Ami - Enrique Barrios

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Ami O menino das Estrelas Narração

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Ami, o menino das estrelas

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  • AmiO menino das Estrelas

    Narrao

  • 2 difcil aos dez anos de idade escreverum livro. Nesta idade ningum entendemuito de literatura... nem se interessademais; mas eu vou ter que fazer isso,porque Ami disse que se eu o quisesse vernovamente deveria relatar em um livro oque vivi a seu lado.

    Ele me advertiu que entre os adultos,muito poucos me entenderiam, porquepara eles era mais fcil acreditar no terrvelque no maravilhoso.

    Para evitar problemas ele merecomendou que dissesse que tudo erauma fantasia, uma histria para crianas.

    Eu vou obedecer-lhe. ISTO UMAHISTRIA.

  • 3ADVERTNCIA(Destinada somente para adultos)

    No continue lendo, voc no vai gostar, daqui em diante maravilhoso.

  • 4Primeira Parte

    Captulo 1

    O primeiro encontro

    Tudo comeou numa tarde do vero passado, numa praia que vouquase todos os anos com minha av.

    Desta vez conseguimos uma casinha de madeira. Havia muitospinheiros e boldos do Chile no quintal e, na frente, um jardim cheio de flores.Estava perto do mar, num caminho que leva at a praia.

    Iam ficando poucas pessoas porque o vero j estava terminando.Minha av gosta de tirar frias nos primeiros dias de maro; ela diz que mais tranquilo e mais barato.

    Comeou a escurecer; eu estava sentado numas pedras altas perto deuma praia solitria, contemplando o mar. De repente, vi no cu uma luzvermelha em cima de mim. Pensei que eram fogos de artifcio, desses que sesoltam no ano novo. Vinha descendo, mudando de cores e largando fascas.Quando chegou mais perto percebi que no eram fogos de artifcio, porqueao crescer chegou a ter o tamanho de um ultraleve ou talvez at maior

    Caiu no mar a uns cinquenta metros da beira, na minha frente, semfazer nenhum barulho. Pensei que tinha sido testemunha de um acidenteareo. Olhei procurando algum paraquedista no cu, no encontrei nenhum.Nada alterava o silncio e a tranquilidade da praia.

    Tive muito medo e senti vontade de sair correndo para contar minhavov; mas esperei um pouco para ver se via alguma outra coisa. Quando jestava indo embora, apareceu alguma coisa branca boiando no ponto ondeeu tina visto cair o avio, ou o que quer que fosse: algum vinha nadandopara as pedras. Imaginei que era o piloto, que tinha conseguido se salvar doacidente. Esperei que se aproximasse, para tentar ajud-lo.

    Como nadava com agilidade, compreendi que no estava ferido.Quando chegou mais perto, percebi que se tratava de um menino.

    Chegou at as pedras e antes de comear a subir me olhou amigavelmente.Pensei que estava contente por ter se salvado; a situao no pareciadramtica para ele, e isso me acalmou um pouco. Veio at onde eu estava,sacudiu a gua dos cabelos e sorriu; a eu me tranquilizei definitivamente; eletinha cara de ser um menino bom. Sentou-se ao meu lado, suspirou comresignao e ficou olhando as estrelas que comeavam a brilhar no cu.

    Parecia mais ou menos da minha idade, um pouco menor e maisbaixinho; usava uma espcie de uniforme branco como de piloto, feito comalgum material impermevel, pois no estava molhado; sua roupa terminavacom um par de botas brancas com solas grossas. Levava ao peito um escudodourado: um corao alado dentro de um crculo.

    Seu cinto, tambm dourado, tinha de cada lado algo parecido a rdiosportteis, e no centro, uma grande fivela muito bonita.

    Sentei-me ao seu lado. Ficamos um momento em silncio; como eleno dizia nada, perguntei o que tinha acontecido.

    Uma aterrizagem forada respondeu, rindo.

  • 5Era simptico, e como tinha um sotaque bastante estranho, imagineique viesse de outro pas no avio. Seus olhos eram grandes e bondosos.

    Que aconteceu com o piloto? perguntei. Como ele era um menino,achei que o piloto deveria ser uma pessoa adulta.

    Nada. Ele est aqui, sentado com voc respondeu. Ah! fiquei maravilhado. Esse menino era um prodgio! Na minha

    idade j dirigia avio! Imaginei que seus pais fossem ricos.Foi ficando noite e tive frio. Ele percebeu, pois me perguntou: Voc est com frio? Estou. A temperatura agradvel disse-me, sorrindo. Senti que realmente

    no estava fazendo frio. verdade repondi.Depois de alguns minutos perguntei o que ele ia fazer. Realizar a misso respondeu, sem deixar de olhar para o cu.Pensei que estava diante de um menino importante, no como eu, um

    simples estudante em frias. Ele tinha uma misso... talvez algo secreto...No me atrevi a perguntar de que se tratava.

    No lhe d pena ter perdido o avio? No se perdeu respondeu, deixando-me sem compreender. No se destruiu por completo? No. Como voc vai tir-lo da gua para consertar... Ou no vai poder? Oh, sim, vou poder tir-lo da gua. Observando-me com simpatia

    perguntou: como voc se chama? Pedro respondi mas eu no comeava a gostar disso: ele no

    respondia a minha pergunta. Parece que ele percebeu meu desagrado eachou graa.

    No se zangue, Pedrinho, no se zangue... Quantos anos voc tem? Dez... quase. E voc?Riu com suavidade, com o riso de um nenm quando a gente faz

    ccegas nele. Senti que estava querendo se mostrar mais importane do queeu, porque ele dirigia um avio e eu no; isso no me agradava. Contudo, eleera simptico, agradvel; e eu no consegui me zangar realmente com ele.

    Tenho mais anos do que voc seria capaz de acreditar respondeu,sorrindo. Tirou do seu cinto uma espcie de calculadora de bolso, que eleligou e onde apareceram uns sinais desconhecidos para mim. Fez algunsclculos e quando viu a resposta me disse sorrindo:

    No, no... se eu disser voc no vai acreditar...

    Ficou noite e apareceu uma bela lua cheia que iluminava a praia toda.Olhei para o seu rosto com ateno. Ele no podia ter mais do que uns oitoanos, e apesar diso j era piloto de avio... Ser que era mais velho?... Noseria um ano?

    Voc acrdita nos extraterrestres? perguntou-me para surpresaminha. Demorei um bom tempo em responder. Ele me observava com osolhos cheios de luz, dando a impresso que as estrelas da noite se refletiamnas suas pupilas. Era realmente muito bonito para ser normal. Lembrei do

  • 6avio em chamas, sua apario, sua calculadora com estranhos sinais, seusotaque, sua roupa... alm disso, era um menino, e ns, os meninos, nopilotamos avies...

    Voc um extraterrestre? perguntei, com um pouco de medo. E se fosse... Voc teria medo?Foi ento que eu soube que ele vinha, mesmo, de outro planeta.Fiquei um pouco assustado, mas seu olhar estava cheio de bondade. Voc malvado? perguntei, um pouco tmido. Ele deu risada,

    divertido. Quem sabe voc at um pouco mais malvadinho do que eu... Por qu? Porqu voc um terrcola. Voc de verdade um extraterrestre? No precisa se assustar consolou-me sorrindo e apontou para as

    estrelas enquanto dizia: este universo est cheio de vida... milhes e milhesde planetas so habitados... tem muita gente boa ali em cima...

    Suas palavras produziam um estranho efeito em mim. Quando eledizia essas coisas eu podia "ver" esses milhes de mundos habitados porpessoas bondosas. Perdi o medo. Decidi aceitar sem me surpreender que eleera um ser de outro planeta. Parecia amigvel e inofensivo.

    Por qu voc diz que os terrcolas so malvados? perguntei. Elecontinuou olhando para o cu e disse:

    Que belo ver-se o firmamento daqui da Terra... Esta atmosfera lhed um brilho... uma cor...

    No estava me respondendo outra vez. Novamente me aborreci; almdisso eu no gosto que pensem que eu sou malvado, no sou mesmo, aocontrrio: queria ser explorador quando fosse grande e caar gente malvadanos momentos livres...

    L nas Pliades, h uma civilizao maravilhosa... No somos todos malvados aqui...

    Veja essa estrela... era assim h um milho de anos... j noexiste...

    Eu disse que no somos todos malvados aqui. Por que voc disseque todos os terrcolas so malvados? Hein?

    No foi isso o que eu disse respondeu sem deixar de olhar o cu;seu olhar brilhava um milagre...

    Voc disse!Como levantei a voz, consegui tir-lo dos seus sonhos; estava igual a

    uma prima minha quando fica olhando a foto de seu cantor preferido; ela estlouquinha por ele.

    Olhou-me com ateno; no parecia estar zangado comigo. Quis dizer que os terrcolas normalmente no so to bons como os

    habitantes de outros mundos do espao.

  • 7 Est vendo? voc est dizendo que somos os mais malvados doUniverso.

    Ele riu de novo e me acariciou os cabelos. Tambm no foi isso que eu quis dizer.A eu no gostei nada. Puxei a cabea para trs. Se tem algo que eu

    no gosto de que me tratem como um bobo, porque sou um dos primeirosda minha turma, alm disso vou fazer DEZ ANOS.

    Se este planeta to ruim, o que que voc est fazendo aqui? Voc j reparou como a lua se reflete no mar?Ele continuava a me ignorar e mudar de assunto. Voc disse para reparar no reflexo da lua? Talvez... Voc j percebeu que ns estamos flutuando no universo?Quando ele disse isso, achei que tinha entendido a verdade: esse

    menino estava louco. Claro! Pensava que era um extraterrestre, por isso medizia coisas to estranhas. Eu quis voltar para casa, de novo me sentia mal,mas agora, por ter acreditado nas suas histrias fantsticas. Ele estavacaoando de mim... extraterrestre... e eu acreditei!. Senti vergonha, raiva demim mesmo e dele. Tive vontade de dar-lhe um murro no nariz.

    Por qu? O meu nariz muito feio?

    Fiquei paralisado. Tive medo. Ele tinha lido o meu pensamento!Olhei para ele. Sorria vitorioso. No quis me render, preferi pensar que issofoi por pura casualidade, uma coincidncia entre o que eu pensei e o que eledisse. No demonstrei surpresa, quem sabe era verdade, mas eu tinha quecomprovar... Talvez estivesse diante de um ser de outro mundo, umextraterrestre que podia ler o pensamento.

    Decidi coloc-lo prova. Que estou pensando agora? disse isso e fiquei pensando num bolo

    de aniversrio. No so suficientes as provas que voc j tem? perguntou. Mas eu

    no estava disposto a ceder nem um milmetro. Que provas?Esticou as pernas e apoiou os cotovelos nas pernas. Veja, Pedrinho, exitem outros tipos de realidades, outros mundos

    mais sutis, com portas sutis para inteligncias sutis... Que significa sutis?

    Com quantas velinhas?... disse sorrindo.

    Foi como um soco no estmago. Tive vontade de chorar, senti-metonto e fraco. Pedi que me desculpasse, mas ele no se incomodou poraquilo, no prestou ateno e deu risada.

    Decidi no duvidar mais dele.

  • 8Captulo 2

    Pedrinho voador

    Venha, fique na minha casa ofereci, pois j era tarde. Melhor no inclurmos adultos na nossa amizade disse, franzindo o

    nariz enquanto sorria. Mas eu tenho que ir... Sua av dorme profundamente, no vai sentir sua falta se a gente

    conversar um pouco.De novo senti surpresa e admirao. Como que ele sabia da minha

    av?... Lembrei que era um extraterrestre. Voc pode ver a vov? Da minha nave vi que ela j estava quase dormindo respondeu

    com malcia. Depois, exclamou entusiasmado: Vamos passear pela praia! Levantou-se e deu um salto, correu at a

    beira da pedra que era altssima e se lanou areia.Descia lentamente, planando como uma gaivota!Lembrei que no devia surpreender-me demais por nada que viesse

    daquele alegre menino das estrelas.Desci da pedra como pude, com muito cuidado. Como voc faz? perguntei, referindo-me a seu incrvel planar. Sentindo-me como uma ave respondeu, e saiu correndo

    alegremente entre o mar e a areia, sem ter nenhum motivo especial parafazer isso. Teria gostado de poder atuar como ele, mas no podia.

