Ambiental - Limites da sustentabilidade
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Limites da sustentabilidade
• Vivemos um novo tempo.
• Não se trata mais de cuidar do meio ambiente, proteger o meio ambiente.
• Trata-se de não ultrapassar limites que colocam em risco a própria vida.
• Kofi Annan, secretário geral da ONU: o problema central da humanidade, hoje, não está no terrorismo; está nas mudanças climáticas já em curso e nos padrões globais insustentáveis de produção e consumo.
• Essas duas questões – diz ele – ameaçam a própria sobrevivência da espécie humana.
• Previsão do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas: se as emissões de gases que intensificam o efeito estufa continuarem no ritmo atual, no século 21 a temperatura da terra se elevará entre 1,4 e 5.8 graus Celsius; o nível dos oceanos subirá entre 18 e 59 centímetros; secas, inundações e outros desastres aumentarão.
Seja o que for que se faça, a temperatura subirá mais 1,3 grau até 2050.
Para evitar que o aumento da temperatura vá além de 2 graus, será preciso reduzir as atuais emissões em 66%.
Mas elas continuam aumentando.
• 2010 foi um dos dois anos mais quentes na história da Terra, junto com 2005.
• A cada ano os eventos extremos têm atingido centenas de milhões de pessoas, deixado centenas de milhares de mortos, prejuizos de centenas de bilhões de dólares.
• O Brasil já é o 11.o país em vítimas, principalmente no Sul, Nordeste e região serrana do Rio de Janeiro.
• Em 2010 as emissões de gases do efeito estufa no mundo estiveram acima de 30,4 bilhões de toneladas. Se ultrapassarem 32 bilhões de toneladas, não se conterá o aumento da temperatura em 2 graus.
• Os Estados Unidos respondem por cerca de 21% do total,mas a China já se tornou a maior emissora, com 24%.
• O Brasil já é o quarto maior emissor: mais de um bilhão de toneladas de CO2 (inventário de 1994) e mais de 30 milhões de toneladas de metano.
• Estudo do Banco Mundial aponta para o Brasil mais de dois bilhões de toneladas de carbono em 2004, cerca de 40% mais que os números do inventário brasileiro de 1994.
As nações do G8 emitiram 14,3 bilhões de toneladas, 2% mais que em 2000. E 45% acima de 1990 (quando deveriam estar 5,2% abaixo).
EUA emitiram 16,3% mais que em 1990 e 1,6% mais que em 2000.
Só Alemanha, Inglaterra e França reduziram suas emissões.
• Mais de 50% das emissões brasileiras se devem a mudanças no uso do solo, desmatamentos e queimadas, principalmente na Amazônia.
• De 2000 para cá, o Brasil já desmatou mais de 150 mil km2.
• Agência Internacional de Energia: o consumo de energia no mundo aumentará 71% até 2030.
• N a China, crescerá 33% em uma década.• Na Índia, mais 51% em uma década.• Os países industrializados precisam reduzir suas
emissões entre 60 e 80% até 2020;• Esses países consomem metade da energia no
mundo.• Um habitante desses países consome em média 11
vezes mais energia que um habitante dos países pobres.Mas a China já superou a Grã-Bretanha, França e Espanha em emissões per capita.
• O Protocolo de Kyoto, que regulamentou em 1997 a Convenção do Clima, de 1992, estabeleceu que os países industrializados reduzam suas emissões em 5,2% entre 2008 e 2012.
• EUA não homologaram.
• O Protocolo vence em 2012. Japão, Rússia, Canadá e outros não querem prorrogar a única regra em vigor.
• Problema central: não temos nem instituições, nem regras universais, capazes de promover as mudanças necessárias na escala global.
• As reuniões de convenções da ONU exigem consenso para tomar decisões – dificílimos, por causa dos interesses contraditórios.
• Agência Internacional de Energia:
• No ritmo atual, o petróleo cairá de 38% da energia total para 33% em 2030.
• O carvão passará de 24 para 22%
• O gás aumentará de 24 para 26%
• Energias renováveis subirão de 8 para 9% do total.
• Energia nuclear passará de 2,532 bilhões de KWh (2003) para 3,299 bilhões de KWh
• Tecnologias em desenvolvimento:• 1. sequestro e sepultamento de carbono no
fundo do mar ou campos de petróleo esgotados;
• 2.células de combustível;• 3. veículos híbridos;• 4. energias eólica, solar, de marés,
biocombustíveis.
• Al Gore: “Hoje, vivemos uma emergência planetária”;
• Rick Samans, presidente do Forum Econômico de Davos:
• “Estamos 15 anos atrasados”.
• “O desafio na área do clima é assustador”.
• Carlos Nobre (INPE e MCT):
• “Não há como reverter o quadro: a roda já está girando a uma velocidade tão alta que não dá mais para parar; talvez dê para diminuir a velocidade.”
