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A QUESTÃO DO ENSINO DE GEOGRAFIA NAS SÉRIES INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL A PARTIR DA EXPERIÊNCIA DE ELABORAÇÃO DA PROPOSTA DE ENSINO DA DISCIPLINA PARA O MUNICÍPIO DE PRESIDENTE PRUDENTE-SP RESUMO Este trabalho versa sobre o processo de construção da proposta municipal para o ensino de Geografia na cidade de Presidente Prudente (SP), coordenada pelo professor Dr. Cláudio Benito de Oliveira Ferraz através do Grupo de Pesquisa Linguagens Geográficas, vinculado ao Departamento de Educação da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Estadual Paulista, campus de Presidente Prudente, em parceria com a Secretaria Municipal de Educação da mesma cidade. A proposta foi iniciada no ano de 2007 e teve continuação até o ano de 2009. Este texto possui como objetivo principal descrever e analisar o processo de construção da referida Proposta. Pretendeu também sugerir, com base nos estudos até aqui realizados, uma sistematização de conteúdos a serem trabalhados em cada série do ensino fundamental, no município de Presidente Prudente. O trabalho busca refletir sobre as dificuldades na escolha dos conteúdos a serem ensinados nas aulas de Geografia, nas séries iniciais e propor sempre uma reflexão dos professores para a valorização do cotidiano e da diversidade para a aprendizagem significativa.

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A QUESTÃO DO ENSINO DE GEOGRAFIA NAS SÉRIES INICIAIS DO ENSINO

FUNDAMENTAL A PARTIR DA EXPERIÊNCIA DE ELABORAÇÃO DA

PROPOSTA DE ENSINO DA DISCIPLINA PARA O MUNICÍPIO DE PRESIDENTE

PRUDENTE-SP

RESUMO

Este trabalho versa sobre o processo de construção da proposta municipal para o ensino

de Geografia na cidade de Presidente Prudente (SP), coordenada pelo professor Dr.

Cláudio Benito de Oliveira Ferraz através do Grupo de Pesquisa Linguagens

Geográficas, vinculado ao Departamento de Educação da Faculdade de Ciências e

Tecnologia da Universidade Estadual Paulista, campus de Presidente Prudente, em

parceria com a Secretaria Municipal de Educação da mesma cidade. A proposta foi

iniciada no ano de 2007 e teve continuação até o ano de 2009. Este texto possui como

objetivo principal descrever e analisar o processo de construção da referida Proposta.

Pretendeu também sugerir, com base nos estudos até aqui realizados, uma

sistematização de conteúdos a serem trabalhados em cada série do ensino fundamental,

no município de Presidente Prudente. O trabalho busca refletir sobre as dificuldades na

escolha dos conteúdos a serem ensinados nas aulas de Geografia, nas séries iniciais e

propor sempre uma reflexão dos professores para a valorização do cotidiano e da

diversidade para a aprendizagem significativa.

ABSTRACT

This work will discuss about the process of construction of the municipal proposal for

Teaching of Geography Presidente Prudente city, in São Paulo State, coordinated for the

Dr. Teacher Cláudio Benito de Oliveira Ferraz, through of the Research Geographic’s

Languages Group, and begun in the year of 2007 and has been continues until 2009,

maintaining a partner between Education Municipal Secretary and State University of

São Paulo State, UNESP, in same city. The main objective of this stage is to describe

the process of construction of a “Proposal of Geography Teaching for to school of

Presidente Prudente city. Intend too suggest, based in studies realized in the last years

for the responsible group, a systematization of the subjects for to work in each series of

do Fundamental Teaching, in Presidente Prudente city. This work wants too, think about

the difficulty in the subjects choice will to be learn in initial series and to propose a

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reflection of the teachers to valorize the quotidian and the diversity for to the learning

meaningful.

INTRODUÇÃO

Este texto versa sobre a experiência de elaboração da proposta

municipal para o ensino de Geografia nas séries iniciais do ensino fundamental, iniciada

no ano de 2007, no município de Presidente Prudente, cidade localizada a oeste do

Estado de São Paulo. Este projeto de elaboração da proposta de ensino, ainda em

andamento, passou a ser pensado através de discussões feitas no grupo de pesquisas

Linguagens Geográficas, vinculado ao Departamento de Educação da Universidade

Estadual Paulista de Presidente Prudente. Estas discussões resultaram numa parceria

com a Secretaria Municipal de Educação de Presidente Prudente, para o

desenvolvimento do projeto juntamente com os profissionais da educação do município.

