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Junho 2013 Ana Catarina Ferreira Lopes de Jesus Limiares olfactivos e Adaptação olfactiva: Um estudo comparado com sujeitos cegos e com sujeitos não-cegos Universidade do Minho Escola de Psicologia

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Junho 2013

Ana Catarina Ferreira Lopes de Jesus

Limiares olfactivos e Adaptação olfactiva: Um estudo comparado com sujeitos cegos e com sujeitos não-cegos

Universidade do MinhoEscola de Psicologia

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Dissertação de Mestrado Mestrado Integrado em Psicologia Área de Especialização em Psicologia Escolar e da Educação

Trabalho realizado sob a orientação do

Professor Doutor Armando Machado

e sob a orientação do

Professor Doutor João Lopes

Junho 2013

Ana Catarina Ferreira Lopes de Jesus

Limiares olfactivos e Adaptação olfactiva: Um estudo comparado com sujeitos cegos e com sujeitos não-cegos

Universidade do MinhoEscola de Psicologia

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DECLARAÇÃO

Nome: Ana Catarina Ferreira Lopes Jesus

Endereço eletrónico: [email protected]

Número do bilhete de identidade: 13238865

Título da tese de mestrado: Limiares olfactivos e Adaptação olfactiva: Um estudo comparado com sujeitos cegos e com sujeitos não-cegos.

Orientadores: Armando Machado e João Lopes

Ano de conclusão: 2013

Designação do mestrado: Mestrado Integrado em Psicologia – Área de Especialização

em Psicologia Escolar e da Educação

É AUTORIZADA A REPRODUÇÃO INTEGRAL DESTA DISSERTAÇÃO, APENAS

PARA EFEITOS DE INVESTIGAÇÃO, MEDIANTE DECLARAÇÃO ESCRITA DO

INTERESSADO, QUE A TAL SE COMPROMETE.

Universidade do Minho, 14 de junho de 2013

Assinatura:

____________________________________________________________________

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ii

ÍNDICE

Índice de tabelas……………………………………………..…………… ii

Índice de figuras…………………………………………………………. ii

Agradecimentos.………………………………………………………… iii

Resumo…………………………………………………………………… iv

Abstract…………………………………………………………………… v

Introdução………………………………………………………………… 6

Método…….………………………………………………………………10

Participantes………………………………………………………………….... 10

Tarefas…………………………………………………………………………. 10

Análise dos dados……………………………………………………………… 12

Resultados………………………………………………………………...13

Análise descritiva……………………………………………………………… 13

Análise inferencial…………………………………………………………….. 15

Discussão………………………………………………………………… 17

Referências Bibliográficas……………………………………………… 21

Índice de tabelas

Tabela 1 – Pontuações médias obtidas em ambos os grupos na medição dos limiares

olfactivos: pré-adaptação e medição dos limiares olfactivos: pós-

adaptação……………………………………….………………... 13

Tabela 2 – Apresentação dos resultados relativos ao teste Mann-Whitney relativamente

aos limiares olfactivos: pré-adaptação………………… 15

Tabela 3 – Apresentação dos resultados relativos ao teste Mann-Whitney relativamente

aos limiares olfactivos: pós-adaptação……………… 15

Tabela 4 – Apresentação dos resultados relativos ao teste Mann-Whitney relativamente

aos limiares olfactivos: pré-adaptação e pós-adaptação em cegos

congénitos e cegos adquiridos………………………….…… 16

Índice de Figuras

Figura 1 – Limiares de detecção olfactiva em sujeitos cegos e não-cegos, na tarefa de

pré adaptação e tarefa de pós-

adaptação………………………………............................................... 14

Figura 2 – Medição dos limiares olfactivos antes e após a tarefa de adaptação…. 16

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Agradecimentos

Agradeço…

Ao Professor Armando Machado pela disponibilidade em começar este projecto do zero,

pelos conhecimentos transmitidos e por me fazer perspectivar as situações de diversas

formas…

Ao Professor João Lopes pela insubstituível orientação e ajuda ao longo de todo este

trabalho, pelo apoio e constante disponibilidade, e por aceitar embarcar neste projecto…

À Dra. Margarida Gomes, Psicóloga da delegação da ACAPO do Porto pela sua simpatia e

disponibilidade em tornar a recolha de dados possível…

À ACAPO do Porto, por me receber na instituição e me proporcionar a possibilidade de

realizar esta investigação nas suas instalações…

A todas as pessoas cegas e não-cegas que se disponibilizaram a participar neste estudo…

À Eliana pelos “tubinhos” de ensaio...

Aos meus colegas de turma de mestrado por me receberem tão bem e me fazerem sentir em

casa desde do primeiro dia de aulas…

À Verónica, à Laura e à minha homónima (Ana Catarina) pelos trabalhos partilhados e por

todos os momentos de riso e diversão que surgiam em cada intervalo, aula, almoço, jantar ou

até mensagem de telemóvel, assim como pelas respostas a todas as minhas infindáveis

dúvidas…

À Raquel, que é a prova de que os laços de amizade que surgiram entre as pessoas de “Q6”

permanecem independentemente do rumo de cada um…o meu muito obrigado por todo o

trabalho laboratorial que deu origem ao “meu instrumento de avaliação”…

À minha irmã Sofia, por a nossa amizade permanecer mesmo quando não há tempo para

respirar, por me fazer sair, por me fazer reflectir, e por todos os momentos partilhados

fossem eles de gargalhadas ou lágrimas…

Aos meus pais, por todo o esforço que fizeram para que eu pudesse continuar a lutar pelo

meu sonho e principalmente por nunca deixarem de acreditar em mim.