• Sir Nicholas Stern, ex-economista-chefe do Banco Mundial, em relatório para o governo britânico:
• Mudanças climáticas poderão mergulhar a economia mundial na pior recessão global da história recente.
• Sir Nicholas: Os governos precisam enfrentar o problema reduzindo emissões de gases. Se nada for feito, seremos confrontados com um declínio que não acontece desde a Grande Depressão dos anos 30 e nos períodos das duas grandes guerras mundiais.
• A Agência Internacional de Energia prevê que serão necessários investimentos de US$45 trilhões nos próximos 15 anos em novas fontes de energia.
• Esses investimentos serão uma oportunidade de chegar a uma matriz energética com emissão zero. E será algo na direção oposta à de um declínio econômico.
• Custará menos enfrentar o problema que pagar o preço das consequências, se não o fizermos
Padrões de produção e consumo
• Relatório “Planeta Vivo 2006”:
• Estamos consumindo no mundo mais de 30% além da capacidade de reposição do planeta nos recursos naturais.
• A “pegada ecológica da humanidade”, que mede o impacto sobre o planeta, triplicou desde 1961.
• Estamos deteriorando os ecossistemas naturais a um ritmo nunca visto na história da humanidade. Quase um terço das espécies conhecidas se extinguiu em três décadas.
• A biocapacidade da Terra constitui a quantidade de área biologicamente produtiva – zona de cultivo, pasto, floresta e pesca – disponível para atender às necessidades humanas.
• Cenário com base em previsões da ONU: em meio século, a exigência humana sobre a natureza será duas vezes superior à capacidade de produção da biosfera.
• É provável a exaustão dos ativos ecológicos e o colapso do ecossistema em larga escala.
• A pegada ecológica mundial já é de 14 bilhões de hectares. Entre os países de pegada mais alta, a dos Estados Unidos é de 2,8 bilhões. A da China, 2,15 bilhões. Da Índia, 802 milhões.Rússia, 631 milhões. Japão, 556 milhões. Brasil, 383 milhões.
• A pegada ecológica per capita dos EUA é de 9,6 hectares. Do Brasil, 2,1 (acima da disponibilidade média mundial).
• As populações de espécies tropicais diminuiram 55%.
• A conversão de áreas para a agricultura é o fator principal de perda do habitat das espécies.
• Os manguezais, berçários de 65% das espécies de peixes tropicais, estão sendo degradados a um ritmo duas vezes superior ao das florestas tropicais.
• Mais de um terço da área global de manguezais foi perdido entre 1980 e 2000. Na América do Sul a perda foi de 50%.
• Alteração e retenção do fluxo fluvial para uso industrial, abastecimento doméstico, irrigação e energia hidrelétrica fragmentaram mais de metade dos maiores sistemas fluviais do mundo, representando 83% do seu fluxo anual total. 52% foram afetados de forma moderada, 31% gravemente.
• A quantidade de água armazenada no mundo em reservatórios com barragens é no mínimo três vezes maior que a contida nos rios.
• De 15 a 35% das captações para irrigação não são sustentáveis.
• Em 2003, a pegada ecológica no mundo era de 2,2 hectares por pessoa, acima da disponibilidade média, de 1,8 hectare.
• Agravando o problema, relatórios do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) dizem:
• Os países industrializados, com menos de 20% da população mundial, concentram 80% da produção, do consumo e da renda totais.
• As 3 pessoas mais ricas, juntas, têm ativos superiores ao PNB anual dos 48 países mais pobres, onde vivem 600 milhões de pessoas.
• 257 pessoas, com ativos superiores a US$1 bilhão cada um, juntas têm mais que a renda anual conjunta de 45% da humanidade, 2,8 bilhões de pessoas.
• PNUD: se todas as pessoas consumissem como norte-americanos, europeus ou japoneses, precisaríamos de mais dois ou três planetas para suprir os recursos e serviços naturais necessários.
• Vivemos uma crise de padrão civilizatório. Nossos modos de viver são insustentáveis, incompatíveis com os recursos do planeta, mesmo com mais de 800 milhões de pessoas passando fome e mais de 2,5 bilhões abaixo da linha de pobreza (US$2 por dia).
• Que se vai fazer ? Crescimento econômico, puro e simples, seria solução ?
• Edward Wilson: se o PNB mundial, hoje na faixa dos US$60 trilhões, tiver um crescimento moderado, de 3,5% ao ano, chegaria a 2050 com US$158 trilhões. Mas não chegará: não há recursos e serviços naturais para isso.
• Será indispensável praticar padrões de consumo que poupem recursos, não desperdicem recursos.
• As matrizes energéticas terão de ser reformuladas.
• Fatores e custos “ambientais” terão de estar no centro e no início de todas as políticas públicas e de todos os empreendimentos privados, para serem avaliados, aprovados ou não, atribuídos a quem os gera.
• Os princípios do poluidor/pagador e da precaução terão de ser obedecidos em tudo.