    Claro que pode!Outra vez tinha captado meu pensamento. Veio at mim tentando me

    animar e disse: Vamos correr e saltar como pssaros! Ento me deu a moe senti uma grande energia. Comeamos a correr pela praia.

    Agora... vamos saltar!Ele conseguia se elevar muito mais do que eu e me impulsionava para

    cima com sua mo. Parecia que se suspendia no ar por instantes.Continuvamos correndo e de trecho em trecho saltvamos.

    Somos aves, somos aves! embriagava-me e animava. Pouco apouco fui deixando meu pensamento habitual, fui me transformando, j noera o mesmo menino de todos os dias. Animado pelo extraterrestre fuidecidindo ser leve, como uma pluma, estava pouco a pouco aceitando seruma ave.

    Agora... pule!Realmente, comevamos a nos manter no ar durante alguns

    instantes. Caamos suavemente e continuvamos correndo, para depoisnovamente elevar-nos. Cada vez era melhor, isso me surpreendia...

    No se surpreenda... voc pode... agora!Em cada tentativa era mais fcil conseguir. Corramos e saltvamos

    como em cmara lenta, pela beira da praia, numa noite de lua e cheia deestrelas... Parecia outra maneira de existir, outro mundo.

    Com amor pelo vo! animava-me. Um pouco mais adiante soltouminha mo.

    Voc pode, claro que pode! olhava-me, transmitindo confianaenquanto corria ao meu lado.

  • 9 Agora! Elevvamo-nos lentamente, mantnhamo-nos no ar ecomevamos a cair como se planssemos, com os braos abertos.

    Bravo, bravo! felicitava-me.

    No sei quanto tempo brincamos nessa noite. Para mim foi como umsonho.

    Quando me cansei, joguei-me na areia, ofegante e rindo feliz. tinhasido fabuloso, uma experincia inesquecvel.

    No disse nada a ele, mas por dentro agradeci ao meu estranhoamiguinho por ter me permitido realizar coisas que eu pensava que fossemimpossveis. Ainda no sabia de todas as surpresas que me esperavamnaquela noite...

    As luzes de um balnerio brilhavam do outro lado da baa. Meu amigocontemplava com deleite os movedios reflexos sobre as guas noturnas,extasiado, deitado na areia banhada pela claridade da lua, depois enchia-sede jbilo olhando a lua cheia.

    Que maravilha... ela no cai! ria Este seu planeta muito lindo!Nunca tinha pensado nisso, mas agora, ao ouvi-lo... sim, era lindo ter

    estrelas, mar, praia e uma lua to bonita ali pendurada... e alm do mais, nocaa...

    O seu planeta no bonito? perguntei. Suspirou profundamenteolhando para um ponto no cu, nossa direita.

    Oh, sim, tambm , mas todos ns sabemos disso... e cuidamosdele...

    Lembrei que ele tinha insinuado que os terrcolas no so muito bons.Pensei que tinha compreendido uma das razes: ns no valorizamos nemcuidamos do nosso planeta; eles sim, preocupam-se com o deles; eles simcuidam do deles.

    Como voc se chama?Achou engraada minha pergunta. No posso lhe dizer. Por que... um segredo? Que nada; no existem segredos! somente que no existem em seu

    idioma esses sons. Que sons? Os do meu nome.Isso me surpreendeu, porque eu tinha pensado que ele falava meu

    idioma, apenas com outro sotaque. Ento, como voc aprendeu a falar minha lngua? Nem a falo, nem a compreendo... Somente tenho isto respondeu,

    divertido, enquanto pegava um aparelho do seu cinto.Isto um "tradutor". Esta caixinha explora o seu crebro na velocidade

    da luz e me transmite o que voc quer dizer, assim eu posso compreender, equando vou dizer alguma coisa ela me faz mover os lbios e a lngua comovoc o faria... bom... quase como voc. Nada perfeito.

    Guardou o "tradutor" e ficou contemplando o mar, enquanto seguravaos joelhos, sentado na areia.

  • 10

    Ento, como posso cham-lo? perguntei. Voc pode me chamar "Amigo", porque isso o que eu sou: um

    amigo de todos. Vou cham-lo "Ami". mais curto e parece um nome.Ele gostou do seu apelido novo. perfeito, Pedrinho! demos um aperto de mos. Senti que selava

    uma nova e grande amizade. E assim seria...

    Como se chama o seu planeta? Puf!... tambm no d. No existe equivalncia de sons, mas est

    por ali, apontou sorrindo para umas estrelas.

    Enquanto Ami observava o cu, eu fiquei pensando nos filmes deinvasores extraterrestres que tinha visto tantas vezes pela televiso.

    Quando vo nos invadir?Achou engraada minha pergunta. Por que voc pensa que ns vamos invadir a Terra? No sei... nos filmes, todos os extraterrestres invadem a Terra.. Ou

    quase todos...Desta vez sua risada foi to alegre que me contagiou. Depois tentei

    me justificar: ... que na televiso... Claro, a televiso!... Vamos ver uma de invasores disse,

    entusiasmado, enquanto da fivela do seu cinto tirava outro aparelho. Apertouum boto e apareceu uma tela acesa. Era uma pequena televiso em cores,sumamente ntida. Mudava os canais rapidamente. O mais surpreendente eraque nessa regio s se podiam sintonizar dois canais, mas no aparelho iaaparecendo uma infinidade: filmes, programas ao vivo, noticirios,comerciais, tudo em diferentes idiomas e por pessoas de diversasnacionalidades.

    Os de invasores so ridculos dizia Ami. Quantos canais voc pode sintonizar a? Todos os canais que esto sendo transmitidos neste momento no

    seu planeta... Este aparelho recebe os sinais que os nossos satlites captame os amplifica. Aqui tem um, na Austrlia, veja!

    Apareciam uns seres com cabea de polvo e um monto de olhossaltados cheios de veias vermelhas. Disparavam raios verdes contra umamultido de aterrorizados seres humanos. Meu amigo parecia divertir-se comesse filme.

    Que barbaridade! Voc no acha cmico, Pedrinho? No, por qu? Porqu esses monstros no existem. Somente nas monstruosas

    imaginaes dos que inventam esses filmes...No me convenceu. Tinha estado anos vendo todo tipo de seres

    espaciais perversos e espantosos, impossveis de serem apagados de umavez.

    Mas se aqui mesmo na Terra tem iguanas, crocodilos, polvos, porque no vo existir em outros mundos?

  • 11

    Ah, isso. Claro que tem, mas no constroem pistolas de raios, socomo os daqui: animais. No so inteligentes.

    Mas talvez existam mundos com seres inteligentes e malvados... "Inteligentes e malvados"! Ami dava risada Isso como dizer

    bons-maus.Eu no conseguia compreender. E esses cientistas loucos e perversos

    que inventam armas para destruir o mundo, contra os quais Batman eSuperman lutam? Ami captou meu pensamento e explicou rindo:

    Esses no so inteligentes, so loucos. Bom, ento possvel que exista um mundo de cientistas loucos que

    poderiam nos destruir... Alm dos daqui da Terra, impossvel... Por qu? Porque se so loucos, destroem-se a si mesmos primeiro. No

    conseguem obter o nvel cientfico necessrio para poder abandonar seusplanetas e partir para invadir outros mundos. mais fcil construir bombas doque naves intergalticas, e se uma civilizao no tem bondade e alcana umalto nvel cientfico, mais cedo ou mais tarde vai utilizar seu poder cientficocontra si mesma, muito antes de poder partir para outros mundos.

    Mas em algum planeta poderiam sobreviver, por casualidade... Casualidade? No meu idioma no existe essa palavra. Que significa

    casualidade?Tive de dar vrios exemplos para que ele compreendesse. Quando

    consegui, ele achou engraado. Disse que tudo est relacionado, mas queno compreendemos a lei que une todas as coisas, ou no a queremos ver.

    que se so tantos os milhes de mundos, como voc diz,poderiam sobreviver alguns malvados sem se destruir. Eu continuavapensando na possibilidade dos invasores. Ami tentou fazer-me compreender:

    Imagine que muitas pessoas tem que pegar uma barra de ferroquente, uma a uma, com as mos nuas. Qual a possibilidade de quealguma no se queime?

    Nenhuma; todas se queimam respondi. assim mesmo, todos os malvados se autodestroem se no

    conseguem superar sua maldade. Ningum escapa da lei que rege esseassunto.

    Que lei? Quando o nvel cientfico de um mundo supera em muito o nvel de

    amor, esse mundo se autodestri... Nvel de amor?Podia entender com clareza o que o nvel cientfico de um planeta,

    mas no compreendia o que era o "nvel de amor". A coisa mais simples , para alguns, a mais difcil de compreender...

    O amor uma fora, uma vibrao, uma energia cujos efeitos podem sermedidos por nossos instrumentos. Se o nvel de amor de um mundo baixo,existe infelicidade coletiva, dio, violncia, separatismo, guerras e... com umnvel perigosamente alto de capacidade destrutiva... compreende-me,Pedrinho?

    Em geral, no. O qu voc quer dizer? DEVO lhe dizer muitas coisas, mas vamos aos poucos. Comecemos

    por suas dvidas.

  • 12

    Ainda no podia acreditar que no existissem monstros invasores.Contei-lhe um filme no qual "extraterrestres lagartos" dominavam muitosplanetas porque estavam muito bem organizados. Ele disse:

    Sem amor no pode existir uma organizao duradoura. Nessecaso, preciso obrigar, forar. Ao final, aparece a rebeldia, a diviso e adestruio. S existe uma forma universal perfeita de organizao, capaz deassegurar a sobrevivncia, e possvel naturalmente quando uma civilizaose aproxima ao amor, quando evolui. Os mundos que chegam a isso soevoludos, civilizados, no fazem mal a ningum. No existe nenuma outraalternativa em todo o Universo. Uma inteligncia maior do que a nossainventou tudo isto...

    Eu continuei sem compreender nem uma palavra, apesar de quedepois ele conseguiu me explicar melhor; no momento eu continuava comdvidas a respeito dos monstros inteligentes e malvados.

    Televiso demais! exclamou Ami, para logo acrescentar: Os monstros que imaginamos esto dentro de ns mesmos.

    Enquanto no os abandonarmos, no merecemos alcanar as maravilhas doUniverso... Os malvados no so bonitos nem inteligentes.

    Mas... e essas mulheres lindas e malvadas que aprecem nos filmes? Ou no so lindas ou no so ms... A verdadeira inteligncia, a

    bondade e a beleza andam de mos dadas; tudo consequncia do mesmoprocesso evolutivo que leva ao amor.

    Ento voc quer dizer que no h gente malvada no Uhniverso, almdos daqui da Terra?

    Claro que h. Existem mundos nos quais voc no poderiasobreviver nem meia hora. Aqui mesmo, na Terra, h um milho de anos...Existem mundos habitados por verdadeiros monstros humanos...

    Est vendo, est vendo? exclamei triunfante voc mesmoreconhece, eu tinha razo; eu estava me referindo a esses monstros...

    Mas no se preocupe; eles esto "embaixo", no "em cima", habitammundos mais atrasados do que este; suas mentes no lhes permitem nemmesmo conhecer a roda, assim no vo chegar at aqui...

    Isso era tranquilizador. Ento, depois de tudo, os terrcolas no so os mais malvados do

    Universo... No; mas voc um dos mais bobinhos da galxia!Rimos como bons amigos.

