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    luiz zerbiniamor

    18de outubro a 9de dezembro 2012

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    A grandiosidade e a diversidade das obras do artista

    Luiz Zerbini misturam-se de maneira harmoniosa namostra Amor.

    A exposio, composta tanto por pinturas em grandes

    formatos e instalaes, como tambm por papis, slides

    e objetos, demonstra a multiplicidade de meios utilizados

    pelo artista.

    Grande investigador e desbravador de novas tcnicas,

    estilos e materiais, Zerbini considerado um dos artistas

    sul-americanos mais respeitados no cenrio internacional,reunindo, nesta mostra, um significativo acervo produzido

    na ltima dcada.

    A Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, por meio

    da Secretaria Municipal de Cultura e do Edital Pr-Artes

    Visuais, tem orgulho de patrocinar esta exposio

    junto ao Bradesco Seguros , proporcionando ao pblico

    o universo riqussimo que envolve os trabalhos de

    Luiz Zerbini.

    Emilio Kalil | Secretrio Municipal de Cultura

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    E agora, Luiz?

    Amor: Em seguida, pensei: agora com um nome como

    esse definido, fica fcil escrever, falar sobre a exposio.

    Engano seu! No h o que falar!

    Talvez fazer uma msica.

    Sem letra!

    Com essa pequena mensagem, voc me colocou

    numa sinuca, de bico.

    E agora, Luiz?

    S trabalho com as letras e l fui tentar...

    As telas esto a. H tramas maravilhosas com

    Le Corbusier, Niemeyer e os irmos Roberto.

    Tramas ambguas cheias de memria moderna.

    Amendoeiras, samambaias, macacos e fios eltricos

    e transformadores.Ruas confusas sempre vistas acima da calada.

    H todo um cinema esttico, um filme completo

    muito bem editado.

    H uma alegria imensa que no existe em todo amor.

    Lembra-se, Luiz?

    Das caveiras no cho atadas s grandes telas?

    A caveira sozinha no cho imenso do Centro Maria

    Antonia naquele ambiente saturado de cor.

    Lembra-se, Luiz?

    Vanitasno est aqui nesse sofisticado jardim de coisas, plan-tas e cidade.

    Existem amores tristes, voc sabia, Luiz?

    Mas para voc, aqui, em Amor, sempre uma

    festa muito bem construda.

    Sem msica, tentei fazer minha letra, Luiz.

    Paulo Sergio Duarte

    Amor,

    Lugar comum

    Depois de olhar demoradamente uma pintura grande

    figurativa, em que eu vinha trabalhando diariamente havia

    uns sete meses, ouo o seguinte comentrio: nossa,

    muito amor!

    Naquela altura, no percebi a dimenso do significado

    daquela palavra gasta, relacionada ao meu trabalho.

    Com o tempo, ela passou a ser a mais precisa definio

    do que fao.

    Isso esclareceu para mim, numa nica palavra, o que

    tento explicar h anos.

    Agora, enquanto pensava na montagem desta minha

    exposio e no livro que estou fazendo, lembrei dessa

    histria e resolvi chamar a exposio e o livro de Amor.

    Memrias, a existncia, a escolha, a amizade, a famlia e

    a loucura. o amor em um sentido amplo, como um mar

    que tantas vezes pintei e continuo pintando.

    Em seguida, pensei: agora, com um nome como esse

    definido, fica fcil escrever, falar sobre a exposio.

    Engano seu! No h o que falar!

    Talvez fazer uma msica.

    Sem letra!

    Luiz Zerbini

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    Lago Quadrado, 2010acrlica sobre tela

    300x 300cm

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    Mar do Japo, 2011acrlica sobre tela

    300x 400cm

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    A possibilidade de nos confrontarmos com a produo mais recente de Luiz Zerbini na sala

    monumental do MAM extraordinria. Nenhum outro espao daria conta da monumentalidade

    das pinturas e ofereceria condies para a constituio de um lugar potico com tamanha densida-

    de. As grandes telas tecno-paisagsticas respiram e funcionam individualmente ao mesmo tempo

    em que se deixam contaminar entre si. O olhar do visitante que sobe as escadas logo tomado

    pela pulsao do ambiente. Tudo ao mesmo tempo, tudo funcionando nas partes e no todo.

