Alimentação de vacas em lactação

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 Alimentação de vacas em lactação (Parte I) Artigos Técnicos Publicado em 17/10/2004 por Marcos Lana Costa, Zootecnista, M.Sc. O ciclo de lactação de uma vaca leiteira deve ser, de aproximadamente, 12 a 13 meses. A lactação começa no dia do nascimento do bezerro e continua pelos próximos 305 dias (considerando uma lactação de aproximadamente 10 meses). Os 45-60 dias seguintes são denominados período seco. Este é um período de transição para a lactação seguinte. Durante o período seco a vaca não produz leite, mas utiliza os nutrientes para o feto e para regenerar as células produtoras de leite do úbere, preparando-se para a próxima lactação. Conforme ilustrado na figura acima, durante a lactação, a produção de leite, a ingestão de matéria seca e o peso corporal seguem um modelo típico de mudança. Com base nessas mudanças, quatro fases distintas de alimentação podem ser definidas: Figura 1: Ciclo de lactação e mudanças esperadas na p rodução de leite, na ingestão de matéria seca e no peso corporal. 1) Balanço energético negativo; pico da produção de leite ( 0 a 70 dias da lactação). A produção de leite aumenta mais rapidamente do que a ingestão de matéria seca. A demanda de energia é maior do que a quantidade de energia que a vaca é capaz de ingerir. A vaca mobiliza res ervas corporais e pe rde peso. 2) Equilíbrio energét ico; pico de ingestão de matéria seca (70 a 140 dias da lactação). A produção de leite começa a cair enquanto a ingestão de matéria seca continua a aumentar. A demanda de energia para a lactação pode ser alcançada pela quantidade de energia que a vaca é capaz de ingerir. A vaca cessa a mobilização de reservas corporais. 3) Balanço energético positivo; terço médio e final de lactação (140 a 305 dias ou mais da lactação). Ambas, produção de leite e ingestão de matéria seca diminuem gradativamente. A vaca ingere mais energia do que a necessária para a produção

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Alimentação de vacas em lactação (Parte I)

Artigos Técnicos

Publicado em 17/10/2004 por Marcos Lana Costa, Zootecnista, M.Sc.

O ciclo de lactação de uma vaca leiteira deve ser, de aproximadamente, 12 a 13meses. A lactação começa no dia do nascimento do bezerro e continua pelos

próximos 305 dias (considerando uma lactação de aproximadamente 10 meses). Os45-60 dias seguintes são denominados período seco. Este é um período detransição para a lactação seguinte. Durante o período seco a vaca não produz leite,mas utiliza os nutrientes para o feto e para regenerar as células produtoras de leitedo úbere, preparando-se para a próxima lactação. Conforme ilustrado na figuraacima, durante a lactação, a produção de leite, a ingestão de matéria seca e o pesocorporal seguem um modelo típico de mudança. Com base nessas mudanças,quatro fases distintas de alimentação podem ser definidas:

Figura 1: Ciclo de lactação e mudanças esperadas na produção de leite, naingestão de matéria seca e no peso corporal. 

1) Balanço energético negativo; pico da produção de leite ( 0 a 70 dias dalactação).A produção de leite aumenta mais rapidamente do que a ingestão de matéria seca.A demanda de energia é maior do que a quantidade de energia que a vaca é capazde ingerir. A vaca mobiliza reservas corporais e perde peso.

2) Equilíbrio energético; pico de ingestão de matéria seca (70 a 140 dias dalactação). A produção de leite começa a cair enquanto a ingestão de matéria secacontinua a aumentar. A demanda de energia para a lactação pode ser alcançadapela quantidade de energia que a vaca é capaz de ingerir. A vaca cessa amobilização de reservas corporais.

3) Balanço energético positivo; terço médio e final de lactação (140 a 305 dias oumais da lactação). Ambas, produção de leite e ingestão de matéria seca diminuemgradativamente. A vaca ingere mais energia do que a necessária para a produção

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de leite e, consequentemente, as reservas corporais são repostas. A vaca ganhapeso corporal.

4) Período seco (45 a 60 dias antes da próxima lactação).

A vaca não está em lactação e deve estar gestante de 7 meses.

A seguir, apresentaremos maiores detalhes sobre as diferentes fases do cicloprodutivo.

FASE 1. Balanço energético negativo; pico de produção de leite  

Saúde e nutrição durante a fase inicial d lactação são pontos críticos paraperformance em toda a lactação. É no início da lactação que se expressa opotencial genético da vaca; se a nutrição e o ambiente não são adequados, aprodução de leite durante toda a lactação será penalizada. Normalmente para umavaca adulta, cada aumento de 1kg de leite no pico da lactação resulta em aumentode aproximadamente 250kg de leite em toda a lactação.