O desenvolvimento desta proposta contou com o apoio da Pró-Reitoria de Extensão,

num primeiro momento, e da Pró-Reitoria de Graduação da UNESP, por meio do seu

programa de Núcleo de Ensino.

A elaboração da proposta para o ensino da Geografia nas séries

iniciais em Presidente Prudente apresentava-se como uma necessidade da rede

municipal há alguns anos, tendo em vista que a Lei de Diretrizes e Bases, prevê, desde

sua publicação, em 1996, que: “A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios

organizarão, em regime de colaboração, os respectivos sistemas de ensino.(...)” e ainda

que: “§ 2º Os sistemas de ensino terão liberdade de organização nos termos desta Lei.”

(BRASIL, 1996). Com este artigo, a referida lei tinha por intenção dotar de autonomia

os entes federativos para que elaborassem suas propostas de ensino de acordo com a

realidade local, tendo em vista que os Parâmetros Curriculares Nacionais, publicados

logo após a LDBEN de 1996, versavam sobre o ensino a nível nacional, sem considerar

as especificidades do local.

Além do dispositivo legal, e da necessidade de abordar a questão

local, existe também latente a questão da polivalência dos professores atuantes nas

séries iniciais no município. Os professores, na grande maioria das vezes, com formação

especifica em Pedagogia, acabam por ser responsáveis por um rol de disciplinas do

núcleo comum, e acabam, segundo constatação de DEAK (2009), privilegiando os

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estudos da Língua Materna e da Matemática, em detrimento de outras disciplinas, dentre

elas a Geografia.

Diante deste contexto, da busca de uma inserção efetiva e

qualitativa do ensino de Geografia nas séries inicias, a construção da Proposta

Municipal de Geografia no âmbito da Secretaria Municipal de Educação de Presidente

Prudente iniciou-se no ano de 2007, envolvendo Universidade e Escola por diferentes

etapas até que se chegasse à elaboração da proposta.

OBJETIVOS

A construção do discurso geográfico é imprescindível para que a

criança possa construir pensar o mundo em que vive e possa compreender-se inserida

neste mundo. Esta construção, deve ocorrer a partir da própria criança e de suas próprias

vivências, para que seja significativo aquilo que lhe vem acerca de uma ciência que

deve ampliar sua visão de mundo e produzir conhecimentos no ambiente escolar.

Dentro desta concepção a proposta está sendo elaborada com o intento de envolver os

professores na elaboração de seu texto, em articulação entre a Universidade e a Escola

para romper com o que nos traz Oliveira, 2005, quando afirma que:

“(...)os professores e os alunos são treinados a não pensar sobre o que

é ensinado e sim, a repetir pura e simplesmente o que é ensinado. O

que significa dizer que eles não participam do processo de produção

do conhecimento.” (p.28).

Além disso, este trabalho objetiva mais do que o cumprimento

do texto da Lei de Diretrizes e Bases de 1996, supracitado, visa também endereçar o

ensino de Geografia no município de Presidente Prudente, contextualizando-o dentro de

um espaço de uma cidade média, que tem suas especificidades nem sempre retratadas

nos livros didáticos que os professores mencionaram em questionário1 como principal

suporte para o ensino da Geografia.

O projeto busca dar alternativas ao trabalho do professor,

possibilitando o exercício da interdisciplinaridade, bem como uma oportunidade para

1Esta constatação foi feita após a análise dos livros didáticos mais apontados pelos professores em questionário aplicado no ano de 2007 em treze escolas da Rede Municipal de Presidente Prudente.

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que se produza conhecimentos no ambiente escolar, para que se pense o ensino da

Geografia a partir da escola, para a qual se destina a proposta.

METODOLOGIA

Inicialmente foi preciso buscar uma metodologia que

possibilitasse aos componentes do grupo de pesquisa um maior conhecimento acerca da

realidade das escolas, para que fosse possível fazer inferências sobre o ensino da

disciplina no município. Optou-se então por aplicar um questionário, com questões que

versassem sobre a concepção de Geografia do professor, quais os materiais utilizados

como suporte e sobre a escolha de conteúdos a serem ministrados em cada série.

