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A gestão do conhecimento surgiu há 20 Anos, com A promessA de resolver o problemA do excesso de informAções coletAdAs pelAs orgAnizAções. estA reportAgem buscA explicAr por que o problemA persiste e ApontAr o que fAltA pArA que As empresAs reAlmente conheçAm o que precisAm conhecer AltA gerênciA Fotos: iStock HSMManagement 90 • jAneiro-fevereiro 2012 hsmmanagement.com.br 134

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A gestão do conhecimento surgiu há 20 Anos, com A promessA de resolver o problemA do excesso de informAções coletAdAs pelAs orgAnizAções. estA reportAgem buscA explicAr por que o problemA persiste e ApontAr o que fAltA pArA que As empresAs reAlmente conheçAm o que precisAm conhecer

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Big Data, banco de dados gigantesco que a firma de consultoria McKinsey proclamou em março de 2011 como “a próxima

fronteira para a inovação, competiti-vidade e produtividade”, é, na verda-de, uma fronteira anterior com nome novo. Trata-se da manifestação mais recente da revolução da gestão do conhecimento, que começou seria-mente em 1991, quando o artigo de Thomas Stewart na revista Fortune, intitulado “Brainpower” [Poder da mente], apresentou o conceito para as elites corporativas norte-americana. Grandes companhias construíram um

capital intelectual imenso na forma de know-how e dados sobre tudo. No entanto, esse capital, por ser informal, raramente é explorado ou mesmo re-conhecido pela maioria das empresas.

A promessa da gestão do conhe-cimento foi a de tirar proveito dessa vantagem competitiva despercebida. Porém, como está ficando embaraçosa-mente claro, as empresas responsáveis por catástrofes recentes nos negócios tinham pilhas de dados à disposição, mas agregaram muito pouco conheci-mento sobre riscos e nenhuma sabedo-ria à tomada de decisões.

O que de mais importante as orga-nizações realmente aprenderam nos

últimos 20 anos é que gerenciar o co-nhecimento exige mais conhecimen-to tanto sobre o conhecimento em si como sobre gestão do que a maioria das grandes companhias parece ter.

conHecendo conHeciMentoS conHecidoSA gestão do conhecimento hoje está sentada à mesa dos adultos. Qual-quer grande empresa ficaria enver-gonhada de admitir que não tem ver-sões próprias de sistemas de lições aprendidas, comunidades online de práticas, sistemas de “localização de experts”, bíblias de melhores prá-ticas e workshops de compartilha-mento de conhecimento.

Essas ferramentas permitiram a algumas companhias controlar o fluxo de informação da mesma for-ma que seus predecessores controla-ram o poder da água corrente para movimentar máquinas. A maioria, infelizmente, administra o conheci-mento empresarial de maneira mais cara do que intensiva.

A reportagem é de James Krohe Jr., colaborador do the conference Board review.

•• É sabido que a internet e os aplicativos de gestão do conhecimento dão às empresas um mar de informações. Isso, porém, ainda não está sendo bem aproveitado para a melhoria da gestão.•• Principal motivo? Os gestores têm dificuldade para reconhecer o conhecimento tácito, vindo da experiência de trabalho, mais ainda para registrá-lo, e muitas organizações não conseguem registrar os processos nem a ponto de aprender com os próprios erros.•• Pesquisas comprovam, contudo, que o uso de dados e análises racionais realmente altera a percepção dos gestores e promove resultados muito mais eficazes no que se refere a desempenho.

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Gerenciar o conhecimento é real-mente difícil. É, ao mesmo tempo, um processo, um resultado e uma maté-ria-prima, que corta todos os limites institucionais familiares. É por isso que algumas empresas baseiam seus esforços de gestão do conhecimento no departamento de tecnologia da informação (TI); outras, em recursos humanos; algumas, em departamen-tos de “estratégia de negócios”; e ou-tras, ainda, em departamentos cria-dos apenas para esse fim.

Talvez de maneira sensata, a maioria das organizações evita qual-quer tentativa de gerenciar o conhe-cimento, contentando-se, em vez disso, com gerenciar a informação, que é a forma mais rudimentar de conhecimento. Esse tipo de gestão é basicamente uma operação de lim-peza doméstica, com o objetivo de li-berar pessoal de todos os níveis da ti-rania da caixa de entrada de e-mails lotada, do calendário transbordante

de reuniões, dos memorandos com mais páginas que Guerra e paz –útil, com certeza, mas usar máquinas para administrar um problema que as próprias máquinas criaram não costuma ser transformador.

