All em revista vol 2, no 2, abr/jun, 2015

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ALL EM REVISTA REVISTA (ELETRÔNICA) DA ACADEMIA LUDOVICENSE DE LETRAS NÚMERO ATUAL - V. 2, N. 2, 2015 SÃO LUIS – MARANHÃO – ABRIL A JUNHO

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Revista (eletrônica) da Academia Ludovicense de Letras, vol. 2, n. 2, abril/junho de 2015

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ALL EM REVISTA REVISTA (ELETRÔNICA) DA ACADEMIA LUDOVICENSE DE LETRAS

NÚMERO ATUAL - V. 2, N. 2, 2015 SÃO LUIS – MARANHÃO – ABRIL A JUNHO

A presente obra está sendo publicada sob a forma de coletânea de textos fornecidos voluntariamente por seus autores, com as devidas revisões de forma e conteúdo. Estas colaborações são de exclusiva responsabilidade dos autores sem

compensação financeira, mas mantendo seus direitos autorais, segundo a legislação em vigor.

EXPEDIENTE

NOSSA CAPA: Escudo da ALL

ACADEMIA LUDOVICENSE DE LETRAS

COMISSÃO DE BIBLIOGRAFIA

Álvaro Urubatan Melo Presidente

Ana Luiza Almeida Ferro André Gonzalez Cruz

COMISSÃO DE PUBLICAÇÃO

E EVENTOS

Dilercy Aragão Adler Presidente

Aldy Mello de Araújo Antonio José Noberto da Silva

Sanatiel de Jesus Pereira

CONSELHO EDITORIAL

Sanatiel de Jesus Pereira Presidente

Aldy Mello de Araújo Dilercy Aragão Adler

EDITOR

Leopoldo Gil Dulcio Vaz [email protected]

Rua Titânia, 88 – Recanto de Vinhais 65070-580 – São Luis – Maranhão (98) 3236-2076 # (98) 8119 1322

ENDEREÇO ACADEMIA LUDOVICENSE DE LETRAS Palácio Cristo Rei – UFMA / Sala do Memorial Gonçalves Dias Praça. Gonçalves Dias, 351 - Centro: São Luís - MA. CEP: 65042-240. TELEFONES: (98)3272-9651/9659 Ou Centro de Criatividade Odylo Costa, filho Sala de Multimeios Praça do Projeto Reviver

ALL EM REVISTA Revista (eletrônica) da

Academia Ludovicense de Letras

A Academia Ludovicense de Letras – ALL –, fundada em 10 de agosto de 2013, “tem por finalidade o desenvolvimento e a difusão da cultura e da literatura ludovicense, a defesa das tradições literárias do Maranhão e, particularmente, de São Luís, a perpétua renovação e revitalização do legado da Atenas Brasileira, o culto às origens da cidade e à sua formação pelas letras, a valorização do vernáculo e o intercâmbio com os centros de atividades culturais do Maranhão, do Brasil e do exterior” (Art. 2º, do Estatuto Social). Em seu artigo 58, “Além de outras que venham a ser criadas, constituem o rol permanente das publicações oficiais da Academia a Revista, os Perfis Acadêmicos e a Antologia.”. Esta Revista, apresentada em formato eletrônico, destina-se à divulgação do fazer literário dos membros da Academia Ludovicense de Letras – ALL . Está dividida em sessões, que conterão os: DISCURSOS E PRONUNCIAMENTOS dos sócios da Instituição, e de literatos convidados, não pertencentes ao seu quadro social; ALL NA MÍDIA resgata as colaborações nas diversas mídias, quando identificados como membros da ALL; ARTIGOS, CRÔNICAS, OPINIÕES manifestas pelos membros da Academia; POESIAS de autoria de seus membros. Haverá uma sessão DE ICNOGRAFIA, registrando-se as atividades da ALL, e aquelas em que seus membros tenham participado, assim como a divulgação de nosso CALENDÁRIO DE EVENTOS. Poderá, ainda, conter ASSUNTOS ADMINISTRATIVOS, referentes a questões estatutárias, regulamento, e avisos. As colaborações não poderão ultrapassar 30 laudas – formato A4, Times New Roman, em Word, espaço único, com ilustrações. Normas de publicação ABNT. Os contatos são feitos através de seu Editor, pelo endereço eletrônico [email protected]

ALL EM REVISTA Revista (eletrônica) da Academia Ludovicense de Letras

ENDEREÇO PARA CORRESPONDENCIA:

EDITOR Leopoldo Gil Dulcio Vaz [email protected] Rua Titânia, 88 – Recanto de Vinhais 65070-580 – São Luis – Maranhão (98) 3236-2076 # (98) 8119 1322

NUMEROS PUBLICADOS – ENDEREÇO ELETRONICO

V.1, n. 1, 2014 (janeiro/março) http://issuu.com/leovaz/docs/all_em_revista_volume_1_numero_1_ma

V.1, n. 2, 2014 (abril/junho) http://issuu.com/leovaz/docs/all_em_revista_-_volume_1_numero_2_

V.1, n. 3, 2014 (julho/setembro) http://issuu.com/leovaz/docs/all_em_revista_-_vol_1__n_3__julho-_34d409e2ef5b18

V. 1, n. 4, 2014 (outubro a dezembro) http://issuu.com/leovaz/docs/all_em_revista_-_vol._1__n._4__set./1?e=1453737/10958981

V. 2, n. 1, 2015 (janeiro a março) http://issuu.com/leovaz/docs/all_em_revista_-_vol._2__no

V. 2, n. 2, 2015 (abril a junho)

RETRATO FALADO DE MARIA FIRMINA DOS REIS1

TONY ALVES

1 Para o livro de Emmanuel de Jesus Saraiva “História da Cultura Africana/A influencia da Cultura Africana na Cultura

Brasileira, São Luis: Interativa, 2012

ACADEMIA LUDOVICENSE DE LETRAS Fundada em 10 de agosto de 2013

Registrada sob no. 48.091, de 09 de janeiro de 2014 – Cartório Cantuária de Azevedo CNPJ 20.598.877/0001-33

DIRETORIA

PRESIDENTE ROQUE PIRES MACATRÃO VICE PRESIDENTE DILERCY ARAGÃO ADLER SECRETARIO GERAL ÁLVARO URUBATAN MELO 1º SECRETARIO ARQUIMEDES VALE 2º SECRETARIO ANA LUIZA ALMEIDA FERRO 1º TESOUREIRO RAIMUNDO NONATO SERRA CAMPOS FILHO 2º TESOUREIRO CLORES HOLANDA SILVA

CONSELHO FISCAL

MEMBRO ALDY MELLO DE ARAUJO MEMBRO AYMORÉ DE CASTRO ALVIM MEMBRO JOSÉ DE RIBAMAR FERNANDES

CONSELHO DOS DECANOS

DECANO ARTHUR ALMADA LIMA FILHO - 17.10.1929 CONSELHEIRA MARIA THEREZA DE AZEVEDO NEVES – 12.11.1932 CONSELHEIRO ANTÔNIO AUGUSTO RIBEIRO BRANDÃO - 08.11.1934 CONSELHEIRO ROQUE PIRES MACATRÃO - 13.11.1935 CONSELHEIRO JOSÉ DE RIBAMAR FERNANDES - 30.01.1938

CONSELHO EDITORIAL

SANATIEL DE JESUS PEREIRA PRESIDENTE

ALDY MELLO DE ARAÚJO DILERCY ARAGÃO ADLER

EDITOR DA ALL EM REVISTA

LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ

CADEIRA 21

SUMÁRIO EXPEDIENTE 2

SUMÁRIO 6

APRESENTAÇÃO Leopoldo Gil Dulcio Vaz (Editor)

9

CALENDÁRIO 2015 - EFEMÉRIDES 11

PROJETOS 17

ANA MARIA FELIX GARJAN CARTA CULTURAL ABERTA 1612 –

A FUNDAÇÃO DE SÃO LUÍS PELOS FRANCESES, SOBRE O LIVRO 1612 - OS PAPAGAIOS AMARELOS NA ILHA DO MARANHÃO E A FUNDAÇÃO DE SÃO LUÍS

18

DISCURSO DE POSSE & ELOGIO AO PATRONO 22

LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ RAIMUNDO GOMES MEIRELES – PADRE MEIRELES

27

RAIMUNDO GOMES MEIRELES CATULLO, o gigante adormecido

34

RAIMUNDO DA COSTA VIANA ACADEMIA LUDOVICENSE DE LETRAS – ALL - POSSE DO ACADÊMICO ROQUE MACATRÃO - APRESENTAÇÃO

42

MACATRÃO – ELOGIO AO PATRONO 47

ÁLVARO URUBATAN MELO POSSE DO ACADÊMICO JOSÉ FERNANDES – APRESENTAÇÃO – Lido por Clores Holanda

48

JOSÉ FERNANDES – ELOGIO AO PATRONO 52

ARTIGOS, & CRONICAS, & CONTOS, & OPINIÕES 53

RAIMUNDO NONATO SERRA CAMPOS FILHO DIA-A-DIA DO ENSINAR E APRENDER NO DESENVOLVIMENTO DE ENSINO NA GRADUAÇÃO DO CURSO DE

DIREITO 54

LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ - do Blog do Leopoldo Vaz AQUI NÃO É BRASIL (???)

58

ANTONIO AUGUSTO RIBEIRO BRANDÃO A ALMA DAS COISAS

61

RAIMUNDO NONATO SERRA CAMPOS FILHO PENSAR PROBLEMAS EDUCATIVOS COMO DURAÇÃO: continuidade e diferenciação

62

ALDY MELLO ÉTICA COMO PRÁTICA DA VIDA HUMANA

66

SANATIEL PEREIRA A FÉ QUE CURA

70

SANATIEL PEREIRA É TUDO MENTIRA

72

AYMORÉ ALVIM SAIR À SORRELFA

74

FRANCISCA GIRLENE DIAS SILVA A INFÂNCIA DO POETA GONÇALVES DIAS NA CIDADE DE CAXIAS

75

FRANCISCA GIRLENE DIAS SILVA O PÁSSARO SÍMBOLO DO BRASIL É O SABIÁ

80

AYMORÉ ALVIM MEUS MOMENTOS DE ANJO...

83

RAIMUNDO VIANA PROFESSOR WILSON PIRES FERRO - “in memoriam”

85

ALL NA MÍDIA 87

JULIENE HIDELFONSO – Jornal O Estado do Maranhão, 05/04/2015, Caderno Domingo, p. 3 VIDA E OBRA DO PROFESSOR E ESCRITOR SANATIEL PEREIRA

88

INSTITUTO GEIA – REVISTA PLURAL, N. 21, ABRIL/MAIO DE 2015 DINACY CORREA

A POESIA MARANHENSE CONTEMPORÂNEA DE EXPRESSÃO FEMININA, sobre DILERCY ADLER ADRIELLE MARCIANO MARTINS

QUANDO... A POESIA DE ANA LUIZA ALMEIDA FERRO JOSÉ NERES

MULHERES NA LITERATURA MARANHENSE: UMA VISÃO PANORÂMICA

89 90 93 94

RAIMUNDO VIANA O BAIXO PARNAIBA VIROU CARVÃO - -“Cui prodest? ( a quem interessa?)

96

LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ; DELZUITE DANTAS BRITO VAZ – O ESTADO 12/04/2015 - ALTERNATIVO PASSAGEM DA COLUNA PRESTES POR PARAIBANO-MA

97

CERES COSTA FERNANDES - O ESTADO DO MARANHÃO, 12/04/2015 BIG BROTHER ÀS AVESSAS

101

SANATIEL PEREIRA – O ESTADO DO MARANHÃO, 13 DE ABRIL DE 2015 O VALOR DA VIDA

103

‘ELOGIO AO PATRONO’ MOVIMENTA ACADEMIA – O ESTADO – EM CENA – 24/04 Sobre RAIMUNDO GOMES MEIRELES

105

ANDRÉ GONZALEZ CRUZ - Publicado na Revista Visão Jurídica n. 106 A PRISÃO PREVENTIVA GERA DIREITO À INDENIZAÇÃO EM CASO DE ARQUIVAMENTO DO INQUÉRITO

POLICIAL OU DE ABSOLVIÇÃO NA AÇÃO PENAL? 106

ELOGIO AO PATRONO – COLUNA EM CENA – O ESTADO DO MARANHÃO - 26/04/2015 Sobre RAIMUNDO GOMES MEIRELES

109

CONVITE LANÇAMENTO DE LIVRO – O FORTE DE COPACABANA – ARTIGO Sobre ANA LUIZA ALMEIDA FERRO

111

A QUESTÃO DA REDUÇÃO DA MAIORIDADE PENAL – O ESTADO DO MARANHÃO, 26/04/2015 POR ANA LUIZA ALMEIDA FERRO

112

JOÃO BATISTA ERICEIRA - PUBLICADO EM O ESTADO DO MARANHÃO A MEMÓRIA NACIONAL

115

BRILHO MARANHENSE – PUBLICADO EM O ESTADO – EM CENA – NEDILSON MACHADO – 08/05/2015 SOBRE ANA LUIZA ALMEIDA FERRO

117

LITERATURA NO CONVENTO DAS MERCÊS – JP TURISMO – 06/06/2015 118

LICEO POETICO DE BENEDORM 120

BELA AÇÃO CULTURAL DA ACADEMIA LUDOVICENSE DE LETRAS – JP TURISMO – 12/06/2015 121

JORNAL PEQUENO – CAXIAS EM OFF SOBRE ANA LUIZA ALMEIDA FERRO

122

POESIAS & POETAS 123

DINACY CORRÊA A LÍRICA MARANHENSE DE EXPRESSÂO FEMININA – visão panorâmica

124

LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ ADÃO LOPES DE SOUSA – POETA, SANFONEIRO, E CARPINTEIRO

COLCHA DE RETALHOS: E POR FALAR EM SAUDADES... Herotildes de Souza Milhomem

ADÃO SÃO LUIS

HOMENAGEM AOS MEUS PAIS MINHA ÚLTIMA FILHA

COLETIVO TEORIA PARA UM JOVEM

REMINISCÊNCIA ANIVERSÁRIO DA ESPOSA (LÍDIA)

DEBUTANTE MANOELISA BRITO E POR FALAR EM SAUDADE

154

ELO DE LIGAÇÃO SONHO

SAULO BARRETO LIMA OBRA DO POETA JOSÉ CORIOLANO É RESGATADA

O CANTO DO CACIQUE GRANDEZA DE DEUS

A POESIA A UMA CONFESSADA (DE QUINTA FEIRA SANTA)

DELÍRIO DE POETA

174

SAULO BARRETO LIMA J. CORIOLANO: Breve ensaio biográfico

CRATEÚS, ONDE NASCI CRATEÚS

SÓ UM ANJO SERÁ SOBRE O MAR

HINO AO CRIADOR A VIRGEM E A ROSEIRA

FELIZ TEMPO MUDANÇAS

GOZEMOS

182

CLORES HOLANDA ANDANÇAS NUMA TARDE CHUVOSA DE MARÇO

198

DILERCY ADLER INCONTIDO PRAZER PESCARIA E POESIA

ISSO É TUDO... A MORTE E O MORRER

EU - NAMORADA

199

MICHEL HERBERT FLORENCIO O MISTÉRIO DA CRUZ

O BEIJO DOS TEUS LÁBIOS O LIVRO

203

AYMORÉ ALVIM A ADÚLTERA

NOITES DE VERÃO NOSTALGIA

MENINA DE RUA SAUDADES

A VOLTA

205

APRESENTAÇÃO/informes Começamos o segundo trimestre; continuamos com a mesopotâmica tarefa de desvendar o Maranhão. Novos e velhos poetas, conhecidos e desconhecidos, acima de tudo, esquecidos...

Edmilson Sanches não nos deixa esquecer... Nós temos por missão não esquecer... Daí recorremos a quem possa nos rememorar... Saulo Barreto Lima é um jovem poeta já com uma vasta obra e agora se nos aparece como memorialista... Quem sabe um dia venha a somar conosco, nesta Casa de Maria Firmina dos Reis? Assim como já temos alguns dos jovens expoentes das gerações recentes, dos movimentos recentes, dos últimos 30 anos, aqui já entre nós... André, Daniel, Mário Luna, Arquimedes Vale, Paulão, Dilercy... E Clores! Que nasceu poeta já aqui entre nós... Por que não Pergentino? Quantos das gerações pós- movelaria-guanabara poderiam vir somar? Ailton, Bioque, Celso, Riba do Sebo... Jorgeane, e quantas das poetisas? Já está mais do que na hora de abrirmos as vagas restantes...

Sangue novo!!! Jovens, mas já com uma história literária imensa, que precisa de reconhecimento...

Este seria o de preenchimento das Cadeiras, efetiva; discursos de posse dos eleitos remanescentes; elogio ao patrono dos fundadores reticentes... E novamente tivemos ‘Elogios ao Patrono” cancelados: Zé Fernandes, justificado por cirurgia de emergência; Macatrão, sem dizer nem sim, nem não, mas usando sua prerrogativa de Presidente determinou que se daria, sua e a do Zé, dentro de nossa Plenária – que já se havia decidido não mais ocorrer – e em dose dupla – que também já decido não mais ocorrer, sem no entanto confirmar; muitos protestos; e uma desistência: Eva Chatel, alegando não poder cumprir os compromissos assumidos, decidiu por renunciar à indicação de cadeira...

Projetos andando... Centenário de Mário Meireles – afinal, este é o Ano de Mário Meireles – 190 anos de Maria Firmina, 2º Aniversário da ALL, vemos lá ao fundo nossa sede?

Semana Ludovicense de Literatura junto com a Mostra da Literatura Maranhense... Não mais!

E maio findou em crise: o Secretário Geral apresentou sua renúncia à função: considera impossível cumprir as obrigações por problemas de comunicação com a Presidência, e as constantes reviravoltas em decisões tomadas nas Plenárias, por parte de membros insatisfeitos, quando derrotados em suas pretensões, voltando-se sempre à estaca zero, e iniciando-se tudo de novo...

Ainda pendente o registro do Regimento Geral... Quase um ano aguardando um movimento por parte da Presidência – ir ao cartório e solicitar o registro; apenas o Presidente pode fazer, junto com o Tesoureiro, pois é necessário pagar adiantado as taxas...

Assim como o título de Utilidade Pública, que dentre o solicitado, exige essa documentação e a publicação de extrato do estatuto em imprensa oficial – qual? Se não temos mais os Diários Oficiais, estado e município? Serve na imprensa local, como se tem feito a publicização de editais, concorrência, avisos, intimações?

A Plenária de maio será realizada em junho – primeiro sábado; o que será que vai sair? Ou quem? Como? Por quê? Onde? Quando? Crônica de uma morte anunciada? A crônica responde à essas questões... A literatura, imaginação... Imagina a ação... Imagem da ação... Qual ação? Reação? Real ação? Realização... Vamos em frente...

A plenária de junho, muitas reviravoltas, voltas, e revolta... Mas nada decidido; ainda pendente as publicações, os programas de aniversário e comemorações, as feiras e mostras literárias... Ainda não vi nada sobre a Semana de Literatura Ludovicense, que deveria ser realizada em julho, mas

como a Mostra de Literatura – do Odylo... - não sairá, ficou para Agosto, junto com o aniversário da ALL... Sairá? Quem sabe?

Não temos recebido as contribuições dos Membros para o Projeto Maria Firmina dos Reis... “190 poemas” e “Sobre”... E o tempo passa, o tempo voa... Temos até agosto para fechar!!!

Lembrando, que a sessão “Efemérides” se destina a se homenagear nossos Patronos e mesmo nossos Membros, por ocasião de seus nascimentos e mortes... Parece-me que não tem havido interesse em escrever sobre nossos vultos...

A ALL em Revista aparece apenas agora, dia 05 de julho – a data de publicação deveria ser 30 de junho... – por falta de compromissos... Não recebi todo o material que deveria ser me enviado, para constar do numero, e material importante, como Elogios ao Patrono... O espaço destinado ficará em branco, e quem sabe? Quando o receberemos?

Desde o número anterior resolvi, nesta apresentação, fazer um relato dos acontecimentos, das dificuldades, das realizações, das vitórias, de nossa Academia... Para se ter uma ideia do que foi o trimestre, para além da matéria colocada à disposição...

Agradeço aos colaboradores, àqueles que me enviaram material para compor o conteúdo da Revista, àqueles que vêm publicando e dando divulgação aos atos e fatos de nosso dia-a-dia, quer nas mídias – em especial a impressa -, quer nas redes sociais...

Aos Literatos, de fora do quadro da ALL, que confiam em nosso trabalho, e mandaram suas contribuições, ou autorizaram sua reprodução em nossas páginas. Obrigado, Neres, Saulo, Dinacy, Herotildes, Girlane...

Já começamos a construção de nosso próximo número... julho/setembro... Mãos à obra!!!

LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ

Editor

CALENDÁRIO 2015 – efemérides – ABRIL A MAIO

ABRIL 10 1967 – FALECIMENTO DE MANUEL VIRIATO CORRÊA BAIMA DO LAGO FILHO – VIRIATO CORRÊA – PATRONO DA

CASDEIRA 24 11 1984 - NASCIMENTO DE ANDRÉ GONZALEZ CRUZ – FUNDADOR DA CADEIRA 11 13 1904 – FALECIMENTO DE DOMINGOS QUADROS BARBOSA ÁLVARES – PTRONO DA CADEIRA 23 14

1940 - NASCIMENTO DE ÁLVRO URUBATAN MELO – FUNDADOR DA CADEIRA 23 1857 – NASCIMENTO DE ALUISIO TANCREDO GONÇALVES DE AZEVEDO – PATRONO DA ADEIRA 14

21 1902 – FALECIMENTO DE JOAQUIM DE SOUSA ANDRADE – SOUSANDRADE – PATRONO DA CADEIRA 10 22 1808 – NASCIMENTO DE FRANCISCO SOTERO DOS REIS – PATRONO DA CADEIRA 4

1900 – NASCIMENTO DE ASTOLFO HENRIQUE DE BARROS SERRA – PATRONO DA CADEIRA 28 24 2000 – FALECIMENTO DE MARIA DE LOURDES ARGOLLO OLIVER – DILÚ MELO – PATRONA DA CADEIRA 29 26 1863 – FALECIMENTO DE JOÃO FRANCISCO LISBOA – PATRONO DA CADEIRA 5 30 1927 – FALECIMENTO DE JOSÉ RIBEIRO DO AMARAL – PATRONO DA CADEIRA 12

MAIO

03 1853 – NASCIMENTO DE JOSÉ RIBEIRO DO AMARAL – PATRONO DA CADEIRA 12 05 1859 – NASCIMENTO DE RAIMUNDO DA MOTA DE AZEVEDO CORREIA – RAIMUNDO CORREIA – PATRONO DA

CADEIRA 15 06 1960 - NASCIMENTO DE PAULO ROBERTO MELO SOUSA – FUNDADOR DA CADEIRA 33 09 2011 – FALECIMENTO DE CARLOS DE LIMA – PATRONO DA CADEIRA 33 10 1940 – FALECIMENTO DE CATULO DA PAIXÃO CEASRENSE – PATRONO DA CADEIRA 17 13 1940 - NASCIMENTO DE AYMORÉ DE CASTRO ALVIM – FUNDADOR DA CADEIRA 16 22 1900 – NASCIMENTO DE ASTOLFO HENRIQUE DE BARROS SERRA PATRONO DA CADEIRA 28 23 1966 - NASCIMENTO DE ANA LUIZA ALMEIDA FERRO – FUNDADORA DA CADEIRA 31 29 1885 – NASCIMENTO DE RAIMUNDO CORRÊA DE ARAÚJO – PATRONO DA CADEIRA 26

JUNHO 09 1879 – FALECIMENTO DE CELSO TERTULIANO DA CUNHA MAGALHAES – CELSO MAGALHAES – PATRONO DA

CADEIRA 11 15 1925 – NASCIMENTO DE JOÃO MIGUEL MOHANA – PATRONO DA CADEIRA 36 21 1868 – NASCIMENTO DE JOSÉ PEREIRA DA GRAÇA ARANHA – PATRONO DA CADEIRA 20

PLENÁRIA DE ABRIL

PLENÁRIA DE MAIO

Luna, Ceres, Sanatiel, Dilercy, Macatrão, José Fernandes, Clores, Paulo, Noberto

APRESENTAÇÃO DE JOSÉ FERNANDES POR CLORES

PLENÁRIA EXTRAORDINÁRIA DE 06 DE JUNHO DE 2015

A Vice, o Presidente, e o novo Secretário Geral

Novo 1º Secretário

PROJETOS

PROJETO FILME 1612 - A FUNDAÇÃO DE SÃO LUÍS PELOS FRANCESES,

ANA MARIA FELIX GARJAN2

Link: “Projeto Filme 1612 - A fundação de São Luís pelos franceses”:

http://cia-azulejosculturaisdesaoluis.blogspot.com.br/2015/04/livro-1612-os-papagaios-amarelos-na.html

2 Diretora de Cultura e Comunicação: Grupo ARTFORUM Brasil XXI - Projeto Azulejos Culturais de São Luis 403/2015/Anima

Ludovicense/ Artforum Internacional – São Luis 400. Socióloga, pesquisadora em arte e literatura brasileira, poeta, artista plástica, designer. Membro fundador da ACL / Membro correspondente da ALL. Diretora de Cultura e Comunicação do Espaço Cultural Gonçalves Dias – MA. Diretora Cultural dos Grupos ARTFORUM Brasil XXI - Núcleo do Maranhão. Coordenadora do Projeto Azulejos Culturais de São Luís/Anima Ludovicense/Artforum Internacional São Luís e Associados/Núcleo de Estudos da América Latina/ARTFORUM Internacional. Contatos: [email protected] - (85) 3267 0068 / (85) 9699 2246 - http://revistaartforumcultural.

blogspot.com – http://projetoartforumuniversidade.blogspot.com

Cultura e Educação são pólos de desenvolvimento _____________________________________________________________________ ARTFORUM Internacional São Luís e Associados

Projeto Azulejos Culturais de São Luís/Anima Ludovicense /ARTFORUM Brasil XXI

_____________________________________________________________________

Carta Cultural Aberta 1612 – A Fundação de São Luís pelos Franceses, sobre o livro 1612 - os papagaios amarelos na Ilha do Maranhão e a fundação de São Luís, de autoria da Ilustríssima escritora, acadêmica e historiadora ludovicense, Ana Luiza Almeida Ferro. A referida obra possui uma versão europeia sob o título 1612: os franceses na Ilha do Maranhão e a fundação de São Luís (Lisboa, 2014).

Fortaleza, 25 de março de 2015

É com grande honra e satisfação que divulgamos, nessa importante Revista Acadêmica, ALL EM REVISTA, a Carta Cultural Aberta 1612 – A Fundação de São Luís pelos Franceses, como um dos pontos iniciais de divulgação do Projeto Filme 1612 – A Fundação de São Luís pelos Franceses, baseado no livro 1612 - os papagaios amarelos na Ilha do Maranhão e a fundação de São Luís, (Curitiba: Juruá, 2014, 776 p), cuja autora recebeu o certificado relativo à Menção Honrosa do Prêmio Pedro Calmon - 2014, do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB), das mãos de seu Presidente, Arno Wehling, na tarde de 18 de março de 2015, no Rio de Janeiro, na solenidade da abertura do Ano Social de 2015 do IHGB, que homenageou os 450 anos de Fundação da Cidade do Rio de Janeiro. A obra premiada tem uma edição europeia sob o título 1612: os franceses na Ilha do Maranhão e a fundação de São Luís (Lisboa, 2014). A acadêmica Ana Luiza Almeida Ferro recebeu em 2014, um prêmio literário internacional no ano passado: Conquistou o segundo lugar no Premio “Poesia, Prosa ed Arti figurative”, Sezione Stranieri, Libro edito in portughese, promovido pela Accademia Internazionale Il Convivio, da Itália, pela obra Quando: poesias (São Paulo: Scortecci).

Primeira carta cultural 1612 dirigida à Senhora Confreira Ana Luiza Almeida Ferro, sobre a idealização e proposta de minha autoria dirigida à acadêmica, para que sua obra histórica e cultural seja adaptada para um filme de longa metragem, após a organização e desenvolvimento de diversas etapas técnicas para o êxito dessa proposta que já foi aprovada e autorizada pela autora, oficialmente, de quem recebi convite para ser a Diretora do Projeto Cultural: Filme 1612: os franceses na Ilha do Maranhão e a fundação de São Luís.

A autora Ana Luiza Almeida Ferro é Promotora de Justiça-MA, professora da Universidade Ceuma, professora da Escola Superior do Ministério Público do Maranhão (ESMP), escritora, historiadora, poeta, Membro fundador da Academia Ludovicense de Letras - ALL, Membro efetivo da Academia Caxiense de Letras - ACL, membro efetivo da Academia Maranhense de Letras Jurídicas - AMLJ, Sócia efetiva do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão - IHGM, membro de outras instituições maranhenses, brasileiras e internacionais, sobre a idealização e proposta de minha autoria dirigida à acadêmica, para que sua obra histórica e cultural seja adaptada para um filme de longa metragem, após a organização e desenvolvimento de diversas etapas técnicas para o êxito da proposta multicultural: Filme 1612: os franceses na Ilha do Maranhão e a fundação de São Luís.

À Ilustríssima Senhora Acadêmica e Escritora Ana Luiza Almeida Ferro

Fortaleza, 23 de março de 2015

Conforme seu comentário positivo em resposta à 1ª Carta Cultural Aberta que lhe foi encaminhada sobre seu livro 1612 - Os Franceses na Ilha do Maranhão e a Fundação de São Luís, no dia oito de março – Dia Internacional da Mulher, e também encaminhada a alguns membros da Academia Ludovicense de Letras, venho apresentar-lhe uma síntese da nossa proposta a qual está sendo divulgada com autorização oficial enviada a mim, na data de 18 de março, do Rio de Janeiro.

Congratulações a Vossa Senhoria pela Menção Honrosa do Premio Pedro Calmon do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro – IHGB, recebida por sua obra histórica, literária, cultural e educativa “1612 - Os Papagaios Amarelos na Ilha do Maranhão e a Fundação de São Luís”, na data de 18 de março de 2015, na cidade do Rio de Janeiro, que está sendo homenageada por seus 450 anos de fundação, neste mês.

Sua obra foi divulgada na mídia de São Luís, no site do IHGB, por ter sido indicada como livro importante para a memória histórica maranhense, pelo Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão - IHGM ao Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, bem como foi divulgada no site Revista Planetária ArtForum Internacional, na página Revista Ludovicense - São Luís 400/2012 –Facebook, na ALL EM REVISTA, e será divulgada, especialmente, no site Universidade Planetária do Futuro/ARTFORUM Brasil XXI.

O conteúdo histórico da obra poderá vir a ser escrito em roteiros adaptados às artes cênicas e à arte cinematográfica em longa metragem, objetivando divulgar a história da fundação de São Luís no Brasil e Além-Mar.

Na 1ª Carta Cultural Aberta de oito de março 8 março de 2015 – Dia Internacional da Mulher compartilhamos algumas idéias com Vossa Senhoria e alguns Membros fundadores e Membros efetivos da Academia Ludovicense de Letras - ALL e da Academia Caxiense de Letras – ACL, elogiando seu livro que possui relevância histórica e cultural para o patrimônio histórico imaterial de São Luís – Patrimônio Cultural da Humanidade, desde dezembro de 1997.

O livro 1612 - Os Franceses na Ilha do Maranhão e a Fundação de São Luís na versão nacional e internacional, motiva algumas linguagens artísticas, poéticas, culturais e educativas, para divulgação mais ampla da história da fundação de São Luís – a única capital brasileira fundada por franceses. Manifesto sugestão para que alguns capítulos do livro sejam transformados em roteiros técnicos para um filme épico e também contemporâneo, cujos takes de filmagem sejam realizados em scenes no Centro Histórico e outros locais de São Luís, de Alcântara e nos Lençóis Maranhenses.

(Sugerimos, também, que a cidade de Caxias - MA, venha a ser um dos cenários do seu filme, considerando a importante Guerra da Balaiada, no Morro do Alecrim).

Cremos que as futuras cenas desse precioso filme que estamos idealizando possam ampliar e enriquecer a história da Fundação da França Equinocial, a trajetória de François de Razilly, a Batalha de Guaxenduba, a visão dos Franceses sobre os Tupinambás do Maranhão, e outros que forem avaliados por Vossa Senhoria, a autora do livro, bem como a Consultora Geral dessa futura produção cinematográfica em longa metragem, objetivando ampliar a importante história da fundação de São Luís no Maranhão, no Brasil, na França, em Portugal, na Holanda e em outros países, em médio e longo prazo.

Conforme alguns diálogos sobre essa proposta, temos a satisfação e honra da aprovação e entusiasmo de Vossa Senhoria, desde a primeira idéia e diálogo. Assim, já iniciamos rascunhos de scripts do trabalho de marketing cultural, e quando as primeiras lâminas estiverem prontas, com sua aprovação iniciaremos o registro da proposta, a partir da publicação dessa carta cultural em diversos meios de comunicação e em nossos blogs e sites culturais, a partir do site do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão - IHGM, na edição eletrônica da ALL EM REVISTA da Academia Ludovicense de Letras, considerando que seu livro publicado pela JURUÁ Editorial, de Curitiba possui selos de chancelaria dessas instituições maranhenses.

Cremos que essas e outras instituições maranhenses e brasileiras poderão fazer parte do “Consórcio Cultural – Cia. Azulejos de São Luis 1612”, que deverá ser organizado para o desenvolvimento dos diversos roteiros da produção cinematográfica histórica e cultural que está sendo prevista e possível de ser realizada, conforme está escrita no Script Cia. Projeto 01, Filme 1612, considerando a importância desse futuro filme para o panorama cultural maranhense e brasileiro. Para tanto o Consórcio Cultural será a plataforma para obtenção de recursos financeiros e a apresentação de projetos.

Vislumbramos que o trabalho de concepção e produção de marketing possa motivar adesões importantes, através de encaminhamento conjunto de Vossa Senhoria, como autora, bem como da coordenação da proposta, de documento oficial a governos, instituições, empresas, ministérios (cultura/educação/turismo), embaixadas, consulados e representações de Portugal, da França e da Holanda, a princípio.

Agradeçemos seus comentários e diálogos sobre os roteiros iniciais já aprovados, e sua delicadeza ao nomear-me diretora e articuladora desse importante projeto multicultural, que deverá prestar homenagem ao Professor e Acadêmico Wilson Ferro, in Memoriam, Vosso Pai, por ter sonhado e escrito a Apresentação do seu livro 1612 - os papagaios amarelos na Ilha do Maranhão e a fundação de São Luís.

Comunico a Vossa Senhoria que estarei escrevendo um artigo sobre seu livro, o Prêmio Pedro Calmon e a Menção Honrosa recebida e sobre a proposta que sinaliza um projeto de futuro, uma vez que iniciamos no dia 20 de março, o primeiro roteiro de adaptação de um dos capítulos de sua obra que nos inspira mais pesquisas.

Congratulações pela contribuição à nossa história ludovicense, maranhense e brasileira.

Saudações ludovicenses,

Ana Maria Felix Garjan

DISCURSOS:

Elogio ao Patrono &

Posse

POSSE DE MEIRELES

CADEIRA 17

PATRONO: CATULLO DA PAIXÃO CEARENSE

FUNDADOR:

RAIMUNDO GOMES MEIRELES Itapecuru-Mirim, MA, 31 de outubro de 1962

Posse: 14 de dezembro e 2013 Elogio ao Patrono: 24 de abril de 2015

RAIMUNDO GOMES MEIRELES – PADRE MEIRELES

LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ

Maranhense de Itapecuru-Mirim, MA, nascido 31 de outubro de 1962, véspera do dia de Todos os Santos. Filho de João José de Meireles e Maria Gomes de Sá Meireles. Presbítero católico, professor, capelão militar.

Sempre se mostrou interessado, estudioso e muito responsável. Embora gostasse muito de brincar, como toda criança, aos seis anos já pescava no rio Itapecuru e o resultado da pesca ajudava na alimentação da família3.

3 Nalda Aragão. Correspondência eletrônica pessoal. Date: Mon, 19 Jan 2015 15:05:25 - 0200

From: [email protected]. To: [email protected]. Subject: Material de Meireles: Leopoldo, mandei pelo messenger gumas fotos dele. Veja têm algumas históricas. Uma ele recebe um presente do então João Paulo II, hoje santo. Um abraço e um beijo na nossa Del. Espero que tenha ajudado. Precisando é só falar. Nalda .

Transferiu-se para a cidade de Caxias-MA, onde cursou parte do ensino fundamental no Colégio Nossa Senhora dos Remédios. Aos sete anos, um tio - já falecido, Raimundo Nonato Meireles – o convidou para morar em São Luís, para dar continuidade aos estudos; primeiro no Colégio Sotero dos Reis, depois no Centro Educacional do Maranhão – CEMA -, e no Colégio São Lázaro, onde concluiu o ensino fundamental; cursou o Ensino Médio no Centro de Ensino de 2° Grau “Gonçalves Dias”.

Trabalhou em uma serraria com uma prima - também já falecida, Maria do Socorro. Entrou na FEBEM (Fundação do Bem Estar do Menor), onde se destacou em suas atividades e a partir daí foi selecionado para trabalhar na Caixa Econômica Federal como office boy, ainda menor de idade.

Fez a 1ª Eucaristia no dia 25 de junho de 1970. Foi legionário, participou do Grupo de Jovens.

Padre Bráulio o convidou para estudar no Seminário, ficando sob a responsabilidade de Dom Paulo e Dom Xavier. Iniciou sua vida vocacional na Igreja de São Pantaleão em 1985 e continuou no Seminário Santo Antonio. Sua ordenação diaconal aconteceu em dezembro de 1990 na Igreja de São Roque (Lira), e a presbiteral em 30 de junho de 1991 no Colégio Maristas. Presidiu sua primeira celebração eucarística, nesse mesmo dia, às 18h00, na Igreja São Roque.

Em uma reunião presbiteral, Dom Paulo pergunta qual dos padres ali presente queria ir estudar em Roma. No mesmo instante aceitou e partiu a fim de fazer seu mestrado e doutorado em Direito Canônico e Direito Civil.

Já na Europa, conheceu a família de Ulla, alemãs que o adotaram e que até hoje são seus amigos.

É Licenciado em Filosofia e em Teologia pelo Instituto de Ensino Superior do Maranhão, onde apresentou a monografia “O catolicismo popular tradicional brasileiro e algumas expressões significativas da religião do povo maranhense: pistas de interpretação teológica” - nota 10; Licenciatura plena em Filosofia pela Universidade Federal do Maranhão, onde apresentou a monografia “Noção de Direito em Norberto Bobbio” – nota 10. Diploma de Honra ao Mérito, melhor aluno do curso de Filosofia.

Bacharel em Direito, no Centro de Ensino Universitário do Maranhão - UniCEUMA , onde apresentou a monografia “A noção de Direito em Santi Romano”, também nota 10.

Possui Mestrado em Direito Canônico na Pontifícia Studiorum Universitas – Roma / Itália. Mestrado em Direito Civil, com especialização em Direito Internacional Comparado, – Pontifícia Universitas Lateranensis – Città del Vaticano. E Doutorado em Direito Canônico – Pontifícia Studiorum Santo Tomas de Aquino – Roma / Itália.

Estudioso de temas do catolicismo popular tradicional, institucionalismo e normativismo jurídico, direito de associação e direito canônico.

Expositor no congresso internacional “Diritto e profezia: Attualità del pensiero di Antonio Vieira”, apresentou o tema “Il Diritto degli índios in Antonio Vieira”, em Roma, 1997.

Participou de vários congressos e simpósios, seminários nacionais e internacionais.

Recebeu diploma de honra ao mérito, de melhor aluno do curso de Filosofia, UFMA; por apresentar Projeto de Assistência Espiritual aos integrantes da Polícia Militar do Estado do MA, na Câmara Municipal de São Luís-MA e medalha “Brigadeiro Falcão”, atribuída pelo Alto Comando da Polícia Militar.

ATIVIDADES PROFISSIONAIS: Professor de: Filosofia de Direito, Filosofia Política, Introdução à Filosofia, Direto Canônico, Gestão Paroquial – Centro de Ensino Superior do Maranhão - IESMA (desde 1997); Relações Humanas – Polícia Militar do Estado do Maranhão, no Centro de Formação e Aperfeiçoamento de Praças.

Pároco da Paróquia N. Srª Aparecida da Foz do Rio Anil – Cohafuma (1997-2009); Vigário Judicial do Tribunal Eclesiástico Regional Nordeste V; Vigário paroquial da Paróquia São João Batista, na Igreja Santo Antônio (desde 2009); Capelão Militar, Polícia Militar do Estado do Maranhão; Chanceler da Cúria Metropolitana de São Luis; Membro da Diretoria da Ação Social Arquidiocesana. È sócio da Associação Brasileira dos Canonistas (SBC), da Associação dos Presbíteros da Arquidiocese União e Vida.

Membro do Conselho Diretor da Ufma na qualidade de representante da Sociedade Maranhense de Cultura Superior – SOMACS (8 anos).

Sócio efetivo do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão – IHGM. Na Academia Itapecurense de Ciências, Letras e Artes ocupa a Cadeira 9, patroneada por Astolfo Marques Serra.

Publicações:

DIREITO DEGLI ÍNDIOS IN ANTONIO VIEIRA – Anais de Congresso – Roma, 1997;

A FILOSOFIA DA PRESCRIÇÃO PENAL – Revista ECOS nº 01, 2003;

PODEMOS DEFINIR O DIREITO? Revista ECOS nº2, 2005;

O DIREITO DE OS FIÉIS LEIGOS CONSTITUÍREM ASSOCIAC̜ÕES PRIVADAS: pistas jurídico-pastorais para a compreensão do fenômeno associativo privado na Igreja.

Publicado no sitio Recanto das Letras: http://www.recantodasletras.com.br/autor_textos.php?id=79819

VIDA ETERNA - Poesias > Transcendentais 02/11/12

SABIÁ - Poesias > Paz - 14/07/11

PINGO DE DOR - Poesias > Desilusão - 06/09/10

A FARSA DO DIREITO – Crônicas - 03/09/10

DEO GLORIA, PROXIMO SALUS, MIHI LABOR – Homenagens - 02/09/10

CONTRIBUIÇÕES NA REVISTA DO IHGM

DISCURSO DE POSSE, Rev. do IHGM – No. 29 – 2008 – Edição Eletrônica, p. 101

OS ESCRITOS DE DOM PAULO PONTE: UMA RELEITURA A PARTIR DA ÚLTIMA DÉCADA Rev. do IHGM N. 30, agosto 2009 ed. Eletrônica 108-116

A ARTE E A EXPERIÊNCIA RELIGIOSA NO MARANHÃO. Rev. do IHGM N. 31, novembro 2009 ed. Eletrônica 116-118

A FARSA DO DIREITO. Rev. do IHGM, No. 34, Setembro de 2010 – Edição Eletrônica, p. 96-98

A ESPIRITUALIDADE DO POLICIAL MILITAR. Rev. IHGM, n. 35, dezembro 2010, p. 65

DOIS PADRES E UMA MEMÓRIA NOS 400 ANOS DE SÃO LUIS. Revista IHGM, No. 43, DEZEMBRO de 2012, p. 146. http://issuu.com/leovaz/docs/revista_ihgm_43_-_dezembro_2012

O PACTO DAS CATACUMBAS. Rev. do IHGM, v. 44, março 2013, p. 97

Vários artigos nos jornais: O Estado do Maranhão, Jornal Pequeno e Imparcial.

Cumprido o dever de apresentar o acadêmico Raimundo Gomes Meireles, devo acrescentar, ainda, que foi quem me apresentou quando do ingresso no IHGM – Dilercy não pode comparecer, pois estava trabalhando e coube ao Meireles, de sopetão, fazer as honras daquele sodalício... Já nos conhecíamos de mais de 10 anos... Convidado que fui por Dilercy, foi Meireles quem me convenceu a aceitar o convite...

Quando conseguimos um pároco para a Igrejinha de São João Batista de Vinhais Velho, foi o Padre Meireles o indicado. Após a primeira missa, almoço em minha casa. Na minha irreverência – afinal sou groucho-marxista – disse que não o trataria pelo seu título, mas por Meireles; ele poderia me chamar de Leopoldo – passou a chamar de Leo, como minha mulher o faz.

Desde então Meireles se tornou meu mais novo amigo de infância... o que chama atenção, é a sua humildade. Caboclinho do interior, de Itapecuru, como gosta de se identificar, só depois soube que era Doutor em Cânones, e ocupava a Chancelaria da Cúria Metropolitana. Nunca o vi ressaltando seus títulos, apenas o mais importante, para ele e para aqueles que convivem com ele: Padre! Padre Meireles!!!

A convivência de quase 20 anos, os almoços, os jantares, os lanches se constituíam momentos de pura alegria e aprendizado. Na medida em que se aprofundava essa amizade – a primeira vista – passou da categoria de ‘amigo de infância’ para ‘irmão’; tenho em Meireles um irmão... e ultimamente, um irmão meio relapso, pois deixou de frequentar os almoços de domingo; sentimos, Del, eu e as crianças, a sua falta. Mas está perdoado...

CATULLO, O GIGANTE ADORMECIDO

RAIMUNDO GOMES MEIRELES

Senhor Presidente, caros confrades e confreiras,

Ao momento, cumpre-nos, por práxis regimental, tornar vivo a vós a lembrança de uma figura humana de maior extração: o amante das noites de luar, o boêmio, o enamorado da lua cheia, do som do pinho sob as janelas repletas de amor à espera das serenatas; dos cantos dos pássaros e do silêncio ao amanhecer da aurora.

Seu Catullo ainda está dormindo? - Terminou os deveres de amanhã? - O menino procura o caderno e inicia seus escritos matinais... Passa devagarinho por detrás do velho Amâncio, olha piedosamente os mostradores dos relógios antigos e retoma a flauta, entoa uma cadência alegre, viva, feliz e contagiante...

Assim posso imaginar o mundo do poeta menino. A criança que pulou da rede, olhou pra lua

e trilhou pelos caminhos da Música. Existem muitos testemunhos de que as moças às janelas lacrimejavam quando ouviam a voz do poeta, quando, no encanto de sua voz, adentrava o sentimento do amor daqueles olhares virgens de sentimento puro das jovens nas noites de luar. A lua foi sua maior parceira.

Estas palavras alhures expressam profundos sentimentos em torno da vida matinal do poeta

ainda menino, a deslumbrar um horizonte incerto, futuramente a vivenciar, por um lado, os ensejos do pensamento da época, por outro, desejos e liberdade do poeta, letrista, compositor, cantor e violonista.

Certo amigo me havia dito isso, mas não havia ainda atentado que teria sido Catullo quem

dissera: “A mulher é lua, e o homem é sol!” Por isso, fará quando homem maduro refeito a síntese de sua poesia (CEARENSE, 1946, p. 36s):

Quando a Lua, a Lua nova, Muito fininha e amarela, Surge, em nova aparição, Não nos parece a costela Que Deus, quando Adão dormia, Tirou do corpo de Adão?! E por que, sendo tão bela, Sendo a mulher tão perfeita, Foi feita de uma costela, Quando podia se feita Das fibras de um coração?! (...) A Lua é mulher, Senhores, Tudo está decifrado! (...) O Sol é homem! É firme! A Lua é mulher! Varia! (...)

Porque, em verdade, Senhores, Se o Sol se consorciasse Com a Lua, e se escravizasse Ao seu poder sedutor, A Lua perdia o encanto De sua eterna poesia, E o Sol, perdendo o vigor, O mundo se acabaria!!

Senhor Presidente, Filho do ourives Amâncio José da Paixão Cearense, natural do Ceará, e de Maria Celestina Braga da Paixão, maranhense. Catullo da Paixão Cearense nasceu em um sobrado de número 66, na então Rua Grande, hoje Osvaldo Cruz, em São Luís do Maranhão. Há uma peculiaridade na vida do poeta: a data de seu nascimento. Baseado nela comemorou-se o seu centenário, 8 de outubro de 1863, entretanto o pesquisador Mozart de Araújo, em artigo publicado no Jornal do Comércio de 24 de março de 1963, disse que Catullo revelara, em 1946, a vários amigos, que a data verdadeira era 31 de janeiro de 1866. A 8 de outubro de 1863 nascera realmente um irmão homônimo de Catullo, falecido em tenra idade, e cuja certidão de nascimento, remetida ao poeta, passou a ser usada por este. (VASCONCELOS, 1977, 115).Mas alguns dizem que tudo isso não passou de criação, pois alguns de seus biógrafos dizem que 31 de janeiro de 1866, foi arranjada para uma nomeação no serviço público, pois ele precisava dos três anos para conseguir ser nomeado.

Com dez anos de idade, Catullo mudou-se, com os pais e os irmãos Gil e Gérson, para o Ceará, onde permanecerá até os dezessete anos de idade.

Em 1880, a família se transferiu para o Rio de Janeiro, onde residiu na Rua São Clemente, 37, Botafogo. A casa era muito semelhante à que residia em São Luís: fachada revestida de azulejos, três portas no andar térreo e três janelas em cima, com sacadas, local em que o pai instalou a sua ourivesaria e relojoaria, fonte de sustento econômico da família.

Catullo, nessa época, apaixonou-se pela Música, completamente. Procurou manejar uma flauta. E começou a frequentar uma república de estudantes, na Rua Barroso, hoje Siqueira Campos – em Copacabana. O local passou a ser referência para reuniões cotidianas com seus novos amigos, o flautista Viriato Figueira da Silva, o estudante de música Anacleto de Medeiros, o violonista Quincas Laranjeiras, o cantor Cadete e um estudante de Medicina, quem ensinou Catullo a tocar violão. Aos finais de semana, direcionavam-se às ruas para o fervor das serenatas.

Murilo Araújo, em sua obra Ontem ao Luar, (ARAUJO, 1951, 34) conta que, na noite em que Catullo se apresentava em uma serenata, sua primeira produção, foi seguido pelo pai que, arrancando-lhe o pinho das mãos, quebrou o instrumento na cabeça do filho:

Amâncio esconde-se no vão de uma porta a espera com raiva, o grupo que avança descuidosamente. E quando lhe chega perto a serenata, salta do esconderijo, arrebata violentamente as mãos do filho o violão de seresteiro, e sem a mais leve “serenidade ou amenidade” quebra-lhe indignado o pinho na cabeça, apostrofando-o ao mesmo tempo com um azedíssimo discurso (...).

Autodidata, Catullo aprendeu Português, Matemática e Francês, chegando a fazer boas traduções de poetas franceses como Lamartine. Sua querida mãe faleceu em 1880 e, em 1883, morreu o velho Amâncio. Precisava trabalhar para sobreviver. Conseguiu um emprego na Administração do Cais do Porto, inicialmente como contínuo, depois como estivador. Sua vida passou a se dividir entre o trabalho na estiva, de dia, e as serestas à noite, reduto de personagens amantes das noites de luar. (VASCONCELOS, 1977, 116).

A vida do poeta mudou totalmente na noite em que foi convidado para uma festa na casa do Senador Gaspar da Silveira Martins, nesta época Conselheiro do Império. Catullo recitou poesias e cantou modinhas. Tornou-se o centro da festa. A esposa de Silveira Martins perguntou-lhe como poderia ajudá-lo. Catullo solicitou um pedido de emprego e, como resposta, recebeu o convite para ser explicador dos filhos do Conselheiro. Aceitou imediatamente a proposta. O poeta transferiu-se imediatamente para a chácara de Silveira Martins, localizada na Gávea.

O boêmio, após o trabalho pesado da estiva, à noite, vestia seu fraque forrado de seda e calça listrada para frequentar serestas e saraus. Amou tanto as mulheres aristocráticas quanto as negras, mas o seu grande amor foi “Coleira”, apelido da filha do Senador Hermenegildo de Morais, de Goiás. Para sua musa, Catullo escreveu vários poemas, dentre eles Ave Maria Humana e Imoralidade e letras de algumas modinhas, entre elas Tu Passaste Por Este Jardim. Mas sua fama de “navio negreiro”, pois, segundo o crítico literário Agripino Grieco, o poeta possuía um coração povoado de mulheres negras, dificultou seu relacionamento com a família de sua “Coleira”, levando-o a renunciar ao grande amor de sua vida. Restou o que o poeta Carlos Drummond dirá, anos depois, “apenas uma fotografia na parede, mas como dói”. Catullo desenhou em seu imaginário sua musa: “Uma linda jovem, olhos angelicais, usando sempre no pescoço uma gargantilha de veludo negro que lhe valeria o apelido”. Conta-nos um de seus biógrafos (VASCONCELOS, 1977, 117) que uma beldade chamada Edite em um jantar de aniversário, a que comparecera também “Coleira”, indignada com a preferência do poeta por sua musa, teria dito: “Fique com ela que não tem olhos senão para ver a sua feiura”. E Catullo teria retrucado: “Sei que sou feio. Não precisava me dizer. Um dia, responderei a sua beleza vaidosa o que ela merece ouvir”. Ao que parece, Catullo, semanas depois foi à forra e, em

música de Edmundo Otávio Ferreira, colocou os versos imortais de talento, brilhantismo e formosura:

Tu podes bem guardar os dons da formosura/ Que o tempo um dia há de implacável/ Trucidar...

Em 1908 o poeta possuía 45 anos de idade. O prestígio de Catullo era extraordinário. Sua

campanha em prol do violão, até então tido e havido por instrumento de gentinha, começou a sensibilizar a alta sociedade carioca. A propaganda chegou ao auge na tarde de 5 de julho de 1908, quando Catullo, após persuadir o diretor Alberto Nepomuceno, realizou uma audição de suas produções líricas no Instituto Nacional de Música, nessa época, na Rua Luís de Camões, o qual não concedia acesso do uso do instrumento no local.

Relata-nos Luciano Braga (VASCONCELOS, 118), no período da Lira dos Salões, como aconteceu nessa noite histórica favorável ao Violonista Maranhense:

Poucas vezes aquele estabelecimento terá tido uma enchente, como a do concerto do ilustre poeta. O auditório foi do que a Capital tem de mais fino nas letras, ciências e artes (...). Todos os jornais do dia posterior noticiaram o grande sucesso alcançado pelo emérito poeta e cantor. Lá se achavam os maestros Francisco Braga, Arnaud Júlio Reis, Henrique Oswald, Raimundo Silva; os doutores Isaias Guedes de Melo, Pires Brandão, Paulo Tavares, Osvaldo Cruz, Sebastião Lessa, Artur Lemos, Luís Tavares de Macedo Júnior, Guimarães Natal, Moreira Guimarães, Luís Murat, Nestor Victor, Artur Cintra, Alberto de Oliveira, Pedro Tavares, e tantas outras personalidades de destaque da sociedade Carioca.Encontrava-se também com a sua gentilíssima filha o conde Prozoor, ministro da Rússia. As palmas eram ouvidas da rua. Ao terminar o concerto (Catullo não quer que se chame concerto e sim audição), lia-se em todas as fisionomias o contentamento, satisfação, o grande prazer dos que o acabavam de ouvi.

Nessa mesma noite, Lúcio de Mendonça que, desde 1895, era ministro do Supremo Tribunal

Federal, ofereceu um jantar a que comparecem, entre outros, Oliveira Lima, Alberto de Oliveira, Júlia Lopes de Almeida e Felinto de Almeida. Catullo, acompanhado do violão, cantou modinhas, com letras de sua autoria, das 20h à 1h da madrugada. A saída, Lúcio ofereceu-lhe um alfinete de gravata com pérolas e rubis. Como se observa, a vocação do poeta era reconhecida pela gratuidade.