À minha avó, por me acompanhar desde o primeiro dia de escola e fazer de mim a pessoa que

sou hoje…

Ao Hélder, meu namorado, amigo e companheiro de todas as horas, pela paciência, por estar

sempre presente para me dizer: “eu sei que tu és capaz”, pelos abraços apertados, pelos

quilómetros percorridos ao longo de todos estes anos sempre por “nós”, por todos os mimos

e pelo apoio incondicional em todas as minhas decisões…Obrigado por tudo!

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Mestrado Integrado em Psicologia da Universidade do Minho

Área de Especialização de Psicologia Escolar e da Educação

Limiares olfactivos e Adaptação olfactiva: Um estudo comparado com sujeitos cegos e com

sujeitos não-cegos.

Ana Catarina Ferreira Lopes de Jesus

Professor Doutor Armando Machado

Professor Doutor João Lopes

RESUMO

Vários estudos sugerem que os indivíduos cegos desenvolvem habilidades superiores

no uso de outros sentidos, para compensar a sua perda de visão. Sendo assim, é importante

verificar se este mecanismo compensatório também ocorre no olfacto dos sujeitos cegos.

Desta forma estudou-se os limiares olfactivos e a adaptação olfactiva em 30 sujeitos cegos e

30 sujeitos não-cegos, comparados pelas variáveis sexo e idade. Os limiares olfactivos foram

medidos através de uma prova similar à tarefa de detecção dos limiares olfactivos do Sniffin

Sticks Test (Hummel et al., 1997), e a adaptação olfactiva foi avaliada através de uma tarefa

simples de exposição repetida e prolongada ao estímulo olfactivo. Não foram encontradas

diferenças entre os sujeitos ao nível dos limiares olfactivos. No entanto, foram observadas

diferenças entre os dois grupos de participantes nas pontuações obtidas na tarefa de adaptação

olfactiva, obtendo os sujeitos cegos resultados inferiores, portanto maior adaptação ao

estímulo olfactivo apresentado. Os resultados indicam que os grupos não divergem

significativamente nas suas pontuações de limiares olfactivos, mas constata-se a ocorrência de

adaptação em ambos os grupos relativamente ao estímulo odorífero apresentado.

Palavras-chave: Limiares olfactivos; Adaptação olfactiva; Olfacto.

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Mestrado Integrado em Psicologia da Universidade do Minho

Área de Especialização de Psicologia Escolar e da Educação

Olfactory thresholds and olfactory adaptation: A comparative study with blind subjects and

sighted subjects.

Ana Catarina Ferreira Lopes de Jesus

Professor Doutor Armando Machado

Professor Doutor João Lopes

ABSTRACT

Several studies suggest that blind individuals develop superior skills in the use of other

senses to compensate for their loss of vision. Therefore, it is important to check if this

compensatory mechanism also occurs in smell of blind subjects. Thus we studied the

olfactory thresholds and olfactory adaptation in 30 blind subjects and 30 sighted subjects,

compared by gender and age. The olfactory thresholds were measured using a test similar to

the task of detection olfactory thresholds Sniffin Sticks Test (Hummel et al., 1997), and

olfactory adaptation was evaluated through a simple task of repeated and prolonged exposure

to the olfactory stimulus. No differences were found between subjects at the level of the

olfactory thresholds. However, differences were observed between the two groups of

participants on the scores obtained in the task of olfactory adaptation, obtaining the blind

subjects inferior results therefore greater adaptation to olfactory stimuli presented. The results

indicate that the groups did not differ significantly in their olfactory threshold scores, but

notes the occurrence of adaptation in both groups for the odor stimulus presented.

Keywords: Olfactory thresholds; Olfactory adaptation; Olfaction.

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Limiares olfativos e Adaptação olfativa: Um estudo comparado com sujeitos cegos e sujeitos não-cegos

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Introdução

A perda de visão está normalmente associada à crença no desenvolvimento de

capacidades sensoriais compensatórias do défice visual. Com base nesta crença têm surgidos

vários estudos com o intuito de compreender o funcionamento da percepção em indivíduos

totalmente cegos ou com graves défices visuais, sendo a maioria destes direcionada para a

percepção táctil e auditiva (e.g.: Van Boven, Hamilton, Kauffman, Keenan, & Pascual-Leone,

2000; Goldreich & Kanics, 2003, 2006; D’Angiulli & Waraich, 2002; Bliss, Kujala, &

Hämäläinen, 2004; Lessard, Pare, Lepore, & Lassonde, 1998; Roder, Teder-Salejarvi, Sterr,

Rosler, Hillyard, & Neville, 1999; Voss, Lassonde, Gougoux, Fortin, Guillemot, & Lepore,

2004; Gougoux, Lepore, Lassonde, Voss, Zatorre, & Belin, 2004).

O olfacto é um sentido considerado como fundamental na vida das pessoas cegas

permitindo-lhes captarem informações do meio que as rodeia e desenvolverem emoções

(Ferdenzi, Coureaud, Camos, & Schaal, 2010), sendo por isso importante realizarem-se

investigações sobre a percepção olfactiva em indivíduos cegos. As investigações sobre a

percepção olfativa são escassas e têm alcançado resultados contraditórios. Alguns estudos

referem um melhor desempenho por parte de indivíduos cegos em provas de percepção

olfativa, o que sugere que o olfacto poderá compensar os défices visuais (Diekmann, Walger,

& Von Wedel, 1994; Schwenn, Hundorf, Moll, Pitz, & Mann, 2002; Smith, Doty,

Burlingame, & McKeown, 1993). Outros porém, apontam para a não existência de diferenças

a nível do desempenho de indivíduos cegos e não-cegos em provas que avaliam a percepção

olfactiva (Murphy, & Cain, 1986; Rosenbluth, Grossman, & Kaitz, 2000; Wakefield,

Homewood, &Taylor, 2004).

