Amor a Segunda Vista

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Segue um trecho do Livro "Amor à segunda vistä". Um abraço, Trechos do livro de Bert Hellinger “Amor à segunda vista”, (transcrição de um seminário sobre relacionamentos de casal, durante três dias em março de 2001, em Barcelona) Patos de Minas-MG, Ed. Atman, 1ª edição, julho/2006 Introdução O segundo olhar (pg 9) Quando um homem encontra a mulher pela qual se sente especialmente atraído, e quando uma mulher encontra esse homem e se sente atraída por ele, também de um modo especial, os dois são atravessados por um sentimento de felicidade até então desconhecido e por um desejo que deles se apossa totalmente. Eles sentem esse sentimento de felicidade e esse desejo como amor. Quando então o homem diz à mulher: “eu amo você”, e també, a mulher diz ao homem: “eu amo você”, eles se unem e se tornam um casal. No entanto, será que esse primeiro amor que sentem um pelo outro, que confessam um ao outro é suficientemente forte para uma união duradoura, mesmo, que após um tempo, fique claro que os caminhos distintos, até então percorridos, se unem tão intensamente por um tempo ou, quem sabe, até por um longo tempo – quando deixam de ser apenas um casal e se tornam pais – e memso que esses caminhos, mais tarde, apontem para direções distintas? O que o homem e a mulher realmente sabem um do outro nessa exaltação do primeiro amor? O que eles sabem da escuridão que envolve a sua origem, o seu destino e sua designação especial? Quando aquilo que estava velado, até então, vier à luz, o que os ajudará para que seu amor persista e sobreviva a essa realidade? Sentimos que esta primeira confissão “Eu amo você” necessita ser complementada por algo mais. Algo que prepara o casal para esse estado mais abrangente, que o conduz para aquela amplidão e profundidade que o faz crescer para além desse primeiro amor. Uma frase que engloba esta dimensão maior e os prepara para ela, seria: “Eu amo você e aquilo que guia a mim e a você.” O que sucede quando o homem diz à mulher e a mulher diz ao homem esta frase: “Eu amo você e aquilo que guia a mim e a 1

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Segue um trecho do Livro "Amor à segunda vistä". 

Um abraço, 

Trechos do livro de Bert Hellinger “Amor à segunda vista”, (transcrição de um seminário sobre relacionamentos de casal, durante três dias em março de 2001, em Barcelona) Patos de Minas-MG, Ed. Atman, 1ª edição, julho/2006

IntroduçãoO segundo olhar (pg 9)

Quando um homem encontra a mulher pela qual se sente especialmente atraído, e quando uma mulher encontra esse homem e se sente atraída por ele, também de um modo especial, os dois são atravessados por um sentimento de felicidade até então desconhecido e por um desejo que deles se apossa totalmente. Eles sentem esse sentimento de felicidade e esse desejo como amor. Quando então o homem diz à mulher: “eu amo você”, e també, a mulher diz ao homem: “eu amo você”, eles se unem e se tornam um casal.

No entanto, será que esse primeiro amor que sentem um pelo outro, que confessam um ao outro é suficientemente forte para uma união duradoura, mesmo, que após um tempo, fique claro que os caminhos distintos, até então percorridos, se unem tão intensamente por um tempo ou, quem sabe, até por um longo tempo – quando deixam de ser apenas um casal e se tornam pais – e memso que esses caminhos, mais tarde, apontem para direções distintas? O que o homem e a mulher realmente sabem um do outro nessa exaltação do primeiro amor? O que eles sabem da escuridão que envolve a sua origem, o seu destino e sua designação especial? Quando aquilo que estava velado, até então, vier à luz, o que os ajudará para que seu amor persista e sobreviva a essa realidade? Sentimos que esta primeira confissão “Eu amo você” necessita ser complementada por algo mais. Algo que prepara o casal para esse estado mais abrangente, que o conduz para aquela amplidão e profundidade que o faz crescer para além desse primeiro amor. Uma frase que engloba esta dimensão maior e os prepara para ela, seria: “Eu amo você e aquilo que guia a mim e a você.” O que sucede quando o homem diz à mulher e a mulher diz ao homem esta frase: “Eu amo você e aquilo que guia a mim e a você.”? De repente não olham apenas para si e para o seu desejo, olham para algo que está além deles. Mesmo que ainda não consigam compreender o que essa frase exige deles ou com o que de especial ela os presenteia, e ainda qual o destino que aguarda cada um deles, separadamente e juntos – trata-se de uma frase que prepara e possibilita, após o amor à primeira vista, o amor à segunda vista.