Nessa época, o pinho, como outrora era apelidado, violão era desprezado e perseguido; a elite

em geral considerava sinônimo de malandragem e instrumento de desocupados. O poeta aos poucos, com muito esforço, adquiriu prestígio nos grandes salões da classe elitizada.

Contudo como não se poderia esperar ao contrário, quase todo trabalho de Catullo visou a

construção das modinhas e serestas. Um dos maiores destaques, a música que o consagrou, foi Luar do Sertão, mas há quem diga que a referida peça musical tenha sido um simples plágio. Crítica rasteira que não pegou. Na verdade há preconceito com o boêmio, pois o Catullo foi um propagador da boa música, como destaca seu biógrafo (VASCONCELOS, 119):

João do Rio em 1908, quando lançou sua obra A Alma Encantadora das Ruas, declarou“... o Sr Catullo, último trovador velho-gênero, é o esteta da trova popular. Vê-lo recitar O Poeta e a Fidalga, com um copo de chope na mão, é um desses espetáculos de brasserie inesquecível. Catullo emaranhou-se no dogma da moda, corrigiu os versos de tudo quanto era quadra, estudou Bellini, Donizetti, Verdi, adaptou os nossos versos a trechos de óperas e, finalmente, compôs traduções livres de Leconte de Lisle para serem recitadas ao piano!

Em torno de 1908-10 o poeta criou na Rua Martins Costa um colégio para meninos. Ministra aulas de manhã, de tarde e de noite, onde instituiu um método criativo e agradável para o ensino da música, afastando-se do tradicional, pesado, difícil e caro. E aos estudantes mais adiantados, lecionava Matemática, Português e Francês.

Desta feita, a imagem que se criou de um boêmio, descompromissado com a sociedade e com seus semelhantes, não é verdade: estamos de diante de um homem sensível com a causa social, a discriminação racial, e a educação dos menos favorecidos. Este é o Catullo, homem demasiadamente discriminado, inclusive por intelectuais da Terra. A propósito de Maranhenses o maior elogio da história da literatura ao trovador, segundo nosso entendimento foi exarado pelo maior cronista do Brasil (CAMPOS, 1933, p.191-2) diz ele:

O nosso maior poeta popular, que é, ao mesmo tempo, uma das mais brilhantes organizações poéticas do Brasil, atingiu, já, graus de responsabilidade que não admite mais condescendências generosas. Após a crítica de louvores incondicionais, o lisonjeiro exame de conjunto, chegou o momento das exigências meticulosas e necessárias. (...) Recusar ao Sr. Catullo Cearense um alto engenho poético seria contestar, na claridade do dia, a existência do sol. Poucos espíritos, entre nós, foram dotados de imaginação tão vigorosa e nenhum, até hoje, de inspiração tão ingênua, tão fresca, tão natural. (...) Poucos povos modernos possuirão um exemplo tão precioso de inspiração nativa e pura. Ele é, mesmo, em alguns dos seus poemas bárbaros, um pequeno Homero, demorado na eclosão, surgido tardiamente, mas, nem por isso, menos interessante para as nossas letras. “Homero canta”, escreveu o velho Hugo. O Sr. Catullo Cearense foi, para nós, um modesto pássaro matinal de canto límpido; com a circunstância, apenas, de ter começado a cantar, quando, no Brasil, o dia da Civilização já ia alto... Por isso mesmo, por tratar-se de um poeta original e único, é preciso que a crítica lhe aponte os desvios que cultura lhe não assinalou, e que lhe escaparam à intuição. E uma das suas falhas capitais é a suposição de que pode criar um dialeto sertanejo, enxertando nos seus poemas vocábulos que provém das necessidades da rima e que assentam, de ordinário, na etimologia do seu capricho.

A missão que nos cabe nesta noite é elogiar o Patrono, entretanto, por consciência, segundo nosso entendimento, peço vênia ao Sr. Presidente, aos confrades e confreiras, o ponto fraco do boêmio é a vaidade, como bem profetizou um dos autores da Iuxta Vulgatam Versionem preparada pelo gênio da literatura sagrada cristã deste século, Roger Gryson, professor do Antropólogo Clauber Lima, que se encontra entre nós. Traduz a versão do Professor da Universidade de Louvain-la-Neuve, baseada no sentimento do autor sagrado (Ecl I,1-3).

Verba Ecclesiastesfilii David regis Hierusalem Vanitas vanitatum dixit Ecclesiastes Vanitas vanitatum omnia vanitas Quid habetamplius homo de universo labore suo quod laborant sub sole (...)

O boêmio caiu na armadilha do orgulho e da vaidade, à luz da profecia, pois o que foi será, o que se fez se tornará a fazer: Nihil novum sub sole, nada há de novo debaixo do sol. Logo, o poeta, que musicou e deu vida a cantos, poemas, óperas dos antepassados, foi traído por ele mesmo. Senão vejamos: não aceitava murmúrios, quando se recitava ou cantava, a mais minuciosa interrupção ou desatenção. Geralmente reagia de forma violenta, fosse quem fosse.

Talvez o poeta tenha regado a vaidade e o orgulho em resposta à reação, como disse um dos

maiores historiadores maranhenses (MEIRELES, 1958, p. 105-6):

(...) é nome de dos mais discutidos de nossas letras, impiedosamente atacado e vilipendiado por uns, aplaudido e louvado, exageradamente às vezes, até à genialidade, por outros. Sem dúvida, porém, como poeta sertanista e trovador popular, ocupa posição ímpar no panorama da literatura nacional e, nos últimos tempos, nem um outro poeta maranhense logrou espalhar mais largo, dentro das fronteiras nacionais, a fama de seus versos.

Certa vez, conta-se que Catullo recitava um poema na casa de um amigo na Capital Mineira.

Aconteceu que, o silêncio atento, religioso dos presentes foi perturbado pelo choro de um neném nos braços de uma senhora, que se assustou com a gesticulação e brado do poeta - “Menino! Bradou-lhe Catullo furioso – você está perdendo o momento de maior gloria de sua vida! Nunca mais ouvirá depois, talvez, um poema esplêndido como este!” (ARAUJO, 169). Vaidoso, sim, certa vez disse: “Escute, sou Catullo, e Catullo da Paixão,sou Cearense no nome, mas nasci no Maranhão!” Foi um dos maiores jurisconsultos de nossa Pátria, Ruy Barbosa que escreveu uma carta do próprio punho e transmitiu ao poeta:

Concordo, sem reservas, com o Sr. Júlio Dantas, no seu alto juízo acerca de Catullo Cearense, maravilhoso poeta, cujos versos, de um encanto irresistível, são o mais belo documento da natureza e da vida nos sertões brasileiro, que a sua musa enfeitiça e parece recriar (CEARENSE, 1921, xi).

Vaidoso, sim, até no céu sentiu-se orgulho de ser Maranhense. Não negou sua origem como

exemplo de muitos maranhenses em terras estrangeiras, uma lástima, que sinceramente acredito ser algo tão vergonhoso para um ser humano. Sua intuição criativa o fez projetar no céu. Em sua obra (CEARENSE, 1966, 68-9) clássica, Um Boêmio no Céu:

S. PEDRO (sorrindo)

Eu, de há muito, já tinha pressentido! Tu és o grande poeta regional! Já pertences à nossa Academia! Fôste eleito por Deus! És imortal! Em que país do mundo e senhoril?

Boêmio Num Paraiso esplêndido: - O Brasil.

S. PEDRO Qual foi o teu Estado, o teu torrão?

Boêmio O Estado do Talento: - o Maranhão! E o Maranhão, Senhor, tem muitas coisas, Que o Céu não tem e nem, talvez, terá.

S. PEDRO Aponte-me uma só e bastará! Boêmio “Minha terra tem palmeiras,(...). Onde canta o sabiá.”

Ainda vaidoso (não queremos com isso, em um rol de elogio ao Poeta maior, macular sua

brilhante história de vida, trazer à baila sua vaidade, mas ao ressaltar esta qualidade do Maranhense que com seu orgulho não se entregou em nenhum momento de sua vida ao luxo de outros orgulhos

ou vaidades que os homens de academias da época possuíam). Diríamos: foi orgulhoso por vocação. Por isso mesmo, ao elogiar o grande poeta, o fazemo-lo em seu contexto existencial, cada um de possuir suas preferências pessoais. Existem muitos outros Imortais que não pertenceram às Academias, a exemplo de Adelino Fontoura, Castro Alves, Gomes de Souza, Teófilo Dias, Sotero dos Reis, Casemiro de Abreu, Gonçalves Dias e outros.

Catullo recebeu vários convites para adentrar a Academia, não aceitou um sequer. Chegou, a

propósito da consagração, certa vez proclamar em um poema: A Consagração:

As Academias não Imortalizam. As academias são cemitério da Imortalidade. E os acadêmicos são as cruzes. Os acadêmicos “imortalizam-se” pedindo votos. E eu sou Imortal pela minha Obra. Por isto: - o Povo me adora. - Os grandes Intelectuais me aplaudem. - E os medíocres me caluniam. - Eis a Consagração!

Grandes figuras Imortais como Humberto de Campo, Luís Murat, Luís Carlos, Mário de Alencar, Paulo Barreto, Silva Ramos, Alberto de Oliveira, Clovis de Beviláqua e outros garantiriam a eleição do Poeta, jamais aceitou e quando lhe falavam isso, ficava irritado. Dizia que a Academia o tornaria um poeta principescamente cadavérico. A poetisa Rosalina Coelho Lisboa juntamente com Monteiro Lobato lançaram a candidatura de Catullo pelo conceituado vespertino carioca “A noite”. O boêmio recusou a boa vontade e o reconhecimento. Senhor presidente, caros confrades e confreiras, Catullo da Paixão Cearense é uma das figuras mais nobres da literatura brasileira, autor de mais de 30 obras de esplêndido e largo valor. Partiu do Maranhão, fez morada no Ceará e Rio de Janeiro, mas o seu torrão, que proclamou em suas poesias e contos, é esta terra amada, São Luís do Maranhão. A propósito do Maranhão, a Academia Maranhense de Letras elegeu o boêmio por unanimidade para a cadeira n. 9, patroneada por Gonçalves Dias, fundada por Inácio Xavier de Carvalho.

O poeta Ribamar Carvalho, Patrono da cadeira n. 60, do IHGM, pertencente da Academia Maranhense de Letras no dizer de Dom Delgado “Deus lhe deu um dom que poucos de nós temos – o dom da poesia – e foi dentro deste dom da poesia que Deus apareceu nos lábios dele para dizer o que ele não devia dizer, para dizer o que Deus queria que ele dissesse!” (CARVALHO, p. 16).

Assim, foi um pesquisador da literatura de Catullo da Paixão Cearense, os versos catulianos do “Boêmio” lhe influenciaram profundamente o conceito de poesia. Era extremamente apaixonado por “Luar do Sertão. É de Ribamar Carvalho um dos conceitos de poesia, já mais bem elaborados entre os intelectuais maranhenses do século passado (CARVALHO-CARLOS CUNHA, 1968, p. 26:

Poesia não é apenas um estado d’alma, e uma atitude diante da beleza. É sobretudo um esforço generoso de penetração do ser das pessoas e das coisas, uma reflexão à margem do complexo da vida, acompanhando-lhe as vicissitudes, extraindo- , muitas vezes, entre desesperos e revoltas, a margem oculta, que há nos seres que vivem, nas coisas que existem apenas.

Catullo da Paixão Cearense nosso poeta, boêmio e inspirador, tua poesia, teu canto, teu orgulho vivem em nossos corações de homens e mulheres devotados às letras em nosso Maranhão. Foi o notável linguista Professor Ramiro Azevedo, (AZEVEDO, 1976, p. 112) um dos pioneiros a aprofundar, em nossos dias, o estudo do falar são-luisense, disse ele:

O Maranhão apresenta-se, dentro das áreas culturais do Brasil, caracteristicamente diversificado no campo fonêmico, morfológico e sintático, diversidade regional que, entretanto, não destrói a norma-padrão, nem se afasta tão perigosamente, a constituir co-língua.

Enfim, desta feita, não temos o porquê de nos envergonhar quando o boêmio usa sua liberdade ao proclamar suas poesias sertanejas aos letrados da cidade. Muitos de seu tempo confundiram: inteligência alicerçada com sagacidade cultural da escrita e a urgência da transmissão de sentimento ao cantar a poesia aos que pudessem assimilar em prontidão o ardor da defesa das matas virgens, do canto dos pássaros ao amanhecer, com uma só linguagem – a linguagem do povo simples. O poeta deixou a dica: morreu pobre, num barracão de madeira com paredes de lençóis brancos. E de herança, apenas um chapéu de couro e uma viola “acagibada”. Diríamos que os lençóis alvejados por Maria, a mulher companheira fiel, que veio a falecer paupérrima, a exemplo do poeta, em 1973. Representam a pureza do seresteiro, que antes de chegar à parusia descreveu sua chegada ao Céu. O poeta gigante não morreu. Em homenagem a Catullo, proclamo de minha lavra:

PINGO DE DOR Um pingo d’água, um pingo de sol, um pingo de mar. Um amor pingado, amor sem pingo de vida. Pingo sem vida, pingo de vida, muita dor. Quando apenas um pingo de beijo, sem amor, triste vida, apenas dor.

Salve Catullo, o gigante adormecido em nossos corações! ______________________________ Referências AZEVEDO, Ramiro. Áreas linguísticas do Maranhão: estudo sobre áreas culturais do Maranhão quanto ao enfoque linguístico. Analise em campo predominantemente diacrônico. In Littera, jan/jun, ano VI, 1976, p. 103-112. ARAUJO, Murilo. Ontem, ao luar: vida romântica do poeta do povo Catullo da Paixão Cearense. Rio de Janeiro: A

noite, 1951. CAMPOS, Humberto. Crítica: primeira série. Rio de Janeiro:W.M.Jackson Inc., 1951.

Cº RIBAMAR CARVALHO. Cores e nuances de uma personalidade e de uma vida. São Luís: Tipografia São José, 1973.

RIBAMAR CARVALHO, José-CARLOS CUNHA. 2 Discursos. São Luís: Mirante, 1968. CEARENSE, Catullo da Paixão. Poemas bravios. Rio de janeiro: Livraria Castilho, 1921. ... Um boêmio no céu. Rio de Janeiro: Império, 1966. ... O sol e a lua. 3.ed.Rio de Janeiro: A noite, 1946. MEIRELES, Mário. Antologia da Academia Maranhense de Letras 1908 * 1958: publicação comemorativa do

cinquentenário de fundação da Academia: São Luís, 1958. VASCONCELOS, Ari. Panorama da música popular na Belle Époche. Rio de Janeiro: Livraria Sant’Ana, 1977.

POSSE DE MACATRÃO

ACADEMIA LUDOVICENSE DE LETRAS – ALL

POSSE DO ACADÊMICO ROQUE MACATRÃO

- APRESENTAÇÃO

RAIMUNDO DA COSTA VIANA – CADEIRA 36

Confrades, Confreiras, e demais presentes.

Muito me honra a incumbência de fazer a apresentação do Dr. Roque Macatrão, neste momento, em que formalmente toma posse nesta Instituição Acadêmica. De princípio, Roque Macatrão dispensa qualquer apresentação. Ele se auto-apresenta pelo seu trabalho, sua conduta de vida, e seu modo de Ser e de Viver. Sei, entretanto, que se trata de uma liturgia imposta por um dispositivo estatutário desta Casa. E hemos de cumpri-la. Do contrário, seria um ato inócuo, e dispensável.

Nasceu ROQUE PIRES MACTRÃO, em Brejo, neste Estado, em 13 de novembro de 1.935. Descende do clã MACATRÃO, tradicional família brejense. Seus pais, RAIMUNDO NONATO LIMA MACATRÃO e GRACINDA PIRES MACATRÃO, católicos praticantes, além do calor paternal, deram-lhe sólida formação religiosa. O que estrutura toda essa admirável pessoa, que é o Dr. Roque Macatrão. Já na madrugada da vida, fez o Curso Primário, em Brejo, no Grupo Escolar Cândido Mendes – dai data – creio eu - sua admiração pelo seu Patrono... Dirigido à época, por sua mãe, a de todos conhecida, respeitada, e estimada, a profa. Gracinda Macatrão.

RAIMUNDO, chamado carinhosamente, em Brejo, de RAIMUNDINHO, e GRACINDA, seus pais, eram pessoas de Altar, e do Altar. Viviam, diariamente envolvidos com o trabalho apostólico da Igreja Matriz N.Senhora da Conceição da então paróquia de Brejo, tão bem dirigida pelo seu saudoso vigário, Monsenhor Pedro Santos, reconhecidamente, o APÓSTOLO do Baixo Parnaíba. Mercê de seu trabalho pastoral, Brejo era tido e havido, como o sacrário, o coração católico de toda aquela Região.

Nascido e crescido nesse ambiente familiar extremamente religioso, estimulado e apoiado pelo Mons. Pedro Santos, vigário da Paróquia, o Garoto Roque, em fins da década de 1940, fora

encaminhado para o Seminário de Santo Antônio, em São Luis, como aspirante à vida presbiteral. O que – acredito – era mais um sonho de seus pais , e do Monsenhor Pedro que dele próprio. Expressa-o, com muito clareza, o fato de com apenas dois anos de seminário ter se divorciado da Batina. Deixada a vida conventual, Roque continua cá fora seus estudos. Concluiu o Curso Ginasial no Colégio Ateneu Teixeira Mendes; o Curso Clássico no Liceu maranhense; iniciou o Curso Superior na antiga Faculdade de Direito, em São Luis, e o concluiu na de Belém-Pará, onde residira por alguns anos. Desde então se mostrou vocacionado pela Advocacia. Integrou, por vários anos, o Quadro da Procuradoria Jurídica do BASA. Aposentado, não parou suas atividades profissionais. Prosseguiu, com muita dedicação como operador do Direito, junto aos tribunais. Prestou relevantes serviços na Administração da nossa Seccional da OAB. A Aposentadoria não conseguiu empurrá-lo para a Inatividade, e o consequente esquecimento, como sói acontecer. Seguiu, e segue, vida afora, dinâmico; sonhador; e realizador.

ROQUE FUNDOU AS SEGUINTES INSTITUIÇÕES:

EM BREJO: - O Grêmio Lítero Recreativo Humberto de Campos; - Ginásio Brejense, em parceria com o Mons. Pedro Santos; - Sociedade Civil de Defesa do povo e da terra brejense; - Academia Brejense de Artes e Letras.

EM SÃO LUÍS:

- Bancrevea Clube de São Luis; - Casa de Brejo; - Clube de Oratória. EM BELÉM – PARÁ: - Casa do Maranhão; - Agência de Empregos domésticos.

ALGUMAS INSTITUIÇÕES A QUE PERTENCEU:

- Grêmio Liceista; - Lyon Clube de Belém – PA. - Rotary Clube do Brasil; - Pertence à Ordem dos Advogados do Bras8il – OAB

PRODUÇÃO LITERÁRIA:

TRABALHOS PUBLICADOS:

- Casarões do Brejo - O trabalho do Detento Condenado, e a Solução dos problemas do Sistema Penitenciário Brasileiro. TRABALHOS INÉDITOS: - Coletânea de Discursos; - Escritos Diversos; - Curso de Oratória Dinâmica;

- Casarões de Brejo (2ª. Etapa) -Depoimentos de Brejenses que viveram no sec. XX - História do Ginásio Brejense.

LIVROS PREFACIADOS POR ROQUE MACATRÃO:

- Lirismo que o Trabalho transpirou – de Adriano Bessa Ferreira; -Rua do Porto – de Lourival Serejo; ( das mais importantes ruas da cidade , quiçá a mais importante , onDe se encontram as raízes da tradicional família MACATRÃO.) - Poesias Brejenses de Dr. Eugênio Martins de Freitas.

CURSOS DE QUE PARTICIPOU:

- Encontro Regional de Segurança Pública - Semana de Debates Jurídicos – Violência - III Seminário Maranhense de Pesquisas Forenses - IV Debate do Projeto de Cidadania- a Reforma do Código PenaL - V Debate de Projeto de Cidadania – A Reformada Lei de Execução PenaL. EM HOMENAGEM AO SEU TRABALHO NAS COMUNIDADES EM QUE VIVEU E VIVE RECEBEU AS SEGUINTES MEDALHAS:

-Medalha de Honra ao Mérito em reconhecimento pelo bons serviços prestados ao BASA durante 29 anos. - Medalha do Mérito Timbira; -Medalha Brigadeiro Falcão -Medalha do Mérito do Ministério Público “Celso Magalhães” - Medalha da Academia Brejense de Artes e Letras.

De toda a sua produção literária há de ressaltar-se, sobretudo, “OS CASARÕES DO BREJO”, onde Roque coloca, com muita clareza, e espontaneidade de alma, a vida ec onômica, e cultural de nossa querida Brejo. Fala-nos de seu invejável patrimônio humano; de pessoas, reconhecidamente íntegras e inteligentes, que comandaram, por muitas décadas, a políticza partidária, naquele município. Consídero o ícone político mais representativo da época o Coronel – como era chamado- Francisco Macatrão, seu tio-avô, que controlara, enquanto viveu, o Poder Executivo Municipal. Não há como falar da Família Macatrão sem se reportar à história de Brejo, e vice-versa.

Essas, confrades, Confreiras, e demais presentes, são as principais informações biográficas do empossando, no que concerne à sua produção literária, e demais atividades de seu dia a dia. O que, inegavelmente, emoldura sua vida acadêmica.

Nesta oportunidade, entretanto, não posso, nem devo fic ar por aqui. Urge ressaltar-se que por trás deste homem de cultura, há a grandeza de uma pessoa, que é o Dr. Roque Macatrão. C om justificada emoção, retorno ao passado para reverenciá-la. Cruzaram-se nossos caminhos na década de 1950. Ele, jovem seminarista. Estudava no Seminário de Santo Antônio, em São Luís. Eu, adolescente, egresso da zona rural, cursava o Primário, em Brejo, no Colégio Pio XII, criado e dirigido pelo então Pároco de Brejo, Mons. Pedro Santos.

Roque, ao longo desse tempo, foi e é obcecado por sua terra natal, Brejo. Busca todos os meios possíveis de incentivar a juventude brejense ao exercício da vida cultural. Em todas as oportunidades, quando fala ou escreve, ressalta o patrimônio humano, que ilustra a história daquela cidade. Sem dúvida, essa fidelidade à sua terra de origem se nos impõe, como um edificante exemplo

de conduta, infelizmente não seguido pela maioria dos demais brejenses, inclusive eu, que de lá emigramos em busca de novos caminhos. O destino não apenas nos legou o mesmo chão de origem, mas também nos aproximou pelas opções que fizemos, ao longo de nossa história de vida. Por vinte e nove anos exerceu a atividade bancária no BASA. Eu por 30 anos no Banco do Brasil. Graduou-se em Direito, Eu também. Da advocacia fez sua opção maior de trabalho. Eu do magistério tentei fazer um Ministério de vida. Até mesmo no caso do divórcio da batina segui o seu exemplo, à época considerado mal exemplo com aires de pecado. Após nove anos, já na antevéspera de formalizar o compromisso “ad aeternum”com os serviços do Altar, também formalizei o meu divórcio da sotaina. Dei adeus ao Santo Antônio, hoje inexplicavelmente, abandonado, a caminho de virar escombros!... E segui o meu OUTRO CAMINHO. Certo é que considero Roque minha bússola oculta a apontar-me o rumo certo; e o ponto de chegada pretendido.. Pelo seu trabalho, pela grandeza de pessoa, que é, faz jus à amizade, ao respeito e à admiração de todos nós, e muito ilustrará os anais desta Academia. Por fim, parodiando o dispositivo evangélico – “ingredimini in templum Dei!... - reportando-se à recepção dos ELEITOS no templo do Senhor, eu, confrade Roque Macatrão, em nome desta Assembleia vos digo:”ingredimini in templum Mariae Firminae” – seja bem-vindo à Casa de Maria Firmina.

Obrigado.

ELOGIO AO PATRONO – MACATRÃO

POSSE DE JOSÉ DE RIBAMAR FERNANDES

ÁLVARO URUBATAN MELO (Discurso de apresentação lido por Clores Holanda)

Ilustríssimo Senhor Presidente da Academia Ludovicense. Senhores confrades e senhoras confreiras. Senhores convidados. Ilustre Dr. José Ribamar Fernandes.

Se quiseres conhecer a graça da poesia que extasiou a juventude arariense dos anos 60, temos que beber na fonte das aspirações de José Fernandes, o poeta que Arari deu ao Maranhão.

Frase da lavra de seu conterrâneo, primoroso cronista João Francisco Batalha, exarada do prefácio de sua a obra “Alguém como nós”.

Caro José de Ribamar Fernandes, para favorecer esta tão aprazível tarefa, declaro que estou copilando conceitos lhe atribuídos por luzes que formam a constelação arariense, focada para clarear as honras e tradições pretéritas desse município, e mostrar os áureos caminho do porvir.

Bendita plêiade que desfrutou dos proveitos de ser discente do extraordinário apostolado do sacerdote padre Clodomir Brandt, vulto inapagável no caminho das criaturas coevas, assim como a Desembargador Elisabeto para Pinheiro; do Professor Joca para Balsas. Nós, são-bentuenses, depois da saída do padre Filipe, ficamos órfãos o que nos entristecemos.

E assim, recolho os subsídios para retratar os possíveis méritos de Zé Fernandes. José Ribamar Bastos e Silva qualificou:

És o amigo uma personalidade esférica que Arari produziu. Esférica física. Rui Barbosa falava dos pequenos frascos; intelectual, suas obras estão a confirmar; empresarial, êxito de gráfico e seria de torrefação numa município do Maranhão. Essa tua moral, o espirito e

associativa, robustece a razão que me levaram a convidá-lo para engrandecer o quadro da ALL. Por que não político, se fora vereador o mais novo do Brasil; seria prefeito, não acreditaram na mensagem e ímpeto de tua mocidade.

José Nascimento de Moraes - a realidade com onírico se confunde na poesia de Zé Fernandes.

Antônio Rafael da Silva – Zé Fernandes é um pensador político.

Gentil Costa – Zé Fernandes é aquele que consegue harmonizar a intelectualidade de boa estirpe com humildade.

José Fernandes arariense de quatro costados nasceu a 30 de janeiro de 1938. Foram-nos seus pais Nestor José Fernandes e Teresa de Jesus Fernandes. É seu cônjuge a assistente social, dona Maria José Batista Fernandes. Quatro são os amados rebentos do casal: Rosângela, do lar; Silvia, Cláudia e Nestor, advogados.

Seus estudos primários fê-los no Grupo Escolar Arimatéa Cisne. Concluiu, e para não ficar ocioso repetiu o quarto ano no Instituto Nossa Senhora das Graças. De inteligência aflorada e redator admirado, passou a ser o escriba alcoviteiro dos condiscípulos.

O ginásio e cientifico realizou em São Luís, no Liceu Maranhense. Bacharel em Direito pela UFMA, turma de 1978. Foi advogado do BDM e do BEM, Assessor de desembargador do TRT da 16ª Região e Juiz Classista.

Desde cedo, aos doze anos, apaixonado pelo invento de Gutemberg, ingressou no curso de artes gráficas da Escola de Artes Gráficas Belarmino de Matos, na terra natal. Com o diploma de tipógrafo, confiante em sua vocação empresarial, constituiu sua própria editora, conquistou a confiança de renomados intelectuais publicou obras do poeta José Chagas, Kleber Leite, Cunha Santos, Lopes Bogéa, Luís Pires, Genésio Santos, Abraão Cardoso, J. C. de Macedo Soares, Ericeira Sousa e reeditou livro de Raimundo Corrêa.

Com esse instrumento às mãos, torna-se mais pujante seus pendores às letras e aflora sua irrefutável exuberância de amor à imprensa, área que se tornou um irrequieto baluarte. Nessa atividade, com outros jovens conterrâneos, entre os quais o extraordinário poeta José Ribamar Carneiro Sobrinho, membros de uma brilhante geração, seus companheiros da União Arariense dos Estudantes, ele funda o jornal Gazeta Arariense, o Grêmio Arariense dos Estudantes - GAE, o jornal Vanguarda e o Colégio Comercial de Arari, vinculado a essa entidade, hoje fundação Cultural de Arari.

Caro confrade José Fernandes é a essa mocidade sonhadora, brava que seu Arari idolatrado, cantado, versejado, historiado tanto deve, cujos poderosos reflexos iluminam seu presente e resgatam a histórica grandeza de seu passado.

Imbuído do espírito municipalista, associativo, sempre vencido pelo obcecado desejo de enaltecer seu chão de nascença, aliado a valoroso batalhão de jovens dominados por essa aspiração, institui a Academia Arariense-Vitoriense de Letras, hoje como ontem, associação respeitada entre as congêneres. Mais recente organiza a Academia Arariense de Letras.

O ardoroso amor a sua região, associou-se a José Ribamar Farias e com outros colegas fez nascer a União Vitoriense de Letras e do jornal Correio do Mearim; com Raimundo Sérgio de Oliveira cria o Correio de Bacabal. Em Imperatriz, o Correio Tocantino.

Sua obstinada e salutar missão de fomentar a imprensa escrita, de parceria com Carlos Cunha, Walbert Pinheiro e Edson Vidigal, faz circular o jornal A Rua. Redigiu e editor as revistas Hinterland e Norte Integração.

Dominado pela incumbência voluntária de robustecer a imprensa escrita maranhense, e para serenar os ditames de sua vocação, alia-se a amigos e lança os periódicos: com José Ribamar Farias e Silva e outros ajudou a surgir o Correio do Mearim, órgão da União Vitoriense dos Estudantes – UVE. Com Othon Leite, O Estudante de Athenas, no Liceu Maranhense, noturno. Com Raimundo Sérgio de Oliveira, O Correio de Bacabal e, em Imperatriz, O Correio Tocantino, com a colaboração do arariense Zequinha Batalha, sendo estes os primeiros jornais impressos das duas cidades.

Contaminado pela escrita, colabora como articulista nos jornais O Imparcial, O Estado do Maranhão, Jornal Pequeno, e A Tarde, e na Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, sodalício que depois de ser sócio efetivo por três décadas, pelo seu valioso empenho foi, merecidamente, agraciado com o título de sócio honorário.

Senhores, como se expressou o desembargador e historiador Milson Coutinho, no proêmio de seu ultimo livro A Imprensa Gráfica no Maranhão, também, sem intimidade, mas já admirador do jovem orador estudantil, nos congressos da UMES, assim o conheci. Sempre afoito, ativo, desse tamanho, pois o talento que carrega o conduziu aos píncaros da glória, o impediu de crescer fisicamente. Nos pequenos vasos que se referiu Rui Barbosa.

Nossa amizade estreitou-se quando eu funcionário do BEM na Agência São Francisco, ele um cliente especial; consolidou-se como membros do IHGM, com contatos permanentes entre nossas academias – Sambentuense e vitória/arariense.

Ao ler profundamente suas obras, gentilmente dadivadas, convenci-me de seus méritos de cronista, jornalista, historiador e poeta. Seu livro Sabor da Memória são temas dos mais variados, porém, exaustivamente idolatrados, predominam: a imarcescível ternura pelo seu Arari, puramente retratado em seus muitos poemas. O carinho aos amigos da boêmia e da profissão, de lutas e anseios: Batalha, Nerly, João Ericeira.

Senhores: procuro entender o porquê os rios são musas poderosas dos poetas, cantados em belas canções, declamados em extensos poemas. São marcas indeléveis dos ribeirinhos. Serão saudades de suas águas que nunca são as mesmas? Faço essa menção para referir-me a uma palestra que nosso confrade proferiu no Arari, alusivo ao Mearim. ”O Tejo não é mais belo do que o rio que corre pela minha aldeia”. Rio a quem sou grato, no entanto lá perdeu vida do portentoso Abraão Cardoso do Carmo, nosso amigo José Fernandes e Professor Aymoré, que o viram pela ultima vez, a caminho da glória no eterno reino. Permitam-me aludir-me ao saudoso Abraão Cardoso, há dias Pinheiro, quando representava a FALMA e Academia Sambentuense fui assistir à posse de um sobrinho dele, na cadeira que o patroneia um Cardoso. Fiz-lhe revelações desse jovem eleito o melhor orador estudantil do Brasil, foi usar a tribuna.

Confrade José Fernandes, com imensa satisfação cumpro o convite para ser seu recipiente nesta solenidade. É mais uma entre outras que virão a enriquecer os anais desta confraria, que, precocemente, descortina-se robusta para o orgulho das letras são-luisenses.

Honra-me, recebê-lo nesta oportunidade quando o nome acadêmico procederá a apresentação do patrono de sua cadeira.

Distinções: Agraciado com a Medalha de Mérito do Juiz Classista concedida pela Associação Nacional dos Juízes Classistas do Trabalho, em Brasília-DF; Medalha do Mérito Maçônico, pela Confederação Maçônica do Brasil, pelos serviços prestados à humanidade; Medalha de Mérito Timbira, outorgada pelo Governo do Estado do Maranhão, pelos serviços prestados à cultura maranhense, e a Medalha do Mérito Arariense, pelo Poder Executivo do Município de Arari, em razão do conjunto de sua obra no âmbito sócio cultural e, por último, o Troféu Perone Dignidade Social - Ano 2010.

Colabora como articulista nos jornais O Imparcial, O Estado do Maranhão, Jornal Pequeno, e A Tarde, e na Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, instituição da qual é membro e diretor, ocupante da Cadeira nº. 49.

É autor dos livros: Poemas do Início, Caminhos da Alma, Eclosões (co-autoria), Crônica Arariense, A Representação Paritária na Justiça do Trabalho, O Educador Silvestre Fernandes.

No dia 7 de fevereiro, lançou mais dois livros: “A Industria gráfica no Maranhão”; e “Cantos telúricos”; na FIEMA.

O correto e melhor aplauso seria se o emérito poeta Carneiro Carneiro Sobrinho , que impecavelmente biografou em “Alguém como Nós, ou então reproduzisse aqui, pra consagrada ovação o elogio feito quando do livro.

Mas agora a honra é nossa, fruto da nossa amizade, sentimento imutável para mim. Uma vez amigo, sempre amigo.

ELOGIO AO PATRONO

ARTIGOS, & CRÔNICAS, &CONTOS & OPINIÕES!

DIA-A-DIA DO ENSINAR E APRENDER NO DESENVOLVIMENTO DE ENSINO NA GRADUAÇÃO DO CURSO DE DIREITO

RAIMUNDO NONATO SERRA CAMPOS FILHO

Primeiro dia de aula. Um encontro de alegria, expectativa, novidades, ansiedade, tanto por

parte dos docentes como por parte dos discentes. Iniciou-se, num grande grupo, no qual, por meio de uma dinâmica, nos apresentamos.

Foram apresentados os objetivos, a metodologia, os conteúdos da disciplina, enfim, o plano de ensino e a proposta de trabalho para o semestre.

Os alunos foram divididos em oito grupos menores, cada grupo ficou sob a responsabilidade de um orientador/facilitador.

A partir daí, desenvolveu-se as atividades de ensino-aprendizagem, como as aulas teóricas e práticas, nos pequenos grupos. Reuníamos-nos com o grande grupo a cada três semanas aproximadamente, pré-agendadas para a apresentação dos estudos de caso e das sínteses realizadas, seminários/palestras com especialistas no assunto, bem como para as avaliações formais e discussões, com críticas e sugestões sobre o andamento ritualístico do processo.

No pequeno grupo, traça-se nosso acordo, ou seja, definem-se as regras e normas para a convivência do grupo e assume-se um compromisso individual e coletivo. Os grupos ainda sempre participam de um rodízio para a construção da próxima etapa do trabalho processual.

Assim, todos os grupos, ao final do semestre e etapa final do processo judicial, conhecerão todos os processos, desde a construção de uma peça inicial, no papel de advogado, até a peça final, no papel, possivelmente de juiz.

A educação de adultos que acontece nas universidades pressupõe a utilização de metodologias ativas de ensino-aprendizagem que se propõem desafios concretos a serem superados pelos acadêmicos, permitindo que eles sejam sujeitos na construção do conhecimento.

O professor deve preparar o campo para propiciar a atividade do aluno, ou seja, provocá-lo para desencadear sua ação. Essa proposta pedagógica tem uma abordagem humanista e sócio-interacionista, com enfoque predominantemente no sujeito, onde professor é um facilitador da aprendizagem, criando situações para que os alunos aprendam o conteúdo, que consiste nas experiências reconstruídas por eles (Rodriguez, 1996).

Outra característica desse modelo pedagógico inovador, é o de aprender fazendo, onde a produção do conhecimento está vinculada aos cenários da vida real. Dessa forma, os alunos utilizam o ambiente de estudos denominado Núcleo de Prática Jurídica da unidade acadêmica da universidade para conhecer, na prática, os fundamentos para o cuidado profissional de direito processual, retornando depois para a sala de encontro, onde apresentarão, em grupo de quatro, a peça oportunizada de cada caso de cada processo, previamente autuado. O professor orientador conduzirá a apresentação e discussão dos casos, para que os alunos identifiquem as condições em que o autor ou réu se encontra.

Enfatizou-se que, acima de tudo, o direito cuida de pessoas e não da doença. A partir dessas informações, os alunos trabalham um caso fictício e construindo a peça que convier no momento oportuno, entrega o processo na secretaria do departamento docente, que funciona como secretaria do fórum, utilizando o prazo processual na forma do código de direito do processo, após essa entrega protocolada, pede juntada da peça nova construída par que o processo retome seu rito normal.

Fica evidente que a dinâmica do processo ensino-aprendizagem, aconteceu por meio da ação-reflexão-ação, pois, paralelamente aos estudos teóricos, os alunos tinham aulas práticas no Núcleo de Práticas Jurídicas e retornam às salas de aula para aplicar os conhecimentos teóricos e vivenciar o dia-a-dia do direito. Nessa vivência, os alunos observaram situações que foram muito além das questões de aprendizagem listadas em sala de aula, pois se depararam com questões éticas, situações de relacionamentos multiprofissionais, questões trabalhistas e relações de poder institucionais e profissionais.

As questões, surgidas no cotidiano dos alunos na instituição jurídica eram trazidas para dentro da sala de aula, colocadas em debate, promovendo um aprofundamento teórico, a partir de leituras.

A utilização de metodologias ativas requer do professor flexibilidade e capacidade de articulação, pois elas são ferramentas para alcançar o sujeito ativo, crítico, capaz de transformar-se e transformador de seu contexto.

Assim, as técnicas de ensino utilizadas devem propiciar que se trabalhe a representação do conjunto das questões, estimulando a comunicação, o trabalho em equipe, os contratos que se fazem, bem como as formas de convivência, permitindo a manifestação e levando em conta o tempo de aprendizagem de cada aluno.

A técnica em si, como por exemplo, trabalho com grupo maior ou menor, discussão circular, dramatização, demonstração, filme, painéis integrados, vivências e jogos criativos, entre outros, vai depender do que pareça mais adequado e útil para a situação concreta de aprendizagem (Breu, Guggenbichler, & Wollmann, 2008).

Quanto à dinâmica de estudo, a sugestão do grupo foi que todos estudariam o assunto na íntegra, podendo acontecer de forma individual ou em grupo, fazendo suas anotações, discutindo e compartilhando-as em sala de aula, bem como os textos retirados de periódicos, livros ou sites da internet. Essa dinâmica de estudo envolveu o desenvolvimento de habilidades de busca, seleção e avaliação crítica de dados e informações disponíveis em diferentes bancos de dados.

Os encontros, ou seja, as aulas teóricas, sempre iniciavam com uma roda de conversa, onde os alunos comentavam sobre o processo de estudo. Compartilhavam como estudavam, onde buscavam as informações e como havia sido essa experiência.

Observou-se que sempre estudavam em grupos de duas ou três pessoas, buscavam muitos dados em sites e periódicos, além dos livros disponíveis na Biblioteca Universitária. Essa estratégia visava desenvolver a iniciativa e a autonomia dos alunos, além de promover uma instrumentalização acerca das fontes adequadas e confiáveis para buscar informações. Também, consistia num exercício de crítica ao conhecimento produzido, ao instruir os alunos para o consumo do conhecimento produzido.

Um acordo feito no início do semestre foi que todos iriam falar nessa roda. No início, alguns alunos, mais tímidos, tiveram muita dificuldade para se expressar em público, porém essa habilidade também foi experienciada, uma vez que a comunicação é considerada um instrumento básico para o profissional, tendo a função de informar, persuadir, ensinar e discutir, além de ter a função de promover o relacionamento entre as pessoas para a busca de soluções.

Cada encontro se iniciava com uma situação de aquecimento, ou seja, estratégias utilizadas para incentivar, para ambientar o grupo, para auxiliar na interação, chamar a atenção e despertar para o processo educativo.

Após esse aquecimento, continuávamos com a discussão do tema da aula, enquanto buscávamos respostas para as questões de aprendizagem que havíamos levantado, a partir da construção do estudo de caso no primeiro dia de aula. Com certeza, o grupo trazia ainda outras questões, além daquelas que havíamos elaborado inicialmente, pois a busca de respostas incita outros

questionamentos, estimulando a pesquisa, contribuindo ricamente para o processo de ensino-aprendizagem.

Nesta nova postura, o professor compreende que não é ele que deposita o conhecimento na cabeça do educando, mas sim, é o sujeito que constrói o conhecimento, partindo da relação social, mediada pela realidade. Ao professor cabe provocar o aluno para que ele pense sobre a questão de aprendizagem, disponibilizar-lhe situações ou elementos para a elaboração de respostas aos problemas levantados e interagir com o seu aluno, favorecendo a reconstrução das relações existentes no objeto de conhecimento.

Periodicamente aconteceram encontros com o grande grupo de alunos e professores, onde a síntese das questões de aprendizagem, feita pelos subgrupos, eram apresentadas aos demais, e na maioria das vezes isso se deu por meio de dramatizações. Além dessas discussões em grupo, tivemos palestras com professores, especialistas em determinado tema a ser abordado, e contamos com a participação de profissionais dos serviços que enriqueceram os conteúdos discutidos com sua experiência profissional, por meio de depoimentos da prática.

Para a avaliação desse processo ensino-aprendizagem utilizaram-se múltiplos instrumentos, de diversas naturezas, de modo que pudessem ser consideradas as diversas competências esperadas para o aluno ao longo da disciplina. Assim, o processo avaliativo do aluno aconteceu por meio de avaliações formais escritas, avaliações realizadas durante do desenvolvimento de atividades práticas no Laboratório de Prática Jurídica, onde o aluno executava as técnicas aprendidas, avaliações do seu desempenho pelo seu portfolio.

A utilização de metodologias ativas de aprendizagem implica na utilização de uma avaliação formativa e somativa. A avaliação formativa valoriza o processo e permite que o professor perceba dificuldades que interferem na aprendizagem do aluno, possibilitando um retorno periódico e contínuo ao progresso do aluno, como um processo interativo, que seja um norte para os objetivos propostos.

Para ensinar é preciso que nos organizemos considerando as áreas interdisciplinares, necessitamos retirar informações das pesquisas para gerarmos conhecimentos, de pessoas que possam desenvolver e ensinar a aplicação do conhecimento e das informações extraídas das diferentes disciplinas, para obter ainda mais resultados favoráveis. Denomina-se esta técnica pedagógica de Metodologia Ativa.

BIBLIOGRAFIA

Breu, F., Guggenbichler, S., & Wollmann, J. (2008). Metodologia do Trabalho Científico. Vasa (pp. 1–48). Retrieved from http://medcontent.metapress.com/index/A65RM03P4874243N.pdf

Barros SMO, Bork AMT, Farah OGD. A experiência pedagógica para a formação dos futuros profissionais de enfermagem. In: Bork AMT. Enfermagem de excelência: da visão à ação. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2003. p. 167-74.

Prado, M. L. do, Velho, M. B., Espíndola, D. S., Sobrinho, S. H., & Backes, V. M. S. (2012). Arco de Charles Maguerez: refletindo estratégias de metodologia ativa na formação de profissionais de saúde. Escola Anna Nery. doi:10.1590/S1414-81452012000100023

Rodriguez, G. (1996). Metodologia de la investigacion cualitativa. In Introduccióin a la investigación cualitativa (p. 37). doi:: GR-847-1996

Universidade Federal de Santa Catarina. Regimento Internodo Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Enfermagem da Universidade Federal de Santa Catarina. Florianópolis: UFSC; 2000.

Vasconcellos CS. Construção do conhecimento em sala de aula. 13a ed. São Paulo: Libertad; 2002

Wall ML. Metodologia da assistência: um elo entre a enfermeira e a mulher-mãe [dissertação]. Curitiba: Universidade Federal do Paraná; 2000.

AQUI NÃO É BRASIL (???)

Por Leopoldo Vaz • sábado, 04 de abril de 2015 às 07:46

http://www.blogsoestado.com/leopoldovaz/2015/04/04/aqui-nao-e-brasil/

Faz alguns anos, escrevi que o Maranhão não era Brasil. Fui duramente criticado!

Justifiquei que o Maranhão era – e é – o Maranhão! Pois possui uma cultura a parte da brasileira! Já fora um Estado colonial, com administração separada da do Brasil, dede 1617, implantada em 1621, e persistiu até o Reino Unido, por volta de 1811, sendo anexado, por força das armas, ao então nascente Império Brasileiro, em 1823…

Nossa cultura, até pelo menos a penetração da Rede Globo, era completamente diferente da brasileira, com seus valores próprios, seu linguajar característico, seus usos e costumes diversos daqueles mais ao Sul. Mesmo contando de Pernambuco para Baixo, onde estava localizado o Brasil de antanho.

Mesmo no período que antecedeu o Pombalino – 1750-1777 – o Maranhão era diferente do Brasil. A política de expansão territorial com a conquista de toda a região - que hoje compreende a Amazônica -, parte de São Luis, com a ocupação desse vasto território, que vai se consolidando com os tratados de Madri e de Santo Ildefonso. “Uso possidetis”… quem usa, ou ocupa, possui a posse da terra; isso se dá com a administração Pombal, e o Diretório dos Índios, que os considera súditos do rei de Portugal, e deveria se lhes ensinar o português, e os usos e costumes civilizados – processo civilizatório -; fala-se o português? São súditos portugueses? Então a terra pertence a Portugal… Ponto!!! Hoje, somos o que somos em termos de dimensões territoriais, e em relação à fragmentação do Império Espanhol…

E pensar que isso só foi possível a partir do estabelecimento da Aldeia da Doutrina, 1617 e definitivamente 1621… daqui que se irradiou todo o modelo de ocupação e integração do índio… o hoje Vinhais Velho, a antiga Miganville… mas vemos que outras praças, outros lugares, outras povoações também tiveram sua importância, tão ou igualmente importantes. Vinhais Velho foi uma luta de mais de dois anos para que o Estado reconheça que desde tempos imemoriais – pelo menos 9.000 anos!!! – era ocupado; primeiro pelos indígenas, depois por um contingente de europeus, a partir da feitoria de Riffault, De Vaux, e de David Migan a partir de 1594… a linha regular de navegação do Capitão Gerard, a partir de 1596… e finalmente, com a fundação da colônia da França Equinocial, em 1612… dai em diante a história e contada e reconhecida… hoje, temos a certeza do reconhecimento, apenas, e no papel, dessa importante parte de nossa História.

Mas por que isso agora?

Pois bem, recebi da Dra. Rosa Machado, lá de Portugal, importantes notícias de ações de restauro de um rico patrimônio, que vem desde os tempos da ocupação romana e, antes disso, da visigodo… Portugal está em um processo de recuperação de sua memória e de sua história, preservando seus monumentos… são centenas de ações e de novas descobertas, imediatamente incorporadas ao patrimônio histórico e colocada à visitação publica. Turismo!!!

Da mesa forma, Susana Gastal, aqui no Brasil, me manda só hoje, sábado, 04/04/2015, noticias de pelo menos 15 ações de recuperação de monumentos – prédios de interesse histórico – em várias partes do Brasil… todas amparadas por leis municipais, estaduais e federal… com recursos alocados e os serviços iniciados imediatamente; a sua maioria através de ações do Ministério Público, estaduais e federal, no sentido de preservação da memória de cada uma das cidades, municípios, estados… patrimônio histórico do povo brasileiro!!!

Da mesma forma, recebo a noticia abaixo: aqui, não é Brasil, certamente. Vejam o estado daquilo que já é tombado e as providencias que se tomam, nas três instancias de poderes…

Pela viabilização efetiva da anexação do Maranhão ao Brasil, embora decorridos tantos anos, ou restaurem-nos a liberdade!!! Voltemos a ser o País de nome Maranhão…

FORTE DA VERA CRUZ DO ITAPECURU ou FORTE DO CALVÁRIO.

Situado na margem esquerda da ribeira do Itapecuru, onde hoje está a cidade de Rosário.

Foi construído por volta de 1620, no contexto da expulsão dos franceses do Maranhão, a mando de Bento Maciel Parente, que disputava com Pedro Teixeira o governo da Capitania.

Ambos tiveram muita importância sobre a manutenção do território brasileiro à oeste, guerreando com franceses, neerlandeses e ingleses na região amazônica.

Inicialmente foi usado como proteção dos engenhos de cana de açúcar no vale do Itapecuru contra o ataque de indígenas.

Mais tarde, durante a invasão holandesa, foi tomado por estes contra os próprios lusitanos.

Após sua expulsão, foi retomado e ampliado pelos portugueses.

É tombado pelo Iphan desde 2009, mas apesar de sua importância na História do Brasil no contexto das invasões francesas e holandesas, permanece em ruínas.

A ALMA DAS COISAS

ANTONIO AUGUSTO RIBEIRO BRANDÃO “Todas as coisas estão cheias de deuses” Tales de Mileto (séculos VI – VII a.C.), matemático e filósofo grego.

Há tempos ilustre conterrânea, de escrita fácil e grande inspiração, escreveu sobre sentimentos

em relação ao violão de estimação que “embalou” os seus sonhos da juventude. Fiquei pensando: e o violão, quais teriam sido os seus reclamos sobre os desprezos eventualmente sofridos ao longo do tempo? Se for verdade que as coisas têm alma, então nem se fala.

Lembrei-me dos tempos passados, de um programa da Rádio Nacional, a mais ouvida na Caxias daquela época. Falava, por exemplo, de um violão deixado no seu canto, esquecido, que dizia mais ou menos assim:

- Sinto saudades do momento em que fui comprado pela primeira vez; havia ficado exposto, na vitrine da loja de instrumentos musicais, vendo os meus parentes mais próximos, de sonoridade mais nobre - os violinos sempre foram considerados assim -, serem levados pelos seus primeiros donos. Vocês não podem imaginar, mas sofri muito durante todo o processo em que fui construído, com aquele velho artesão a dispensar, sempre, mais atenção e esmero no trato àquele violino.

- Na exposição da loja, dentre todos os violões, fui o último a ser escolhido; quando fui levado afinal, sem saber quem seria meu dono (a), mesmo assim exultei de alegria. É que a pessoa que me comprou não parecia entender muito de música; nada perguntava ao proprietário da loja sobre os instrumentos ali expostos nem sobre partituras ou coisas do gênero, pois deveria estar desejando apenas dar um presente a alguém.

- Mais tarde minhas expectativas se confirmaram. Fui dado de presente a uma moça, esta sim, pela maneira radiante com que me acolheu em seus braços, não somente devia entender de música como gostar de violão. Que felicidade! Afinal iria desfrutar do aconchego dos braços daquela jovem. E foi assim durante muitos anos, ela abraçando-se a mim e eu sentindo o prazer desse carinho. Mas, como felicidade dura pouco, breve apareceu um concorrente.

- Devem estar pensando que esse tal concorrente era outro violão, novo e mais moderno, importado, digno de aposentar um produto nacional, mas errado. Acreditem, foi uma pessoa - todos pensam que têm mais alma e sentimentos do que nós, as coisas -, um rapaz da mesma cidade da minha dona, filho de família ilustre e tradicional, que começou a roubar seu coração. À medida que o tempo decorria, mais havia menos tempo para mim. As músicas não precisavam ser mais tocadas, bastavam ser ouvidas; de minha parte, ia ficando no meu canto, esquecido, sofrendo a perda daquela grande amizade, sem rumores nem ressentimentos.

- Agora, não me peçam para dizer o que finalmente aconteceu comigo: só sei que ela acabou casando com o tal rapaz, meu definitivo concorrente, e que ainda hoje vivem felizes e contentes, sem lembranças nem remorsos daquele primeiro instrumento musical.

PENSAR PROBLEMAS EDUCATIVOS COMO DURAÇÃO: continuidade e diferenciação

RAIMUNDO NONATO SERRA CAMPOS FILHO

Neste trabalho elabora-se uma síntese dos assuntos normalmente discutidos em sala de aula “Pensar os problemas educativos como duração: continuidade e diferenciação”. Destacam-se as compreensões acerca do tempo na história individual e social, a temporalidade dos problemas sociais e educacionais, o paradigma da complexidade na análise da realidade e a concepção de corpo como construção cultural.

Os problemas não são estáticos: tem gênese, desenvolvimento e transformação. Há algo em comum entre as crianças e os filósofos: a capacidade de se maravilhar com o mundo.

Os filósofos levam esta capacidade de maravilhamento às últimas consequências, descobrindo e investigando os problemas da experiência humana. Tais problemas giram em torno de conceitos centrais, comuns e controversos em nossa experiência.

Desta forma, os filósofos conseguem criar e reconstruir conceitos e buscar formas de explicação mais abrangentes para os problemas da vida. As crianças ficam intrigadas com os mesmos conceitos problemáticos, ou seja, colocam-se questões sobre a verdade, as regras, a justiça, a realidade, a bondade, a amizade, etc.

Necessitam, portanto, de uma educação filosófica para tratar destas questões e, simultaneamente, aprender os processos do raciocínio e do julgamento.

A filosofia na educação das crianças tem por objetivo introduzir de forma intencional e sistemática a investigação filosófica na formação desses sujeitos desde os primeiros anos da educação formal e informal.

Pode-se dizer que a principal tarefa do professor é a de criar condições para que as crianças aprendam os conceitos de forma reflexiva e não mecânica, ainda que, algumas vezes, tenhamos de recorrer a exercícios para bem realizar este trabalho.

Se a educação deve realizar a tarefa de aprender a usar a palavra para significar a experiência, então há uma dimensão filosófica em toda atividade docente.

Fazer filosofia com as crianças é criar esta prática de pensar, um ambiente onde o questionamento da criança sobre conceitos comuns, centrais, controversos e problemáticos da experiência infantil possam ser adequadamente investigados e não simplesmente respondidos com “verdades absolutas” ditadas pela experiência do adulto.

O pressuposto deste paradigma educacional é o de que a educação deve começar onde está a criança e não onde está o professor. Trata-se, antes de mais nada, de respeitar a dignidade da criança, um ser ativo, presente, brincante, pensante, portador e produtor de saberes.

Trata-se de garantir o direito à liberdade de pensar, de escolher, de agir e de se expressar. De acordo com o que já foi dito, fazer filosofia é uma necessidade humana básica para poder lidar de maneira inteligente com os desafios e conflitos da vida da criança e não menos na vida do professor ou de quem ouse abandonar o comodismo dos conceitos prontos ou a rotina que leva a mesmice.

Se estas reflexões estiverem corretas, a força do amor implícita na palavra filosofia deveria encorajar todos a se envolver numa luta pela democratização do acesso à filosofia em todas as idades, em todos os momentos da educação que se proponha formadora das pessoas, em todos os espaços da vida.