O primeiro estudo com o objectivo de avaliar os limiares olfactivos em sujeitos cegos

e não-cegos surgiu em 1899 e foi realizado por Griesbach, o qual mediu os limiares olfactivos

através de um aparelho apropriado, o olfatómetro. Griesbach (1899, cit in Smith et al., 1993)

não encontrou diferenças entre os dois grupos de sujeitos. Num estudo posterior, cujo

objectivo era perceber possíveis diferenças entre sujeitos cegos e não-cegos relativamente aos

limiares olfactivos foi testada a sensibilidade dos sujeitos a alguns odores como o café,

baunilha e citrinos, não se tendo também encontrado diferenças entre os sujeitos cegos e os

sujeitos não-cegos (Boccuzzi, 1962, cit in Smith et al., 1993).

Posteriormente surgiram outros estudos também com o objectivo de avaliar os limiares

olfactivos, recorrendo para isso à utilização de um álcool com odor característico a “água de

rosas”. Esta solução era apresentada aos participantes em diferentes diluições com o propósito

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Limiares olfativos e Adaptação olfativa: Um estudo comparado com sujeitos cegos e sujeitos não-cegos

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de perceber qual a concentração mais fraca que o sujeito é capaz de detectar (Smith et al.,

1993; Diekmann, Walger, & von-Wedel, 1994). Os estudos que utilizaram esta metodologia

também não encontraram diferenças entre sujeitos cegos e não-cegos (Smith et al., 1993;

Diekmann, Walger, & von-Wedel, 1994).

Posteriormente foi desenvolvido o Sniffin Sticks Test (Hummel, Sekinger, Wolf,

Pauli, & Kobal, 1997), que permite avaliar os limiares olfactivos, entre outras propriedades

relacionadas com a percepção olfactiva (identificação olfactiva e discriminação olfactiva). Foi

com recurso a este teste que Schwenn e colaboradoes (2002) averiguaram possíveis diferenças

entre sujeitos cegos e sujeitos não-cegos ao nível dos limiares olfactivos, não encontrando

também resultados que fundamentassem possíveis diferenças entre ambos os grupos.

Por outro lado, Cuevas, Plaza, Rombaux, e De Volder (2009), investigaram a

percepção olfativa em sujeitos cegos e não-cegos através das seguintes tarefas: identificação

livre, na qual os participantes foram convidados a identificar um conjunto de 30 odores,

nomeando o odor se o reconhecessem; identificação com pistas semânticas, onde os sujeitos

foram solicitados a classificar o estímulo em uma das quatro categorias fornecidas;

identificação com pistas fonológicas, em que os sujeitos foram incitados a identificar o

estímulo através da selecção do seu nome numa lista de seis proposições; e uma tarefa de

discriminação que consistiu em dar a cheirar um par de odores ao sujeito tendo este que

identificar se o segundo odor apresentado era igual ao primeiro. Os sujeitos cegos obtiveram

melhores resultados nas tarefas de discriminação e identificação livre do que sujeitos não-

cegos (Cuevas et al., 2009).

Recentemente, Cuevas, Plaza, Rombaux, Collignon, De Volder, e Renier (2010),

comparam novamente um grupo de indivíduos cegos com um grupo de indivíduos não-cegos,

utilizando para tal as provas olfativas que compõem o Sniffin Sticks Test (Hummel et al.,

1997), que inclui três componentes: a identificação, na qual os participantes têm de

reconhecer o odor apresentado tendo em conta uma lista de quatro alternativas de resposta; a

discriminação, onde são apresentadas aos participantes três soluções odoríferas, sendo que

duas delas contêm o mesmo odor e o participante deve identificar qual das três soluções

apresenta um odor diferente; e por fim a tarefa de medição dos limiares olfactivos, onde é

apresentado aos participantes diferentes diluições de butanol com o objectivo de perceber qual

a concentração mais fraca que o sujeito é capaz de detectar. Neste estudo os indivíduos cegos

obtiveram um melhor desempenho na tarefa de discriminação e na tarefa de determinação dos

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limiares olfativos, o mesmo não se verificando na tarefa de identificação (Cuevas et al.,

2010).

As diferenças de resultados que surgem entre os vários estudos podem derivar das

características dos participantes, como no caso da inclusão de sujeitos do sexo feminino.

Segundo alguns estudos existem evidências de uma melhor performance dos participantes do

sexo feminino nas provas de percepção olfactiva (Bramerson, Johansson, Ek, Nordin, &

Bende, 2004; Hummel, Kobal, Gudziol, & Mackay-Sim, 2007; Landis, Konnerth, & Hummel,

2004). Para além disso, existem outros factores como o período menstrual (Purdon, Klein, &

Flor-Henry, 2001; Watanabe, Umezu, & Kurahashi, 2002) e o consumo de contraceptivos

orais (Cuevas et al., 2010), que se encontram descritos como interferindo na fiabilidade dos

resultados obtidos pelos participantes do sexo feminino (Landis et al., 2004).

Outro aspecto a considerar como justificação para a divergência de resultados é o tipo

de metodologia utilizada, pois nem todos os estudos referidos utilizaram testes padronizados,

e adequados à sua amostra (Cuevas et al., 2010). No caso específico do Sniffin Sticks Test

(Hummel et al., 1997), este é apontado como um teste que requer a participação activa do

sujeito, remetendo por isso para um certo grau de subjectividade nos seus resultados. Esta

subjectividade relaciona-se com o tempo que é necessário despender para a sua realização, o

que dificulta a capacidade dos participantes em manterem a atenção focada na prova

(Rombaux, Bertrand, Keller, & Mouraux, 2007).