  • 13

    Captulo 3

    No se pre-ocupe

    Que smbolo esse que voc usa no peito? o emblema do meu trabalho respondeu, enquanto apontava para

    cima Sabe? aqui "pertinho", num planeta de Srio, existem praias corvioleta... so esplndidas. Se voc visse o que um entardecer com essesdois sis gigantes...

    Voc viaja na velocidade da luz?Minha pergunta lhe pareceu cmica. Se eu viajasse to "devagar" teria ficado velho antes de chegar aqui. Com que velocidade voc viaja, ento? Em geral ns no "viajamos"; mais exatamente nos "situamos", mas

    de uma ponta a outra da galxia demoraria... pegou sua calculadora docinto e fez umas contas usando suas medidas de tempo... hummmm... umahora e meia, e de uma galxia a outra demoraria vrias horas.

    Que brbaro! Como voc consegue? Voc pode explicar para um nenm porque dois mais dois so

    quatro? No respondi nem eu mesmo sei. Eu tambm no posso lhe explicar algumas coisas relacionadas com

    a contrao e a curvatura do espao-tempo... nem precisa... Veja comodeslizam essas pequenas aves pela areia, como se patinassem... quemaravilha!

    Ami estava contemplando umas aves que corriam em grupo pelapraia, colhendo algum alimento que as ondas depositavam na areia. Lembreique era tarde.

    Tenho que ir embora... minha vov... Ainda est dormindo. Estou preocupado. Preocupado? que bobagem. Por qu? "Pre" significa "antes de". Eu no me "pre-ocupo"; ocupo-me. No o entendo, Ami. No passe a vida imaginando problemas que no aconteceram nem

    vo acontecer. Desfrute o presente. A vida curta. Quando aparece umproblema real, ento voc se "ocupa" dele. Voc acharia correto que nsestivssemos preocupados imaginando que poderia aparecer uma ondagigante e nos devorar? Seria uma bobagem no desfrutar esse momento,numa noite to linda... Observe estas aves que correm sem preocupao...por que perder este momento por algo que no existe?

    Mas a minha vov existe... Claro, mas no existe nenhum problema com isto... E este momento,

    no existe? Estou preocupado... Ah, terrcola, terrcola... Est bem, vamos ver a sua av.Pegou seu aparelho de televiso e comeou a sintonizar. Na tela

    apareceu o caminho que leva at a minha casa. A "cmera" ia avanandoentre as rvores e as pedras do caminho. Aparecia tudo em cores e

  • 14

    iluminado com se fosse dia. Penetramos atravs de uma janela da casa,apareceu a vov dormindo profundamente na sua cama, dava at paraescutar sua respirao. Aquele aparelho era incrvel!

    Dorme como um anjinho comentou Ami, rindo. No um filme? No. "ao vivo e direto"... vamos at a copa.A "cmera" atravessou a parede do dormitrio e apareceu na copa. Ali

    estava a mesa, com sua toalha de quadrados grandes, e no meu lugar haviaum prato coberto por outro, virado.

    Isto se parece ao meu "ovni"! brincou Ami Vamos ver o que voctem para jantar mexeu alguma coisa no aparelho e o prato de cima ficoutransparente como vidro. Apareceu um pedao de carne assada, com batatafrita e salada de tomate.

    Ui! exclamou Ami, com nojo como vocs conseguem comercadver...

    Cadver? Cadver de vaca... vaca morta. Um pedao de vaca morta.Assim como ele descrevia, eu tambm senti nojo. Como funciona esse aparelho, onde est a cmera? perguntei,

    bastante intrigado. No necessita cmera. Este aparelho focaliza, capta, filtra,

    seleciona, amplia e projeta... simples, no?Parecia que ele estava caoando de mim. Por qu se v de dia, se de noite? Existem outras "luzes" que seu olho no pode ver e que este

    aparelho pode captar. Que complicado! Nada disso. Eu mesmo fiz este cacareco... Voc mesmo! muitssimo antigo, mas eu sinto carinho por ele. uma lembrana,

    um trabalho da escola primria... Vocs so uns gnios! Claro que no. Voc sabe multiplicar? Claro respondi Ento voc um gnio... para quem no sabe multiplicar. Tudo

    uma questo de nveis. Um rdio transistorizado um milagre para os ndiosdas selvas.

    verdade. Voc acha que algum dia vamos poder ter aqui na Terrainvenes como a sua?

    Ele ficou srio pela primeira vez. Olhou-me, e seu olhar denotava certatristeza.

    No sei. Como que voc no sabe? Voc sabe tudo! Tudo no. O futuro ningum conhece... felizmente. Por qu voc diz "felizmente"? Imagine, a vida no teria nenhum sentido se a gente conhecesse o

    futuro. Voc gosta de saber de antemo o final de um filme que est vendo? No. Irrita-me respondi Gostaria de ouvir uma piada que j conhece?

  • 15

    Tambm no. chatssimo. Gostaria de saber que presente voc vai receber no seu aniversrio? Isso ainda menos.Seu modo de ensinar era ameno, com exemplos claros. A vida perderia todo o seu sentido se a gente conhecesse o futuro.

    S podemos calcular as possibilidades. Como isso? Por exemplo, calcular as possibilidades ou probabilidades que a

    Terra tem de se salvar... Salvar-se, salvar-se de qu? Como de qu!... Voc no ouviu falar da contaminao, das guerras,

    das bombas? Ah, sim! Voc quer dizer que aqui tambm estamos correndo perigo,

    como nos mundos dos malvados? Existem muitas possibildades. A relao entre a cincia e o amor

    est terrivelmente inclinada para o lado da cincia; milhes de civilizaescomo esta se autodestruram. um ponto de mudana... perigoso.

    Assustei-me. Nunca tinha pensado seriamente na possibilidade deuma terceira guerra mundial ou de uma catstrofe. Fiquei um bom tempomeditando. De repente, tive uma idia maravilhosa:

    Faam alguma coisa! Alguma coisa como qu? No sei... aterrizar mil naves e dizer aos presidentes que no faam

    a guerra... alguma coisa assim Ami riu. Se fizssemos algo assim, a primeira coisa que conseguiramos

    seriam milhes de infartos cardacos, por culpa justamente desses filmes deinvasores, e ns no somos desumanos, no podemos provocar algo assim.Em segundo lugar, se dissssemos, por exemplo: transformem suas armasem instrumentos de trabalho, vocs pensariam ser uma estratgiaextraterrestre para os debilitar e depois dominar o planeta. Terceiro, vamossupor que cheguem a compreender que somos inofensivos, tambm noabandonariam as armas.

    Por qu? Porque teriam medo dos outros pases. Quem vai se desarmar

    primeiro? Nenhum. Mas eles devem ter confiana... As crianas podem ter confiana, os adultos no... e menos ainda os

    presidentes, e com razo, porque alguns sentem vontade de dominar tudo oque podem...

    Eu estava realmente nervoso. Comecei a procurar uma soluo paraevitar a guerra e a possvel destruio da humanidade. Pensei que osextraterrestres poderiam tomar o poder pela fora na Terra, destruir asbombas e nos obrigar a viver em paz. Disse isso a ele. Quando parou de rir,afirmou que eu no conseguia deixar de ser terrcola ao pensar.

    Por qu? Pela fora, destruir, obrigar, tudo isso terrcola, incivilizado,

    violncia. A liberdade humana algo sagrado, tanto a nossa como a alheia.Obrigar no existe em nossos mundos; cada pessoa valiosa e respeitada.Pela fora e destruio violncia, o que vem de "violar"; violar a Lei douniverso...

  • 16

    Ento vocs no fazem a guerra? Ainda no tinha terminado defazer esta pergunta quando me senti estpido por t-la feito.

    Olhou-me com carinho e colocando sua mo nomeu ombro, disse:

    Ns no fazemos a guerra, porque acrditamos em Deus.

    Sua resposta surpreendeu-me muito. Eu tambm acreditava em Deus,mas ultimamente estava pensando que somente os padres do meu colgioacreditavam Nele, e tambm as pessoas com pouca cultura, porque tenhoum tio que fsico nuclear da Universidade e ele diz que "a intelignciamatou Deus".

    Seu tio um tolo afirmou Ami, depois de ler meus pensamentos. No acho; ele considerado um dos homens mais inteligentes do

    pas. um tolo Ami insistia a ma pode matar a macieira? A onda

    pode matar o mar?... Pensei que... Enganou-se. Deus existe.

    Fiquei pensando em Deus, um pouco arrependido por ter duvidado dasua existncia.

    Ei, tira essa barba e essa tnica!Ami ria, porque tinha visto minhas imagens mentais de Deus. Ento... no tem barba, Deus raspa a barba?Meu amigo espacial se divertia com minha confuso. Esse um deus terrestre demais comentou. Por qu? Porque tem a aparncia de um terrestre.O que ele estava querendo me dizer? Que os extraterrestres no tm

    aparncia humana? Mas, como?... Voc disse que os seres humanos de outros mundos

    no tm forma estranha ou monstruosa, apesar disto, voc mesmo pareceum terrestre...

    Ami, rindo, pegou um graveto e desenhou uma figura humana naareia.

    O modelo humano universal: cabea, tronco e membros, masexistem pequenas variaes em cada mundo: altura, cor da pele, forma dasorelhas; pequenas difrenas. Sou parecido um terrestre porque as pessoasdo meu planeta so iguais s crianas da Terra, mas Deus no tem forma dehomem. Venha, vamos passear.

    Comeamos a andar pelo caminho que vai ao povoado. Colocou seubrao no meu ombro e senti nele o irmo que nunca tive.

    De longe se escutavam algumas aves noturnas a grasnar. Ami pareciadeleitar-se com esses sons; inspirou o ar martimo e disse:

    Deus no tem aparncia humana seu rosto brilhava na noite aofalar do Criador no tem forma alguma, no uma pessoa como voc oucomo eu. um Ser infinito, pura energia criadora... puro amor...

    Ah!

  • 17

    Ele dizia isso de uma maneira to bela, que conseguia que eu meemocionasse.

    Por isso o universo lindo e bom... maravilhoso.Pensei nos habitantes desses mundos primitivos que ele tinha

    mencionado, e tambm nas pessoas malvadas desse mesmo planeta. E os maus? Eles chegaro a ser bons algum dia... Era melhor se eles tivessem nascido bons logo do comeo, assim

    no haveria nada ruim em nenhum lugar. Se no se conhecesse o mal, como se poderia desfrutar o bem,

    como se poderia dar-lhe valor? perguntou Ami. No entendo direito. Voc no acha maravilhoso poder olhar, ver? No sei. Nunca tinha pensado nisso... Acho que sim. Se voc tivesse nascido cego e de repente adquirisse a viso, ento

    voc acharia maravilhoso poder ver... Ah, sim! Aqueles que viveram existncias difceis, violentas, quando

    conseguem atingir uma vida mais humana a valorizam como ningum... Senunca existisse noite, no poderamos desfrutar o amanhecer...

    amos caminhando pela ruazinha iluminada pela lua e ladeada dervores. Passamos pela frente de minha casa, entrei silenciosamente parapegar um suter e voltei ao lado de Ami. Continuamos caminhando econversando. Ele contemplava tudo enquanto falava. Ainda no apareciamas primeiras ruas do povoado nem as luzes dos postes da cidadezinha.

    Voc percebe o que est fazendo? perguntou-me de surpresa. No... o qu? Voc est caminhando, voc pode caminhar... Ah, sim; claro... o que tem isso de extraordinrio? Existem pessoas que ficaram paralticas, e depois de meses ou anos

    de exerccios conseguiram voltar a caminhar; para elas sim, extraordinriopoder caminhar, agradecem e desfrutam isso; no entanto, voc caminha semperceber, sem encontrar nada de especial nisso...

    Tem razo, Ami. Voc me diz muitas coisas novas...