Uma das reflexões desenvolvidas entre os temas em referência considera a interrelação dos tempos passado, presente e futuro. Nessa análise, o passado está impregnado no presente, que por sua vez, impregna o futuro.

A humanidade se constroi, assim, como filha do seu tempo e espaço, os problemas sociais, da mesma maneira têm movimento, isto é, têm origem, desenvolvimento e sofrem a ação transformadora dos sujeitos históricos.

Jasmin (2006, p. 9) corrobora essa compreensão ao ensinar que o

[...] tempo, aqui, não é tomado como algo natural e evidente, mas como construção cultural que, em cada época, determina um modo específico de relacionamento entre o já conhecido e experimentado como passado e as possibilidades que se lançam ao futuro como horizonte de expectativas [...] a história – considerada como conjunto dos fatos do passado, como dimensão existencial e como concepção e conhecimento da vida, que permitem a sua inteligibilidade – deve ser apreendida em sua própria historicidade, constituindo um objeto de reflexão teórica destinada a conhecer os seus limites e as suas consequências”.

Nesse sentido, a humanidade pensa os problemas de acordo com o tempo e espaço em que estão situados, os sujeitos, assim como seus problemas são contextualizados.

Destarte, há épocas em que o tempo parece aos seus contemporâneos desenrolar-se lentamente, outras, que parece acelerado, em função da rapidez das transformações políticas ou tecnológicas.

Existem períodos da história eivados de movimentos revolucionários, nos quais os sujeitos que deles participam desenvolvem a sensação de que o futuro é aqui, agora, tendo se fundido ao presente.

Em outros, inclusive, o futuro parece permanecer atrelado ao passado, como naqueles em que as expectativas do futuro não se referem a este mundo, mas sim a outro que será trazido pelos tempos.

As fusões e clivagens que se estabelecem imaginariamente entre as três temporalidades – passado, presente e futuro – podem aparecer ao ambiente mental predominante em cada época, e às consciências daqueles que vivem nestas várias épocas, de maneiras bem diferenciadas.

Atualmente podemos, a partir destas noções, pensar melhor nas temporalidades, uma relação certamente mutável de acordo com as várias épocas, com as diversas culturas, e com os muitos posicionamentos historiográficos.

Há épocas em que o espaço das experiências parece fundir-se com o presente, ou dele se destacar; e há outras épocas que concebem o presente como uma linha grossa ou como uma linha fina que precede o futuro, e há ainda outras cujo horizonte de expectativas é tão agitado, e vivido com tanta intensidade, que se chega a pensar que já se está vivendo o futuro.

Torna-se relevante acentuar a concepção de problema a partir da ótica acima considerada, haja vista que a identificação dos problemas sociais, entre eles, os problemas educacionais, relaciona-se diretamente com o pensamento, posto que o que não é problemático, não é pensado.

Nessa concepção, problema diz respeito a uma dificuldade que precisa ser superada a partir dos conhecimentos produzidos acerca da realidade considerada, sendo esta a finalidade precípua da ciência, pois quem não for capaz de formular problemas não é capaz de fazer ciência. Esta é a função do poder mágico do pensamento, construir uma ordem ainda invisível de uma desordem visível.

Nessa perspectiva, discutiu-se na disciplina sobre os paradigmas de produção do conhecimento científico, ressaltando o paradigma da complexidade (Morin, 2010) como método que supera a simplificação das perspectivas positivistas que não consideram a relação passado – presente – futuro.

Para o paradigma da complexidade os fenômenos são explicados a partir da historicidade, sem fragmentação, sem descontextualização.

Nessa direção, a Escola de Annales, originada na França, no início do século passado, representou uma revolução na ciência ao propor métodos de produção de conhecimentos históricos que consideram os processos que originam os fenômenos, dando menor importância aos acontecimentos breves.

Aborda-se, ainda, como objeto de estudo deste trabalho “Pensar os problemas educativos como duração: continuidade e diferenciação”, a compreensão do corpo como construção cultural, isto é, o corpo é produtor de cultura ao mesmo tempo em que é influenciado por ela, desfazendo-se a dicotomia entre natureza e cultura.

Percebe-se que a relação dos indivíduos com o corpo transcende a dimensão biológica e que todo indivíduo é detentor de características culturais singulares em seu corpo, expressas através de seus pensamentos, sentimentos, ações, saberes e experiências que são permanentemente incorporadas nas relações socialmente construídas.

Nas palavras de Chiés; & Guedes (2001, p. 34):

Portanto, os sujeitos sociais assumem sua condição humana como traduzida na “posse do corpo”, quando na verdade esse “ser cultural” - toda a amplitude do termo em um só fenômeno - seria o corpo, o “eu sou o corpo”, e em mim mora a natureza humana como elemento a edificar a estrutura de uma coletividade em expressão no universo.

Na atual sociedade que atribui grande valor à imagem corporal, o corpo é consumidor de produtos ligados à beleza, à saúde e à moda, por exemplo.

O corpo humano pode ser considerado o resultado da interseção entre a biologia e a cultura. As sociedades definem seus padrões sobre o que é belo e o que é feio, atraente ou não, símbolo de status ou estigmatização.

Na sociedade ocidental contemporânea isso tem chegado ao ponto de gerar obsessões em busca do corpo perfeito ou forma de expressão.

O corpo também é usado como forma de expressão. A tatuagem, por exemplo, que antes era marginalizada, virou obra artística, adereço cultural. Também é comum o uso de piercings ou de modificações físicas e de vestuário para traduzir as características de determinada tribo urbana.

Em outras culturas o corpo, também, é utilizado para diversas representações.

Outra experiência proporcionada neste estudo, em análise foi vivenciada nas visitas aos Museus de Rafael Bordalo Pinheiro e da Cidade de Lisboa.

Essa forma de abordagem dos conteúdos de ensino amplia a visão tradicional de que a educação é restrita ao espaço da instituição acadêmica, pois como afirmam Evans; Davies; Rich (2013, p. 230):

A atividade pedagógica, portanto, ocorre não apenas na educação e escolaridade formal, mas em outros locais sociopolíticos e culturais, tais como nas famílias, nas escolas, nas

igrejas, nas mesquitas e nas cirurgias dos médicos, nos quais ocorre o trabalho no corpo, bem como nos panoramas sociotecnológicos emergentes de novas mídias como a internet.

Além disso, foi possível refletir sobre a arte como forma de interpretação e expressão da realidade, na qual passado e presente se apresentam como tempos não contraditórios no movimento da realidade, o passado não está morto nas obras de Rafael Bordalo Pinheiro, por exemplo, haja vista a atualidade das críticas à sociedade do seu tempo.

No mesmo raciocínio, as fontes históricas observadas no Museu da Cidade de Lisboa revelam a condição de sujeitos históricos de homens e mulheres que constroem o patrimônio da humanidade, ao mesmo tempo em que são construídos pelos tempos e espaços em que vivem.

Além disso, ressalta-se que o trabalho do historiador se refere à investigação das transformações no tempo, ao produzir sentidos sobre o passado a partir das fontes históricas. Assim, o historiador dá vida e faz falar o que poderia ser, tão somente, uma fotografia, um objeto ou um documento.

De fato, essa concepção de humanidade histórico-social supera as visões inatistas que atribuem uma predeterminação às subjetividades, desprezando o peso da cultura na construção dos sujeitos que, conforme se viu nas reflexões ora expostas, produz a corporalidade ao mesmo tempo em que por ela é produzida, histórica e socialmente.

Para finalizar, ressalta-se os importantes contributos dos estudos que produziram a construção dos referenciais científicos imprescindíveis ao desenvolvimento do trabalho de investigação exigido para um doutoramento em educação.

BIBLIOGRAFIA

Chiés, P. V.; Guedes, C. M. (2001). Construção cultural de corpo e enigmas humanos na adolescência. In Revista Kinesis. Santa Maria - RS, n. Especial, p. 27-154.

Comte, A. (1976) Discurso sobre o espírito positivo. In Os Pensadores. São Paulo: Abril Cultural.

Evans, J.; Davies, B.; Rich, E. (2013). Educando o corpo em uma cultura performática. In Sociologia da educação: análise internacional. Porto Alegre – RS: Penso, p. 225-238.

Jasmin, M. (2006). Apresentação. In Koselleck, R. Futuro passado: contribuição

à semântica dos tempos históricos. Rio de Janeiro: Contraponto; Ed. PUC-Rio.

Morin, E. (2010). Ciência com consciência. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil.

Ohara, J. R. M. (2013). Passado histórico, presente historiográfico: considerações sobre história e estrutura de Michel de Certeau. In História da Historiografia. Ouro Preto – MG, n. 12, p. 197-212.

Roiz, D. S. (2010). Tempo, história e historiografia. In Emblemas – Revista do Departamento de História e Ciências Sociais – UFG. Goiania – GO, p. 319-329.

ÉTICA COMO PRÁTICA DA VIDA HUMANA

ALDY MELLO

Professor Universitário, Ex-Reitor da UFMA e do CEUMA, membro do IHGM E da Academia Ludovicense de Letras.

A literatura sobre o estudo da ética é mais antiga do que vasta. Pouco se tem escrito sobre o

tema e muito pouco se tem praticado a ética na nossa convivência diária. O interesse pela ética tem sua origem ainda na civilização pré-socrática, o que deu a Sócrates o cognome de fundador da ética no ocidente. Muitos outros vieram depois, como Aristóteles que sistematizou os estudos nessa área; Kant, filósofo alemão, fundador do Criticismo, tratando da razão pura e da razão prática, cuja doutrina repousou na ideia de que se pratica o ato moral perante a definição de algum bem ou o temor de algum castigo. Mais recente temos Spinoza, filósofo holandês, um dos representantes do Racionalismo panteísta, inspirado no modelo da geometria que unifica Deus, substâncias e natureza. Sua contribuição foi tentar fundamentar a ética a partir do método geométrico, dando a ela fundamentos tão sólidos como aqueles da geometria.

Didaticamente, podemos dizer que ética é a parte da filosofia que investiga o que é moralmente bom ou ruim, certo ou errado. O fato moral tem suas bases na ética, onde são determinadas as diretrizes e os princípios da nossa vida cotidiana, às vezes até sob certa confusão. A nossa sociedade pós-moderna ou a globalizada civilização do final do século XX não conseguem aproximar a ética de certas coisas de realce nos dias atuais, como é o caso do poder. É, por acaso, essa criação feita sob distanciamento da ética ou sob o signo do antiético? Michel Foucault quando analisa sua genealogia do poder, no seu livro Microfísica do Poder, deixa claro que dificilmente poderá existir estreita relação entre coisas como poder e ética. Para Foucault só haverá relação quando se leva em conta o que ele chama de "produção da verdade." Do poder se diz, em síntese, ser ele uma prática de natureza social, secularmente instituída e sempre buscada e desejada por muitos. Por não ser um objeto, ou materialmente algo que se possa guardar para sempre, ele estará sujeito às mudanças das relações sociais e até certo ponto subordinado aos ciclos instituídos pela historia dos atos dos homens e do próprio poder. O dinheiro, quando não vem a ser uma derivante do poder, faz-lhe saudável companhia, tornando-se dele um forte aliado. E a ética? Dificilmente conviverá amistosamente com ambos, quando se trata de trazer ao meio deles a produção da verdade.

Ética tem tudo a ver com o lícito ou o ilícito, o certo e o errado, com o bom e o ruim. Fora desses parâmetros só existem as criações que são impostas pelas regras da convivência humana. Possivelmente, haverá ética quando não mais predominar a inveja, quando o sentimento não se restringir somente ao desejo de honrarias, quando não se tem como regra básica o próprio proveito em detrimento alheio.

Sabemos que nossa sociedade apresenta características bem distintas de outras épocas da história. Vivemos em sociedades abertas onde a mídia é ao mesmo tempo causa e efeito, nessa aldeia globalizada prenunciada por Macluhan, onde cada vez mais se presencia o processo de degradação da pessoa, tornando-a o alvo da massificação e do consumo, por prevalecer as regras do coletivismo, da padronização sobre a essência da pessoa humana. de quem falta, cada vez mais, o compromisso com a existência ou a exigência essencial da vida pessoal, da vida de cada um. A ética, portanto, muito tem a ver com o comportamento pessoal, com a relação que o homem tem com o mundo e vice-versa.

No processo de formação de personalidade, inclui-se a importância da escola. Não aquela escola nefasta que cultiva a falta de ética, aquela escola que permite a cola, como manifestação clara e desagregadora da moral e da cidadania. Hoje temos incentivo da cola até na Internet com o seu tão conhecido site “Cola da Web” que leva à prática o incentivo: “Quem não cola, não sai da escola.”

Como é possível se esperar futuros políticos, futuros profissionais ou meros cidadãos honestos, se eles foram forjados na escola da cola on-line?

Filosofia para os gregos era sabedoria. A Filosofia, historicamente, teve seu início no século VI a.C. quando surgiram as preocupações com o homem, a vida e o universo. Coube aos pré-socráticos, os filósofos que viveram antes de Sócrates, os primeiros estudos de Filosofia, questionando-se sobre o homem e o universo, baseados na razão. Logo em seguida vieram novos períodos importantes para a história da Filosofia, o período pós-socrático, o período medieval, o período moderno até chegar a época atual.

Dizem os historiadores que a ética moderna teve uma importância fundamental nas diversas mudanças que marcaram a transição entre a sociedade feudal e a sociedade moderna em todos os sentidos. A ética

moderna rompeu com as inúmeras relações cultuadas na Idade Média como razão e fé, estado e igreja, homem e Deus, ciência e religião. A ética moderna tem dois filósofos muito importantes na sua construção: René Descartes (1595-1873 ) e Immanuel Kant (1724-1804).

O mundo moderno foi um período da História que se caracterizou por importante transição e mudanças históricas. Grandes eventos aconteceram na Idade Moderna, modificando por completo a moral política e religiosa, o crescimento do absolutismo, a abolição da escravatura, o surgimento do Novo Mundo, o Renascimento italiano, as monarquias nacionais, tudo isso fazendo nascer uma nova ética para a humanidade.

Na contemporaneidade, tivemos muitos filósofos que se preocupavam com

o agir ético. Podemos destacar Jacques Maritaim (1882-1973), Herbert Marcuse (1889-1979), Jean Paul Sartre (1904-1980), Norberto Bobbio (1909-2004), Michael Foucault (1926-1964) Todos falaram da civilização tecnológica que atualmente vivemos e dos destinos que o homem haveria de ter diante do tão desenvolvido planeta.

Se buscarmos a ética kantiana, encontraremos o conceito de dever moral, o que veio a ser chamado mais tarde de deontologia. Hoje vivemos uma sociedade onde o medo predomina, medo de tudo e de todos, tornando o homem mais apático e insensível, com pouca disposição de cooperar. Muitos autores falam do “vazio ontológico” trazido pela civilização técnico-científica, onde a sabedoria ético-prática da humanidade adquirida através da história parece nada valer. Nosso mundo contemporâneo parece ser marcado com questões civilizatórias que vieram alterar o panorama sobre a ética construído pela história.

Deixando de lado as diversas ações filosóficas da ética, diz-se que do ponto de vista do Direito a ética assume seu lado verdadeiramente prático. Em direito, o agir ético se refere aquilo que alguém precisa fazer para se relacionar socialmente com os outros. A ética é importante para o Direito e sem ela não haverá justiça e, consequentemente, paz. E aqui os autores dizem que o tempo humano denomina-se história.

A ética vai além dos direitos individuais, pois ela acompanhou a própria evolução dos direitos com a chegada do Iluminismo. Foi a partir de Karl Marx, em 1848, que os direitos deixaram de ser unicamente individuais, e sua conquista passou a ser coletiva. A liberdade passou a ser social. Não mais os homens lutavam somente pela segurança própria, mas pela segurança social e coletiva, começando, assim, a defesa dos direitos humanos. A ética, então, passou a ficar ao lado do direito de todos, incidindo sobre questões valorativas que dizem respeito à vida.

A relação da ética com o Direito não pode se restringir apenas ao campo dos mandamentos dos códigos e das leis avulsas de um determinado estado, tendo em vista que direito não é apenas um mero conjunto de procedimentos e ritos.

Entre ética e direito existem territórios que são comuns, pois ambos trazem sua objetividade. No Direito encontramos a possibilidade de se destacarem a escala de valores que é aceita pela sociedade, enquanto na ética encontramos a consciência das pessoas e, consequentemente, a consciência jurídica de cada um. A ética traz em seu bojo o comportamento moral do homem e sua relação com a convivência humana e leva à reflexão sobre os fundamentos da moral existentes na sociedade. A ética tem, portanto, seu caráter normativo, o que faz a ter uma profunda intimidade com o Direito, pois o agir ético, ou a forma de ser, significa o mundo e o território do outro, lá onde estão os seus direitos. É claro que esse caráter normativo da ética nem sempre repercute o verdadeiro sentido do direito, mas quase sempre sim. Sendo o direito um fenômeno cultural e a ética também, ambos têm uma expressão marcante na civilização ocidental.

Aaaaaaahistóricos, a política modificou-se, introduzindo novos conceitos, os partidos e os perfis dos governantes e do homem público. Do mesmo modo, a religião não ficou vinculada apenas a questões de natureza espiritual. A moral religiosa levou as pessoas a se associarem aos bons e maus caminhos para a salvação e as formas de convívio com seus semelhantes. O grande presidente americano John Kennedy disse que “a mudança é a lei da vida. E aqueles que confiam somente no passado ou no presente estão destinados a perder o futuro.” É a religião mudando a cultura humana e social. É a política, por sua vez, tornando-se arte ou uma ciência de organizar a coisa pública, de onde deverão ser banidos os corruptos e incompetentes. Tudo parece mais próximo da polis dos antigos gregos.

Dizem os autores filósofos que sendo a ética uma prática da vida humana, ela sofre as influências pessoais e coletivas impostas pelas exigências morais e a cultura organizacional. O homem não existe sem seu convívio social e a ética realimenta essa convivência, sustentando ainda as bases do conjunto de valores e normas que os homens e a sociedade necessitam.

O fato moral, quando existente, sustenta e garante a moralidade de que precisam os homens para viver e os sistemas sociais e culturais para subsistir. Claro que essa realidade só é percebida e conduzida pelo homem através do conhecimento, como já admitiam os gregos e nos foi sacramentada por Kant.

As soluções trazidas pela sociedade moderna não serviram apenas para exterminar o pensamento medieval, buscando apagar acontecimentos do passado, mas e, sobretudo, para renovar ideias, reformular teorias, introduzir novos métodos, o que muito alterou as condutas morais das pessoas, da sociedade, do mundo e dos seres humanos. O mundo moderno e, logo após, o mundo contemporâneo, projetaram desafios que a nova vida trouxe, permitindo ao homem individualmente e à sociedade os enfrentar.

A humanidade precisa de ética, não bastando apenas que ela seja utilitarista como deseja Peter Singer. O homem precisa ter nova visão do mundo e de si mesmo, para ser feliz e fazer os outros felizes.

A contemporaneidade, que para muitos parecia um futuro tão longínquo, enfim chegou com um novo homem, uma nova sociedade e um mundo diferente. Contemporâneo tem sido o homem capaz de embriagar-se pela sua competência, estarrecer-se com o avanço das ciências e admirar a eficácia da tecnologia. Esse, para nós, é o homem que tem fechado os olhos para a natureza, esquecido a convivência familiar e social, mudo e cego diante de si mesmo.

O mundo, a sociedade e o homem, todos aguardam a chegada de um novo humanismo que represente a preservação da vida, que saiba garantir não apenas o nosso lugar, mas o lugar do outro, que traga finalmente o renascimento do espírito.

Será possível a ética passar de um devaneio meramente filosófico para algo que se possa aplicar na prática da vida? A Filosofia dedica uma atenção especial a essa questão, quando nos mostra a ética aplicada.

REFERÊNCIAS

ARISTÓTELES, Ética a Nicômaco. São Paulo: Abril Cultural, 1973

BOBBIO, Norberto. Dicionário de Política. Brasília: Ed. Universidade de Brasília, 1981.

BOFF, Leonardo. Ética e Moral: a busca dos fundamentos. Petrópolis: Vozes, 2003.

KANT, Immanuel. Fundamentação da Metafísica dos Costumes. In: Kant. Trad. Paulo Quintela. São Paulo: Abril Cultural, 1974.

PEREIRA, Otaviano. O que é Moral. São Paulo: Editoras Brasilienses Primeiros Passos, 1991.

PERELMAN, Chaim. Ética e Direito. São Paulo: Martins Fontes, 2002.

SALVI, Gustavo. As Grandes Religiões - Das origens ao mundo de hoje. Itália: Editor Caminho, 2001.

SINGER, Peter. Ética Prática. Tradução de Jefferson Luiz Camargo, São Paulo: Martins Fontes Editora Ltda. 2002. (Coleção Biblioteca Universal).

A FÉ QUE CURA

SANATIEL PEREIRA Engenheiro Civil, Escritor, Pesquisador e Professor Associado da UFMA.

O homem ocidental, na maioria das vezes, quer resolver as questões ligadas às suas dores em algumas horas, senão em alguns minutos. Esse fato impulsionou à indústria farmacêutica se desenvolver de forma espetacular disponibilizando drogas de todos os tipos para todo e qualquer mal. Atualmente é bem difícil encontrar um ser humano que não use regularmente, ou de forma casual, algum tipo de remédio para curar as suas dores. Hoje, o acesso aos remédios é tão fácil, que às vezes dispensamos o médico, aquele que, de fato e de direito, deveria ser o agente da prescrição.

Por conta dos males do nosso tempo, tornamo-nos usuários de carteirinha – para não dizer de cartãozinho – a fim de ter acesso mensal ao desconto de remédios que não curam, mas também não nos deixam morrer, tornando-nos somente contribuintes vitalícios de laboratórios que nada sabem de nós, como pacientes. Tornamo-nos dependentes de outras drogas que matam, a longo prazo, pelos efeitos colaterais que poderão advir da sua ingestão diária. Entretanto isso há muito pouco tempo não era assim.

Em São Bento dos Peris, minha cidade natal, antes da chegada do Senhor Bibi Muniz, o primeiro farmacêutico que cuidou dos males do povo, havia uma casta de iniciados na arte de curar as enfermidades sem utilizar qualquer tipo de droga. Se os males eram pequenos, como nervo torcido, carne aberta, arca caída, e mau-olhado, estes eram tratados com benzedeiras respeitadas, como Dona Flor ou Mãe Joana. Aquelas mulheres eram tidas como santas dentro da vila porque arrancavam o mal, com suas orações, logo na primeira vez. As únicas ferramentas utilizadas pela benzedeira para restabelecer a saúde de quem a procurava era um galho de pião-roxo do quintal e água de poço, trabalho feito como missão e comunhão com o Altíssimo, nada era recebido como pagamento.

Os casos mais difíceis eram tratados com outro grupo, agora ditos curadores. Estes tratavam de males oriundos de desequilíbrios emocionais e do espírito. As paixões da alma eram tratadas com cantos, para fazer com que o paciente novamente encontrasse a harmonia consigo mesmo e com a natureza. Era a busca da saúde por meio da música, e cantos eram entoados pelo espírito do curador, para ajudar aquele que o procurara em busca de equilíbrio e paz. Muitas mulheres se prestaram a este serviço através dos tempos, como Dona Agostinha, Ivete e Margarida, que carinhosamente era chamada de Gaida.

A lista das parteiras leigas é longa, porque adentra as portas do século dezenove. Todas elas eram chamadas de mãe, como mãe Izabel, que viveu nos primeiros anos do século passado. Se não me engano, quem fechou este ciclo foi mãe Edelvais, que me puxou de dentro da barriga de minha mãe para viver neste mundo. Estas mulheres ajudaram outras a trazer ao mundo aqueles que fizeram e fazem a história do povo são-bentuense. Naqueles tempos não havia farmacêuticos, médicos e drogas naquela região para amenizar a dor e o desespero. A mulher daquela época estava obrigada a ter filhos de forma natural.

Em todos esses casos comentados, existe uma constante: a fé que curava, independentemente de qualquer droga. Fossem males do corpo ou da alma, o necessitado de ajuda, entregava-se à benzedeira ou curadora em uma fé que removia montanhas. A certeza de que o mal seria retirado do seu corpo estabelecia um elo de confiança extraordinário e nada poderia dar errado. E assim foi!

O livro sagrado conta que Jesus, ao entrar em Cafarnaum, foi interpelado por um centurião que lhe pediu em súplica a cura do seu servo que jazia paralítico, e sofria muito. Depois de ouvi-lo, Jesus

disse-lhe: “Eu irei e o curarei”. Mas o centurião, respondendo, disse a Jesus: “Senhor, eu não sou digno que entreis em minha casa; dizei, porém, uma só palavra e o meu servo será curado”. Acrescentando, falou: “Pois, também eu sou um homem sujeito a outro, tendo soldados às minhas ordens, e digo a um: Vai, e ele vai; e a outro: Vem, e ele vem; e ao meu servo: Faze isto, e ele o faz”. Jesus, ouvindo isso, se admirou, e disse para os que o seguiam: “Em verdade vos digo, que não achei tão grande fé em Israel”. Então disse ao centurião: “Vai, seja-te feito conforme creste”. E, assim foi!

O homem moderno entregou-se a outras formas de combater o mal, esquecendo-se da sua força interior e da fé que remove montanhas. Não podemos culpá-lo, pois a propaganda das drogas atuais, fabricadas pelo mesmo homem, promete remover as suas dores em alguns minutos. E, quem humanamente não deseja isso? O mundo está a mil por horas e não podemos perder nenhum minuto desse tempo, porquanto com um copo com água e um comprimido podemos abater uma dor de cabeça em alguns segundos.

Mas Tetê, um boêmio pensador são-bentuense, me disse há dezenas de anos: “Para que tanta pressa, se o futuro é a morte?”.

É TUDO MENTIRA

SANATIEL PEREIRA Engenheiro, escritor, pesquisador e professor da UFMA,

membro da ALL e da SOBRAMES.

Outro dia, fui visitado por Aldous Huxley. Ele, embora de aparência velha, por conta de seus trajes ultrapassados, não apresentava nenhum traço de senilidade, denotando, pelo contrário, o homem eterno, com as mesmas ideias avançadas para o nosso tempo. Fitou-me com olhos afetuosos, sabendo que se tratava de um dos seus leitores assíduos, que, na juventude, reuniu tudo publicado, sob a forma de papel impresso, com o seu nome. Estavam longe os dias de leitura do Admirável Mundo Novo e de Sem Olhos em Gaza. Ele sabia da nossa confluência de ideias e dos sinais que deixou no caminho para que eu me orientasse e não me perdesse em minha busca. Abri a porta do meu apartamento contente pela visita tão inesperada do mestre que me iniciou na realidade fantástica. E nos sentamos para conversar.

Naqueles tempos, em uma das nossas conversas textuais, ele tinha me advertido para não acreditar na versão da mentirosa. Lembro-me da sua postura irreverente, dobrando os braços em sinal jocoso de desagrado à senhora dama que nos conta os fatos que ocorrem sobre a face da Terra: “Para ela: uma banana”. Aquele aviso me deixou atento a vida toda e, igual a ele, passei a ser também como Tomé: “Só vendo para crer”. A partir daí, fiz as minhas próprias regras: a primeira sinaliza como alguém deve se relacionar com o mundo: “Homem crédulo, homem tolo”.

A revisão foi quase completa. Sabendo das minhas convicções, ele saiu com as suas notícias sob a forma de metáforas, em tom irônico, mas sério, sem ligar para as anotações sem respostas que guardei nestes anos de caminhada e que pretendia lhe mostrar. Mas não foi preciso! A conversa partiu de exemplos banais que o tempo ainda não apagou.

Pedro Álvares Cabral nunca descobriu o Brasil, nem Cristovão Colombo descobriu as Américas. Muitos outros povos estiveram nesta parte do mundo, muito antes das datas dos ditos descobrimentos. As Américas já estavam habitadas há milênios, e seus habitantes possuíam níveis de conhecimento e cultura muito maiores do que alguns povos do Velho Mundo. Eles não precisavam desses colonizadores bárbaros que dizimaram as populações aqui existentes para lhes tomar a terra e as riquezas.

O Papa não é o representante de Deus na Terra, nem é infalível, uma vez ser humano com todas as suas vicissitudes. Por mais que seja um enorme jogo de sedução desempenhar este papel, no entanto, é tudo uma grande fantasia. Todos sabem disso, mas preferem acreditar no que lhes contam. Pedro não fundou igreja alguma, muito menos Jesus. Não existe céu e inferno; nem seremos julgados em tempo algum. Se não temos consciência do que fazemos, como poderemos ser julgados pelos nossos atos? Somos todos criaturas divinas, disse sorrindo.

Nenhuma Academia torna alguém imortal. Tolo e iludido é aquele que imagina não desaparecer da memória dos homens simplesmente por tornar-se membro de uma confraria. Acadêmico sem obras é sino sem som, chuva sem água e noite sem estrelas. Acadêmico sem obras é discurso sem palavras, casamento sem filhos, perdão sem remissão e choro sem lágrimas. Se tua obra não entra no fluxo dos ventos, inútil é a tua presença.

Títulos, em sua maioria, são adereços colocados em cima de pessoas que pensam saber demais. Pergunte a alguém titulado se sabe cozinhar ou passar roupa, para perceber qual o seu nível de sobrevivência se faltar energia ou a empregada doméstica. Ninguém tem noção das necessidades básicas do homem, muito menos das essenciais. E tome título para engordar os tecidos do cérebro

alcoólico daquele que pensa que sabe o que não sabe. Corra dos títulos, pois eles esterilizam a mente criadora e o tornam pateta diante do mundo real.

Papai Noel nunca existiu; na verdade, é produto do capitalismo selvagem que quer vender, a todo custo, a sua mercadoria no fim do ano. A maior ilusão da terra chama-se Natal. O homem nunca foi à Lua? Por que mesmo iríamos lá? Se ainda desconhecemos quase a totalidade do planeta que habitamos?! Foi tudo encenação e produto da vaidade humana? Hitler não morreu no fim da Segunda Grande Guerra. As forças existentes naquela época permitiram que ele fugisse para a América do Sul em troca de isolamento anônimo e promessa de não mais se envolver com as coisas do mundo. Viveu muito mais do que foi contado nos livros de História. José Sarney não nasceu no município de Pinheiro. Você sabia? Ele nasceu em São Bento.

Entre tantos assuntos de que tratou, lembro-me de sua advertência final: cuidado com os livros, porque são formas de tornar a mente sonolenta e de lhe tirar os olhos da realidade. Lembre-se: Sancho Pança, em leito de morte, fez o seu último pedido: destruam os livros!

SAIR À SORRELFA

AYMORÉ ALVIM.

ALL, APLAC, IHGM.

Era uma quarta-feira, dia de sueto ou de folga, no Seminário de Santo Antônio. Como não havia aulas, os seminaristas pela manhã tinham atividades físicas como futebol, voley ou basquete e, à tarde, podiam, das 15 às 17 horas, receber visitas de parentes ou, de acordo com o comportamento no mês anterior, sair à rua, mas acompanhado por um colega e sempre de batina, faixa e chapéu. Numa dessas quartas-feiras, após o café da manhã, nos preparamos para jogar. Quando eu e Osmar, seu Losma, fomos descendo a escada que leva ao andar térreo, o padre Reitor, um cearense de quase 2 metros e obeso, que acabara de sair do refeitório me chamou.

- Venha cá, seu Aymoré.

O Osmar ficou espreitando da escada o desenrolar da conversa.

- Sua benção, padre Reitor.

- Beija a mão, idiota, tu estás de batom?

Aí tive que beijar aquela mão grande, gorda, peluda e já suada àquela hora da manhã.

- Veja ali. E apontou para o jardim que ainda fica em frente ao refeitório. O senhor está vendo seu Gregório? Ao invés de ir mudar a roupa para ir jogar com vocês, ele quer ficar é regando as plantas. Ele não é jardineiro. È um grande beócio, o senhor não acha? O que poderia eu dizer?

- É, sim, senhor.

- Pois não é não senhor, seu idiota, gritou em cima de mim. Venha cá, seu Gregório. Veja aqui seu Aymoré. Ao invés de descer para jogar bola com aquele outro idiota, vem até aqui com desculpa de me tomar a benção para falar do senhor.

Nessa hora, seu Losma percebeu que ia sobrar para ele e foi saindo de fininho.

- Eh! Você venha cá também. Você manda este capadócio vir até aqui para falar do Gregório que está fazendo uma boa ação e agora vai saindo à sorrelfa?

- Saindo pra onde, padre Reitor? Eu vou é jogar bola, disse seu Losma.

O padre, então, se vira para mim.

- Diga para ele o que significa essa expressão.

Eu me enchi de autoridade e falei. Padre Reitor, à sorrelfa é apanhar sol.

- O senhor não me tira do sério, seu Aymoré. Procurem vocês dois um dicionário, vejam o que significa a expressão, apanhem caneta e papel e venham ficar de pé aqui na parede do refeitório. Vocês vão copiar 500 vezes o seu significado. Quando terminarem me procurem.

Sinceramente, não sei quem pôs, nessa quarta-feira, o padre Reitor no meu caminho. Mas, como tudo tem uma compensação, nunca mais esqueci o que é “sair à sorrelfa”.

Quando não se aprende, a vida ensina. É isso aí.

A INFÂNCIA DO POETA GONÇALVES DIAS NA CIDADE DE CAXIAS

É um dever para todos os brasileiros, mas cabe mais particularmente aos filhos da Província, pugnar pelas suas glórias. O Maranhão, que tão dignamente figura na República das Letras, deve dar o exemplo de como se estimar os bons engenhos, de como se zela a fama própria, de como se respeitam esses grandes vultos que entram no Panteon da Posteridade. (Gonçalves Dias

FRANCISCA GIRLENE DIAS SILVA Fundadora e Administradora do Blog:

http://textosencantadores.blogspot.com.br/.

Em uma de suas constantes viagens ao Sitio Boa Vista (Mata do Jatobá), o comerciante

português João Manuel Gonçalves Dias, conheceu a mestiça Vicênça Mendes Ferreira. Apaixonado, levou-a para morar com ele em uma casa localizada a Rua do Cisco (atual Benedito Leite), centro comercial da vila de Caxias.

Naquela época o Maranhão era ligado diretamente à Coroa Portuguesa. Assim, quando Dom Pedro I proclamou a Independência do Brasil em 1822, houve forte resistência das tropas portuguesas em toda província. Com a prisão do Major Fidié em Caxias, as tropas nacionalistas invadiram a vila e lançaram multas para aquelas pessoas que haviam apoiado o movimento de resistência. Decidido a não pagar a pena imposta pela nova jurisdição, o comerciante resolveu esconder-se com a família no sítio localizado nas matas do Jatobá.

João Manuel Gonçalves Dias (..) fugiu com sua amante Vicência Ferreira, às pressas, grávida de nove meses, ainda sentindo dores, seguindo as margens do RioItapecuru à noite, passando pelas cercanias do Cemitério das Pedras, do bairro doIpem,Sabiá, atravessou o riacho São José, trilhou pela Estrada Velha da Sambaíba, no 2º. Distrito de Caxias” (SHALLKYTTON, 2014),

Sob o céu maranhense livre do domínio português, Vicência deu à luz ao menino Antônio Gonçalves Dias no dia 10 de agosto de 1823. Temendo a prisão, o comerciante português partiu sozinho para Portugal.

De volta ao Brasil dois anos depois, reintegrou o comércio na Rua do Cisco onde foi morar com Vicência e o filho pequeno. Em 1829, João Manuel Gonçalves Dias separa-se da companheira e casa-se com Adelaide Ramos de Almeida. Daí por diante, Gonçalves Dias passa a conviver com o pai e a madrasta.

Casa nº 23, onde residiu o poeta Gonçalves Dias, na antiga Rua do Cisco, hoje rua Benedito Leite(casa de esquina nº 23).

Na cidade de Caxias, o menino Gonçalves Dias cresceu. Era forte, inteligente, curioso,“não

tinha temperamento mofino ou acomodado, ao contrário, vivia envolvido em porfias de corridas, saltando em árvores ou à cata de passarinhos.” (MONT’ALVERNE,1975, p.126).

Menino estudando

Tela criada para o Blog “Textos Encantadores”

Aos sete anos de idade iniciou o processo de aprendizagem com o Prof. José Joaquim de Abreu, depois com um primo “também de nome Antônio, que, à custa de rigores que chegavam aos castigos corporais, ensinou-lhe caligrafia e noções básicas de contabilidade” (MORAES, 1998, p. 33).

Aos dez anos de idade já trabalhava com o pai atendendo ao balcão do comércio, que era repleto de mercadorias: “feijão, arroz vermelho da terra, farinha, carne-seca, peças de tecido de chita, rolos de tabaco, pedras de açúcar mascavo e rapaduras, ovos, linha de costura, sal, café, manteiga de garrafa, barbante, algum botão de osso, alforjes, alpercatas” (ANA MIRANDA, 2002, p.20).

O escritor Antonio Henrique Leal no seu livro Panteon Maranhense (1987), aponta o perfil do pequeno despachante: "Era para ver como ele daquele tamaninho, que mal lhe aparecia a cabeça

por trás do balcão, não se deixava embair pelos fregueses, antes levava-lhes a melhor em respostas agudas e ditos picantes".

Além de ter sangue indígena correndo em suas veias, foi no comércio que Gonçalves Dias teve contato com os índios que procuravam “o centro comercial de Caxias para troca de seus artigos de artesanato, com certos gêneros alimentícios e artigos do pequeno mundo civilizado” (COLARES, 1973,p. 75). Mas foi nas ruas de Caxias “que o menino Tonico presenciou os maus-tratos infligidos aos negros e aos índios e isso o motivou a ter horror à escravidão dos africanos e a violência contra o indígena. Essas lições da infância foram depois transformadas em belíssimos poemas e prosas que exaltaram essas duas raças“. (SANTOS, 2011).

Foto de um Índio da tribo Timbira/Imagem da Internet

A inteligência e o hábito de leitura do filho fizeram com que João Manuel o presenteasse com

vários livros:

Percebendo o interesse e a avidez com que o filho costumava ler tudo quanto alguns colegas de infância lhe franqueavam, a exemplo da “História do Imperador Carlos Magno e os Doze Pares de França”;“Paulo ou a Herdade Abandonada”;“O Cego da Fonte de Santa Catarina”, além de outros livros de Duminil, de Marmontel, de Montelieu, de Florian e de Bernardin de Saint-Pierre, João Manuel, presenteou o menino com a primeira das obras citadas, que era sobre todas a preferida. Mas também, patriota orgulhoso dos fatos e feitos de sua terra, sentimento que terá pretendido transmitir ao filho, fez questão de dar-lhe a História de Portugal, de Laclede, e a Vida de D, João de Castro, de Jacinto Freire de Andrade. (MORAES, 1998, p. 33).

Em 1837, João Manuel decidiu levar Gonçalves Dias para estudar na Universidade de Coimbra, porém, muito doente, faleceu em São Luís. Em 13 de maio de 1838, com a ajuda da madrasta Adelaide, o futuro poeta deixa Caxias e parte para estudar em Portugal, onde escreve o poema “Saudades”:

Parti, dizendo adeus à minha infância. Aos sítios que eu amei, aos rostos caros,

Que eu já no berço conheci, - àqueles De quem, malgrado a ausência, o tempo, a morte

E a incerteza cruel do meu destino, Não me posso lembrar sem ter saudades,

Sem que aos meus olhos lágrimas despontem.

Terminados os estudos em Coimbra, regressa a Caxias no ano de 1845, e hospedou-se na casa da Rua do Cisco com a madrasta Adelaide. Em Caxias o poeta escreveu diversos poemas, entre eles: “Morro do Alecrim”; “Sofrimento”; “Recordação”; “O Cometa”; “Tristeza”; “O Soldado Espanhol”; “Deprecação”; “Amor? Delírio – Engano”; “A Virgem”; “Tristes Recordações” e “Caxias”. Escreveu ainda, a primeira parte de uma de suas mais brilhantes prosas, a obra “Meditação”, considerada pelo poeta modernista Manoel Bandeira como o “primeiro grito abolicionista da poesia brasileira” (1998).

Foi aqui, na terra amada, que o poeta Gonçalves Dias se viu incomodado com as críticas a sua vida pessoal:

A curiosidade caxiense rondava a vida do Poeta, tentando pespegar, no seu comportamento, algo que o indispusesse com a sociedade. Estatura abaixo da média, fronte alta, olhos pequenos e brilhantes, Gonçalves Dias andava pelas ruas de Caxias, desnudado pela inusitada curiosidade pública, que já o repulsava pelos seus modos desenvoltos, atentatórios aos graves e rígidos princípios do burgo. A fumaça do charuto redemoinhava a irritação de Aldeias Altas; os goles de cerveja e a vinhaça sorvidos no balneário do Riacho da Ponte denunciavam os costumes que o Poeta iria introduzir, mas que lhe eram tão naturais” (MONT’ALVERNE, 1975, p. 136).

Riacho Ponte.Nessas águas cristalinas o poeta Gonçalves Dias

adorava tomar banho sempre que retornava a Caxias/ Imagem da Internet

Um escândalo para a sociedade da época, tudo nele despertava reprovação nos caxienses - o seu o jeito de vestir, hábitos, opiniões: “Calcule-se o espanto de Caxias diante do moço doutor Gonçalves Dias que tomava banho de riacho entre cervejas, charutos e, naturalmente, um pouco de tiquira, a forte cachaça de mandioca, bebida maranhense de homem macho. Haviam de considerá-lo um demônio, destruidor da sociedade” (ODYLO COSTA, 1970).

Decepcionado, Gonçalves Dias aceita o convite do amigo Teófilo Leal e viaja para São Luis no inicio de 1846. Aliás, foi em São Luis que ele conheceu o grande amor de sua vida, Ana Amélia Ferreira Vale, prima de seu amigo Teófilo Leal. Da capital maranhense, o poeta segue para o Rio de Janeiro, onde, após receber a reposta negativa sobre o pedido de casamento que fizera a Ana Amélia, casa-se em 1852 com Dª.Olímpia.

Embora morando longe do Maranhão e alcançado a consagração como expoente do Romantismo, o poeta nunca esqueceu sua terra natal. Veio sempre que lhe foi possível visitar os amigos e familiares aqui no Maranhão, na sua amada Caxias para sempre imortalizada na poesia “Canção do Exílio”:

Minha terra tem palmeiras, Onde canta o Sabiá; As aves que aqui gorjeiam, Não gorjeiam como lá. Nosso céu tem mais estrelas, Nossas várzeas têm mais flores, Nossos bosques têm mais vida, Nossa vida mais amores. Em cismar, sozinho, à noite, Mais prazer encontro eu lá; Minha terra tem palmeiras, Onde canta o Sabiá. Minha terra tem primores, Que tais não encontro eu cá; Em cismar - sozinho, à noite – Mais prazer encontro eu lá; Minha terra tem palmeiras, Onde canta o Sabiá. Não permita Deus que eu morra, Sem que eu volte para lá; Sem que desfrute os primores Que não encontro por cá; Sem qu’inda aviste as palmeiras, Onde canta o Sabiá.” (Coimbra - julho 1843)

REFERÊNCIAS: LEAL, Antônio Henriques. “Gonçalves Dias”. In: Pantheon Maranhense: ensaios biográficos dos maranhenses ilustres já falecidos. Rio de Janeiro: Editorial Alhambra, 1987. 2ª edição. BANDEIRA, Manuel. “A vida e a obra do poeta”. In: Gonçalves Dias: poesia e prosa completas. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1998. COLARES, OTACÍLIO. O Romântico Gonçalves Dias. In Revista da Academia Cearense de Letras. Fortaleza, ano LXXVI, n.36, 1975. MIRANDA, Ana. Dias e Dias. Companhia das Letras. São Paulo, 2002. MONT’ALVERNE, Francisco Marialva. Atualidade Gonçalvina. In Revista da Academia Cearense de Letras. Fortaleza, ano LXXVI, n.36, 1975. MORAES, Jomar. Gonçalves Dias: Vida e Obra. São Luís: Alumar, 1998. ODYLO COSTA, Filho. Discurso de Posse na Academia Brasileira de Letras. 1970. SHALLKYTTON, Erasmo. Gonçalves Dias – Ainda no meio do mar. Disponível: <http://www.shallkytton.com/visualizar.php?idt=658989>. Acesso em 01 de janeiro de 2014. SANTOS, Neide Medeiros. Gonçalves Dias: “um poeta mestiço como sua pátria”. Crítica literária – FNLIJ/PB Disponível: <http://nastrilhasdaliteratura.blogspot.com.br/2011/11/goncalves-dias-um-poeta-mestico-como.html>. Acesso em 14 de agosto de 2014.

O PÁSSARO SÍMBOLO DO BRASIL É O SABIÁ

FRANCISCA GIRLENE DIAS SILVA http://textosencantadores.blogspot.com.br/.

O pássaro símbolo do Brasil é o Sabiá Laranjeira. O Sabiá é considerado Símbolo da Fauna brasileira e Ave Nacional do Brasil pelo Decreto de 03 de outubro de 2002, do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.

O Sabiá pode ser encontrado em todo território brasileiro. No século XIX, o poeta caxiense

Antonio Gonçalves Dias imortalizou o pássaro nos versos do poema "Canção do Exílio":

"Minha terra tem palmeiras Onde canta o Sabiá As aves que aqui gorjeiam Não gorjeiam com lá"

Da literatura a música popular brasileira o Sabiá recebeu homenagens de nomes como Chico

Buarque de Holanda, Tom Jobim, Luiz Gonzaga, Milton Nascimento, Patativa do Assaré, Carlos Drummond de Andrade, João Paulo Paes, Luis Gonzaga, Casimiro de Abreu e Roberta Miranda.

"Ah! Tô indo agora prum lugar todinho meu Quero uma rede preguiçosa pra deitar Em minha volta sinfonia de pardais Cantando para a majestade, o Sabiá A Majestade, o Sabiá" (Roberta Miranda) “Se eu tenho de morrer na flor dos anos Meu Deus! não seja já; Eu quero ouvir na laranjeira, à tarde, Cantar o Sabiá!”. (Casimiro de Abreu)

“lá? ah! sabiá… papá… maná… sofá… sinhá… cá? bah!” (João Paulo Paes) “Tu que anda pelo mundo (Sabiá) Tu que tanto já voou (Sabiá) Tu que fala aos passarinhos (Sabiá) Alivia minha dor (Sabiá)” (Luis Gonzaga) " Vou voltar Sei que ainda vou voltar Para o meu lugar Foi lá e é ainda lá Que eu hei de ouvir cantar Uma sabiá” (Chico Buarque e Tom Jobim) “Sabiá bebeu, bebeu Sabiá bebeu licor... Sabiá toca viola Sabiá, canção de amor!” (Cantigas Populares) “Sabia que o sabiá sabia assobiar?” (trava-línguas)

Infelizmente, muitas pessoas gostam tanto do Sabiá, que querem tê-los perto de si. Acabam capturando o passarinho e prendendo-o em minúsculas gaiolas.

Prender o símbolo vivo do Brasil uma prática considerada Crime Ambiental. Precisamos soltá-los das gaiolas como sinônimo de liberdade e poesia. Pois o lugar de passarinho é nas matas, voando alto com outros de sua espécie, e para que seu canto belo e majestoso continue sendo fonte de inspiração para poetas de todo país. *******************************************************

Presidência da República Casa Civil

Subchefia para Assuntos Jurídicos DECRETO DE 3 DE OUTUBRO DE 2002.

Dispõe sobre o "Dia da Ave" e dá outras providências.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, no uso da atribuição que lhe confere o art. 84, inciso II, da Constituição,

DECRETA:

Art. 1o O "Dia da Ave", instituído pelo Decreto no 63.234, de 12 de setembro de 1968, será comemorado no dia 5 de outubro de cada ano.

Art. 2o O centro de interesse para as festividades do "Dia da Ave" será o Sabiá (Turdus Rufiventris), como símbolo representativo da fauna ornitológica brasileira e considerada popularmente Ave Nacional do Brasil.

Art. 3o As comemorações do "Dia da Ave" terão cunho eminentemente educativo e serão realizadas com a participação das escolas e da comunidade.

Art. 4o Este Decreto entra em vigor na data de sua publicação.

Art. 5o Revoga-se o Decreto no 63.234, de 12 de setembro de 1968.

Brasília, 3 de outubro de 2002; 181o da Independência e 114o da República.

FERNANDO HENRIQUE CARDOSO Paulo Renato Souza José Carlos Carvalho Euclides Scalco

Este texto não substitui o publicado no D.O.U. de 4.10.2002

Fonte: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/dnn/2002/Dnn9675.htm

MEUS MOMENTOS DE ANJO...

AYMORÉ ALVIM.

31 de maio de 2015, à noite. Coroação de Nossa Senhora, na Igreja de São Luís Rei de França. Como ministro da Sagrada Comunhão estava lá.

No final da missa, a cerimônia. Várias crianças vestidas de anjo avançaram, lentamente, rumo ao altar da Virgem pelo corredor central da Igreja.

Enquanto isso, muitas lembranças começaram a passar qual caleidoscópio pela minha mente. Vi-me um dia lá em casa, em Pinheiro, quando ouvi dona Inez dizer para um grupo de senhoras:

- Muito abrigada. Vou vestir o Aymoré de anjo e ele vai participar da coroação.

Na verdade, eu não fiquei gostando nada de me vestir de anjo. Lembrei-me que há poucos meses, em dezembro de 46, pra pagar uma promessa, na procissão de São Benedito, que uma tia fez para mim, me pintaram todo de tisna, passaram um batom vermelho em minha boca, grudento que só bago de jaca, e me meteram num chambre marrom, amarrado pela cintura com um bonequinho no braço.

Vocês já podem imaginar com o que eu estava parecido.

Quando a procissão desceu a Rua Grande e foi passando em frente à Praça da República ou da Prefeitura, um grupo de companheiros da bola começou a gritar “Olha o Saci de Zé Alvim”. Nessa hora, comecei a chorar, deixei a procissão e corri pra casa.

Como veem, já estava ressabiado de me vestir de santo ou de anjo. Mas, não adiantou. No dia 31 de maio, lá estava eu, na Igreja Matriz de Santo Inácio, de chambre branco, asinhas e tudo que era preciso, menos batom e rouge que quiseram passar em mim porque era de noite.

- Bijú, tu vais sentar aqui na ponta do altar. Censão já vem te arrumar, disse-me dona Celsa, minha tia.

- Aymoré, agora entorta a cabeça pra este lado e põe a mão direita dobrada embaixo do queixo, falou-me Censão, minha prima mais velha.

- Assim eu não fico.

- Não ficas por que? Vou chamar Cecé e dizer que tu não queres obedecer.

- Assim não fico já disse. Eu sou é anjo e não anja.

- Bobagem. Tu vais ficar. Cecé, ajeita esse pequeno aqui. Censão relatou o ocorrido.

- Tá certo, Biju. Tu vais lá pra cima. Censão, troca ele com aquela menina da direita.

Censão me levou. Eu subi num banquinho e fiquei à direita da garota que ia coroar Nossa Senhora.

- Agora, Aymoré, tu ficas voltado pra N. Senhora com os braços para cima e abertos.

- E se eu cansar?

- Nada disso. Vais ficar assim até acabar a coroação.

De qualquer forma, era bem melhor do que ficar de cabecinha virada e mão no queixo. Na hora que o padre já estava chegando para iniciar a benção do Santíssimo (nessa

época não havia missa de tarde nem à noite) para depois haver a coroação, um cretino lá da porta da Igreja gritou:

- Êh! Turma, vem ver. Aymoré vai voar dentro da Igreja. Foi um riso geral.

Desci dali, na hora. Queria ir embora.

- Vem cá, Biju, falou minha tia. Quando me dirigi para a sacristia, Censão gritou para Zé Pereira, o sacristão.

- “Fecha a porta e agarra ele”.

Nessa hora, subi numa mesa, abri a janela e pulei para a rua e corri. Daí a pouco, quando a turma me viu passar pela praça saiu correndo atrás:

- Corre, anjo, eles vão te pegar. Aproveita as asas e voa que tu chegas mais depressa em casa.

- Já acabou, meu filho? Perguntou-me dona Inez.

- Já, mamãe. Eu vim correndo. O pessoal tá vindo aí atrás. E fui deitar.

Quando Camélia chegou, historiou tudo pra dona Inez. Ninguém compreendeu a minha situação. Dona Inez mandou-me levantar e me aplicou seis bolos.

Lá vem seu Zé Alvim.

- O que esse moleque aprontou dessa vez?

Mamãe contou-lhe o ocorrido.

- Bem feito. Vocês agora querem transformar Aymoré em anjo. Dá nisso.

Pelo menos seu Zé não me bateu, mas que o anjo foi dormir de mãos quentes, isso foi.

PROFESSOR WILSON PIRES FERRO

“in memoriam”

RAIMUNDO VIANA Professor Universitário

Vice-Presidente da Academia Brejense de Letras Membro Fundador da Academia Ludovicense de Letras – ALL

[email protected]

Quando do falecimento do Professor Wilson Ferro, de viagem, não assisti aos seus funerais. O que muito lamentei. Devo-lhe, portanto este testemunho:

Conheci-o, em 1967. Emigramos do interior. Ele de Coroatá; eu de Brejo. Buscamos os mesmos campos de trabalho: Banco do Brasil; e Universidade Federal do Maranhão (UFMA), onde chegamos, via concurso público. No Banco do Brasil ele em 1963; eu, em 1964. Na Agência Centro, inicialmente, na Praça Pedro II, e posteriormente na Praça Deodoro, vivemos quase todos nossos trinta anos de vida funcional. Na Universidade, não foi diferente. Exercemos cargos de direção semelhantes, sem jamais ausentar-me um só dia da sala de aula. Ele no Departamento de História e Geografia; eu no de Comunicação Social. O trabalho nos aproximou. Identificaram-nos os ideais de vida.

Wilson, ao longo de sua vida ativa, foi, sobretudo um disciplinado. Soube mover-se, com dignidade e eficiência, no âmbito das Instituições – BB/UFMA- a que serviu. A virtude da humildade acrescida do espírito de solidariedade e de lealdade aos seus companheiros de trabalho o distinguiu vida afora. O que, com certeza, lhe garantiu uma convivência fraternal com a família satélite ( a do Banco do Brasil de nossa época); e com a família acadêmica ( a da UFMA). Por onde passou, deixou amigos; e nenhum desafeto. Soube conduzir-se com serenidade no cumprimento de suas obrigações; e no relacionamento com as pessoas. Concretizou seus sonhos sem atropelar ninguém. Jamais esquecera a orientação de tom paternal, que, ao longo de sua vida de estudo, lhe dispensara o Professor Mário Martins Meireles ( “in memoriam”). A todos que o conhecemos, e com ele convivemos deixou um substancioso exemplo de conduta, movida pela virtude da humildade, pedra fundamental de toda sabedoria.

Aposentado, Wilson, não parou. A aposentadoria não conseguiu empurrá-lo para a inatividade, e consequente esquecimento, como sói acontecer. Com maior disponibilidade de tempo, dedicou-se integralmente ao seu hábito de Ler e de Escrever, sem prejuízo da assistência exemplar dispensada à Eunice, sua esposa, e à Ana Luiza, sua filha.

