Amamentar é amar por inteiro

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www.arquidiocesedesaopaulo.org.br | 28 de janeiro a 3 de fevereiro de 2015 | Reportagem | 13 12 | Reportagem | 28 de janeiro a 3 de fevereiro de 2015 | www.arquidiocesedesaopaulo.org.br Aos 11 meses de idade, durante a visita da reportagem, Maria Clara Lan- ciere Canário tomou seu primeiro ba- nho de chuva e logo em seguida abriu um dos sorrisos mais lindos daquela tarde paulistana. Tudo, claro, sobre o olhar atento e admirado dos pais Wel- der Lancieri e Gisele Canário. “Ela pre- cisou de cuidados médicos apenas duas vezes, uma por causa da catapora e ou- tra devido a um resfriado simples”, disse orgulhoso o pai. Maria Clara nunca usou mamadei- ra, chupeta ou “bico” e num período de 5 horas recorreu à mãe para mamar pelo menos umas oito vezes. “Gosto muito de amamentar e teria outros fi- lhos só para repetir a experiência”, dis- se a mãe Gisele, que nasceu no Pará e, quando criança, acompanhava a mãe numa longa viagem para fazer doação de leite no posto mais próximo da casa em que moravam, na cidade de Santa- rém. “No início doeu muito e meus seios chegaram a sagrar. Eu ligava para a minha mãe que me aconselhava. Mas em nenhum momento pensei em de- sistir”, continuou Gisele, que disse não ter pudor nenhum em amamentar em público. O gesto de amamentar em qualquer lugar foi aconselhado pelo Papa Francisco, durante a missa na Capela Sistina, na Festa do Batismo do Senhor. Na homilia, Francisco acon- selhou: “vós, mães, amamentem os vossos filhos, também agora, se chora- rem de fome, amamentem, tranquilas. Agradeçamos ao Senhor pelo dom do leite e rezemos por aquelas mães, e são tantas, sem condições de dar de comer aos filhos”. Fabiana Swain Müller, da coorde- nação nacional da International Baby Food Action Network (IBFAN) no Brasil, recordou que a amamentação é um direito humano. “Estudos cien- tíficos têm mostrado a importância do aleitamento materno para a saúde materno-infantil e para o espaçamento das gestações. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a prática da amamentação salva a vida de 6 mi- lhões de crianças por ano, prevenindo diarreia e infecções respiratórias agu- das e sendo responsável por cerca de um terço da diminuição da fertilidade observada nas últimas décadas.” A IBFAN é uma rede formada por mais de 160 grupos de ativistas espa- lhados por cerca de 90 países. Atua há 35 anos na melhoria da saúde das crianças por meio da promoção e apoio ao aleitamento materno e da eliminação de práticas não éticas de mercado, tanto de alimentos infantis este gesto. “Nada paga a intimidade, a seguran- ça, a confiança que eles têm em mim, e tudo graças a amamentação. Meus seios não são os mesmos, e isso é verdade, mas são os mais lindos e mais perfeitos por- que serviram pra amamentar meus dois lindos filhos”, afirmou Ana Paula Farias, mãe do Pedro e do Alberto Farias Abreu. Para explicar sobre tempo ideal e eficácia do leite materno, a Rede IBA- FAN orienta que, mesmo “após os seis meses, o leite ainda é o alimen- to preponderante da criança, sendo complementado, gradualmente, pelos alimentos da família, por dois anos ou mais. É de alto valor nutritivo e imu- nológico, protege de muitas doenças. A OMS recomenda que os bebês sejam alimentados exclusivamente durante os seis primeiros meses de vida e que continuem a ser amamentados por dois anos de idade ou mais, juntamente com alimentos complementares adequados e apropriados”. A farmacêutica em Diadema (SP) e consultora internacional em lactação Fabiana Cainé Alves da Graça, mãe da Marina, com 4 anos e 8 meses, amamen- tou a filha até os 3 anos e 2 meses. Mas comentou que dar de mamar não é tão simples quanto parece e, por isso, deci- diu compartilhar sua experiência num blog que mudou sua vida. “O leite materno não perde a valida- de quando