    A grande mesa de elementos recolhidos no ateli e que pertencem ao processo criativo do artis-

    ta um elo importante do conjunto. Antes de tudo, cabe ressaltar a fora escultrica daquele objeto

    no centro da sala. Aquele gabinete de curiosidades nos conduz atravs do mundo de referncias que

    circulam pelo seu universo potico e que se deslocam para as telas. No se trata de ilustrao, mas de

    agregao de uma memria afetiva que alimentou sua produo e seu imaginrio. H detalhes a se-

    rem observados em cada segmento da mesa: tijolos, iPods, aquarelas, insetos, galhos, folhas, telhas,

    caixa de som, bambus etc. Natureza e tecnologia entranham-se e tornam-se um composto hbrido.

    Cabe tambm notar que, para alm da articulao plstica entre as telas postadas no paredo

    e os slides no canto recuado oposto, a mesa tem um papel na articulao simblica desses dois

    conjuntos de trabalhos. Como os slides, a mesa estrutura-se a partir da diagramao em cartela

    e funciona como memria do processo criativo. uma espcie de registro da gnese potico-

    TUDO AO MESMO TEMPO E CADA COISA NO SEU LUGAR:

    A EXPOSIOAMOR

    DE LUIZ ZERBINI NO MAM-RJLuiz Camillo Osorio

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    imaginria, compondo uma proliferao de referncias que se recompem livremente na superfcie

    das telas. Os slides servem, normalmente, como suporte visual de memrias pessoais e de arquivo

    da histria da arte. O que era recorte do passado se transforma nesta srie de trabalhos expostosem fato plstico, em acontecimento visual. Pode-se chegar perto, procurar por resduos de passa-

    do, mas o lance cada conjunto articulado cromaticamente, ou seja, a construo de um objeto

    pictrico que se esvazia do detalhe reproduzido para se assumir como forma exteriorizada.

    Como nas mesas, as pinturas pem em relao elementos naturais, referncias histricas,

    estruturas geomtricas. A dicotomia entre abstrao e figurao fica aqui absolutamente superada.

    Essas pinturas so figurativas e so abstratas. Tudo ali est posto em relao e s funciona como

    pintura. Independentemente de se apropriar de um metaesquema de Oiticica, uma folhagem, um

    mico, uma fachada arquitetnica ou uma estrutura geomtrica, cada um desses elementos se articula

    no interior da pintura como uma grande colagem visual. A exuberncia cromtica de um Veronese se

    junta pulsao de afetos do rocknroll, costurados pela ateno construtiva sonoridade do mun-

    do de um Kraftwerk. H nisso uma lio tropicalista muito bem apropriada e atualizada por Zerbini.

    Por fim, temos as tapearias e as grandes telas geomtricas que compem seu variado

    repertrio visual. Como uma sonoridade ambiente, elas repercutem no espao, vibram pela sala.

    No h nada a se perceber no detalhe, tudo ritmo e exterioridade. Da a possibilidade de estarem,

    em alguns casos, a mais de 4metros de altura, acima das telas paisagsticas como se fora uma monta-

    gem acadmica do sculo XIX. mais um gesto apropriativo que ressalta a liberdade de incluir como

    materialidade potica qualquer tipo de referncia, seja do passado ou do presente. Estas telas ficam

    ressoando no ambiente, dinamizando ao longe nossa ateno perceptiva.

    Depois das exposies de Nuno Ramos, Jos Resende, Elisa Bracher e Giacometti, Zerbini

    mostra que as pinturas tambm podem enfrentar destemidamente a escala deste espao monu-

    mental do MAM. uma questo de coragem e fora. E tambm de amor.