Wilson escreveu várias obras, e textos para jornal. Em todos se identificava o estilo professoral de quem do Magistério fizera um Ministério de vida. A aposentadoria apenas o fez substituir a aula formal, de conteúdo programático, desenvolvida no âmbito das Instituições de ensino, pela Informal, difusa... Implementada nos debates e conferências de livre iniciativa; aquela resultante das eventuais discussões de corredor; de rua; e de até pela conduta silenciosa vida afora.

Acometido de doença grave, Wilson não se deixou abater. Enquanto a vida travava acirrado duelo com a morte – vira mexe, atenuado pelos recursos da medicina – seguiu, até o fim, com determinação, operoso e sonhador. Foi um dos idealizadores, e fundadores de nossa Academia (ALL), em cujos Anais deixaram, com certeza, a marca indelével de sua passagem. Entretanto – no-lo- dizem as Sagradas Escrituras: ”tudo tem seu tempo; há tempo para nascer; e tempo para morrer”. O de Wilson havia chegado. Ele o reconheceu!... E com a tranquilidade, e serenidade de

quem “combateu o bom combate”, permitiu que a morte chegasse, quando a vida desejava ir!... Libertou-se de todos os vínculos a este mundo: documentos pessoais (CPF); Contas a pagar (impostos); bens materiais... Todo e qualquer badulaque, que, não raro, incomoda e nos apequena a vida. Nada, nadica mesmo levou consigo. A tiracolo, só um passaporte: o mérito de sua convivência solidária com as demais pessoas. Foi o bastante para garantir-lhe o ingresso – no-lo- diz a Fé – na comunidade dos Ressuscitados. “Requiescat in pace”. Ele o merece!...

ALL NA MÍDIA

A vigésima primeira edição da revista Plural analisa a participação das mulheres na literatura maranhense. Artigos de José Neres, Dinacy Correa, Raimunda Frazão, Arielle Marciano Martins e Lenita Sá oferecem ao leitor uma amostra significativa da obra de Maria Firmina dos Reis, Arlete Machado, Dagmar Desterro, Laura Amélia Damous, Ana Luíza Almeida Ferro, Ahtange Ferreira, e tantas outras. Como ressalta o professor José Neres, “os nomes masculinos são divulgados, cultuados, lidos e estudados; as escritoras, por sua vez, ficam quase sempre esquecidas, relegadas a um segundo plano. Mas, ao contrário do que pode parecer em uma análise superficial, a produção das mulheres maranhenses é bastante significativa”. A contribuição das mulheres em muitas atividades profissionais antes restrita à participação masculina torna-se cada vez mais relevante também na literatura, como mostram os artigos publicados nesta edição.

A POESIA MARANHENSE CONTEMPORÂNEA DE EXPRESSÃO FEMININA

Por

DINACY CORRÊA REVISTA PLURAL, São Luís, Instituto Géia, n. 21, abril/maio 2015, p. 27-29

DILERCY ARAGÃO ADLER

São Vicente de Férrer/07.07.1950). Graduada, em Psicologia. Professora universitária (Ceuma e UFMA – pela qual é aposentada). Mestre em Educação e Doutora em Ciências Pedagógicas (ICCP-Cuba), é, atualmente, professora de Graduação e Pós-Graduação da Faculdade Cândido Mendes do Maranhão (FACAM). Naturalmente voltada para a arte poética, ei-la que diz em uma entrevista:

Em uma Antologia “A figueira” (1994), do nosso querido e grande poeta da Sociedade de Cultura Latina de Santa Catarina, Abel B. Pereira, ele solicitava aos integrantes (da antologia) que discorressem sobre a questão “porque escrevo poesia”, e eu respondi [...]: “A poesia sempre se impôs à minha vida. Até a adolescência eu organizava cadernos cheios delas. Depois da Faculdade, deixei-a um “pouco de lado”. Mesmo assim ela se fazia presente. Mas os escritos dessa época ficavam dispersos, sem lugar específico. Passados alguns anos, acho que não resisti ao seu poder de sedução e me rendi. “Crônicas & Poemas Róseos Gris” significa [...] “reconciliação” com a poesia que, aliás, sempre foi um dos grandes amores da minha vida (http://www.selmovasconcellos.com.br/colunas/entrevistas/dilercy-adler-entrevista/15.05.2009) .

Agraciada com vários títulos e medalhas culturais, nacionais e internacionais, a professora/escritora é membro de entidades literárias, como: Comissione di lettura Internacionale da Edizioni Universum Trento-Itália; Academia Irajaense de Letras e Artes – AILA (cadeira nº. 13); Academia de Letras Flor do ValeIpassu/São Paulo; Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão (IHGM); Fundadora e integrante da Academia Ludovicence de Letras (ALL), entre outras. Dilercy Adler tem-se destacado no cenário literário atual não somente por sua produção, como pelo incentivo que vem dando à cultura literária local, através de edições de antologias. Dentre as atividades desse nível, foi editora do livro Circuito de Poesia Maranhense (1996) e organizadora da exposição fotográfica sob o mesmo nome (1995). Também organizou e participou da I Coletânea poética da Sociedade de Cultura Latina do Estado do Maranhão – Latinidade. Organizou e promoveu a edição da obra Mil Poemas para Gonçalves Dias (2012-comemorativa do centenário do poeta). Hoje, é presidente da Sociedade Cultural Latina do Maranhão (SCL/MA).

Além de partícipe de muitas antologias poéticas, a maranhense tem publicados: Crônicas & Poemas Róseos Gris (1981), Poematizando o Cotidiano ou Pegadas do Imaginário (1997), Arte Despida (1999), Genesis – IV Livro (2000) e, recentemente, Desabafos... Flores de Plástico... Libido e Licores... Liquidificadores. Sua poesia, em geral, é de cunho lírico/amoroso, na abordagem de temas como a natureza e os sentimentos mais arrebatados, as agruras da paixão, a solidão, a saudade, o desejo, numa subjetividade e sentimentalismo exacerbados, em confidências amorosas do eu lírico, em laivos de fantasia e imaginação, no recriar de uma nova realidade. Vejamos:

NECESSIDADE DE TI Eu te preciso tanto que me dói a tua ausência eu te preciso tanto que te queria sempre junto e a possibilidade de não ter-te me entristece me deprime me enlouquece! eu te preciso tanto e no entanto sinto/ que preciso/ não precisar assim de ti/ preciso sim/ urgentemente para/ manter-me/ intacta e livre/ desvincular-me de ti!

Embora a liberdade formal seja um marco característico em Dilercy Adler, na sua poesia fazem-se recorrentes certas palavras que colaboram na construção das imagens de saudade, solidão e morte, num eu-lírico como a suspirar, sofrer, chorar, pela ausência do amor, cuja impossibilidade traz sensações pungentes e dolorosas ao coração. Motivada pela convivência no exterior, em especial em países de língua espanhola, frases ou expressões da língua de Cervantes são frequentes nas suas composições, a partir dos títulos ou, às vezes, em poemas inteiros como em Siempre a tus pies, Solo para verte, Desvane(ando), A mi Tristán, La vida es solo un suspiro ahogado, Mulher de pedra de ChichenItza. Ei-la em:

SIEMPRE A TUS PIES “Siempre a tus pies” vou despir a minh’alma acercar-me com a calma de irrefreável desejo! “Siempre a tus pies” vou cobrir-te de estrelas aspirar teus suspiros um a um

com meus beijos! “Siempre a tus pies” abraçar-me-ás inteira como a onda na areia numa dança sem igual! “Siempre a tus pies” derramarei sem pesar os meus dias os meus versos toda a minha saudade e o meu desejo de amar!

Adler é o arrebatamento do amor carnal, da voluptuosidade, da libido, permanente na mulher apaixonada, como o demonstra o poema a seguir, em que se observa, também, a utilização de versos irregulares e livres, irregularmente dispostos no espaço poético.

DESEJOS ESPÚRIOS Estranha loucura nas ruas e becos entranhas e luas expostos nas vias esdrúxula mania de corpos e corpos que rolam copulam e calam angústia desejos instintos em buscas espúrias!

QUANDO... A poesia de Ana Luíza Almeida Ferro

ARIELLE MARCIANO MARTINS

REVISTA PLURAL, São Luís, Instituto Géia, no. 21, abril/maio de 2015, p. 59-61

Em maio de 1966, nascia Ana Luíza Almeida Ferro, era segunda-feira dia 23. Por sugestão da mãe Eunice Graça Marcília Almeida Ferro, contabilista, e consentimento do pai, o também contabilista, professor da Universidade Federal do Maranhão – UFMA, bancário aposentado, historiador, contista e poeta, Wilson Pires Ferro, foi dado à criança o nome composto em homenagem às bisavós Ana de Abreu Ferreira e Luísa Rodrigues de Alencar Almeida. Com o apoio amoroso dos pais ela cresceu cercada de livros, e logo cedo despertou sua paixão pela leitura. Filha única, a pequena Ana Luíza dedicava boa parte de seu tempo a deleitar-se com a leitura dos clássicos e dos romances de aventuras. Entre os autores que mais estimava estão a romancista Jane Austen, o poeta e dramaturgo William Shakespeare e o poeta Gonçalves Dias, que seria mais tarde seu maior referencial. Dispondo de paixão e grande leveza, Ana Luíza Almeida Ferro trabalha as palavras de forma a conduzir o leitor a uma viagem dentro de si mesmo, viagem a um “quando” que ora pode ser o ontem, ora o hoje, ora o amanhã. Trabalhando questões do cotidiano, e sentimentos que nem de longe seriam alheios à humanidade, mas que de tão óbvios passam despercebidos. Porém, Ana Luíza não trata do óbvio, mas do diáfano das coisas; ela elabora intelectivamente as coisas na sua maior radicalidade e profundidade, usando de metáforas, escreve a cerca da realidade, a verdade, a angústia do viver/a alegria de viver, o amor e a beleza. O leitor menos experiente poderia concluir que se trata de uma obra com pouca qualidade, visto a variedade de temas utilizados ou a ausência de linearidade nesse sentido, mas esta seria uma visão precipitada, como se o leitor esperasse pelo óbvio. Trata-se de uma ofuscação circunstancial da mente humana, sobre a qual Aristóteles declarou: “Do mesmo modo que se comportam os olhos do morcego a respeito da luz do meio dia, comporta-se também o intelecto de nossa alma a respeito das coisas que são as mais visíveis do mundo.” Os textos do livro, total de 37 poemas, são um conjunto de vários momentos, sentimentos, sensações diferentes e, portanto, individuais em sua realidade. Seria insensato esperar que representassem um mesmo ‘quando’, um mesmo momento literário, uma mesma realidade. Encontram-se, por exemplo, expressões de metalinguagem em poemas como A criação e Escrevi teu nome.

A CRIAÇÃO Um ponto um traço uma linha o preto no branco um esboço sem norma uma forma sem rosto pedaço caótico de natureza morta porção graciosa de identidade torta. (...) ESCREVI TEU NOME Escrevi teu nome na areia daquela praia encantada pelos poetas, jamais olvidada mas o mar ou a sereia nem marca, nem rastro, deixou teu nome, sem piedade apagou. (...) Escrevi teu nome no papel e longamente o escrevi dos ponteiros me esqueci e quando o ponto em anel naquele ciclo o encerrou a vírgula lá se alojou e o que era lembrança virou vida e o que era vida virou eternidade

Ana Luíza Ferro demonstra um grande domínio da linguagem e varia na utilização de técnicas. A autora presenteia o leitor com rimas cruzadas, versos brancos, muitas vezes dando pistas de sua inspiração simbolista, outras quase se dobrando ao concretismo como lê-se em Palavras e O pêndulo.

O PÊNDULO Vai para lá vem para cá e ora tira ora dá e é meio preto é meio branco

e oferta um sopro impõe um tranco e Indelével oscilar Previsível variar Vida pendular V d p n u a i a e d l r

PALAVRAS Palavras tímidas, contidas um tanto m-e-d-i-d-a-s ou livres, d e s m e d i d a s ao sabor do momento l t v o o a o e t s s a n A leitura do livro Quando traz a sensação de fluidez da vida, essa declinável incerteza de idas e vindas de sentimentos e sensações, dor e prazer, alegria e a mais amarga tristeza. Poesias que falam de “horizonte aberto” e “ânsia pelo que foi, mas apenas deixou de ser” transmitem ao mesmo tempo a apreciação do futuro e a saudade do passado. Quando exige uma leitura calma e paciente, uma degustação das palavras que fará com que o leitor ostente aquele sorriso de cumplicidade.

O BAIXO PARNAIBA VIROU CARVÃO -”Cui prodest”? (a quem interessa?)

RAIMUNDO VIANA

Publicado em JORNAL PEQUENO, edição de 05 de março de 2015 Bons tempos os de menino! Vivi-os, no Baixo Parnaíba, meu chão de origem, precisamente, no distrito Formiga, à época município de Brejo, hoje de Anapurus. De hábito, curtia a paz do Cerrado, que emoldurava toda aquela Região; um santuário ecológico rico e encantador! Pequi e bacuri havia em abundância! Os pássaros, entre cantos e pios, saltitavam de árvore em árvore... O chilrear da “fogo-pagou” dava o tom daquele cantochão, que nos comovia e enlevava a alma. Os demais animais silvestres (muitos) corriam prá lá e prá cá. A natureza virava uma festa permanente

De lá emigrei, há, precisamente, sessenta anos; só retornando, periodicamente, em visitas sentimentais. Em lá chegando, percorria os caminhos da infância. Em visita recente, não mais pude fazê-lo. Eles não mais existem. Substituíram-nos extensos campos de eucalipto. Do pequi e do bacuri quase nada restou. Os animais silvestres, expulsos de seu “habitat natural”, errantes e sem destino, em busca de um abrigo, se tornaram presas fáceis de caçadores. Por impróprias para o consumo, somente as cobras sobrevivem. Hoje, refugiadas – incômodas hóspedes – em pequenas áreas matosas, documentalmente de origem induvidosa, cujos proprietários se recusaram a vendê-las a preço vil. E o Cerrado (não menos de oitenta por cento da Região) desapareceu, em troco do nada, o que é extremamente desolador! Revoltante até!...

Sob o olhar indiferente de toda aquela população carente e desavisada, as carvoarias só crescem; e desfila, quase que diariamente, para outras paragens um sem número de carretas transportadoras de eucalipto. Nada, nadica mesmo, sobrou para aquelas comunidades a não ser um só direito: o de ver o eucalipto passar...

Curioso é que tudo isso aconteceu com a cumplicidade silenciosa de todos!... Nenhuma reclamação!... Uma mera indagação!...Um sussurro sequer!... Uns, a maioria (as comunidades rurais) por desinformação. Não os condeno!... São pecadores, sem pecado!... As vítimas de sempre!... Não sabem que não sabem – abissal estágio de inconscientização. Outros (a minoria) seguem a vida alheios aos problemas da coletividade, mais por insensibilidade que por desconhecimento. Na pirâmide social, aqueles (as comunidades rurais) habitam o Andar de baixo; os demais habitam o Andar de Cima. Certo é que ninguém nada reclama, nem os do Andar de Baixo, muito menos os do de Cima.

De início, divulgou-se, na Região, que seria instalada, em Chapadinha, uma fábrica de celulose – promessa não cumprida. Em tese, diante dos inevitáveis prejuízos naturais seria para o Baixo Parnaíba a contrapartida, em termos de trabalho e geração de renda para sua população. Que nada! Isso, hoje, não passa de um engodo! Uma página virada! Um sonho frustrado daquelas pessoas que lá vivem e trabalham. Mantido o “status quo”, benza Deus que, no futuro, não nos deixe o eucalipto apenas um solo depauperado, inapropriado para a agricultura e a pecuária, com sua fauna e flora dizimadas.

Não tivemos a mesma sorte da Região Tocantina, onde se instalou – no-lo informa a Grande Imprensa – uma fábrica de celulose de grande porte, com reflexos positivos na economia daquela Região. O eucalipto virou fonte de trabalho e renda para sua população. Lá (Região Tocantina) conferem-se Ganhos. Cá (Baixo Parnaíba) só Enganados!

Por fim, hemos de admitir que o mundo mudou! O Brasil andou! O Maranhão também. E o Baixo Parnaíba só se mexeu!... E desandou!...Virou carvão!...”Cui prodest?” (A quem interessa?...).

PASSAGEM DA COLUNA PRESTES POR PARAIBANO-MA

LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ

Academia Ludovicense de Letras/Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão

DELZUITE DANTAS BRITO VAZ Professora de História – CEM ‘LICEU MARANHENSE’

PUBLICADO EM O ESTADO DO MARANHÃO, 12 de abril de 2015, Caderno Alternativo, p. 5.

Recentemente, Sálvio Dino – lá das barrancas do Tocantins – escreveu artigo relatando a passagem da Coluna Prestes pelo Maranhão, e publicada aqui, nestas páginas. Já sabia da nova pesquisa que estava empreendendo, informado que fui pelo amigo comum João Batista Ericeira – o Joãozinho -; naquela ocasião disse a Joãozinho que tinha notícias sobre a passagem da Columa por Paraibano, lugar de nascimento de minha mulher; e das desventuras que seus irmãos passaram, tentando fugir dos Revoltosos. Sabíamos, também, da passagem dessa coluna pelas terras do ex-deputado Gonçalo Moreira Lima. Pela sua fazenda da Serra Negra...

A “Coluna Prestes” 4 foi um movimento ocorrido entre os anos de 1925 e 1927, encabeçado por líderes tenentistas que empreenderam grandes jornadas para o interior do país, procurando fazer insurgir o povo contra o regime oligárquico vigente durante a presidência de Artur Bernardes, ainda no período da República Velha.

4 DISPONÍVEL EM http://www.algosobre.com.br/historia/coluna-prestes.html acessado em 28/01/2009

Pregava ao povo a necessidade da destituição do presidente e a imediata reformulação econômica e social do país, pregando a nacionalização das empresas estrangeiras fixadas no Brasil e o aumento de salários de trabalhadores em todos os setores rurais e industriais.

Em suas jornadas, que se estenderam em uma distância de por volta de 25.000 quilômetros, a Coluna Prestes foi perseguida pelas forças orientadas pelo governo, formada tanto por militares e policiais estaduais quanto por jagunços contratados, estes últimos incentivados pelas promessas de anistia aos seus crimes cometidos. Não tendo sofrido sequer uma derrota significativa nas guerrilhas contra o governo ao longo de suas incursões pelo interior do país, que se estenderam por cerca de 29 meses, a Coluna é contada pelos estrategistas militares do próprio Pentágono como uma das mais prodigiosas façanhas militares da história das batalhas de guerrilha.

A Coluna Prestes foi formada por militares envolvidos em dois movimentos rebeldes anteriormente ocorridos no país: no Rio Grande do Sul, os rebeldes provenientes de uma insurreição foram derrotados inicialmente pelo governo, mas conseguiram escapar; em São Paulo, os rebeldes que haviam ocupado a cidade por 22 dias não tiveram outra escolha senão organizar uma retirada, tendo em vista os bombardeios aéreos desferidos sobre a capital paulista.

Ambos os grupos rebeldes encontraram-se em suas rotas de retirada, no Estado do Paraná: os paulistas eram então liderados pelo General Isidoro Dias Lopes e Miguel Costa, além dos tenentes Eduardo Gomes, Juarez Távora e Joaquim Távora: os gaúchos eram então liderados Siqueira Campos, João Alberto e Luís Carlos Prestes. Todos passaram a fazer parte das lideranças da Coluna, com exceção do General Isidoro Dias Lopes que, já idoso, acabou por pedir asilo político à Argentina.

O comando dos 1.500 homens reunidos deveria ser unificado: o comando militar é exercido por Miguel Costa, sendo Luís Carlos Prestes o chefe do Estado-maior. A Coluna, além de seu caráter militarista, passa a configurar um programa de reformas, que é divulgado aos povoados com os quais o movimento entrou em contato em suas jornadas.

Sabe-se que a “Coluna Prestes” passou pelo Maranhão (Pinheiro, 2005) 5.

Mas que parte dessa coluna passou pelo Brejo, não se tinha conhecimento até a defesa da Monografia de Graduação em História da hoje professora do Liceu Maranhense Delzuite Dantas Brito Vaz (Vaz, 1992) 6.

O Brejo a que nos referimos, à época conhecido como “Brejo dos Faustinos”, pertencia ao Município de Pastos Bons; com a chegada de Antonio de Brito Lira – Toninho Paraibano - e seus filhos (mais tarde vieram os irmãos, sobrinhos, outros parentes, e aderentes), e com o trabalho ali desenvolvido por essa família de pioneiros, passou a ser conhecido como “Brejo dos Paraibanos” 7, hoje cidade de Paraibano-Ma (Vaz, Vaz, Santos, s.d.) 8.

5 PINHEIRO, Raimundo Nonato (2005) a COLUNA PRESTES NO MARANHÃO. São Luis: UEMA/CECEM, 2005. Monografia de

Especialização em Historia do Maranhão) 6 VAZ, Delzuite Dantas Brito (1992). HISTÓRIA DO/DE PARAIBANO NA MEMÓRIA ORAL – da chegada de Antonio Paraibano na região

do Brejo, município de Pastos Bons à fundação da cidade de Paraibano-MA. Monografia de Graduação em História, Universidade Federal do Maranhão, 1992, orientador: João Renôr. 7 A história do município está ligada à saga de Antônio Brito Lira e sua família, que lá chegaram em 1920, fugindo da seca que

assolava o Estado da Paraíba, para onde haviam fugido em 1917. No lugar em que hoje está a sede municipal vivia apenas, em uma casa de palha, o maranhense José Fernandes, de quem Antônio Lira adquiriu dois mil hectares de terra. De 1920 a 1930, enquanto se dedicava à lavoura, os pioneiros construíram casa de tijolos e cobertas e telhas. Sendo cada vez maiores as colheitas, o lugar cresceu vertiginosamente, tornando-se centro exportador de arroz, milho, feijão, fava e algodão para o Nordeste, de onde vinham, em caminhões de propriedade da família Brito Lira, mercadorias para serem vendidas na região, assim como novos migrantes. Conhecido inicialmente como Brejo do Paraibano, o povoado foi elevado à categoria de município pela Lei Nº 841, de 30 de dezembro de 1952, com o nome de Paraibano, sendo seu primeiro prefeito o Sr. José Brito Lira, neto do pioneiro Antônio Brito Lira.

8 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio; VAZ, Delzuite Dantas Brito; SANTOS, Elisa Brito Neves dos. HISTÓRIA DE PARAIBANO. (Inédito).

Em depoimento prestado por Elisa Brito Neves dos Santos9, conta o seguinte:

[...] que sua mãe fala dos “Revoltosos”, a quem estavam sujeito a receber. Seus tios estavam preparados a receber esses andarilhos dessa maneira: escondiam os cavalos, pois quando passavam trocavam os animais, pegando outros descansados. Os moradores escondiam suas montarias...

Um dia, vindos do lado do Riacho do Meio, uma turma de homens a cavalo – fortes, altos, bonitos, na descrição de sua mãe... – chega e são recebidos pelos “Paraibanos”. A avó da depoente, Joaquina Maria das Dores, teria feito comida para eles, pilando o arroz que seria servido.

Chamaram a sua presença a José de Brito Sobrinho (José Paraibano) e mandam apanhar os animais, que seriam trocados pelos deles. José Paraibano cheio de astúcia, de artimanha, saiu com uma parte desses homens pelas matas, a procura dos animais, que ele havia escondido.

Dizia Zé Paraibano que ouviam o barulho dos animais, perto de onde passavam, fazia de conta que não estava ouvindo: “mas eu não sei onde estes animais estão...” e levava aqueles homens pelas brenhas, pelos espinhos. Aquele matagal, sem estrada, sem nada; levava pelos piores caminhos. E os Revoltosos, já cansados e todos cheios de espinhos, disseram: “Não, vamos para casa, a gente não encontra esses animais, vamos para casa...”. E voltaram e assim conseguiram se livrar dos Revoltosos sem dar seus animais.

Para Elisa, era a parte chefiada pelo Juarez Távora, que passou por Brejo do Paraibano, em direção a Colinas, pela época dos festejos de Nossa Senhora da Consolação, a oito de dezembro. O que é confirmado por Raimundo Nonato Pinheiro, (2005), quando relata a passagem da Coluna entre Pastos Bons e Colinas, porém não faz referencia ao Brejo. Aí, a Coluna se instalou, passou vários dias; depois Juarez foi preso, já em Teresina-PI.

Fonte: Nova História Crítica do Brasil Riacho do Meio – Paraibano

9 SANTOS, Eliza Brito Neves dos. DEPOIMENTOS. Entrevista concedida a Delzuite Dantas Brito Vaz e Leopoldo Gil Dulcio Vaz em 1992,

por ocasião da elaboração da Monografia de Graduação em História.

O SOBRADO – PARAIBANO - MARANHÃO

O Sobrado e a Casa de Pedra formam o primeiro conjunto arquitetônico da cidade, construído por João Paraibano para dar início ao povoado de BREJO DOS PARAIBANOS (primeiro nome da cidade), depois veio a construção da Igreja de São Sebastião em 1939, Escola João Paraibano em 1950 e a Igreja Matriz em 1962 e outras construções... Mais nem uma se comparava ao imponente e glorioso SOBRADO, que já serviu de residência, de escola, de Museu que guardava a história do município sobrevivendo ao tempo, as chuvas, muito sol teve sua trajetória marcada por grandes acontecimentos; do nascimento de Paraibano até hoje quando chega visitantes com suas máquinas digital nas mãos, a primeira fotografia tirada

Igreja de São Sebastião

BIG BROTHER ÀS AVESSAS

CERES COSTA FERNANDES

O ESTADO DO MARANHÃO, 12 DE ABRIL DE 2015

Em meio às noticias ruins, uma boa: o execrável programa global Big Brother vai nos deixar em paz. Se não pra sempre, por uns meses teremos a oportunidade de estar despertos para ver as séries, por vezes interessantes, que vêm a seguir das xaroposas novelas.

O nome desse programa é inspirado, como todos sabem, se não sabem deviam desconfiar, na personagem o Grande Irmão, do livro 1984, de George Orwell, entidade que tudo via e controlava até dentro das casas dos cidadãos. Premonição distópica espantosa dos tempos hodiernos de invasão total e absoluta da nossa privacidade pela hipermídia. Digo premonição, porque George a publicou em 1949, antes da popularização da TV e do computador e do advento da Internet, do face, do whats App e dos hackers e o mais que vier..

Deixemos isso de lado, material para uma penca de crônicas, a maioria já escrita. Uma experiência estranha que estou vivendo levou-me a necessitar, desse “nariz de cera”.

Com a violência grassando por aí e aqui, os 200 anjinhos soltos para comungar na Páscoa da Ressurreição (Tiradentes vem aí!), além de muitos outros liberados nos feriados, efemérides, casamentos e batizados de boneca, aqui em casa, e na vizinhança, tomamos uma série de providências tão recomendadas, como inúteis, para afastar os assaltantes. Desculpem-me, podemos chamá-los assim? Não é politicamente incorreto? Dizem que vão aprovar uma lei que deverá ser crime hediondo matar ou machucar esses – como dizer? – gentis cavalheiros que invadirem nossas casas com a intenção de proporcionar ao país uma melhor distribuição de renda.

Só mais uma digressão: aqui só entre nós, que não saibam que eu disse isso, mas desconfio que essas saídas são mais para desafogar prisões que premiar presos. Temos notícia de um que foi liberado “por bom comportamento” no Dia dos Pais. Só que o coitado não tinha pai. Estava preso justamente por tê-lo matado.

Voltando ao assunto, que digo ser o desta crônica, as providências vão de cercas elétricas, grades, alarmes, guaritas dos mais abonados, vigias etc. Mas passou o tempo dos saudosos ladrões de galinha. Ladrão (perdão) que se preza não pula muro. Entra junto com a gente, com a arma no nosso pescoço, inibindo qualquer reação. O que fazer? Marta Suplicy aconselha relaxar e gozar. Não sei como, mas ela deve saber.

Pra não dar chance ao azar, quem pode não sai mais de casa. Fica dentro de sua prisão de segurança máxima, já que os distribuidores de renda estão, como dizia Jorge Amado, “a la godaça” na rua, nos shoppings, nas praças, na esquina, à porta. A cidade é deles.

Nós, o casal de aposentados daqui de casa, reduzimos nossas saídas e, depois de lermos jornais, revistas, livros, ver filmes e noticiários, bate o tédio. De tédio em tédio, descobrimos uma nova distração: Desligar a TV e ficar olhando a rua pelas câmeras.

Recomendo. Descobrimos coisas interessantes e por vezes misteriosas. Nossa casa é de esquina, numa encruzilhada – dá pra fazer despacho – com um largo espaço de visão.

Vemos damas chiques pararem o carro, descerem para apanhar mangas caídas ao chão (temos uma mangueira com galhos para a rua), olhando para os lados, desconfiadas, e voltarem aos carros com as ditas nas mãos; vemos carros de namorados que estacionam na rua ao lado, deserta – já disse

que essas ruas são desertas? – e tome amasso. Já monitorei horário de urubus, todos os dias às mesmas horas, bicando o lixo. Mudei o horário de colocar o lixo. Ponto para mim.

Há momentos de ópera bufa e vergonha. Vimos, pelas câmeras, meninos cercando um carro da família à nossa porta e saímos (era dia de casa cheia) com espetos de churrasco em punho! Quando abrimos a porta, eram apenas crianças curiosas, admirando um carro diferente. A que nos leva o medo.

Nos agrada o passa-passa das pessoas; o comportamento dos cachorros e dos gatos; as nuvens que engrossam e escurecem; as gotas da chuva que cai espelhando a rua; o céu que fica cor-de-rosa ao entardecer e as nuvens que se vão esfiapadas. Alertas, sempre, para as coisas e movimentos suspeitos.

Esperem, há algo ainda não decifrado. Por volta das dez, dez e meia da noite, passa, não sei se todos os dias, um casal não muito jovem, pelo que podemos perceber, empurrando um carrinho de bebê. Certamente não há um bebê, a essas horas. Aonde irão? Não há invasões aqui perto. Meu marido diz, Talvez trabalhem nos bares da praia, mas do que lhes serve um veículo tão pequeno? Seriam traficantes? Que disfarce besta, passear com bebês em ruas desertas, tarde da noite. É o nosso excitante mistério particular.

O que ameniza a nossa prisão é, dentro dela, temos árvores, flores, pássaros, desde as jandaias coloridas, que fazem do meu carro o seu cagadouro preferido, aos delicados beija-flores, alegria dos almoços na grande mesa de fora..

Há a família numerosa dos iguanas, desde os pequeninos até o pater famílias, dos verdinhos aos que mais parecem dinossauros. O cachorro enlouquece, latindo furiosamente. E eles passeiam solenes em cima dos muros, nem aí.

Quando chove, surgem, do nada, sapinhos, rãs, sapões. Realmente adoro minha casa, mas preciso saber quando nós, os prisioneiros, vamos ter indulto para sair. Juro que temos bom comportamento, documentos, não dirigimos embriagados, não rodamos em velocidade acima do permitido, obedecemos a todos os sinais e recomendações dos policiais do trânsito e dos outros também.

Assim, não dá pra fazer uma troca? Os senhores distribuidores de renda não poderão ficar um feriadão sem sair para dar uma folga pra gente? Sem falar naqueles apressados, que nem esperam os feriados e saem pela porta da frente, apesar dos avisos. Seria pedir demais? Sem sermos politicamente incorretos, é claro.

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O VALOR DA VIDA

SANATIEL PEREIRA

Membro da ALL e da SOBRAMES, escritor, engenheiro, pesquisador e professor da UFMA.

PUBLICADO EM O ESTADO DO MARANHÃO, 13 DE ABRIL DE 2015

Conheci, recentemente, uma vítima de balas perdidas no Rio de Janeiro que conseguiu sobreviver, embora tenha perdido ambos os olhos, explodidos pela bala assassina que a condenou à cegueira pelo resto da vida. Ele perdeu o sentido da visão quando estava somente com 30 anos de idade e com um notável e significante desenvolvimento em sua carreira como advogado. Deslocava-se para os tribunais, em seu carro, em uma das avenidas do Rio, quando o fato aconteceu. De forma instantânea e instintiva, ainda teve tempo de parar o veículo sem causar nenhum tipo de acidente ou prejuízo a alguém. Depois de dois anos de reaprendizagem para se mover no mundo sem a visão, ele me surpreendeu pela coragem e pela determinação como conduz a sua vida atualmente.

Na noite de sexta-feira passada, andando no meu carro pela Avenida dos Holandeses, notei que um pequeno ônibus escolar impedia-me de ultrapassá-lo com segurança, ao passar regularmente de uma pista para outra. Somente depois percebi que aquele comportamento se devia a um automóvel branco que ziguezagueava em sua frente atrapalhando-lhe a passagem. Em dado momento, o pequeno ônibus ultrapassou o obstáculo móvel, deixando-me agora à mercê daquele carro, que parecia brincar na pista como em um videogame. Continuando na pista, verifiquei que ele quase subiu ao meio-fio lateral, e um jovem, alcoolizado, tentava, de forma desesperada, lutar contra vários inimigos: o sono, o álcool e o carro. Sua cabeça tombava sobre o peito. Fiquei paralisado de horror em pensar nas consequências daquele ato: dirigir bêbado de sono e alcoolizado. Ele possivelmente nada sabe de balas perdidas e nunca viu a cavidade ocular sem os olhos.

Certo dia, uma pessoa entrou ao meu lado, no elevador, sem a educação ou a delicadeza de me dar um bom-dia, embora apresentasse todos os seus órgãos e sentidos virtualmente disponíveis para uso, assim como nenhuma impossibilidade de utilizá-los em completa liberdade. Constatei que possuía grandes olhos e orelhas que respondiam aos estímulos do corpo ao mundo que o rodeava. Entretanto, não deixei de perceber que meu colega de viagem no carro vertical comportava-se como um sonâmbulo, imerso em si mesmo, como se estivesse dentro de um nevoeiro. Ele possivelmente nada sabe de balas perdidas e nunca viu a cavidade ocular sem os olhos.

Perguntando ao meu amigo sem olhos como podia interpretar tal fatalidade em sua vida, ele deu duas explicações que me fizeram compreender a razão da sua contagiante alegria de viver, mesmo sem olhos. A sua primeira análise foi perguntar-se se não teria causado algum tipo de prejuízo a alguém em algum momento de sua existência na Terra. E ele não se lembrava, realmente, de nenhum fato. Depois, em uma análise mais interna, ponderou que talvez lhe tenham retirado a visão para que não viesse cometer algum erro ou pecado reprovável aos olhos de Deus. Os meus olhos fecharam-se para não deixar cair as lágrimas que já desciam do meu coração apertado diante daquela grandeza de julgar o fato que lhe ocorreu sem culpar ninguém.

Quantas vezes por dia buscamos um culpado para as nossas ações mal conduzidas que nos trouxeram algum aborrecimento ou perda material? Por onde anda a generosidade do nosso coração diante daquele cego na rua que pede ajuda? Será que agradecemos por termos corpo perfeito, emprego, trabalho ou saúde estável? Será que não fazemos parte daquele grupo seleto de insatisfeitos que sempre quer mais?

Um grande amigo meu, já falecido, confessou-me que fornecia regularmente cesta básica, comprada em supermercado, a pessoas necessitadas. Em uma dessas oportunidades, ao comprar os alimentos que constituíam a sua lista para distribuir àqueles carentes, percebeu uma coisa: ele não estava comprando os mesmos alimentos que adquiria para sua casa, mas de qualidade inferior. Foi como um insight – uma mensagem do Céu! Encabulado, substituiu, a partir daquela data, todos os alimentos pelos de mesma qualidade usados em sua casa.

Saudar alguém ao entrar no elevador não custa nada a ninguém. Comprar alimentos de mesma qualidade utilizada na nossa casa para doação não custa muito. Não causar problemas irreparáveis a outro ser humano tem um valor incomensurável. Entretanto, a maioria das pessoas nada sabe de balas perdidas e nunca viu a cavidade ocular sem os olhos.

A PRISÃO PREVENTIVA GERA DIREITO À INDENIZAÇÃO EM CASO DE ARQUIVAMENTO DO INQUÉRITO POLICIAL OU DE ABSOLVIÇÃO NA

AÇÃO PENAL?

ANDRÉ GONZALEZ CRUZ

Publicado na Revista Visão Jurídica n. 106

Mestre em Políticas Públicas pela Universidade Federal do Maranhão (UFMA), Especialista em Ciências Criminais pela Universidade Gama Filho (UGF) e Especialista em Ciências Criminais pela Escola Superior do Ministério Público do Estado do Maranhão (ESMP/MA), em convênio com a Universidade Estadual do Maranhão (UEMA). Analista e Assessor de Procurador de Justiça no Ministério Público do Estado do Maranhão. Membro Efetivo da Academia Maranhense de Letras Jurídicas (AMLJ) e da Academia Ludovicense de Letras (ALL).

Uma questão bastante controvertida acerca da prisão preventiva é a possibilidade de se exigir judicialmente do Estado uma indenização pelo lapso temporal em que o indiciado ou o acusado passou preso preventivamente e, ao final, teve o seu inquérito policial arquivado ou foi absolvido em ação penal.

Analisando o tema, os tribunais brasileiros têm entendido que o fato de o inquérito policial ter sido arquivado ou de ter sido prolatada absolvição em ação penal, mesmo que, durante o trâmite, indiciado ou acusado tenham sido custodiados cautelarmente, não gera para estes, de per si, o direito de receber indenização, porquanto o Estado, no exercício do jus puniendi, consubstanciado através do devido processo legal, exerce um ato de soberania.

Necessário pontuar que o Estado não pode, através desses atos de persecução criminal, agir de forma arbitrária, ou seja, o poder de polícia deve ser exercido de maneira regular. Assim, havendo qualquer tipo de ilegalidade ou irregularidade no ato que impõe, ou pretende impor, restrições à liberdade de locomoção de qualquer pessoa, pode ela se socorrer, por exemplo, do habeas corpus.

Tal ação constitucional serve justamente para coibir abusos do Estado quando do exercício do seu direito de punir, mas a própria Constituição Federal, ao lado da referida garantia e de outras, como a presunção de violência, possibilita ao Estado, no curso de uma ação penal ou de um inquérito policial, ou até mesmo na ausência deste, impor restrições à liberdade de locomoção de uma pessoa.

Nessa esteira, prevê o Código de Processo Penal que se poderá decretar a prisão preventiva como maneira de garantir a ordem pública, a ordem econômica, por conveniência da instrução criminal ou para assegurar a aplicação da lei penal, desde que exista prova da materialidade do crime e indício suficiente de autoria, dentre outros requisitos.

Dessa forma, se a decisão que determinar a custódia preventiva de uma pessoa obedecer aos requisitos legais e constitucionais, estando bem fundamentada, não surgirá para o preso provisório o direito de ser indenizado, mesmo que o seu inquérito policial seja arquivado ou, ao final da ação penal, que seja absolvido das acusações que lhe foram imputadas.

Compreender de forma diversa seria o mesmo que inviabilizar a persecutio criminis até mesmo por parte do Ministério Público, tendo em vista que a propositura de uma ação penal poderia significar constrangimento passível de ser indenizado, equiparando-se, assim, à “Lei da Mordaça”.

Neste viés, mostra-se bastante valioso averiguar na Constituição Federal a responsabilidade civil do Estado decorrente de ato judiciário, na qual sobressaem duas normas. A primeira delas, regra geral sobre a responsabilidade da Administração, encontra-se no art. 37, § 6º, e estabelece que:

As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado prestadoras de serviços públicos responderão pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, assegurado o direito de regresso contra o responsável nos casos de dolo ou culpa.

Consagrou-se, assim, a teoria do risco administrativo, segundo o qual a Administração Pública, em decorrência das atividades que desenvolve em prol da coletividade, gera riscos para os administrados, razão pela qual os danos que causar aos particulares devem ser indenizados por esta mesma coletividade que se beneficia dos serviços públicos.

Diante desta norma, tratando de modalidade de responsabilidade objetiva, não se discute acerca de culpa ou dolo do agente público, exigindo-se exclusivamente que o particular experimente um dano e que entre o dano e a atividade estatal exista um nexo de causalidade.

A segunda delas, prevista no art. 5º, inciso LXXV, prescreve que “o Estado indenizará o condenado por erro judiciário, assim como o que ficar preso além do tempo fixado na sentença”, a qual é específica em relação a atos jurisdicionais e estabelece, portanto, os limites da responsabilidade do Estado por erros judiciários.

A questão sob foco diz respeito unicamente à possibilidade de o Estado ser responsabilizado pelo tempo em que o indiciado ou o acusado passou preso preventivamente, sendo obrigado a indenizá-lo, ou seja, refere-se somente ao erro judiciário, até mesmo porque se o inquérito policial foi arquivado ou ainda se aquele foi absolvido, não se trata de prisão por tempo superior à sentença.

Com isso, chega-se à conclusão de que, para que exista o dever de indenizar, é necessário que se prove que a decretação da prisão preventiva tenha decorrido de ilegalidade, de abuso de poder ou, de maneira ampla, de erro judiciário, como já decidiu o Superior Tribunal de Justiça no REsp nº 220.982/RS, de relatoria do Ministro José Delgado, cuja ementa parcial segue abaixo.

1. O Estado está obrigado a indenizar o particular quando, por atuação dos seus agentes, pratica contra o mesmo, prisão ilegal. 2. Em caso de prisão indevida, o fundamento indenizatório da responsabilidade do Estado deve ser enfocado sobre o prisma de que a entidade estatal assume o dever de respeitar, integralmente, os direitos subjetivos constitucionais assegurados ao cidadão, especialmente, o de ir e vir. 3. O Estado, ao prender indevidamente o indivíduo, atenta contra os direitos humanos e provoca dano moral ao paciente, com reflexos em suas atividades profissionais e sociais. 4. A indenização por danos morais é uma recompensa pelo sofrimento vivenciado pelo cidadão, ao ver, publicamente, a sua honra atingida e o seu direito de locomoção sacrificado. 5. A responsabilidade pública por prisão indevida, no direito brasileiro, está fundamentada na expressão contida no art. 5º, LXXV, da CF. 6. Recurso especial provido. (julgado em 22/02/2000; 1ª Turma)

Essa é a inteligência, também, do Supremo Tribunal Federal:

RESPONSABILIDADE CIVIL OBJETIVA DO ESTADO (CF, ART. 37, § 6º) - CONFIGURAÇÃO - "BAR BODEGA" - DECRETAÇÃO DE PRISÃO CAUTELAR, QUE SE RECONHECEU INDEVIDA, CONTRA PESSOA QUE FOI SUBMETIDA A INVESTIGAÇÃO PENAL PELO PODER PÚBLICO - ADOÇÃO DESSA MEDIDA DE PRIVAÇÃO DA LIBERDADE CONTRA QUEM NÃO TEVE QUALQUER PARTICIPAÇÃO OU ENVOLVIMENTO COM O FATO CRIMINOSO - INADMISSIBILIDADE DESSE COMPORTAMENTO IMPUTÁVEL AO APARELHO DE ESTADO - PERDA DO EMPREGO COMO DIRETA CONSEQÜÊNCIA DA

INDEVIDA PRISÃO PREVENTIVA - RECONHECIMENTO, PELO TRIBUNAL DE JUSTIÇA LOCAL, DE QUE SE ACHAM PRESENTES TODOS OS ELEMENTOS IDENTIFICADORES DO DEVER ESTATAL DE REPARAR O DANO - NÃO-COMPROVAÇÃO, PELO ESTADO DE SÃO PAULO, DA ALEGADA INEXISTÊNCIA DO NEXO CAUSAL - CARÁTER SOBERANO DA DECISÃO LOCAL, QUE, PROFERIDA EM SEDE RECURSAL ORDINÁRIA, RECONHECEU, COM APOIO NO EXAME DOS FATOS E PROVAS, A INEXISTÊNCIA DE CAUSA EXCLUDENTE DA RESPONSABILIDADE CIVIL DO PODER PÚBLICO - INADMISSIBILIDADE DE REEXAME DE PROVAS E FATOS EM SEDE RECURSAL EXTRAORDINÁRIA (SÚMULA 279/STF) - DOUTRINA E PRECEDENTES EM TEMA DE RESPONSABILIDADE CIVIL OBJETIVA DO ESTADO - ACÓRDÃO RECORRIDO QUE SE AJUSTA À JURISPRUDÊNCIA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL - RECURSO DE AGRAVO IMPROVIDO. (AgRg no RE nº 385.943/SP, relator Ministro Celso de Mello, 2ª Turma, julgado em 15/12/2009)

Dessa forma, vê-se a evolução do pensamento jurídico atual no que concerne à indenização decorrente de prisão ilegal. Todavia, com o registro de que o fato de o inquérito policial ter sido arquivado ou de o acusado ter sido, ao fim da ação penal, absolvido, não implica, de per si, em indenização por parte do Estado.

CONVITE

Para o lançamento da obra Antologia Histórica Comemorativa do Primeiro Centenário do Forte de

Copacabana, na qual está um artigo de minha autoria, sobre Villegagnon e a fundação do Rio. Na oportunidade, oferecerei um livro 1612 para a Biblioteca do Centro de Literatura do Museu

Histórico do Exército e Forte de Copacabana.

O evento terá lugar no Forte de Copacabana, no Auditório Santa Bárbara, Av. Atlântica, Posto Seis, Rio de Janeiro, às 18h do dia 30 de abril (quinta-feira).

Ana Luiza Almeida Ferro

A QUESTÃO DA REDUÇÃO DA MAIORIDADE PENAL

ANA LUIZA ALMEIDA FERRO

Promotora de Justiça, Doutora em Ciências Penais (UFMG), sócia do IHGM e membro da AMLJ, da ALL e da ACL

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Publicado em O ESTADO DO MARANHÃO – 26 de abril de 2015

A polêmica proposta de redução da maioridade penal, atualmente em discussão no Congresso Nacional, envolve, basicamente, duas questões: a de sua constitucionalidade e a de sua pertinência quanto ao mérito.

Não há inconstitucionalidade alguma na proposta de redução da maioridade penal, via emenda constitucional (art. 60 da CF). Diz o art. 60, §4º, da Constituição Federal que não poderá ser objeto de deliberação “a proposta de emenda tendente a abolir: [...] IV – os direitos e garantias individuais.” Aí estão as chamadas “cláusulas pétreas” da Carta Magna, indicando as vedações materiais perpétuas ao exercício do poder de reforma. Estes direitos e garantias encontram-se no art. 5º da CF, entre os quais não figura a imposição da maioridade penal aos 18 anos.

Conquanto admitamos que o art. 5º não esgota o rol dos direitos e garantias individuais, pela existência de outros dispersos no texto constitucional, o art. 228, pelo qual são “penalmente inimputáveis os menores de dezoito anos, sujeitos às normas da legislação especial”, nitidamente não se enquadra na categoria de cláusula pétrea, porque não é um direito fundamental ser reputado penalmente inimputável por ser menor de 18 anos. Tanto que numerosos países adotam uma referência etária inferior aos 18 anos (16, 15, 14 e até 10 anos). A fixação da idade-limite aos 18 anos é uma mera regra. Em última instância, o único direito individual passível de enquadramento como cláusula pétrea, a ser extraído do art. 228, é o de não ser penalmente responsável até alcançar certa idade, a qual, via emenda constitucional, pode perfeitamente passar a ser 16 anos.

O sistema acolhido na Constituição foi o biológico, em contraposição ao biopsicológico, refletindo a mesma opção da maioridade penal aos 18 anos do legislador do Código Penal (art. 27), que é de 1940. Ora, ante o crescente envolvimento de menores nos mais variados crimes, inclusive os hediondos e os promovidos por organizações criminosas, mediante o desempenho de papéis cada vez mais ousados, como o de executor e até, em alguns casos, surpreendentemente, o de líder, não é mais possível desconsiderar o fato de que o jovem de 16 ou 17 anos de 1940 não é o mesmo de hoje.

O jovem de 16 anos de nossos dias, em regra, vive num mundo globalizado, em que o acesso à informação é disseminado. A imputabilidade penal se refere à capacidade de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento (art. 26 do CP). Essa capacidade não demanda inteligência ou amadurecimento acima da média. Presumir que o adolescente entre 16 e 18 anos não sabe o que é matar, roubar, estuprar, falsificar, ou que não pode se determinar em conformidade com esse entendimento é um exercício cotidiano de distanciamento da realidade e de cultivo de uma ilusão. É indubitável o desenvolvimento psíquico-intelectual do jovem a partir dos 16 anos, o que, a propósito, tem sido cada vez mais reconhecido na esfera civil. Ensina o mestre Miguel Reale: “Tendo o agente ciência de sua impunidade, está dando justo motivo à imperiosa mudança na idade limite da imputabilidade penal, que deve efetivamente começar aos dezesseis anos, inclusive, devido à precocidade da consciência delitual resultante dos acelerados processos de comunicação que caracterizam nosso tempo.”

Desta forma, o menor entre 16 e 18 anos precisa ser visto como um sujeito com deveres proporcionais aos seus direitos, do contrário há o fomento à impunidade e a afronta ao princípio da igualdade. Se entende as consequências de seus atos, tal qual um adulto, mas diferentemente de uma criança de 11 anos, deve responder penalmente por esses atos, tal qual um adulto, e diferentemente de uma criança de 11 anos. Ao menor de 16 anos, continuariam sendo aplicadas as medidas socioeducativas previstas no Estatuto da Criança e do Adolescente, as quais são inadequadas para o controle da delinquência dos jovens com suficiente grau de maturidade. Já o jovem entre 16 e 18 anos estaria sujeito às mesmas sanções penais reservadas ao adulto, com a sugestão de que lhe fosse garantido o cumprimento de pena em estabelecimentos penais especializados ou, pelo menos, em celas exclusivas para essa faixa etária.

Voltando à CF, não podemos olvidar que o maior de 16 anos tem o direito de votar (art. 14, § 1º, II, c), o que constitui, na correta compreensão do magistrado Éder Jorge, “certa antinomia principiológica” entre esta norma e a contida no art. 228. Se tem o direito de votar, é um verdadeiro contrassenso que não possa responder penalmente, por exemplo, pela prática de delitos eleitorais. Tal representa uma grave contradição de nosso sistema jurídico, que alimenta uma disfunção, pela qual iguais, do ponto de vista da capacidade de entendimento do caráter ilícito do fato e de autodeterminação de acordo com esse entendimento (o adulto e o jovem entre 16 e 18 anos), são tratados de forma desigual.

Não temos a ilusão de que a redução da maioridade penal, por si só, implique a automática diminuição da criminalidade. Tal tarefa não pertence tão somente ao Direito Penal. O Estado precisa também oferecer a seus cidadãos políticas públicas consistentes e contínuas, em diversos campos (educação, saúde, entre outros), incluindo o de segurança pública.

A redução da maioridade penal para 16 anos se faz necessária não porque contribuiria decisivamente para a diminuição da criminalidade como um todo (este é um efeito desejável, porém incerto), mas porque corrigiria uma disfunção no ordenamento penal pátrio, lesiva ao princípio da igualdade, a qual tem permitido, em alarmante escala, consoante observado em nossa experiência como Promotora de Justiça Criminal, que associações criminosas recrutem cada vez mais adolescentes para suas atividades, em face das óbvias vantagens em caso de apreensão ou prisão e instauração de processo na Justiça, que menores assumam a culpa em juízo por atos cometidos por comparsas maiores, que o tratamento legal imposto aos adolescentes entre 16 e 18 anos, pela sua inadequação e brandura, seja um estímulo à delinquência juvenil, pela expectativa de impunidade ou, no mínimo, de não correspondência entre a gravidade do ato perpetrado e a reação estatal.

Aos Confrades e Confreiras da Academia Ludovicense De Letras

Convite/Comunicação:

LANÇAMENTO DA "ANTOLOGIA HISTÓRICA COMEMORATIVA DO PRIMEIRO CENTENÁRIO DO FORTE DE COPACABANA", NO RIO DE JANEIRO.

- Participação: Ana Maria Guimarães Costa Felix Garjan - (Ana Ana Félix Garjan ArtePoesia Literatura), dia 30 de abril, quinta feira, às 18h no Auditório Santa Bárbara, Forte de Copacabana, Rio/RJ.

Como Membro correspondente da ALL, na minha biografia cultural cito essa Arcádia e o nome da sua Patrona, Maria Firmina dos Reis, nessa Antologia que celebra o Primeiro Centenário do Forte De Copacabana Rio De Janiero!

A cara Confreira Ana Luiza Almeida Ferro, também foi convidada para participar dessa obra histórica. De forma especial os nomes de duas maranhenses estarão nessa obra literária levando o nome de São Luís e do Maranhão.

* Às 17h será disponibilizado um Guia Especializado para visitação ao Museu Histórico do Exército. Haverá estacionamento liberado aos participantes e convidados de outro estado ou país. Os convidados devem ser acompanhados pelo Autor.do Centro de Literatura do Forte. Depois da solenidade de entrega da Placa Histórica ao Comandante, Diplomas, Livros aos Autores, haverá um coquetel no Salão de Exposições Temporárias.

*Coordenador do Centro de Literatura: Prof. Antônio Pereira.

________________________________________ Divulgação: Ana Félix Garjan Embaixadora Da Paz

A MEMÓRIA NACIONAL

JOÃO BATISTA ERICEIRA

Hermínio Bello de Carvalho é um dos mais representativos nomes da música popular brasileira. Parceiro de Pixinguinha, de Chico Buarque, redescobridor de Cartola, de Clementina de Jesus, o poeta completou 80 anos mês passado, cercado de merecidas homenagens, dentre elas, o lançamento do livro de poesias “Meu Zeppelin Prateado” no Rio. Procurado por jornalistas, avesso a cerimonias desse tipo, no melhor do seu estilo afirmou: “a memória nacional está coberta por desprezo e preguiça. Na cultura existe muita gente preguiçosa”.

No feriado de ontem, lendo a matéria sobre o poeta pensei acerca do 21 de abril de 1792. Naquela manhã de sol, nas cercanias do Rio, era enforcado Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, acusado de conspirar para transformar em República a capitania de Minas Gerais. Quem era esse herói? Com 40 e poucos anos, solteiro, branco, alto, morando em casa alugada, ingressou nos Dragões de Minas em 1775, no posto inicial de Alferes, nele, não obtendo promoção, licenciou-se. Foi minerador, comerciante, dentista, daí o apelido de Tiradentes. Empreendedor, apresentou ao vice-Rei Luís de Vasconcelos e Sousa o projeto para abastecer de água o Rio. Não logrou êxito. Encontrou-se então com José Álvares Maciel, jovem engenheiro recém-chegado da Europa, conhecedor das ideias iluministas, partidário da conspiração para decretar a independência de Minas Gerais. A partir desse encontro decidiu participar do grupo de inconfidentes.

A Inconfidência Mineira circunscrevia-se àquela Capitania, integrada pela elite colonial, de burocratas, comerciantes, militares, juízes, padres, todos endividados com a Fazenda Real, cobradora de impostos exorbitantes sobre a exploração do ouro, atividade econômica mantenedora da metrópole portuguesa e dos seus funcionários na colônia.

O Tiradentes não pertencia a essa elite. Filho de portugueses empobrecidos, tentava ascender socialmente, mas encontrava os obstáculos da burocracia excessiva e da corrupção da elite colonial. Mantinha com ela contatos, possuía bom nível de instrução, mas não pertencia ao seu clube fechado.

Naquele episódio histórico destaca-se a gulodice do governo colonial na cobrança de impostos, a corrupção, e o excesso de burocracia, ingredientes onipresentes na vida pública brasileira.