a criança cresce. Amamen- tar precisa ser bom para ambos, mãe e filho. Se, aos 6 anos, por exemplo, am- bos estão felizes e satisfeitos com essa prática, não há mal nenhum”, explicou a mãe que criou o blog “amamentar é tudo de bom”. Comemorar cada dia a mais “Cada dia a mais que uma mãe con- segue amamentar seu filho pode fazer a diferença na vida e saúde da criança e da própria mãe e por isso, deve ser come- morado, elogiado e apoiado”, enfatizou Fabiana Müller que falou sobre a impor- tância do apoio familiar e das informa- ções recebidas durante o pré-natal e após o nascimento do bebê. Para a blogueira Fabiana Cainé não foi nada fácil mas ela encontrou um modo de superar que mudou sua vida. “Quando minha filha nasceu, achei que colocava-se o bebê para mamar quando estivesse com fome e pronto. O mais di- fícil foi lidar com as questões que envol- vem a amamentação e a maternidade. Tive também algumas intercorrências, tais como ductos entupidos, mamas muito cheias, candidíase, que provoca- vam dor e que tive que aprender a ma- nejar sozinha”, observou. E as dificuldades desta paulista de Diadema não pararam por aí, ela tam- bém sofreu por decidir continuar ama- mentando a filha após os dois anos. “Quando amamentava passei por si- tuações difíceis, principalmente com Marina mais crescida, já cheguei a me esconder em lugares onde poderia ser discriminada. Porém, hoje, com certeza não me esconderia mais. Amamentar em público é algo natural, afinal de con- tas, o papel das mamas é esse não é mes- mo? Quando estamos com fome, come- mos em qualquer lugar, não é? Por que não um bebê? Quanto mais exposição, maior a chance da sociedade entender que amamentar é essencial à vida”, afir- Mãe de Leite com muitas mães que não podem conti- nuar em casa após o término da licença maternidade porque precisam voltar ao trabalho. O próprio Ministério da Saúde apoia a iniciativa de lei que quer estender o prazo obrigatório de 4 para 6 meses, mas não há um desfecho para o impasse entre o que determina a Organização Mundial de Saúde e o determinado pela lei trabalhista. “Quando nasceram as meninas, Maria Clara e Camila, que são gêmeas univitelinas, vivi uma experiência sem igual, pois amamentava as duas sempre juntas, 99% das vezes, ou seja, ao mesmo tempo. Ora ou outra me permitia ama- mentar uma de cada vez, mas era raro. Devido a isso, tive mastite quando elas completaram 15 dias. Foi horrível, pre- cisei de complemento, mas, superada a crise, também elas mamaram até 4 me- ses e pelo mesmo motivo, término da licença maternidade”, explicou Kátia. Hoje, grávida novamente, ela pensa em amamentar o filho ou filha enquanto for possível, porém, mais uma vez não poderá ser mãe em tempo integral. “Tra- balho fora não como opção, mas por ne- cessidade”, disse, com a tristeza de quem sabe que mais uma vez não conseguirá atender às necessidades do filho e ao seu desejo materno. E, se por um lado a mãe ficou feliz por saber que os filhos aceitaram a ma- madeira, por outro, estava triste em pen- sar que eles não dependiam mais dela para se alimentar. “Meu esposo foi muito generoso e entendeu este meu momen- to, nas duas fases. Seguramente, também ele ficou feliz como eu em saber que nossos filhos aceitaram a mamadeira.” Ao ser questionada sobre o processo de desmame, Katia foi firme e insistiu que, se pudesse não faria outra coisa a não ser ter os filhos no colo enquanto precisam dela. “Não acredite que uma mãe desmame seu filho com alegria. O seio é uma extensão do útero. É uma de- pendência gostosa, saudável em todos os sentidos. Além disso, há a troca de olha- res que é algo inexplicável.” Há mães que tem uma grande produção de leite, que, em alguns casos, ex- cede as necessidades do seu bebê. Para estes casos, há, no Brasil, 214 Bancos de Leite Humano (BLH) e 146 Postos de Coleta de Leite Materno. Os BLH estão