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    (pg. anterior)

    Mamangu - Recife, 2011acrlica sobre tela

    293x 417cm

    Mamo Manilha, 2012acrlica sobre tela

    195x 195cm

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    (pg. anterior)High Definition, 2010

    tinta acrlica, polmero orgnicoe esmalte sobre tela

    250cm x 394cm

    Pinguela Japonesa, 2011acrlica sobre tela

    300x 300cm

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    No Tropical tudo est sempre ligado e quente, tudo se toca e se acrescenta, tudo cresce e se ilumina,

    vivo, espesso, sensual, colorido. O Tropical a inveja do mundo porque ali mora a verdadeira inten-

    sidade mesmo quando sutil , a que exige abertura e ateno disponvel, a que recompensa com

    paixo calma, segurana alargada, alegria. Na luxria embriagante do trpico, habita a sincronia

    confusa mas reveladora do meio no divisor, mas unificador , ponto de encontro dos extremos

    em fuso enriquecida, total e sobreaquecida, exagerada, das sensaes que iluminam e alimentam

    o mundo. Viver nesta realidade que um permanente e complexo tesouro descobertos se faz srio

    com despojamento e liberdade nas sensaes, abertura e leveza no sentimento, ambio e seguran-

    a nas emoes. Para colher desta real e cravejada multiplicidade preciosa, necessrio a alma cal-

    ma de um garimpeiro louco no corpo perdido de um marinheiro. A profcua derivada vida, o Amor.

    Luiz Zerbini nasceu em So Paulo em 1959. Adolescente, experimentava insightsao passear

    aos domingos pela cidade vazia, entrando numa rua e sentindo como a luz se transformava em

    escuro, o rudo das cores no ar, o silncio, os raios do sol a descer, a terra mais fria naquela enorme

    sombra, a imponncia vertical dos prdios, a tontura. Embriagado nessa viso, tudo lhe dava a en-

    tender de repente a natureza verdadeira das coisas, tudo lhe tocava, e acordava nessa dormncia,

    clarividente e sensvel, inundado na emoo. Pensava na nuance da cor, no efeito da luz, transcen-

    dia-se assim, de corpo inteiro, via-se iluminado nesse estado, maior, mais alto, mais largo. E aberto,

    O AMORDE LUIZ ZERBINI TROPICAL TOTAL

    OUINTUIO, SENSAO, ILUMINAO, CARTER

    Jorge Emanuel Espinho

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    solto, entendia. O seu professor de pintura Van Acker atribuiu essas experincias ao fato de ele ser,

    afinal, um artista. Zerbini ficou surpreso, mas acreditou.

    Esta vivncia e aprendizagem sensacionistae contnua da vida, que se traduz numa disponibili-dade e ateno crescente ao pormenor, mas tambm ao bvio pois em tudo mora o significativo,

    o magnfico , alimentou a sua relao com a pintura, e tambm profundamente alimentada por

    ela. Essa circularidade mgica assumida e sublinhada pelo artista. Nasce da privilegiada natu-

    ralidade dos que reconhecem na exterioridade a multiplicidade significativa da vida verdadeira,

    quando reconhecida e transformada pelo crivo sensvele nico de cada um. A arte de Zerbini

    uma imerso reconstrudada experincia extica de estar vivo, deslumbramento constante de re-

    conhecimento e identificao, testemunho do generoso percurso a que a vida nos autoriza, assim

    estejamos livres e receptivos, abertos e sinceros, autnticos num lugar nosso, que ser sempre de

    passageme relao.

    Importa saber reconhecer a verdade que habita no caos do acaso, pairar o olhar como um pin-

    cel a ver melhor, escolher as cores profundas que melhor iluminam. nesse significativo processo

    que o artista se alimenta, e que vai devolvendo depois enriquecidos e aumentados, ele e a expe-

    rincia ao mundo, a ns, a smula pertinente desse cclico percurso, feito pertinente paisagem.

    Mais do que implcita nesta estrutura ativa de vidaest a desmistificao da hierarquia das coisas,

    dos fenmenos, das pessoas. A contribuio total, livre, autnoma.

    Quando props ao editor Charles Cosac o livro Rasura transbordante documento que

    demoraria dez anos para completar e representa uma smula possvel do imaginrio e do mtodo

    do artista, preenchido de referncias, imagens, obras, palavras e esboos, seus e de outros e lhe

    transmitiu a vontade de explorar nele a verdade do seu universo criativo, suas influncias, seu pro-

    cesso, seu caminhar, a pergunta veio certeira: E voc no tem medo? Ao que respondeu: Sim,

    mas isso no razo para no fazer! Esta honestidade e seriedade so raras e desconcertantes,

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    e o resultado foi um fabuloso e generoso testemunho da complexa mas livre teia que representa

    o mundo particular do artista.