  • 18

    Captulo 4

    A polcia!

    Chegamos at a primeira rua iluminada pelos postes de luz. Deviamser onze da noite. Parecia uma aventura andar sem minha vov, to tardepelo povoado, mas eu me sentia protegido ao lado de Ami.

    Enquanto caminhvamos, ele se detinha para olhar a lua entre asfolhas dos eucaliptos, s vezes me dizia que ficssemos a ouvir o coaxar dasrs, o canto dos grilos noturnos, o longnquo rudo das ondas. Detinha-se arespirar o aroma dos pinheiros, do crtex das rvores, da terra, a observaruma casa que ele achava bonita, uma rua ou um cantinho em uma esquina.

    Veja que lindos esses candeeiros... parecem um quadro... observecomo cai a luz sobre essa trepadeira... e essas anteninhas recortadas contraas estrelas... A vida no tem outro propsito que o de se desfrut-la de umamaneira s, Pedrinho.

    Procure colocar sua ateno em tudo o que a vida lhe proporciona... Amaravilha est em cada instante... Tente sentir, perceber, em lugar depensar. O sentido profundo da vida est alm do pensamento... Sabe,Pedrinho, a vida um conto de fadas feito realidade... um dom maravilhosoque Deus lhe brinda... porque Deus o ama...

    Suas palavras me faziam ver as coisas de um novo ponto de vista.Parecia-me incrvel que esse mundo fosse o habitual, o de todos os dias, aoqual eu jamais prestava ateno... agora percebia que vivia no Paraso, semnunca ter percebido antes...

    Caminhando chegamos at a praa do balnerio. Alguns jovensestavam na porta de uma discoteca, outros conversavam no centro da praa.O lugar estava tranquilo, especialmente agora que a temporada estava nofim.

    Ningum prestava ateno em ns, apesar da roupa de Ami; talvezpensassem que era uma simples fantasia...

    Imaginei o que aconteceria se soubessem que espcie de meninoestava passeando por aquela praa; eles nos rodeariam, viriam os jornalistase a televiso...

    No, obrigado disse Ami, lendo meu pensamento no quero queme crucifiquem...

    No compreendi o que ele quis dizer. Em primeiro lugar, no acreditariam; mas, se por fim o fizessem, me

    levariam preso por ter ingressado ilegalmente no pas. Depois pensariam queeu sou um espio e me torturariam para obter informao... E a, os mdicosiam querer ver o meu corpinho por dentro... Ami ria enquanto relatavapossibilidades to negras.

    Sentamo-nos num banco, num lugar um pouco afastado. Pensei queos extraterrestres deveriam ir se mostrando aos poucos, para que as pessoasfossem se acostumando a eles, para depois, um dia, apresentar-seabertamente.

  • 19

    mais ou menos o que estamos fazendo, mas mostrar-nosabertamente... j lhe dei trs razes pelas quais intil fazer isso. Agora voulhe dar mais uma, a principal: est proibido pelas leis.

    Por quais leis? As leis universais. Em seu mundo existem leis, no ? Nos mundos

    civilizados tambm existem normas gerais que todos devem respeitar; umadelas no interferir no desenvolvimento evolutivo dos mundos incivilizados.

    Incivilizados? Chamamos mundos incivilizados aos mundos que no respeitam os

    trs requisitos bsicos... Quais so? Os trs requisitos bsicos que um mundo deve respeitar para ser

    considerado civilizado so: primeiro, conhecer a Lei fundamental do universo;uma vez que se conhece e se pratica essa Lei, muito fcil cumprir os outrosdois. Segundo, constituir uma unidade: devem ter um s Governo Mundial.Terceiro, devem organizar-se de acordo com a Lei fundamental do universo.

    No entendo muito. Qual essa lei do fundamento... de qu? Voc v? Voc no a conhece caoava de mim , voc no

    civilizado.Mas eu sou uma criana... Acho que os adultos sim a conhecem, os

    cientistas, os presidentes...Ami riu com vontade. Adultos... cientistas... presidentes! Esses menos que ningum, salvo

    raras excees. Qual essa lei? Vou lhe dizer mais adiante. De verdade? fiquei entusiasmado ao pensar que iria conhecer algo

    que quase ningum sabia. Se voc se comportar direitinho brincou.

    Comecei a meditar essa proibio de interferir nos planetasincivilizados.

    Ento voc est violando essa lei! expressei com surpresa. Bravo! voc no passou por alto esse detalhe. Claro que no. Primeiro voc diz que proibido interferir; apesar

    disso voc est falando comigo... Isto no interferncia no desenvolvimento evolutivo da Terra.

    Mostrar-se abertamente, comunicar-se massivamente sim, seria. Isto partede um "plano de ajuda".

    Explique melhor, por favor. um tema complicado. No posso lhe explicar tudo, porque voc

    no entenderia. Talvez o faa mais adiante; por enquanto s vou lhe dizerque o "plano de ajuda" uma espcie de "remdio", que devemos ir dandoem forma dosificada, suave, sutilmente... bem sutilmente...

    Qual esse remdio? Informao. Informao? Que informao? Bem, depois da bomba atmica comearam os avistamentos de

    nossas naves. Fizemos isso para que vocs comeassem a ter evidncias

  • 20

    de que no so os nicos seres inteligentes do universo; isso informao.Depois fomos aumentando a frequncia desses avistamentos, isso maisinformao. Depois vamos deixar que nos filmem. ao mesmo tempo,estabelecemos pequenos contatos com algumas pessoas, como voc, etambm enviamos "mensagens" em frequncias mentais. Essas"mensagens" esto no ar, como as ondas de rdio, chegam a todas aspessoas; algumas tm os "receptores" adequados para capt-las, outras no.Os que as recebem podem pensar que so suas prprias idias; outros, que uma inspirao divina; e ainda outros, que so enviadas por ns. Algunsexpressam essas "mensagens" bastante distorcidas por suas prprias idiasou crenas; mas existem aqueles que as expressam quase puras.

    E depois, vo aparecer na frente de todo mundo? Se vocs no se autodestrurem, e sempre que sejam respeitados

    os trs requisitos bsicos. No pode ser antes. Acho que egosmo que vocs no intervenham para evitar a

    destruio disse, um pouco aborrecido.Ami sorriu e olhou para as estrelas. Nosso respeito pela liberdade alheia implica deix-los alcanar o

    destino que merecem. A evoluo uma coisa muito delicada, no se podeinterferir, s podemos "sugerir" coisas, muito sutilmente, e atravs depessoas "especiais", como voc...

    Como eu? Que tenho eu de especial? Talvez eu lhe diga mais adiante, por enquanto voc s precisa saber

    que tem certa "condio", e no necessariamente "qualidade"... Devo ir-merpido, Pedrinho. Voc gostaria de me ver de novo?

    Claro que sim, cheguei a estim-lo neste curto tempo. Eu tambm a voc, mas se voc quer que eu volte, vai ter que

    escrever um livro relatando o que viveu ao meu lado; para isso foi que euvim, parte do "plano de ajuda".

    Que eu escreva um livro? Mas eu no sei escrever livros! Faa como se fosse um conto infantil, uma fantasia... se no, vo

    pensar que voc um mentiroso ou louco; alm disso, escreva para ascrianas. Pea ajuda a esse primo seu, que gosta de escrever. Voc relata eele escreve.

    Ami parecia saber mais de mim, do que eu mesmo... Esse livro vai ser informao tambm. Mais do que fazemos, no

    nos permitido. Voc gostaria que no existisse a menor possibilidade deque uma civilizao de malvados venha invadir a Terra?

    Sim. Est vendo? Mas se vocs no deixam de lado a sua maldade e ns

    os ajudamos a sobreviver, rapidamente estariam tentando dominar, explorare conquistar outras civilizaes do espao... mas o universo civilizado umlugar de paz e de amor, de confraternizao. Alm disso, existem outrasqualidades de energias muito poderosas. A energia atmica ao lado delas como um fsforo ao lado do Sol... No podemos correr o risco de que umaespcie violenta chegue a controlar essa energia e colocar em perigo a pazdos mundos evoludos, e, muito menos, que chegue a produzir umdescalabro csmico.

    Estou realmente nervoso, Ami. Pelo perigo de um descalabro csmico?

  • 21

    No. Porque penso que j muito tarde... Tarde para salvar a humanidade, Pedrinho? No. Para me deitar.Ami se dobrava de tanto rir. Calma, Pedrinho. Vamos ver a sua vov.Pegou a pequena televiso da fivela do seu cinto. Apareceu minha

    vov dormindo com a boca entreaberta. Desfruta realmente o sono brincou. Estou cansado. Gostaria de dormir, eu tambm. Bem, vamos.

    Caminhvamos para minha casa quando encontramos um veculopolicial. Os agentes, vendo dois meninos sozinhos a essas horas da noite,pararam o automvel, desceram e vieram at ns. Fiquei com medo.

    Que vocs esto fazendo a estas horas por aqui? Caminhando, desfrutando a vida respondeu Ami muito tranquilo

    E vocs? Trabalhando? Caando malandros? E riu como sempre. Assustei-me ainda mais do que j estava, quando vi a liberdade que Ami estavatomando com a polcia; apesar disso eles tambm acharam engraada aatitude de meu amigo, riram com ele. Tentei rir tambm, mas por causa domeu nervosismo no consegui.

    De onde voc tirou essa roupa? De meu planeta respondeu com total ousadia. Ah, voc um marciano. Marciano, exatamente, no; mas sou extraterrestre.Ami respondia com alegria e despreocupao, em troca eu estava

    cada vez mais nervoso. Onde est o seu "ovni"? perguntou um deles observando Ami, com

    ar paternal. Pensava que era uma brincadeira de crianas; apesar disso, eles dizia toda a verdade.

    Ele est estacionado na praia, debaixo do mar. No verdade,Pedrinho?

    Eu no sabia o que fazer. Tentei sorrir e s consegui fazer uma caretabastante idiota, no me atrevi a dizer a verdade.

    E voc no tem uma pistola de raios? Os guardas se divertiamcom o dilogo. Ami tambm, mas eu estava cada vez mais confuso epreocupado.

    No preciso. No atacamos ningum. Somos bons. E se aparecer um malvado com um revlver como este? ele

    mostrou a arma fingindo ser ameaador. Se vai me atacar, eu o paraliso com minha fora mental. Deixe eu ver. Paralise-nos! timo. O efeito vai durar dez minutos.Os trs riam muito divertidos mesmo. De repente, Ami ficou quieto,

    srio e olhou fixo para eles. Com uma voz muito estranha e autoritria lhesordenou:

    Fiquem imveis por dez minutos. No podem, NO PODEMMOVER-SE... j E eles ficaram paralisados com um sorriso na posio emque estavam.

  • 22

    Voc v, Pedrinho? Assim que voc tem que dizer a verdade,como se fosse uma brincadeira ou uma fantasia explicou-me, enquantotocava o nariz ou puxava suavemente os bigodes dos guardas petrificadoscom um sorriso, que comeava a me parecer trgico, por causa dascircunstncias. Tudo aumentava meu medo.

    Vamos fugir daqui, bem longe, eles podem acordar expressei,tentando no falar muito alto.

    No precisa se preocupar, ainda tem tempo para que se completemos dez minutos e comeou a mexer em seus bons. Eu s queria estar bemlonge dali.

    Vamos, vamos! J est pre-ocupado de novo, em vez de desfrutar o momento... est

    bem, vamos disse resignado. Aproximou-se aos sorridentes guardas e coma mesma voz anterior lhes ordenou:

    Quando acordarem, tero esquecido para sempre estes doismeninos.

    Quando chegamos primeira esquina dobramos para o lado da praiae nos afastamos do lugar. Senti-me mais tranquilo.

    Como voc fez isso? Hipnose, qualquer um pode. Eu acho que no se pode hipnotizar qualquer pessoa. Eles podem

    ter sido uma dessas. Todas as pessoas podem ser hipnotizadas disse Ami alm disso,

    todas esto hipnotizadas.