Em 1789 o Visconde de Barbacena, governador da Capitania, agravou os problemas. Insensível ao esgotamento das reservas de ouro, decretou a derrama. Queria mais dinheiro para os cofres reais, ameaçava prender os sonegadores. Os inconfidentes aproveitariam a ocasião para aprisioná-lo, proclamando a Independência e a República. Informado da conspiração, Barbacena suspendeu a derrama, e instaurou a investigação ou devassa para prendê-los e condená-los. Todos motivavam-se ideologicamente pela Independência norte-americana e os postulados do iluminismo francês. Deles, o mais arrebatado era o Tiradentes, divulgava publicamente suas ideias nos caminhos entre Minas Gerais e Rio. Em 7 de maio do mesmo ano, o vice-Rei Luís de Vasconcelos e Sousa designou o desembargador José Pedro Torres e o Ouvidor Marcelino Cleto para atuarem na devassa. A prova do delito era a carta de Joaquim Silvério dos Reis, um dos inconfidentes, delatando seus companheiros.

A delação premiada de Silvério dos Reis rendeu-lhe o perdão das dívidas. Como se vê, delação premiada não é novidade. A sentença foi prolatada em 18 de Abril de 1792. Inteiramente forjada, deixou de lado os conspiradores que compraram sua exclusão do processo. A leitura durou 18 horas, seguida da Carta da Rainha de Portugal comutando as penas de morte dos inconfidentes Alvarenga Peixoto, Freire de Andrade, Oliveira Lopes e Luiz Vaz, transformando-as em degredo para as colônias portuguesas da África.

Tudo montado para excluir os membros da elite colonial e condenar o pobre Tiradentes, que permaneceu esquecido durante os anos do Império, porque era republicano, e a rainha que

determinou sua execução era avó dos imperadores reinantes. Veio a República 100 anos depois e os militares positivistas o transformaram em maior herói nacional. Como dele não se tinha qualquer pintura, resolveram amoldá-lo à figura de Cristo, pois em verdade, fora bode expiatório em um processo farsa.

Para saber mais sobre o assunto, é ler o livro “A Devassa da Devassa” de Kenneth Maxwell, que compulsando os seus autos, revelou os motivos pouco nobres de alguns inconfidentes, não obstante a sua contribuição para a formação da nacionalidade. Prestimosa oferta de um historiador estrangeiro para a memória nacional, tão relegada, como afirmou o poeta Hermínio Bello de Carvalho.

Afinal, ontem como hoje, apesar dos processos montados e dos arrochos fiscais, o Brasil caminha para consolidar-se como grande e generoso país, graças ao seu povo, e aos muitos Tiradentes que ainda hoje existem. Ah, o delator Silvério dos Reis morreu em São Luís. Seus restos mortais estão na Igreja de São João Batista.

O ESTADO DO MARANHÃO – 09 DE MAIO DE 2015

JORNAL PEQUENO – CADERNO DE TURISMO – 06 DE JUNHO DE 2015

E NO MARANHÃO...

Liceo Poético de Benidorm

Hoy termina la participación del Liceo Poético de Benidorm en el IX Festival Palabra en el Mundo que se celebró durante este mes de mayo en todas partes.

Nuestra delegada en Maranhão, Brasil, Dilercy Aragão Adler tuvo que aplazar el recital para este sábado 6 de junio, evento con el que el Liceo Poético de Benidorm cierra este IX festival internacional Palabra en el Mundo. Éxitos amiga Dilercy.

JORNAL PEQUENO, São Luís, 098 de junho de 2015

POESIAS &

POETAS

A LÍRICA MARANHENSE DE EXPRESSÂO FEMININA – visão panorâmica

DINACY CORRÊA10

Um olhar sobre a poesia maranhense contemporânea, de autoria feminina (especificamente a safra poética das últimas décadas do século 20 próximo passado, a partir dos anos 80, no trânsito para o século XXI), na representação das poetisas aqui circunstancial e oportunamente elencadas: Arlete Nogueira da Cruz, Laura Amélia Damous, Dilercy Adler, Rita de Cássia Oliveira, Lenita Estrela de Sá, Lúcia Santos, Maria Martha, Wanda Cristina Cunha, Rosemary Rego, Geanne Fiddan, Goreth Pereira, Andréa Leite Costa e Henriqueta Evangeline. Palavras-chave: lirismo; metalinguagem; intertextualidade. Um regard sur la poésie contemporaine du Maranhão, produite par des femmes (spécifiquement la récolte poétique des dernières décenies du XXème siécle, dans la transition pour le siècle XXI), representée, au moment, par des poeteses choisies, dans cette oportunité – soit, les mêmes dejà cités ci-dessus. Mots-clef:: lyrisme; métalangage; intertextualité.

De geração em geração, de Gonçalves Dias a Sousândrade (1832/1902 – autor, dentre outros títulos de O Guesa Errante, escrito entre 1858-1888), passando por Maria Firmina dos Reis, em seus Cantos à Beira-Mar (1871), remontando ao Grupo Maranhense (1832/64), passando pela Oficina dos Novos (1900), por Corrêa de Araújo (que, transitando do parnasiano ao pré-moderno, antecipa a geração de 30/40)... Lembrando Bandeira Tribuzi (que, com Alguma Existência, descortina novos horizontes estéticos)... Chegando a Ferreira Gullar (que com o seu Poema Sujo-1976, estruturalmente complexo, num misto de lirismo e memória narrativa, vem a ser classificado como um dos melhores poetas brasileiros do século XX), a Luís Augusto Cassas, no transe do século XX/XXI... A poesia maranhense vai construindo/percorrendo seu itinerário histórico-literário.

Os anos 70/80, aqui no Maranhão, convencionados “Geração Luís Augusto Cassas”, abrem-se com o poeta Jorge Nascimento (1931), continuando com Arlete Nogueira (1936), Eloy Coelho Neto (1924), Cunha Santos Filho (1952), João Alexandre Júnior (1948), Chagas Val (1943), Francisco Tribuzi (1953), Alex Brasil (1954), Adailton Medeiros (1938)... Este último tendo participação confirmada na Vanguarda Práxis, no eixo Rio/São Paulo, sob a liderança de Mário Chamie.

Os poetas supra referidos todos estrearam com livro, na década de 70, época em que desponta, em São Luís, o Movimento Antroponautico (1969/1972) integrado por autores que, mesmo sem terem feito lançamento, comparecem na antologia do citado movimento: Luís Augusto Cassas (1953), Chagas Val (1948), Valdelino Cécio (1952), Raimundo Fontenele (1948), Viriato Gaspar (1952). A referida antologia continuaria, em 1975, com Hora de Guarnicê – poesia nova do Maranhão, reunindo os poetas da coletânea anterior, acrescida de nomes novos, como João Alexandre Júnior e Rossini Corrêa – que se revela, com obra de sua lavra, na década de 80.

Despontando com República dos Becos (1981), Luís Augusto Cassas alcança uma repercussão nacional, colocando nessa dimensão os poetas seus contemporâneos, dentre os quais se destacam: Roberto Kenard e Laura Amélia Damous.

Os mais novos, na trajetória evolutiva da poesia maranhense, transitam entre “... um neo-romantismo de feição já crítica, ora integrando a sua linguagem a um corpus poético já decididamente moderno” (Brasil, 1994, p. 11). São eles: Alex Brasil (1954), Ivan Sarney (1946), Luís Moraes (1948), César William (1967), Morano Portela (1956), Bernardo Filho (1959), Luís Inácio Araújo (1968).

10 Professora adjunta da Uema. Mestre e Doutora em Ciência da Literatura (UFRJ); Especial para ALL EM REVISTA

Por outro lado, vale lembrar, no transcurso da nossa história, a mulher – educadora e corredentora da humanidade, elemento-chave, num processo de construção do homem e do mundo – em suas atividades, incluindo a literatura, veio sendo relegada a um segundo plano. Nossa cultura, tradicionalmente androcêntrica, não via com bons olhos a liberdade de expressão feminina, cujas representantes vieram a se introduzir na literatura oficial muito tardiamente (a partir do século XVII) e ainda com algumas restrições. Felizmente, tal cenário se foi modificando e hoje ela (a mulher) vêm assumindo, com dignidade e brilhantismo, o seu meritório lugar na sociedade.

Aqui no Maranhão, no pioneirismo de Maria Firmina dos Reis (sec. XIX-1825, produzindo o seu primeiro e único romance - Úrsula em 1859), não se fez diferente. E é de se constatar que a nossa literatura, em sua magnitude, se tem revelado, em nível local e nacional, por vezes, até mesmo universal, sendo-lhe inconteste a presença feminina e na excelência de uma dicção diferenciada. Não obstante... a cortina de silêncio, ainda a envolver esse potencial significativo das nossas Letras, numa invisibilidade que furta, às nossas literatas, o devido e merecido (re)conhecimento e a consequente popularidade, mesmo na terra natal.

No século XX, por exemplo, podemos observar um aflorar constante e considerável de mulheres escritoras, aqui em nosso Estado. Nomes como: Lucy Teixeira, Conceição Aboud, Dagmar Desterro, Arlete Nogueira, Virgìnia Rayol, Roselane Murad Col Debelle, Aurora da Graça, Vanda Cristina Cunha, Laura Amélia Damous, Lenita Estrela de Sá, Maria Marta, Rita de Cássia Oliveira, Lúcia Santos, Dilercy Adler, Sônia Almeida, Rosemary Rego, Geane Lima Fiddan, Silvana Meneses, Sandra Regina Alves Santos, Joelma Corrêa, Márcia Gardênia Serra Mota, Jorgeane Braga, Judith Coelho, Rosemary Rego, Raimunda Santos, Goreth Pereira, Henriqueta Evangeline... entre tantos outros, foram surgindo e integrando a nossa antologia poética, compondo o acervo da nossa produção literária, numa variedade de estilos e talentos individuais.

O que se segue, ainda que não venha a se constituir num trabalho denso e extenso, revestido de análises profundas, propõe-se, através das autoras oportunamente aqui elencadas, a uma mostra do nosso aqui/agora poético, à guisa de conhecimento e difusão desse importante seguimento da nossa cultura e arte literária, ainda deveras proscrito da nossa realidade (e/ou mesmo relegado ao esquecimento).

Às poetisas maranhenses, pois... e direcionando, mais extensa e intensamente, o olhar a ARLETE NOGUEIRA, que abre, com a sua monumental Litania da Velha (de grande repercussão no cenário literário nacional), esta galeria de poetisas maranhenses contemporâneas.

ARLETE NOGUEIRA DA CRUZ MACHADO – (Cantanhede-Ma.-1936). Esposa do poeta

Nauro Machado, mãe do cineasta Frederico Machado. Licenciada (UFMA) e Mestre (PUC-RJ) em Filosofia. Poetisa, ensaísta e romancista, é autora de: A Parede (1966) e Compasso Binário (1970) – romances; Cartas da Paixão (1969) – ensaio filosófico; Canção das horas úmidas (1975) e Litania da Velha (1995) – poesia; Trabalho Manual (1998) – prosa reunida; Contos Inocentes (2000) – infantil; Nomes e Nuvens (2003) e Sol e Sal (2006) memória literária maranhense; O rio (2006) – espécie de fábula poética.

Como se nos foi dado observar acima, na geração Luís Augusto Cassas – a mais nova representação da poesia contemporânea do Maranhão, adepta das tendências modernistas – situa-se Arlete Nogueira, cujos quarenta anos de labor artístico/literário comemorou-se em 2002, num “momento especial da literatura maranhense” (Carneiro Filho, 2002, p. 2). E a escritora prossegue, já perfazendo mais de meio século, em sua aventura com a palavra.

Com o seu poema narrativo Litania da Velha, timbrado em signos neodecadentistas, a maranhense impõe-se como uma das mais (senão a mais) altissonantes vozes da lírica maranhense considerada pós-moderna, na expressividade de uma poesia que, na sua peculiar empatia, consegue rastrear e captar as pulsações da São Luís colonial, resgatando-lhe e traduzindo os ecos de um cotidiano retumbante nas suas marcas de tempo.

Percorrer, pois, essa litania é perfazer um périplo poético pelo centro da cidade, em sua transcendência espaciotemporal, ouvindo-lhe, nas entrelinhas de ruas e ladeiras, a “cantaria” do abandono. Projetando na voz que a protagoniza: as aspirações, a dor, a história de um povo, no anonimato do seu devir coletivo, Arlete Nogueira personifica a cidade em ruínas, apontando para a indiferença com que é tratada por seus habitantes. Litania da Velha é, pois, mensagem edificante, a merecer destaque no meio acadêmico e sociocultural, à medida que, vibrando, ecoando nas consciências o dever de reconstrução do caos urbano, decorrente do descaso e da inexorabilidade do tempo, faz despertar para a valorização e revitalização de um patrimônio histórico que testemunha o passado no presente, perpetuando a memória histórica e cultural da nossa cidade.

Composto em 1995, em pleno ocaso do século XX, no trânsito para o século XXI, o poema, como já o sugere o próprio nome, condensa, em sua paisagem lírica, marcos característicos de um contexto finissecular/finimilenar: perda de referenciais, quebra de paradigmas, dúvidas, ruína, decadência de valores... Enfim, todas as incertezas e indefinições humanas que evocam o decadentismo dos Oitocentos. Tendo, já, transitado da linguagem verbal para a linguagem cinematográfica, num cruzamento de signos (ressalte-se que o roteiro cinematográfico é um texto híbrido, surgido, a propósito, no final do século XIX, no apogeu da estética decadentista), Litania da Velha vem se tornando um hipo/hipertexto que, ancorado no código literário, vai passando por um processo de miscigenação e metamorfose, numa intersemiose de códigos, remetendo a uma nova compreensão e ressignificação artístico-metatextual – o que vem enriquecer, mais ainda, a produção original, abrindo caminho para novas investigações linguísticas e literárias.

Estruturado em 110 versos, o poema, na sua primeira edição, apresenta-se em três segmentos:

• um primeiro, em 24 versos, dispostos em 12 pares de dísticos, mais um verso; • um segundo, em 82 versos, dispostos em 41 pares de dísticos, mais um verso; • um terceiro, num par de dísticos final.

Iniciando-se a leitura pelo título da obra, pode-se perceber que, uma simbiótica fusão concreto/abstrato – nome (litania) e complemento nominal (da velha) – fazem esse conjunto morfossintático, semanticamente evocativo e transcendente. Identidade, procedência, referencialidade são, a priori, sentidos que se desprendem desse conteúdo titular, por si só, sugestivo da cantilena muda (mas paradoxalmente eloquente e comovente). E o etmo da palavra que, na sua transitividade, demanda locução adjetiva complementar, clarifica a origem histórico-linguística do termo litania – do latim litanie, “termo erudito para ladainha” (Larousse, 1980, p. 496). Ladainha, por sua vez, é dicionarizada, no mesmo Larousse (p. 514), como “cantos ou preces em série, com que na igreja se louva a Deus, à Virgem e aos santos: litania, enumeração longa e fastidiosa”.

A litania aqui em apreciação inspira-se, pois, na tradicional ladainha lauretana – oração coletiva, ao mesmo tempo laudatória e suplicante, compondo-se de uma laude vocativa e uma súplica responsorial, de estrutura fixa, invariável, como exemplificado abaixo:

• Mãe admirável! (vocativo laudatório); • Rogai por nós! (súplica responsorial em coro de vozes).

Vocativa, apostrófica, laudatória, imperativa, a ladainha religiosa eleva-se, verticalmente, de

um plano terreno (inferior) para um plano celeste, espiritual (superior), num coloquialismo participativo, articulado na primeira pessoa de um discurso plural (nós). A litania poético/arletiana, por sua vez, faz a diferença, conforme já circunscrito na própria estrutura do sintagma-título (N + CN), expressando-se na terceira pessoa de um discurso singular (a pessoa de quem se fala, o referente apontado, relatado, pela pessoa que fala), dirigindo-se, poético/denotativamente, do individual para o coletivo, num plano meramente horizontal.

Na Litania da Velha, o sujeito/objeto poético não se presentifica dotado de autonomia de voz, tratando-se, pura e simplesmente, de alguém que passa, no anonimato de sua trajetória no tempo, no viés da história de uma cidade com a qual envelhece simultaneamente. É a velha, transeunte anônima, passiva, incorporando a cidade que também passa, estatizando-se no tempo. E a poesia ali... de “olho-vivo”, sentinela fiel, captando, eternizando o flagrante. E aqui uma breve analogia entre esta digamos, epopeia arletiana e a Odisseia do velho bardo grego – obras que, temporal e espacialmente distantes uma da outra mantêm, entre si, na nossa contemporaneidade, pontos de convergência, em especial no que respeita aos fatores: itinerância e mendicidade (recorrentes nas duas narrativas) circunscrevendo-se, estes, respectivamente, nos dois personagem: Ulisses e a velha mendiga – aquele, circunstancialmente maltrapilho e andrajoso, sob as aparências de velho mendigo e cego, a quando de volta para a ilha de Ítaca, a itinerar/deambular pelas ruas, “à imagem e semelhança da sociedade de sua cidade-ilha, corrompida e devassa, em completa ruína” (CARNEIRO FILHO, 2002, p. 02); esta, autêntica mendiga, a perambular por um centro histórico arruinado, da também cidade-ilha de São Luís.

A litania poética de Arlete Nogueira não é oração, mas mostragem de uma realidade que se quer desvelar e revelar ante os olhos anuviados do mundo: é a velha mendiga a refletir, no seu caminhar solitário e esquecido (da sociedade), o coração carcomido, da cidade em ruínas. A propósito...

Arlete Nogueira da Cruz plasma e representa, alegoricamente, a ilha de São Luís, numa Velha, para poder penetrar em sua vida mais subterrânea, nos recessos labirínticos da alma do ser maranhense coletivo, enquanto protagonista silenciosamente embutido na resignação da velha andarilha e pedinte, fazendo emergir da soturnidade, do silêncio da obscuridade, da miséria, da insônia sem termo, produto das injustiças sociais [...]” (CARNEIRO FILHO, 2002, p.02).

E aqui, poeta e poesia cumprem sua inerente, sublime missão: visibilizar realidades

proscritas, reatualizar o passado, postular existência ao já esquecido, enfim iluminar o obscuro. Daí, a litania arletiana – que com a litania lauretana só tem em comum o caráter repetitivo do discurso poético – cuja reiteração sintática dos versos vai conferindo, na monotonia do ritmo, o tom solene e grave ao poema. Na “enumeração longa e fastidiosa”, uma das designações de ladainha, segundo Larousse (1980, p. 496), os elos analógicos observáveis entre a ladainha poético-literária de Arlete Nogueira e a ladainha-prece coletiva da igreja católica, visto que, é seguindo um processo enumerativo de produção textual, no âmbito de sua criação poética, que a poetisa maranhense entretece a sua litania, ou seja, enumerando, em extensa lista, os detalhes, as ocorrências, enfocadas pelo seu olhar poético-fotográfico. Optando por um título de conotação religiosa, para o seu poema, a autora como que pretende conciliar o profano e o sagrado. E aqui se nos parece pertinente a citação:

Escolhendo a litania (termo erudito de ladainha) como forma poética, a poeta revela de imediato sua intencionalidade maior: elevar o profano à dimensão do sagrado, desvendar a grandeza ou sacralidade ocultas de seres e coisas que, depois de terem suas vidas e energias sugadas, foram atiradas fora como bagaço (COELHO, 1996, p. 05).

Ainda da estrutura e da linguagem da obra em leitura, pode-se acrescentar que,

Valendo-se da técnica de paralelismos, a narrativa é costurada a partir de uma consciência de que o tom litânico tem tudo a ver com a melodia monótono-monocórdica das ladainhas cantadas durante as procissões que emprestam ao texto a atmosfera propícia para o exercício da linguagem cinematográfica em lances de instantaneismos e simultaneismos que beiram os limites do absurdo, da voragem e vertigem de um ser que oscila entre a insônia e a inconsciência sobre o que acontece em torno. Neste nível de incoerência da protagonista, a escritora dá prioridade a trabalhar com o material ideal para textos dessa natureza, isto é, primeiro o que tem a ver com

as percepções sensoriais, e que elege as sinestesias e, em seguida, privilegia para sua escritura os paradoxos, as antíteses, as aliterações. Assim, a ambiguidade permeia e perpassa todo o poema-romance, nesse lance de pós-modernidade, quando a releitura permite um olhar irônico e contraditório em relação ao passado, a tradição problematizada, mas sem nunca ser negada” (CARNEIRO FILHO, op. cit., p. 02).

Nessa ambiguidade (aludida no intertexto acima), cuja expressão maior configura-se num

espelhismo/dualismo de uma cidade que se reflete (na) e se confunde (com) a protagonista do poema e vice-versa, é possível ainda vislumbrar aspectos neobarrocos na Litania da Velha. Numa breve especulação lexico-gramatical, podemos observar que o núcleo de interesses, a problemática central do poema, sintetiza-se no primeiro verso, condensando-se no substantivo abstrato tempo:

O tempo consome o silêncio e mastiga vagaroso a feroz injustiça (p. 17).

Observemos que se trata de um verso longo, exaustivo, cuja dicção se vai abrandando, regressivamente, ao ser verbalizado (como algo que, consumindo-se, desgastando-se, num carpe diem dolorosamente às avessas: o tempo passou; não é mais possível aproveitá-lo, mas apenas lamentar o seu efeito irreversível, inexorável – ou talvez resgatar-lhe alguns valores).

Inferimos, pois, que o fator tempo antepara o núcleo temático do poema enumerativo: a dor existencial. Expressando-se em frases poéticas de estrutura sintática simples, o substantivo (apontando para o substancial, ou a substância) é a classe gramatical predominante no contexto morfolexical dos versos. São precisamente 109 substantivos referenciais a evidenciar o aspecto da realidade esquecida e proscrita, que a poesia quer iluminar: a cidade projetada na anciã, como reflexo desta, uma espelhando a outra, numa mútua ressonância, num espaço-contextual único.

Entre concretos e abstratos, ressaltemos, os substantivos que iniciam os 109 versos estão todos determinados (pelo artigo definido o/a/os/as) – postulando, analógica e dedutivamente, que a autora, determinada e objetivamente, quer chamar a atenção para um dado substancial (concreto) da realidade. São 97 substantivos concretos, predominando os designativos de espaço (aberto, cultural, socializado): campo, rua, mato, ladeira, esquina, sobradões, aterro, manguezais... sendo, dentre estes, recorrente, o adjetivo substantivado velha, por quatro vezes. Entre os abstratos, contam-se 18, sendo estes, em sua maioria, signos temporais, como: os anos, o dia, a hora, o tempo (que se repete por três vezes, no périplo poético), dentre outros, nominativos de gestos e expressões ou condições humanas, como: o andar, o passo, a precisão, a atenção, a insônia, a piedade, a arrogância, os cuidados...

Na predominância constatada dos substantivos concretos, vê-se confirmado o inferido anteriormente: a poetisa quer apontar, com os seus versos litânicos, para dados e fatores concretos de uma realidade perpassada pelo fio do tempo, que a vai entremeando, do começo ao fim.

A dor existencial, rastejada no percurso do tempo, que tudo consome e transforma, tem nesse signo (tempo) o alfa/ômega que abre e fecha a litania, como a sugerir uma circularidade de eterno retorno (uróboro), a remeter à lenda da serpente que, evoluindo, poderá envolver a Ilha de São Luís num abraço fatal.

O tempo consome o silêncio e mastiga vagaroso a feroz injustiça (primeiro verso).. O tempo sacrifica essa doce herança e vomita seu fel: gosto/amargo que azinhava e mascara as palavras que morrem (último verso).

O signo tempo, pois, confere o timbre negativo ao poema. Destacável, ainda, na estrutura

morfossintática da obra, é o seu sistema de adjetivação. Numa coesa e coerente seleção/combinação de palavras mutuamente relacionadas (substantivos/adjetivos), a escritora imprime, no seu texto, uma surpreendente expressividade e uma profunda ressonância semântica, de conotação trágica,

apocalíptica, um tanto quanto deprimente. Incerteza, dúvida, inconsistência, insegurança, desolação, desesperança, vaguidade... sensação de falência, falta de... são efeitos impressivos, percebidos/captados na leitura, a denotarem os traços neobarrocos, neodecadentistas, pós-modernos, que estilizam a composição poética. São 77 adjetivos coerentemente relacionados a outros 77 substantivos por eles caracterizados. Vejamos alguns desses pares:

feroz injustiça; ferida aberta; manhã sufocada; rua precária; passos vacilantes; asco imprudente; ambições traiçoeiras; vícios funestos; chinelos falidos; desejos frustrados; andar trôpego; sorrateiro interesse; inútil valia; folhas paradas; frios convite; falsos trapézios; infância negada; ausência sentida; respostas mofadas; dentes perdidos; unhas lascadas; boca desdentada; expectativa cruel; gosto amargo: palavras que morrem.

Os adjetivos, cobrindo, aproximadamente, 30% do contexto lexical do poema (que dá

prioridade aos substantivos, predominância que, conforme já sugerido, aponta para a objetividade, os aspectos substanciais, materiais, de uma realidade proscrita, a que a poesia quer dar visibilidade), caracterizam os pares substantivais, intensificando a significação da mensagem, expressa no conjunto sintagmático (nome + adjunto adnominal), dando a medida exata do estado (precário) em que se encontra a cidade: parada no tempo, à mercê do tempo, a consumir-se sob a ação implacável de Chronus.

A antiga cidade é uma ilha que se desfaz em salitre (p. 31).

Os verbos, ancorando a estrutura frásica dos versos, vêm confirmar a força expressiva da mensagem poética, cujo efeito negativo, pessimista, corrosivo, estático, do passar do tempo, se faz reiterar e intensificar como servem de exemplo:

consome; espalham; cochila; mastiga; ruminam; espreitam; ignoram: dói; nega.

Ainda quanto à área dos verbos, pode-se dizer, a litania dá ênfase à predicação por relação

(não por processo), com verbos de ligação, ou seja, de estado (não de ação): ser/estar. O que vem como instaurar, ou mesmo reforçar, o clima de monotonia, passividade, melancolia, que se patenteia no texto. Os verbos de ação, por sua vez em menor número, vêm acentuar a ideia de estagnação, a atmosfera trágica, o caos apocalíptico, já sugerido pelos pares substantivo/adjetivo. Vejamos:

descem; queima; explode; (não)expande; (não)resistem; catam (do lixo); vergam; recolhem; desaba; morde; denuncia; destila; mudam; explode; projeta; corrompe; esgotam; arrastam; ausentam; arriscam; doem; atordoam; acinzenta; carrega; espanca; engole; escapole; sacrifica; vomita; congela; perfura; suga; azinhava; marca sibila; dardeja... entre outros.

Ressalte-se, ainda, que o tempo verbal em que a autora projeta a realidade que quer destacar é

o presente, com o predomínio do modo indicativo. É, portanto, o momento atual, evocativo do passado, num contexto palpável, possível de ser contestado e até revertido, que ela quer apresentar, expor ao leitor. Ao longo do poema, todavia, a forma nominal do gerúndio (sugerindo ação continuada), vem a confirmar, mais ainda, a ideia de cristalização do tempo, de congelamento das imagens, a estatidez da situação enfocada. Vejamos:

suplicando; catando (do lixo); ardendo (em febre); espumando; babando; carregando; cambaleando; murmurando; escalando; atropelando-lhe...

Podemos dizer que a admirável engenharia poética da Litania da Velha explica-se nessa seleção/combinação lexical, a estabelecer uma perfeita relação de sentido entre as palavras, num discurso poético de timbre realista/impressionista.

A tessitura poética, como se pode constatar, não apresenta qualquer traço de subjetividade ou intersubjetividade. A referencialidade ao ser (elemento humano) recai sobre a anciã que, conforme evidenciado no texto, não possui autonomia subjetivo/pessoal ou relação intersubjetiva, tampouco força de expressão em voz ativa, como sujeito de sua história – focalizada que é, no poema, como objeto passivo e paciente de um processo histórico que vai rastreando, no transcurso do tempo, o destino inexorável do objeto cultural (a cidade) personalizado e humanizado, por analogia – recurso através do qual ganha status de protagonista de uma epopeia sem herói. Personagem estereótipo, a velha metaforiza (metonimicamente) a cidade, simbolizando-a como espaço geográfico e representando-a na coletividade dos seus habitantes.

Nessa perspectiva, fica confirmada a relação simbiótica já aludida, a partir da qual se processa, paralelamente, a humanização do objeto cultural e a coisificação do sujeito, o ser existencial, respectivamente a cidade e a velha. Através da figura humana da anciã, a autora personifica e humaniza a cidade, ao mesmo tempo em que descortina o inverso do processo, ou seja, a despersonalização do ser humano, que se vai apassivando, perdendo a voz e a vez. A propósito,

...este poema humaniza, ou melhor, personaliza, magistralmente, a cidade, em sua decrepitude, pois que, de fato, esse envelhecimento está ligado ao destino dos que a habitam, como uma fatal força aniquiladora, até de nossas esperanças. A rigor, envelhecemos e morremos com ela, enterrando-nos desgraçadamente em seus próprios escombros (CHAGAS, apud NOGUEIRA, 1995, p. 01).

E ainda:

A velha, no caso, desprezada pelas gerações que se sucedem e que dela descendem, parece reagir como esses avoengos injustiçados, que se vingam deserdando os filhos e fazendo com que os próprios netos e bisnetos fiquem sem memória, conduzidos à pior das mortes (id, ibid).

Tragicamente belos, são versos a seguir:

O sobrado desaba sob a complacência de quem lhe espreita a queda

A ruína é conquista que explode exata contra o pálido espanto. A velha afinal se ampara na edificação do seu medo e cai. Os chinelos falidos arrastam desejos frustrados deixados no chão. Os dedos são ímãs catando do lixo a pompa dos dias.

Angústia humana, desolação, decadência, caos apocalíptico, o poema, em toda a sua

extensão, conota, dolorosamente, como ferida aberta ou como: “Uma ladainha profana que, em lugar de louvar a Deus e aos Santos, segue, passo a passo (como os passos da cruz na Via Crucies), a velha mendiga em sua peregrinação diária pela cidade corroída pelo tempo e pelo desgaste dos homens” (COELHO apud NOGUEIRA, 1995, p. 02).

Apreciemos:

A pobre mulher sai maltrapilha, sem pressa, carregando brio e saudade. As casas, à sua passagem, são cáries de dentes chorando seu flúor. O café dado à velha devolve a ilusão das coisas estáveis. A rua, de novo, é caminho que leva para a passagem das horas.

Ao lado do que se constitui em “terrificante denúncia de uma agonia mortal” (TEIXEIRA,

1996, p. 04), expressa no sentencioso verso que abre a Litania, há também espaço para uma declaração de amor à cidade: “Este poema é uma declaração de amor à São Luís do Maranhão” – palavras da autora que, esteirada no Amor pela sua cidade (no que esta encerra de mais caro, o seu tradicional Centro Histórico, impagável tesouro arquitetônico, hoje Patrimônio Cultural da Humanidade) induz o leitor a reconhecer, no espelho de suas palavras que “só o amor constrói obras tão belas”.

Encerrando, circunstancialmente, estas breves considerações (projeto sempre aberto de leitura), podemos concluir que Litania da Velha é testemunho, é resgate de amor, da cidade de São Luís. Vimos como, a poesia, na sua sublimidade, é capaz de tornar visível realidades proscritas, de revitalizar o passado já esquecido, realizando o milagre da renovação da vida. E assim é que, a mendiga, anciã itinerante e a velha cidade em ruínas, ressurgem, como presenças marcantes e vivas, na consciência coletiva do seus habitantes. OUTRAS POETISAS MARANHENSES CONTEMPORÂNEAS LAURA AMÉLIA DAMOUS (Turiaçu/10.04.1945). Autora de uma obra poética que se insere no atual panorama da literatura maranhense. Poetisa de fina sensibilidade, conteúdos exóticos e levemente voluptuosos, faz sua estreia literária com Brevíssima Canção do Amor Constante em 1985 – ano em que assume a direção do Teatro Arthur Azevedo. Seguem-se: Arco do Tempo (1987); Traje de Luzes (1993); Cimitarra (2001); Arabescos (2010).

Presença literária sempre marcante nos eventos socioculturais maranhenses, Laura Amélia tem assumido cargos nos órgãos culturais do Estado, como Assessora Cultural da SECMA (Secretária de Cultura do Estado, 1987-89) – gestão em que, a propósito, funda o anexo da Biblioteca Pública Benedito Leite, para jovens, e o Centro de Criatividade Odylo Costa, filho e mantém a Colunarte (jornalismo literário).

Considerada por muitos dos nossos intelectuais, leitores e avaliadores de sua obra, a nossa Emily Dickinson e comparada a Cecília Meireles, a poetisa cunha os seus poemas numa singularidade muito própria de quem, no uso de poucas palavras, mas em “expressão plenamente poética” e num “ritmo espontâneo do verso”, consegue revelar um mundo... “pelo espraiamento do verso afetivo da linguagem” que, “em muitos momentos se inclina para o sugestivo, sobretudo por esse jeito de começar o poema como quem conclui, reduzindo-o à ideia final” (LYRA, apud ALEX BRASIL,1994, p.267).

A autora busca referências em grandes representantes da arte literária. Sua poesia dialoga com obras de outros autores, como Federico Garcia Lorca, Cecília Meireles, Rainer Maria Rilker, Emily Dickinson... Para o poeta Nauro Machado (2001, p. XIX), “seus versos pressupõem um conhecimento a priori da temporalidade a que se reduz a coisificação presentificável do que hoje somos, pois o passado nos convoca o ser para as prerrogativas antecipadoras do que foi”. E ei-lo que acrescenta (id. ibid.), na sua autoridade de poeta maior: “O caminho por onde o texto conduz Laura Amélia Damous é este e, daí pra frente, é ele que cria o poeta em suas várias vertentes de conversa e

diálogos com outros textos, leitores, estudiosos, ensaístas e críticos [...]”. Daí, poeta algum ter significado isoladamente, em si mesmo e em seu tempo – eis que todo poeta, na verdadeira acepção da palavra, resume-se no somatório daqueles que leu e absorveu, numa dinâmica trans/intertextual, através de leituras, releituras... recriações.

Adepta dos poemas curtos, dos versos livres, expressos, estes, num perfeito raciocínio, rigor e controle na concisão, Laura Amélia não faz restrição de palavras, como bem o diz o escritor e acadêmico (Dr. Honoris Causa-Uema), Jomar Moraes, uma vez que “ao poeta não se prescreve a avareza verbal”. A propósito, ainda Nauro Machado (id. ibid), a categorizar os poemas lauramelianos como “conhecimento intuído”, “desvelamento da realidade”, e “autocontemplada expectação verbal” – na expressão de um lirismo que não se restringe a “um simples sistema sígnico característico de uma pseudo-modernidade, prenhe de velharias descartáveis”, como o demonstram os exemplares que se seguem, colhidos de Cimitarra: OFÍCIO – A palavra/ floresce e/ sangra/ o fruto/ das/ mãos (2001, p.43). INSPIRAÇÃO – A branca luz do papel/ destila suor feito ímã/ o poema se impõe/ e gruda/ na pele do poeta (2001, p.48). POEMA DE ÚLTIMA VIAGEM – Outra vez mais te trago/ à superfície/ da imprecisa/ linha/ onde se alinha/ a sina/ a sorte/ Outra vez/ não mais/ a alma viaja/ e náufraga (2001, p.50).

Nos três poemas em leitura, vemos que a metalinguagem (expressa nos jogos de palavra, metáforas e outras figuras, que anteparam as reflexões sobre o fazer poético) é ponto e contraponto no processo de criação literária, na montagem dessas pequeninas joias lírico/verbais. E algo de muito especial, na obra desta poetisa, é a intertextualidade, manifesta em plano semântico, sobretudo nos títulos dos poemas – títulos estes, fundamentais na compreensão e interpretação do texto, pela transtextualidade, as conexões com obras da literatura universal ou referências a personalidades de importância para a sociedade humana, as personagens de clássicos literários, entre outros. Como exemplo, As 2555 noites de Turiaçu; Xerazade; Hamlet; À Humana Comédia; Galileu; Fim de Tarde com Van Gogh; Julieta; A cigarra e a formiga... Títulos que condensam a ideia do poema, em si, prenunciando o que será trabalhado no texto, como observa Nauro Machado. Apreciemo-la em sua verve poética: .JOÃO E MARIA – Ainda que eu pudesse fazer/ de cada estrela/ uma pedra guia/ ainda assim/ não encontraria o caminho/ que me levaria de volta (DAMOUS, 2001, p.117). JULIETA – Agora, que só te posso ver quando/ adormeço/ penso, às vezes, te despedes de mim/ até nos sonhos/ Ansiosa desse encontro busco o sono/ leve carícia na minha alma insone./ Adormeço, de vez, eu te prometo/ se me asseguras um eterno encontro (Ibid., p.134).

Como se vê, a autora faz, com maestria, essas releituras em seus poemas e numa linguagem simples e leve, recriando, na modernidade, histórias que remetem a outros tempos. Em João e Maria, por exemplo, remonta ao tradicional conto infantil. Evidentemente, em uma outra, nova abordagem, mas sem perder a linha de quem está em busca do caminho de volta. Em Julieta, a remetência às personagens do clássico shakesperiano, na atmosfera noturna do poema, o “adormecer de vez”, mais que uma promessa (condicionada a uma outra promessa) é proposta de compromisso mútuo de amor eterno, para além da transitoriedade desta vida. Continuemos com a poetisa:

HERANÇA – Minha avó Amélia que/ tinha as orelhas rasgadas/ pelo peso do ouro/ me deixou um tesouro:/ não carregue mais/ do que a frágil carne suporta (2001, p.62).

OFERENDA – Venho te oferecer meu coração/ como o cansaço se oferece aos/ amantes/ o suor aos corpos exaustos/ depois de definitivo abraço/ Venho te oferecer meu coração/ como a lua se oferece à noite/ e o vento à tempestade/ Venho te oferecer meu coração/ como o peixe se oferece à captura/ no engano do anzol (Ibid., p.107)

O lirismo delicado que caracteriza a poesia desta maranhense entra em sintonia com a natureza (noite, lua, dia, sol, estrela, mar, vento, etc.), o infinito, em imagens que vão compondo uma atmosfera de sonho e fuga. Recorrendo a formas poéticas simples, sem métrica regular estabelecida, desenvolvem-se temas como: o amor, a transitoriedade das coisas, da vida... a fugacidade do tempo...

Em Herança, como se pode inferir, o eu lírico deixa claro os ensinamentos do velho “Crhonus”, na recordação da avó experiente, provida de ensinamentos e aprendizagens, sabedorias, a advertir para a irrelevância do material, do supérfluo... Em Oferenda, é pela comparação que aflora um lirismo que se derrama na oferenda de um coração inteiramente disponível e entregue ao Amor. DILERCY ARAGÃO ADLER (São Vicente de Férrer/07.07.1950). Graduada, em Psicologia. Professora universitária (Ceuma e UFMA – pela qual é aposentada). Mestre em Educação e Doutora em Ciências Pedagógicas (ICCP-Cuba) é, atualmente, professora de Graduação e Pós-Graduação da Faculdade Cândido Mendes do Maranhão (FACAM). Naturalmente voltada para a arte poética, ei-la que diz em uma entrevista:

Em uma Antologia “A figueira” (1994), do nosso querido e grande poeta da Sociedade de Cultura Latina de Santa Catarina, Abel B. Pereira, ele solicitava aos integrantes (da antologia) que discorressem sobre a questão “porque escrevo poesia” e eu respondi [...]:“A poesia sempre se impôs à minha vida. Até a adolescência eu organizava cadernos cheios delas. Depois da Faculdade, deixei-a um “pouco de lado”. Mesmo assim ela se fazia presente. Mas, os escritos dessa época ficavam dispersos, sem lugar específico. Passados alguns anos, acho que não resisti ao seu poder de sedução e me rendi. “Crônicas & Poemas Róseos Gris” significa [...] “reconciliação” com a poesia que, aliás, sempre foi um dos grandes amores da minha vida (http://www.selmovasconcellos.com.br/colunas/entrevistas/dilercy-adler-entrevista/15.05.2009).

Agraciada com vários títulos e medalhas culturais, nacionais e internacionais, a

professora/escritora é membro de entidades literárias, como: Comissione di lettura Internacionale da Edizioni Universum Trento-Itália; Academia Irajaense de letras e Artes – AILA (cadeira nº. 13), Academia de Letras Flor do ValeIpassu/São Paulo; Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão (IHGM); Fundadora e integrante da Academia Ludovicence de Letras (ALL) entre outras.

Dilercy Adler tem-se destacado no cenário literário atual, não somente por sua produção, como pelo incentivo que vem dando à cultura literária local, através de edições de antologias. Dentre as atividades desse nível, foi editora do livro Circuito de Poesia Maranhense (1996) e organizadora da exposição fotográfica sob o mesmo nome (1995). Também organizou e participou da I Coletânea poética da Sociedade de Cultura Latina do Estado do Maranhão – Latinidade. Organizou e promoveu a edição da obra Mil Poemas para Gonçalves Dias (2012-comemorativa do centenário do poeta). Hoje, é presidente da Sociedade Cultural Latina do Maranhão (SCL/MA).

Além de partícipe de muitas antologias poéticas, a maranhense tem publicados: Crônicas & Poemas Róseos Gris (1981), Poematizando o Cotidiano ou Pegadas do Imaginário (1997), Arte Despida (1999), Genesis – IV Livro (2000) e, recentemente, Desabafos... Flores de Plástico... Libido e Licores... Liquidificadores.

Sua poesia, em geral, é de cunho lírico/amoroso, na abordagem de temas como a natureza e os sentimentos mais arrebatados, as agruras da paixão, a solidão, a saudade, o desejo, numa

subjetividade e sentimentalismo exacerbados, em confidências amorosas do eu lírico, em laivos de fantasia e imaginação, no recriar de uma nova realidade. Vejamos:

NECESSIDADE DE TI – Eu te preciso tanto/ que me dói/ a tua ausência/ eu te preciso tanto/ que te queria sempre junto/ e a possibilidade/ de não ter-te/ me entristece/ me deprime/ me enlouquece!/ eu te preciso tanto/ e no entanto sinto/ que preciso/ não precisar assim de ti/ preciso sim/ - urgentemente para/ manter-me/ intacta e livre/ desvincular-me de ti! (ADLER, 2000, p. 41).

Embora a liberdade formal seja um marco característico em Dilercy Adler, na sua poesia fazem-se recorrentes certas palavras que colaboram na construção das imagens de saudade, solidão e morte, num eu-lírico como a suspirar, sofrer, chorar, pela ausência do amor, cuja impossibilidade traz sensações pungentes e dolorosas ao coração.

Motivada pela convivência no exterior, em especial em países de língua espanhola, frases ou expressões da língua de Cervantes são frequentes nas suas composições, a partir dos títulos ou, às vezes, em poemas inteiros como em Siempre a tus pies, Solo para verte, Desvane(ando), A mi Tristán, La vida es solo un suspiro ahogado, Mulher de pedra de ChichenItza. Ei-la em: SIEMPRE A TUS PIES – “Siempre a tus pies”/ vou despir a minh’alma/ acercar-me com a calma/ de irrefreável desejo!/ “Siempre a tus pies”/ vou cobrir-te de estrelas/ aspirar teus suspiros/ um a um/ com meus beijos!/ “Siempre a tus pies”/ abraçar-me-ás inteira/ como a onda na areia/ numa dança sem igual!“Siempre a tus pies”/ derramarei sem pesar/ os meus dias/ os meus versos/ toda a minha saudade/ e o meu desejo de amar! (ADLER, 2000, p.52)

Outro tema constante, na obra de Dilercy Adler, é o arrebatamento do amor carnal, da voluptuosidade, da libido, permanente na mulher apaixonada, como o demonstra o poema a seguir, em que se observa, também, a utilização de versos irregulares e livres, irregularmente dispostos no espaço poético.

DESEJOS ESPÚRIOS – Estranha loucura/ nas ruas e becos/ entranhas e luas/ expostos nas vias/ esdrúxula mania/ de corpos e corpos/ que rolam/ copulam/ e calam/ angústia/ desejos/ instintos/ em buscas espúrias! (ADLER, 2000, p. 32) RITA DE CÁSSIA OLIVEIRA – Sanluisense nata, desde muito jovem, Rita de Cássia, professora universitária, graduada (Ufma), mestre, doutora e pós-doutora em Filosofia (PUC-SP), esteve ligada à militância de esquerda, na política estudantil, quando ainda estudante de Filosofia, na política partidária e ideológica, em todos os momentos de sua consciência. Tem participado de comunidades que buscam o bem-estar social, como Centro de Cultura Negra, Grupo de Mulheres da Ilha, Comissão de Justiça e Paz, entre outros. Muito ligada às causas da mulher e dos oprimidos, Rita de Cássia tem construído uma literatura engajada, numa certa dicção política, abordando temáticas variadas, cuidando de assuntos amorosos, sociais e, com muita determinação, dos temas relacionados à libertação feminina. Seu trabalho junto às comunidades, são relacionados com a educação e com as reivindicações da massa oprimida, o que se reflete em sua obra poética.

Entre outras obras, a maranhense/sanluisense é autora de (RE)Nascer Mulher (1983) e Poiesis (2007), numa abordagem contundentemente feminina, a vislumbrar a mulher em seus anseios, suas relações com o repressivo mundo exterior, como servem de exemplo os dois poemas abaixo:

RENASCER – Quero despertar o bem-me-quer da História./ E cada folha amarelecida e carcomida/ pela sífilis do machismo,/ jogar no abismo do tempo. E colocar não mais flores/ mas

raízes fincadas por mãos calorosas/ e regadas não com as lágrimas/ mas com o suor de quem/ lutou por ser inteira./ E, do segredo que o século me revestiu,/quero ser berro cada vez mais forte,/ mais audaz,/ e sair rasgando todas as bocas amordaçadas/ pelo silêncio do bem-comportado./ E não me degenerarei: serei pura./ Não quero ser só bandeira:/ antes, serei atos na práxis de um vir-a-ser/ parido em convulsões de uma nova era./ E ressurgirei inteiramente mulher! (OLIVEIRA, 1983, p.9). CONCESSÃO – Se me queres,/ se me queres.../ aceita-me mulher./ Mulher semente,/ mulher espinho,/ negada pelo teu machismo,/ porém refeita pelo tanto de homem/ que és./ ... Se me queres,/ sou começo,/ infinitude,/ chegada. Se me queres.../ vem,/ mas vem manso,/ morno,/ moreno.../ agasalhar-te sob as minhas asas de abelha-rainha. Se me queres... (Ibid., p.10)

Atenta aos acontecimentos de seu tempo, ela consegue, na sua poesia, fazer ecoar o grito forte, que clama pela libertação da mulher, frente aos preconceitos e barreiras do mundo em que vive, em especial ao machismo, a que faz referência nos dois poemas em leitura.

Em Renascer, poemas em versos livres, a autora retrata a mulher, ao longo da evolução da sociedade humana, no vértice da repressão sofrida, aliás, não só por esta (a mulher), mas por toda uma maioria desfavorecida da sociedade. Nos versos Quero o berro cada vez mais forte,/ mais audaz,/ e sair rasgando todas as bocas amordaçadas, a poetisa faz transbordar toda a sua indignação, considerando o tempo precioso em que a mulher se deixou calar frente aos problemas. Ela quer gritar, esbravejar, para todos os cantos do mundo, as suas reivindicações... como num grito de fêmea subjugada, mas sedenta de liberdade. Grito de mãe protetora de sua ninhada... De mulher a defender os seus direitos e que sabe dos seus deveres. Um grito de alerta a todos os que, até então, nunca fizeram nada em favor dos oprimidos. Uma convocação, portanto, a essa causa imediata.

Em Concessão, a ideia de liberdade e de aceitação, por parte dessa mulher, vem como que atrelada ao sentimento, brotado e cultivado entre os gêneros diferentes. O poema bate na tecla da aquiescência da mulher em relação ao homem. Mulher renegada; aceita apenas pela metade: aquela que serve ao homem mas, se vê rejeitada na outra metade, a da companheira.

Na poesia de Rita de Cássia, o homem é metáfora de um mundo que nega a mulher, em sua plenitude, e a reduz a um mero utensílio para sua sobrevivência, não passando esta (a mulher), então, de um simples meio de reprodução (para continuação da vida) e de promoção dos gozos masculinos. A autora reflete sobre essa submissão da mulher e sobre as convenções interpostas entre esta e o homem, reivindicando o direito de ser vista no mundo como sujeito e não como objeto.

Em Poema quase-vermelho, ainda nos deparamos com uma poesia engajada, a partir da metaforizarão da esperança e dos sonhos, do desejo de ver o fim das dificuldades humanas, as mais cruciais... Vejamos:

POEMA QUASE-VERMELHO – Havia ainda uma diminuta/ esperança em vermelho/ a arder no meu peito todo/ prenhe de sonhos azuis./ Chegaram:/ empunharam a metralhadora/ e o fuzil./ – Mataram a flor./ – Deceparam-me as mãos...E os gritos? E os gritos/ de protesto, de fome, de amor.../ dilacerados, agonizados a estrebucharem/ nos olhos de uma geração à mercê/ de chicletes e generais./ Abortaram todos os m/ e/ u/ sonhos./ E o poema tornou-se/ enclausurado no verde (Ibid., p.16).

Interessante é perceber, neste poema, a simbologia das cores, marcando o sentimento do eu-lírico ante os acontecimentos. A esperança, em vermelho, é mais tarde representada pela flor assassinada pela metralhadora e o fuzil, configurando o sofrimento humano, frente às mazelas sociais que aniquilam os sonhos de construção de uma sociedade justa e igualitária. O sonho azul, de alegria e paz, dá vez ao medo, aos protestos, à violência... Sonho que morre, mas deixa a esperança viva, no poema, ainda que enclausurada no verde... como porta-voz dos desejos (ainda frustrados) de

comunhão social. Neste último poema selecionado, Rita de Cássia Oliveira, distanciando-se um pouco da tônica de sua poesia, faz vibrar a sua lira amorosa.

ACONTECÊNCIA (2) – E, em novo esperar de vir-a-ser,/ aconteceste no meu sentir:/ matéria harmoniosamente trabalhada/ a agasalhar-se entre minhas pernas em côncavo. E eu te teci mansamente:/ com a mesma delicadeza/ das mãos a trabalhar/ o linho em vestes./ E eu te envolvi prazerosamente:/ com o mesmo frenesi do vento/ a beijar a longa cabeleira/ do milharal em flor./ E eu te comprimi dolorosamente:/ com a mesma sofreguidão/ das barreiras traçando o percurso/ das águas em rio./ E fomos: um homem, uma mulher/ em cio de existir, trabalhando/ pacientemente o amor. Fomos: uma mulher a tecer um homem;/ um homem a tecer uma mulher (OLIVEIRA, 1983, p.31).

Como vemos, a tônica do poema é a cumplicidade na relação amorosa homem/mulher. A poetisa manifesta sua sensibilidade no que toca à valorização do sentimento mútuo entre os gêneros. O amor é apresentado como poderoso elo geminal, comparado às ações da natureza, para mostrar, não só o quanto esse sentimento se faz presente em nossas vidas, como também a recíproca necessidade entre os gêneros (masculino/feminino). Ambos (homem e mulher), na sua respectiva incompletude, necessitam um do outro. Aqui, retomamos os valores já estabelecidos anteriormente, quanto à poesia de Rita de Cássia, que confirma o desejo de pôr fim a essa “mão única” de submissão da mulher ao homem. LENITA ESTRELA DE SÁ – Maranhense/ludovicense (15.12.1961). Poetisa, ensaísta e teatróloga, além de roteirista. Membro da SBAT (Sociedade Brasileira de Autores Teatrais), do SERJ (Sindicato dos escritores do Rio de Janeiro e da Ube (União Brasileira de Escritores). Formada em Letras e em Direito. Estreia no universo das Letras, aos 15 anos, como cronista dos Diários Associados (Jornal O Imparcial). Aos 17, publica Reflexos, seu primeiro livro de Poesia. Sua segunda produção vem a ser Ana do Maranhão, peça teatral que mereceu o Prêmio Arthur Azevedo (1980), num concurso literário promovido pela UFMA (Universidade Federal do Maranhão) e o Prêmio Brasília de Teatro (1981), concedido pelo INL (Instituto Nacional do Livro), Fundação Cultural e Governo do Distrito Federal. Segue-se No Palco a Paixão-Cecílio Sá (pesquisa-1988). É partícipe de Antologias Poéticas, como Guarnicê (1994), Novos Poetas do Maranhão (1988), As aves que aqui gorjeiam (1993). Sua bibliografia ainda é enriquecida pelas obras: Catharina Mina (teatro) – Prêmio Viriato Corrêa 1972; Tchbum na Bolsa de Mamãe (teatro infantil); Cabo das Maresias (teatro infanto-juvenil); Sabor de Cravo-da-Índia (poesia); O Acordo (teatro); Baraço (teatro); A filha de Pai Francisco (teatro infantil); Teimosia e Sangue (poesia); A lagartinha crisencrise (teatro infantil); Pinceladas de Dali e outros poetas (poesia) – Prêmio Cidade de São Luís 2010. Recentemente (05.03.2015), lançou, (no Centro de Criatividade Odylo Costa, filho), A Filha de Pai Francisco – bum meu boi para crianças (Prefácio de Américo Azevedo, ilustrações de Salomão Jr.), já numa terceira versão, adaptada ao gênero conto infantil.

