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Jornal Brasileiro de Ciência Animal – JBCA, v.3, n.6, suplemento, 2010. Anais do IX Congresso Brasileiro de Cirurgia e Anestesiologia Veterinária Congresso Brasileiro de Cirurgia e Anestesiologia Veterinária Colégio Brasileiro de Cirurgia e Anestesiologia Veterinária Jornal Brasileiro de Ciência Animal - JBCA Búzios-RJ, 28-31 de outubro de 2010

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Anais do IX Congresso Brasileiro de

Cirurgia e Anestesiologia Veterinária

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Colégio Brasileiro de Cirurgia e Anestesiologia Veterinária

Jornal Brasileiro de Ciência Animal - JBCA

Búzios-RJ, 28-31 de outubro de 2010

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SUMÁRIO

COMPLEMENTAR – SEÇÃO 1 – RESUMOS EXPANDINDOS.......................................................................... 220

116) UTILIZAÇÃO DE PINO INTRAMEDULAR E CERCLAGEM COM FIO DE NYLON EM FRATURA FEMURAL DE

SAGUI-DE-TUFO-BRANCO (Callithrix jacchus, LINNAEUS 1758). ............................................................................................. 221

117) AGENESIA UNILATERAL DE RIM, CORNO UTERINO E OVÁRIO EM CADELA – RELATO DE CASO..................... 227

118) O USO DA VIDEOTORACOSCOPIA COMO AUXILIAR NO DIAGNÓSTICO E NO TRATAMENTO DE ÉGUA COM

PLEURITE............................................................................................................................................................................................ 232

119) OVÁRIO-HISTERECTOMIA VIA NOTES HÍBRIDA EM CADELAS - RELATO DE 22 CASOS...................................... 236

120) OVÁRIO-HISTERECTOMIA VIA LESS UMBILICAL COM TRIPORTTM EM CADELAS - RELATO DE DOIS CASOS

............................................................................................................................................................................................................... 239

121) DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL DE AFECÇÕES DAS GLÂNDULAS SALIVARES EM CÃES E GATOS........................242

122) PROLAPSO RETAL EM ÈGUA PÓS PARTO: RELATO DE CASO. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .246

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COMPLEMENTAR

SEÇÃO 1 – RESUMOS

EXPANDIDOS

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UTILIZAÇÃO DE PINO INTRAMEDULAR E CERCLAGEM COM FIO DE NYLON EM

FRATURA FEMURAL DE SAGUI-DE-TUFO-BRANCO (Callithrix jacchus, LINNAEUS

1758).

QUEIROZ, F.F.1; RAMOS, R.M.2; PETRUCCI, M.P.3; PONTES, L.A.E.2; CAMPOS, A.S.4

1- Mestrando em Ciência Animal pela Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro, Médico Veterinário. Rua

Roberto Cruz, nº 46, Horto, Campos dos Goytacazes – RJ. CEP: 28015-430. [email protected]

2- Doutorando em Ciência Animal pela Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro.

3- Médica Veterinária autônoma, Especialista em Animais Selvagens.

4- Médica Veterinária autônoma, Especialista em Diagnósticos por Imagens

Resumo:

O sagui-de-tufo-branco é um primata do novo mundo. São animais de pequeno porte com

peso entre 350 e 450 gramas, pelagem estriada na orelhas e mancha branca na testa. Habita a

caatinga e o cerrado, em formações arbóreas baixas e também se adaptam muito bem em áreas

urbanas. São animais diurnos, agitados e curiosos, podendo se tornar agressivos caso se sintam

ameaçados. Travessos e ágeis, movem-se a saltos bruscos, emitindo guinchos e assobios que são

ouvidos a longa distância. Esta espécie está entre as dez espécies de mamíferos mais apreendidas

segundo dados do IBAMA (2002). Foi encaminhado um sagui-do-tufo-branco a UENF com relato

de briga com outros animais da mesma espécie, resultando em falta de apoio no membro posterior

esquerdo. No exame radiológico foi confirmada a existência de uma fratura completa diafisária

transversal, sendo encaminhado ao setor de cirurgia. A indução anestésica foi feita com quetamina

associada ao com midazolam por via intramuscular e manutenção com isofluorano. Para a

osteossintese optou-se pela utilização do pino intramedular e cerclagem. Os músculos bícpes

femural e vasto lateral foram afastados e o acesso ao fêmur realizado por dissecação romba. O

pino de Steimman foi introduzido de forma retrograda, e foi feita a cerclagem com fio de nylon 2-

0. No pós operatório foi administrado enrofloxacino e meloxicam por via subcutânea. Após 45

dias de pós-operatório o animal já utilizava o membro de forma satisfatória e na radiografia já era

possível observar a ótima cicatrazação da fratura.