    O que voc quer dizer?... Eu no estou hipnotizado... estouacordado.

    Ami riu muito da minha afirmao. Voc se lembra de quando vnhamos pelo caminho? Sim, lembro-me. Ali tudo lhe pareceu diferente, tudo lhe pareceu lindo, no

    verdade...? Ah, sim... parece que l era como se eu estivesse hipnotizado...

    Talvez voc tenha me hipnotizado! Estava acordado! Agora est adormecido, pensando que a vida no

    tem nenhuma maravilha, que tudo perigoso. Voc est hipnotizado, noescuta o mar, no percebe os aromas da noite, no toma conscincia de seucaminhar nem de sua vista, no desfruta sua respirao. Voc esthipnotizado com hipnose negativa, est como essas pessoas que pensamque a guerra tem algum sentido "glorioso", como os que supem que quemno compartilha sua prpria hipnose seu inimigo, todos esto hipnotizados,adormecidos. Cada vez que algum comea a sentir que a vida um parasomaravilhoso e o desfruta instante a instante... mas no vamos pedir tanto aum mundo incivilizado... Imagine que tem pessoas que se suicidam... jpensou que loucura? Suicidam-se!

    Pensando assim, como voc diz, tem razo... Como foi que essesguardas no se zangaram com as suas brincadeiras?

    Porque eu toquei o seu lado bom, infantil. Mas eles so policiais!

  • 23

    Olhou-me, como se eu acabasse de dizer uma estupidez. Veja, Pedrinho, todas as pessoas tem um lado bom, um lado infantil.

    Quase ningum completamente mau. Se voc quiser, vamos a uma prisoe procuramos o pior criminoso.

    No, obrigado. Em geral, as pessoas so mais bondosas do que malvadas,

    inclusive neste planeta. Todos pensam que esto fazendo um bem com oque fazem. Alguns se enganam, mas no maldade, erro. certo quequando esto adormecidos ficam srios e at perigosos, mas se voc os tocapelo seu lado bom, eles vo devolver o que h de bom neles; se voc os tocapelo lado negativo, eles vo lhe devolver o que h de negativo neles; apesardisso, todo mundo gosta de brincar de vez em quando.

    Ento, por que neste mundo existe mais infelicidade do quefelicidade?

    No que as pessoas sejam malvadas, so os sistemas queutilizam para se organizar que so velhos. As pessoas evoluram, ossistemas ficaram atrasados. Sistemas ruins fazem as pessoas sofrerem, vofazendo as pessoas ficarem infelizes, e no final as levam a cometer erros.Mas um bom sistema de organizao mundial capaz de transformar osmaus em bons.

    No compreendi muito bem suas explicaes.

  • 24

    Captulo 5

    Raptado pelos extraterrestres!

    J chegamos na sua casa. J vai dormir? Sim. Estou realmente cansado, no aguento mais. E voc, que vai

    fazer? Voltar para a nave. Vou dar uma volta pelas estrelas... Queria

    convid-lo, mas se voc est to cansado... Agora j no!... De verdade?... Voc me levaria a dar uma volta no

    seu "ovni"? Claro, mas e a sua vov?Diante de uma possibilidade to extraordinria como a de passear

    num "disco voador" foi embora todo o meu cansao, estava como novo echeio de vitalidade; pensei imediatamente na forma de sair sem quesentissem a minha ausncia.

    Vou jantar, deixo o prato vazio em cima da mesa, depois coloco omeu travesseiro debaixo da roupa de cama, porque se minha av se levantarvai pensar que estou dormindo em casa, deixo esta roupa por a e visto outra.Farei isso com muito cuidado e em silncio.

    Perfeito, vamos estar de volta antes que ela acorde. No sepreocupe com nada.

    fiz tudo de acordo ao calculado, mas quando quis comer a carne tivenojo e no pude comer. Alguns minutos mais tarde caminhvamos para apraia.

    Como vou subir na sua nave? Vou entrar nadando, pela gua, depois levo o veculo at a praia. No vai lhe dar frio entrar no mar? No. Esta roupa resiste muito mais a frio e calor do que voc

    imagina.. Bem, vou pegar a nave. Espere-me aqui e quando eu aparecer nose assuste.

    Oh, no; j no tenho mais medo dos extraterrestres achei graade sua recomendao desnecessria...

    Ami se dirigiu at as suaves ondas, entrou no mar e comeou a nadar.Logo se perdeu de vista, na escurido, pois a lua tinha desaparecido detrsde umas nuvens bem tenebrosas...

    Pela primeira vez, desde que Ami apareceu, tive tempo de pensar ass... Ami?.. um extraterrestre!... Era verdade ou tinha sido um sonho?

    Esperei um bom tempo e comecei a me sentir nervoso. No m sentimuito seguro... estava sozinho, numa praia escura e terrivelmente solitria...

    Ia enfrentar-me com uma nave extraterrestre... minha imaginao mefazia ver estranhas sombras se mexendo entre as pedras, na areia, surgindodas guas. E se Ami fosse um malvado disfarado de menino, falando debondade para conseguir minha confiana... ... ... No, no pode ser! ... ... ...Raptado por uma nave extraterrestre?...

    Neste momento apareceu diante dos meus olhos um espetculoapavorante: debaixo da gua um resplendor amarelo esverdeado comeavaa subir lentamente, depois apareceu uma cpula que girava, com muitas

  • 25

    luzes coloridas... Era verdade! Eu estava contemplando uma nave de outromundo! Depois apareceu o corpo do veculo espacial, ovalado, com janelasiluminadas. Emitia uma luz prateada e verde. Foi uma viso que eu noesperava, senti verdadeiro terror. Uma coisa era falar com um menino...menino?... com cara de bonzinho... mscara?... e outra coisa era estar a,quieto, sozinho, numa praia, na escurido da noite e ver aparecer uma navede outro mundo... um "ovni" que vem nos pegar para nos levar para longe...Esqueci do "menino" e de tudo o que ele me tinha dito. Para mim aquilo setransformou numa mquina infernal, vinda quem sabe de que sombrio mundodo espao, cheia de seres monstruosos e cruis que vinham me raptar.Pareceu-me que era de um tamanho muito maior do que o objeto que eutinha visto cair no mar umas horas antes.

    Comeou a aproximar-se de mim, flutuando a uns trs metros por cimadas guas. No emitia nenhum som, o silncio era horrvel e se aproximava,se aproximava irremediavelmente. quis fugir. Desejei no ter conhecidonunca nenhum extraterrestre, queria fazer o tempo voltar para trs, estardormindo tranquilamente perto de minha av, a salvo, na minha caminha, serum menino normal e com uma vida normal. Isso era um pesadelo; noconseguia sair correndo, no podia deixar de olhar para esse monstroluminoso que vinha me levar... quem sabe a um zoolgico espacial...

    Quando chegou em cima da minha cabea, eu me senti perdido.Apareceu uma luz amarela no ventre da nave, depois um reflexo me ofuscoue a eu soube que j estava morto. Encomendei minha alma a Deus e decidiabandonar-me a sua Suprema Vontade...

    Senti que me elevavam, que eu ia numa espcie de elevador, masmeus ps no estavam apoiados em nada. Esperei ver aparecer aquelesseres com cabea de polvo e olhos sanguinrios e sangrentos...

    De repente, meus ps pousaram sobre uma superfcie acolchoada eme vi de p num recinto luminoso e agradvel, carpetado e com paredesatapetadas. Ami estava na minha frente, sorrindo com seus grandes olhos demenino bom. Seu olhar conseguiu me acalmar, fazendo-me voltar realidade, essa maravilhosa realidade que ele tinha me ensinado a conhecer.Colocou a mo no meu ombro.

    Calma, calma; no tem nada de mal.

    Quando consegui falar, sorri e lhe disse: Deu-me muito medo. sua imaginao desenfreada. A imaginao sem controle pode

    matar de terror, capaz de inventar um demnio onde s existe um bomamigo, mas so somente nossos monstros internos, porque a realidade simples e maravilhosa, fcil....

    Ento... estou num "ovni"? Bem, "ovni" um objeto voador no identificado. Isto est

    plenamente identificado: uma nave espacial; mas podemos lhe chamar"ovni" se voc quiser, e tambm pode me chamar "marciano".

    Relaxei completamente a tenso quando rimos.

    Venha, vamos para a sala de comandos convidou-me.

  • 26

    Por uma porta muito pequena e em forma de arco passamos a outrorecinto, de teto to baixo como o do que acabvamos de abandonar. Diantede mim apareceu uma sala semicircular rodeada de janelas ovais. No centrohavia trs poltronas reclinveis na frente dos controles, e vrias telas quaseapoiadas no cho. Aquilo era como se fosse para crianas! Tanto aspoltronas como a altura da sala. Ali no caberia um adulto de nenhumamaneira... Eu podia tocar o teto levantando o brao.

    Isto fabuloso! exclamei entusiasmado. Aproximei-me das janelasenquanto Ami se acomodava na poltrona central, na frente dos controles.Detrs dos vidros pude ver distncia o reflexo das luzes do balnerio. Sentiuma suave vibrao no cho e o povoado desapareceu. Agora s viaestrelas...

    Ei, o que voc fez com o balnerio? Olhe para baixo respondeu Ami. Quase desmaiei: estvamos a milhares de metros de altitude sobre a

    baa. Podamos ver todos os povoados da costa que havia nessa regio; omeu estava l embaixo, bem embaixo. Tnhamos nos elevado quilmetrosnum instante e eu no tive nenhuma sensao de movimento!

    Super, super timo! Meu entusiasmo crescia, mas logo a altura medeu vertigem.

    Ami... Diga. ... Isso no cai? Bem, se a bordo houvesse uma pessoa que tivesse dito mentiras,

    ento os mecanismos poderiam falhar... Desa, ento, desa!Por suas gargalhadas soube que ele estava brincando. Podem nos ver l de baixo? Quando esta luz se acende disse apontando um sinal ovalado nos

    comandos quer dizer que somos visveis. Quando est apagada, comoagora, somos invisveis.

    Invisveis? Do mesmo jeito que este senhor que est sentado ao meu lado

    mostrou a poltrona vazia a seu lado. Alarmei-me, mas suas risadas mefizeram compreender que era outra de suas brincadeiras.

    Como voc faz para no sermos vistos? Se uma roda de bicicleta est girando rpido, seus raios no so

    vistos. Ns fazemos que as molculas desta nave se movimentem rpido... Engenhoso, mas eu gostaria que nos vissem l de baixo. No posso fazer isso. A visibilidade ou invisibilidade de nossas

    naves, quando esto em mundos incivilizados, efetua-se de acordo ao "planode ajuda". Isso decidido por um "computador" gigante situado no centrodesta galxia...

    No entendo direito. Esta nave est conectada a este "super-computador" que decide

    quando podemos ou no podemos ser vistos. E como este "computador" sabe quando... ? Esse "computador" sabe tudo... Voc quer que a gente v at algum

    lugar em especial?

  • 27

    At a capital! Gostaria de ver minha casa daqui do ar... Vamos! Ami mexeu uns controles, e disse, "j". Preparei-me para

    desfrutar a viagem olhando pela janela... mas j tnhamos chegado!... Cemquilmetros em uma frao de segundo!

    Eu estava maravilhado. Isto sim que viajar rpido! J lhe expliquei que em geral no "viajamos", seno que nos

    "situamos"... uma questo de coordenadas, mas tambm podemos "viajar".Olhei as grandes avenidas iluminadas. Era impressionante ver a

    cidade, de noite, de cima. Localizei meu bairro e pedi a Ami que nosdirigssemos para l.