presentes em todos os Estados da Federação e são ligados aos hospitais e maternidades com atendimentos de recém nascidos de risco, as crian- ças que nascem prematuras ou com baixo peso. Para saber o endereço de um BLH ou Posto de Coleta próximo, o endereço eletrônico é www.redeblh.fiocruz. br. Especialmente no período de férias há baixa nos estoques. Mesmo que algu- mas mães tenham dificuldade em realizar este procedimento, devido às longas distâncias ou falta de tempo, sempre que possível é importante pensar em quem tem menos ou nada. ** Informações da Rede IBFAN. Sobrou? Doe! ** um período do dia. “É impressionante quando a Gisele volta, uma mistura de alegria e choro, pois a Maria Clara não vê a hora de encontrar a mãe e, é claro, o leite dela”, contou o pai. ‘O seio é uma extensão do útero’ “Fui mãe pela primeira vez aos 24 anos do Gustavo Correa Manicardi, 11, que mamou por 4 meses. Neste perí- odo, amamentei a Letícia Santos, filha de uma amiga Luciana Santos, que tem apenas 1 mês de diferença do Gustavo. Como precisei voltar a trabalhar, tive que desmamá-los aos poucos, mas ainda tive leite por muito tempo”, contou Ka- tia Manicardi, esposa do Wesley Araújo Manicardi e mãe do Gustavo, das gême- as Maria Clara e Camila Correa Mani- cardi de 4 anos e 8 meses e grávida nova- mente aos 36 anos. A situação vivida por Kátia acontece • Fortalece os laços entre a mãe e o bebê; • Transmite amor e carinho, de modo a dimi- nuir a negligência e o abandono da criança; • É econômico, pois a família não precisa adquirir leites infantis, sempre caros; • Hámenosgastoscomasidasaomédico,com a compra de medicamentos e antibióticos; • Não gasta água, sabão, combustível, fras- cos ou bicos; • Está sempre pronto, a qualquer hora ou lugar; • É prático, a mãe não precisa preparar, isto é, ferver, misturar, coar, dissolver ou esfriar; • É fácil de digerir e não sobrecarrega o in- testino e os rins do bebê; • Diminui as taxas de mortalidade infantil (as crianças que recebem leite artificial morrem 14 vezes mais por diarreia e 4 ve- zes mais por pneumonias que os que rece- bem leite do peito); • Previne doenças como diabetes, hiperten- são e cardiovasculares na idade adulta; • Previne da osteoporose na terceira idade; • Protege a mãe da perda de sangue depois do parto; • Diminui as chances da mãe desenvolver câncer de mama e de ovário. Benefícios da amamentação* NAYÁ FERNANDES [email protected] Gisele e Welder com Maria Clara, amamentada exclusivamente com leite materno até 6 meses Katia com a família e as filhas gêmeas, amamentadas ao mesmo tempo por ela 99 % das vezes Arquivo pessoal Arquivo pessoal Luciney Martins/O SÃO PAULO como de mamadeiras, bi- cos e chupetas. No Brasil, conta com mais de 100 membros voluntários es- palhados por 17 estados. Beleza ameaçada? O ambiente era um sa- lão de cabelereiro e a mãe, com o filho de quatro me- ses no braço, afirmava ca- tegoricamente: “Após um ano o leite materno não tem efeito nenhum para a crian- ça. Também, acho horrível criança de um ano maman- do no peito da mãe.” Mitos como esse causam medo nas mães e podem ter con- sequências sérias para as crianças. Além disso, de- vido a uma preocupação exagerada com a estética, mães chegam a renunciar mou Fabiana Cainé, que falou sobre o problema no Brasil e a organização cha- mada de “mamaço”, onde várias mães amamentam seus bebês como protesto, exatamente nos locais de onde foram convidadas a se retirar. No processo do aleita- mento também o pai tem papel fundamental, pois não só o bebê, mas a mãe também precisa dele. “Ele pode participar nos demais cuidados, afinal, há muito para fazer com uma crian- ça além de alimentá-la”, lembrou Fabiana Cainé. Welder, sempre ao lado de Gisele, está terminando o mestrado em Ciências da Religião na PUC-SP e acaba ficando mais tempo com a Maria Clara do que a mãe, pois ela trabalha