Palavras-chave / key words / palabras clave: Pino intramedular, Sagui, Fratura / intramedullary

pin, marmoset, fracture / pin intramedular, sagui, fractura

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Introdução:

O sagui-de-tufo-branco é um primata das Américas, que habita originalmente a caatinga e

o cerrado do nordeste, em formações arbóreas baixas e também se adaptam muito bem em áreas

urbanas, mas devido ao tráfico e as apreensões dos órgãos competentes, hoje pode ser encontrado

na região sudeste sendo o sagui mais conhecido e comum. São animais de pequeno porte com peso

entre 350 e 450 gramas, tendo coloração geral do corpo acinzentado-claro com reflexos castanhos

e pretos. Os Callithrix jacchus são primatas da família Callithrichidae, medem cerca de 30cm de

corpo e mais 17cm de cauda, que não é preênsil, a cauda tem a função de garantir o equilíbrio do

animal. Sua gestação é de 140 a 148 dias, nascendo 1 a 3 filhotes/parto. Vivem aproximadamente

10 anos na natureza e 16 anos em cativeiro. Alimentam-se de frutos, insetos, ovos de aves,

aranhas, pequenos répteis, brotos de folhas e exsudatos (goma) de árvores (Hershkovitz, 1977).

São sociais, vivendo em grupos familiares formados por 3 a 13 indivíduos e se adaptam muito

bem em áreas urbanas. Existe um casal dominante no grupo com apenas uma fêmea reprodutora.

Esta fêmea inibe as demais em idade reprodutiva, que ocorre a partir dos 18 meses de vida, através

de comportamentos agressivos e liberação de hormônios ou sinais químicos (Stevenson e Rylands,

1988). Dessa maneira agressiva de hierarquia, podem ocorrer brigas e lesões graves em alguns

animais do bando. São animais diurno, agitados e curiosos, podendo se tornar agressivos caso se

sintam ameaçados. Travessos e ágeis, movem-se a saltos bruscos, emitindo guinchos e assobios

que são ouvidos a longa distância (Alonso, 1984; Bartecki e Heymann, 1990). Estudos

prospectivos e retrospectivos de causas de morte de primatas neotropicias apontaram os processos

traumáticos como uma importante e frequente causa de morte nessas espécies (Sá,1999). Os

traumas culminam, geralmente, em fraturas, que devem ser corrigidas utilizando técnicas

cirúrgicas que causem redução anatômica dos fragmentos da fratura, fazendo uma fixação estável

e preservando o aporte sanguíneo dos fragmentos, além de ser indolor e que leve uma ativação

precoce do membro (Piermattei, Flo e DeCamp, 2009). São várias as formas de fixação óssea,

incluindo a fixação externa e a interna com a utilização de placas e pinos de Steiman no interior da

medula óssea (Fossum, 2008). A fixação intramedular com pinos para o tratamento de fraturas em

animais de pequeno porte teve início na década de 1940. Apesar de suas limitações, a colocação

de pinos intramedular permanece como a forma mais comum de fixação interna na cirurgia

ortopédica veterinária (Piermattei, Flo e DeCamp, 2009). Essa técnica não anula todas as forças

envolvidas na fratura tendo a necessecidade de associar com o uso de cerclagem para anular,

principalmente, a força de rotação (Piermattei, Flo e DeCamp, 2009; Fossum, 2008).