As constelações familiares

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Muito daquilo que os vínculos do destino exigem do casal e de seus filhos vem à luz nas constelações familiares. Nelas o homem ou a mulher escolhe a partir de um grupo de participantes, representantes para determinados membros de sua família e os coloca uns em relação aos outros dentro de um espaço. Os representantes, a partir do momento em que ocupam o seu lugar, sentem da mesma forma que as pessoas que estão representando. Isso ocorre sem que os representantes saibam algo sobre elas. Desse modo vem à luz uma relação, até então oculta, com um outro membro da família. Revela-se, assim, que nas constelações familiares os representantes mergulham em algo que os conecta com as pessoas ausentes e não apenas na superfície, de forma externa e, sim, dentro de um âmbito onde uma força que guia a todos conjuntamente é experimentada. Eu chamo essa força de grande alma.

Também a pessoa que constela é alcançada por essa força. Quando constela a família de uma forma centrada, ela o faz em conexão com essa grande alma e fica admirada com o que veio à luz.

Darei um exemplo.

Um homem constelou a sua família atual e de repente percebeu que havia posicionado um filho em um lugar afastado, com o olhar direcionado para fora. Desse modo veio à luz que essa criança queria sair da família. O coordenador da constelação perguntou ao representante desse filho como se sentia naquele lugar. Ele disse que se sentia bem. A imagem total da constelação sugeria que mais alguém desejava afastar-se da família. Por isso o coordenador pediu que o representante da mulher trocasse de lugar com esse filho. Quando lhe perguntou como se sentia, nesse lugar, ela igualmente afirmou sentir-se bem. Conforme repetidas experiências em muitas constelações familiares, suspeitou-se ser a mulher que desejava partir, sejam quais fossem as razões e que o filho estava disposto a assumir esse destino no lugar de sua mãe. Aqui a constelação revelou algo que poderia inquietar e assustar profundamente o marido, como também a mulher e seu filho.

A pergunta é: como isso é possível? Por que a mulher sente o desejo de partir – pois é esse o significado em última instância – por que ela sente no fundo de sua alma o desejo de morrer? A resposta a isso foi um acontecimento na família de origem da mulher. Ela possuía uma irmã gêmea que morrera logo após o parto. Quando uma representante dessa irmã gêmea foi posicionada diante da mulher, ficou evidente que seu desejo de partir era o desejo profundo de seguir a irmã gêmea na morte, unindo-se a ela.

Este exemplo demonstra o que significa quando falamos de um emaranhamento fatal de destino e quais as consequências para uma relação a dois. Esses emaranhamentos são fatais, porque estão além de nossa vontade, nosso cuidado e nossa consciência. Determinam nossa vida de uma forma sobre a qual não exercemos influência, pelo menos não enquanto não nos tornamos conscientes dele. Entretanto, nesse caso, não era apenas a mulher que estava emaranhada de

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forma fatal, mas também o seu filho e o seu marido. O filho, por estar disposto a assumir sem saber por que o destino de sua mãe. O marido, por ser atingido fatalmente, sem a possibilidade de mudar algo, caso a relação com sua esposa fracassasse por causa do vínculo de destino da mesma.

As constelações familiares não apenas trazem à luz algo até então oculto, elas indicam caminhos para a solução. O ponto decisivo das constelações familiares é mostrar o caminho para a solução de um emaranhamento e conduzir os atingidos a esse caminho.

Assim como o amor à primeira vista não pode durar, quando não for seguido pelo amor à segunda vista, nas constelações familiares a solução do emaranhamento ocorre somente quando os atingidos se conectam com algo maior, isto é, quando abandonam conscientemente algo anterior e se abrem para algo novo, mesmo que isso a princípio cause medo. O conhecimento e a compreensão por si sós não bastam. Necessita-se também de uma força especial.

A fonte dessa força é, por um lado, a ligação com os pais e os ancestrais e, por outro, o ato de se inserir em algo maior. A ligação com os pais e, quando necessário, também a reconciliação com eles frequentemente já ocorre durante as constelações e, memso assim, isso às vezes ainda não basta.

A outra dimensão

Inserir-se em algo maior, entrar em sintonia com aquilo que em última instância nos conduz não pode ser exercitado nem influenciado por algo exterior. Isso pertence a um âmbito que experimentamos como uma graça, envolvendo assim também uma dimensão espiritual e religiosa. O seu efeito se desenvolve principalemnete quando chegamos aos nossos limites. No limite, a travessia torna-se mais possível, mas isso não se aplica sempre a todos. Quando nos tornamos testemunhas de que um limite não pode ser transposto por nós ou por outros, quando um de nós ou o parceiro não consegue se desligar do emaranhamento, precisamos reconhecer esse fato, sem querer movimentar ou mudar algo. No relacionamento a dois, isso é experimentado como uma morte.

Para lidar com isso, novamente torna-se necessário um segundo olhar. Uma frase que nos ajuda mais uma vez seria: eu me amo e eu amo você com tudo aquilo que conduz a mim e a você.

Primeiro diaO relacionamento de casal (pg 17) Hellinger: Eu os cumprimento cordialmente neste seminário sobre relacionamentos de casal e gostaria de dizer inicialmente algo mais genérico sobre isso.