A inclusão de participantes cegos congénitos e cegos adquiridos no mesmo grupo,

sendo analisados como um todo, conduz também a um possível enviesamento dos resultados,

pois existem evidências de que os sujeitos cegos congénitos obtêm melhores resultados nas

provas de percepção olfactiva por desenvolverem mecanismos compensatórios derivados da

sua perda de visão. No caso dos sujeitos cegos adquiridos possivelmente essa compensação

não será tão acentuada (Diekmann, Walger, & Von Wedel, 1994; Schwenn, Hundorf, Moll,

Pitz, & Mann, 2002; Smith, Doty, Burlingame, & McKeown, 1993; Cuevas et al., 2010).

Uma justificação para o melhor desempenho, por parte dos sujeitos cegos, verificado

em alguns estudos, será o possível desenvolvimento de estratégias de atenção avançadas por

parte dos sujeitos cegos (Murphy, & Cain, 1986; Wakefield, Homewood, & Taylor, 2004;

Rosenbluth, Grossman, & Kaitz, 2009; Ferdenzi et al., 2010). Esta habilidade olfativa mais

“apurada” em pessoas cegas tem sido registada em vários relatos de sujeitos cegos, que

explicam de que forma o olfato está presente em vários contextos do seu quotidiano

(Rosenfeld, 2001, cit in Ferdenzi et al., 2010).

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Limiares olfativos e Adaptação olfativa: Um estudo comparado com sujeitos cegos e sujeitos não-cegos

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Para tornar estas descobertas ainda mais controversas, existe evidência de que ocorrem

alterações adaptativas no cérebro de indivíduos cegos congénitos para o processamento de

informações tácteis e auditivas (Kupers, Beaulieu-Lefebvre, Schneider, Kassuba, Paulson,

Siebner, & Ptito, 2011). No caso do processamento olfactivo, as poucas investigações

realizadas sugerem que o sistema olfativo é bastante plástico, o que favorece alterações

adaptativas no caso da perda da visão (Kupers et al., 2011).

Outra variável em questão em vários estudos é a adaptação olfativa, estudada através

de técnicas psicofísicas, comportamentais e electrofisiológicas (Dalton, 2000). O fenómeno

de adaptação olfactiva consiste na diminuição da sensibilidade e da percepção de intensidade

a determinado odor, após a exposição prolongada a esse mesmo odor (Dalton, 2000). A

adaptação é um processo importante que permite que os indivíduos se adaptem às mudanças.

No caso do olfacto, leva a que os neurónios olfactivos mostrem respostas reduzidas a

determinado odor em poucos segundos (Stortkuhl, Hovemann, & Carlson, 1999).

A adaptação olfativa pode ser medida através da análise dos limiares olfativos antes e

depois da exposição repetida e prolongada ao odor (Pryor, Steinmetz, & Stone, 1970),

dependendo o seu grau da duração da exposição (Dalton, 2000). As mudanças que surgem nos

limiares olfactivos após a aplicação de uma tarefa de adaptação podem ser percebidas poucos

segundos depois (Dalton, 2000).

Tendo em conta os trabalhos referidos, o nosso estudo tem como propósito

fundamental comparar indivíduos cegos e não-cegos no que diz respeito aos limiares

olfactivos e adaptação olfactiva. Para tal utilizou-se uma prova similar à tarefa de detecção

dos limiares olfactivos que compõe o Sniffin Sticks Test (Hummel et al., 1997) e uma tarefa

simples de adaptação olfactiva que consiste na exposição repetida e prolongado a um estímulo

olfactivo.

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Limiares olfativos e Adaptação olfativa: Um estudo comparado com sujeitos cegos e sujeitos não-cegos

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Método

Participantes

Este estudo realizou-se com um total de 60 participantes divididos em dois grupos. O

grupo experimental é composto por trinta sujeitos cegos, com idades compreendidas entre os

18 e os 73 anos de idade (M = 43.37, DP = 18.49). O grupo de comparação é constituído por

trinta sujeitos sem problemas de visão e com idades compreendidas entre os 18 e os 73 anos

de idade (M = 43.10, DP = 18.58). Os participantes de ambos os grupos foram equiparados de

acordo com as variáveis idade e sexo, sendo ambos os grupos compostos por 15 participantes

do sexo feminino e 15 participantes do sexo masculino.

No caso dos participantes do sexo feminino excluíram-se aqueles que se encontravam

no período de ciclo menstrual (Purdon, Klein, & Flor-Henry, 2001; Watanabe, Umezu, &

Kurahashi, 2002) ou que consumiam contraceptivos orais na data de aplicação da prova

(Cuevas et al., 2010) para salvaguardar possíveis interferências destes factores no

desempenho dos participantes (Landis et al., 2004).

Nenhum participante apresentou défice olfactivo ou história clínica de problemas

psiquiátricos ou neurológicos. Todos os sujeitos realizaram a tarefa de deteção dos limiares

olfativos e de adaptação olfactiva, e assinaram o consentimento informado antes de

participarem no estudo.

Tarefas

Detecção dos limiares olfactivos

Para a realização desta tarefa foi necessário reproduzir em laboratório dezasseis

diluições de butanol, como as utilizadas no Sniffin Sticks Test (Hummel et al.,1997) para

medir os limiares olfactivos. O Sniffin Sticks Test é um teste padronizado utilizado para

avaliar o funcionamento olfactivo (Hummel, et al., 2007).