    Mas "viajando" devagar, por favor. Quero desfrutar o passeio.A luz dos comandos estava apagada. Ningum nos via.Fomos avanando suave e silenciosamente entre as estrelas e as

    luzes da cidade.Apareceu a minha casa. Foi extraordinrio v-la das alturas. Quer comprovar se est tudo bem l dentro? Como? Vamos ver por esta tela.Na frente dele, numa espcie de televiso grande, apareceu a rua

    focalizada de cima; era o mesmo sistema pelo qual vimos minha av dormir,mas com uma grande diferena: aqui a imagem aparecia em alto-relevo, comprofundidade. Parecia que se podia meter a mo pela tela e tocar as coisas.Tentei fazer isso, mas um vidro invisvel me impediu. Ami se divertia comigo.

    Todos fazem a mesma coisa... Todos, quem so todos? Voc no vai pensar que o primeiro incivilizado que sai a passeio

    numa nave extraterrestre? Tinha pensado que era disse, um pouco decepcionado. Pois se enganou.A lente da cmera, ou o que quer que fosse, pareceu atravessar o teto

    da minha casa, percorrendo cada cantinho. Estava tudo em ordem. Por que na sua televiso porttil no se pode ver em alto-relevo,

    como nessa tela? J lhe disse, um sistema antigo...

    Pedi que fssemos dar uma volta pela cidade. Passamos pelo meucolgio. Vi o ptio, o campo de futebol, os arcos, minha classe. Pensei emmim mesmo contando mais tarde a aventura aos meus colegas: "Vi o colgiode uma nave espacial"... Estaria orgulhoso.

    Fomos passando pela cidade toda. uma pena que no seja de dia disse. Por qu? Teria gostado de passear na sua nave tambem de dia... ver cidades,

    paisagens com a luz do sol...Como de costume, Ami estava rindo de mim. Voc quer que seja de dia? perguntou. No acredito que os seus poderes sejam suficientes para mover o

    sol... ou so?

  • 28

    O sol no, mas ns sim...

    Conectou os controles e comeamos a nos mover tremendamenterpido; subimos a cordilheira dos Andes e a atravessamos em uns trssegundos, depois apareceram vrias cidades que se viam como umasmanchinhas luminosas, devido grande altitude que tnhamos atingido;imediatamente depois apareceu o enorme Oceano Atlntico, banhado pelalua. Tambm havia muitas nuvens enormes que limitavam minha visibilidade.O cu foi se aclarando no horizonte, viajvamos em direo ao Leste.Chegamos terra e aconteceu algo extraordinrio: o sol comeo a subirrapidamente! Para mim aquilo foi algo incrvel. Ami tinha movido o sol! emapenas uns momentos se fez dia.

    Por que voc disse que no podia mover o sol?Ami se deleitava observando minha ignorncia. O sol no se moveu; fomos ns que nos movemos rapidamente.Compreendi meu erro imediatamente, mas tinha sua justificao:

    preciso ver o que contemplar o sol se elevar pelo horizonte a umavelocidade impressionante...

    Em que lugar estamos? frica. frica? mas se faz s um minuto ns estvamos na Amrica do Sul! Como voc queria viajar de dia nessa nave, viemos para um lugar

    que fosse de dia: "Se a montanha no vem a Maom, Maom vai montanha"...

    Que pas da frica voc gostaria de visitar? Deixa eu ver... a ndia.Sua risada me mostrou que meus conhecimentos de geografia no

    eram muito exatos... Ento vamos sia, para a ndia... A qual cidade da ndia voc quer

    ir? ... D no mesmo... escolhe voc... Bombaim est bem? Sim, timo Ami...

    Passamos em grande velocidade e altitude por cima do continenteafricano. Mais tarde, na minha casa, com um mapa-mndi pude reconstruiraquela viagem. Chegamos ao oceano ndico, e o atravessamos enquanto osol subia e subia vertiginosamente. De repente estvamos na ndia. A navefreou bruscamente e ficou imvel...

    Como foi que ns no nos batemos contra as janelas com essafreada? perguntei muito surpreendido.

    uma questo de anular a inrcia... Ah, que fcil...

  • 29

    Captulo 6

    Uma questo de medidas

    Descemos sobre a cidade, at chegar a uns cem metros de altura ecomeamos nosso passeio pelos cus de Bombaim.

    Parecia-me estar sonhando ou vendo um filme. Homens comturbantes brancos, casas muito diferentes das do meu pas. Chamou minhaateno a enorme quantidade de pessoas nas ruas. No era como na minhacidade. L, nem mesmo no centro, na hora de sada dos escritrios v-seessa multido. Aqui estavam em todos os lugares. Para mim, aquilo era outromundo.

    Ningum nos via; a luz indicativa estava apagada.De repente, voltei "realidade": Nossa, minha vov. O que que h com a sua av? J dia, ela j deve ter se levantado, e vai se preocupar com a

    minha ausncia... vamos voltar!Para Ami, eu era um permanente motivo de riso. Pedrinho, sua av dorme profundamente. L meia-noite neste

    momento, do outro lado do mundo; aqui so dez da manh. De ontem ou de hoje? perguntei, confundido com o tempo. De amanh respondeu, morto de rir -. No se preocupe. A que

    horas ela se levanta? Mais ou menos s oito e meia. Ento ainda temos oito horas e meia pela frente... sem contar que

    podemos esticaaar o tempo... Estou preocupado... Por que no vamos ver? O que voc quer ver? Ela pode ter acordado... Melhor vermos daqui mesmo.Pegou os controles de uma tela e apareceu a costa da Amrica do Sul

    vista de muita altura, depois a imagem mostrou uma queda em direo terra a uma velocidade fantstica. Logo pude distinguir a baa, o balnerio, acasa da praia, o teto e a minha av. Era incrvel, parecia que estava ali;dormindo, com a boca entreaberta, na mesma posio anterior.

    No se pode dizer que ela dorme mal, hein? observou Ami commalcia, depois acrescentou Vamos fazer algo para que voc fiquetranquilo.

    Pegou uma espcie de microfone e me indicou que ficasse emsilncio. Apertou um boto e disse "psiu". Minha vov escutou aquilo;acordou, levantou-se e foi at a copa. Ns podamos escutar os seus passose a sua respirao. Viu meu prato meio vazio sobre a mesa, pegou-o edeixou-o na cozinha, depois foi at o meu dormitrio, abriu a porta, acendeua luz e olhou pra minha cama. Estava perfeita, parecia que eu dormia l,contudo, alguma coisa lhe chamou a ateno, no soube o que era, mas Amisim. Pegou o microfone e respirou perto dele. Minha av escutou essarespirao e pensou que era a minha, apagou a luz, fechou a porta e foi parao seu dormitrio.

    Est tranquilo agora?

  • 30

    Sim, agora sim... mas no d pra acreditar; ela dormindo l e nsaqui de dia...

    Vocs vivem condicionados demais pelas distncias e pelo tempo... No compreendo. O que voc pensaria de sair de viagem hoje e voltar ontem? Voc quer me deixar maluco. No poderamos visitar a China? Claro, que cidade voc gostaria de conhecer?Desta vez no ia passar vergonha. Respondi com segurana e

    orgulho: Tquio. Ento vamos conhecer Tquio... a capital do Japo disse, tentando

    dissimular a vontade de rir.

    Passamos por todo o territrio da ndia, de Oeste a Leste. Chegamosaos Himalaias, ali a nave parou.

    Temos ordens disse Ami. Numa tela apareceram estranhos sinais Vamos deixar um testemunho. O "computador" gigante indica que devemosser vistos por algum em algum lugar.

    Que divertido! Onde e por quem? No sei. Vamos ser guiados pelo "computador". J chegamos...Havamos utilizado o sistema de translado instantneo. Estvamos

    sobre um bosque, suspensos no ar a uns cinquenta metros de altura. A luzdos controles mostrava que ramos visveis. Havia muita neve por ali.

    Isto o Alaska disse Ami reconhecendo o lugar. O sol comeava ase ocultar no mar prximo dali.

    A nave comeou a se mover no cu, desenhando um enorme tringulocom sua trajetria, enquanto mudava suas cores.

    Para que fazemos isto? Para impressionar. Devemos chamar a ateno desse amigo que

    vem ali.Ami observava pela tela, e eu o procurei atravs dos vidros das

    janelas e o encontrei. Ao longe, entre as rvores, havia um homem com umcasaco de pele de cor marrom; tinha uma espingarda, parecia muitoassustado. Apontou-nos sua arma. Agachei-me, com medo, para evitar seratingido pelo possvel disparo. Ami se divertia com minhas inquietudes.

    No tenha medo, este "ovni" prova de balas... e de muito mais...

    Elevamo-nos at ficarmos bem alto, sempre emitindo uma cintilaocolorida.

    preciso que este homem no esquea jamais esta viso.Eu pensei que, para que ele nunca mais esquecesse o espetculo, era

    suficiente ter passado pelo ar, sem necessidade de o assustar tanto. Disseisso a Ami.

    Voc se engana. Milhares de pessoas j viram passar nossas naves,mas hoje em dia no se lembram. Se no momento em que nos viramestavam muito pre-ocupadas com seus assuntos corriqueiros, olhavam-nosquase sem nos ver, depois, esqueceram. Temos estatsticas impressionantesa esse respeito.

    Por que preciso que esse homem nos veja?

  • 31

    No sei exatamente, talvez seu testemunho seja importante paraalguma outra pessoa interessante, especial; ou talvez, ele mesmo o seja. Voufocaliz-lo com o "sensmetro".

    Em outra das telas apareceu o homem, mas estava quasetransparente. No centro de seu peito brilhava uma luz dourada muito linda.

    Que luz essa? Podemos dizer que a quantidade de amor que existe nele, mas

    no seria to exato; mais certo dizer que o efeito que a fora do amorexerce sobre a sua alma. E tambm seu nvel de evoluo. Ele temsetecentas e cinquenta medidas.

    E isso o que significa? Que ele interessante. Interessante por qu? Porque seu nvel de evoluo realmente bom... para ser um

    terrcola. Nvel de evoluo? Seu grau de aproximao com o animal ou com o "anjo". Ami

    focalizou um urso na tela, tambm transparente, mas a luz do seu peitobrilhava muito menos que a do homem.

    Duzentas medidas precisou Ami. Depois focalizou um peixe. Destavez a luz era mnima.

    Cinquenta medidas. A mdia nos seres humanos da Terra dequinhentas e cinquenta medidas.

    E voc, quantas medidas tem, Ami? Setecentas e sessenta medidas respondeu. S dez a mais que o caador! surpreendi-me pela pouca diferena

    ente um tercola e ele. Claro. temos um nvel parecido. Mas se supe que voc deva ser muito mais evoludo do que os

    terrcolas. Na Terra as pessoas variam entre trezentas e vinte e oitocentas

    medidas. Algumas mais do que voc! Claro que sim. A vantagem que eu tenho consiste no fato de que eu

    conheo certas coisas que eles ignoram, mas aqui existem pessoas muitovaliosas: mestres, artistas, enfermeiras, bombeiros...

    Bombeiros!? Voc no acha nobre arriscar a prpria vida pelos demais? Voc tem razo, mas meu tio, que fsico nuclear, tambm deve ser

    muito valioso... Famoso talvez... A que se dedica seu tio, dentro da fsica? Est desenvolvendo uma nova arma, um raio ultra-snico. Se ele no acredita em Deus, e alm disso se dedica fabricao de

    armas... penso que ele tem um nvel bem baixo. O qu?! Mas ele um sbio! protestei. Voc est confundindo as coisas de novo. Seu tio tem muita

    informao, mas ter informao no significa necessariamente ser inteligente,e muito menos um sbio. Um computador pode ter armazenado muitainformao, mas nem por isso inteligente. Voc acha muito sbio umhomem que cava uma fossa, ignorando que ele mesmo vai cair nela?

  • 32

    No, mas... As armas se voltam contra aqueles que as apiam...