Incursionando, em seus escritos, também, por temáticas como escravidão, folclore, entre outros, Lenita de Sá é uma grande figura literária, que vem enriquecendo o universo das Letras Maranhenses, “com uma obra que testemunha a grandiosidade e beleza do seu talento, sua criatividade na arte da palavra, expressando-se numa linguagem simples, mas capaz de traduzir as emoções que elevam, enlevam e levam o leitor ao transporte poético”. (COSTA LEITE, 1999, p. 47). Apreciemo-la, no seu poetar: (sem título) – E se ouço umas notas/ e se a saudade apertar/ e se o vazio aumenta/ pego o fósforo/ risco um palito/ acendo um cigarro escuto qualquer voz./ Para com isso/ faz mal/ mas/ não, não e

não paro./ Tiro outro trago/ deixo a fumaça escapar/ ai que delícia/ E você/ Não chamem de estranho/ Afinal/ Sou ou não sou da raça do homem... METABÓLICO – Me recuso a deglutir aquela mágoa/ se me apaixono pela ideia do texto./ Prefiro sair por aí/ mirar brincos africanos nas vitrines/ marcar o chope, planger bandolins:/"descobrir que as coisas mudam/ e que tudo é pequeno/ nas asa da Pan-Air"/ ou ler escritos da poeta urbana/ feroz, finesse e fissura/ a cabeça no punho da rede e além da calçada/ Só não quero desaprender a espera/ de uma alegria capaz de me prostar. LÚCIA SANTOS – Maranhense da Baixada, Lúcia Maria Coelho Santos (1964), escritora e poeta, é natural da cidade de Arari, às margens do Mearim, onde nasceu (sob o signo de escorpião) e conviveu até aos 10 anos de idade quando, então (1974), acompanhando os pais – o popular Tonico Santos, ex-professor do Colégio Arariense, farmacêutico e enfermeiro, cognominado “o médico de Arari” e a também ex-professora da referida instituição de ensino, Socorro Santos – e os irmãos: Virgínia, Hilda, Abdomacir, José Reinaldo, e José de Ribamar (todos Coelho Santos), muda-se para São Luís, fixando-se, com os familiares, no Monte Castelo. Sob o céu ludovicense, dá continuidade aos estudos (do fundamental ao superior – embora, “por notável falta de vocação acadêmica”, não tenha concluído os três cursos universitários com os quais esteve envolvida por um bom tempo: Serviço Social, Letras e Filosofia), encontrando-se, nesse percurso, por “entre marés, luares e telhados” (como diria o saudoso Odylo), alvoradas e pores de sol desta Ilha-Poesia, com a grande Musa, sintonizando-lhe a frequência, obedecendo-lhe ao chamado, descobrindo-se/revelando-se a poetisa sensível e delicada, mais uma estrela a brilhar no set das nossas Letras e Artes. Ei-la que diz:

Difícil dizer de que é feita a poesia. Qualquer coisa pode ser impactante para o olhar atento do poeta: uma pedra, para Drumond ou João Cabral, uma lesma para Manoel de Barros, um gato para Ferreira Gullar, uma pescaria para Adélia Prado... Coisas simples, corriqueiras, podem conter muita poesia. Precisa observação, inquietação, ou qualquer sentimento que nos mova, seja ele bom ou ruim. Não acredito numa “atmosfera propícia” para que surja um bom poema. Ele pode surgir do caos, do descompasso, até mesmo da falta do que dizer. A lapidação do poema, sim, carece de bom tempo. (http://oxdopoema.blogspot.com.br/2012/06/entrevistando-5-lucia-santos-or.html)

Habituada a ler, desde a mais tenra infância, seguindo o exemplo dos pais, professores,

sempre às voltas com livros, já escrevendo versos, desde menininha, sua iniciação ou “batismo de fogo” na “Ordem das Musas” vem a se dar por volta dos anos 80 e sob os influxos de Mestres como Paulo Leminski, de quem aprendera, de cor, muitos poemas, deleitando-se com o seu poder de síntese, seu jeito irreverente e bem humorado. A propósito (ela o atesta), foi a biografia de Bashô, escrita por esse ídolo, cultuado por toda uma geração, que a despertou para os haicais, sendo, pois, Leminski e Bashô duas das suas fortes referências nesse processo descoberta/revelação poética. Outros cultores da Magna Arte como Pessoa, Baudelaire, Quintana... atiçaram-lhe as brasas da paixão pela Poesia – que antes considerava “uma coisa chata, que a gente era obrigado a decorar do livrinho da escola”.

As poetisas, por sua vez – Cecília Meirelles, Hilda Hilst, Alice Ruiz, Laura Amélia Damous – são-lhe um capítulo à parte. Ei-la que diz:

a poesia feita por mulheres é diferente da que é feita por homens. Não é menor (como querem alguns machistas de plantão), apenas diferente. Não é “coisa de mulherzinha”; é um outro olhar e ponto. Assim, descobri a elegância e simplicidade de uma Adélia Prado, com sua feminina

devoção: “Eu peço a Deus alegria pra beber vinho ou café, eu peço a Deus paciência pra fazer um vestido novo e ficar na porta da livraria oferecendo meu livro de versos, que pra uns é flor de trigo, pra outros nem comida é” (id. ibid)

Outro livro a lhe tocar fundo: Uma Aprendizagem ou o Livro dos Prazeres (Clarice

Lispector), escrito em prosa, mas poesia pura, do qual “cada frase é um achado, é pra parar e ficar pensando”. Ou sentindo. Essas são as suas referências livrescas; mas, como ela mesmo o admite, influências podem vir de todos os cantos: da infância, no interior do Nordeste, do rádio ligado, da cultura popular, das viagens, das conversas de rua, do ônibus, da TV, do cinema, da música e até mesmo de um livro.

Espírito aventureiro, dado a viagens, já tendo “ciganeado” por vários pontos da Federação (Belo Horizonte, São Paulo... mas atual e temporariamente fixada em São Luís), versada em outras artes, como dança, teatro... sempre envolta com projetos culturais e recitais performáticos, no enlace da “escrita poética com a poesia falada, cantada, ilustrada e teatralizada”, a poetisa vai imprimindo seus passos na calçada da nossa história e tradição literária. Tem publicados: Quase Azul Quanto Blue (1992); Batom Vermelho (1998); Uma Gueixa Pra Bashô (2006), além de figurar em Antologias como: Mulheres Emergentes (BH), Circuito de Poesia Maranhense, Afluências (RS), Ekos (RS) e no Dicionário Crítico de Escritoras Brasileiras, de Nelly Novaes Coelho. Inéditos: Amor Armadilha Dália; A Poderosa Poodle (infantil), e ainda crônicas e outros escritos à espera de publicação. Sobre o seu último livro editado, a palavra de entendidos como:

Sergio Natureza, para quem

Num universo – sem paralelo – de forma e fundo, Lúcia Santos nos apresenta seu mundo diverso/de versos calcados numa poética minimalista de inegável tônus e personalidade. Pode-se dizer que o texto de Lúcia Santos, não preso à estrutura formal do haikai tradicional, presta, três séculos depois, sutil homenagem ao mestre Bashô – algo como a arte da espada e a dança dos leques adequados ao ethos ocidental contemporâneo, enfocando temas recorrentes do modus vivendi de uma mulher sensível e consciente do seu papel no mundo deste início de século XXI. Híbrida de guerreira e gueixa dos dias de hoje, Lúcia Santos, cheia de si, plena de chi nos lega momentos poéticos de lúcida reflexão, imprimindo habilmente seu ritmo – com talento, fluência e desenvoltura de quem balança... mas haicai” (In: Uma gueixa pra Bashô – aba direita da obra)

E Celso Borges, que por sua vez, expressa:

“[...]. Ainda bem que chega agora Lúcia Santos, que de forma corajosa nos presenteia este prato de delícias irônicas e eróticas. Nem sempre há rigor na forma, é certo, mas dá até vontade de comê-los quase todos.. Chega de bons samaritanos. Lúcia não é. Que bom. Irônica, lírica, sexuada, atira-se nos braços de Bashô, como se dissesse para os rigorosos ‘intelectuais de plantão’: Melhor gozar, gente, nem que seja com versos”. (Idem)

E ei-la, numa pequena mostra de sua verve poética...

VINHO TINTO – quando a solidão sangra/ ou o amor deleita/ um poema pinta/ escorre das veias/ o vinho, a tinta/ jorra das tetas/ o leite, as letras/ que às vezes uivam/ às vezes uva. INÉDITO – esqueça/ os seus amores pretéritos/ relembre/ as nossas noites homéricas/ receba/ o meu amor quilométrico/ os meus desejos exóticos/ minha visão esotérica/ e ainda/ todos os créditos/ dos meus poemas inéditos/ entrego a você/ pague pra ver.

FILOSOFIA BARATA – a vida te arremessa da placenta/ e te promessa imerso em água benta/ o padre te confessa na comunhão santa/ o diabo se atravessa e te tenta// a vida te envelhece e ainda é por enquanto/ o coração que endurece é cocada fora do ponto/ a solidão que apodrece é fruta de esperar tanto// o amor se nos parece/ uma massagem com unguentos. HAICAIS – aos trinta/ não uso truques de paus/ só brincos de ouro; dias de sol me esquecem/ flores guardadas nos livros/ permanecem; do povo rude/ entender não pude/ o sábio cismar; nem deuses nem malditos/ a gente cresce/ desfaz os mitos; do fundo do olho do espelho/ uma lágrima me assalta/ falta; é sexta-feira/ depois das dez/ só dou bandeira a dois; pipa que dança ao sol/ sentimento criança/ cerol não alcança. MARIA MARTHA SILVA DE SOUSA – Natural de Codó-Ma. (17.08.1958). Estudos básicos (Ensino Fundamental) na cidade natal. Aos 15 anos, chega em São Luís, para cursar o 2º. grau (hoje Ensino Médio) no Ateneu Teixeira Mendes. Em 1985, torna-se sócia da firma Iolanda Boutique (de propriedade de sua mãe). Em 1976, ingressa na Academia Educacional Reynaldo Faray, onde estuda Jazz e passa a integrar o grupo Tema, atuando como atriz, em vários papéis.

Em 1980, assume o cargo de operadora do Projeto Sudene (Secretaria da Fazenda), que abandona, mais tarde, para trabalhar com o pai, na Firma Raposo Artefatos de Cimento LTDA. Em 1980, aceita o convite do Cel. Riod Ayoub, para trabalhar como secretária, na Assembleia Legislativa. Mais tarde, passa a dedicar-se à computação.

Talentosa, Maria Marta é intelectual que também enriquece as Letras Maranhenses, com a sua poesia, condensada nos livros: Caminhos; O sol acorda meu Canto; Rosa de Vidro – obras de muita significação, no refletir da espiritualidade e por vezes o sensualismo ingênuo, de uma jovem escritora que optou, com muita convicção, amor e romantismo, pelos luminosos e sempre renovados caminhos da Poesia. Curtamos um pouco da sua palavrarte...

POEMA SOZINHO – Não tenho você./ Então, meu olhar/ vai a sua procura, entre as nuvens e a sua escultura me faz/ chorar.../ O vento que toca em meu rosto/ faz-me o coração agitar./ E em pensamentos, loucos,/ crio os meus próprios sonhos./ Muitas fantasias.../ não tenho seus carinhos,/ não tenho o seu prazer/ e de tanto querer você/ não posso esquecer... TEUS OLHOS – As nuvens são como os pássaros/ que deslizam suavemente/ pelo horizonte,/ sob o sol nascente.../ onde o brilho dos teus olhos/ são como chamas/ de um beijo ardente. CASTELO DE AREIA – E de repente/ Vejo-me envolvida/ Pelos encantos da tua magia.../ Uma noitinha/ Você me fez rainha.../ E eu te fiz rei...// E me encastelei na imensidão/ Do teu olhar... do teu sorriso.../ Na suavidade do teu falar.../ Nessa paixão tresloucada/ que é te amar... WANDA CRISTINA DA CUNHA E SILVA – Também “maranhense da gema” (Monte Castelo/São-Luís-Ma-05.06.1959). Filha do escritor e jornalista Carlos Cunha e da professora Plácida Jacimira Cabral da Cunha. Graduada em Comunicação Social (UFMA) e em Letras (Uema). Membro do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão (IHGM), da União Brasileira de Escritores (Ube) e funcionária do Tribunal Regional do Trabalho (TRT). Aos 16 anos, começa a atuar no magistério, como professora de Literatura Brasileira, no (já extinto) Colégio Nina Rodrigues, fundado pelo pai. Até hoje, continua militando na área, como professora de inglês, na Rede Estadual de Ensino. Na atividade literária, também começa muito cedo, inspirada no movimento trovadoresco, instaurado aqui na capital, no final dos anos 60, passando a compor trovas, a partir dos dez anos de idade. Aos doze, publica, no Jornal Pequeno, Sociedade Moderna, peça teatral em dois atos. Por um longo período, coordena a página literária do Jornal de Hoje, colaborando, também, em outros

matutinos locais, como O Imparcial, onde escrevia, aos domingos, na coluna Ponto de Prosa. Foi cronista e revisora do Jornal Posição, na década de 80, no início da qual vem a ser premiada pela Academia Maranhense de Letras (AML), com trabalho sobre a Vida e Obra de Coelho Neto.

Seu livro de estreia na Poesia, Uma Cédula de Amor no Meu Salário (1975), produzido na adolescência, como a marcar a sua passagem da fase menina-moça para mulher, aborda temas pertinentes, sem perder de vista a problemática social e política da época. Como diz o professor e acadêmico Antônio Martins de Araújo (1984, p. 05): “Os exercícios metalinguísticos do seu livro de estreia estão cheios dos sonhos da menina que se faz moça e descobriu a amor, amor que transcende o amado e atinge ao outro, aos deserdados da sociedade injusta e do tempo amargo”.

A seguir, vêm a público: Engraxam-se Sorrisos – (crônicas – 1982), revelando um novo potencial artístico dessa artista que, estilisticamente mais amadurecida, vai mesclando, na sua prosa: talento, espírito crítico, senso de humor... demonstrando muita aptidão para esse gênero que tanto enobrece escritores como Paulo Mendes Campos, Rubem Braga, José Chagas, dentre tantos outros; Rede Arame (1986) – com toques estéticos que remontam ao mix parnasiano/simbolista/romântico/moderno das suas primeiras investidas poéticas, esmerado uso de sinestesia e aliteração no soneto, concorrendo com o verso livre; Geofagia Ruminante no Sótão da Preamar (1989) – extenso poema sobre São Luís, em estilo cordelesco e maroto, abordando temas variados, da cultura maranhense (topografia, culinária, usos e costumes, artesanato, linguagem, política social); Flor de Marias no Bouquê de Costelas... (1992) – trabalho antológico, a reunir vinte Marias (Maria dos Prazeres, Maria da Cruz...), heterônimas da autora, num misto de ousadia e criatividade e à maneira de Fernando Pessoa, de quem se fez leitora irrefutável. Alguns dos seus projetos literários: Cachoeira da Saudade (cunho tipicamente lírico); O País está nu (cunho satírico e jocoso).

Da poetisa, apreciemos:

MARIA DOS PRAZERES – A gente se cruzou numa briga,/ Numa intriga e em maus/ pedaços./ Mas a gente se cruzou melhor naquele abraço,/ Que pernoitou no banheiro,/ Pedindo ao chuveiro,/ Uma prorrogação./ Maria da Cruz/ A menina foi comida crua./ Ela vivia na rua,/ Atrás de comida, para matar a fome,/ que matou seu irmão./ Hoje, não importa o homem/ que roubou o seu hímen,/ que a menina está frita,/ e é babugem de tantos. (Maria da Cruz). QUERO – Eu quero um poema da cor/ da minha cor./ Um poema-prático/ que banhe na chuva./ Um poema-pobre/ que more nos mangues./ Um poema-irmão/ que tenha meu sangue/ Um poema-esmola/ no chapéu do povo./ Um poema-rasgado/ de vestir meu sujo./ Um poema-insensato/ pra falar sentido./ Um poema-tema/ de televisão./ Um poema-jornal/ para o imprevisto.../ Um poema-planeta/ para eu habitar,/ quando não mais existir condição/ para controlar a natalidade do absurdo. ROSEMARY RÊGO – Também maranhense de São Luís, graduada em Letras, pela Fama (Faculdade Athenas Maranhense), militante no campo do magistério, pertencente à já convencionada geração de 90 (séc. 20), da Poesia Maranhense. Precocemente dedicada à criação literária, produzindo, a princípio, peças teatrais, é na Poesia que vem a ser reconhecida e apreciada, ainda na referida década, no cenário das Letras ludovicenses onde, no seu grande poder de percepção, sua admirável sensibilidade para captar e traduzir, poeticamente, o mundo, atua como produtora e grande incentivadora da arte da palavra. Em 1998, por exemplo, apresenta, na Rádio Cidade, o programa Som da Ilha, voltado para a literatura, constando, este, de entrevistas e recitais de poesia. Participou, também, na TVE do Maranhão, de clips do Tempo de Poesias, declamando poemas de sua autoria. Entre essas e outras atividades do gênero, vale lembrar sua participação no grupo Poiesis (Universidade Federal do Maranhão), nos famosos recitais Canto & Verso, ao lado de outros poetas,

como Geane Fiddan, Bioque Mesito, Antônio Ailton. Sem falar nos Festivais – como o Festival de Poesia Falada (Ufma), em cuja 11ª. edição, arrebatou o primeiríssimo lugar. Em 1997, vem a integrar a Antologia Poética Safra 90, período em que também integra o grupo Curare que, como o Poeisis, põe em discussão a produção literária maranhense da época.

Em seu livro de estreia, O ergástulo gozo da palavra (2004), é fácil notar a forte inclinação da poetisa para a temática do tempo e da eternidade e sob a visível influência da teoria filosófica de Heidegger, em suas três "estruturas existenciais": afetividade, fala e entendimento, em que, na primeira, as coisas do passado chegam ao homem como valores, afetando-lhe os sentimentos, que podem ser públicos, compartilhados, e transmissíveis; na segunda, representando o presente, as coisas se traduzem em palavras da linguagem, na articulação dos seus significados; por fim, na terceira, ou entendimento, dando conta de que as coisas do futuro, onde o projeto que define o homem encontrará a morte, são valores não garantidos, gerando o sentimento de que não se está em casa neste mundo, mesmo estando-se entre as coisas que nos são familiares. São três fenômenos existenciais a circunscrever como as coisas do passado, do presente e do futuro manifestam-se, para o homem, constituindo, a unidade desses três fenômenos, a estrutura temporal que faz a existência inteligível, compreensível. Nessa linha, apreciemos, da poetisa:

ABRIL – Ontem flores germinavam sobre mim/ O onírico prazer de esculpir a vida me transformou/ no fruto do carbono./ O duro ofício de lapidar o pão carrega nas pálpebras/ o abominável cansaço da alma./ Amanhã que seja cedo ou tarde sorrisos repousarão/ sobre o meu cadáver (REGO, 2004, p. 43). SIGLO – Um final de século flui no peito/ XX séculos, repousa à eterna idade/ O cair de folhas secas é charge/ de um horizonte azul (REGO, 2004, p.36).

Conforme aludido, Rosemary Rego trabalha a temática do ser e o tempo, abordando questões da existência humana, suas relações e problemáticas inerentes. E assim, como que consegue transformar o ser humano em palavras. De acordo com a filosofia seguida pela autora, o homem está especialmente mediado por seu passado: o ser do homem é um "ser que caminha para a morte" e sua relação com o mundo concretiza-se a partir dos conceitos de preocupação, angústia, conhecimento e complexo de culpa. O homem deve tentar sair, fugindo de sua condição cotidiana, para atingir seu verdadeiro "eu". Como diz Bioque Mesito (2007, p. 180): “Rosemary Rêgo navega pelo cais da existência com passaporte vencido mas, em suas proposições de sentimentos, permeia a lírica do coração. Por isso, em sua poesia, em muitos momentos, ela recria, em belas imagens, os altos estágios dos grandes poetas”. E acrescenta:

A poesia de Rosemary Rêgo é autêntica, bela e de metaforização bem trabalhada. O minimalismo aporta em seus poemas. Em seus textos, também, afloram os aspectos sociais, pois o artista não pode fugir de suas atribuições políticas. Pelo nosso Estado, muitos poetas fogem desse compromisso e acham que escrever poemas já é tudo (MESITO, id. Ibid.).

Sua arte, contudo, evidencia uma trajetória marcada por outras influencias, além de

Heidegger e já no campo literário, de fato, e na tonalidade de autores como Manuel Bandeira, Nauro Machado, José Chagas, Carlos Drummond de Andrade, Cecília Meireles, Charles Baudelaire e Augusto dos Anjos, nuances facilmente identificáveis, na sua poesia, como podemos ver em

APOLOGIA – Ouvi baladas/ Dentro da noite veloz Estrelas da vida inteira./ A poesia é canto geral/ Masmorra Didática/ Na her/ me/ ti/ ci/ da/ de/ da vida./ Anjos malditos/ Beijam as flores do mal/ O ócio desperta/ os canhões/ do silêncio! (REGO, 2004, p. 10).

Vale notar, porém, que além desse diálogo intertextual com os grandes poetas, Rosemary Rêgo consegue exprimir-se em versos singulares, numa linguagem muito própria e inédita, revelando um admirável senso artístico. Como é notação comum, entre os poetas, na expressão do seu discurso lírico, também se presentifica a metalinguagem – fator relevante, sobretudo para os iniciantes, na relação artística com a palavra, até a paulatina maturidade de um olhar mais crítico e analítico, quando poesia esse faz dotar de uma maior complexidade, na captação e revelação do inédito. Vejamos:

(sem título) – Amargo silêncio/ o poema é a meta/ linguagem/ do acaso/ Faca decepando/ o sol/ de final de tarde/ a rua é ócio/ dor/ tudo é passional/ menos o poema/ essência de tudo/ de nada/ do tempo/ das cinzas (REGO, 2004, p. 12). GEANE LIMA FIDDAN – Ao contatar-se o universo poético desta maranhense, importante é lembrar que, a partir da Semana de Arte Moderna (São Paulo-1922), a literatura vem ganhando outras conotações, digamos, realmente mais modernas, contemporâneas, distanciando-se, consideravelmente, de um fazer artístico/verbal preso às formas tradicionais de composição poética e narrativa, assim quebrando barreiras gramático-normativas e, paulatinamente, oferecendo ao público uma obra mais desafiadora, mais interessada no subjetivismo que a envolve, do que nas correntes de uma composição clássica. Ruptura que, desde Oswald e Mário de Andrade, Manuel Bandeira, passando por Carlos Drummond, Clarice Lispector, chegando aos poetas maranhenses e universais (como Manuel Bandeira, Bandeira Tribuzzi e Ferreira Gullar), trouxe, para essa área, significativas mudanças, na tessitura linguística do discurso poético. E foram autores como esses, em especial Manuel Bandeira e Ferreira Gullar que, no quebrar de paradigmas intrínsecos à nossa literatura, influenciaram Geane Lima Fiddan, na sua criação poética, como ela mesmo o diz, em Convite, “... uma amizade que fiz / com Baudelaire e Bandeira”.

Natural de Santa Luzia-Ma., Geane passou boa parte de sua infância na fazenda dos pais, em Moira, retornando à sede do município e seguindo para a capital do Estado, visando ao estudo, numa inquietação e ânsia de aprendizagem, muito própria do seu espírito desbravador, como o demonstram alguns de seus poemas como:

SANTA LUZIA – percorrendo o chão de Jó/ nas escaladas da calorosa cidade/ um bramido chega ao topo das serras/ sem sucumbir à prosternação dos ideais/ o espírito rebelde/ que corre dentro do sangue/ ecoa além das jornadas/ demolindo o marasmo/ a inquietação é uma luz brava/ que atravessa as léguas/ tropeçando na ascensão das horas/ em meio a muita agonia (FIDDAN, 2006).

Amante da Literatura, ingressou no curso de Letras da Universidade Estadual do Maranhão (Uema), pela qual é graduada, tendo defendido monografia de conclusão sobre João Cabral de Melo Neto (Morte e Vida Severina11), obtendo nota dez, da banca examinadora. Formada, exerceu o cargo de diretora pedagógica da escola Julio de Mesquita Filho, abdicando do mesmo, para dedicar-se a sua produção literária. Atualmente, é coordenadora do Núcleo Cultural da Univima (Universidade Virtual do Maranhão) e articula-se com a Rede de escritores, integrando, ao lado de Antonio Ailton, Bioque Mesito, Rosemary Rêgo, César Borralho, Hagamenon de Jesus, Natinho Costa, Couto Corrêa Filho e Paulo Melo Sousa, o grupo Poiesis, que nasceu do projeto Em Companhia da Poesia, numa iniciativa desses citados escritores contemporâneos, interessados em criar uma pessoa jurídica que respondesse, sob a chancela da iniciativa pública e privada, por projetos literários de grande porte em nosso Estado, assim movimentando o panorama literário maranhense, através de recitais, encontros e rodas de leitura.

11 - sob a orientação da Profa. Dinacy Mendonça Corrêa.

A poetisa em destaque é autora de um único livro: Argos da Matéria, escrito ainda nos anos 90 e publicado em 2006, com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa e Desenvolvimento Científico e Tecnológico do Maranhão (Fapema), da Universidade Virtual do Maranhão (Univima) e da Faculdade Atenas Maranhense (Fama). Pelos 68 poemas que enfeixam a obra, permeiam elementos da filosofia moderna, num ultrapassar de limites... da cultura regional, para a universal. Além de participações em antologias, a escritora já prepara um livro de contos e uma nova coletânea de poemas.

Com ares de peregrina (poema de abertura do livro supra referido) Geane Fiddan transita pelo campo da subjetividade poética, imprimindo, em seus poemas, toda uma gama de sentimentos que rondam a natureza humana, pensando a relatividade da existência de cada ser, propondo-nos uma leitura atemporal da poesia, que mistura presente, passado e futuro. Sua poesia se enquadra no âmbito da novíssima poesia maranhense, aproximando-se da vertente considerada marginal. Poesia que é fruto de uma geração de poetas brasileiros que, desde os anos 60, respondem por mudanças significativas no uso da linguagem, na composição poética e que hoje mantêm estreitas relações com os códigos linguísticos e comunicativos da globalização tecnológica. Em outras palavras, a poesia de Geanne procura, acima de tudo, dar-se tal qual se faz, no trânsito da memória.

No prefácio de Argos da Matéria, intitulado “E a nave và”, o prefaciador, poeta Antônio Ailton (FIDAN, 2006, p.12), falando da linguagem da poetisa, diz que “seu trânsito, aqui é, em primeiro lugar, diatópico, abrangendo espaços diferentes. Em segundo, diastrático, porque esse deslocamento é também social”. Pode-se dizer, pois: ante o exercício da subjetividade e da inspiração, a supremacia da normatividade gramatical, que nos rege a língua padrão, vem a ser abalada, porquanto tudo leva a crer que, em Geanne Fiddan, o que mais vale é, de fato, o circuito de valores, num ambiente que mescla o campo e a cidade; o clássico e o moderno – o que vem a denotar a criatividade e sensibilidade dessa poetisa, cujas evidentes marcas linguísticas, do rural e do urbano, dialogam, em cada verso de sua Poesia, instaurando, nesse aspecto, uma universalidade que nada tem de um regionalismo romântico, excluso e/ou introspectivo, mas concretizando-se numa multiplicidade cultural vivida/imaginada pela autora, incorporando, num todo ou num âmbito maior, a cultura interiorana, nortista, do Brasil e de outras partes do mundo, sem desqualificar, preconceituosamente, o linguajar rural, desprestigiado pela norma culta, erudita, da Língua... Vejamos, por exemplo:

AO PERCORRER o exterior/ Amsterdã/ por dentro/ eu/ parada/ diante das passagens ditas mais avançadas/ tinha acabado de chorar na frente da/ ressonância de uma cabaça// já andava cansada/ de dar ouvidos aos canteiros velhos melosos/ que bancam os expertos/ a Nana do século incerto/ porta de papéis/ de vez em quando radicalizam a tranquilidade/ quando encontram em mim escamas de buriti/ resquícios de um ser miscigenado/ que engole a dor/ apresentando outras/ de longe é mais fácil ver o próximo (Ibid, p. 79).

Faz-se observável o choque de culturas no poema acima, demonstrando a íntima relação da poetisa com a cultura rural (reminiscências de uma infância vivida no interior do Estado). A forte miscigenação que adere à modernidade, em especial de Amsterdã, onde foi escrito o poema. Note-se a inclusão de palavras e expressões como “buriti”, “passagens ditas mais avançadas”, “o exterior”... Outro ponto interessante, é a disposição dos versos na paisagem poética. Nada simétricos. Tudo muito disperso, o que traduz as constantes incertezas presentes na natureza humana. Seguindo uma linha diagonal, a organização/desorganizada das palavras (o que omitimos de mostrar aqui, por questões de economia de espaço) como que aponta para o desequilíbrio, num mundo sempre em busca de um ponto de equilíbrio no ser. Percebamos, também, as inovações da escritora, a partir do título que, como se corporifica, no plano conteudístico do poema, formando um todo, contendo, ao mesmo tempo, as suas partes independentes. De forma que, sem a leitura do título, não conseguiríamos uma compreensão total, globalizante, do próprio texto, em seu contexto. Título,

despedaçado que, em suas várias possibilidades de leitura, desvela e revela sentidos e significados além do (talvez) proposto pela autora.

À poesia de Geane Fiddan ainda é possível agregar-se um certo valor nostálgico, a partir do enlace tempo/espaço, trabalhados na linguagem. Não se trata de uma “saudade” do tempo e dos lugares maravilhosos que ficaram para trás ou já perdidos, no subconsciente. O que parece mover, verdadeiramente, a intenção da autora, é o sentimento de valorização de uma cultura que ficou no passado e que, irremediavelmente, é desprezada pela “alta cultura” do novo, do moderno... Para Antonio Ailton (2008, p. 16),

em Geanne Fiddan (também) é necessário admitir que, como em todo poeta, em certos momentos, é inevitável que o nostálgico, que tão bem conhecemos, apareça. Isto é natural, é humano, é memória – pessoal e poética. Da mesma forma, o lugar de quem sofre, percebe, referencia, julga ou profere, quase sempre conserva resquícios de um bicho matreiro, que faz lembrar vagamente aquela deslocada Macabeia clariceana: “descobri tiriricas em pessoas/ nas metrópoles.

Como em Rosemary Rego, em Geanne Fiddan o espaço-tempo é contemplado com um olhar

heideggeriano, como bem o demonstram os poemas A sombra do e O mais novo dos titãs, que flagram o presente e evocam o passado, remetendo a um futuro, o “por-vir”, como que preparando (aqui presente) o ser para o encontro com o amanhã (aí). Neste fragmento do referido poema: não temo a mão da velhice/ ou o súbito eufemismo/ do predador da vivência/ nada é mais preciso/ no ambidestrismo/ da experiência, é possível intuir o homem, ser mortal, à espera do fim, sempre em contato com a natureza (Deus).

A influência de Heidergger, todavia, não é a única na poetisa em questão. Em sua escritura, são notáveis as referências a outras personalidades filosóficas ou literárias, como por exemplo, Guimarães Rosa (Um sol vermelho – de G. Rosa), Manuel Bandeira (Salto Quântico – no evocar de Pasárgada). Interessante é notar, ainda, na obra poética dessa autora, a presença do feminino e do Eros, sobretudo em se tratando da mulher como parte representativa do Outro, como o ressaltam os poemas Consumação e Maria de Arribamar nas cabeceiras da mata. O primeiro, a exalar todo o erotismo que emana da mulher; o segundo, a traduzir a força dessa mulher e o seu inconformismo com o mundo. Seguem-se os dois poemas: CONSUMAÇÃO – Atravessando lagoas de metamorfoses biológicas/ sem tomar conhecimento do fascínio dos garanhões/ Dasdores/ sem sequer ter visto as bolhas de água turquesas/ o murmúrio dos golfinhos de F. de Noronha/ tomou água corrosiva/ as nuvens peregrinas regrediram/ ao perder o senso de vista/ penetraram em seu ventre/ ele ejaculou as façanhas/ na segunda vez que sorveu tal água/ fisgada pela lascívia/ foi-se/ para os pés da ecosfera/ imaginando/ a magia/ do mundo/ da lua (FIDDAN, 2006, p. 35). MARIA DE ARRIBAMAR – nas cabeceiras da mata – ao passar pelas estribeiras com a jumenta Braba/ rasgava barbeiro sobre as taperas/ atravessava quebradas/ não engolia ninharias/ rasga-mortalha/ comovia mas as estradas/ assombrava todo o interior/ pela vida afora/ quando metia o fogo nas veias/ “nem arriada sem reio no iscangaio/ abero pra carrada de catrevage”/ sua verdade era nua/ porque estava vestida de coragem/ mataram-na/ mas ainda vive fazendo cabeças/ agora mesmo observando lascas/ de uma estrela inquieta/ lembrei de uma dessas/ sereias negras/ levou minhas certezas.(Ibid, p.61).

Em Consumação, é a passagem da vida da mulher, em sua relação com a lua (fim do poema), a nos reportar a esse ritmo, todo feito de sensibilidade, sonho, ideal de fecundidade, o sofrimento e a dor (metamorfose sofrida, ao longo do poema, numa apoteose de gozo e prazer). Vale destacar o

arranjo das palavras e dos versos, na comunicação visual do poema, como que a sugerir um triângulo, e este, por sua vez, a remeter à genitália feminina e, por conseguinte, à feminilidade, ao erotismo... No último poema, vê-se, como que transfigurada, no nome masculino (Ribamar) tão comum no Estado, a força da mulher, em luta pela sobrevivência, no cenário machista. Mulher que não admite o “abaixar a cabeça”, mas tenta enfrentar o mundo masculino do mesmo patamar, tornando-se, por fim, modelo de superação, fazendo ecoar os seus ideais (“mas ainda vive fazendo cabeças”). GORETH PEREIRA – Sanluisense “da gema” (04.09.1974), moradora da Vila Palmeira, filha de Raimundo Araújo (pedreiro) e de Terezinha Cantanhede Pereira (empregada doméstica e artesã), mãe de três filhos... Ensino Médio completo (antigo Cema), curso profissionalizante (Técnico de Encadernação – Cintra)... De gari a poetisa, passando por outros ofícios (recepcionista, produtora de papel reciclado...), Maria Goreth Cantanhede Pereira, no exercício do trabalho digno e na fidelidade ao culto da poesia, vem construindo a sua história/trajetória gloriosa, marcada por lutas e superações. Hoje, graduada em Letras (Fama) e com livros publicados – Confissões: diálogos em poesias; Garimpando poesias; Desejos poéticos – além de outros trabalhos inéditos, vem comprovando que é, mesmo, de direito e de fato, uma mulher de atitude...

Da poetisa, diz o escritor José de Ribamar Sousa Reis:

Maria Goreth você não escapou de ser o que sempre quis ser: Poetisa de fato e de direito! A tua poesia é forte, forte pela luta, forte pelo prenúncio da vitória, porque estas Confissões, Diálogos em Poesias são os primeiros degraus de uma longínqua estrada que quero testemunhar palmo a palmo [...[.O teu destino, poetisa Maria Goreth Cantanhede Pereira, marca que a limpeza maior é a espiritual. Assim, continuas agente de limpeza, gari do amor e da bondade, pregando paz e valorando cada vez mais o ser humano, fazendo poesia. Minha poetisa, Deus te deu o dom da poética, somente a ele cabe tirar! (prefácio da obra – Garimpando poesias).

Leitora devota de escritores maranhenses, inspirando-se, sempre, em poetas da terra, como

Gonçalves Dias e Ferreira Gullar, sua conexão com a Poesia, estabelece-se muito cedo. Aos dez anos de idade, com a ajuda e orientação de suas professoras – que a ensinaram “como escrever uma poesia” – conquista o primeiro lugar num concurso do gênero, na escola. A partir daí, desponta, em sua alma, o desejo ardente, o sonho dourado de ser autora. O que vem a se concretizar em 2004, aos 29 anos, por obra e graça do seu então chefe, o mecenas Luiz Jandir Amim Castro (diretor-presidente da Coliseu – Companhia de Limpeza e Serviços Urbanos), contando, ainda, com o apoio de amigos e políticos sensíveis à sua aspiração. De modo que, é ainda na condição de gari, varrendo, limpando, embelezando as ruas da sua amada cidade-ilha, que tem o seu primeiro livro editado, numa tiragem de 300 exemplares. O segundo vem à luz em 2009, lançado na 3ª. Feira do Livro de São Luís. Em 2010, uma segunda tiragem de Garimpando Poesias, sob o patrocínio da Secretaria de Desportos e Lazer (Semdel), onde ela trabalha atualmente (cedida pela Coliseu). Nesse mesmo ano, participa de outros eventos culturais e literários, fora do Maranhão, como a 9ª. Bienal Internacional do Livro do Estado Ceará e a 21ª. Bienal Internacional do Livro do Estado de São Paulo.

Em março de 2011, quando das comemorações do Dia Internacional da Mulher, no sudeste do País, por indicação de poetas brasileiros, reconhecedores e admiradores, não só do seu trabalho, como da sua luta “de mulher nordestina de baixa renda, mas que acredita e corre atrás dos seus sonhos”, arrebata o Prêmio Mulher de Atitude, cujo significado, lhe é, ainda, muito caminho a percorrer: “Eu sei que tenho muitos obstáculos ainda pela estrada, mas reconhecimentos como esse me levam a ir em frente. Acredito que os sonhos só acabam quando você desiste. Agradeço muito às pessoas que acreditam e me ajudam. Essas pessoas sonham junto comigo”– expressa.

Enfim, apreciemo-la no seu poetar...

O GARI – O gari é a mais pura e preciosa pérola/ Porque do sol do meio-dia de um trabalho árduo/ Surge um tão belo ser singelo como uma suave brisa do mar/ Trabalhador lutador em busca de uma/ Realização profissional mais um guerreiro do dia a dia/ A sua espada é a vassoura/ Meu escudo minha dignidade/ Sou como dom Quixote levando meu carrinho de mão/ Tirando a sujeira do chão meu senhor minha senhora/ Trabalho com lixo mas não sou lixo não/ Trate-me com carinho e me dê sua atenção/ Sou negra, bela negra, veja o meu rosto é só alegria/ Chega aí irmão não tenha medo não sou gari por profissão e poetisa por devoção/ Sou do povo e para o povo vou declarar que um gari conseguiu chegar lá/ Mas eu tenho que falar minha cidade é tão limpa que dá para se espelhar. ILHA DOS ENCANTOS – Ilha de muitos encantos/ É grande o teu esplendor/ Abençoada por todos os santos/ Ilha do meu amor/ Te quero com muito carinho/ Por ti tenho afeição/ Em ti construí o meu ninho/ Meus filhos em ti viverão/ Quem vive aqui é feliz/ Quem sai daqui no entanto/ Lá fora para os outros diz:/ Minha ilha tem nome de santo/ Vamos comigo ser feliz/ Nesta ilha de mil encantos/ Minha bela São Luís.// Minha companhia/ Você me fez sua detenta/ O seu amor me alimenta/ É ele que me sustenta/ Só você me orienta/ És um pedaço de mim/ Só penso em teus carinhos/ Teus braços minha doce alegria/ Te quero por toda a vida/ Te acompanhar me dá prazer/ Uma parte está em mim/ A outra em você/ Teu amor me dá força/ Para caminharmos e juntos construirmos/ Sempre o que é de mais belo/ Nossa união.// Sempre te amarei/ Sempre te amarei/ Na alegria, na dor e na tristeza/ Sempre te amarei/ Mesmo que passe as dificuldades/ Pois você me escolheu/ Para ser seu grande amor de verdade/ Sempre te amarei/ Mesmo que precisasse ir para bem longe/ Porque na realidade um grande amor fica para/ Sempre no coração/ Em qualquer circunstância/ Seja qual for a situação/ Não importa a distância/ Deus nos uniu e abençoou/ Do nosso amor agora hoje e sempre te amarei/ Meu amor. SILVANA MENESES – Natural de Caxias-Ma, filha de Gentil Alves de Meneses e Ana Lourença do Carmo de Meneses, Silvana Lourença de Meneses, graduada em Química Industrial (Universidade Federal do Ceará-UFC), mestre em Educação (Uema/Universidade de Cuba) e doutora em Zootecnia (Universidade Estadual Paulista-UNESP), é professora dos Departamento de Química e Biologia, da Universidade Estadual do Maranhão-Uema (Campus Paulo VI-São Luís-Ma.) e membro fundador da Academia Caxiense de Letras (ACL). Como escritora/poetisa, tem publicados: Embarcação (1988); A Olho Nu (1992); Impressões em Haikais (1995); Outras Palavras (2005); Estação Poesia (2008) Reação (2015).

Artista da palavra, sem dúvida, é ativando, reativando, adicionando, misturando substâncias e elementos linguísticos, modificando-os em combinações e reações, transformando-lhes as propriedades no laboratório (al)químico da palavra, na elaboração de novas formas e fórmulas literárias, que a Professora Silvana Meneses brinda-nos, uma vez mais, com a excelência do seu fazer poético.

E é num (re)tecer reflexivo, liricizante, da estação-vida, em sua linearidade cronológica – da saudosa Primavera, tempo em que eu era leve/ rápida/ audaz e aquela casa grande/ simples, imponente, abrigava minha infância/ que parecia/ ser um sol perpétuo... ao apaziguante Outono, na exclamativa tranquilidade do ah, é tão bom estar viva!/ [...]/ ter essa idade madura/ às vezes tão dura/ que aturo derrubando muros/ mirando crepúsculos que saem de dentro de mim... Do ser-estar-no-mundo, em suas ontológicas incertezas e ânsias de eternidade, na consciência de que assim se passaram os anos... o tempo em mim andou trabalhando e um dia eu digo adeus/ e vou a Deus/ [...]/ o que fiz por cá/ [...] sabe-se lá no que vai dar/ [...]/ terei o repouso eterno... É na alquimia/epifania da palavra – verbo caro que ilumina e transfigura, na mágica, simbiótica relação Ser/Poesia – é que nossa poetisa oferece-nos o vinho excelso da sua POESIA.

Deliciemo-nos, pois, com a lavra/seara de uma Estação-Poesia, que se instaura no encontro (en)canto (o)culto da palavra, “pedra fundamental da linguagem” que, por vezes enigmática, hermética, nos seus segredos e mistérios (o que há por trás da palavra/[...]/ o que nela de divino ressalta/ e em mim falta?), vocada, evocada, invocada... procurada (como se procura agulha no palheiro”, até achar por inteiro)... persistentemente aspirada e esperada... gestada, no silêncio, ouvido e não ouvido/ escondido... e se manifesta inspirada em sílaba clara/ pedra talhada/ lapidada/ cara e em rimas perfeitas, que assim feitas/ incendeiam o peito/ alimentando a vida... desprendidas do eu poético, a revelar o tempo/ pungente/ permanente/ companheiro de todas as estações.

Uma celebração da experiência vivida (perpassada pelo fio do tempo transcorrido) e que é, também, uma experiência de linguagem a efetivar-se na devoção da palavra (insinuante, sedutora, irresistível – objeto de desejo do sujeito-lírico) e numa cumplicidade idílica entre o eu-lírico e essa palavra, que flui e para no ar, numa emoção que nunca passa/ eterna sensação de lua cheia... pendurada no tempo, silente, a correr impassível, a céu aberto/ sem deixar rastro ou trilha, mas ressoando no ar, tangida pelo vento a contento, em seus matizes e cintilações... Palavra-projeto-poético, querendo ser verso alado/ palavra exata/ chave que abre.

Sobre o eixo temático do tempo que flui e fundado no lavor/(louvor) da palavra, o estro poético da nossa professora/poetisa se vai erguendo num verbo-imagético que mescla, às evocações do passado (memória individual), as impressões psico/sensoriais do presente – estas, quase sempre metaforizando a Poesia que se prenuncia e se pronuncia (intento esta tarde arde/ de tanto fazerdes alardes/ soando em mim como alarme...; com a carícia do vento/ invento o meu...; a casca se abre/ a seiva escorre/ molhando o meu deserto...) e/ou se distancia (...meu corpo/ veja/ esbraveja/ contra esta secura/ que dura uma eternidade/ e revela a minha/ (e)terna idade) ou ainda vislumbra a presença de Eros, no suplicar por uma cama quentinha, pelo dormir agarradinho, entre beijos ardentes...

E assim, entre pedras de cantaria, o dia-a-dia poetizando-se em azulejo, desejo e solfejo, há tempo/espaço, também, para a percepção/projeção (visual) da São Luís, decantada em seus becos, ladeiras, telhados e azulejos, sentida, absorvida, do mar que circunda a ilha que há em mim. Introjetada, incorporada na osmose do: somos braços do mesmo mar/ aquecidas pelo mesmo sol/ [...] e nos encontramos [...] nos mesmos versos ainda não ditos das nossas vidas...

Em nossa poetisa, o exercício poético (lembrando Odylo Costa, filho) é alento renovador: eu pensei que tinha morrido/ de repente estou renascendo... Ou mesmo força redentora, à medida que: abismo/ precipício/ a palavra salva... Espelho do Ser e na perspectiva socrática do “conhece-te a ti mesmo”: o poema [...] é que me conhece/ esclarece/ amanhece/ para uma nova jornada; é, sobretudo, busca da essência (do próprio Ser): quantas vezes/ terei de morrer/ [...]/ para encontrar a minha essência?; aspiração do Encontro, da sintonia perfeita consigo mesmo e com Deus, na certeza insofismável de que: a poesia/ é uma das mais verdadeiras/ maneiras/ de se chegar a Deus...

Fundada no culto, na artesania da palavra, a paixão pela palavra, verbo eterno, potência da linguagem, elemento fundante, por excelência, “desde o surgimento do cosmo até onde o homem pode vislumbrar um futuro”... sem que enuncie qualquer signo ou credo religioso, a poesia de Silvana chega a despertar a emoção do sagrado, conforme vislumbrado nos princípios heideggerianos – onde a poesia é concebida como linguagem do sagrado, que funda o Ser, a partir de sua natureza metafísica/enunciativa, apta a instaurar a essência das coisas e o Ser – para lembrar ainda Bataille (1993), para quem: só a poesia pode descrever ou enunciar o sagrado, posto que ela (a poesia) “não descreve nada que não deslize para o incognoscível” (id. ibid. p. 22)...

E na exortação de que: é preciso amar as palavras/ parir mais e mais palavras/ encher

páginas em branco/ povoar todos os espaços/ acabar com a solidão/ com a sua presença renitente... a poesia de Silvana falará por si mesmo – na breve mostragem a seguir (e mais ainda na leitura de sua obra completa):

(sem título) – garimpar palavra/ é nela se achar/ como metal puro/ brilhante/ que na bigorna se molda/ fundindo-se em poesia (sem título) – mesmo distante/ eu sei onde a poesia está/ ela está dentro de mim/ testemunha do verdadeiro/ guardiã de sonhos/ ousadia que pousa/ e repousa no meu ser/ tempestade que lava todas as pedras/ canto desesperado loucura solitária/ miragem de amor perdido/ na sua liquidez sorvo-a em goles/ afundo-me em suas águas/ com sua imagem dentro de mim/ na sua solidez, varal onde penduro os ais/ e vejo a ferrugem do meu dia/ mesmo distante/ eu sei onde a poesia está/ somos margem do mesmo rio. (sem título) – o azul do mar/ o verde esperança/ o rosa da flor/ o vermelho do sangue/ o amarelo do sol/ este arco-ires/ que me enrodilha/ sem ser armadilha/ nada mais é/ do que uma trilha/ dentro da ilha/ que há em mim. (sem título) – não sei se ato/ desato/ se me acato/ relato/ se viro hiato/ desacato/ assim não me cato/ correndo o risco/ de virar cascata. (sem título) – transformar pedra/ em palavra/ palavra em/ poema/ tirar leite de pedra/ alquimicamente/ paciente tarefa/ dando-se forma/ com minhas mãos/ carregadinha de amor. SIMPLES ASSIM – como olhar de menino/ amor de mãe/ som de criança/ correndo atrás da vida/ simples assim/ como a beleza da esperança/ o universo posto/ em verso composto/ seduzindo a vida/ simples assim/ como o dia. Que todo dia/ acorda cumprindo sua sina/ simples assim é a vida!? VEM PALAVRA – a minha rede te espera/ bendito/ é o fruto do teu ventre/ fio condutor, rio indo/ fazendo leito em que me deito/ abrindo caminhos/ vertentes, nascentes/ seiva cálida de poeta/ espelho cristalino/ mesmo sentindo-me/ noturno. HAIKAIS – A gueixa d´s a deixa/ o segredo está/ em suas madeixas; Apenas verso/ se vira universo/ controvérsia; Arrebentação do dia/ mar de primavera/ cinzento só a cotovia; Lua nova/ de mês em mês aparece/ tudo resplandece. ANDRÉA LEITE COSTA – Por entre as nossas poetisas contemporâneas, pudemos contemplar, também, aquelas que ainda estão transpondo o umbral da arte maior, como Andréa Leite Costa e Henriqueta Evangeline (na sequência). Aquela, recém-graduada em Letras (Uema-2009, e ainda, então, transpondo a fase adolescente), vencedora de alguns concursos literários locais e já com poemas publicados em Antologias do gênero, aqui também selecionada para representar as autoras iniciantes na Literatura Maranhense. Comecemos por ela...

Como num conto de fadas, como quem se depara com um grande tesouro numa caixa de papelão... em Andréia Leite Costa, o despertar para a vida literária dá-se com a leitura do livro “Um leão em família”, de Luiz Puntel. Assim é que, conjugando o gosto da leitura aos desenhos que adora traçar, começa a armar seus primeiros diálogos, aos oito anos de idade – diálogos que, mais tarde, tomariam outras proporções, segundo as pretensões maiores da moça que decide entrar para o Curso de Letras, acreditando ter, ali, o espaço ideal para a captação da técnica, dos conceitos literários... em meio às discussões fundamentais, no aperfeiçoar, evoluir da criação poética de quem “não queria fazer poesia intuitivamente”, reconhecendo que: “se a intuição é importante, é imperiosa a disciplina”...

A jovem ainda “aprendiz de poesia”, diz não ter um autor especifico, por quem tenha sido influenciada ou tomado como modelo; pelo menos, ainda não o encontrou. Mas, confessa ter

“preferência por autores de escrita forte, clara e seca, sem os floreios desnecessários”, posto que “esse excesso de pormenores é o que me incomoda”... como por exemplo, em Machado de Assis, nos entremeios de cuja leitura, encontra Clarice Lispector e descobre novas possibilidades de leitura numa obra intimista e intuitiva... Dotada de um fascínio todo especial pelo mundo infantil, absorve e reflete, na sua poesia, temáticas diversas, pelas quais se interessa – em especial, as inúmeras situações da vida cotidiana.

Partícipe de concursos literários, a poetisa, que já tem o seu poema Dor, publicado na Antologia de Poemas do 1º. Concurso Cânon Ltda, lançado na Bienal de Literatura de São Paulo, em 2008, é premiada (2008) pelo Concurso anual da Univima (Universidade Virtual do Maranhão), nas categorias poesia e conto, com o poema Ele tem nome, mas não diz e o conto O silêncio dela – em que reflete sobre as investidas do ser humano em sua própria vida, como num mergulhar no íntimo para ir além do aparente. No primeiro título (referido acima), a autora faz uma crítica aos poemas que considera “pastelões de vento”, poemas de pouca substância, sem alma, numa forma de protesto quanto à mecanização no fazer poético. Trata-se, portanto, de um apelo à presença do espírito e da emoção na Poesia. Vejamos: ELE TEM NOME, MAS NÃO DIZ – Me tragam um poema de carne que é pra eu comer,/ um poema com sangue pingando, que me empape os cabelos,/ um poema ainda gritando de dor./ Retirado da costela da mulher/ transformando o homem em letra e pó./ Ah, um poema berrando feito porco quando vai morrer.../ Aquele berro de desespero que se grava na memória e não se vai/ e não se esvai./ Um poema que fique, que não morra por qualquer motivo vão!/ Tirem daqui estes poemas com cheiro de papel/ A4,estas gírias trabalhadas não comovem nem um traço/ nem os trocadilhos que troca com o asco/ mesmo que eu me contradiga (não o diga!)/ Ele tem nome, mas não quer dizer! Mas, vejam só, ele existe/ E está entre vocês./ O poema que não sofre rejeição/ que não anda por aí de fèche-clair aberto,/ que não corta o cabelo aqui perto,/ e samba toda sexta no seu domingo,/ não me é poema./ Quero ver é quem esquece o choro do porco quando vai morrer!/ Isso sim daria o mais sofrido dos poema/ e conteúdo para toda a poesia!

No poema em leitura, o elemento porco (a retomar flagrantes do cotidiano vivido na infância da autora, em específico as matanças de porcos por ocasião das festas e/ou feriados, na rua onde morava), representa, segundo ela e para ela, “a sinceridade, a coisa bruta, viva, sem superficialidades: o poema é vida e deve ser degustado com afinco e prazer”... Me tragam um poema de carne que é pra eu comer. Ao longo do texto, vai, portanto, objetivando a subjetividade, como que apontando para uma atemporalidade da emoção traduzida nos versos. Os verdadeiros poemas, aqueles que correspondem a uma transposição da alma e de toda emoção que emana do ser... esse tipo de poema não se esvai, não é olvidado, mas fica, para sempre, tocante, na lembrança, em suas marcas indeléveis, na sensibilidade humana... Ainda abordando esse aspecto do fazer poético, recorrendo à metalinguagem, notação que a língua propicia, Andréa Leite Costa escreve Homens de papel, em homenagem aos poetas Thiago de Mello e Affonso Romano de Sant'anna, após tê-los conhecido na Feira do Livro de São Luís. Sem métrica definida, composto ao sabor dos versos brancos, seguindo mais a intuição apologizada pela autora, o poema que, por sinal, esteve entre os finalistas da 22ª edição do “Poemará”, (DAC-UFMA), é como uma ode à arte poética, à condição de ser poeta, conferindo ao texto caracteres de uma identidade/experiência poemática, a sugerir que, no poeta, jovem ou velho, ocorre uma assimilação do cotidiano, que o distancia de qualquer partidarismo, mas numa transparência imparcial, que se vai guarnecendo, em cada nova experimentação, num brilho de verdade absoluta. Vejamos:

HOMENS DE PAPEL (a Thiago de Mello e Affonso Romano de Sant'anna) – Os poetas são tão jovens,/ De uma velhice tão terna,/ De uma velhice que não envelhece.../ Os poetas são tão castos,/ Tão moços, tão vastos,/ Tão pornôs, tão machos./ Esses homens são tão brandos,/ Fios de seda,

cabelo branco,/ São tão lindos em suas caras limpas,/ Em suas faces magras./ Esses caras têm um caminhar festivo,/ Um jeito de quem sempre tem algo a dizer,/ E aquele ar de verdade absoluta.../ Eu os sigo, os poetas,/ Os sigo, pra perceber para onde se vão,/ Que caminham que tomam, qual é seu percurso,/ E eu os chamo, vacilo,/ Eles se viram, eu me calo.../ E fujo./ No poema a seguir, a temática da condição do homem racional em seu/ instinto animal.

E mais:

DOR – De lagarta parva e feia, torno-me borboleta/ Trago minhas asas no alvedrio dos céus/ Entardece, e a penumbra me aprisiona/ Transformo-me, pois, em vaga-lume,/ E arrebatado, esbanjo minha luz,/ Ao sombrio que antes me reteve./ Conforme o sol nasce,/ não há mais luz, nem brilho nenhum/ abatida, rastejo feito cobra,/ Mas meu corpo não é pro mar,/ Sou peixe, agora, mas até certo ponto,/ O mar é pequeno demais pra minha solidão,/ A tristeza torno fúria e viro fera.O gosto de sangue e o cheiro de dor,/ Me acalenta a tristeza, se não posso amar,/ Restam-me as presas e as garras./ A minha violência não me parece bastar,/ Torno-me homem, pra não precisar ser./ Nota-se que o poema leva a refletir sobre a (diríamos) “grande depressão”,/ experimentada pelo ser humano, na atual conjuntura social, em sua solidão de ser em si/ e ser com o outro, no cosmopolitismo individualista dos centros urbanos.../ a insegurança, os conflitos, os instintos de violência, afloráveis, na rotina das grandes/ cidades... HENRIQUETA EVANGELINE – Como diz o professor/escritor Alberico Carneiro Filho (Suplemento Cultural e Literário JP Guesa Errante, Ano IV, ed. 117),

[...], ser poeta aos 6 anos de idade é um fato raro ou, no mínimo, uma exceção à regra; porém, às vezes aflora, na mente de uma criança, o precoce dom da poesia. Henriqueta Evangeline é um desses casos singulares, ao estrear, em 2004, com a publicação de Castelo da Poesia, uma coletânea de micro poemas surrealistas e em linguagem nonsense que ela tão belamente emoldura com suas próprias ilustrações, demonstrando um outro lado da sua veia artística, em termos de criação, também como poeta, de uma das formas das artes plásticas, a pintura.

Todavia, haveremos de admitir, com velho dito popular, “é de criança que se aprende o

ofício”. Com Henriqueta Evangeline (numa homenagem aos bisavós maternos, Henriqueta e João Evangelista), não foi diferente. A pequena ludovicense, nascida “[...] na alvorada de um domingo de sol e muita festa (09.08.1998, dia de São Benedito, dia do Papai)”, desde cedo, começou a falar os seus poemas, no deslumbramento dos seus primeiros contatos com a palavra, com um mundo em incessantes descobertas: a família, a vizinhança, a rua, os passeios, a escola, as professoras... começando pelo “Colmeia” (quando ainda no Monte Castelo), passando pelo Dom Bosco (Renascença)... quando morava no Residencial Girassol. Quando domiciliada no Centro Histórico de São Luís, estudou no Santa Tereza (Rua do Egito). Hoje, moradora na área conhecida como Ponta do Farol, estuda no Crescimento.