Os limiares olfactivos são medidos através de diversas concentrações de butanol,

recorrendo ao método escada (“staircase”, em inglês), com aumentos e reduções graduais das

concentrações apresentadas.

Durante a aplicação das tarefas o experimentador utilizou sempre luvas de algodão

sem odor. Os participantes não ingeriram líquidos nem alimentos pelo menos uma hora antes

da aplicação das provas, assim como não utilizaram perfume nem aftershave nesse dia.

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Limiares olfativos e Adaptação olfativa: Um estudo comparado com sujeitos cegos e sujeitos não-cegos

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Ao longo da realização das tarefas todos os participantes estiveram de olhos

vendados. A aplicação foi realizada numa única sessão de aproximadamente 40 minutos.

Os participantes foram familiarizados com o odor de butanol de concentração 4%,

sendo esta a mais elevada (tubo número 1). As restantes 16 soluções de butanol, surgem de

diluições de 1:2, sendo a solução mais fraca a número 16 e a mais concentrada a número 1. Os

tubos com as 16 diferentes concentrações de butanol (4%) encontravam-se rolhados e foram

apresentados a cerca de 1 cm das narinas, durante 5 segundos cada, de forma aleatória. Cada

uma das diluições foi agrupada com mais duas soluções sem odor, formando assim conjuntos

de três tubos, designados de tripletos. Os tripletos foram apresentados em intervalos de

aproximadamente 10 segundos.

Na apresentação de cada tripleto os participantes têm de indicar qual o tubo que

contém o odor de butanol. O teste começa com a apresentação da concentração mais baixa de

butanol (tubo número 16 ou 15). Ao longo da apresentação dos tripletos sempre que o

participante errar a resposta é apresentada a concentração seguinte que seja mais elevada que

a que o participante errou. O objetivo é encontrar a diluição que seria o ponto de partida da

aplicação do teste. Este ponto de partida é encontrado quando nesta apresentação de tripletos

o participante responde duas vezes seguidas de forma correta ao mesmo tripleto (mesma

diluição). Os participantes têm de ter dois acertos consecutivos para passarem ao ensaio

seguinte. Em seguida a aplicação é realizada no sentido descendente até o participante falhar,

ou seja, é apresentada a concentração inferior à última em que o participante respondeu

correctamente até não ocorrerem dois acertos consecutivos. Quando o participante falha é

invertida a ordem de aplicação, passando a realizar-se no sentido ascendente até dois acertos

consecutivos. O procedimento resume-se a 7 ensaios, dos quais 4 descendentes e 3

ascendentes, sempre dependente dos erros e acertos do participante. O limiar olfativo foi

calculado através da média dos últimos 4 ensaios, variando a sua pontuação entre 1 e 16

(quanto mais próximo de 16, mais baixo é o limiar, logo maior é a sensibilidade para a

deteção de odores) (Beaulieu-Lefebvre, Schneider, Kupers, & Ptito, 2011; Hummel et

al.,1997; Hummel et al., 2007). Os resultados relativos a esta tarefa são designados como

limiares olfactivos: pré-adaptação, pois a sua medição é realizada antes da inclusão da tarefa

de adaptação olfactiva.

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Detecção da adaptação olfactiva

Após a medição dos limiares olfactivos (pré-adaptação), segue-se a tarefa de detecção

da adaptação olfactiva, ou seja, nova medição dos limiares olfactivos com a inclusão da tarefa

de adaptação olfactiva. A adaptação olfactiva é medida através da exposição repetida e

prolongada à concentração mais elevada de butanol (tubo número 1). O tubo número 1 foi

apresentado durante 30 segundos antes do início da nova medição do limiar olfativo e também

durante 10 segundos entre a apresentação de cada ensaio. O restante procedimento é igual ao

utilizado para medir os limiares olfactivos na tarefa anterior.

Os resultados desta tarefa são nomeados como limiares olfactivos: pós-adaptação, pois

a medição dos limiares é realizada após a inclusão da tarefa de adaptação.

Análise dos dados

A análise estatística dos dados foi realizada com recurso ao programa de tratamento

estatístico de dados SPSS (Statistical Package for the Social Sciences) versão 20.0, com o

qual se efectuaram as análises descritivas e inferenciais. Para este estudo o valor de

significância estatística considerado foi p ≤ .05.

Foi realizada a análise exploratória de dados para cada variável de modo a decidir pela

utilização de testes paramétricos ou não-paramétricos para a sua análise. Desta forma

concluiu-se não estarem cumpridos os pressupostos subjacentes à utilização de testes

paramétricos optando-se pela utilização de testes não-paramétricos.

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Resultados

Análise descritiva

Com base na análise dos dados construiu-se a tabela 1, onde se pode verificar que a

média das pontuações finais obtidas por ambos os grupos (cegos e não-cegos) não sofre

grandes variações quando comparada com o primeiro ensaio da medição dos limiares

olfactivos. Esta situação ocorre também na medição dos limiares após a inclusão da tarefa de

adaptação olfactiva (pós-adaptação).

Tabela 1 - Pontuações médias obtidas em ambos os grupos na medição dos limiares olfactivos: pré-

adaptação e medição dos limiares olfactivos: pós-adaptação.