No início da lactação, a vaca está sob muito estresse para produzir grandesquantidades de leite. Entretanto, nesse estádio da lactação, ela tem um limite paraingerir a quantidade necessária de alimento. Dessa forma, no início da lactação, énormal a vaca mobilizar reservas corporais. A habilidade em mobilizar suasreservas corporais contribui para a manifestação de seu potencial genético deprodução de leite. Vacas com alto potencial genético para produção de leitemobilizam grandes quantidades de tecidos corporais até 3 meses da lactação.Vacas de baixo potencial genético para produção de leite mobilizam menosreservas corporais e permanecem em balanço energético negativo por curtoperíodo de tempo (menos de 2 meses).

Vários tecidos do corpo são mobilizados para suprir os nutrientes que não estão emquantidades adequadas na dieta para sustentar a produção de leite. A energia podeser obtida a partir do tecido adiposo (gordura), quantidade limitada de proteína apartir dos músculos e os minerais (cálcio e fósforo) a partir dos ossos. Comoresultado, as vacas podem perder até O,70 kg de peso corporal por dia. A maioriadessas perdas de peso vem da mobilização do tecido adiposo. Quando os nutrientesfornecidos pela dieta não são suficientes para atender seu potencial genético deprodução, a vaca de alta produção continuará a produzir elevadas quantidades deleite às custas das reservas corporais e de grandes perdas de peso corporal. A vacacom baixo potencial genético não é capaz de sustentar alta produção de leite, emconseqüência, o pico da lactação provavelmente será mais baixo e ocorrerá maiscedo.

Forragem e concentrados no início da lactação

Perda excessiva de peso corporal pode ter efeitos prejudiciais na saúde e na

performance reprodutiva da vaca. Dessa forma, os nutrientes da dieta no início dalactação precisam ser ajustados de maneira a evitar perda excessiva de peso.Durante o período seco, a ingestão é baixa (10 a 12 kg de matéria seca) e a dieta écomposta, primariamente, de forragem com quantidades limitadas de concentrado.Por isso, no início da lactação, mais concentrados devem ser adicionados paraaumentar a densidade de energia da dieta. Contudo, tanto a quantidadeinsuficiente como o excesso podem ter efeitos prejudiciais.

A quantidade insuficiente de concentrados pode levar a:

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- Baixa produção de leite (a vaca não atinge o seu potencial genético e o baixo picode produção resulta em baixa produção por toda a lactação);- Perda excessiva de peso corporal e maior o risco de cetose.A excessiva quantidade de concentrados adicionadas rapidamente à dieta no inícioda lactação pode levar a:- Acidose do rúmen;

- Elevado risco de deslocamento de abomaso;- Depressão da ingestão;- Baixa porcentagem de gordura no leite.

A proteína constitui um nutriente crítico no início da lactação. Comparada àenergia, a quantidade de proteína mobilizada por dia é bastante limitada (máximode 145g), fazendo da dieta, praticamente, a única fonte de proteína para atingir asnecessidades da vaca. A síntese de proteína bacteriana no rúmen pode,parcialmente, suprir o requisito diário de proteína da vaca. Dessa forma, no inícioda lactação, recomenda-se uma concentração de proteína bruta de 18 a 19% namatéria seca da dieta (nível indicado pode variar em função dos níveis de produçãoe de consumo). Não somente grandes quantidades de proteína bruta sãonecessárias, mas também é importante a sua natureza. Os requisitos bacterianos

precisam ser atingidos com uma fonte degradável de proteína ou nitrogênioprontamente disponível (NNP, como por exemplo a uréia). Entretanto, uma fraçãoda proteína bruta da dieta precisa ser resistente à degradação rumenal. Estaproteína não degradável é necessária para elevar o suprimento de aminoácidospara a vaca.

Em resumo, a ingestão de energia e proteína será maximizada no início da lactaçãoquando:

- A forragem fornecida for de melhor qualidade;- Suficiente quantidade de proteína degradável e não degradável estiverempresentes na dieta (atingir os requisitos protéicos durante este período ajuda aestimular a ingestão de alimento).- As vacas tiverem acesso contínuo ao alimento fresco;- Qualquer estresse físico e de ambiente forem minimizados.

Importância de uma dieta balanceada no início da lactação

A subalimentação, especialmente em energia, na fase inicial da lactação, temgrande efeito prejudicial por toda a lactação. A grande perda da produção de leitedevido à subalimentação das vacas, nos três primeiros meses de lactação, podenão ser recuperada, mesmo se a dieta for balanceada nos sete ou oito mesessubsequentes da lactação. A diminuição da produção devido à subalimentação ouao desbalanceamento da dieta é proporcional à quantidade de nutrientes(primariamente energia) deficientes na dieta.

