênciatransferência

• Interpretar a transferência é preencher com um engodo o vazio desse ponto morto - útil para reativar o processo.

Conclusões de Lacan sobre a Conclusões de Lacan sobre a transferênciatransferência

• a transferência não resulta de nenhuma propriedade misteriosa da afetividade e, mesmo quando se trai sob uma aparência de emoção, esta só adquire sentido em função do momento dialético em que se produz

Conclusões de Lacan sobre a Conclusões de Lacan sobre a transferênciatransferência

• a transferência tem sempre... o sentido de indicar os momentos de errância e também de orientação do analista, o valor de nos convocar à ordem de nosso papel: um não agir positivo, com vistas à ordodramatização (verdade ficcional) da subjetividade do paciente.

As contribuições de Lacan para As contribuições de Lacan para a formulação Freudianaa formulação Freudiana

• Separar o conceito de transferência e repetição;

• Os fenômenos da transferência (repetição, sugestão, resistência, amor e neurose de transferência) são comuns, úteis mas não indicam a estrutura da transferência;

A Estrutura da TransferênciaA Estrutura da Transferência• É a posição do sujeito-suposto-saber;• Analisando precisa dessa suposição sobre

o saber do analista sobre si;• O analisando transfere o saber sobre si

mesmo para o analista. Como o saber do sonho, saber não sabido;

• O manejo adequado da transferência é a transferência simbólica: “o manejo da transferência é idêntico à noção dela, e por menos elaborada que seja esta na prática, ela só pode incluir-se nas parcialidades da teoria” (Escritos).

O Sujeito do Suposto SaberO Sujeito do Suposto Saber

• O Sujeito suposto saber é, para nós, o eixo a partir do qual se articula tudo o que acontece com a transferência. Cujos efeitos escapam quando, para apreendê-los, faz-se uma pinça com o desajeitado pun que vai da necessidade da repetição à repetição da necessidade (Outros Escritos)

SSSSSSSignificante da transferência, de

um sujeito, aquilo que supõe apenas a particularidade, supondo

mais outras coisas.

representa o sujeito resultante, implica dentro dos parênteses o

saber, supostamente presente, dos significantes que estão no

inconsciente, significação esta que faz as vezes do referencial ainda

latente na relação terceira que o liga ao par significante-significado.

A Estrutura da TransferênciaA Estrutura da Transferência• O Analista funciona como posição:

especular – testemunhal: vai refletir o que se passa no inconsciente do analisando;

• Transferência simbólica é a que facilita a associação livre: palavras proferidas uma por causa da outra – a maneira como um significante representa o sujeito para outro significante, retroativamente;

• Na transf. Imaginária: o analista ocupa local de cuidador – um meio para a transferência simbólica pela reinserção da castração.

LACAN E O DESEJO DO LACAN E O DESEJO DO ANALISTAANALISTA

• Termo para para ocupar o lugar da contra-a-transferência;

• Amor do analista é pelo processo analítico; Desejo pelo processo analítico ao bem do paciente.

• Desejo constituído, depurado e provado na análise pessoal longe das gratificações do processo primário;

• O analista é o objeto a: causa de desejo do analisando [pela análise], interessado (endereçado ao) no analista.

AMOR E TRANSFERÊNCIAAMOR E TRANSFERÊNCIA• Amor é dar o que não se tem (a

alguém que não o quer) - um dilema das suposições.– Amante supõe uma completude

imaginária no amado;– Amado supõe uma plenitude imaginária

no amante;– Só que as suposições são imaginárias

(narcísicas), reversíveis na função e na vicissitude pela condição faltante;

O a do Objeto aO a do Objeto a• Banquete: "Começarei dizendo que Sócrates é

semelhante a esses silenos que se encontram nas oficinas dos estatuários;... quando se abrem estas estátuas, vê-se que no interior se aloja um deus". O que continham estas estátuas, ninguém sabe ao certo. Lacan sugere: ornamentos, enfeites, jóias, ex-votos, fetiches; eram sempre objetos preciosos e brilhantes, chamados de "Agalma", de onde Lacan extrai a letra "a" do "objeto a". São correlatos, na psicanálise, aos conceitos de objeto parcial, objeto do desejo, “objeto a”, falo. Tê-lo ou sê-lo, é a dialética que gira em tomo do falo, este "objeto privilegiado no campo do Outro". O homem não é sem tê-lo, e a mulher é sem tê-lo. "É na proporção de uma certa renúncia ao falo que o sujeito entra na posse da pluralidade dos objetos que caracterizam o mundo humano".

(FERREIRA NETTO, in Site: http://migre.me/aD0j6)

A Conclusão LacanianaA Conclusão Lacaniana• “Se o amor é dar o que não se tem, é

verdade que o sujeito pode esperar que isso lhe seja dado, uma vez que o psicanalista nada mais tenha a lhe dar. Mas nem mesmo esse nada ele lhe dá, e é bom que seja assim: e é por isso que se paga a ele por esse nada, e generosamente, de preferência, para deixar bem claro que, de outro modo, isso não valeria grande coisa”