Da análise dos dados foi possível extrair que o maior suporte de

trabalho para o professor era o livro didático, apontado por 98% dos professores como o

guia principal para a escolha de conteúdos em cada série, onde uma única coleção era

adotada por toda a escola para que os conteúdos tivessem uma seqüência de uma série

para outra. Este fato reforçou ainda mais a necessidade da elaboração da proposta, tendo

em vista que os professores estavam buscando como alternativa para a escolha de

conteúdos, o livro didático, instrumento alheio à realidade dos alunos, elaborado num

contexto diverso à realidade que vivenciam, em que nem sempre o alunado vê

representado seu modo de vida

Feita esta constatação de que o grande material de suporte para

os professores da rede municipal era o livro didático houve então a necessidade de

analisar esses livros e qual a concepção de Geografia que traziam em suas páginas, pois

através do conhecimento desta Geografia poderíamos entender um pouco mais sobre a

concepção da ciência pelos professores.

Ao analisarmos os livros mais citados pelos professores2 foi

possível perceber que, apesar de serem visualmente atraentes, de apresentarem uma

preocupação em valorizar a questão escalar em cada série, estes livros, em todas as

2 As coleções de livros didáticos mais citados pelos professores nos questionários aplicados e posteriormente analisadas foram:CHIANCA. Rosaly B. & TEIXEIRA. Francisco M.P. Geografia. São Paulo. Ática, 2006GUELLI, Neuza Sanchez &ORENSZTEJN. Miriam. Geografia. São Paulo: Moderna, 2001.LIMA, Mirna. Coleção Porta Aberta. São Paulo: FTD, 2008.PIASSI, et al. Caracol: Ensino Fundamental Geografia. São Paulo,: Scipione, 2004

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séries analisadas ainda aparentam estar desvinculados da realidade dos alunos que

vivem numa cidade média, como Presidente Prudente. É possível que este fato seja em

razão de serem estes livros produzidos em grandes centros urbanos, ou até pela

concepção dos autores sobre os elementos geográficos.

Do trabalho de análise dos livros pudemos também perceber

que, o distanciamento do livro para com a realidade do aluno destaca ainda mais o papel

do professor como agente mediador, entre os conhecimentos da ciência geográfica

presente nos livros didáticos com a vivência dos alunos. Emerge então a questão do

como fazer, como privilegiar as experiências dos alunos na construção do discurso

geográfico que começa, ou deveria começar desde as séries iniciais do ensino

fundamental.

Durante a elaboração da proposta também foram discutidas

questões acerca da formação do professor que ministra aulas nas séries iniciais do

Ensino Fundamental, que na quase totalidade não possui formação em Geografia, o que

poderia dificultar o entendimento dos conceitos e categorias da ciência geográfica.

Para aproximar o professor de algumas discussões e conceitos

presentes no seio da ciência geográfica os estagiários que compunham o grupo de

pesquisa elaboraram um texto sobre as categorias geográficas e os conceitos-base da

Geografia, que, após revisto pelo professor coordenador do grupo de pesquisa

Linguagens Geográficas, tornou-se a base um curso de extensão ministrado aos

professores da rede municipal de Presidente Prudente.

Quando da conclusão do curso iniciou-se a fase de elaboração

da proposta propriamente dita, envolvendo os estagiários da disciplina de Prática de

Ensino do Curso de Licenciatura em Geografia da FCT/UNESP e os estagiários do

projeto vinculados ao Grupo de Pesquisa Linguagens Geográficas, responsável pela

elaboração da proposta.

RESULTADOS PRELIMINARES

Na elaboração da proposta optou-se por não fazê-la de forma a

especificar detalhadamente os conteúdos, mas tratando de diretrizes gerais, ano a ano,

para que os professores pudessem gozar de autonomia para trabalhar de acordo com as

peculiaridades de seu corpo discente. O grupo debruçou-se sobre a construção da

questão escalar, de como seria sua abordagem nas séries iniciais, sobre a questão da

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aquisição de habilidades e competência fundamentais a serem desenvolvidas através do

contato com a disciplina de Geografia, além da promoção da interdisciplinaridade entre

as disciplinas que compõem o núcleo comum de disciplinas nas séries iniciais.