Como diz o escritor e jornalista Sergio Brito:

Não como Casimiro de Abreu, cuja vocação poética foi despertada aos oito anos, ao correr pelas campinas, “peito aberto, braços nus,/ atrás das asas ligeiras/ das borboletas azuis”, Henriqueta, em sua solidão de filha única, tem como fonte de inspiração a paisagem urbana da Praia Grande, no centro histórico de São Luís, onde vive e de onde vê árvores, aves, flores e sereias... estas, no mar, que como ela revela, “balança a lancha e o meu coração”. Essa menina, desde a tenra idade, já é uma verdadeira poetisa. (Castelo da Poesia – contracapa, 2008)

Como que respirando/transpirando a atmosfera em que se vê envolta, em sua própria casa, cercada de livros por todos os lados – a mãe professora, o pai advogado, os dois sempre às voltas com textos, leituras e escrituras... ela própria já dispondo da sua biblioteca particular (poesia e contos infantis), em seu quarto de menina – num contato precoce com o livro, encantando-se, sempre mais e mais, na magia da palavra escrita, contada ou cantada, da grafia para a sonoridade e/ou vice-versa, Henriqueta consegue traduzir, em simples palavras, os mais puros sentimentos de criança, tendo como fonte de inspiração os deslumbrantes cenários e ambientes que a bela, a magnífica, São Luís do Maranhão descortina a sua vista: a Beira-Mar, os pores de sol, a natureza circundante, exuberante... as Igrejas onde costuma assistir às missas dominicais, ao lado da família...

Hoje, com 16 anos de idade, a menina-moça tem publicado Castelo da Poesia, já em três edições, seguidamente ampliadas: a primeira (capa amarela – 17 poemas), comemorativa da sua formatura no Alfabetização (pré-escolar), aos seis anos de idade (2004), por iniciativa da família, em querer celebrar esse momento de encantamento “acústico/imagético” da poetisa-mirim com a Palavra, um mundo em contínuo desvelar-se e revelar-se, ante o seu “olhar-menino”... valorizando esse processo criativo, acolhendo essas suas primeiras intencionalidades poéticas. A segunda (2005 – capa verde – 20 poemas), ambas ilustradas com os desenhos infantis da própria autora. A terceira, pela Editora Paulinas (2008), em outro formato, 22 poemas e ilustrações de Ellen Pestile.

A propósito, este excerto do “Prelúdio de Abertura” da primeira e segunda e terceira edições de Castelo da Poesia:

Com a presente edição, longe, 20 mil léguas submarinas distantes da pretensão de revelar possíveis genialidades precoces, queremos, tão somente, colocar sobre a mesa (não ocultar “debaixo do alqueire”) a poesia de Henriquetinha, para que esta (a poesia) possa iluminar o mundo, demonstrando que as crianças, elas também, sabem poetizar a sua caminhada, cabendo a nós, adultos, oferecer-lhes a chave de abertura desse Castelo Encantado, que é a Poesia (CORRÊA, apud RABELO, 2005, p.3).

É importante ressaltar que o livro contém muito de poesia falada, considerando-se que, à

época, a pequena não detinha o poder da escrita. Os textos, pois, iam sendo registrados pelos seus familiares, da maneira como eram proferidos, pela poetisa (a partir dos seus quatro anos de idade, por aí assim),“em suas estranhezas morfossintáticas e semânticas”, o mesmo ocorrendo com a pontuação. Para o professor e escritor Alberico Carneiro Filho (id., ibid.) “o que há de especial nos pequenos poemas dessa então “poetisa-mirim” é a técnica com que ela costura sua emotividade, utilizando-se daquele pretexto que dá às palavras sentido poético, a sutileza, com o que ela surpreende e enternece o leitor, valendo-se do deslance inesperado e inusitado”.

Alguns dos poemas de Henriqueta Evangeline:

(sem título) – A palmeira que chora/ Chora no meu coração POESIA FALADA – Você quer rimar comigo?/ Rimar com palavras,/ Todos os dias/ Segunda/ Terça/ Quarta/ Quinta/ Sexta/ Sábado/ Domingo... (RABELO, 2005, p. 4). PRAIA GRANDE – O mar que não se seca/ O mar que não se enche/ A vela que não para de navegar.../ E o amor?/ Não sei por que eu não fui com o mar (RABELO, 2005, p. 5). (sem título) – Coração/ O amor se abre/ O castelo não se abre/ O desenho é uma história/ E a flor que não se abre/ A rosa que se espinha/ E o nunca do amor (RABELO, 2005, p. 7) (sem título) – A imagem do satélite mostra/ Nuvens carregadas no Sul e no Nordeste/ Sol em Campinas/ Mas, à tarde, nuvens isoladas/ E à noite mais nuvens isoladas (RABELO, 2005, p. 18).

A SEREIA – A sereia encanta/ O velho marujo/ E depois canta/ Bela rainha do mar (RABELO, 2005, p. 21).

Já senhora de um considerável currículo de participação ativa em eventos culturais (Festivais de cultura e literatura, como o de Poesia Falada-UFMA, Encontro de Letras, Feiras de Livro, Palestras, Lançamento de livros), Henriqueta vive a arte com muita intensidade, incursionando pela Música (aluna da Escola de Música do Ma-EMEM.), pela dança (Ballet Clássico, Capoeira d’Angola), pelas Artes Plásticas... E continua, nas entrelinhas da vida, a produzir suas pequenas joias poéticas (estas já exalando aromas adolescênticos), que permanecem inéditas, como à espera de um momento propício ou de uma motivação para virem a público. “Talvez quando eu concluir o Ensino Fundamental ou Ensino Médio”... ela diz, evasiva. Bom, aguardemos, visto que a menina ainda está no exercício/dinamismo da sua escolaridade. Enquanto isso, apreciemos algumas dessas inedicções... INSATISFAÇÃO – Rogamos, rezamos, choramos/ por chuva.../ E ela veio, enfim,/ causando inundações/ E aí... rogamos,/ rezamos, choramos/ por sol.../ E ele veio de novo/ e ficamos ainda a reclamar.../ a quase morrer de calor./ Aff! Ninguém se satisfaz/ nem com chuva nem com sol... COTIDIANO SEM SENTIDO – Escuto a Filosofia do meu professor/ numa sintonia esquisita, quase insana/ escrevendo as palavras no papel.../ Os olhos que me fazem ver/ são os mesmos que lágrimas me fazem verter.../ que podem até me cegar para nunca mais ver você/ Sonho que um dia, com a minha voz num tom floral,/ Eu possa gritar verdades pelos lugares.../ Ninguém entenderá a razão; só eu e o meu coração/ Um poema esquisito, sem sentido/ Uma tarde de domingo, indo para a casa da minha avó/ Guarás sobrevoando o rio Anil/ Umas palavras para aliviar a minha dor.../ E andarei, enfim, sobre um chão firme./ DESENCANTO – Hoje em dia/ quem diria/ que os pássaros perderiam/ o encanto de seus cantos/ matinais?...// Qual profeta preveria/ que as flores morreriam/ e com elas levariam/ o espírito dos amores/ naturais?...// Quem acabou com aquela macieira/ e destruiu o habitat?...// Confessemos:/ todos nós somos culpados;/ avisados tantas vezes/ não soubemos escutar...// Soframos as consequências! QUASE NADA – Você é como solo, clima e relevo/ E mantém minhas roseiras vivas./ Como o ardor que desce/ Da cachaça não tragada de todas as quartas./ Como a doçura vívida dos eucaliptos/ Como o tom vermelho do sol que me desperta./ Como a aragem azul do dia./ Como o silêncio discreto dos carros na avenida.../ Como perder-se no claro./ Como se achar no escuro./ Como beijar o vento e cair de bruços.../ É pedir para a divindade que não te leve/ É pedir ao mar que te navegue a mim/ E para o sal manter conservado o nosso amor... /É ter e não ter./ E isso é ainda quase alguma coisa./ É quase nada. A VIDA – é como uma sanfona/ Abre e fecha/ Ri e chora.../ Um som alto/ Outro baixo.../ Mas, vou tocando. ***

Pesquisar, estudar e divulgar a Literatura Maranhense, no universo de suas especificidades, na extensão e fecundidade de sua produção, é fundamental. Enfocá-la, no panorama da nossa contemporaneidade, mais pertinente ainda – considerando-se a peculiaridade (e por que não dizer a excelência) de uma estética verbal ainda tão pouco conhecida e divulgada, sobretudo no tocante à autoria feminina. A Poesia aqui leiturizada, pois, vem flagrar uma tessitura poética cunhada nos signos característicos da expressão feminina e num considerável teor de literariedade, a caracterizar a nossa literatura de ontem, de hoje e de sempre...

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ADÃO LOPES DE SOUSA – POETA, SANFONEIRO, E CARPINTEIRO.

LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ12

ADÃO

O “A” É A ABERTURA DO FRACASSO O ”D” DESCOBRIRAM NOSSO AMOR O “A” MINÚSCULO ARRANCARAM-ME DE TEUS BRAÇOS O “O” ORDENARAM MINHA DOR. O “TIL” QUE SE PARECE UM RELAMPINHO DEIXOU-ME TÃO SOZINHO SEM AMOR E SEM RAZÃO AS QUATRO LETRAS QUE SOFREM A-D- A- O -TIL ... ADÃO.

Com o título “Festa de Reis e São Sebastião” publiquei em meu blog13 artigo sobre as festas que eram realizadas na cidade de Paraibano - MA14. Trazia as festas realizadas no mês de janeiro,

12

VAZ, Leopoldo Gil Dulcio; VAZ, Delzuite Dantas Brito; SANTOS, Eliza Brito Neves dos. HISTÓRIA(S) DE/DE PARAIBANO (memória oral). São Luis: 2009 (inédito).

VAZ, Delzuite Dantas Brito. HISTÓRIA DE PARAIBANO NA MEMÓRIA ORAL: da chegada de Antonio Paraibano a Brejo – município de Pastos Bons – à fundação da cidade de Paraibano. Monografia de Graduação em História. São Luís: UFMA, 1990. Orientador: João Renor Ferreira de Carvalho.

SANTOS, Elisa Brito Neves dos. DEPOIMENTOS. Entrevista concedida a VAZ, Delzuite Dantas Brito. HISTÓRIA DE PARAIBANO NA MEMÓRIA ORAL: da chegada de Antonio Paraibano a Brejo – município de Pastos Bons – à fundação da cidade de Paraibano. Monografia de Graduação em História. São Luís: UFMA, 1990. Orientador: João Renor Ferreira de Carvalho.

CAMPOS, Clodomir Lima. DEPOIMENTO. Entrevista concedida a VAZ, Delzuite Dantas Brito. HISTÓRIA DE PARAIBANO NA MEMÓRIA ORAL: da chegada de Antonio Paraibano a Brejo – município de Pastos Bons – à fundação da cidade de Paraibano. Monografia de Graduação em História. São Luís: UFMA, 1990. Orientador: João Renor Ferreira de Carvalho

VAZ, Loreta Brito; VAZ, Louise Brito. Sobre Paraibano – Maranhão. O IMPARCIAL, São Luís, segunda-feira, 10 de abril de 2000, Caderno Opinião.

VELOSO FILHO, José Ribamar. HISTÓRIA E VIDA DE PARAIBANO. Paraibano: Secretaria de Educação; São Luís: Secretaria Estadual de Educação, 1984.

assim como outras, em que os músicos ali estabelecidos, ou contratados de outras regiões, as animavam.

Além daqueles cantadores que faziam as toadas para essas festas, havia os poetas e o maior de todos era Adão Lopes de Sousa.

Conta Manetinha15 de uma viagem a São Luis que Adão Lopes de Sousa - genro de Quintino Paraibano -, empreendeu no ano de 1953, onde passou uma semana. Para se chegar a São Luis, gastava-se quatro dias, indo a Floriano, de lá para Teresina, e em Teresina tomava-se o trem para São Luis:

Eu trabalho e faço tudo Pra viver na Capital Lá a vida é uma beleza, Que a vida é colossal. Tem médico e doutor, Enfermeiro e zelador, Consultório e hospital. Tem automóvel e caminhão, Bonde e avião, Tem o tráfego de trem, Outros transportes além, São marítimos e fluvial. Tem fé em São Severino Que conserve o meu destino Meu desejo é imortal.

Herotildes de Souza Milhomem16, filha de Adão, hoje residente em Brasília, presta sua homenagem ao pai, com um poema que bem diz de sua vida: COLCHA DE RETALHOS: E POR FALAR EM SAUDADES...

HOMENAGEM AOS MEUS PAIS

13

FESTA DE REIS E SÃO SEBASTIÃO. Por Leopoldo Vaz • quarta-feira, 07 de janeiro de 2015 às 14:4. BLOG DO LEOPOLDO VAZ, disponível em http://www.blogsoestado.com/leopoldovaz/2015/01/07/festa-de-reis-e-sao-sebastiao; ver também ALL EM REVISTA, v. 2, n. 1, Jan/mar 2015

14 Paraibano é uma cidade do interior do Maranhão, fundada por Antonio de Brito Lira, Toninho ou Antonio Paraibano, migrante pernambucano que se estabeleceu na região de Pastos Bons na década de 1920. Cabe lembrar que não só Paraibano surgiu da saga de Antonio de Brito Lira e seus filhos; Sucupira do Norte também foi fundada pelos “Paraibanos”. O município de Paraibano está localizado a margem da BR-135, a 540 km de São Luis, capital do estado do Maranhão, situado na região das Chapadas do Alto Itapecuru, com área de 535 km

2.

15 Como é conhecido Clodomir Lima Campos. in DEPOIMENTOS, in VAZ, 1990, obra citada.

16 MILHOMEM, Herotildes de Souza. CORRESPONDENCIA PESSOAL ELETRONICA. Para LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ, janeiro de 2015.

MORENO SIMPÁTICO, ROBUSTO E CONSELHEIRO. PAI SORRIDENTE, AMIGO E CONTENTE. CONTADOR DE PIADAS E CAUSOS DO MARANHÃO COMPOSITOR, SANFONEIRO E CARPINTEIRO. POETA, PESCADOR E TAMBÉM BOM CIDADÃO. PARA COMPLETAR ERA UM BOM COMPANHEIRO. ESPOSO DE JOSEFA BRITO DE SOUZA (VULGO Lídia) COM QUEM TIVERA 10 REBENTOS ENCAMINHANDO CADA UM SEGUIR SEUS PRÓPRIOS TALENTOS POIS SEGUNDO ELE, O VENTO QUE ESFRIA. É SEMPRE O MESMO QUE ESQUENTA. MUDOU-SE PARA BARRA DO CORDA ORIUNDO DE PARAIBANO-MARANHÃO VIAJANDO VÁRIOS DIAS À CAVALO PELA CONHECIDA LINHA DO JAPÃO PASSANDO POR D. PEDRO E TUM TUN CHEGANDO MAIS LONGE ENTÃO. ASSIM CANTOU MEU PAI: (Samba canção) “ AO CHEGAR NA CIDADE AVISTOU LÁ DO ALTO UMA CAPELA... QUE VISTA BELA PRA SE OLHAR LÁ DO MORRO”. “ VIU QUE A TERRA ERA ABENÇOADA E CONSTANTEMENTE ADORADA ONDE PODERIA ESTAR INTRONIZADA A SENHORA DO SOCORRO...” ASSIM CANTOU MEU PAI: (Samba canção) “SOCORRO, SOCORRO DAI –ME A TUA PROTEÇÃO PARA FAZER BOA VIAGEM E ARRANJAR CAMARADAGEM NÃO ME FALTE CARRUAGEM NESTA LINHA DO JAPÃO. (PARTE DE SUA MÚSICA) LÁ NA BARRA FEZ AMIZADES DE PESCARIA, CAÇADA E FORRÓ. MACHADINHO, SR. VITOR E DINO. NUNCA O DEIXAVAM SO ALCEBÍADES LIMA, CABOCLO MOISÉS E. FAMÍLIA BÍLIO NUNCA LHES DERAM NÓ. FREI MARCELINO DE MILÃO FOI NOSSO PORTO SEGURO FOI MÉDICO, PROFESSOR.

ANTES DE TORNAR-SE BISPO PÁROCO, CONSELHEIRO E DIRETOR. QUERIDO E TAMBÉM ARISCO. OUTRA PERSONA MUITO GRATA NA VIDA DE ADÃO, VOU FALAR. O GRANDE PROFESSOR GALENO POLÍTICO ÍNTEGRO DO LUGAR ESCOLHEU A LINDA ALDA LOPES COM QUEM VIERA SE CASAR. DR. EDEN, AZEVEDO, ABDIAS E JALDO. ALTEREDO E FRANCISCO CARVALHO NUNCA LHE DERAM TRABALHO ERAM SEUS VIZINHOS QUERIDOS MAS NA HORA DO LAZER SOBRAVA TEMPINHO PARA MOLHAR O GARGALHO. ADÃO LOPES DIVERTIU-SE UM DIA PASSANDO PERTO DO MORORÓ OUVIU O BATUQUE DA PUNGA QUERENDO OBSERVAR MELHOR E COM AS TRALHAS DE CAÇADA APOIOU-SE NA BIKE E NUMA PERNA SÓ. NO COMÉRCIO DE MORORÓ PASSOU E COMPROU PELOTAS DE RESINAS PARA SABOREARMOS BRINCANDO NA CALÇADA PERTO DA ESQUINA E LÍDIA PREPARAVA UMA SEMBEREBA SE BURITI, OH! QUE BEBIDA DIVINA! TEVE AJUDA DOS AMIGOS NA ESCOLHA DE SEUS NEGÓCIOS MONTOU UMA BELA SAPATARIA SEM PRECISAR DE NENHUM SÓCIO A MERCEARIA E CONFECÇÃO ATENDERAM SEUS PROPÓSITOS. COM OS FILHOS MAIS CRESCIDOS EM SESSENTA E OITO VEIO PRA CÁ MANDANDO PRIMEIRO ALDEISA A PRIMOGÊNITA DO NOSSO LAR QUE NUNCA FUGIR DA RAIA E NA SAÚDE FOI TRABALHAR. FOI AJUDANDO A CADA IRMÃO SAIR DE SEUS PRÓPRIOS CASULOS CADA UM POR SI E POR TODOS NOS SEUS BAIXOS E ALTOS PULOS CORRENDO ATRÁS DOS ESTUDOS SEM IMPORTAR-SE COM OS APUROS. ALDEISA COSTUMA DIZER QUE A VIDA FICOU LHE DEVENDO TEMPO PARA ESTUDAR MAIS

SEM FICAR MUITO CORRENDO APROVEITAR MAIS A JUVENTUDE E MUITAS DÚVIDAS ESCLARECENDO. NOSSO QUERIDO PAI COMO SEMPRE A TODOS PROCUROU INCENTIVAR MOSTRANDO-NOS O VALOR DA VIDA E COMO DELA APROVEITAR USANDO NOSSOS PRÓPRIOS MÉRITOS SEM A NINGUÉM PISOTEAR. COSTUMAVA FALAR QUE NA SUA PALAVRA TODOS PODERIAM FIELMENTE ACREDITAR POIS SEU FIO DE BIGODE CERTAMENTE SERVIRIA NO DIA QUE NÃO PUDESSE ASSINAR SE POR ACASO SEU SALÁRIO ATRASASSE SEU CRÉDITO NÃO DEIXARIA A FOME CHEGAR. FEZ GRANDES AMIGOS E COMPANHEIROS NAS QUADRAS E IGREJAS DO LUGAR ENSINOU COM SE PLANTA HORTA COMUNITÁRIA E ESCOLAR FALOU DO LEITE MATERNO ÀS MÃES PEDINDO PRA SEUS BEBÊS AMAMENTAR. FEZ POESIA ENSINANDO COMO SE USA ÔNIBUS COLETIVO E CIRCULAR ANDAR DE METRÔ DANDO A VEZ PRA CIDADANIA SEM RECLAMAR RESPEITANDO OS LUGARES RESERVADOS A QUEM DEVE REALMENTE UTILIZAR. ACESSIBILIDADE NAS RUAS E REPARTIÇÕES E TRANSPORTES COLETIVOS DEFENDEU O COMBATE AO USO INDEVIDO DE DROGAS TORNOU-SE O PRINCIPAL LEMA SEU CONVIDA AO JOVEM PARA CONVERSAREM E A CORRUPÇAO ELE SEMPRE COMBATEU. CRIOU VÁRIOS HINOS ESCOLARES EM TAGUATINGA E CEILÂNDIA TEVE COMO SEUS GRANDES PILARES CRIAR HINOS DE CAMPANHAS A ESCOLA BATE À SUA PORTA A EVASÃO ESCOLAR E COMBATE À FOME. DEFENDIA A AUTOMASSAGEM COMO ESPORTE PARA O ANCIÃO INCENTIVANDO A PRÁTICA DE ESPORTE TROCANDO A OCIOSIDADE POR NATAÇÃO EMBORA DEFICIENTE DE UMA PERNA TINHA ISTO COMO UMA MISSÃO. “VEM MEU JOVEM CONVERSAR COMIGO EU SOU LIVRO ABERTO

EU SOU TEU AMIGO”. Adão Lopes de Souza FEZ UM ELO ENTRE O JOVEM E O ANCIÃO PALESTRANDO NAS ESCOLAS E CENTROS DE SAÚDE CRIOU MINIATURAS COM SUAS PRÓPRIAS MÃOS DANDO VIDA AO MUSEU ASA BRANCA COM VIRTUDE TENDO NA POESIA O CUIDADO DE DESCREVER CADA PEÇA COM SEU VALOR E PLENITUDE. GRANDE PARTE DESTE SEU ACERVO DOOU AO MUSEU PROFESSOR GALENO ENVIANDO À SENHORA ALDA LOPES QUE DESTINOU UM LUGAR SUPREMO SITUADO EM BARRA DO CORDA LUGAR HISTÓRICO E SERENO. A CASA DE ADÃO LOPES FREQUENTEMENTE ERA FESTIVA EM FINAIS DE SEMANAS AUMENTAVA SEMPRE A COMIDA ELE TOCANDO E LÍDIA COZINHANDO ALEGRAVAM NOSSAS VIDAS. DESTINOU CADA INSTRUMENTO A CADA FILHO, ESPOSA E GENRO. E ADÃO PUXAVA O FOLE SEM NENHUM ACANHAMENTO E AINDA VINHAM SEUS AMIGOS CADA UM COM SEU INSTRUMENTO. LEMBRO-ME BEM DA FAMÍLIA BÍLIO JOÃO, JOAQUIM, EDVALDO E JUAREZ. ANANIAS DA PROVIDÊNCIA E LINTON GRANDES MÚSICOS CORDINOS POR SUA VEZ SR. FRANCISCO DO ACORDEON ERA UM COBRA E ANTENOR BOM GUITARRISTA E MUITO CORTÊS. A FESTA ESTAVA ARMADA AQUI E ACOLÁ UM TIRA GOSTO TINHA A SEÇÃO NOSTAGIA SAMBA, FORRÓ A TODO GOSTO. E NÓS CANTÁVAMOS EM CORO ATÉ NO MÊS QUENTE DE AGOSTO. PAPAI PASSOU SEU BASTÃO DE MÚSICO AO FILHO ADÃO DOS HOMENS ERA CAÇULA NASCIDO NO MARANHÃO MAS AGORA VIMOS SURGINDO UM GRAND GÊNIO ENTÃO. ADÃOZINHO TOCA VIOLA E ATABAQUE ALÉM DE COMPOSITOR, TOCA VIOLÃO. É VOCALISTA NO SEU TRIO BMW

DEFENDENDO SUAS MÚSICAS COM EMOÇÃO. E GABRIEL LUCENA NOSSO SOBRINHO TOCA PIANO, GUITARRA E VIOLÃO. NÃO SABEMOS SE GABRIEL É MELHOR TOCANDO SEUS INSTRUMENTOS, CANTANDO ACOMPANHADO, OU SE SÓ. FOI SURGINDO DE REPENTE CANTANDO MÚSICA EM INGLÊS QUE A LÍNGUA FALTA É DÁ UM NÓ. FÁTIMA, A NOSSA ARTÍSTA PLÁSTICA. AUXILIAR DE ENFERMAGEM E ARTESÃ ALDAÍRES E ALDENIR, NOSSAS MESTRANDAS. AUMENTAM SEUS CONHECIMENTOS COM AFÃ E COMO PROFESSORAS DE INGLÊS, BUSCARAM. APRIMORAMENTO NA UNIVERSIDADE MICHIGAN. APARECIDA É UMA GRANDE POETISA ESCREVE E ÀS VEZES ESQUECE NÃO CONFIANDO EM SEU TALENTO O QUE MUITO ME ENTRISTECE E QUANDO CANTA PRO NETINHO SUAS RIMAS PARECEM VERSOS. DJALMA, MEU IRMÃO QUASE GÊMEO. COM DEZ MESES DE DIFERENÇA, LINDOS VERSOS ESCREVEU AO PAPAI E SUA FILHA ÉRIKA PROFESSORA E MUSA INSPIRADORA QUE MUITO JOVEM FALECEU. ALCEBÍADES NOSSO SAUDOSO IRMÃO ALÉM DE DESENHISTA, TOCAVA TAMBÉM VIOLÃO. JOÃO LOPES NETO, NOSSO GRANDE POETA. PARTIRAM DESTA COM PROBLEMAS NO CORAÇÃO. SÓ QUEM JÁ PERDEU ALGUÉM QUERIDO E QUE SABE DO QUE ESTOU FALANDO ENTÃO. QUANTO A MIM, AGORA É DIFÍCIL FALAR. TENHO MARGARIDAS NOS OLHOS SOU LIBRIANA E GOSTO DE CANTAR SOU PROFESSORA APOSENTADA APRECIADORA DAS ARTES E POESIAS GOSTO MUITO DE PRENDAS DO LAR. VOU FALAR DE UMA PESSOA MATRIARCA E ESPETACULAR SEM ELA NÃO EXISTIRIÁMOS POR ISSO VOU TE CONTAR EITA MULHER GUERREIRA RAINHA DE NOSSO LAR. ELA APESAR DE POUCO ESTUDO TINHA A SABEDORIA COMO DEVOÇÃO PREOCUPAVA-SE COM NOSSOS ESTUDOS

COM NOSSO CARÁTER E UNIÃO TINHA A MESA MUITO FARTA E SEMPRE NOS DEU BOA EDUCAÇÃO. AO PAPAI, MAMÃE, ALCEBIADES E JOÃO. MARIA CECÍLIA E ÉRIKA FLÁVIA QUE PREFERIRAM MORAR LÁ NO CÉU NOSSA SAUDADE INCALCULÁVEL VAI ESTE VERSO MOLHADO DE LÁGRIMAS QUE MAIS PARECEM VÉU. MARIA JOSÉ, ONILDA, CECÍLIA E LINDALVA. NORAS QUERIDAS E AMIGAS DE MEUS PAIS A CADA REUNIÃO EM FAMÍLIA AS GARGALHADAS EM PRINCÍPIO ERAM GOSTOSAS DEMAIS UMAS PARTIRAM DE QUALQUER FORMA E O TEMPO BOM, AMIGOS, NÃO VOLTA MAIS. ADÃO GOZAVA DE SAÚDE MAS SOFREU UMA DEPRESSÃO APÓS PERDER A ESPOSA AMADA E SEUS FILHOS ALCEBÍADES E JOÃO APÓS UM TRATAMENTO À RAIO LAZER PARA MELHORAR SUA VISÃO. AOS POUCOS FOI FICANDO TRISTE SEM CORAGEM PRA CONVERSAR NÃO SORRIA E NEM COMIA, CAINDO DE PRODUÇÃO NÃO ESCREVIA MAIS SEUS VERSOS E NEM TOCAVA SEU MODÃO. FORAM NOVE DIAS INTERNADOS NO HRT COM CUIDADOS E MEDICAÇÃO NUNCA CHEGAMOS PENSAR NA HIPÓTESE QUE ELE NÃO VOLTARIA ENTÃO RECEBEU ATÉ VISITAS NO HOSPITAL PRA UMA ENTREVISTA NA TELEVISÃO. NESTA TARDE FOI GRANDE A EMOÇÃO NÃO CONSEGUIU ESCONDER AS LÁGRIMAS TAMANHA FOI SUA COMOÇÃO CHEGANDO A SOLUÇAR BAIXINHO COM O OLHAR PERDIDO FALOU AQUI PRINCIPIA O FIM DE ADÃO. NAQUELA MESMA NOITE PEDIU PRA ASSISTIR AO JORNAL NACIONAL MAS QUAL NÃO FOI A SURPRESA NÃO QUIS NEM NADA IGUAL VOLTANDO PRA SUA CAMA NAQUELE DESÂNIMO TOTAL. NA MANHÃ SEGUINTE BEM CEDINHO SUAS PORÇAS FORAM FALTANDO LEVARAM-NO PRA OUTRA SALA

E OS CHOQUES FORAM APLICANDO USARAM BALÃO DE OXIGÊNIO E O SOPRO DE VIDA FOI ACABANDO. FORAM GRANDES TENTATIVAS EM REANIMAR NOSSO HERÓI A CADA CHOQUE APLICADO DOIA MUITO DENTRO DE NÓS DEIXANDO-NOS SEM ESPERANÇAS DE OUVIR DENOVO SUA VOZ. ENFIM VEIO A TRISTE NOTA FIZEMOS TUDO O QUE PODÍAMOS PARA SALVAR NOSSO IRMÃO O QUADRO ERA MUITO GRAVE É COM PESAR QUE INFORMAMOS PERDEMOS NOSSO QUERIDO ADÃO. DURANTE SEU VELÓRIO NA CAPELA A BANDEIRA DA ATL COBRIA O SEU CAIXÃO O PRESIDENTE DA ACADEMIA LEVOU SEU LIVRO ONDE LEU UMA DE SUAS POESIAS COM SUA VOZ PAUSADA E ALTANEIRA CAUSANDO-NOS GRANDE EMOÇÃO. NA DESPEDIDA DESCENDO À TUMBA OS SEUS COLEGAS DE MÚSICAS TOCARAM LINDAS CANÇÕES E EU EMBORA TRISTONHA CANTEI UMA DE SUAS COMPOSIÇÕES QUE SE INTITULAVA ADÃO.

Adão Lopes de Sousa 17 nasceu em Paraibano - MA, em 15/10/192418. Filho de João Lopes de Souza e Saturnina Pereira Ramos (Satu). Faleceu em 20 de julho 2005, em Taguatinga –DF, vitimado por insuficiência cardíaca.

Era artesão de objetos que resgatam brincadeiras de crianças e costumes de adultos. Por cinco anos trabalhou voluntariamente em escolas do DF, onde apresentou seu artesanato, passando aos adolescentes suas experiências. Foi homenageado com o Mérito Candango da FECOMÉRCIO e SBT (Sistema Brasileiro de Televisão) no ano de 1997, tendo seu trabalho divulgado por aquela emissora, no período de um mês. Recebeu o Mérito de Pioneiro de Taguatinga. Diplomado Cidadão Taguatinguense pela Secretaria de Cultura de Taguatinga. Foi Presidente-Fundador da Associação de Moradores da QNH - Taguatinga - Norte – DF; era ainda Vereador da Câmera de Vereadores Comunitários de Taguatinga.

17 From: [email protected] - To: [email protected]. Subject: Documentos - Adão Lopes de Souza. Date: Mon, 19 Jan 2015 21:02:48 -0200. Caros amigos Dilercy e Leopoldo, Em atenção, estou enviando documentos referentes a vida de Adão Lopes, meu pai, conforme solicitação. Quaisquer questionamentos, favor procurar-me. Atenciosamente, Herotildes. 18 Nessa época, ainda se chamava BREJO DOS FAUSTINOS, e pertencia ao Município de Pastos Bons. Os “Paraibanos” haviam chegado dois anos antes, e se estabelecido na região do Brejo; com o passar do tempo, a região mudou de denominação, para Brejo dos Paraibanos (final da década de 20), e em 1952, foi criado o município de Paraibano, desmembrado de Pastos Bons.

Casado com Josefa Brito de Souza – mais conhecida como Lidia, nascida em Cajazeiras- Paraíba em 22 em de julho de 1924, falecida em 28 de julho de 1999 em Taguatinga - DF. Vitimada também por insuficiência cardíaca. Casaram-se em Pastos Bons. Ambos tiveram 13 filhos e mais uma adotiva:

Aldeisa (nascida em Paraibano), casada com Manoel Messias, filhos: Manoelisa Brito (filhos: Miguel, Daniel, Helder, Emanuelle e Diego); e Maísa Brito (filhos: Elisa, Heitor e Guilherme);

João Lopes de Souza (nascido em Paraibano), casado com Maria José; filhos: Márcio Henrique (filhos: João Henrique e Márcio Henrique); Walma (filhos: Luísa e Augusto); e Vânia (filho: Heitor);

Herotíldes de Souza Milhomem (nascida em Paraibano); foi casada Luís Gonzaga (Divorciada); filhos: Sandro (filho: Bruno); e Abdias (filha: Kaisa);

Djalma Brito de Souza (nascido em Paraibano); casado com Maria Cecília (Viúvo); filhos: Marco Aurélio (filhos: Laura e Matheus); e Érika Flávia (falecida);

Maria de Fátima Brito da Silva (nascida em Paraibano, mas registrada em Barra do Corda); casada em primeiras núpcias com José Eustáquio da Silva; filha: Cyntia (filho: Cauê); e em segundas núpcias com Gildemir Melo; filhos: Hudson (filho: Tafari); e Paulo Henrique (filho: Pedro Henrique);

Maria Aparecida Brito Borges (nascida em Paraibano, registrada em Barra do Corda); casada Paulo Roberto Borges. Filhos: Lanuce Roberta (filho: Eduardo José); e Paulo Roberto Junior.

Alcebíades Brito de Souza (nasceu em Barra do Corda); casado com Lindalva Resende; filhos: Katyana (filho: Laryssa Pamela); Kássio (filha: Jéssica); Karina; Fernando (de outro relacionamento).

Aldaíres Brito de Lucena (nasceu em Barra do Corda); casada com José Anselmo (Viúva); Filho: Gabriel Lucena.

Adão Filho (nasceu em Barra do Corda); casado com Onilda Araujo; Filha: Julia; primeiras núpcias com Maria Célia, mãe de Poliana.

Aldenir Brito de Souza (nasceu em Barra do Corda); casada com Antonio Marcos; Filho: Marco Antônio;

Abraão Lopes Sobrinho (naceu em Barra do Corda). Foi abortado aos 5 meses.

Aldenice Brito de Souza (nasceu em Barra do Corda). Falecida em 1960 com mais ou menos 1 ano de idade.

Adailza Brito de Souza (nasceu em Barra do Corda); falecida em 1961, ainda bebê.

Neusa Cabral (nasceu em Barra do Corda, filha adotiva). Casa com José Eustáquio, filho: Loyani Katrina (filhas: Maria Eduarda e Ana Cecília); e em segundas núpcias com Raimundo Lucena (filha: Luana Laise).

Adão saiu de Paraibano em 1954, levando toda sua família: esposa e seis filhos; estava com 30 anos de idade. Na época deixou uma Vacância no cargo de Vereador, indo buscar melhor educação para os filhos, e melhor mercado de trabalho para o sustento da grande prole.

Adão - naquela época - era considerado um bom Sanfoneiro, compositor de suas próprias músicas, poeta e contador de causos engraçados. Além de bom comerciante. Apesar de pouco estudo, conseguiu concluir o segundo grau em Brasília- DF.

É autor de cerca de 200 músicas, como o Hino Elo de Ligação (Reminiscência). Possui ainda 50 poemas inéditos e três livros publicados: Viver Assim é Melhor, A Lei de Moisés e Horta Caseira.

Da vasta obra de Adão, recolhemos estas, enviadas por Herotildes:

MINHA ÚLTIMA FILHA para sua filha ALDAÍRES BRITO.

HOJE ACABEI DE ENTREGAR PARA SEU NOVO LAR MINHA ÚLTIMA FILHA NÃO SEI SE CERTO OU SE ERRADO MAS DEUS ESTÁ POR PERTO LIMPANDO-ME MINHA TRILHA. SEI QUE ESTA CASA FOI UM MANANCIAL DE SORRISOS E GRACEJOS HOJE O QUE VEJO SÃO DIPLOMAS PASSADOS SÃO LIVROS JOGADOS E O MAIS NADA VEJO. CORO VAI MINHA ÚLTIMA FILHA É TÃO GRANDE ESTA CASA PRA DOIS ASSIM COMEÇAMOS A VIVER OH! MINHA VELHA ASSIM ROMPEREMOS DEPOIS. À NOITE NOS ERA MELHOR AO NOSSO REDOR RESSONADOS ALÉM HOJE CHAMAMOS AFLITOS POR NOMES BONITOS E NÃO RESPONDE NINGUÉM. NOSSAS FILHAS FLORIRAM NOSSO NINHO COM NOSSO CARINHO E AFETOS TAMBÉM NÃO QUERÍAMOS VE-LAS SOFRENDO NEM SE SUBMETENDO AO RANCOR DE NINGÚEM.

A PRIMAVERA SE PREPARA FRAGMENTOS DE SONETOS

SOPRA O VENTO ALÍSIO O PAMPA EM PESO SE ABANA MATIZA-SE A SAVANA COM A FLOR DE TROVÃO. ESQUECEU A CANÇÃO É A FLOR DE SAPUCAIA E A BISOURADA ENSAIA SUA GRAVE CANÇÃO. CHEGA O BEIJA-FLOR PAIRA COM CARINHO COMO UM PRINCIPEZINHO CHEIO DE EMOÇÃO. A FOLHA DA MALISSA NÃO EMURCHESSE AO TOCAR E SABE SE EXPRESSAR A PRIMAVERA CHEGOU.

O TONTEAR DA PALMEIRA

GAIVOTAS DA FLORESTA NÃO PODEM VIVER TRABALHA EM VÃO O SUSSURRAR DO VENTO NÃO ADIANTA A PALMEIRA TONTEAR SE NÃO SURGIR OUTRO GONÇALVES DIAS COMO NASCEM POESIAS SEM O NOSSO SABIÁ.

LEITE MATERNO

FELICITO COM RESPEITO PELO PREVISTO ÊXITO MATERNAL AGORA A NAÇÃO VAI TER PROVEITO E PARTIR PARA UM MUNDO SEM RIVAL QUE CADA MÃE SEJA UM CÓRREGO DE LEITE CADA BEBÊ NA SAÚDE SE DELEITE E CADA PAI SEJA UM TETO ORIGINAL.

PRIMEIRO ANO

PRIMEIRO DO ANO É A ESCADA A SUBIR VAMOS NOS UNIR NUMA DECISÃO. IMPLANTAR O AMOR MAS AMOR DE VERDADE LEVANDO A CARIDADE É PEDIDO DE ADÃO.

MÃE NATUREZA

SE A MÃE NATUREZA FOSSE VINGATIVA E OUSASSE NA ATIVA A RECIPROCIDADE QUEM A MACULA SERIA ENVOLVIDA E LOGO PUNIDA COM IMPIEDADE. MAS ELA REBROTA PAULATINAMENTE A ÁRVORE DOENTE QUE O HOMEM CORTOU “O SÂNDALO PERMUMA O MACHADO QUE O FERE” É A MÃE QUE AUFERE COM TODO AMOR.

O VELHO QUARTO

ESTE FOI O NOSSO QUARTO ONDE DORMIMOS COM AMOR HOJE EU DURMO E TU VIGIAS COMO UM GUARDA DO SENHOR.

TRANSPORTE COLETIVO

ENTRE NO ÔNIBUS COM O TROCADO NA MÃO COGITE EVITAR A SUFOCAÇÃO. A SENHORA GESTANTE E O NOBRE ANCIÃO DEVEM SER TRATADOS COM EDUCAÇÃO... SE ENTRAR UMA SENHORA COM CRIANÇA DE BRAÇO CEDA SUA POLTRONA EVITE O CANSAÇO. NÃO PONHA CARTEIRA NO BOLSO TRASEIRO POIS O DESCUIDISTA LEVA SEU DINHEIRO...

TEORIA PARA UM JOVEM

HONRAR OS MAIS VELHOS É SABER VIVER ACALMAR OS AFLITOS É SABER VIVER EVITAR ENTRELACE COM OS FARISEUS QUE TUDO FAÇA PARTE DOS COSTUMES SEUS. DEDICAR-SE Á LEITURA É SABER VIVER ACATAR CONSELHO É SABER VIVER NOTAR QUE SUA PÁTRIA LUTANDO CRESCEU QUE TUDO FAÇA PARTE DOS COSTUMES SEUS. DIZER PRA ONDE VAI É SABER VIVER TER HORA DE CHEGAR É SABER VIVER ZELAR DE SEUS PAIS QUE A VIDA LHE DEU QUE TUDO FAÇA PARTE DOS COSTUMES SEUS...

REMINISCÊNCIA

O HOMEM TEM QUE FAZER TERRA CORRER DA GUERRA DA ISOLAÇÃO. A IMAGEM DO ONTEM RETRATA O AMANHÃ TAL QUAL TALISMÃ EM ELETRONS CONTIDOS. A TERCEIRA IDADE DESPACHA EMM CORREIO COM TODO O ANSEIO DE UM MUNDO VIVIDO. O ANCIÃO É UM PLANETÓIDE E SEUS ASTERÓIDES É A JUVENTUDE. A REMINISCÊNCIA É UM TRATOR DE ESTEIRA QUEBRA RIBANCEIRA APLAINA O CAMINHO ROMPE OBSTÁCULOS ENTRE AS TRÊS IDADES SEMEIA IGUALDADE COM AMOR E CARINHO. O MUNDO SE ENCOLHE PEDINDO UNIÃO NAÇÃO COM NAÇÃO JOVEM E IDOSO MÃO ESTENDIDA ABRAÇO E SORRISO NOVO PARÍSO CAMINHO DITOSO...

ANIVERSÁRIO DA ESPOSA (LÍDIA)

SEM TI, SEM MIM, SEM NÓS AMOR. O MUNDO NÃO É DE NINGUÉM SEM TI, SEM MIM, SEM NÓS AMOR. NINGUÉM NÃO SABE MAIS QUERER BEM. SEM TI, SEM MIM, SEM NÓS AMOR. O SOL NASCE, PORÉM NÃO SE CRIA. A NOITE SE PASSA VAZIA E A LUA TAMBÉM. MAS VAMOS ROGAR AO SENHOR QUE ESTA DATA NÃO SAIA DA AGENDA COMIGO CANTANDO ESTA VALSA PRA TI QUE O MUNDO ESCUTE E APRENDA. SEM TI, SEM MIM, SEM NÓS AMOR. A LUZ ILUMINA EM VÃO SEM TI, SEM MIM, SEM NÓS AMOR. AS ESTRELAS NÃO TÊM PERFEIÇÃO. SEM TI, SEM MIM, SEM NÓS AMOR. O MAR NÃO POSSUI CALMARIA O ANO TRABALHA PERDIDO E O MÊS CONFUNDIDO FALTANDO ESTE DIA.

DEBUTANTE MANOELISA BRITO COM UM ANO MOSTRA SORRISO COM DOIS ANOS TEM QUERER COM TRÊS ANOS OLHA E VÊ O PODER DA DECISÃO COM QUATRO ANOS CONFIRMA COM CINCO ABRE CAMINHO COM SEIS DEMONSTRA CARINHO NASCIDO NO CORAÇÃO. COM SETE ANOS DISTINGUE COM OITO ANOS LAMENTA COM NOVE ANOS COMENTA O QUE VÊ CERTO OU ERRADO COM DEZ ANOS A BELEZA NO CORPO FAZ CORREÇÃO COM ONZE A PERFEIÇÃO JÁ CONCLUI O SEU RECADO. COM DOZE A INDOLE COMANDA SUA ATITUDE DIRIGE O SEU CORAÇÃO COM QUATORZE É RESOLUTA DOS ENTES JÁ TEM CIÚMES COM QUINZE MOSTRA COSTUMES DIANTE DUMA NAÇÃO.

E POR FALAR EM SAUDADE MÚSICA ---- ADÃO LOPES DE SOUZA

O FRUTO É DEVIDO A RAIZ O CARINHO É DEVIDO O AMOR A ALEGRIA DA FESTA NOS DIZ É HOMENAGEM AO PROGENITOR. CANTA VOVÓ, CANTA VOVÔ. CANTA O BRASIL QUE É SIMBOLO DE AMOR CANTA E SORRIA PARA ALEGRAR MEU VELHO CANTANDO É CRIANÇA A BRINCAR. E POR FALAR EM SAUDADE COMO VAI OSEU CORAÇÃO DESPRENDENDO TAMANHA AMIZADE NESTA DATA DE TANTA EMOÇÃO. MEU VELHO CANTANDO É CRIANÇA BRINCANDO É FLOR DESABROCHANDO É ODOR A EXALÁ. É O COMPASSO, É A RÉGUA. É NOTÍCIA DE TRÉGUA É PASSEIO DE LÉGUA AO ESPLENDOR DO LUAR.

ELO DE LIGAÇÃO

TEM QUE HAVER UM ELO DE LIGAÇÃO ENTRE O HOMEM VELHO E A NOVA GERAÇÃO. REFRÃO VEM MEU JOVEM CONVERSAR COMIGO EU SOU LIVRO ABERTO EU SOU TEU AMIGO. O HOMEM VELHO TAMBÉM TEM AMOR ELE SABE TUDO COMO COMEÇOU. O HOMEM VELHO É UM POTENCIAL ELE SABE A REGRA DO BEM E DO MAL.

O MUNDO MARCHA JUNTO À NATUREZA E O ANCIÃO GUARDA SUA RIQUEZA. O HOMEM VELHO JUNTO À JUVENTUDE ELE FICA JOVEM CHEIO DE VIRTUDE.

SONHO

Sonhei com uma garota Que estava bordando. Na frente de uma igreja azul. Com uma linha esverdeada Fui feliz nesta tocada E também nesta caçada. Oh! Que sonho protetor. Quisera Que toda noite Eu tivesse este sonho. Eu seria mais risonho Quero ser um sonhador. Só em sonhar que a vejo Tudo corre bem Vivo eu a imaginar Se ela sonhasse também Ai, ai Vou fazer um rogativo Pra sonhar sempre com ela Pois eu sei que a coisa vai.

ADÃO LOPES DE SOUZA E SUA ESPOSA JOSEFA BRITO DE SOUZA COM SEU FILHO ADÃO FILHO BRITO DE SOUZA DESSA ÉPOCA ADÃO LOPES TINHA COMO FONTE DE

PROVISÃO A SUA SANFONA19

19 De: Júlia Brito de Souza Araujo ([email protected]) Enviada: quarta-feira, 28 de janeiro de 2015 17:01:29 - Para: Leopoldo Gil

Dulcio Vaz ([email protected]) BOM DIA / SEGUE FOTO DE ADÃO LOPES DE SOUZA E SUA ESPOSA JOSEFA BRITO DE SOUZA COM SEU FILHO

ADÃO FILHO BRITO DE SOUZA O CAÇULA... DESSA ÉPOCA ADÃO LOPES TINHA COMO FONTE DE PROVISÃO A SUA SANFONA..QUALQUER DUVIDA E

PRECISANDO ESTAMOS AS ORDENS.

OBRA DO POETA JOSÉ CORIOLANO É RESGATADA

SAULO BARRETO

Trata-se da compilação de mais de 100 poesias reunidas do poeta José Coriolano de Sousa Lima (1829 - 1869). Todas as poesias de altíssimo valor literário, estético e lírico; encontram-se presentes na obra 108 Poesias de José Coriolano de Souza Lima, com o selo da Editora Multifoco, do Rio de Janeiro. Lançado no Centro de Criatividade Odylo Costa, filho - Reviver São Luís/MA, no dia 30 de abril de 2015.

O autor J. Coriolano, teve sua vida intrinsecamente ligada a São Luís e ao Maranhão. Quando jovem, estudou humanidades em São Luís com vistas a ingressar na Faculdade de Direito em Recife. Visitou São Luís várias vezes elaborando muitas de suas poesias, dentre elas “Mudanças”. Foi Juiz Municipal em Codó e Juiz de Direito em Pastos Bons, onde fez as poesias “Nênia” e “Por que será”. Seu único livro Impressões e Gemidos foi confeccionado, postumamente, numa gráfica de São Luís no ano de 1870. Recebeu grande influência do fenômeno Atenas Brasileira, notadamente se inspirando em Odorico Mendes e Gonçalves Dias a quem dedicou o poema “O Rei”.

Organizada por Saulo Barreto Lima, descendente do poeta, ao concretizar a obra, ressalta que chegar ao resultado final foi uma peregrinação e tanto.

“Custear a publicação de um livro é muito oneroso no Brasil, sem contar o déficit de leitura e o não retorno e não valorização da cultura em geral. Graças ao ativismo cultural do editor Frodo Oliveira e da Editora Multifico, conseguimos colocar a disponibilização do grande público a obra desse grande poeta esquecido.”

Coriolano, despontou numa época onde o Romantismo demarcava território no campo literário brasileiro. Mesmo sendo comparável como nomes de Juvenal Galeno, Gonçalves Dias, Gregório de Matos, etc. não teve publicações em vida, nem foi reconhecido como tal. Hoje, muitos literatos reconhecem que sua obra, pois ela mescla o universal e o regional, podendo ser lido em qualquer tempo e lugar do mundo. Cantou em seus versos a natureza, as angústias, seu grande amor, Deus e sua terra que tanto amava, Crateús. Além disso, o vate tem o prestígio de pertencer à mesma árvore genealógica de outro vulto literário cearense, Gerardo Mello Mourão, além também, de ser reconhecido no Estado do Piauí, como um dos fundadores de sua literatura e “Príncipe dos Poetas” naquele estado.

Observa o Organizador que o projeto só foi possível por conta do empenho do trineto do poeta, Ivens Roberto de Araújo Mourão.

“A obra é toda dedicada a Ivens. É ele o sucessor e detentor do legado de Coriolano. É Ivens que detém as maiores informações sobre o poeta e vem resgatando de maneira muito competente seu legado. Eu só viabilizei a publicação, mas o responsável pelo resgate, compilação, digitalização e comentários são todas creditadas a Ivens Mourão. Desde a primeira até a última letra é dedicada a Ivens. A Ivens meu muito obrigado!”

Resumo biográfico do poeta:

Nasceu na antiga Vila Príncipe Imperial, atual cidade de Crateús no Ceará. Foi político, Presidente da Assembleia Legislativa do Estado do Piauí, sendo Deputado Provincial por duas legislaturas. Foi, também, Promotor Público em Piracuruca/PI, Juiz de Direito em Pastos Bons/MA e jornalista, tendo suas produções veiculadas na imprensa das capitais Recife/PE e Teresina/PI. É patrono da cadeira Nº 8 da Academia Piauiense de Letras (APL). Poeta, criador de mais de 250 poesias de altíssimo valor estético, lírico e literário. Autor das obras O Touro Fusco e Impressões e Gemidos. Fundador-patrono da literatura piauiense, é considerado “Príncipe dos Poetas” naquele estado. Na Faculdade de Direito de Recife/PE, inspirou e foi inspirado pelo amigo baiano e poeta antiescravagista Castro Alves. Seus restos mortais jazem juntamente com os da sua amada Maria Cisalpina Correia Lima em urna funerária da Igreja Matriz de Crateús nos confins do Sertão do Ceará.

Início do poema indigenista

“O CANTO DO CACIQUE”

Sou índio, sou forte; se a lida me chama, Sou raio, corisco, só temo a Tupá: No campo juncado de imigos ferozes Se movo o tacape, mil mortos são já! Os ares demandoco’a frecha empenada, Que voa infalível à presa onde está; A onça sedenta, que espuma raivosa, Se vi-a, mandei-a de mim a Anhangá. Sou bravo e cordato; se a paz se concerta, Quem é tão cordato como eu? – quem será? Na paz sou cordeiro, - sou tigre na guerra, Sou raio, corisco; só temo a Tupá. Domino estas matas espessas, sombrias, Que estão sob a mira do grande Tupá; Que há poderoso como eu nestas serras, Que tudo que vejo sujeito me está? No doce remanso da taba querida Mil filhas donzelas que adora Tupá. Dos olhos quebrados me lançam mil setas Mas uma somente no peito me dá. (...)

GRANDEZA DE DEUS

Que cena majestosa se me of’rece (1) Onde quer que um olhar pasmoso fite!

Que notas, que harmonia deleitável Respira a natureza que me cerca! Aqui manso ribeiro o prado corta,

Ali mais apressado o rio rola, Mais além ronca o mar em fúria aceso!

Aqui a leve brisa me bafeja, E após ela o tufão me açoita a fronte!

Ali pequeno arbusto reverdece, Mais além mira o céu d’árvore a cúpula!

A roseira que ostenta donairosa (2) A flor que faz inveja às outras flores,

Que os homens enamora com seus mimos, Que os ares embalsama com perfumes,

Das murmurantes auras embalada, Aqui parece rir co’a (3) natureza! Ali mil outras flores se desfazem

Os campos matizando, em doce cheiro! Sobre altivas mangueiras gorjeando, Ou sobre altas palmeiras buliçosas

Estão mil aves ternas à porfia, Enquanto roxa luz difunde a aurora! O sol já mostra o disco no horizonte, E a metade vingando do seu curso,

Em pino cresta o orbe com seus raios! Já descai (4)no caminho do ocidente

E em breve além do mar se envolve em trevas! O mar converte em fogo as águas suas,

As nuvens doiro e prata se agaloam, Os favônios expiram nos palmares,

E o homem nesse instante ao céu se eleva! Não tarda os horizontes incendidos Nova forma tomarem: uma estrela Seus trêmulos fulgores já reflete Sobre a rugosa face do oceano,

Em seguida mais outras e outras muitas! A lua que surgiu de sob as águas,

Ou que o rosto mostrou d’além dos montes, No espaço se equilibra, e sobre a terra Aos viventes derrama os seus favores!

Óh ! quanta poesia ! óh ! quanto assombro Onde quer que um olhar pasmoso fite! O homem que a virtude traz no peito, Mais a chama cristã no peito ateia!

Ao ímpio que o remorso traz na mente, Mais a mente o remorso lhe atribula!

O blasfemo que, os céus escarnecendo, Soltou vozes, que aos céus injuriaram,

Qual o cão que raivoso ladra à lua, E que alfim (5) já cansado inútil pára

O sacrílego peito comprimindo,

De blasfemar inútil também cessa. Que pode um grão de areia movediça

Contra a rocha em que o mar se quebra iroso? Que pode pobre argila sobre argila

Contra Deus que sustenta infindos mundos? Que pode o homem frágil pequenino

Contra Deus, que o gerou do pó, do nada? Senhor! o teu poder é grande, imenso !

Tudo quanto é sublime a ti se deve. Óh minha doce Mãe! – quem no teu peito

Depositou afetos tão sagrados? Virgem meiga e gentil, que o mundo adora,

Quem te fez tão amável? Esse riso, Que nos prende e fascina, encanta, arrouba, Quem t’o (6) depositou nos róseos lábios?

Aves, que gorjeais na umbrosa selva, A quem deveis o deleitoso canto?