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Relato de Caso:

Foi encaminhado um sagui-do-tufo-branco para o Hospital Veterinário da Universidade

Estadual do Norte Fluminense com relato de briga com outros animais da mesma espécie,

resultando na falta de apoio no membro posterior direito. Ao exame clínico foi observado que o

membro posterior direito encontrava-se edemaciado, com mobilidade excessiva e crepitação. No

exame radiológico foi confirmada a existência de uma fratura completa diafisária transversal no

fêmur direito (figura 1), sendo encaminhado para a cirurgia. No ato cirúrgico foi utilizada a

indução anestésica com quetamina (10 mg . kg -1) associada ao midazolam (0,5 mg . kg -1) por via

intramuscular e manutenção com isofluorano. Para a cirurgia optou-se pela utilização do pino

intramedular e cerclagem, que se trata de um método de fixação interno, sendo uma vantagem em

primatas, pois estes apresentam manipulação excessiva da ferida cirúrgica no período pós-

operatório. Além disso, diminui a frequência e o tempo de tratamento da feridas, quando

comparados aos métodos de fixação externa, já que os curativos são feitos até a cicatrização da

pele, o que diminui o estresse causado pela manipulação diária do animal. O acesso cirúrgico foi

realizado através da face lateral do membro posterior esquerdo com uma incisão craniolateral ao

eixo longitudinal do fêmur fraturado. Os músculos bícpes femural e vasto lateral foram afastados e

o acesso ao fêmur realizado por dissecação romba. Após a exposição do foco de fratura, um pino

de Steimman foi introduzido de forma retrograda (figura 2). A cerclagem foi feita com fio de

nylon 2-0 e além de contornar do osso, também passou através das duas corticais, proximal e

distal, formando a figura de um “x”. Realizou-se a sutura de pele com nylon 3-0 com pontos

simples interrompidos. No pós-operatório foi administrado enrofloxacino (5 mg . kg -1) e

meloxicam (0,2 mg . kg -1) por via subcutânea. Com 15 dias de pós-operatório já se notava a

utilização do membro operado (figura 3) e após 45 dias de pós-operatório o animal já utilizava o

membro de forma satisfatória. Na radiografia já era possível observar uma ótima cicatrização

óssea.

Discussão:

Como observaram Piermattei, Flo e DeCamp (2009) e Fossum (2009), somente a

introdução do pino intramedular não seria suficiente para a neutralização de todas as forças no

foco da fratura, sendo necessária a utilização de outra técnica para anular a força de rotação -

cerclagem. Partindo do princípio da fixação de fratura, segundo Piermattei, Flo e DeCamp

(2009), a fixação realizada no sagui mostrou-se bem estável, mantendo o suprimento sanguíneo

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local e fazendo com que o animal voltasse a utilizar o membro após 15 dias de realizado o

procedimento cirúrgico.

Pôde-se observar que a técnica utilizada foi muito bem sucedida e sugere-se sua utilização

em fraturas semelhantes em pequenos primatas.

Optou-se pelo uso da cerclagem confeccionada com fio de nylon, pois este material

diminuiu a lesão ao tecido muscular, propiciando uma fixação rígida, neutralizando a força de

rotação.

Conclusão:

Após as observações pós-operatória do animal, pôde-se concluir que o tratamento foi

efetivo, pois propiciou um retorno funcional precoce do membro operado, sem interferir na

amplitude dos movimentos, sendo este devolvido ao seu grupo no cativeiro.

Referências Bibliográficas:

HERSHKOVITZ, P. Living New World monkeys (Platyrhini), with an introduction to primates.

V.1. Chicago University Press, Chicago, USA,.1117 p. 1977.

STEVENSON, M. F.; RYLANDS, A. B. The marmosets, genus Callithrix. Ecology and Behavior

of Neotropical Primates, V.2 p.131-222. 1988.

ALONSO, C. Observações de campo sobre o cuidado à prole e o desenvolvimento dos filhotes de

Callithrix jacchus jacchus. In: Mello, T. (ed.). A primatologia no Brasil, Sociedade Brasileira de

Primatologia, Brasília, Brasil, p.67-78. 1984.

BARTECKI, U.; HEYMANN, E. W. Field observations on scent-marking behavior in saddle-back

tamarins, Saguinus fuscicollis (Callitrichidae, Primates). Journal of Zoology, V.220 p.87-99. 1990.

SÁ, L.R.M. Determinação e caracterização de enfermidades que acometem Calitriquídeos e

Cebídeos (Estudo multidisciplinar). Dissertação (Mestrado em Patologia Experimental e

Comparada) – Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, Universidade de São Paulo, São

Paulo, 174 p., 1999.

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PIERMATTEI, D. L.; FLO, G. L.; DECAMP, C. E. Ortopedia e tratamento de fraturas de

pequenos animais. 4º ed. São Paulo: Manole. p. 111 – 134, 2009

FOSSUM, T. W. Cirurgia de pequenos animais. 3º ed. Rio de Janeiro: Elsevier, p. 159 – 175,

2008.