Cegos

(n=30)

Média (DP)

Não-Cegos

(n=30)

Média (DP)

Total

Pré-adaptação

Ponto de Partida 7.00 (2.78) 7.80 (2.55) 7.40 (2.68)

Pré-adaptação

Pontuação final 7.68 (2.26) 8.43 (2.03) 8.05 (2.16)

Pós-adaptação

Ponto de Partida 4.67 (2.35) 5.73 (2.70) 5.20 (2.57)

Pós-adaptação

Pontuação final 5.03 (1.42) 5.88 (1.89) 5.45 (1.72)

A pontuação obtida pelos sujeitos cegos na tarefa de medição dos limiares olfactivos

varia entre 4 e 14 e a pontuação dos sujeitos não-cegos varia entre 5 e 12, o que nos mostra

uma maior dispersão dos valores obtidos no grupo de não-cegos (Figura 1 (A)). Na medição

dos limiares olfactivos: pós-adaptação, as pontuações diminuíram passando a concentrar-se

grande parte dos sujeitos cegos entre o intervalo de pontuações 4 e 7 e os sujeitos não-cegos

entre o intervalo de pontuações 3 e 9 (Figura 1 (B)).

Pelo que se verifica na Figura 1, os sujeitos cegos conseguiram sentir concentrações

mais reduzidas do que as detectadas pelos sujeitos não-cegos, na medição dos limiares

olfactivos: pré-adaptação, em contrapartida alguns dos sujeitos cegos também tiveram

necessidade de concentrações mais elevadas para conseguirem detectar o odor apresentado.

Outro ponto a salientar é o número significativo de sujeitos cegos que se encontra na

pontuação 7 de limiar olfactivo, existindo também no segundo momento de avaliação

(momento pós-adaptação) um aglomerado de sujeitos na pontuação 5, o que nos indica que

grande parte dos sujeitos cegos se situa na média das pontuações obtidas para todo o grupo

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Limiares olfativos e Adaptação olfativa: Um estudo comparado com sujeitos cegos e sujeitos não-cegos

14

em ambas as tarefas. No caso dos sujeitos não-cegos, a sua distribuição em ambas as tarefas é

mais uniforme pelas várias pontuações, não se verificando um número tão elevado de sujeitos

com uma mesma pontuação.

Analisando os dois gráficos apresentados na Figura 1, percebe-se que ocorreu uma

diminuição da sensibilidade olfactiva em ambos os grupos após a inclusão da tarefa de

adaptação, aumentando assim a concentração do limiar olfactivo de cada sujeito.

Figura 1 - Limiares de detecção olfactiva em sujeitos cegos e não-cegos. As barras representam a

distribuição das pontuações obtidas pelos diferentes sujeitos. (A) número de sujeitos distribuídos

pelas diferentes pontuações obtidas na medição dos limiares olfactivos: pré-adaptação (pontuações

elevadas correspondem a um baixo limiar); (B) número de sujeitos distribuídos pelas diferentes

pontuações obtidas na medição dos limiares olfactivos: pós-adaptação.

0

2

4

6

8

10

12

14

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16

Fre

qu

ênci

a d

e su

jeit

os

Limiares Olfactivos

Detecção olfactiva em sujeitos cegos e não cegos: Pré-

adaptação

Cegos

Não-Cegos

(A)

0

2

4

6

8

10

12

14

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16

Fre

qu

ênci

a d

e su

jeit

os

Limiares Olfactivos

Detecção olfactiva em sujeitos cegos e não-cegos: Pós-

adaptação

Cegos

Não-Cegos

(B)

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Limiares olfativos e Adaptação olfativa: Um estudo comparado com sujeitos cegos e sujeitos não-cegos

15

Análise inferencial

O teste Mann-Whitney (Tabela 2) mostra que não existem diferenças significativas

entre os sujeitos cegos e os sujeitos não-cegos ao nível dos limiares olfactivos: pré-adaptação

(U = 351.50, p = .14).

Tabela 2 - Apresentação dos resultados relativos ao teste Mann-Whitney relativamente aos limiares

olfactivos: pré-adaptação.

Cegos

(n=30)

Ordem média

Não-Cegos

(n=30)

Ordem média

U

Limiares olfactivos:

pré-adaptação 27.22 33.78 351.50

Relativamente aos limiares olfactivos: pós-adaptação, o teste Mann-Whitney mostra

existirem diferenças marginalmente significativas entre o grupo de sujeitos cegos e o grupo de

sujeitos não-cegos (U = 315.50, p =.05); (Tabela 3).

Tabela 3 - Apresentação dos resultados relativos ao teste Mann-Whitney relativamente aos limiares

olfactivos: pós-adaptação.

Cegos

(n=30)

Ordem média

Não-Cegos

(n=30)

Ordem média

U

Limiares olfactivos:

pós-adaptação 26.02 34.98 315.50

Como o grupo experimental é composto por sujeitos cegos congénitos e adquiridos, realizou-

se o teste Mann-Whitney para verificar possíveis diferenças entre os dois grupos de sujeitos

cegos. Os resultados da análise realizada indicaram não existirem diferenças significativas

entre sujeitos cegos congénitos e sujeitos cegos adquiridos ao nível dos limiares olfactivos:

pré-adaptação e limiares olfactivos: pós-adaptação (U = 101.00, p = .77; U = 91.50, p = .48,

respectivamente); (Tabela 4).

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Limiares olfativos e Adaptação olfativa: Um estudo comparado com sujeitos cegos e sujeitos não-cegos

16

Tabela 4 - Apresentação dos resultados relativos ao teste Mann-Whitney relativamente aos limiares

olfactivos: pré-adaptação e pós-adaptação em cegos congénitos e cegos adquiridos.