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O relacionamento de casal é o que existe de maior e mais importante. Todos nós viemos de uma relação de casal. Através dela a vida é passada adiante. Por isso, na relação de casal estamos mais profundamente conectados com aquilo que leva o mundo adiante e o dirige. Essa força atua na relação de casal de forma especial. Nela estamos conectados com essa força.

O que mantém a relação a dois coesa é, em primeiro lugar, a consumação sexual do amor. Ela nos conecta profundamente com essa força, por isso também é algo espiritual. Podemos dizer que é algo espiritual e religioso.

Alguns desvalorizam a consumação sexual, considerando-a um instinto ou algo que se opõe ao espírito. Trata-se, porém, do contrário. O espírito frequentemente se opõe ao que há de mais profundo. Nesse sentido trabalhamos aqui com o maior respeito pela relação de casal e por aquilo que a mantém coesa.

A relação de casal é o que mais nos molda. Somos educados através dela. Nela renunciamos passo a passo a nossas ilusões e, exatamente por isso, estamos ligados a algo maior.

Como se alcança essa ligação? Concordando com o mundo como ele é. Concordando com as diferenças como elas são. Despedindo-nos da idéia de uma coisa ser certa e outra pior ou errada. Nós nos desenvolvemos à medida que reconhecemos, no decorrer do tempo, que aquilo que a princípio consideramos adverso é diferente sim, porém possui o seu valor.

Terceiro diaA reverência perante a vida (pg 177) 

Hellinger para o grupo: quero dizer algo sobre a vida.        Relacionamentos de casal têm a ver com a vida. Através do relacionamento de casal a vida é passada adiante. Mas de onde os casais têm a vida? A vida é deles? Ou ela apenas flui através deles? Ela flui através deles e vem de longe. Independentemente  de como são o homem e a mulher, a vida flui através deles em sua plenitude. O homem e a mulher passam a vida adiante em sua totalidade, da mesma forma que a receberam em sua totalidade de seus pais, como os pais deles também a receberam de muto longe.        Então a vida independe de como são o pai e a mãe de uma criança. Sob este ângulo, podemos e precisamos olhar de outra forma para nossos pais, e os pais também precisam olhar de forma diferente para os seus filhos. Com reverência. O filho olha para os pais e olha através dos pais para um passado longínquo, de onde a vida vem originalmente. Quando toma a vida, toma a vida não apenas dos pais e sim de longe. Por isso, todos os pais são certos.

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Sob este ângulo não existem pais melhores e piores. Existem apenas pais.        Quando reconhecemos isso e a isso nos submetemos, podemos tomar de nossos pais a vida em sua totalidade. Porém, quem rejeita internamente um de seus pais, quem os acusa, fecha o coração diante da plenitude da vida. Recebe apenas uma parte ou, mais exatamente, toma apenas uma parte. Contudo, cada um de nós também é determinado de um modo bem específico através dos pais.        Tenho diante de mim a imagem de uma árvore. No outono o vento sopra e espalha as sementes. Uma semente cai na terra fértil, uma outra na terra cheia de pedras e cada semente precisa desenvolver-se onde caiu, não pode escolher o lugar. Da mesma forma nós também não podemos escolher os nossos pais. Eles são o lugar de onde brota nossa vida, apenas aí. Independentemente de se a semente caiu em terra fértil ou em um solo cheio de pedras, ela se torna uma árvore de verdade e também dará frutos. A sua semente será espalhada novamente, e a mesma árvore crescerá diferentemente, em lugares diversos. Para que possamos realmente crescer, precisamos concordar com o lugar ao qual estamos vinculados, seja ele como for. Independentemente de ter “vantagens” ou “desvantagens”, cada lugar nos força a um desenvolvimento especial, tem chances especiais e coloca determinados limites. A vida é, tanto em um lugar como no outro, pura e autêntica.        Aplicarei isso agora ao relacionamento de casal. Um casal tem um filho. Nesse filho o marido e a mulher se unem e se tornam pais. Algumas mães dizem que o filho deve-se desenvolver segundo ela, e alguns pais dizem que o filho deve desenvolver-se segundo ele. O que acontece nesse momento? A vida não é respeitada, pois ela está certa tanto do modo que surge, através do pai, tanto do modo que surge, através da mãe. Uma vez compreendido tal fato, o pai ama a vida no filho também da forma que esta surge através da mãe, e a mãe ama a vida no filho também da forma que esta surge, através do pai, com todas as particularidades que um ou outro possui.        Isso é humildade. Fazemos uma reverência, respeitando a vida que vem do parceiro, diante da vida como um todo. Quando um homem diz que  a vida que vem dele é melhor do que aquela que vem através da mulher, apodera-se da vida. Acredita possuí-la como algo pessoal e assim se eleva acima dela. Isso prejudica a sua alma, prejudica o relacionamento de casal e filho. Portanto, aqui nós respeitamos a vida. 

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