Ilustrações:

Fig. 1: Imagens radiográficas do membro fraturado do sagui-do-tufo-branco.

Fig. 2: Imagens radiográficas do membro fraturado do sagui-do-tufo-branco com a redução feita a partir de pino intramedular e cerclagem com fio de nylon.

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Fig. 3: Animal com 15 dias de pós-operatório, já utilizando o membro operado marcado com a seta vermelha.

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AGENESIA UNILATERAL DE RIM, CORNO UTERINO E OVÁRIO EM CADELA – RELATO DE CASO

SILVA, D.M.1; BATISTA, F.G.1; OLIVEIRA, D.R.2; SCHNEIDER, T. J.2; LEMOS, R.S.3;

GUÉRIOS, S.D.4

1Acadêmica do curso de Medicina Veterinária, Universidade Federal do Paraná, Curitiba. 2Médico(a) Veterinário(a), Residente da Clínica Cirúrgica de Pequenos Animais, Hospital Veterinário da Universidade Federal do

Paraná, Curitiba. 3Médica Veterinária, Mestranda, Curso de Pós-graduação em Ciência Veterinária - Universidade Federal do Paraná, Curitiba. 4Professora Doutora do Departamento de Medicina Veterinária, Universidade Federal do Paraná, Curitiba.

Contato: (41)3350-5731, [email protected]. Departamento de Medicina Veterinária. Universidade Federal do Paraná, Curitiba.

RESUMO

A agenesia de corno uterino é rara em gatas e cadelas e pode estar acompanhada de

agenesia renal unilateral, porém devido à origem embrionária diferente, o ovário ipsilateral pode

estar presente. Relata-se o caso de uma cadela sem raça definida de 1 ano de idade que foi

encaminhada para ovariohisterectomia (OH) eletiva. O animal apresentava cios regulares e era

nulípara. Após abordagem da cavidade abdominal, constatou-se ausência do corno uterino, ovário

e rim direito. O rim, ovário e corno uterino esquerdo não apresentavam alterações macroscópicas

aparentes. Durante a realização de OH, as alterações congênitas de útero e ovário devem ser

consideradas, apesar de existirem poucos relatos desta agenesia em cães.

Palavras-chave: aplasia, útero unicorno, rim. ABSTRACT

Agenesis of the uterine horn is rare in cats and dogs, and can be accompanied by unilateral

renal agenesis. Ipsilateral ovary is usually present due to different embryonic origin. We report a

case of a 1-year-old mixed breed female dog which was presented for elective ovariohysterectomy

(OH). Patient has showed regular estrus cicles and has had no pregnancy until present date.

Abdominal cavity access showed absence of right uterine horn, ovary and kidney. Left kidney,

ovary and uterine horn were macroscopically normal. Congenital abnormality of the uterus and

ovaries should be considered when performing OH, even if there are a few literature reports in

dogs.

Key-words: aplasia, uterine horn, kidney.

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INTRODUÇÃO

A agenesia, ou aplasia de corno uterino, é uma alteração da formação fetal que resulta no

não desenvolvimento, desenvolvimento incompleto ou ainda da não fusão dos ductos

paramesonéfricos, ou de Muller. Essas condições são possivelmente hereditárias. A lesão pode ser

total, quando falta um corno, o que caracteriza a condição conhecida como útero unicorno, ou

parcial, quando falta um segmento de um corno1. Durante o desenvolvimento embrionário, os

ductos paramesonéfricos, que formarão os cornos uterinos, migram caudalmente ao longo da

parede dos ductos mesonéfricos, que formarão os rins, e presume-se que essa migração ocorra

devido a alguma influência indutiva dessas últimas estruturas2. A agenesia de corno uterino pode

estar acompanhada pela agenesia renal unilateral3,4, possivelmente devido a relação da origem

embrionária dessas estruturas. As anomalias congênitas do útero são raras em gatas e cadelas3,4. A

incidência de útero unicorno é de 1:5.000 a 1:10.000 necropsias. O útero unicórnio complica a

ováriohisterectomia de rotina, porque a ausência de um corno uterino implica em alteração da

anatomia cirúrgica3.

Este relato de caso tem como objetivo expor a ocorrência de agenesia uterina, ovariana e

renal em cadela, verificada inesperadamente durante procedimento cirúrgico, contribuindo para

estudos referentes às anomalias genitourinárias em cães.