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Como? Quanto tempo? Quais os benefícios? Conversando com algumas mamães, descobri o quão intenso e bonito é amamentar por mais tempo possível!

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www.arquidiocesedesaopaulo.org.br | 28 de janeiro a 3 de fevereiro de 2015 | Reportagem | 1312 | Reportagem | 28 de janeiro a 3 de fevereiro de 2015 | www.arquidiocesedesaopaulo.org.br

Aos 11 meses de idade, durante a visita da reportagem, Maria Clara Lan-ciere Canário tomou seu primeiro ba-nho de chuva e logo em seguida abriu um dos sorrisos mais lindos daquela tarde paulistana. Tudo, claro, sobre o olhar atento e admirado dos pais Wel-der Lancieri e Gisele Canário. “Ela pre-cisou de cuidados médicos apenas duas vezes, uma por causa da catapora e ou-tra devido a um resfriado simples”, disse orgulhoso o pai.

Maria Clara nunca usou mamadei-ra, chupeta ou “bico” e num período de 5 horas recorreu à mãe para mamar pelo menos umas oito vezes. “Gosto muito de amamentar e teria outros fi-lhos só para repetir a experiência”, dis-se a mãe Gisele, que nasceu no Pará e, quando criança, acompanhava a mãe numa longa viagem para fazer doação de leite no posto mais próximo da casa em que moravam, na cidade de Santa-rém.

“No início doeu muito e meus seios chegaram a sagrar. Eu ligava para a minha mãe que me aconselhava. Mas em nenhum momento pensei em de-sistir”, continuou Gisele, que disse não ter pudor nenhum em amamentar em público. O gesto de amamentar em qualquer lugar foi aconselhado pelo Papa Francisco, durante a missa na Capela Sistina, na Festa do Batismo do Senhor. Na homilia, Francisco acon-selhou: “vós, mães, amamentem os vossos filhos, também agora, se chora-rem de fome, amamentem, tranquilas. Agradeçamos ao Senhor pelo dom do leite e rezemos por aquelas mães, e são tantas, sem condições de dar de comer aos filhos”.

Fabiana Swain Müller, da coorde-nação nacional da International Baby Food Action Network (IBFAN) no Brasil, recordou que a amamentação é um direito humano. “Estudos cien-tíficos têm mostrado a importância do aleitamento materno para a saúde materno-infantil e para o espaçamento das gestações. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a prática da amamentação salva a vida de 6 mi-lhões de crianças por ano, prevenindo diarreia e infecções respiratórias agu-das e sendo responsável por cerca de um terço da diminuição da fertilidade observada nas últimas décadas.”

A IBFAN é uma rede formada por mais de 160 grupos de ativistas espa-lhados por cerca de 90 países. Atua há 35 anos na melhoria da saúde das crianças por meio da promoção e apoio ao aleitamento materno e da eliminação de práticas não éticas de mercado, tanto de alimentos infantis

este gesto. “Nada paga a intimidade, a seguran-

ça, a confiança que eles têm em mim, e tudo graças a amamentação. Meus seios não são os mesmos, e isso é verdade, mas são os mais lindos e mais perfeitos por-que serviram pra amamentar meus dois lindos filhos”, afirmou Ana Paula Farias, mãe do Pedro e do Alberto Farias Abreu.

Para explicar sobre tempo ideal e eficácia do leite materno, a Rede IBA-FAN orienta que, mesmo “após os seis meses, o leite ainda é o alimen-to preponderante da criança, sendo complementado, gradualmente, pelos alimentos da família, por dois anos ou mais. É de alto valor nutritivo e imu-nológico, protege de muitas doenças. A OMS recomenda que os bebês sejam alimentados exclusivamente durante os seis primeiros meses de vida e que continuem a ser amamentados por dois anos de idade ou mais, juntamente com alimentos complementares adequados e apropriados”.

A farmacêutica em Diadema (SP) e consultora internacional em lactação Fabiana Cainé Alves da Graça, mãe da Marina, com 4 anos e 8 meses, amamen-tou a filha até os 3 anos e 2 meses. Mas comentou que dar de mamar não é tão simples quanto parece e, por isso, deci-diu compartilhar sua experiência num blog que mudou sua vida.