Eis a proposta de forma simplificada, coordenada pelo professor

Cláudio Benito de Oliveira Ferraz e que está sendo discutida por professores e

estagiários do grupo de pesquisa Linguagens Geográficas:

PRIMEIRO ANO

Conteúdo/

Matriz Temática

Atividades Habilidades/

Competências

-Formas dos corpos -Observar, Descrever e desenhar as

formas dos corpos (individual, do pai,

mãe ou irmão; do amigo na sala);

Começando por uma parte do corpo em

tamanho natural (mão ou pé ou nariz) e

depois, em grupo, fazer a escala do corpo

inteiro de cada componente, com cores

diferentes, indicando numa legenda a

quem representa.

-Observar;

Descrever; Ler;

Escrever; Desenhar.

(organizar,

solidarizar)

-Formas dos

objetos

-Observar objetos que mais gosta na casa

(brinquedo ou móvel, etc.); na sala, em

grupo, desenhar aos mesmos,

estabelecendo uma ordem para ajudar

cada membro do grupo. Desenhar a

carteira na sala por diferentes ângulos.

-Observar;

Descrever; Ler;

Desenhar; (organizar,

solidarizar)

SEGUNDO ANO

Conteúdo/

Matriz Temática

Atividades Habilidades/

Competências

-Formas dos

corpos e objetos

-Rememorar os desenhos e

representações dos corpos e objetos

trabalhados no ano anterior e pedir para

-Observar;

Descrever;

Comparar; Ler;

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descreverem o que significam; Pedir

para observarem o amigo e destacar as

mudanças; Medir a altura, peso e

desenhar a forma do amigo.

Calcular; Desenhar;

Escrever

(Comunicar;

Organizar)

-Distribuição dos

corpos e objetos no

lugar

-Observar a sala de aula, destacar seus

principais objetos e elementos; Desenhar

a sua carteira em relação a esses

elementos, ver o que está atrás, na frente

e dos lados; Medir a estas e reproduzir

em escala.

-Descrever e desenhar a parte que mais

gosta da casa e explicar porque gosta.

Destacar os elementos e formas desta

parte da casa. Destacar se essa parte está

na frente ou atrás em relação a rua ou ao

por/nascer do sol.

-Descrever;

Observar; Interpretar;

Localizar; Ler;

Escrever; Desenhar;

Sistematizar

(Comunicar;

Organizar)

-Organizar a

distribuição das

partes do lugar

-Descrever e desenhar a casa e seus

cômodos; Destacar os principais objetos

e funções de cada cômodo. Enumerar a

estes. Pesquisar os membros da família

(idade, local de origem, atividade, peso,

tamanho do pé). Em grupo, comparar as

histórias e ver elementos comuns a elas.

Descrever e desenhar, em grupo, a

escola e suas partes; Destacar os

principais objetos e funções de cada

parte. Enumerar a estas. Fazer pesquisa

sobre quantos alunos, professores e

funcionários a escola tem.

-Descrever;

Localizar; Observar;

Mensurar;

Sistematizar;

Escrever; Desenhar;

Sistematizar

(Organizar;

Solidarizar).

TERCEIRO ANO

Conteúdo/ Atividades Habilidades/

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Matriz Temática Competências

-Mudanças que

aconteceram de um

ano para outro

-Descrever e analisar, escrever e desenhar

as mudanças ocorridas nos alunos,

pessoas e lugares próximos (sala, escola,

casa); Comparar com os registros feitos

no ano anterior, destacando as mudanças

das formas, de localização/distribuição e

de funções

-Descrever;

Analisar;

Observar; Ler,

Comparar;

Localizar;

Sistematizar

-Forma,

organização,

representação e

escala da sala na

escola

-Aplicar o padrão metro para fazer a

escala da sala e objetos. Definir as

legendas e os critérios de elaboração da

representação.

-localizar, por atividade grupal, a sala na

escola fazendo uso da planta da mesma e

de um referencial (norte), uma bússola ou

o sol.

Analisar;

Deduzir;

Observar;

Mensurar,

Localizar;

Orientar

(Organizar,

Cooperar,

Interagir)

-Localizar escola no

bairro e forma do

bairro.

-Comparar a representação da sala, a

localização da mesma na escola, com a

fotografia do Google da escola no Bairro e

deste na cidade. O norte comum a todos.