    No me pareceu muito evidente essa afirmao de Ami, mas decidiacreditar nele. Quem era eu para duvidar de sua palavra? Apesar disso,estava confuso... meu tio era meu heri... um homem to inteligente...

    Ter um bom computador na cabea, isto tudo. Aqui existe umproblema de teminologia: na Terra dizem inteligentes ou sbios aos que tmuma boa capacidade cerebral em s um dos cebros, mas temos dois...

    O qu! Um na cabea. Esse o "computador", o nico que vocs

    conhecem. O outro est no peito, no visvel, mas existe. o maisimportante, essa luz que voc viu pela tela no peito do homem. Para ns,inteligente ou sbio aquele que tem ambos os crebros em harmonia, masisso quer dizer que o crebro da cabea, est a servio do crebro do peito, eno ao contrrio, como na maioria dos "inteligentes".

    Tudo isso me surpreende, mas agora entendo melhor. O queacontece com aqueles que tm mais desenvolvido o crebro do peito que oda cabea? perguntei.

    Esses so os "tolos bons". So fceis de enganar, simples para osoutros, os "inteligentes maus", como voc dizia, coloc-los a fazer o malenquanto pensam que esto fazendo o bem... o desenvolvimento intelectualdeve estar em harmonia com o desenvolvimento emocional, s assim seproduz um verdadeiro inteligente ou sbio. S assim a luz pode crescer.

    E eu, Ami, quantas medidas tenho? No posso lhe dizer. Por qu? Porque se seu nvel for alto, voc vai ficar vaidoso... AH!! compreendo... Mas se for baixo... voc vai se sentir muuuuito mal... Ah... O orgulho apaga a luz... a semente da maldade. No entendo. Devemos tentar ser humildes... Veja, j estamos indo.Instantaneamente estvamos de volta cordilheira, aos Himalaias,

    situados do outro lado do planeta.

  • 33

    Captulo 7

    Os avistamentos

    Avanamos at um mar longnquo, ao qual chegamos em segundos eo atravessamos; apareceram umas ilhas, descemos sobre a cidade deTquio. Pensei que ia encontrar casas com telhados com as pontas paracima, mas o que mais havia era arranha-cus, modernas avenidas, parques,automveis.

    Estamos sendo vistos disse Ami, apontando a luz dos controlesacesa.

    Na rua, as pessoas comeavam a amontoar-se, apontavam-nos com amo. Novamente se acenderam as luzes exteriores de variadas cores.Estvamos realmente alto, ficamos uns dois minutos ali.

    Outro avistamento disse Ami, observando os sinais que apareciamna tela Vamos ser transladados.

    Subitamente, a luz do dia se apagou. S ficaram as estrelas cintilandodetrs dos vidros.

    Embaixo no se viam grandes coisas. Uma pequena cidade, longe,algumas poucas luzes, um caminho pelo qual vinha um automvel. Fui at atela que estava na frente de Ami. Ali aparecia o panorama perfeitamenteiluminado. O que simples vista no se distinguia, devido escurido, nomonitor era perfeitamente claro; assim percebi que o automvel era verde eque nele viajava um casal.

    Estvamos a uns vinte metros de altura, ramos visveis, segundoindicavam os controles.

    Decidi da em diante aproveitar essa tela. Era mais ntida do que aprpria realidade.

    Quando o veculo se aproximou de ns, parou, estacionou ao lado docaminho e seus ocupantes desceram, comearam a gesticular e a gritarenquanto nos olhavam com olhos arregalados.

    O que esto dizendo? perguntei Esto pedindo comunicao, contato. So um casal de estudiosos

    de "ovnis", ou melhor, "adoradores de extraterrestres". Ento, comunique-se disse eu, preocupado pelo nervosismo

    dessas pessoas. Ajoelharam e rezavam, ou algo assim. No posso, tenho que obedecer s ordens estritas do "plano de

    ajuda". A comunicao no se produz quando qualquer um deseja, senoquando se decide do "alto"; alm disso, tambm no posso ser cmplice deuma idolatria.

    O que idolatria? Uma violao a uma lei universal respondeu Ami, muito srio. Em que consiste? perguntei, intrigado. Somos considerados deuses. O que isso tem de mal? S se deve venerar a Deus, o resto idolatria. Seria muita falta de

    respeito de nossa parte se usurpssemos o lugar de Deus, frente distorcidareligiosidade dessas pessoas. Se fssemos considerados como irmos, seriaoutra coisa.

    Pensei que Ami pudesse ensinar a verdade ao casal.

  • 34

    Pedrinho respondeu a meus pensamentos , nos mundosincivilizados do Universo se cometem aes que nos parecem terrveis.Neste preciso momento, esto queimando vivas muitas pessoas, porqueoutros pensam que elas so "hereges"; isso est acontecendo em muitosplanetas, como aconteceu aqui na Terra, h centenas de anos. Neste mesmomomento, debaixo do mar, os peixes esto comendo-se vivos uns aos outros.Este planeta no muito evoludo. Assim como as pessoas tm diferentesnveis evolutivos, tambm os planetas. As leis que regem a vida nos mundosinferiores nos parecem brutais. A Terra, h milhes de anos, estava regidapor outros tipos de leis, tudo era agressivo, venenoso, tudo tinha garras epresas; hoje, que se atingiu um nvel de evoluo mais avanado, existe maisamor, mas ainda no se pode dizer que este seja um mundo evoludo. Aindaexiste muita brutalidade.

    Ami sintonizou uma tela e apareceram algumas cenas de guerra. Deuns tanques, os soldados lanavam msseis contra alguns edifcios,destruindo-os, junto com as crianas, mulheres e homens que os habitavam.

    Isto est acontecendo agora mesmo num pas da Terra, mas nopodemos fazer nada. Na evoluo de cada planeta, pas ou pessoas, nopodemos interferir. No fundo, tudo aprendizagem. Fui uma fera e morridestroado por outras feras; fui um ser humano de baixo nvel, matei e memataram, fui cruel, recebi crueldade. Morri muitas vezes; fui aprendendo aospoucos a viver de acordo Lei fundamental do universo. Agora minha vida melhor, mas no posso ir contra o sistema de evoluo que Deus criou. Essecasal est violando uma Lei universal, ao comparar-nos com algum togrande e majestoso como Deus. Retiram seus sentimentos de venerao eamor ao Criador e os dirigem para ns... Os soldados que vimos, tambmviolam uma lei universal: "no matars". Eles devero pagar por seus erros e,assim, pouco a pouco iro aprendendo. Somente quando uma pessoa ou ummundo conseguiu atingir certo nvel evolutivo, pode receber nossa ajuda, semque seja uma violao ao sistema evolutivo geral.

    Na verdade, no compreendi nem meia palavra do que Ami disse,somente mais tarde, pensando, foi que percebi tudo com mais clareza, muitodepois de sua partida; foi ento que pude escrever mais ou menos como eledisse.

    Enquanto espervamos que o "super-computador" nos retirasse dali,Ami sintonizou a televiso japonesa. Com o seu bom-humor habitualobservava um programa de notcias. Aparecia um reprter que entrevistava,microfone na mo, as pessoas na rua. Uma senhora falava gesticulando eapontava para o cu. No entendi nada, mas percebi que relatava seuencontro com um "ovni"... o nosso. Outras pessoas tambm comentavam suaverso do fenmeno.

    O que esto dizendo? perguntei Que viram um "ovni"... tem cada louco... opinou sorrindo.Depois apareceu um senhor com culos que fazia desenhos num

    quadro-negro enquanto dava explicaes. Representava o sistema solar, aTerra e os demais planetas. Ficou falando muito tempo. Soube que era umcientista especialista em astronomia. Parecia que Ami entendia essa lngua,

  • 35

    porque estava muito distrado olhando o programa, talvez utilizando o"tradutor".

    O que est dizendo? voltei a perguntar. Que em funo de tudo o que explicou, est "cientificamente

    demonstrado" que no existe vida inteligente na galxia inteira, excetuando aTerra... Tambm disse que as pessoas que viram um suposto "ovni" sofreramuma alucinao coletiva, e lhes recomendou uma visita ao psiquiatra...

    De verdade? perguntei De verdade respondeu rindo.O cientista continuava falando. O que ele est dizendo agora? Que possivelmente existe uma civilizao "to avanada" como esta,

    mas uma em cada duas mil galxias, segundo os clculos. E isso, que significa? Que quando ele souber que somente nesta galxia existem milhes

    de civilizaes, o coitado vai ficar louco, pior do que j est...Rimos um bom tempo. Para mim foi muito cmico, escutar um cientista

    dizendo que os "ovnis" no existem... e eu olhando o programa de dentro deum "ovni".

    Ficamos aproximadamente uma hora naquele lugar, at que a luz dainvisibildade se apagou.

    Estamos livres. Ento, podemos continuar passeando? perguntei. Claro. Aonde voc gostaria de ir agora? Hummm... deixa eu ver... ilha de Pscoa! L noite... veja j tnhamos chegado. Ilha de Pscoa? Exatamente. Que rpido! Voc acha rpido? Espere... agora olhe pela janela.Estvamos sobre um deserto muito estranho. O cu estava muito

    escuro, quase negro, exceto pelo brilho azulado da lua. O que isto, Arizona? Isto a lua. A lua? A lua.Olhei para o que eu pensei que fosse a lua. ... Ento isso ... Isso a Terra. A Terra! A Terra. L dorme a sua vov...Estava fascinado. Era na realidade a Terra, tinha uma cor azul claro.

    Pareceu-me incrvel que uma coisa to pequena pudesse conter tantascoisas grandes, montanhas, oceanos. Sem saber o porqu, apareciamimagens arquivadas na minha memria; recordei um riacho de minhainfncia, uma parede coberta de musgo, umas abelhas num jardim, um carrode boi numa tarde de vero... tudo isso estava l, nesse pequeno globo azulque flutuava entre as estrelas.

  • 36

    De repente vi o sol, um astro longnquo, mas bem mais incandescentedo que na Terra.

    Por que se v to pequeno? Porque aqui no existe uma atmosfera que atue como lente de

    aumento, como lupa; por isso, na Terra se v maior do que aqui, mas se nofosse pelos vidros especiais desta nave, esse pequeno sol o queimaria,justamente porque no tem uma atmosfera que filtre certos raios que sonocivos para voc.

    No gostei dessa viso da lua. Vista da terra parecia mais linda. Eraum mundo solitrio, tenebroso.

    No podramos ir a um lugar mais bonito? Habitado? perguntou Ami. Claro!... Mas sem monstros... Para isso temos que ir bem longe.Mexeu nos controles, a nave vibrou suavemente, as estrelas se

    esticaram, transformando-se em linhas luminosas; depois, pelas janelasaparceu uma neblina branca e brilhante que reverberava.

    O que est acontecendo? perguntei um pouco assustado. Estamo-nos situando... Situando onde? Em um longnquo planeta. Temos que esperar uns minutos. Por

    enquanto, vamos escutar um pouco de msica.Ami tocou um ponto nos controles. Suaves e estranhos sons

    encheram o recinto. Meu amigo fechou os olhos e se disps a escutar comprazer.

    Eram notas bem diferentes das que eu havia conhecido at ento. Derepente, uma vibrao muito baixa e sustentada chegava a fazer vibrar a salade comandos, depois uma nota agudssima soou, o silncio durava algunssegundos. Depois se escutavam notas rpidas que subiam e baixavam, outravez a mais grave que se agudizava aos poucos, enquanto umas espcies derugidos e alguns sininhos mantinham um ritmo variado.

    Ami parecia em xtase. Imaginei que conhecia muito bem aquela"melodia", porque com os lbios ou leves movimentos de sua mo seadiantava ao que escutaramos logo.