“O leite materno não perde a valida-de quando a criança cresce. Amamen-tar precisa ser bom para ambos, mãe e filho. Se, aos 6 anos, por exemplo, am-bos estão felizes e satisfeitos com essa prática, não há mal nenhum”, explicou a mãe que criou o blog “amamentar é tudo de bom”.

Comemorar cada dia a mais

“Cada dia a mais que uma mãe con-segue amamentar seu filho pode fazer a diferença na vida e saúde da criança e da própria mãe e por isso, deve ser come-morado, elogiado e apoiado”, enfatizou Fabiana Müller que falou sobre a impor-tância do apoio familiar e das informa-ções recebidas durante o pré-natal e após o nascimento do bebê.

Para a blogueira Fabiana Cainé não foi nada fácil mas ela encontrou um modo de superar que mudou sua vida. “Quando minha filha nasceu, achei que colocava-se o bebê para mamar quando estivesse com fome e pronto. O mais di-fícil foi lidar com as questões que envol-vem a amamentação e a maternidade. Tive também algumas intercorrências,

tais como ductos entupidos, mamas muito cheias, candidíase, que provoca-vam dor e que tive que aprender a ma-nejar sozinha”, observou.

E as dificuldades desta paulista de Diadema não pararam por aí, ela tam-bém sofreu por decidir continuar ama-mentando a filha após os dois anos. “Quando amamentava passei por si-tuações difíceis, principalmente com Marina mais crescida, já cheguei a me esconder em lugares onde poderia ser discriminada. Porém, hoje, com certeza não me esconderia mais. Amamentar em público é algo natural, afinal de con-tas, o papel das mamas é esse não é mes-mo? Quando estamos com fome, come-mos em qualquer lugar, não é? Por que não um bebê? Quanto mais exposição, maior a chance da sociedade entender que amamentar é essencial à vida”, afir-

Mãe de Leite

com muitas mães que não podem conti-nuar em casa após o término da licença maternidade porque precisam voltar ao trabalho. O próprio Ministério da Saúde apoia a iniciativa de lei que quer estender o prazo obrigatório de 4 para 6 meses, mas não há um desfecho para o impasse entre o que determina a Organização Mundial de Saúde e o determinado pela lei trabalhista.

“Quando nasceram as meninas, Maria Clara e Camila, que são gêmeas univitelinas, vivi uma experiência sem igual, pois amamentava as duas sempre juntas, 99% das vezes, ou seja, ao mesmo tempo. Ora ou outra me permitia ama-mentar uma de cada vez, mas era raro. Devido a isso, tive mastite quando elas completaram 15 dias. Foi horrível, pre-cisei de complemento, mas, superada a crise, também elas mamaram até 4 me-ses e pelo mesmo motivo, término da licença maternidade”, explicou Kátia.

Hoje, grávida novamente, ela pensa em amamentar o filho ou filha enquanto for possível, porém, mais uma vez não poderá ser mãe em tempo integral. “Tra-balho fora não como opção, mas por ne-cessidade”, disse, com a tristeza de quem sabe que mais uma vez não conseguirá atender às necessidades do filho e ao seu desejo materno.

E, se por um lado a mãe ficou feliz por saber que os filhos aceitaram a ma-madeira, por outro, estava triste em pen-sar que eles não dependiam mais dela para se alimentar. “Meu esposo foi muito generoso e entendeu este meu momen-to, nas duas fases. Seguramente, também ele ficou feliz como eu em saber que nossos filhos aceitaram a mamadeira.”

Ao ser questionada sobre o processo de desmame, Katia foi firme e insistiu que, se pudesse não faria outra coisa a não ser ter os filhos no colo enquanto precisam dela. “Não acredite que uma mãe desmame seu filho com alegria. O seio é uma extensão do útero. É uma de-pendência gostosa, saudável em todos os sentidos. Além disso, há a troca de olha-res que é algo inexplicável.”

Há mães que tem uma grande produção de leite, que, em alguns casos, ex-cede as necessidades do seu bebê. Para estes casos, há, no Brasil, 214 Bancos de Leite Humano (BLH) e 146 Postos de Coleta de Leite Materno.