    A primeira imagem desse livro configura uma importante revelao sobre a relao de Zerbinicom a arte e o tempo: num enorme espao expositivo, dezenas de pinturas de todas as pocas

    e estilos se encontram espalhadas, paralelas, mas em vrios graus de distncia e proximidade,

    de frente para o visitante. Apetece percorrer os espaos entre aquelas pinturas sadas de vrios

    tempos, de vrios lugares, de vrias idades, mergulhar naquele mar onde tudo conversa, tudo se

    relaciona, tudo faz parte. assim, diz Zerbini, que entendo a histria da arte, sem essa coisa do

    tempo. tudo sincronizado!. impossvel no relembrar aqui os insightsdo artista, por ele des-

    critos como um bombardeamento de informaes simultneas, uma avalanche de sensibilidade.

    Um dos mais nobres estandartes do regresso pinturanas artes plsticas brasileiras, Zerbini

    no se fica por essa expresso, que domina e exibe como poucos. Membro do coletivo sonoro

    Chelpa Ferro, Zerbini foi ator, cengrafo, faz instalaes e colagens, escultura, ilustrao, escreve,

    e vai construindo uma obra que uma paisagem nica que se interseciona, feita de vasos comuni-

    cantes interligados pelo fluxo de que so feitos; plena, luxuriosa, viva. O ser tropicalmanifesta-se

    assim naturalmente numa profuso de meios, sempre atento e reflexivo, generoso e profundo na

    sua aportao vida, matria-prima totalque bebe e qual alimenta, transformador e sensorial,

    livre e consciente, ldico, criativo, intenso.

    No MAMdo Rio, Zerbini apresenta agora a fabulosa exposio Amor, e apresenta-se nela,

    inteiro. Divide-se em trs partes esta mostra, geografia impossvel de um mapa simblico, total.

    Uma parte ocupa trs paredes que parecem abraar o visitante: luxuriosas pinturas de vrios me-

    tros quadrados que so uma janela enorme e complexa com vista para tudo, smula pejada de

    signos e smbolos que mergulham na natureza e saem dela, a tecnologia, a luz e a cor, o urbano,

    o impressionante universo pictrico de uma mo que inventa a reproduzira experincia nica do

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    viver, a natureza. Neste conjunto, encontra-se High definitionselva viva de 2,5x 4m que demorou

    um ano a pintar, todos os dias acompanhada de outras paisagens e ambientes, todos intensos,

    todos rigorosos, todos admiravelmente profundos, completos, sedutores. esquerda, caveiras smbolo vrias vezes revisitado por Zerbini seguram do cho as obras, qual contrapeso absoluto,

    lembrana do efmero, homenagem potica ao humano sentir e pensar da vida.

    Na parede oposta, outro tipo de trabalho: slides antigos colados formam pequenos painis,

    criam jogos de cor, pequenas imagens desconhecidas mas familiares sugerem memrias, talvez

    inventadas, talvez distantes; surgem ironias de familiaridade, as viagens, a praia, o prazer, a des -

    coberta, a infncia, a arte, a moral... Este jogo ldico, para o artista tambm zona de descansoda

    pintura, talvez assinale a importncia difusa da memria subjetiva e abrangente, importante mes-

    mo quando oriunda da vivncia dos outros enquanto espao mvel a que regressamos, visitantes

    curiosos e sedentos, sados da oblivionparticular que sempre nos acompanha, crescente.

    Mas no centro da enorme sala que se parece jogar o meio do latim, medium , o esparso

    eixo, o espao vivo tropicalque origem e destino, fonte e produto, fim em princpio, essncia e

    forma, o pas particulardo artista em que as relaes infinitas de distante proximidadee de prxima

    distnciase alimentam, mudam, mutam; o mago ntimo e aqui partilhado que o criativo habita

    e transforma; a ponte mltiplaque o alimenta e dispara, em todas as direes, como esponja enso-

    pada e sedenta, bebendo sempre.

    maneira de uma mesa de estudo naturista tradio formal com ecos na obra e postura de

    Zerbini , uma enorme bancada acolhe inmeros objetos, plantas, insetos, troncos e folhas, areia,

    superfcies de reflexo e cor, frascos de vidro e imagens, tudo ali, o gabinete possvel de vivncia

    do artista, uma cama/casa completaonde aos sonhos se sucedem os dias, e ao deslumbramento,

    a relao. Em misterioso entrelaado entre horizonte e vertical, cor e contedo, sensao e olhar,

    carne e conceito, eis o precioso Planeta Zerbini. A descobrir.