• O Brasil terá de construir uma estratégia que leve em conta mudanças climáticas e sustentabilidade dos padrões de produção e consumo.
Cenários para o Brasil
• Cenários traçados pelo INPE:
• Ao longo deste século, aumento de 6 a 8 graus na temperatura na Amazônia.
• Aumento de 3 a 4 graus no Centro-Oeste.
• Influência nas outras regiões.
• Possível perda de 20 a 25% nos recursos hídricos do Semi-Árido.
• Embora seja o quarto maior emissor de gases do planeta mais de um bilhão de toneladas anuais de CO2 em 1994 e 30 milhões de toneladas de metano), o Brasil não aceita compromissos de redução.
• Argumentos: • 1. Os países industrializados, que emitem há mais
tempo e contribuiram mais para a concentração na atmosfera, ainda não cumpriram os seus compromissos.
• 2. Se aceitasse compromissos de redução, poderia comprometer o desenvolvimento econômico.
• Aceitar esses compromissos implica aceitar restrições à soberania no uso de recursos naturais.
• O Brasil deveria aceitar compromissos porque:
• Não aceitá-los é eticamente insustentável;
• O país já apresentou à convenção de mudanças do clima tese de que cada país deveria aceitar compromisso de redução proporcional à sua contribuição direta para o aumento da temperatura da Terra já comprovado.
• Não aceitando compromisso, o Brasil reforça o argumento de opositores do Protocolo de Kyoto –EUA e outros -, de que não aderem porque o Protocolo será ineficaz para combater mudanças climáticas se três dos cinco maiores emissores (Brasil, China e Índia) não tiverem metas de redução – ainda mais porque serão os responsáveis pelo maior aumento no consumo de energia nas próximas décadas.
• Além do mais, o Brasil já está sofrendo com mudanças climáticas e será uma das regiões mais atingidas, segundo os cientistas.
• Já tivemos um primeiro furacão.• Secas extemporâneas têm gerado graves prejuízos
para a agricultura e dificuldades progressivas no abastecimento de água das grandes cidades, como previu o IPCC.
• Temos tido graves problemas de inundações e deslizamentos em várias regiões.
• Estudo da Unicamp: o aumento de um grau na temperatura média de São Paulo e Norte do Paraná está inviabilizando nessas áreas o cultivo do café; a floração não chega a completar-se a afeta gravemente a produtividade; por isso a cultura está migrando para regiões altas de Minas Gerais,
• Pesquisas da Embrapa: o mesmo problema já está ocorrendo nas culturas de soja, feijão e milho.
• As novas condições parecem estar afetando também o fluxo hidrológico, com menor retenção de água em áreas desmatadas.
• A economia brasileira é altamente dependente de boas condições de clima.
• O Brasil assinou a Convenção do Clima em 1992. Mas apenas 90 municípios têm instituições de defesa civil para atuar nos eventos extremos
Clima e Economia
• Já temos nível alto de emissão de metano na pecuária.
• Cada boi emite 57 quilos/ano (Embrapa).
• 205 milhões de bois emitem quase 12 milhões de toneladas anuais.
• O metano é 21 vezes mais nocivo que o CO2.
Exportação virtual
• O Brasil é grande exportador “virtual” de água.
• Relatório da ONU (2002): para um quilo de carne bovina, 15 mil litros; suína, 8 mil; de aves, 4 mil; cereais, 1.000 a 1.500.
• No atual modelo, precisamos exportar cada vez mais para equilibrar o balanço de pagamentos. Mas absorvendo sem remuneração os custos sociais e ambientais.
• E quase sem sair do lugar: em 1964, tínhamos 1% do comércio exterior; em 1985, 1,5%; hoje, 1,08%.
• Não temos controle dos preços de exportação, ditados fora do país.
• Nem dos preços de importação, que agregam todos os fatores que interessam aos países industrializados: alto custo da mão-de-obra, da ciência, das tecnologias etc.
• Há produtos que exportamos hoje a valor real inferior ao da Grande Depressão.
• Precisamos construir nova estratégia: se serviços e recursos naturais são o fator escasso no mundo, hoje, precisamos colocar essa realidade no centro e no início de uma estratégia que os valorize e ajude a construir a sustentabilidade.
• O Brasil tem território continental, sol o ano todo, 13% da água superficial do planeta, pelo menos 15% da biodiversidade, possibilidade de matriz energética limpa e
• Robert Constanza e mais 13 cientistas da Universidade da Califórnia: se tivéssemos de substituir serviços e recursos naturais como fertilidade do solo, regulação do clima, fluxo hidrológico e outros (que nada nos custam) por ações humanas e tecnologias, eles custariam três vezes o produto bruto mundial de um ano.
• A comunicação precisa mudar. Precisa informar a sociedade permanentemente das questões em jogo e das soluções possíveis. Para que a sociedade, informada, se organize e passe a levar esses problemas para as campanhas eleitorais, exija dos candidatos que se posicionem.