-Iniciar a descrição do bairro. Alunos

devem observar e descrever, por texto e

desenhos, as características principais do

bairro da escola (comércio, lazer, tipos

das moradias, das ruas, árvores, relevo,

movimento). Comparar fotos e imagens

do Google do bairro com as de outro

bairro e pedir análise dos alunos.

-Entrevistar moradores ou comerciantes

mais antigos para saber como o bairro era

e quais os problemas atuais. Comparar

fotos desses períodos e destacar datas e

episódios importantes (construção da

Deduzir;

Localizar;

Descrever;

Analisar; Ler;

Escrever;

Observar;

Desenhar ;

Sistematizar

(Solidarizar,

Organizar;

Comunicar)

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igreja, da escola, asfalto etc.)

QUARTO ANO

Conteúdo/

Matriz Temática

Atividades Habilidades/

Competências

Mudanças nas

formas, localização

e funções do bairro

Observar, descrever e analisar as causas

das mudanças ou não que ocorreram no

bairro da escola. Das formas e

distribuição das construções e vias de

circulação.

Observar;

Descrever;

Analisar; Ler,

Escrever;

Desenhar;

Comparar;

Deduzir.

A escola no bairro:

seu espaço, nosso

lugar

Organizar por grupos a apresentação da

escola e do bairro para o grupo da mesma

série de outra escola. Escolher as

fotografias e desenhos que retratam o

cotidiano das pessoas e atividades.

Localizar no mapa da cidade e na

imagem do Google. Trocar cartas de

apresentação entre os grupos, assim

como fotos dos alunos e professores.

Apresentar a escola e o bairro para os

visitantes, com as principais

características.

Descrever;

Localizar ;

Sistematizar

(Organizar,

Solidarizar,

Comunicar)

Deslocar no espaço:

orientar e localizar

Destacar no mapa da cidade e no Google

a localização das escolas e o trajeto que

se fará para sair de um lugar e chegar ao

outro. Destacar as formas do relevo e da

ocupação do território. Escolher certos

pontos para observar e tirar fotos (Pontos

elevados, fundos de vale, construções de

destaque). O relatório em grupo deve

comparar as escolas e bairros, destacar as

semelhanças e diferenças, assim como os

Orientar;

Localizar;

Analisar;

Interpretar;

Sistematizar

(Organizar;

Comunicar;

Solidarizar)

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principais aspectos do deslocamento.

Meu lugar no

espaço da cidade

Introduzir a discussão da cidade a partir

das principais características dos

familiares dos bairros das escolas.

Localizar as regiões de comércio,

moradia, indústria, banco, as vias

principais e os nomes de bairros

próximos. Analisar gráficos e tabelas de

população do município, vendo a

evolução da urbana e rural. Identificar os

tipos de trabalho e de produtos de cada

região. Mostrar no mapa e Google os

caminhos de entrada/saída da cidade e

para onde vão.

Analisar,

Localizar;

Interpretar;

Observar.

QUINTO ANO

Conteúdo/

Matriz Temática

Atividades Habilidades/

Competências

Eu no lugar: as

escalas temporais e

espaciais.

Resgatar os registros dos corpos desde a

primeiro ano e pedir para compararem

com o atual. Essas mudanças são

comparadas com as transformações

observadas na escola, bairro e cidade.

Através da observação dos corpos e

objetos nos lugares que não estão

isolados, fazer o exercício da escala da

sala até o mundo, por mapas e pelo

Google. Saber se localizar depende de

onde se está, para onde quer ir e do

contexto do lugar, como participar de um

jogo, precisa saber das regras, do objetivo,

quem participa e como agir. Trabalhar

com os motivos da escolha da casa em

Observar;

Analisar;

Localizar;

Orientar

Deduzir;

Sistematizar;

Comparar;

Interpretar

(Organizar,

Comunicar,

Solidarizar)

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que mora, da profissão dos pais, da

localização de uma indústria ou comércio

na cidade – estimular os alunos

deduzirem quais os motivos por meio de

dados como matéria-prima, vias de

acesso, mão-de-obra etc.

Eu na região:

organizar o território

conforme os

objetivos e usos.

Comparar a divisão do território do corpo

em partes, da casa em cômodos, da cidade

em bairros, ver que o estado também se

divide em regiões e o país em estados,

assim como os continentes em países etc.