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    Mais uma vez, aqui impressiona a profuso delicada mas explosiva de referncias e relaes,

    e a coragem com que esse caldo produtivo revelado; a simplicidade disponvel do artista, cons-

    ciente e afirmativo das misteriosas e profcuas relaes com que o acaso tempera a criao e a vida,e alimenta o ser e o sentir, o estar, o pensamento. Mais do que acolhimento, nesta mostra sentimos

    a envolvncia desejosa de ficar e mergulhar devagar nessa multiplicidade tropicale quente de

    um olhar e sentiro mundo , despidos nesse movimento, alcanando o que s de fora preenche,

    o natural ocupando o particular, a exuberncia plstica da selva, tambm interior, traduo potica

    que a arte faz da misteriosa rede das coisas e dos acasos da vida.

    no sobre o que se est vendo

    sobre o que se est ouvindo quando se est vendo

    no s sobre o que se est ouvindo quando se est vendo

    sobre o que se est sentindo quando se est ouvindo o que se est vendo

    no s sobre o que se est sentindo quando se est ouvindo o que se est vendo

    sobre o que se pensa quando se est sentindo o que se est ouvindo quando se est vendo

    no o que se pensa quando se est sentindo o que se est ouvindo quando se est vendo

    no o que se est sentindo quando se est ouvindo o que se est vendo

    no o que se est ouvindo quando se est vendo

    s o que se v

    Luiz Zerbini

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    (pg. anterior)Caiara, 2008dipticotinta acrlica, tinta esmalte, resina de polmeroe pigmento de alumnio sobre tela277x 286cm

    Sem ttulo,2012trpticoacrlica sobre tela300x 400cm

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    Le Corbusiers 3 Mundo, 2011acrlica sobre tela

    220x 160cm

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    Concrete Jungle,2011acrlica sobre tela297x 295cm

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    AMOR

    Por um instante, retive-me em ti

    Formei contigo um nico poro

    por onde penetrou a conscincia unvoca de nossa possede nossa perda

    Meu contorno no mundo, devo a esta luz: a mesma que se

    ilumina agora no desenho de todos ns, objetos deste quarto,

    e que extinguimos em sombra.

    Estou em mim

    Estou no outro

    Estou na coisa que me v

    e me situa

    Diante de mim

    diante do outro

    diante da coisa

    est a morte

    DA NATUREZA DE LUIZ ZERBINI

    Frederico Coelho

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    O poema acima foi escrito no final de dcada de 1960por Francisco Alvim. Ao abrir recentemente

    o livro e l-lo, j estava sob o impacto da exposio de Luiz Zerbini no MAMe fiz uma conexo imedia-

    ta dos ttulos, palavras e imagens. Sua relao de vida e morte com o olhar, a luz que desenha o contor-no das coisas e pessoas, a sensao de reter-se frente de cada tela, de cada obra em seus aspectos

    micro e macroscpicos, a ideia de que estamos na coisa que me v e me situa faz com que o AMOR

    de Alvim ressoe de alguma forma entre o AMORde Zerbini. Sua exposio monumental nos abraa

    e nos engole, nos enlaa atravs dos sentidos, nos convida e nos ameaa. Como o amor na vida de

    todos ns, a exposio de Zerbini nos promete harmonia entre o caos da vida, mesmo que o prprio

    amor seja o caos inexorvel em sua dinmica ao mesmo tempo salvadora e perigosa.

    H muitos aspectos e caminhos para entrar no universo de imagens, cores e procedimentos que

    Zerbini nos apresenta nesse momento de sua carreira. Um momento em que o desafio de am-

    pliao da escala produtiva alimenta um saudvel dilogo com a poesia antinarrativa dos temas

    e a prtica cotidiana do ofcio. Sem abrir mo de sua viso peculiar do mundo, o artista construiu

    um slido caminho de autonomia crtica, mercadolgica e esttica. Suas telas e suas extenses

    em esculturas, instalaes e objetos em que o raciocnio pictrico aplicado so hoje espcies

    de marcas visuais. So pinturas em que em sua maioria deciframos seu autor na primeira visada.