Ferramentas eletrônicas como chats em vídeo, mensagens instantâneas e conferência online facilitam as comu-nicações dentro das empresas e tam-bém podem ser um meio de colabora-ção que vai além dos departamentos e até de fronteiras nacionais. São óti-mas, sem dúvida, nas mãos da força de trabalho dispersa globalmente, que agora pode fazer de sua mesa o que antes era feito perto do bebedouro ou no refeitório, quando todas as cabeças pensantes da companhia trabalhavam no mesmo edifício.

As intranets ajudam as pessoas a compartilhar o que sabem, mas para isso é preciso haver algum tipo de intercâmbio central de informações. Problemas mais complexos deman-

dam informações mais complexas, geralmente na forma de um centro de armazenamento de documentos. Lá, embalsamados em bytes, estão enterrados os relatórios de melho-res práticas da empresa, análises de projeto e outras sabedorias ins-titucionais, organizadas de maneira acessível para qualquer um, inde-pendentemente do departamento ou do fuso horário.

Uma central também não é melhor do que as perguntas feitas a ela, e as pessoas tendem a procurar apenas informações que percebem como rele-vantes, porque sua noção de relevância é limitada pela falta de informação –o dito paradoxo da relevância. Isso não importa muito, porém, se as pessoas nem fizerem perguntas. Deixadas por conta própria, elas preferem explorar os sistemas não oficiais de gestão do conhecimento que toda empresa tem: o cara no final do corredor ou a secre-tária na sala ao lado.

o que oS executivoS SABeM“Se nós apenas soubéssemos o que nós sabemos, nós seríamos três vezes mais eficientes amanhã.” O pensa-mento é creditado amplamente, ain-da que de certo modo erroneamente,

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há duas décadas, Amy edmonson, professora da har-vard business school, pesquisa como as organizações se autoavaliam, em negócios que vão de grandes labo-ratórios farmacêuticos à nasa. o problema, diz ela, é que as empresas estão errando com os próprios erros.

os seres humanos, observa a especialista, “querem muito que os outros pensem bem deles”. e, como outros deixam de pensar bem de quem confessa um erro (nem é fácil pensar bem de nós mesmos quando erramos), evitamos a prática de examinar os fracassos em profun-didade, porque “é desagradável emocionalmente e pode dilapidar nossa autoestima”.

Assim, em muitas empresas, “de quem é a culpa?” é a primeira e às vezes a única questão que os líderes querem ver respondida. Análises posteriores podem fa-cilmente se tornar uma caça às bruxas. isso não ajuda. os funcionários que temem as consequências do fra-

casso tomarão todas as medidas para não errar. “tomar todas as medidas” pode incluir fraudar os números ou culpar alguém.

edmonson está entre as pessoas que afirmam que admitir a falha deve estar separado de levar a culpa. no entanto, reconhecer a falha, e até perdoá-la, é estranho para a mente empresarial. A cultura condiciona seus líderes a acreditar que o melhor e talvez o único moti-vador confiável é o medo do fracasso e de suas conse-quências. permitir que as pessoas errem não coaduna com altos padrões de desempenho.

quanto maior o projeto, mais arriscado e maior a pressão sobre os tomadores de decisão para acertar de primeira. mas acertar de primeira é pouco realista. como edmonson coloca, considerar que os inevitáveis pequenos erros de processo são ruins é “entender mal como os sistemas complexos funcionam”.

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a Lew Platt, presidente da Hewlett- -Packard nos anos 1990. A profusão de “nós” obscurece uma percepção útil sobre gestão do conhecimento que se torna mais clara se reformu-lada assim: “Se os executivos apenas soubessem o que a força de trabalho sabe, a empresa seria três vezes mais eficiente amanhã”.

Mas eles não sabem, pois o conhe-cimento enfrenta mais obstáculos em seu caminho hierarquia acima do que um salmão subindo o rio para desovar. Muito do que é co-nhecido pela força de trabalho não é compartilhado com os superiores, ou não é mensurável, ou é ignora-do por aqueles que têm poder para colocá-lo em uso.

Os subalternos, é claro, conhecem ca- da cano entupido na máquina da com-panhia e têm ideias sobre como de-sentupi-los. No entanto, deixar o chefe saber como fazer as coisas com mais eficiência pode fazê-lo ter ideias sobre como viver sem eles.