Que essa forma de divisão é a partir de

critérios e objetivos, como ocorrem com

as regras de um jogo e dos motivos de

escolha de uma casa e da escola Elaborar

mapas dessa regionalização. Ver outras

formas de regionalização a partir dos

exemplos da cidade ampliados para o

estado e para o país, como área de

comércio, a da cana de açúcar., de

produção de vinho, de vegetação, das

bacias hidrográficas. Os motivos de

escolha de instalação de determinada

indústria ou comércio foi fruto de uma

determinada regionalização e objetivo do

uso do território - A partir dos critérios

elaborar um mapa da região atendida

Analisar;

Localizar

Deduzir;

Comparar;

Interpretar

(Organizar,

Comunicar)

Eu no Mundo: As

tecnologias no

processo de

produção do espaço

Ao resgatar o processo de ocupação da

região do município, demonstrar que dois

elementos pesavam: as condições físicas

do território a ser percorrido e as

tecnologias e técnicas empregadas.

Através de relatos de experiências,

recortes de jornais antigos, mapas, além

Analisar;

Sintetizar;

Interpretar;

Comparar;

Deduzir;

Localizar;

Orientar

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de pinturas e fotografias, ir interpretando

as características físicas do estado e região

e os meios de ocupação, comparando com

agora, vendo as dificuldades e processos.

Comparar a ferrovia na região, com a

tração animal e os rios do período

colonial, com a rodovia e novas

ferramentas usadas atualmente na

Amazônia. Mostrar imagens do processo

de devastação da mata atlântica, do

cerrado e da Amazônia, tendo como

exemplo a sua cidade.

(Organizar,

Solidarizar,

Comunicar).

A criança, desde o nascimento vai ampliando gradativamente

seu campo de visão e precisa de cada vez mais recursos para organizar seu pensamento.

O mundo vai revelando-se lentamente aos olhos da criança, que terá que buscar mais

ferramentas para localizar-se neste novos espaços que vão se mostrando para ela.

Neste ponto emerge a importância de um ensino da Geografia

voltado para satisfazer as necessidades de localização da criança e de compreensão do

eu no mundo. A própria Geografia, segundo o geógrafo Douglas Santos, (2007), nasce

da necessidade concreta de localização no mundo, como se vê no trecho abaixo:

(...) a Geografia não nasce como um

conhecimento resultante da reunião de um conjunto de sábios ou,

mesmo, de uma ou outra obra que qualquer um deles poderia ter

escrito. Trata-se, de fato, de certo tipo de comportamento associado

diretamente às nossas necessidades de sobrevivência. (p.1)

Assim, para que o aluno possa compreender conceitos

como lugar, paisagem, espaço, ela precisa vivenciar quais são as dimensões que estes

conceitos assumem em seu próprio cotidiano e relacionam-se com suas experiências,

para que possa, através do conhecimento advindos da geografia possa dar significados

às suas relações com o mundo.

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A criança vai construindo suas hipóteses e sua visão de mundo a

partir de si mesmo, e depois ampliando seu campo de interferência, gradativamente, o

que demanda uma necessidade de ampliação escalar que parte do eu e vai em direção ao

outro, até atingir o nível do bairro, município, estado, região, país. A ampliação das

escalas na proposta foi feita de forma a respeitar a faixa etária dos alunos e sua

capacidade de abstração.

Nos primeiros e segundos anos, foram privilegiados os estudos

do eixo eu-casa-escola. Ao professor cabe, através dos conteúdos da geografia, buscar

desenvolver habilidades e competências ao observar, comparar, descrever, ler e

comunicar aquilo que foi trabalhado utilizando a linguagem geográfica.

Nos terceiros, quartos e quintos anos, segundo a proposta

elaborada, as escalas vão ganhando maior abrangência passando dos estudos do bairro

até a escala-mundo, já no quinto ano do ensino fundamental. As habilidades de

observar, descrever, ler comparar, vão se somando às de mensurar, interpretar,

sistematizar no decorrer dos anos e na medida em que os alunos tomam mais contato

com a disciplina.

No entanto esta forma de organização dos eixos não deve

significar ao professor uma limitação de escopo. À medida em que a criança traz

informações que não pertencem necessariamente ao nível escalar em que o professor

está trabalhando, é possível que seja feita uma abordagem interrelacionando diferentes

escalas.