RELATO DO CASO

Uma cadela de 1 ano de idade, sem raça definida, com peso de 4,8 kg, foi trazida ao

Hospital Veterinário da Universidade Federal do Paraná-Curitiba, HV-UFPR, para realização de

OH eletiva, por decisão do proprietário. O animal apresentava cios regulares e era nulípara. No

exame físico nenhuma alteração foi verificada. Como exames pré-operatório realizou-se

hemograma, dosagem de proteínas plasmáticas totais, contagem de plaquetas, bioquímica hepática

e renal, com resultados dentro dos parâmetros normais para a espécie.

A paciente recebeu como medicação pré anestésica, acepromazina (0,1mg/kg, IM)

associada à morfina (0,5mg/kg, IM). A indução anestésica foi feita com propofol (4mg/kg, IV). O

animal foi submetido ao bloqueio anestésico regional, através de epidural, com lidocaína e

morfina. A manutenção anestésica foi realizada com isofluorano em oxigênio 100% com circuito

anestésico aberto. Como terapia antiinflamatória e antibiótica profilática, utilizou-se cetoprofeno

(2mg/kg) e enrofloxacina (5mg/kg), respectivamente.

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A preparação cirúrgica do animal incluiu tricotomia ventro-abdominal e anti-sepsia com

álcool 70% e PVPI. O acesso cirúrgico foi realizado através de incisão retro-umbilical. Após

acesso da cavidade abdominal, verificou-se ausência total de corno uterino, ovário e rim direito. O

rim, ovário e corno uterino esquerdo não apresentavam alterações macroscópicas. Foi realizada

ligadura do pedículo ovariano esquerdo e ligadura dos vasos e corpo uterino, próximo a cérvix.

Para as ligaduras, utilizou-se fio absorvível sintético poliglactina 910, número 2-0. Após a exérese

do útero e ovário esquerdo (Figura 1), realizou-se síntese da parede abdominal com sutura padrão

Sultan e fio absorvível sintético poliglactina 910, 2-0, síntese de subcutâneo com sutura padrão

contínua simples e fio poliglactina 910, 3-0 e síntese de pele com sutura padrão interrompida

simples e fio mononáilon, 3-0.

Após a recuperação anestésica, o animal foi encaminhado ao serviço de diagnóstico por

imagem do HV-UFPR para realização de ultrassonografia abdominal. A imagem

ultrassonográfica do rim esquerdo se encontrava dentro dos padrões da normalidade para a

espécie.

DISCUSSÃO Acidentalmente detectam-se anomalias congênitas ovarianas ou uterinas durante a prática de

ovariohisterectomia eletiva ou durante laparotomia exploratória em pacientes com alterações

reprodutivas3. No presente relato, a paciente não apresentava nenhuma alteração clínica que

indicasse infertilidade e nunca havia gestado por conveniência do proprietário. No entanto, deve-

se considerar a agenesia congênita cornual como causa de infertilidade em cadelas, apesar da

observação de ciclos estrais regulares5 .

Em cadelas portadoras de agenesia de corno uterino deve-se ter cuidado na identificação do

ovário ipsilateral que pode estar presente, devido a sua origem embrionária diferente daquela do

corno uterino. Nestes casos, a identificação do rim facilita a localização do ovário7. Quando há a

agenesia renal concomitante com a agenesia do corno uterino deve-se ter certeza da inexistência

do ovário ipsilateral para evitar complicações pós-cirúrgicas decorrentes a ovário remanescente.

No caso do presente relato foi observada agenesia renal e do ovário ipsilateral, confirmada com

minucioso exame da cavidade abdominal no transcirúrgico.

A ocorrência de agenesia de corno uterino acompanhada de agenesia renal unilateral leva

frequentemente à hipertrofia compensatória do rim remanescente, apesar deste manter

funcionamento satisfatório durante toda vida do animal 2,3,6. Durante a abordagem cirúrgica não foi

constatada alteração macroscópica no rim remanescente, bem como a imagem ultrassonográfica

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não evidenciou alterações córtico-medulares renais, indicando bom funcionamento do rim

esquerdo mesmo sem sinais de parênquima hipertrofiado.

CONCLUSÃO

As alterações congênitas uterinas, ovarianas e renais são pouco frequentes e relatadas em cães.