Pois quem tais maravilhas fez no mundo? Foi Deus, que às flores também deu aroma,

Macio e fresco ciciar às brisas, Sibilos ao tufão, sussurro às folhas, Brandura à fonte, correnteza ao rio;

Foi Deus que fez os mares procelosos, Que lhes deu ondas, escarcéus e vagas, Que às campinas deu relvas e matizes,

Ao sol fulgores, às estrelas brilho, E à lua doce luz que a mente aplaca;

Foi Deus que deu um pugilo informe, inerte, Fez o homem moral à imagem sua!

Óh ! quem há que se iguale ao Deus supremo, Se ele é só o supremo sobre tudo?

Quem há que o Criador co’a criatura Compare, se de Deus seu ser dimana?

Senhor ! – o teu poder é grande, imenso! O mar no-lo (7) revela em seus gemidos,

A terra nos seus verdes atavios, A flor no seu perfume, o sol nas cores,

As aves no seu canto deleitável, O céu no seu azul que se marcheta De milhões de prodígios luminosos,

Quando a noite se desdobra sobre a terra Seu manto de mistério a todos grato!

Meu Deus ! Senhor meu Deus! quanto és sublime! Ao teu gesto potente a fronte curvam

O grande, o rico, o pobre, o sábio, o néscio! O mar que enfurecido em flor rebenta,

O bravo furacão que os bosques prostra, A fera que rugindo atroa os ares, O raio que resvala pelo espaço,

O trovão que estrondeia retumbando, A nuvem que desata em catadupas

E o corisco veloz que caracola, Tudo, tudo a teus pés, ó Deus se humilha,

Tudo, tudo a teu nome um hino entoa! E o homem que a razão fez neste mundo,

Depois do teu poder, o mais potente; O homem que possui um’alma eterna,

Que outra vida lhe of’rece além da campa, Dos brutos se rebaixa à classe ignóbil, E as leis posterga ao criador benigno! ..............................................................

Porém, Senhor, perdão p’ro (8) homem frágil, Que o fizeste d’argila; atende ao mísero:

Quando seus lábios trêmulos soltarem O suspiro final, que o mundo exige;

Quando seus olhos turvos se cobrirem Co’o vítreo manto, regelado, eterno;

Quando apagar-se (9) do seu peito a flama; Quando o frio eternal gelá-lo todo;

Quando a morte, Senhor, tirar-lhe a vida Nesse céu de venturas, - misterioso –

Dá-lhe asilo, Senhor, lhe cede a glória.

Comentários20

20 OS COMENTÁRIOS SÃO DE A. TITO FILHO (1) of’rece. Oferece. Supressão de uma sílaba por necessidade de metrificação. (2) Donairosa. Derivado de donaire. É o latim donarium, donairum, donairo. A forma donaire teve influência espanhola. A gente pronuncia donaire tal como se escreve. (3) C’oa. Em lugar de com a. Necessidade de contagem de sílabas poéticas. Em com a há duas sílabas poéticas reduzidas a uma. (4) Descai. Verbo descair: deixar prender ou cair. (5) Alfim. Hoje pouco usado. O mesmo que enfim, finalmente. (6) To. Combinação dos pronomes te e o. Este o está no lugar de riso. Quem depositou o riso (o) nos lábios teus? (te) Te aqui tem função de posse. (7) No-lo. Combinação dos pronomes nos e o. Nesta combinação o nos perde o s e o pronome o toma a velha forma lo. Este lo na poesia está no lugar de poder: no-lo revela. (8) P’ro. Para o. Necessidade de metrificação. (9) Quando apagar-se. O verbo está no futuro do subjuntivo. Deveria ser quando se apagar. No tempo em que José Coriolano escreveu não estava disciplinada a colocação dos pronomes átonos.

A POESIA

Quem é que veste de fragrantes flores O verde campo que o matiz iria?

Quem é que pinta-o sem pincel e cores? - A poesia!

Quem é que torna d’esmeralda os mares? Quem é que a noite faz melhor que o dia?

Quem nos consola dos cruéis azares? - A poesia!

Quem nos cantores que no ar passeiam

Nota primores, divinal magia, Quando seus hinos matinais gorjeiam?

- A poesia!

Quem cisma e geme, se do frágil ramo Viu a rolinha que a cismar gemia?

Quem ama os infelizes como eu amo? - A poesia!

Quem descortina num olhar modesto, Que o chão afaga quase todo um dia, A maior prova de um amor honesto?

- A poesia!

Quem d’entre os lábios da consorte amante Perscruta o sonho que o Senhor lhe envia

Co’o fido esposo – no sorrir tão crente? - A poesia!

Quem sonda o seio de u’a mãe zelosa

E afetos nota que só ela cria? Pois quem suspira, se ela está chorosa?

- A poesia!

Quem no sorriso da gentil criança Descobre augúrios que ninguém sabia?

Quem vê sorrindo, lh’acenar a esp’rança? - A poesia!

Quem neste peito me afervora o sangue?

Depois quem fá-lo estremecer que esfria? Quem robustece-o, quem o torna exangue?

- A poesia!

E quem o mundo num balanço brando Qual ama terna que o infante cria,

Meigo embalança como quê ninando? - A poesia!

Harpa saudosa, que harmoniza o mundo,

Íris formoso que no céu radia, Sentir sublime de um pensar profundo,

- És - poesia!

A UMA CONFESSADA (DE QUINTA FEIRA SANTA)

Não quisera das aves a inocência,

E nem do infante a candidez do riso; Pecador, eu também me achara indigno

Das purezas que encerra o paraíso.

Quisera que minh’alma hoje estivesse, Tão amiga de Deus que o céu habita, Tão sincera, tão pura e escrupulosa Como está de Maria a alma contrita.

Príncipe Imperial, 23 de março de 1853

DELÍRIO DE POETA

Pousa a pena... e tristonho medita No futuro que imerge-se além...

Mil idéias na mente suscita, Que não sabe, não pensa-as ninguém! Ei-lo – altivo – sorrindo – orgulhoso –

Ei-lo – os olhos cravando no chão! Quem motiva este estado penoso?

- Um lampejo talvez da razão.

Ele pega da pena – sem tino – Uma estrofe lá faz no papel;

Não são frases: – seu estro é divino, Que lhe ferve na mente em tropel! E seus olhos na estrofe correndo, Ele sente queimar-lhe um vulcão! Quem agita-lhe a mente fervendo?

- Uma nuvem talvez de ilusão!

Pobre moço! – talvez se despenha Nos abismos do incerto porvir!

Muito estreito p’ra que se contenha Nele a idéia que esteve a nutrir!

Mas seus sonhos desfazem-se logo Aos ditames da clara razão:

Finda a palha, também finda o fogo, - Cinzas restam, – nem mais combustão!

Olinda 1856

Despenha = lançar de grande altura, precipitar.

J. CORIOLANO: Breve ensaio biográfico

SAULO BARRETO LIMA

Ingratidão que desama, grande ingratidão é, mas a ingratidão que chega a desconhecer, é a maior de todas.” Padre Antônio Vieira

José Coriolano de Souza Lima (1829 - 1869), ou “J. Coriolano”. Você leitor (a), por algum

acaso, já leu ou ouviu falar algo a respeito desse nome? Logicamente que a resposta majoritária será um sonoro e uníssono NÃO! Pois bem, com relação aos primórdios e das possíveis origens mais remotas - pelo menos quanto da etimologia do nome “Coriolano” - o escritor e poeta Raimundo Cândido Teixeira Filho nos ventila a seguinte informação:

É provável que a estirpe dos Coriolanos provenha do lendário general Caio Márcio que recebeu a alcunha de Coriolanus, por se distinguir na batalha do Lago Regillus, no cerco da cidade Coriolli, povoada por gente antiquíssima chamada Volscos, eternos adversários de Roma nos primeiros tempos. Contam que os irmãos gêmeos, Castor e Pólux, ajudaram imensamente aos romanos, liderados por Coriolano, a obter êxito nessa importante batalha.1

Entretanto, os dados mais fidedignos acerca das origens e da árvore genealógica do Poeta, são aqueles pinçados dos meticulosos estudos traçados pelo seu trineto Ivens Roberto de Araújo Mourão, que dispõe de grande planilha com os nomes ascendentes, descendentes e colaterais do estimado poeta. Pois bem, o mundo ganhou Coriolano de presente no dia 29 de outubro de 1829, na Fazenda Boa Vista, a qual lhe inspirou um dos mais lindos versos: “(...) num massapé torrado e brusco / Nasceu o valoroso touro fusco.” Essa fazenda, estava situada na Vila do Príncipe Imperial (hoje cidade de Crateús no Ceará) uma bela cidade sertaneja a beira do caudaloso Rio Piranhas (hoje nominado Rio Poti). É salutar que se frise, que quando o Poeta surgiu, sua Vila Príncipe, ainda era condado de solos piauienses. Em 1880, a região começou a fazer parte do Ceará, por conta da troca de parte de seu litoral ao Piauí. Eis o motivo pelo qual nosso poeta, é tratado nesse escrito, como duplo cidadão.

Ali, num mundaréu desabitado da Fazenda Boa Vista, no benéfico ano de 1929, calcinado pela terra, moldado pelo vento, forjado pelo fogo e esculpido pelas águas majestosas do Poti, emerge um grande poeta, só comparável ao grandessíssimo Gonçalves Dias, para fazer nascer a poesia por aqueles rincões distantes de Crateús.2

Essa região foi fortemente habitada pelos índios da etnia Carateús, e é considerada, geograficamente como uma das cidades abrangidas pelo Grande Sertão Nordestino. Quanto ao amor doentio e as peculiaridades de sua terra, o nobre poeta se derrama:“Lindo Sertão, meus amores / Crateús, onde nasci / Que saudade, que rigores, / Sofre meu peito por ti!/ São amargos dissabores / Que em funda taça bebi! / Que saudade, oh meus amores, / Crateús, onde nasci!”.

J. Coriolano foi o caçula de 7 (sete) filhos do casal Gonçalves Correia Lima e Anna Rosa Bezerra. Graças ao empenho e das pesquisas genealógicas desenvolvidas pelo meu tio-avô Raimundo Raul Correia Lima3 e prosseguida pelo pesquisador, historiador e genealogista Ivens Mourão, podemos ter a informação de que J. Coriolano é descendente de Alexandre da Silva Mourão(1720), o

“primeiro Mourão cearense”. Desta feita, possui laços consanguíneos com outro monumento da literatura mundial Gerardo Mello Mourão4 (1917 -2007), considerado por uns, o maior poetado século XX e um dos poucos brasileiros indicados ao Prêmio Nobel de Literatura (1979); além de diversos outros nomes valorosos da literatura regional, que foram integrantes ou não, do clã Correia Lima.

Quanto da infância, J. Coriolano, relembra no poema ‘Crateús’:

... terra, onde a alvorada Primeira pra mim raiou! Onde a primeira morada Meu pai querido assentou! Onde o galo, à madrugada Cantando me despertou! Onde à primeira alvorada Ouvi-lhe o có-corô-cô!

Ainda sobre a envergadura literária de Coriolano, Raimundo Cândido decreta:

Com o surgimento do livro Impressões e Gemidos, publicação feita por fiéis amigos, José Coriolano, a maior figura do romantismo piauiense e crateuense, faz com que a literatura do Piauí deixe de ser um mero produto português, para ser algo genuinamente nacional, pois cultivava um compromisso com raízes locais, através de um sentimento nativista que passou a fixar teluricamente a paisagens e a alma da gente piauiense. Por isso foi consagrado o Príncipe dos Poetas naquele estado.5

O membro permanente da Academia Piauiense de Letras Francisco Miguel de Moura,em seu artigo ‘J. Coriolano - patrono da literatura do Piauí’ corrobora com esse pensamento acrescentando que J. Coriolano não fora somente “Príncipe” como também fundador da literatura piauiense:

Ícone da nossa literatura, diria mesmo que, com seu livro póstumo Impressões e Gemidos, de 1870, torna-se o fundador da literatura piauiense. Antes dele, praticamente não havia instituto da literatura em nosso meio, como conhecemos hoje, pelo menos com tantos autores e livros, e, sobretudo, leitores e estudiosos.

Porém, essa afirmativa encontra oposição na declaração do pesquisador Cláudio Carvalho Fernandes, que em seu trabalho intitulado de: ‘Surgimento e Desenvolvimento da Poesia no Piauí’, o mesmo traça um detalhado histórico dos primeiros trabalhos poéticos realizados por piauienses, inclusive dividindo sua tese em fases. Vejamos o que afirma Fernandes:

Foi sob o signo da poesia que a literatura surgiu no Piauí, com a obra “Poemas”, de Ovídio Saraiva de Carvalho e Silva, primeiro poeta piauiense, sendo publicada no ano de 1808, em Lisboa, como produto da sociedade cultural portuguesa, nada tendo de piauiense além da origem de seu autor, que nasceu na antiga Vila de São João da Parnaíba, em 1787. Por sua família ser abastada, fez seus estudos em Portugal, bacharelando-se em Ciências Jurídicas pela Universidade de Coimbra. (Grifo nosso)

Nessa fase, ao qual o pesquisador nominou de 1ª Geração, ele a subdivide em 2 (duas) subfases, a Neoclássica (1808 -1870) e a Romântica (1870 -1889). A primeira seria representada pelos escritores Ovídio Saraiva de Carvalho e Silva e Leonardo de Nossa Senhora das Dores Castelo Branco de Carvalho. Já a segunda, teria como expoentes os seguintes nomes: José Coriolano de Souza Lima, Hermínio de Paula Castelo Branco, Theodoro de Carvalho e Silva Castelo Branco, Joaquim Ribeiro Gonçalves, Luiza Amélia de Queiroz Brandão e Lycurgo José Henrique de Paiva.

Visto isso, embora defenda a tese e transfira a outro escritor, a honra de ter fundado a literatura piauiense, Fernandes reconhece a importância e a robustez da obra de Coriolano:

A literatura no Piauí deixou de ser um produto português com o surgimento do livro “Impressões e Gemidos”, de José Coriolano de Souza Lima, a maior figura do romantismo piauiense, cultor de significativo compromisso com as raízes locais, através de um sentimento nativista que passou a fixar teluricamente as paisagens e a alma da gente piauiense.

Em artigo, outro entusiasta e pesquisador da vida de Coriolano, Júnior Bonfim, lucidamente assevera:

Aclamado Príncipe dos Poetas Piauienses, é considerado o talhador da pedra fundacional da literatura Piauiense. (...) José Coriolano é a materialização inconteste dessa assertiva bíblica. Nascido entre as babugens destes solitários torrões, na fazenda Boa Vista, quando Crateús era conhecida por Vila Príncipe Imperial, resplandeceu nos cerimoniosos espaços em que pontificavam os luminares da cultura nacional. Coriolano foi um fidalgo das letras que construiu uma obra impagável e inapagável de devoção às maravilhas Divinas, de paixão pela Natureza e por todos os animais, de modelar sintonia com a mulher amada, de culto aos altos valores da Justiça e da Liberdade!

Quanto da sua vida privada, estudos dão conta de que na primeira década de vida, J. Coriolano apaixonou-se cegamente por sua sobrinha Maria Cisalpina Correia Lima (1837 - 1894) de tenros 2 (dois) anos de idade. Encontro esse, que incitou a feitura dos seguintes versos: “eu contava dous lustros, tu dous ano / Quando nosso himeneu foi resolvido”. Com esse amor arrebatador e sanguíneo, não deu outra. Casaram-se em 24 de janeiro de 1859; quando Coriolano se encontrava no último ano como acadêmico de Direito. Logo depois, o casal é agraciado com a vinda de sua primogênita, no dia 26 de outubro.

Nessa época, o poeta Coriolano dividia a vida entre seu eterno amor, seus estudos acadêmicos e sua produção literária. Fontes não muito exatas dão conta de que o casal tivera 5 (cinco) filhos, a maioria com destino não muito bem-aventurado, ou seja,perecendo antes mesmo de chegar a fase adulta. Eram eles: Maria Gerson, Ana Rosa, Joana Coriolano, José Coriolano e Josefa Coriolano de Sousa Lima.

Na vida profissional, como não poderia deixar de ser, ofereceu grande préstimo a sociedade exercendo com enorme esmero as carreiras públicas de jurista e político. Retrocedendo um pouco nos fatos, é bom que se diga que nos idos do ano de 1854, na cidade de Olinda no estado de Pernambuco,o poeta concluía, sem grandes percalços, seus estudos iniciais em Humanidades. Esse preparatório era um dos requisitos primordiais que antecipava o ingresso dos pretensos candidatos a uma vaga na conceituada Faculdade de Direito em Recife6. Fato esse, que ocorreu no ano subsequente. A famosa e também chamada de Escola de Recife, foi o maior berçário de intelectuais e pensadores e de onde nasceu as Ciências Sociais do Brasil.

Logo no primeiro ano de faculdade, teve de lhe dá com substantivas perdas de amigos próximos, compondo inúmeros poemas de título Nênia7, que significa canto fúnebre em homenagem aos recém-falecidos.

Vejamos um breve trecho de um poema que o Poeta confeccionou quando da morte de seu patrício e amigo estudante J. Pires Ferreira:

Nem mais lágrimas, nem canto, Que talvez se ofenda o céu. - Vida! Morte! Eternidade! Mistério da divindade, Quem pode rasgar-te o véu?

Nas férias da faculdade, era muito comum J. Coriolano aproveitar o seu tempo para dedicar-se à sua vida familiar ou à literatura. Em 6 de dezembro de 1859, é conferido ao poeta o grau de Bacharel em Ciências Sociais e Jurídicas pela renomada Escola de Recife. Nessa mesma época, é eleito para o primeiro mandado como Deputado Provincial pelo estado do Piauí, por homologação do3º círculo eleitoral.

Seguindo sua carreira política, durante a sessão legislativa de 1865, J. Coriolano, é eleito pela segunda vez, deputado provincial, só que dessa vez ocupando a honrosa cadeira de Presidente da Egrégia Casa legislativa. Em 1866, o parlamentar Coriolano, devidamente alocado como Magistrado em Pastos Bons/MA, abdica dos seus 23 votos concedidos, espontaneamente, pelos seus pares. Essa nobre atitude tomada se deu, para não prejudicar um amigo, que acalentava pretensões a uma vaga como Deputado à Assembleia Geral.

Em nota, no jornal teresinense A Imprensa, J. Coriolano, se mostra surpreso e agradece a expressiva votação:

Lendo na “Imprensa” de 3 de fevereiro do corrente ano, nº 28, o resultado da apuração de votos da eleição a que se procedeu nessa província para um deputado geral, vi que me haviam honrado com 23 votos. Pois bem: declarando a quem me ler que estava longe de supor que me dessem um voto, porque não tive a ideia de preterir nesse sufrágio a muitos patrícios que me precedem em serviços e inteligência, devo, todavia, assegurar a esses amigos que me distinguiram com os seus votos, que muito e muito os estimo e agradeço: 1º) porque de modo algum embaciaram o triunfo de meu ilustrado patrício e parente, o Exmo. Sr. Dr. Antônio Borges Leal Castelo Branco; 2º porque foram voluntários e inspirados.

Pastos Bons, no Maranhão, 6 de maio de 1866.

Como jurista, também, não deixou por menos. Sua vida profissional era fortemente marcada pela oscilação de cargos entre as atividades políticas-legislativas e judiciárias. Enquanto Vice-presidente da Assembleia Legislativa, em meados de 1860, Coriolano se retira para a comarca de Piracuruca/PI, para assumir a nomeação de Promotor Público da cidade. Em março de 1863, Coriolano assume a chefia do juizado municipal de Codó na província do Maranhão. Dois anos depois, por força do Decreto de 1º de maio de 1865, José Coriolano fora nomeado Juiz de Direito da comarca de Pastos Bons, também no Maranhão. Infelizmente, sua atuação como jurista e até mesmo como político, ainda são muito pouco estudadas.

Para não dizer que o Estado fora totalmente insensível e omisso a obra do ditoso poeta, é justo dizer que em 1870, graças ao empenho de seu pai e alguns amigos de Coriolano, fizeram o vate se

encorajar para publicar algumas de suas poesias. Essa obra teve o nome de Impressões e Gemidos. A ideia era publicar seus escritos em dois volumes. O Governo do Piauí bancou a primeira tiragem do primeiro volume. O segundo, por conta do boicote as ideias republicanas do Poeta, o governo decidiu não mais publicá-lo.Por esse motivo,nunca mais foi publicado, nem por conta própria, nem por apoio oficial. Quase um século depois, nos idos do ano de 1973, o Governo piauiense, na gestão do Engenheiro Civil Alberto Tavares Silva, publicou a reedição de seu único livro Impressões e Gemidos, só que desta vez, contando com o título Deus e a Natureza em José de Coriolano.

Nesse diapasão, advogado e escritor Júnior Bonfim, acrescenta:

O apelo final do conceituado órgão de imprensa quedou-se insuficiente para evitar que cerca de cento e trinta poesias inéditas de José Coriolano sumissem no cânion do tempo. Apenas dois livros seus foram à linotipia: ‘O Touro Fusco’, concluído em 22 de fevereiro de 1856; e ‘Impressões e Gemidos’, publicação póstuma de 1870 viabilizada através de amigos seus. 8

Em meio a toda essa conturbada vida profissional, o azafamado Poeta, ainda arranjava tempo para atuar como acadêmico e jornalista, veiculando suas poesias e notas de cunho político ou jurídico de interesse público em jornais, bem como participando de Revistas Acadêmicas ou Literárias. Teve trechos de suas obras publicadas em veículos impressos, tais como: Ateneu Pernambucano, Ensaio Filosófico, Revista Acadêmica, Arena, Íris, etc.

É chegado então, o inescusável momento do chamado celestial final: o apocalipse do ser individual. Depois de tanto, e em certa medida já ter extrapolado todos os cumprimentos de suas obrigações e deveres, possíveis e inimagináveis, como um cidadão exemplar e diferenciado; Deus, o Senhor Supremo de todo o universo, convoca o J. Coriolano para o Reino Celestial, atravessando assim, o portal, que reparte a enfadonha vida terrena, para a camada superior da imortalidade nos céus, onde tudo é perfeito as ruas são de ouro e onde as fontes emanam leite e jorra mel, a destra do Senhor.

Nessa altura, encontrava-se já há quatro anos como zeloso Juiz na cidade Pastos Bom no estado do Maranhão. Contando com seus exatos 40 anos e importunado por uma grave congestão cerebral, o Poeta se dirige a cidade próxima de Caxias, sendo medicado pelos facultativos D. F. de Gouveia Pimentel Beleza e R. Mendes Viana. Ainda sim, vendo que os fármacos não haviam surtido muito efeito e antevendo o pior, ao escritor, é prescrito o regresso ao seu berço que tanto amou, no intuito de ficar próximo aos seus, gozando de ar fresco e relembrando as paisagens de sua infância.

Seu primo, o Dr. Manuel Ildefonso de Souza Lima, foi um dos primeiros a noticiar para amigos, o tombamento do agora, imortal, poeta:

Príncipe Imperial, 26 de agosto de 1869 - dou-lhe a tristíssima notícia de ter falecido ontem pela manhã o nosso amigo José Coriolano. Agravando-se os seus incômodos, em virtude de uma constipação que apanhou, sobrevieram-lhe males tais que dentro de dois dias deram cabo de sua existência! Chego neste momento de seu enterro, e sabendo que o correio está próximo a partir, faço-lhe esta apressadamente, sem tempo para dirigir-lhe a outros amigos. O nosso amigo faleceu como uma criança, sem fazer o menor movimento e sem ser visto pelas pessoas que estavam em seu quarto. Não estava presente o vigário Macedo; mandamos a Independência e Vertentes convidar os padres Ricardo e Galvão, e nem um deles veio: o primeiro por motivar incômodos e o segundo por estar doente, de sorte que o nosso amigo não teve encomendação alguma.

Na mesma linha, o Jornal Piauiense O Liberal, edição Nº 35, assim comunicou a sociedade piauiense seu passamento:

O Dr. José Coriolano de Souza Lima, juiz de direito da comarca de Pastos Bons, na província do Maranhão, acaba de falecer na vila de Príncipe Imperial. Quis a providência que, depois de uma peregrinação de muitos anos, ele fosse deixar os ossos na terra do seu berço, ao lado de seus progenitores, lá onde pela primeira vez a esperança lhe sorriu, nos lábios puros da virgem que tanto amou, e depois foi sua esposa. Havia já alguns meses que o anjo da morte adejava-lhe em torno, e segredava ao coração de seus amigos palavras d’além túmulo. Mas, por fim, parecia que a saúde voltara a garantir por mais tempo a existência do ilustre magistrado. De Príncipe Imperial escrevia o Dr. José Coriolano, pouco antes de morrer, a um seu amigo desta capital: passo os dias contente, bebo leite suculento das vacas destes sertões, banho-me nas águas cristalinas do açude, respiro o ar puro de minha terra - que vida, meu amigo!

Não se tem notícia do estado real (nem é relevante, pois presume-se que a consternação tenha sido geral) da sua Esposa, nem de amigos e parentes, dos detalhes do velório, nem quem, nem quantas pessoas compareceram a solenidade fúnebre. Seus Restos mortais, hoje, se encontram em urna funerária, bem na entrada principal, a esquerda da Igreja Matriz de Crateús/CE, a Catedral do Senhor do Bonfim. No dia 30 de novembro de 1947, num domingo, em missa solene, o Pe. José Maria Moreira do Bonfim abençoa a lápide. Certa feita, também, conta a crônica crateuense, que o poeta Gerardo Melo Mourão, aportou na cidade para receber o título de cidadão honorífico na Câmara dos Vereadores. Quando saiu, ao fitar os olhos esbugalhados onde havia o busto de J. Coriolano, num súbito de trágico desespero, ergueu os braços, rumo ao espaço vazio e clamou firme: “MEU POVO, CADÊ O JOSÉ CORIOLANO!?”.

Como cenas do próximo capítulo, graças a um consórcio puxado por alguns dos “Querubins” de Coriolano, a cidade pôde dá outro importante passo no resgate da memória do estimado poeta. Seu busto foi confeccionado e recolocado ao lado da Igreja Matriz, graças a iniciativa da Academia de Letras de Crateús, principalmente, na pessoa de Edmilson Providência, Flávio Machado e Raimundo Cândido. A façanha contou, também, com a colaboração do Poder Público e de vários conterrâneos como diversos populares, artistas, entusiastas, intelectuais e autoridades, como o Prefeito Dr. Carlos Felipe e o Dr. José Arteiro Goiano (do Ministério Público) e de Ivens Roberto de Araújo Mourão, trineto do poeta, que na oportunidade, doou um manuscrito original de José Coriolano para a Academia de Letras da cidade.

Notas Bibliográficas e Explicativas 1 TEIXEIRA FILHO. Raimundo Cândido. Cratheús: do portão da feira aos galos da torre. Fortaleza; Premius, 2012, página 117.

2 TEIXEIRA FILHO. Raimundo Cândido. Ob. Cit. pg.119.

3 Raimundo Raul Correia Lima nasceu em janeiro de 1912 na cidade Crateús/CE. Filho de José Amâncio Correia Lima e da educadora Amália de Souza Lima. Foi professor, escritor, genealogista e escreveu vários livros dentre eles: Crateús: dos índios Caratiús ao homem civilizado e Meus Avós: As Origens da Família Correia Lima e outras.

4 Gerardo Magela Mello Mourão 1917 - 2007). Foi poeta, ficcionista, jornalista, tradutor, ensaísta, biógrafo e foi eleito em 1997, pela Guilda Órfica (antiga irmandade secular de poetas) “O Poeta do século XX” e um dos poucos brasileiros indicados ao Prêmio Nobel de Literatura (1979). Com a sua obra A Invenção do Mar

ganhou o Prêmio Jabuti de 1999. Escreveu também O país dos Mourões (1963); Os Peãs (1982); A invenção do saber (1983); O Valete de espadas (1986); O Nome de Deus (2007) e várias outras.

5 TEIXEIRA FILHO. Raimundo Cândido. Ob. Cit. pg.121.

6 A Faculdade de Direito do Recife da Universidade Federal de Pernambuco, foi o local onde aflorou um dos mais importantes movimentos poéticos, críticos, intelectuais, filosóficos, sociológicos, folclóricos e jurídicos do Brasil no século XIX. Conhecido também como “Escola do Recife” ou “Geração de 1871”. A faculdade foi instalada por força da Carta de Lei no ano 1827. Diversos outros nomes passaram pela faculdade, dentre eles citamos: Castro Alves, Joaquim Nabuco, Abelardo Lobo, Vitoriano Palhares, Sílvio Romero, Clóvis Beviláqua, Graça Aranha, Martins Júnior, Faelante da Câmara e muitos outros.

7 Nê.ni:a [Lat. nenia.] Substantivo feminino. 1. Canto fúnebre. -Dicionário Aurélio.

8 ACADEMIA DE LETRAS DE CRATÉUS. Crateús: 100 anos. Fortaleza: Expressão Gráfica e Editora, 2011, pg. 165.

SÓ UM ANJO SERÁ

A flor que melindrosa se baloiça No melindroso, delicado pé,

Não é como o meu bem tão melindrosa, Não é, não é, não é!

A aurora que o levante purpureia, (1)

21Que os horizontes colorindo vem, Não tem aquelas lindas, róseas faces,

Não tem, não tem, não tem!

A brisa que sussurra nas palmeiras É doce quando a tarde em calma está;

Mas voz tão maviosa como a dela Não há, não há, não há!

A flauta (2) que desoras (3) suspirando Quebra da noite a plácida soidão, (4) Não é como o seu canto – direi sempre

Que não, que não, que não!

Se alguma virgem bela ataviou-se Para mais realçar o todo seu,

Esse todo o meu bem – sem atavios – Venceu, venceu, venceu!

Su’alma e coração são compassivos, Ela tem o candor de um serafim, (5)

É, sim, a minha amada um tipo d’anjo; É, sim, é sim, é sim!

Só um anjo de Deus, dos céus baixado,

Que à celeste mansão remontará, Será como o meu bem perfeito e puro,

Será, será, será!

21 Comentários 1) Purpureia. Verbo purpurear. Dar cor de púrpura (vermelho escuro) 2) Flauta. Também frauta. Formas variantes. 3) Desoras. Melhor que o poeta houvesse empregado a locução a desoras, fora de horas, alta noite. Também se usa a desora, como neste passo de Manuel Bernardes: “... estrondos noturnos que a desora se ouviam”. 4) Soidão. Forma antiquada de solidão. Felinto Elísio empregou-a: “Na soidão dos escuros corredores”. 5) Serafim. Nome de entes celestiais que estavam à roda do trono de Deus, na visão de Isaias. Cada um deles tinha seis asas: com duas cobriam a face, com outras duas cobriam os pés e com duas voavam. Figuradamente, pessoa formosa.

SOBRE O MAR22

Aos crebos (1) sons das empoladas ondas, Que o barco fende, perpassando ovante,

Modelo as dores de meu peito aflito, Afiro as mágoas de meu peito amante.

Solitário entre o mar e o firmamento, Procuro serenar meus tristes males,

Porém o pensamento esbaforido Erras nestes azuis, equóreos (2) vales.

Por que sulcando as ondas marulhosas,

Arrisco minha vida já precária? Por que não findar meus tristes dias

No seio de uma gruta solitária?

Mas não! Morrer sem vê-la, longe dela Fora morrer mil mortes num só dia. Morrer!... quero viver para fitá-la...

Morra depois embora de alegria.

Quanta vida reluz nos seus encantos! Nos seus olhos gentis quantos fulgores!

Mas eu... pobre de mim! – luto co’a (3) morte, Gemo ao recontro de pungentes dores!

Talvez que os frescos ares que respira, Me façam renascer, voltar-me a vida; Talvez que do seu hálito no ambiente

Possa minha saúde ser mantida.

Talvez! Avante, ó barco e bem depressa! Leva-me ao suspirado porto amigo;

Oh! leva-me, que eu tenho neste peito Muitas saudades que afogar comigo.

22 Comentários 1) Crebo. Repetido, amiudado. 2) Equóreos. Relativo ao mar. Origem latina. 3) Co’a. Noutro local deste livro há comentário sobre co’a

HINO AO CRIADOR23

Senhor, tu és o Deus, o pai celeste, Que minha mãe adora ajoelhada;

Por mim, por meus irmãos, por meus parentes, Por todos, neste mundo, ela não cessa

De dirigir-te aos céus freqüentes súplicas. Suas lágrimas que manam saudosas

Por meu Pai, que ela amava mais que tudo, Depois do teu amor que ao dele excede, São outras tantas preces que se elevam A ti, Senhor, por seu repouso eterno! Tu foste de meu Pai o deus propício;

Por ti acrisolou-se na virtude Vivendo como vive o justo e o sábio,

Morrendo como morre o sábio e o justo.

Senhor, o teu poder tudo proclama: O inseto humilde que se escapa aos olhos,

A enorme fera que no corpo avulta, A dura pedra, o vegetal virente,

A terra, o espaço, o céu, a luz, as trevas, E o homem que fizeste à imagem tua.

Àquele lindo arroio que serpeia

Por entre flores, ervas e pedrinhas, Mandaste-lhe correr sereno e puro,

E o arroio correu! Àquele mar sanhudo que de encontro Vem quebrar-se nas duras penedias,

Mandaste-lhe gemer nos seus embates, E o mar, Senhor, gemeu!

Àquela várzea, que verdeja ao longe,

Àqueles férteis prados recamados De mimoso capim, por onde pastam

De minha Mãe as brancas ovelhinhas, Mandaste a chuva fecundar no inverno,

E a chuva os fecundou! Mandaste à terra que seu seio abrisse,

E nele recebesse o grão que a vida Dos povos alimenta; e ao grão mandaste Crescer e produzir: e o grão crescendo,

Aos olhos do colono, que o mirava, Produziu e vingou! (1)

23 Comentários: 1) Vingou. Empregado no sentido de amadurecer, medrar, crescer: as sementeiras vingaram. 2) Pinha. O mesmo que ata, fruta. 3) Pintassilgo. Pássaro 4) Descantes. Concerto de vozes. 5) Cravo. Flor do craveiro 6) Bogari. Flor. Também se diz bogarim 7) Lírios. Flor. 8) Lhos. Combinação dos pronomes átonos lhe e os: dita a razão a ele (lhe) homem estas cousas (os). 9) Hosana. Noutro local há comentário sobre hosana.

Oh! quanto o meu Senhor foi previdente

Quando do mundo tirou do caos horrível! Como estas laranjeiras fez sombrias E lhes deu flores e dourados frutos!

Como à pinha (2) lhe deu sabor tão grato! Como deu à romã tão doces bagos!

Senhor! Tu és a fonte donde emanam

Vida e prazer, amor e poesia! O doce sabia nos seus gorjeios,

O lindo pintassilgo (3) nos seus descantes, (4) O canário amarelo em seus trinados,

As aves da soidão, que amam as trevas, Tudo, tudo, Senhor, Deus de proclama

Imenso, Criador, Onipotente!

Não te saúda a rosa quando se abre Aos beijos da manhã na voz da brisa? Não são tipos de amor que te revelam

O cravo (5), o bogari , (6) os brancos lírios? (7)

Múltipla a natureza em elementos, Tudo tem sua voz para louvar-te:

As flores o perfume; o canto as aves; O mar seus escarcéus; o sol fulgores; O céu, onde rutilam tantos mundos,

Milhões de estrelas que cintilam belas; E o homem, ledos hinos de harmonia,

Do coração brotados fervorosos, Que lh’os (8) dita a razão por teus favores.

Hosana, (9) a Deus nos céus! Na terra Hosana!

Ó Deus de minha Mãe, Deus piedoso, Que na terra e no céu meu Pai amava,

Aceita deste mísero vivente As flores, os incensos que te envia

Nos seus versos de amor; - flores, incensos, Sem galas, sem perfumes, sem sinceros, Filhos d’uma alma que te adora crente. Oh! aceita-os, Senhor! se não desprezas

A voz da brisa, o sussurrar da fonte, O bulício das ramas que te elevam

Um cântico de amor fervente e terno, Jamais desprezarás a voz daquele Que por ti modelaste na feitura,

Superior à toda natureza E somente sujeito ao teu destino.

Sim! aceita-os, Senhor, e teus favores Derrama-os sobre mim, por piedade, E sobre minha Mãe e minha amada,

E sobre os meus irmãos e a Pátria minha. Derrama-os. Minha voz será constante,

Senhor, em proclamar-te o Deus propício De meus Pais, - o meu Deus que adoro humilde.

A VIRGEM E A ROSEIRA24

Linda virgem pensativa Vagava só num jardim,

Seu rosto estava tristonho Amor a tornara assim.

Seus olhos não tinham vida,

Nem suas faces rubor, Que uma rival despiedada (1)

Lhe roubara o seu amor.

Viu numa bela roseira Um semi-aberto (2) botão,

Querendo a virgem colhê-lo, Estendeu-lhe a nívea mão.

Diz-lhe a roseira; “Donzela,

Acaso algum mal te fiz?” A mão recolhendo a virgem: - Não roseira, assim lhe diz.

- Não supus que mal fazia - Em tirar-te este botão; - Pra suprir a falta deste, - Outros muitos brotarão.

Tornou-lhe a verde roseira:

“Tu virgem, não pensas bem! Se um amante te hão roubado,

Procura, pois, outro bem.

Mas, se àquele só votavas Tua extremosa paixão, Eu dentre todos prefiro Também só este botão.”

Linda virgem pensativa, Que vagava num jardim,

Voltou cismando mais triste! Amor a tornara assim.

24 Comentários 1) Despiedada. Que não tem piedade. Cruel.

2) Semi-aberto. Semi é o elemento latino com a significação de a) quase; b) metade, meio; c) um tanto.

FELIZ TEMPO25

Momentos felizes, momentos ditosos Em que desfrutei

Tua meiga presença, teu rosto de graças, Em que me arroubei;

Mas eles se foram, passaram veloces (1) E eu triste fiquei.

Contudo, Maria, meu peito consulto,

Responde: não sei! Lhe noto incerteza, por isso em meus braços

Te unir poderei! Venturas me agoura? (2) Contigo momentos

Felizes terei!

Agora somente me restam gemidos, Pois nada alcancei;

Meus lábios quiseram se abrir e pedir-te, Porém me calei!

Meu fado maldigo; mas como se eu mesmo Meu dano causei?

Ao menos nutrindo tão grata esperança...

Assim viverei; Se a mão delicada me deres de esposa,

Feliz eu serei! Se a mão me negares de esposa, ó querida,

Então morrerei!

Não achas, Maria, tão duro dizer-se: “Jamais o amarei?”

não achas tão doce, tão grato afirmar-se: “Sim, tua serei?”

Pois olha, Maria, sincero te digo: - Eu sempre te amei.

25 Comentários 1) Veloces. Forma latina, muita usada antigamente. Hoje, veloz, velozes.

2) Agoura. Verbo agourar. Empregado no sentido de prever, predizer. Fazer agouro, agourar, hoje se emprega quase sempre em mau sentido.

MUDANÇAS 26

Mudou-s o sol que despontava rindo, Desmereceu-lhe a luz, perdeu o brilho, Embaçado por grossas, pardas nuvens,

Já não difunde raios!

A meiga aurora já não tem primores, Matiz os campos, nem frescura os vales, Murcharam as belezas d’outro tempo,

Que os olhos atraiam!

Não é mais estrelado o céu da noite, Por crepes (1) nebulosos sempre envolto,

Não mostra mais em tela acetinada Da lua o branco disco!

Sob o manto sombrio da tristeza,

Só quebrando a soidão (2) piar sinistro D’aves mil (3) agoureiras, (4) são as noites,

Meu Deus, tão merencórias!

Já não cicia no arvoredo a brisa, Nem além rumoreja o bosque espesso,

Já não serpeiam límpidos regatos Nem sussurra a cascata!

Deixaram de trinar os passarinhos,

Secaram colos (5) e vergéis e prados, Tudo, tudo mudou-se, a natureza

Vai regressar ao nada!

Já balouça o vento as verdes copas As flores não disparsem mais perfumes!

Quem uma tal mudança produzira, Eu bem saber quisera!

Mas, ah! nada mudou-se (6)– eu só me iludo!

Meus olhos, sim, mudaram-se de tristes: Tudo existe no estado primitivo:

Eu somente mudei!

Ainda fulge o sol e do levante Surgindo, ri donoso e luz do mundo, É a aurora serena, e meiga ainda,

Os horizontes doura.

26 Comentários 1) Crepes. Emprego em sentido figurado: cor negra. 2) Soidão. Solidão. Já observada noutro local a palavra. 3) De aves mil. Mil, quando proposto, indica grande quantidade. 4) Agoureiras. Agoureiro; que faz mau agouro. Agouro é predição supersticiosa. 5) Colos. Observação noutro local deste livro. 6) Nada mudou-se. No tempo em que José Coriolano escreveu ainda não estava disciplinada a colocação dos pronomes átonos. 7) Cismas. Receio supersticioso. Meditação. Neste sentido é feminina. Cisma no masculino significa desacordo, desunião. Rebelião pela qual as pessoas se separam da sua religião.

De estrelas coruscantes é juncado Ainda o céu de anil, onde passeia

A branca lua, que um lençol de prata Estende sobre a terra.

São as noites tranqüilas, não as cobrem

Tristes mantos que induzam tristes cismas: (7) Sob a mangueira lá suspiram langues

Dois amantes felizes.

A brisa no arvoredo ainda cecia, Ainda rumoreja o bosque espesso, Serpeiam os regatos com doçura,

Ainda rui a cascata.

O vento ainda balança as verdes copas, As flores ainda exalam seus perfumes,

Tudo existe no estado primitivo, Eu somente mudei-me!

Ainda as aves docemente trinam,

Só meus olhos de triste se mudaram, Vendados da incerteza nada enxergam,

Lânguidos sem vida!

Desgraçado de mim que tudo vendo, Da paixão ofuscado nada vejo;

Se a brisa me bafeja murmurosa, Rijo tufão concebo!

Ah! triste condição é do amante

Que, vendo, nada vê de quanto o cerca, Embora tão patente como o lume

Que o sol derrama a pino!

E assim vivo, ó meu anjo, ó doce amada, Deslumbrado co’a luz desses teus olhos,

Que rompendo a amplidão imensa e vasta, Minha razão ofuscam!

*Feita em São luís do Maranhão

GOZEMOS27

Dos lábios teus mimosos, que espargem mel e aroma, Que o néctar, (1) que a Ambrósia (2) mais doces, mais cheirosos,

Fazei, ó minha amada, fazei-me uma redoma, Aonde os meus se fartem de amor, de puros gozos.

A vida é transitória, momentos poucos dura,

Convém sugar-lhe o crêmor, (3) enquanto não se esvai, Que em vindo a feia morte, na fria sepultura

Desfazem-se os prazeres, no espaço como um ai.

Gozemos, minha amada, no mais langue transporte Do néctar dulçuroso que a vida nos franqueia, Enquanto nossos corpos não gela a fria morte,

Enquanto ao céu noss’alma não aleia. (4)

A vida é um grande peso de horrível sofrimento, Se não se suavizasse nas práticas do amor,

Seria um anteinferno (5) de dor e de tormento, Pior que escuro ergástulo, que acúleo (6) afligidor.

O gozo não é crime se além da natureza As asas não infecta no lodo da licença;

O gozo puro e santo sublima, dá nobreza, E não ofende a alma, de Deus centelha imensa.

E pois, ó minha amada, gozemos neste mundo, Que o gozo puro e santo também é do mortal;

Só no antro das torpezas, no gozo infrene, imundo, Se ofende os bons costumes e a boa e sã moral.

27 Comentários 1) Néctar. Bebida dos deuses na mitologia dos gregos e romanos. Bebida deliciosa. 2) Ambrósia. Manjar dos deuses. Manjar delicioso. 3) Crêmor. Cozimento feito com o suco de uma planta (Nascente). 4) Aléia. Verbo alear, antiquado. O mesmo que adejar, voejar. 5) Anteinferno. No composto, há o elemento ante, que indica contrariedade, contrário. 6) Acúleo. Espinho.

CLORES HOLANDA

ANDANÇAS NUMA TARDE CHUVOSA DE MARÇO

Andando pelas ruas do Centro Comercial de São Luís segui sem companhia. Trilhei caminhos no compasso dos anos vividos numa caminhada de nostalgia. Nessa passagem vivi momentos de desilusão. Caminhando, olhando e parando observei tudo ao meu redor. Encontrei calçadas quebradas onde o esgoto escorreria provocando um forte odor. Cruzei asfalto esburacado em tarde chuvosa na Ilha do Amor. A cidade desfigurada e maltratada pede socorro por não suportar tanta dor. Lixo acumulado em frente às lojas e prédios sem preservação por descaso do seu gestor. Ocupação irregular por vendedores informais por ausência de fiscalização. Ruas maltratadas, casas desgastadas, e muitas lojas de portas trancadas. Muitas promoções em cada estabelecimento comercial sendo poucos os que compravam. Lojas esvaziando na tentativa de vender suas últimas peças, amareladas com cheiro de mofo. O povo sumiu. Cadê o freguês? Quem vai comprar? E quem pode comprar? Em cada passo dado, o impacto dos meus pés nos paralelepípedos incompletos da Rua Grande. Atravesso ruas e sigo meu caminhar numa tarde chuvosa de março. Comigo guardo lembranças do meu olhar por esta cidade quando aqui cheguei em 1975. O centro comercial de São Luís foi palco de desfiles de moda, encontros e desencontros. Hoje busco passear em shopping para alimentar a minha vaidade, aguardando por um momento de calma aparente.

DILERCY ADLER

INCONTIDO PRAZER Escalas monte relva macia dia a dia! penetras a terra sal da vida e morte entre as pernas do tempo que leva ao vento

vela vinho

luz prazer de toda sorte!! dádiva divina

dilúvio dúvida

desatino desaguando água no meu seio ... seio de sereia ... semente de mulher! elementos do universo que versam o meu corpo e te dão penoso prazer pelo esforço incontido que fazes

para o ter! PESCARIA E POESIA Nem só de poesia vive o poeta também de peixe pescado pescaria sabor de mar sal cheiro verde ou de verdade maré alta e maresia!

ISSO É TUDO...

Tu me encantas quando acalenta

o meu sonho no brilho dos teus olhos

- eu- tal qual

lua desnuda que se veste

na aurora do dia e se despe inteira

atendendo ao apelo imperioso do poderoso sol de abril...

abril que se abre feliz

e se fecha e não se diz... aí o encanto se desfaz

em tons anis!

lágrimas de luz seduz

e diz de mim o que nem eu mesma sei

só sei que tu me encantas quando acalentas

o meu sonho no brilho dos teus olhos!

e isso é tudo!....

A MORTE E O MORRER

a morte ronda espreita enquanto o sonho descansa às vezes se sente eleita às vezes tudo a consome... a morte me leva amores me deixa dor desespero mas sei que ela é certeza o encontro com ela a encanta e para o mim é tristeza deixar a vida que amo e não ver crescer sementes de verde vermelho e vidas que amo e amarei sempre sempre! antes e depois dela nada se apagará e viverá -acredito- aqui ali acolá! para sempre eternamente no meu peito a navegar!

EU - NAMORADA Namorada ada ando nadando nas águas revoltas do amor me afogo... me salvas ferrando afagos com fogo em brasa gosto salobro de amor vencido validade ultrapassada... mendigo o teu amor mesmo assim! soçobro nas águas turbulentas do amor não te acho... me encontras no nada que é meu tudo - eu - do amor enamorada - eu - eterna namorada... sem teu amor - te juro - não sou nada!

MICHEL HERBERT FLORENCIO

O MISTÉRIO DA CRUZ.

Quão grande mistério encerra tua morte Jesus; Quão grande sacrifício fez Ele por nós lá na Cruz, Entregue aos seus pelas mãos dos homens Pelo determinado conselho e pre- ciência de Deus. Pois sempre havias inabalado sempre eterno nos céus; Mas por tão grande amor fez-se carne e habitou entre nós Conheceu nossa incompleta forma de amar e de adorar Como homem conheceu a dor e o medo E não se decepcionou com a corrupção e a traição. Como filho de Deus foi por Ele enviado Para ensinar a comunhão e o partir do pão, o seu perdão e as orações. Tendo tudo em três anos e meio ensinado. À época da páscoa subiu a Jerusalém e pelos seus foi adorado: “Hosana aos filhos de Davi bendito o que vem em nome do Senhor! Hosana nas alturas!” Declarou uma multidão ao meu Senhor. Tendo cumprido ao cabo sua missão Subiu como cordeiro ao matadouro Derramando seu precioso sangue de um sacrifício imolado. O meu coração foi por ele selado e a minha alma do inferno libertado Todos os pecadores que creem foi por este sangue purificado. o homem vil do inferno resgatado. E após três dias Ele mesmo foi por Deus ressuscitado.

O BEIJO DOS TEUS LÁBIOS

Ó lábios, tens a perfeição da alegria No amor és a expressão do coração Num simples gesto todo corpo contagia Eternizando para sempre a emoção

Enquanto as mãos frias se entrelaçam E a luz dos corpos adormecem A um só galope todo corpo se harmonizam Na sintonia de duas almas que se aquecem

Ó lábios, quanto poder há neste teu querer Quanta magia em teu gesto de alegria Mas quando silencias muitos segredos podem ter

O bem e o mal fluem de ti entreaberto Mas do encontro de dois lábios ardentes Fazemos da eternidade um bem presente.

O LIVRO

Quem ousará desvendar teus mistérios? Fechado, és “um universo” inexplorado... sem matéria, sem astros, sem luz, sem seres, sem galáxias. “ Buracos negros” entre capas. Quem sondará teus tesouros ocultos?

Livros fechados. Todos iguais. Quem alcançará o seu limite? se não aqueles que penetrar por suas entrelinhas? Como degustar suas delícias? se por lábios anônimos os fonemas não ganharem vidas?

Quem contemplará seus frutos? Se das Palavras- sementes não germinarem esperança e fé? Quem ousará deixar o lugar-comum? Se os Verbos-alísios não guiarem almas à deriva a um porto seguro? Ou se as frases nobres nos simples não ganharem vidas? Nem suas hipóteses se confirmarem verdades?

Livros abertos, passaporte para o passado. Garantia de gozo no presente. Contém o genoma que em coração fértil brotará no futuro sua essência.

Enfim o livro. Se fruto da vaidade, ainda assim um alimento da alma. Se produto da diligência da ciência não ocultará assim mesmo a Sabedoria.

AYMORÉ ALVIM

A ADÚLTERA.

Por que choras, mulher, O que fizeste? Tu bem sabes, Senhor, Do meu pecado. Das razões que me levaram A este estado De ser julgada como vês Por adultério. Que crime contra vós Foi praticado, Bando de víboras, Fariseus hipócritas? Cumprimos de Moisés A Lei sagrada. Que manda apedrejá-la Ate à morte.

Foi o vosso coração Duro qual pedra. Impregnado de impurezas e paixões. Incapaz de sentir misericórdia Por um tropeço, na vida do irmão. Quem dentre vós a julgará primeiro Se carregais iniquidade, em vossas mãos?

Como vês, mulher, Ninguém te condenou. Nem eu tampouco te condenarei. Vá e sê feliz como mereces E não esqueças: Não peques outra vez. Não te iludas com o fascínio deste mundo. Que corrompe, degrada e aniquila. Mantém teu coração fiel e puro E viverás feliz por toda a vida

NOITES DE VERÃO.

Declina o sol tranquilo, No horizonte, Espargindo pela relva Tons verdes brilhantes, Nos campos da minha terra.

Em revoadas, Pássaros buscam, nas copas, Seu aconchego. Plangentes sons Do campanário partem Prenunciando o cotidiano enredo Do fim de mais um dia. Ave Maria!

Aos poucos, Os multicores raios do sol poente Vão ficando cada vez mais tênues. Um negro manto, no horizonte oposto, Vai se desdobrando sob o teto do céu. Ao longe, pálida e tímida, Emerge a lua, exuberante e linda, Diluindo na sua branca luz A escuridão.

Pontos cintilantes, Quais diminutas pedras de brilhante, Vão pulverizando os céus. Uma doce aragem começa a soprar Lá das bandas da Faveira. Jacus, japiaçocas E as marrequinhas ligeiras Buscam seus ninhos.

A noite avança... As rodas de conversas arrefecem. Apaga-se a luz dos candeeiros. Nas alcovas, um doce chamego Faz chamar o sono. Pinheiro adormece...

NOSTALGIA

Céu nublado, Chuva fina. Nostalgia. Aqui e ali Um relâmpago, um trovão. Vai-se mais um dia. Da janela me deleito. Das folhas caem gotículas Inundando o meu chão.

O pensamento voa... De volta ao passado, Vejo-me criança. Da janela a chuva fina Traz-me a esperança De crescer, avançar Sem deixar de ser feliz.

A Primavera passou. Do calor do Verão só lembranças. O Outono chega ao fim. É o Inverno. Dos olhos tristes, já cansados Gotejam lágrimas Que não regam jamais Nem inundam o meu chão. Apenas levam as esperanças Dos tempos bons de bonança Dos sonhos que não sonho mais.

MENINA DE RUA,

Menina, me diga, Por onde andavas? Estava na rua. Que rua, menina? Na rua do tempo. Que tempo tu falas? Do tempo, na rua, Que levo a passar.

Então o que fazes? Por que me perguntas? Pergunto porque Me interesso por ti. Por mim, não. Mentira. Mentira, por quê? Ninguém se interessa Assim tanto por mim.

Eu vivo na rua Desde pequenina Onde passo meu tempo Tentando sonhar. Eu sonho com o tempo, Embora na rua, Perdendo o meu tempo Podendo estudar.

É essa a lida De quem vai pra rua Lutar pela vida Pra algo ganhar. Agora tu vens Perder o teu tempo Me deixa na rua Quero trabalhar.

Não tenho instrução Pra ganhar meu tempo Ninguém se interessa Pro tempo eu ganhar. E o tempo se passa E a gente na rua Vivendo de sonhos Sem poder sonhar.

E tu o que fazes, Não vais trabalhar? Me deixa na rua Pro tempo passar. Eu passo meu tempo Esperando na rua Que passe depressa Pra tudo acabar.

SAUDADES

Meus olhos se enchem De lágrimas mornas

Que brotam lembranças De onde eu nasci. Da minha Pinheiro

Dos tempos d’outrora Onde a minha infância

De sonhos vivi.

Os campos tão verdes Se enchiam de águas Que brotavam vidas.

Saudades demais! Assim foi Pinheiro

Dos tempos d’outrora, Nos tempos que foram

E não voltam mais

A VOLTA.

Era noite. Uma voz suave Por trás de mim Chamou-me. Atendi. Vi seus olhos brilharem De encontro aos meus. Surpreendi-me. Quem poderá ser? Nunca vi Aquela meiga voz A chamar por mim.

Conversamos por instantes. Percebi. Um fluxo de energia Envolver-nos. Temi por uns momentos Confundir. Que poderá ser isto? Hesitei. Será nova primavera A me florir? Sinceramente, eu digo Que não sei.

Bem ao longe, discreta, Nos olhava. A branca lua,

Cupido dos amantes, Refletindo, em meus olhos, Com sua luz suave O ouro dos seus cabelos Fascinantes. Uma empatia diferente Renascia, Naquele mesmo instante, Entre nós, Até quando? Não sei. Que seja ardente Enquanto dure o tempo Para nós.

Senti-me emergir, Por entre névoas, De um longo dia No qual eu mergulhei, Vivendo só de sonhos e lembranças, Em fantasias, quimeras Naveguei. Mas o sol do meu poente, Novamente, Está de volta ao meu nascente, Outra vez.