Além disso, a habilidade da vaca em elevar a produção de leite quando se fornece

uma dieta balanceada diminui com o avanço da lactação. Menor resposta àadequada suplementação está associada à maneira como as vacas utilizam aenergia nos diferentes estádios da lactação. Depois de atender ao requisito deenergia para mantença, a prioridade seguinte é para a produção de leite no inícioda lactação. À medida que a lactação avança, a prioridade muda em direção àrestauração das reservas corporais perdidas na lactação. Dessa forma, há um efeitoa longo prazo da restrição de energia imposta no início da lactação. A produção deleite nos terços médio ou final da lactação será máxima somente para vacasalimentadas corretamente no início da lactação.

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O tipo de dieta usado no início da lactação afeta não somente a produção de leite eperda de peso, mas também a fertilidade. Embora o ciclo estral (funções ovarianas)possa estar ativo tão cedo quanto 20 a 35 dias após o parto, dificilmente uma novagestação será bem sucedida quando ocorrer o balanço energético negativo (inícioda lactação).

Alimentação de vacas em lactação (Parte Final)

Finalizando o artigo "Alimentação de vacas em lactação" publicado anteriormentenessa seção, descreveremos nessa edição as fases 2 e 3 do ciclo lactacional.

FASE 2. Equilíbrio energético; pico de ingestão de matéria seca

Na segunda fase da lactação, as vacas podem ingerir a quantidade de nutrientesrequerida para manter a produção. As vacas não perdem peso corporal. Pelocontrário, elas mantêm ou apresentam discreto ganho de peso. A cobrição deveocorrer cedo neste estádio para que uma nova gestação se inicie (60 a 70 diasdepois do parto). Nesta fase da lactação, as vacas podem consumir grandes

quantidades de alimento, e devem ser alimentadas com uma dieta que atenda asnecessidades de manutenção de uma elevada produção pelo maior tempopossível.

A persistência da lactação é relativamente constante entre as vacas, contudo, acurva de produção de leite das vacas primíparas é ligeiramente mais persistentedo que das multíparas. Independente do nível de produção de leite, quando asvacas atingem a fase de equilíbrio energético, a produção de leite diminuiaproximadamente 8 a 10% ao mês. O fator persistência pode ser usado paraprever a produção de leite de um determinado mês da lactação com base naprodução do mês anterior.

Os seguintes procedimentos ajudam a manter altos níveis de ingestão e

persistência da lactação:

. A dieta deve ser formulada para atender às exigências nutricionais dos animais(deverá conter 15 a 18% de proteína bruta (base de matéria seca);. Fornecer forragens e concentrados várias vezes ao dia;. Fornecer alimentos de melhor qualidade e palatabilidade;. Estar sempre preocupado em minimizar estresses.

FASE 3. Balanço energético positivo; terços médio e final da lactação

A produção de leite continua a cair, e a ingestão também diminui. Nessa fase, aingestão pode facilmente atingir os requisitos para produção de leite e restauraras reservas corporais perdidas no início da lactação e, dessa forma, as vacaspodem ganhar peso. O ganho de peso corporal ocorre primariamente para reporo tecido adiposo e músculos perdidos no início da lactação. Entretanto, à medidaque a lactação se aproxima do final, a maioria do ganho de peso corporal passa aser devido ao desenvolvimento da placenta e do feto.

FASE 4. Perído seco: 45 a 60 dias antes do parto

Durante o período seco, as vacas continuam a ganhar peso corporal, mas agora oganho é, primariamente, na forma de desenvolvimento da placenta e do feto.

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Manejo e alimentação adequados durante o período seco ajudam a perceber opotencial genético do animal para a próxima lactação e minimiza os problemas desaúde que normalmente surgem próximo ao nascimento do bezerro (febrevitular) ou início da lactação (cetose).

Do ponto de vista alimentar, o período seco pode ser dividido em dois subperíodos. No primeiro, a vaca está secando e a dieta deve ser balanceada paraatingir somente os requisitos de mantença e gestação. No segundo, (15 a 30 diasantes da data prevista para o parto), a vaca é alimentada em preparação para anova lactação. Nessa última fase, maioresquantidades de concentrado poderão ser adicionados à dieta com o objetivo deadaptar a microbiota ruminal e aumentar o consumo de matéria seca. O estresseassociado às mudanças de uma dieta na qual predomina forragem, durante operíodo seco, para uma alta em concentrados no início da lactação será menorquando houver essa pré-adaptação.