    Lamentei interromp-lo, mas no gostei nada daquela "msica". Ami chamei. No respondeu; estava muito concentrado nessa

    espcie de interferncia eltrica de um rdio de onda curta... Ami insisti. Oh, desculpe!... sim? Desculpe-me, mas eu no gosto. Claro, natural; o desfrutar essa msica requer uma "iniciao"

    prvia... Vou procurar algo que lhe parea mais conhecido. Tocou outro pontodos controles. Surgiu uma melodia que me agradou imediatamente, tinha umritmo muito alegre. O instrumento principal tinha um som parecido ao dachamin de um trem a vapor a toda velocidade.

    Que agradvel!... Que instrumento esse que se parece a um trem?

  • 37

    Meu Deus! exclamou Ami fingindo horror , voc acaba de ofendera garganta mais privilegiada do meu planeta, confundindo sua maravilhosavoz com o barulho de um trem!

    Dsculpe-me, por favor... no sabia... mas sopra mesmo bem! disse, procurando consertar a situao.

    Blasfemo! Herege! fingia, puxando os cabelos dizer que a glriado meu mundo... sopra!

    Terminamos explodindo em gargalhadas...

    Aquela msica animava a gente a danar. Para isso foi feita disse Ami Dancemos! levantou-se de um

    salto e comeou a danar batendo palmas. Dance, dance animava-me solte-se. Voc quer danar, mas

    aquilo que voc no , no lhe permite... aprenda a conquistar a liberdade deser voc mesmo, libere-se...

    Deixei de lado a minha timidez natural e comecei a danar com grandeentusiasmo.

    Bravo! felicitava-me.

    Danamos um bom tempo. Sentia-me alegre, foi como quandocorremos e sltamos na praia. Depois a msica terminou.

    Agora algo para nos relaxar disse Ami, dirigindo-se para oscontroles. Apertou outro ponto e se escutou uma msica clssica. Pareceu-me familiar.

    Ei, isso terrcola. Claro, Bach, fabuloso, voc no gosta? Acho que... sim. Voc tambm gosta? Obviamente, ou no o teria na nave. Pensava que tudo o que ns temos era "incivilizado" para os

    extraterrestres... Voc est muito enganado tocou outro ponto dos controles.

    "... imagine there's no countriesit isn't hard to do..." 1

    Mas esse John Lennon... Os Beatles...!Estava muito surpreso, porque comeava a pensar que na Terra no

    existia nada de bom. Pedrinho, quando a msica boa, ela o universalmente. A boa

    msica da Terra colecionada em vrias galxias, assim como a de qualquermundo e de qualquer poca. A mesma coisa acontece com todas as artes.Ns guardamos filmes e gravaes de tudo quanto se realiza no seuplaneta... A arte uma linguagem de amor, e o amor universal...escutemos.

    1 Traduo: imagine que no existem pases, no difcil de imaginar

  • 38

    "imagine all the peopleliving life in peace..." 1

    Ami, com os olhos fechados, parecia desfrutar cada nota.Quando John Lennon terminou de cantar, j tnhamos chegado por fim

    a outro mundo habitado.

    1 Traduo: imagine todas as pessoas vivendo a vida em paz

  • 39

    Segunda Parte

    Captulo 8

    Ofir!

    A neblina branca se evaprou. Uma atmosfera azul-celeste, de um tomforte, parecia flutuar ao redor, em vez de estar em cima, no cu, como naTerra: senti-me submerso em um azul quase fosforescente que nodificultava a visibilidade.

    Das janelas vi pradarias banhadas por um alaranjado suave. Fomosdescendo pouco a pouco; parecia uma maravilhosa paisagem de outono.

    Veja o sol recomendou Ami. Um enorme crculo avermelhado sedestacava no cu, tenuemente coberto pela atmosfera desse mundo.Formavam-se vrios crculos ao redor daquele sol descomunal. Era umascinquenta vezes maior que o da Terra.

    Quatrocentas vezes maior corrigiu Ami. No parece que to grande... Porque est muito longe. Que mundo este? o planeta Ofir... Seus habitantes so originrios da Terra... O qu! surpreendeu-me tremendamente essa afirmao. Existem tantas coisas que so desconhecidas no seu planeta,

    Pedrinho. Houve uma vez na Terra, h milhes de anos, uma civilizaosemelhante sua. O nvel cientfico daquela humanidade tinha ultrapassadomuito o seu nvel de amor, e como alm disso eles estavam divididos,ocorreu o que era de se esperar...

    Se autodestruram? Completamente... Unicamente sobreviveram alguns indivduos que

    foram advertidos do que ia suceder e fugiram para outros continentes; masforam muito afetados pelas consequncias daquela guerra, tiveram querecomear quase do princpio. Voc o resultado de tudo isso; voc descendente dos que sobreviveram.

    incrvel; eu pensava que tudo tinha comeado como dizem oslivros de histria, do zero, das cavernas, dos trogloditas... E as pessoas deOfir, como chegaram at este planeta?

    Ns as trouxemos. Salvamos todos aqueles que tinham setecentasmedidas ou mais, as boas sementes... foram resgatadas um pouco antesque se produzisse o desastre. Salvaram-se muito poucos, a mdia evolutivadaquele tempo era de quatrocentas medidas, cem menos que hoje em dia. ATerra evoluiu.

    E se acontecesse um desastre na Terra, vocs resgatariam alguns? Todos aqueles que superem as setecentas medidas. Desta vez, h

    muito mais pessoas com esse nvel. E eu, Ami, tenho setecentas medidas?Ele deu risada da minha preocupao. Estava esperando a pergunta, mas j lhe disse que no posso

    responder isso.

  • 40

    Como se pode saber quem tem setecentas medidas ou mais? muito fcil. Todos aqueles que trabalham desinteressadamente

    pelo bem do prximo, tm acima de setecentas medidas. Voc disse que todos procuram fazer o bem... Quando digo "o prximo", no quero dizer somente a prpria famlia,

    o clube, o prprio grupo. E quando digo "bem", estou me referindo a tudo oque no vai contra a Lei fundamental do universo...

    Outra vez essa famosa lei; voc pode me explicar agora qual essalei?

    Ainda no. Pacincia. E porque to importante? Porque quem no conhece essa Lei, no pode saber a diferena

    entre o bem e o mal. Muitos matam acreditando que esto fazendo um bem.Ignoram a Lei. Outros torturam, coocam bombas, criam armas, destroem anatureza pensando que fazem um bem. O resultado que todos eles estofazendo um grande mal, mas no sabem, porque desconhecem a Leifundamental do universo... por isso devero pagar por suas violaes Lei.

    Nossa! No teria imaginado nunca que fosse to importante... Claro que importante. suficiente que as pessoas de seu planeta

    conheam e pratiquem a Lei, para que seu mundo se transforme em umverdadeiro paraso...

    Quando voc vai me dizer qual ? Por enquanto, contemple o mundo de Ofir; tem muito para ensin-lo,

    porque aqui todos praticam essa Lei.

    Sentei-me numa poltrona perto dele para observar pela tela aquelemaravilhoso planeta. Estava impaciente para ver os seus habitantes.

    amos lentamente, a uns trezentos metros de altura. Observei muitosobjetos voadores semelhantes ao nosso; quando se aproximaram, comproveique tinham formas e tamanhos muito diferentes.

    No vi grandes montanhas naquele planeta, tambm no vi zonasdesrticas. Tudo estava forrado de vegetao em variados tons, comdiferentes matizes de verde, marrom e alaranjado em diferentes graus. Haviamuitas colinas, lagoas, rios e lagos de guas de um azul-celeste muitoluminoso. Aquela natureza tinha algo de paradisaco.

    Comecei a distinguir edificaes que formavam crculos ao redor deuma construo principal. Havia muitas pirmides, algumas com escadas,outras, lisas; com bases triangulares ou quadradas, mas o que mais haviaeram umas espcies de casas semicirculares de diversas cores claras, compredominncia do branco.

    Depois apareceram os habitantes daquele mundo. De cima eu os viatransitar os caminhos, nadar nos rios e lagoas, tinham aparncia humana,pelo menos vistos distncia; todos vestiam tnicas brancas, somente certosdetalhes eram de outras cores: as franjas nas bainhas ou os cintos.

    No se via nenhuma cidade. No existem cidades em Ofir nem em nenhum outro mundo

    civilizado. As cidades so formas pr-histricas de convivncia disse Ami. Por qu?

  • 41

    Porque elas tm muitos defeitos; um deles que muitas pessoas emum mesmo ponto produzem um desequilbrio que afeta tanto a elas como aoplaneta.

    Ao planeta? Os planetas so seres vivos, com maior ou menor evoluo.

    Somente vida produz vida. Tudo inter-dependente, e tudo est inter-relacionado. O que ocorre Terra afeta as pessoas que a habitam, e vice-versa.

    Por que muitas pessoas em um mesmo ponto produzem umdesequilbrio?

    Porque no so felizes, e isso a Terra percebe. As pessoasprecisam de espao, rvores, flores, ar livre...

    As pessoas mais evoludas tambm? perguntei confuso, porqueAmi estava insinuando que as sociedades futuras viveriam em ambientesparecidos a "granjas", e eu pensava que ia ser exatamente o contrrio:cidades artificiais em rbita, enormes edifcios-cidades, metrpolessubterrneas, plstico por todos os lados; igual que nos filmes...

    Sobretudo pessoas mais evoludas respondeu. Pensava que era o contrrio. Se na Terra no pensassem tudo ao contrrio, no estariam a ponto

    de se destruir novamente... E estas pessoas de Ofir, no querem voltar Terra? No. E por qu? Ao deixar o ninho, os adultos no voltam ao bero, pequeno para

    eles...

    Quando nos aproximamos a umas construes de pouca altura e deum estilo muito moderno, comeamos a descer.

    Isto o que mais se parece a uma cidade em um planeta civilizado. um centro de organizao, distribuio e apresentao de atos culturais. Aspessoas s vm ocasionalmente em busca do que necessitam, ou tambmpara presenciar alguma manifestao artstica, espiritual ou cientfica, masningum mora aqui.

    Parou a nave a uns cinco metros de altura e disse com entusiasmo: Agora voc vai conhecer os seus antepassados de milhes de anos

    atrs! Vamos sair da nave? Nem sonhando. Os seus vrus poderiam matar todas as pessoas

    deste mundo. E por que no o afetam? Porque estou "vacinado", mas antes de voltar ao meu planeta, devo

    me submeter a um tratamento purificador.

    Muitas pesoas transitavam por a. Quando uma delas passou por pertodas janelas de nossa nave, percebi algo terrvel: eram gigantes!

    Ami, estes no so terrcolas; so monstros! Por qu? brincou S porque medem uns trs metros de altura? Trs metros!

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    Um pouco mais, um pouco menos, mas eles no se sentemespecialmente altos...

    Mas se voc diz que eles vieram da Terra, e l as pessoas medemum pouco mais da metade...

    Disse-lhe que os sobreviventes na Terra foram afetados pelasradiaes e desequilbrios no planeta e isto modificou seu crescimento, masao ritmo que vo, em algumas centenas de anos podero atingir sua estaturanormal... se sobreviverem.

    Ningum prestava muita ateno em ns. Eram pessoas de pelemorena, magras, plvis estreita e ombros levantados, retos. Alguns usavamum cinturo parecido ao de Ami.

    Todos eram muito tranquilos, relaxados e amveis. Seus olhos,grandes e luminosos, denotavam profunda espiritualidade; eram puxadospara os lados, amendoados; no como os dos asiticos, mas como os daspessoas que aparecem nas pinturas egpcias.

    So os antepassados dos egpcios, maias, incas, gregos e celtas,entre outros explicou-me Ami ; essas culturas foram restos da civilizaoatlante, e estes so descendentes diretos deles...

    A Atlntida, o continente que afundou exclamei Pensei que issofosse uma fbula.

    Quase todas as fbulas de seu mundo so mais reais do que essasombria realidade na qual vocs vivem...

    Em geral, as pessoas no andavam sozinhas, mas em grupos;tocavam-se muito uns aos outros