Tendo então estas premissas como base, da possibilidade de

uma ampliação escalar gradativa, ao mesmo tempo em que um trabalho interescalar

também é possível, a proposta municipal de ensino de geografia para as séries iniciais

está permeada pela necessidade de trazer à tona o cotidiano dos alunos como um

alimentador da prática de sala de aula, independentemente do ano em que se esta

trabalhando, para que a ciência tenha vida, ganhe novos contornos produzidos pelos

alunos em sala de aula.

A Geografia, como um espaço de excelência para abordagem

dos problemas do cotidiano, muitas vezes desprivilegiou o cotidiano pela dificuldade de

aprender sua dinamicidade, porque muitas vezes a ciência é guiada pela busca de dados

a longo e médio prazo para que assim possa estar mais próxima à verdades irrefutáveis.

Este afastamento das questões do cotidiano reflete-se em sala de aula o que muitas

vezes acaba por deixar os alunos sem referenciais da disciplina, sem conseguir

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relacionar a Geografia com aquilo que ele vivencia. Quanto ao papel dos

acontecimentos do cotidiano, para o ensino FERRAZ, 2007 expõe que:

O professor deve sentir e refletir sobre estas questões, fenômenos e

elementos que compõem a vida cotidiana, observando o potencial

subversivo dos mesmos, estabelecendo críticas, teorizando e dando

certa lógica e objetividade para a complexa fragmentação e

caoticidade destes, de forma que a análise científica deixe de ser a

grande verdade que se impõe ao real, mas que permita que esse real

seja lido em sua diversidade e em sua unidade no próprio processo de

construção e vivência. p . 1

Ainda uma outra abordagem presente na proposta está a

temática da interdisciplinaridade, importante e possível, neste nível de ensino.

Importante porque os alunos ainda não tem o vício predominante na ciência, que

consiste em separar as áreas do conhecimento de forma estanque, sendo este o momento

propício para buscar a integração das disciplinas de forma natural. E com relação a ser

amplamente possível, diz respeito ao fato de ser apenas um professor responsável por

todas as disciplinas, que pode pensar esta integração da Geografia com as demais, de

forma mais articulada tendo em vista que ele mesmo faz o seu planejamento, podendo

flexibilizá-lo e integrar diferentes disciplinas de forma mais autônoma.

Neste nível de ensino, nas séries iniciais, há uma grande

preocupação com a alfabetização, o que resulta muitas vezes num foco restrito ao ensino

da Língua Materna e da Matemática. O que a proposta vem trazer à tona quando

abordada a questão da interdisciplinaridade é a possibilidade de que o espaço também se

estuda através de textos, da literatura, enfim, utilizando conteúdos da língua portuguesa,

assim como da Matemática, de Ciências, de Educação Física, enfim. A presença de

tópicos de interdisciplinaridade no texto da proposta vem de forma a mostrar ao

professor como ela pode ser feita, sem abandonar a construção do discurso geográfico e

continuar desenvolvendo a escrita e o raciocínio lógico-matemático concomitantemente.

A proposta de ensino neste 1º semestre de 2010 está sendo

discutida em duas escolas participantes do projeto . Os professores estão desenvolvendo

a leitura da proposta e elaboração das atividades juntamente com os estagiários do

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grupo de pesquisa Linguagens Geográficas, para que eles possam aplicá-las e, de acordo

com suas experiências modificarem e acrescentarem elementos que enriqueçam e torne

viável a efetivação da proposta em toda a rede municipal de ensino de Presidente

Prudente.

Criar situações de aprendizagem no cotidiano das salas de aula

requer muita habilidade e disposição dos professores para que consigam pensar em

formas de ensinar a ciência geográfica, com conteúdos relevantes, que sejam

instrumentos da ampliação de mundo dos seus alunos.

Consideramos a fase atual da proposta como um momento

paradoxal. A partir da conclusão da organização e sistematização dos conteúdos, inicia-

se também uma fase de reinício. Reinício com os professores e com os alunos nas

escolas, colocando em prática as discussões realizadas, em busca da construção de uma

Geografia que dê significados às relações do aluno com o mundo em que vive, a partir

de seu cotidiano e de suas experiências.

BIBLIOGRAFIA

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