Cegos congénitos

(n=12)

Ordem média

Cegos adquiridos

(n=18)

Ordem média

U

Limiares olfactivos:

pré-adaptação 14.92 15.89 101.00

Limiares olfactivos:

pós-adaptação 14.13 16.42 91.50

Por último, os participantes foram analisados como um todo através do teste

Wilcoxon, para verificar possíveis diferenças significativas entre as pontuações obtidas na

medição dos limiares olfactivos: pré-adaptação e as pontuações obtidas na medição dos

limiares olfactivos: pós-adaptação. Verificou-se a existência de diferenças significativas entre

os dois momentos de medição dos limiares olfactivos, sendo que os sujeitos obtêm

pontuações inferiores nos limiares olfactivos pós-adaptação comparativamente com as

pontuações obtidas nos limiares olfactivos: pré-adaptação (z = -6.69, p = .00).

Através da Figura 2 verifica-se que ambos os grupos apresentam adaptação

semelhante ao estímulo olfactivo, obtendo os sujeitos cegos pontuações mais baixas, logo

maior adaptação.

Figura 2 - Medição dos limiares olfactivos antes e após a tarefa de adaptação. As linhas representam

os valores da detecção dos limiares olfactivos antes e após a tarefa de adaptação para os sujeitos

não-cegos e cegos, respectivamente.

0

2

4

6

8

10

12

14

16

Pré Pós

Lim

iare

s O

lfa

ctiv

os

(0-1

6)

Tarefas

Adaptação olfactiva em sujeitos cegos e não-cegos

Cegos

Não-Cegos

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Limiares olfativos e Adaptação olfativa: Um estudo comparado com sujeitos cegos e sujeitos não-cegos

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Discussão

O presente estudo investigou os limiares olfactivos, de sujeitos cegos e não-cegos,

antes e depois da inclusão de uma tarefa de adaptação olfactiva. Através da análise descritiva

dos dados verificou-se que as pontuações médias obtidas pelos sujeitos na medição dos

limiares olfactivos pré e pós-adaptação não divergiram muito dos valores do primeiro ensaio

de cada uma das tarefas, o que indica que a maioria dos sujeitos não teve grandes oscilações

ao longo dos vários ensaios de cada tarefa.

A análise descritiva possibilitou também perceber a distribuição dos vários sujeitos

pelas diferentes pontuações obtidas, verificando-se que dois sujeitos cegos conseguiram

detectar o odor de butanol em concentrações muito baixas (concentração 13 e 14), na tarefa de

medição dos limiares olfactivos: pré-adaptação. O que demonstra grande sensibilidade aos

estímulos olfactivos, apesar de no geral a amostra de participantes cegos não obter melhores

resultados que os participantes não-cegos.

Outro aspecto a considerar é a diminuição do valor dos limiares olfactivos após a

inclusão de uma tarefa de adaptação olfactiva, o que acabou por acontecer, diminuindo assim

a sensibilidade olfactiva de ambos os grupos (cegos e não-cegos) na medição dos limiares

olfactivos: pós-adaptação. Esta diminuição leva necessariamente a que o valor dos limiares

olfactivos diminuía, ou seja, que os sujeitos passem a detectar somente concentrações

superiores às concentrações que conseguiam detectar antes da implementação da tarefa de

adaptação olfactiva, o que demonstra adaptação.

Com base na análise estatística inferencial realizada concluiu-se não existirem

diferenças entre sujeitos cegos e não-cegos ao nível dos limiares olfactivos: pré-adaptação.

Estes resultados encontram-se em consonância com os resultados obtidos em outros estudos

com objectivos idênticos, que também utilizaram testes não padronizados e não encontraram

diferenças ao nível dos limiares olfactivos entre sujeitos cegos e não-cegos (Boccuzzi, 1962,

cit in Smith et al., 1993; Griesbach, 1899, cit in Smith et al., 1993). Por outro lado os

resultados do presente estudo diferem dos de vários outros estudos que indicam diferenças ao

nível dos limiares olfactivos entre sujeitos cegos e não-cegos (Murphy, & Cain, 1986;

Rosenbluth, Grossman, & Kaitz, 2000; Wakefield, Homewood, &Taylor, 2004; Cuevas et al.,

2010).

Estas diferenças de resultados podem dever-se ao tamanho da amostra, ao perfil dos

participantes ou à metodologia aplicada (Cuevas et al., 2010), pois em todos os estudos que

avaliam os limiares olfactivos são utilizadas amostras pequenas, muitas vezes só compostas

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Limiares olfativos e Adaptação olfativa: Um estudo comparado com sujeitos cegos e sujeitos não-cegos

18

por indivíduos do sexo masculino. Relativamente à metodologia aplicada, nos diversos

estudos, remete-se para a utilização de provas olfactivas não padronizadas e de difícil

aplicação tendo em conta o tempo que é necessário assim como a dificuldade em controlar a

interferência de variáveis parasitas como ruídos.

Por outro lado quando comparados os valores médios dos limiares olfactivos: pós-

adaptação, verificam-se diferenças entre os dois grupos de participantes, obtendo os sujeitos

cegos resultados inferiores, portanto maior adaptação ao estímulo olfactivo apresentado. Estes

resultados evidenciam a ocorrência de adaptação em ambos os grupos de participantes.

As diferenças verificam-se também na comparação dos limiares olfactivos: pré-

adaptação e pós-adaptação na amostra como um todo, sendo os resultados, da medição dos

limiares olfactivos: pós-adaptação, inferiores aos obtidos na pré-adaptação. Este resultado

indica que todos os participantes apresentam uma normal adaptação ao estímulo olfactivo,

portanto menos sensibilidade ao estímulo apresentado (neste caso, tubo número 1) após a sua

exposição repetida e prolongada (Tavassoli, & Baron-Cohen, 2012). Sendo este o primeiro

estudo a avaliar a adaptação olfactiva em sujeitos cegos, não existem estudos de referência

para esta variável. Mesmo assim é possível concluir que a tarefa de adaptação provocou o

efeito esperado, ocorrendo assim adaptação olfactiva ao odor de butanol.