    A densa profuso de referncias realistas (e simultaneamente onricas) ao mundo material, a pre-

    sena permanente e fluida da geometria e da arquitetura, seu dilogo produtivo com as heranas

    modernistas e construtivistas na nossa visualidade, a incluso decisiva de seu mundo privado atra-

    vs de pessoas, objetos e imagens de seu convvio mais ntimo, a desterritorializao harmnica

    do mundo em planos e recortes de diferentes lugares e paisagens, tudo isso marca indelevelmente

    o espectador de seu trabalho. Zerbini define esse universo prprio em que todos se reconhecem,

    criando em sua arte uma janela para um absurdo perfeitamente compreendido. Mais que compre-

    endido, alis, um absurdo atraente.

    (pg. anterior)

    Sombra quadrada, 2011slides e fita adesiva

    50x 40cm

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    Entre os diversos elementos de seus trabalhos apresentados em AMOR, porm, h um sobre

    o qual arrisco reflexo um pouco mais detida. Nessa visualidade exuberante das telas e da grande

    mesa-instalao de Zerbini, creio que o principal elemento que atravessa tudo e demarca presenaostensiva a natureza. Agnaldo Farias j indica de forma certeira no texto Zerbini for all que boa

    parte das telas do artista renem com maestria retrato, paisagem e natureza-morta. O crtico vai

    alm em sua anlise e complementa sua bela leitura definindo a obra de Zerbini como uma espcie

    de ecossistema em que Homem, objeto e paisagem formam um todo orgnico cujos elementos

    equivalem uns aos outros.1

    Recuando um pouco na observao de Agnaldo, me apego apenas ao aspecto paisagem

    da obra de Zerbini para falar dos trabalhos expostos em AMOR. O artista nunca escondeu o papel

    que sua moradia na Gvea, regio do Rio de Janeiro encrustada nas franjas tropicais da Floresta da

    Tijuca, tem em seu trabalho. Observador arguto e interessado do mundo, Zerbini foi aos poucos

    incorporando em seu repertrio de imagens as flores, rvores, sementes, pedras, frutas, formas,

    insetos, pssaros, mares e demais elementos que compem esse universo natural ao seu redor.

    E essa incorporao no apenas imagtica. Ela atua em mutaes que se enrazam em concre-

    tos, aderem a objetos, engolem pessoas, transformam tudo e todos em um mesmo ser orgni-

    co e cromtico. A natureza, em seus vrios meios, penetra ora de forma arrogante, majestosa,

    quase cientfica, ora como rastro insidioso, intrusa na paisagem de concreto, camuflada dentro das

    espacialidades digitais. Ela se apresenta como uma espcie de indcio de vida em meio ao mundo

    morto dos objetos e edificaes.

    Ao contrrio do motivo tradicional da natureza em nossa visualizao nacional, as paisagens

    de Zerbini no mimetizam um espetculo exuberante para demarcar a diferena de nossa luz,

    de nossa flora ou de nossa paisagem tropical frente a outros olhares historicamente exigentes do

    extico. Para ele, a natureza um elemento constituinte de nossa contemporaneidade. Ela est

    1.FARIAS, Agnaldo.Zerbini for all. In: ARTE BRA

    Luiz Zerbini. Rio de Janeiro:

    Aeroplano, 2010. p. 49.

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    viva e articulada com a tecnologia, entremeada pelos fios e caixas de som, emersas das paredes

    de decks, plugs e curvas de frequncia dos softwares de gravao musical. Tudo se torna fluido

    ao redor dessa flora e fauna invasoras, at mesmo os prdios e cabos das paisagens urbanas.Montanhas emergem por trs de edifcios; bromlias e jabuticabas quebram a diviso, figura e

    fundo constituindo paredes nicas de desenhos; cabaas, bromlias, palmeiras e bambus se trans-

    figuram em uma densa malha de cores e formas que extasiam o espectador. Se ele no nos d o

    extico domesticado de paisagistas hiper-realistas, porque o transforma em potncia inventiva

    e no em macumba para turista. s vezes, passado, presente e futuro convivem em referncias

    sutis dessas muitas naturezas que trazemos na pintura brasileira como os pssaros de Tarsila do

    Amaral escondidos atrs de rvores e construes geometricamente dispostas em suas imponen-

    tes linhas futuristas e jogos de cor.