O conhecimento que pode ser va-lioso para a organização também é valioso dentro dela. É a moeda usa-da para comprar reputações, posi-ções e bônus no local de trabalho, e os avarentos do conhecimento não vão compartilhar o que sabem até que isso já não tenha valor para eles.

A única maneira de lidar com os acumuladores é dar a eles algo igual-mente valioso, e empresas inteligen-tes oferecem incentivos para o com-partilhamento de conhecimento ou, então, promoções e prestígio. Sistemas de recompensas também precisam ser alinhados de modo que fazer a coisa inteligente para a empresa não se volte contra os funcionários.

E há ainda a complexidade abso-luta da empresa globalizada moder-na. Quanto mais camadas através das quais a informação deve passar, mais maneiras de ela ser distorcida ou bloqueada. O resultado é o que os estudiosos das organizações apeli-daram de incompetência hierárqui-ca, o que pode ser resumido assim: quanto mais as pessoas no topo pre-

cisam saber, menos provavelmente elas saberão.

o Poder dAS AnáliSeSrAcionAiSMesmo quando gestores seniores têm acesso aos tipos de informação que aumentariam seu conhecimento sobre as operações da companhia, nem sem-pre as usam. Em Inteligência analítica nos negócios (ed. Campus/Elsevier), Thomas Davenport, Jeanne Harris e Robert Morison sugerem formas de li-berar o potencial do que eles chamam de “análises racionais, equilibradas e dados confiáveis”.

Esse potencial é bem real. Em um estudo recente, os professores do Massachusetts Institute of Technolo-gy (MIT) Erik Brynjolfsson e Andrew McAfee procuraram aprender o que torna uma empresa “boa em TI”. Com-binaram dados de pesquisas, relatórios anuais e uma medida composta de investimentos em TI de 330 das maio-res organizações dos Estados Unidos e descobriram que, quanto mais uma empresa confia na tomada de decisão motivada por dados, maior sua produ-tividade e lucratividade.

Infelizmente, os autores acrescen-tam: “Nossos dados demonstram cla-ramente que as melhores práticas estão longe de ser universais, mesmo quando são universalmente reconheci-das como ‘as melhores’”.

Como é possível que, um século de-pois do auge da administração “cientí-fica” e meio século depois da chegada de computadores capazes de transfor-mar dados em conhecimento, as de-cisões baseadas em análises racionais e equilibradas ainda sejam tão raras? McAfee e Brynjolfsson concluem que alguns chefes simplesmente não acre-ditam nessas análises. Confiam na in-tuição e no expertise, e não nos dados.

Essa convicção aparente de que conhecimento é útil para todos na empresa exceto para o chefe pode ser tomada como excesso de orgulho e o será por muitos dos executivos que prefeririam ser considerados ar-rogantes a taxados de ignorantes.

Os executivos seniores tendem, como classe, a ser orientados para o técnico (como fazer as coisas) e não para o científico (como entender as coisas). É possível que a confiança persistente na intuição e na expe-riência seja uma acomodação neces-sária ao fato de que eles, na verdade, não sabem do que precisam saber para dirigir uma grande organização de negócios?

uM nA MultidãoNo coração da gestão do conhecimen-to sempre se insinuou uma noção sub-versiva: se o conhecimento é o recurso mais importante de uma empresa, e se as pessoas que trabalham para ela co-letivamente têm conhecimento mais profundo de como a organização fun-ciona, então essas pessoas estariam mais bem colocadas para dirigir do que os executivos.

Aproveitar a sabedoria coleti-va exige meios de gestão coletiva. Fazer isso do modo convencional –por votação, por exemplo– está sujeito às mesmas falhas de toma-da de decisão em grupo que em-pesteiam a política.

Uma nova geração de ferramen-tas de colaboração, como as do sof-tware Enterprise 2.0, pode ofere-cer alternativas. É possível que as novas ferramentas liberem força de trabalho para formar redes de confiança sem um sistema central que controle seu comportamento? A natureza oferece modelos de comunidades autossustentáveis e autorreguláveis, como colônias de formigas ou ecossistemas vegetais governados pela “inteligência” co-letiva de várias partes. Então, não é de admirar que os pensadores de TI estejam divididos quanto a essa resposta. Isso não seria mera reen-genharia. Seria revolução.

© The Conference Board Review

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