Os BLH estão presentes em todos os Estados da Federação e são ligados aos hospitais e maternidades com atendimentos de recém nascidos de risco, as crian-ças que nascem prematuras ou com baixo peso. Para saber o endereço de um BLH ou Posto de Coleta próximo, o endereço eletrônico é www.redeblh.fiocruz.br. Especialmente no período de férias há baixa nos estoques. Mesmo que algu-mas mães tenham dificuldade em realizar este procedimento, devido às longas distâncias ou falta de tempo, sempre que possível é importante pensar em quem tem menos ou nada.

** Informações da Rede IBFAN.

Sobrou? Doe! **

um período do dia. “É impressionante quando a Gisele volta, uma mistura de alegria e choro, pois a Maria Clara não vê a hora de encontrar a mãe e, é claro, o leite dela”, contou o pai.

‘O seio é uma extensão do útero’

“Fui mãe pela primeira vez aos 24 anos do Gustavo Correa Manicardi, 11, que mamou por 4 meses. Neste perí-odo, amamentei a Letícia Santos, filha de uma amiga Luciana Santos, que tem apenas 1 mês de diferença do Gustavo. Como precisei voltar a trabalhar, tive que desmamá-los aos poucos, mas ainda tive leite por muito tempo”, contou Ka-tia Manicardi, esposa do Wesley Araújo Manicardi e mãe do Gustavo, das gême-as Maria Clara e Camila Correa Mani-cardi de 4 anos e 8 meses e grávida nova-mente aos 36 anos.

A situação vivida por Kátia acontece

• Fortalece os laços entre a mãe e o bebê;• Transmite amor e carinho, de modo a dimi-

nuir a negligência e o abandono da criança;• É econômico, pois a família não precisa

adquirir leites infantis, sempre caros; • Há menos gastos com as idas ao médico, com

a compra de medicamentos e antibióticos;• Não gasta água, sabão, combustível, fras-

cos ou bicos;• Está sempre pronto, a qualquer hora ou

lugar;• É prático, a mãe não precisa preparar,

isto é, ferver, misturar, coar, dissolver ou esfriar;

• É fácil de digerir e não sobrecarrega o in-testino e os rins do bebê;

• Diminui as taxas de mortalidade infantil (as crianças que recebem leite artificial morrem 14 vezes mais por diarreia e 4 ve-zes mais por pneumonias que os que rece-bem leite do peito);

• Previne doenças como diabetes, hiperten-são e cardiovasculares na idade adulta;

• Previne da osteoporose na terceira idade;• Protege a mãe da perda de sangue depois

do parto;• Diminui as chances da mãe desenvolver

câncer de mama e de ovário.

Benefícios da amamentação*

Nayá [email protected]

Gisele e Welder com Maria Clara, amamentada exclusivamente com leite materno até 6 meses Katia com a família e as filhas gêmeas, amamentadas ao mesmo tempo por ela 99 % das vezes

Arquivo pessoal

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LOcomo de mamadeiras, bi-cos e chupetas. No Brasil, conta com mais de 100 membros voluntários es-palhados por 17 estados.

Beleza ameaçada?

O ambiente era um sa-lão de cabelereiro e a mãe, com o filho de quatro me-ses no braço, afirmava ca-tegoricamente: “Após um ano o leite materno não tem efeito nenhum para a crian-ça. Também, acho horrível criança de um ano maman-do no peito da mãe.” Mitos como esse causam medo nas mães e podem ter con-sequências sérias para as crianças. Além disso, de-vido a uma preocupação exagerada com a estética, mães chegam a renunciar

mou Fabiana Cainé, que falou sobre o problema no Brasil e a organização cha-mada de “mamaço”, onde várias mães amamentam seus bebês como protesto, exatamente nos locais de onde foram convidadas a se retirar.

No processo do aleita-mento também o pai tem papel fundamental, pois não só o bebê, mas a mãe também precisa dele. “Ele pode participar nos demais cuidados, afinal, há muito para fazer com uma crian-ça além de alimentá-la”, lembrou Fabiana Cainé.

Welder, sempre ao lado de Gisele, está terminando o mestrado em Ciências da Religião na PUC-SP e acaba ficando mais tempo com a Maria Clara do que a mãe, pois ela trabalha