Sendo o grupo experimental composto por participantes cegos congénitos e cegos

adquiridos é importante considerar que vários autores encontram resultados diferentes entre

os dois tipos de cegueira (Burton, & Mc Laren, 2008; Goldreich, & Kanics, 2003; Gougoux et

al., 2004; Grant, Thiagarajah, & Sathian, 2000; Voss et al., 2004). Encontra-se associado aos

indivíduos com cegueira congénita o desenvolvimento de capacidades sensoriais

compensatórias, pois o facto da sua perda de visão ser de nascença ou ter ocorrido

precocemente não lhes proporcionou a oportunidade de conhecer o mundo através da visão.

Esta capacidade de compensar a perda da visão com o olfacto não se verifica neste estudo,

pois não se obteve diferenças entre o grupo de cegos congénitos e de cegos adquiridos em

relação aos limiares olfactivos: pré-adaptação, nem pós-adaptação.

O presente estudo apresenta algumas limitações que podem ter condicionado os

resultados. Uma destas limitações refere-se à utilização de uma prova de medição dos limiares

olfactivos elaborada em laboratório à semelhança do Sniffin Sticks Test (Hummel et al.,

1997), mas que não se encontra padronizada. Desta limitação deriva outra, que consiste na

utilização da mesma prova de medição dos limiares olfactivos em ambas as tarefas, portanto

mede as duas variáveis em análise (limiares olfactivos: pré-adaptação e limiares olfactivos:

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Limiares olfativos e Adaptação olfativa: Um estudo comparado com sujeitos cegos e sujeitos não-cegos

19

pós-adaptação). O ideal seria a aplicação de diferentes provas olfactivas que permitissem uma

percepção mais alargada do funcionamento olfactivo de sujeitos cegos, sendo assim possível

verificar de uma forma mais aprofundada a possível existência de diferenças entre cegos e

não-cegos ao nível dos limiares olfactivos que outros estudos referenciam (Murphy, & Cain,

1986; Rosenbluth, Grossman, & Kaitz, 2000; Wakefield, Homewood, &Taylor, 2004; Cuevas

et al., 2010).

Outra limitação prende-se com a tarefa de adaptação olfactiva, que consiste numa

tarefa simples. Em investigações futuras deveriam ser introduzidas tarefas de adaptação

olfactiva mais complexas e com diversidade de odores.

Por outro lado, uma alternativa à falta de recursos para a aplicação de várias provas,

seria aplicar novamente a prova utilizada mas desta vez recorrendo ao método dos limites

para verificar os valores dos limiares antes e após a inclusão da tarefa de adaptação. Isto

permitiria analisar a existência de maiores variações nos valores dos vários ensaios, e assim

verificar novamente possíveis diferenças entre os sujeitos cegos e os sujeitos não-cegos.

Embora as pessoas cegas recorram principalmente à audição e ao tacto para

recolherem informações do ambiente que as rodeia, ao longo da aplicação da prova todas elas

referiram o olfacto como um sentido particularmente importante na sua vivência diária,

permitindo-lhes reconhecer pessoas, objectos e alimentos (Hatwell, 2003). Esta necessidade

de recorrer ao sentido olfactivo para perceber o meio que os rodeia, poderá levar os

indivíduos cegos ao desenvolvimento de uma maior sensibilidade para os estímulos olfactivos

(Cuevas et al., 2010). Esta hipótese não foi porém confirmada neste estudo, eventualmente

devido às limitações referidas. Vários autores indicam que a detecção de odores está

fortemente ligada à atenção, o que leva a que os indivíduos cegos gastem parte da sua atenção

com o sentido olfactivo, possivelmente muito mais que os sujeitos não-cegos, o que nos leva a

reflectir sobre a possibilidade da evidência que aponta para um sentido olfactivo mais

desenvolvido por parte dos sujeitos cegos não passar de uma crença.

Numa situação de avaliação, a atenção de ambos os participantes é dirigida para o

estímulo olfactivo, obrigando-os a prestarem atenção, enquanto que diariamente os sujeitos

não-cegos não necessitam, por exemplo, de identificar a localização de uma padaria pelo

odor, já para os sujeitos cegos este é um dos recursos ao qual recorrem (Murphy, & Cain,

1986; Wakefield, Homewood, & Taylor, 2004; Rosenbluth, Grossman, & Kaitz, 2000;

Ferdenzi et al., 2010).

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Limiares olfativos e Adaptação olfativa: Um estudo comparado com sujeitos cegos e sujeitos não-cegos

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As provas que avaliam a perceção olfactiva implicam a participação activa do sujeito,

o que é difícil de controlar, e que pode influenciar de forma determinante o seu desempenho

na tarefa, sendo complicado para os participantes manterem o mesmo nível de atenção ao

longo de toda a prova (Rombaux, Bertrand, Keller, & Mouraux, 2007). No caso específico do

nosso estudo vários participantes verbalizaram ao longo da aplicação das tarefas de medição

dos limiares olfactivos: pré e pós adaptação, que se sentiam cansados e com dificuldade em

manter o mesmo nível de atenção do momento inicial, o que de certa forma teve interferência

nos resultados obtidos por ambos os grupos.

Em resumo, os resultados apontam para uma performance idêntica na detecção de

odores em participantes cegos e participantes não-cegos. Relativamente à adaptação olfactiva

encontram-se diferenças entre os dois grupos, obtendo os indivíduos não-cegos pontuações

superiores, ou seja, menor adaptação que os participantes cegos.

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Limiares olfativos e Adaptação olfativa: Um estudo comparado com sujeitos cegos e sujeitos não-cegos

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