    Sua participao na exposio O Gabinete de Curiosidades de Domenico Vandelli, concebida

    por Anna Dantes em 2009, deu a Zerbini a possibilidade de ampliar essa ao investigativa em relao

    natureza. Ao mergulhar na lgica classificatria e organizacional de um naturalista (o formato cls-

    sico do gabinete), o artista pde dar vazo ao seu mpeto de colecionador de objetos e explorar a

    construo da grande mesa-pintura: uma instalao em que Zerbini apresenta suas placas de cor,

    pastilhas, slides e desenhos, todos sobrepostos com insetos, folhas, bambus, detritos, conchas,

    areia, anotaes em cadernos, caramujos, tijolos e demais elementos reproduzidos em suas te-

    las. Em um espelhamento potico, ora sutilmente aproximativo, ora perfeitamente identificvel,

    sua grande mesa faz do artista um naturalista de seu prprio ecossistema, um cientista minucioso

    e ao mesmo tempo enganador de sua prpria natureza. As curiosidades de seu gabinete pesso-

    al se potencializam no embate potico e incessante desse olhar necessariamente urbano e seus

    transes alucinatrios com as paletas dos dias verdes, cinzas, azuis, vermelhos, laranjas e lilases que

    compem o mundo de Zerbini.

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    Em AMOR, Luiz Zerbini afirma de vez a ocupao tranquila e absoluta de um lugar gigante na

    arte brasileira da atualidade. Um lugar sereno e decidido, de quem olha o mundo para alm de

    uma escala restrita, para alm de um recorte acanhado do cotidiano, para alm de uma demandaprevisvel dos prximos passos. Ele est construindo uma imensa paisagem contempornea brasi-

    leira, fragmentada entre natureza e cultura, erigida entre o primitivo cheiro do mato na chuva e o

    subgrave de baixa frequncia das caixas de som das ruas. Uma paisagem que, como o amor, cresce

    e morre todos os dias ao nosso redor.

    Quando precisarmos em um futuro remoto reconhecer as imagens do nosso tempo atravs

    das artes visuais, o trabalho de Luiz Zerbini ser um dos que vo oferecer essa imagem de forma

    mais acurada. Suas telas sero esses retratos de um Brasil com temporalidades e geografias so-

    brepostas, deslocadas, conflitantes, exuberantes e digitais. Uma paisagem do sculo XXI, plena de

    tropicalidade e tijolos, composta por Metaesquemas em tapumes de obras, espadas-de-so-jorge,

    pedras, seres e cores, todos espalhados entre postes acesos e jabutis, entre sandlias de dedo

    e iPods, entre macacos, gambiarras, ondas de WAV, pastilhas coloridas e borboletas. A maior pro-

    va de amor ser generoso com o que se ama. E o que no falta no AMORde Luiz Zerbini essa

    generosidade com o mundo, com a arte, com a vida e com o pblico.

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    Rio Negro,2011slides e fita adesiva70x 60cm

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    Mad Curator II, 2011slides e fita adesiva96x 121cm

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    Tokyo Night, 2012slides, fita adesiva egelatina colorida65x 50cm

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    Native, 2012slides, gelatina colorida,papel de arroz e fita adesiva35x 35cm

    Efraim, 2011slides e fita adesiva40x 30cm

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    produopatrocnio realizao

    EXPOSIO E CATLOGO

    18 out a 9 dez 2012

    COORDENAO DE PRODUO

    Luiza Mello

    PRODUO EXECUTIVA

    Arthur MouraMariana S. de MelloMariana Veluk

    GESTO DO PROJETO

    Marisa S. Mello

    ADMINISTRAO DO PROJETO

    Carolina Lima

    DESIGN GRFICO

    Zot Design | Rara Dias ePaula DelecaveAna Carneiro

    FOTOS

    Eduardo Ortega

    PROJETO DE ILUMINAO

    E DESIGN DE LUZ

    Samuel Betts | BeLight

    CENOTCNICA

    Camuflagem

    ARQUITETURA

    Pedro vora | RUA ArquitetosCarina Batista

    REVISO DE TEXTO

    Duda Costa

    VERSO PARA O INGLS

    Paul Webb

    ASSESSORIA DE IMPRENSA

    CW&A Comunicao

    ASSESSORIAJURDICAlvaro Piquet Pessoa

    ASSISTENTES DO ARTISTA

    Felipe FernandesIns NinJuliana WhnerLiana LunaRuan Dornellas

    AGRADECIMENTOS

    Adam Shefferlvaro Piquet PessoaAndr SchwartzBeatriz MilhazesBernardo de Mello PazBGA InvestimentosBradesco SegurosCharles CosacCleusa GarfinkelCarlos Eduardo M. Varella GomesEfrain AlmeidaFabio SzwarcwaldGabriella e Fernando M. OliveiraGaleria Fortes VilaaHeitor ReisInstituto InhotimLeonel KazLuis Carlos NabucoMalu Mader e Tony BellottoManeco MullerMarcel JungMariano Marcondes FerrazMax Wigram GalleryPatricia Viotti e Washington OlivettoPrefeitura da Cidade doRio de JaneiroRumi VerjeeSecretaria Municipal de Culturado Rio de JaneiroTagg Art LLC.Thiago Gomide

    PRESIDENTE

    Carlos Alberto Gouva Chateaubriand

    VICE-PRESIDENTE

    Joo Maurcio de Araujo Pinho Filho

    DIRETOR

    Luiz Schymura

    CONSELHEIROS

    Armando Strozenberg

    Carlos Alberto Gouva ChateaubriandDemsthenes M. de Pinho FilhoElisabete Carneiro FlorisGilberto Chateaubriand (Presidente)Gustavo Martins de AlmeidaHeitor ReisHelio PortocarreroHenrique LuzJoo Maurcio de Araujo Pinho(Vice Presidente)Joo Maurcio de Araujo Pinho FilhoJoaquim PaivaJos Olympio PereiraKtia Mindlin Leite BarbosaLuis Antonio de Almeida BragaLuiz Carlos BarretoLuiz SchymuraNelson EizirikPaulo Albert Weyland VieiraPaulo Roberto Ribeiro Pinto

    ARTES PLSTICAS

    Luiz Camillo Osorio (Curador)

    CINEMATECA

    Gilberto Santeiro (Curador)

    PESQUISA E DOCUMENTAO

    Elisabeth Catoia Varela (Curador)

    Museu de Arte Moderna

    Rio de Janeiro

    Av. Infante Dom Henrique, 85Parque do Flamengo 20021-140Rio de Janeiro RJ Brasil

    www.mamrio.org.br

    MANTENEDORESPetrobras, Light, Organizao Techint

    PARCEIROSBolsa de Arte do Rio de Janeiro,Credit Suisse Hedging-Griffo,Investidor Profissional, Klabin SA,Mica Mdia Cards, OutbackSteakhouse, Revista Piau, SaltaElevadores, Unimed-Rio

    Lei de Incentivo Cultura |Ministrio da Cultura

    PROJETOS ESPECIAIS

    Projeto Arte no ArquivoCAIXABiblioteca: automaoSecretaria de Estado de Cultura

    PREFEITURA DA CIDADE DORIO DE JANEIRO

    PREFEITO

    Eduardo Paes

    VICE-PREFEITO

    Carlos Alberto Vieira Muniz

    SECRETRIO MUNICIPAL DE CULTURA

    Emilio Kalil

    CHEFE DE GABINETE

    Rita de Cssia de Samarques Gonalves

    SUBSECRETRIO DE CULTURA

    Walter Santos Filho

    SUBSECRETRIA DE GESTO

    Rosemary Fernades Lessa Vidal

    ASSESSOR DE ASSUNTOS ESTRATGICOS

    Pedro Igor Alcntara

    ASSESSOR DE COMUNICAO

    Roberto Blattes

    COORDENADOR DE MUSEUS,

    CENTROS CULTURAIS E ARTES VISUAIS

    Robson Bento Outeiro

    GERENTE DE CENTROS CULTURAIS

    Snia Gentile

    GERENTE DE MUSEUS

    Andra Falco

    Este projeto foi realizado com recursos do EditalPr-Artes Visuais da Prefeitura do Rio/SecretariaMunicipal de Cultura e da Bradesco Seguros,atravs da Lei Rouanet de Incentivo Cultura.

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