Ao se constatar inesperadamente agenesia de corno uterino deve-se realizar minuciosa inspeção da

cavidade abdominal para descartar a presença do ovário ipsilateral, mesmo nos casos onde ocorre

agenesia renal unilateral.

REFERÊNCIAS

1. Nascimento EF, Santos RL. Patologia da Reprodução dos Animais Domésticos (1997). Rio de

Janeiro: Guanabara Koogan, 105p.

2. Jones TC, Hunt RD, King, NW. Patologia Veterinária (2000). 6ed. São Paulo: Manole, 1415p.

3. Stone EA, Cantrel CG, Sharp NJH. Ovário e útero. In: Slater D (1998). Manual de cirurgia de

pequenos animais. 2ed. São Paulo: Manole, 1540-1558.

4. Wykes PM, Olson PN. Moléstias do Útero. In: Bojrab MJ (1996). Mecanismos da Moléstia na

Cirurgia dos Pequenos Animais. 2ed. São Paulo: Manole, 665.

5. Güvenç, K et al. (2006). A Cocker Spaniel Bitch with uterus unicornis (unilateral cornual

agenesis). J. Fac. Vet. Med. Istanbul Univ, 32: 69-73.

6. Coelho H. E (2002). Patologia Veterinária. 1ed. São Paulo: Manole, 234p.

7. Pinto Filho STL, et al. (2001). Agenesia unilateral de corno uterino em cadela – Relato de caso.

Arq. Ciên. Vet. Zool. Unipar, 4: 77-79.

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ILUSTRAÇÃO

Figura 1: Apresentação do ovário (OE) e corno uterino esquerdo (CE) e corpo do útero

(CP) após exérese cirúrgica. Nota-se a ausência da bifurcação uterina, corno uterino e

ovário direito.

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O USO DA VIDEOTORACOSCOPIA COMO AUXILIAR NO DIAGNÓSTICO E NO

TRATAMENTO DE ÉGUA COM PLEURITE.

THE USE OF VIDEOTHORACOSCOPY AS AUXILIARY IN THE DIAGNOSTIC AND

TREATMENT OF MARE PLEURITIS.

BUENO, F.U.1; BECK, C.A.C.1; ROCHA, A.L.A.1; D’AVILA, A.E.R.1; MERINI, L.P. 1;

PICCOLI, C.1; MENJURA, H.L.V.2.

1 Faculdade de Veterinária da Universidade Federal do Rio Grande do Sul – Hospital de Clínicas Veterinárias (HCV).

Av. Bento Gonçalves, 9090 Bairro Agronomia Porto Alegre-RS CEP: 91540-000

[email protected] 2 Universidad de los Llanos (UNILLANOS).

A vídeotoracoscopia tem sido usada há muito tempo como recurso diagnóstico e no tratamento

dos casos de trauma torácico nos humanos. Os primeiros relatos datam de 19921. Em animais

ainda são escassos os estudos tanto experimentais como relatos de casos, estando esses mais

voltados para cães, suínos e equinos, não caracterizando ainda este acesso como uma rotina em

clinicas e hospitais veterinários 2-6. Este relato tem por objetivo mostrar um caso clínico onde

foram realizadas duas vídeotoracoscopias em equino com trauma torácico. Uma égua, SRD, com

dez anos de idade, foi trazida para atendimento no Hospital de Clínicas Veterinárias da

Universidade Federal do Rio Grande do Sul (HCV – UFRGS). Na noite anterior, a carroça que o

animal puxava havia sofrido colisão com um caminhão. Durante o primeiro atendimento,

realizado por veterinário particular, foram constatados fratura exposta de três costelas e ruptura da

musculatura intercostal, o que permitia a visualização do pulmão, no tórax esquerdo. A égua

estava cianótica e havia perdido muito sangue. Foi feita tentativa de alinhamento das costelas,

redução do espaço muscular com fio catgut e sutura de pele com pontos isolados simples,

utilizando fio mononáilon. Foi aplicado fenilbutazona, soro antitetânico e uma dose de uma

associação de penicilina procaína, penicilina potássica e sulfato de estreptomicina. No HCV-

UFRGS, no exame clínico, o animal apresentou frequência cardíaca de 60 batimentos por minuto

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e respiratória de 36 respirações por minuto, sendo que os outros parâmetros apresentavam-se

dentro da normalidade. No lado esquerdo do tórax, era possível auscultar um aumento de ruído

respiratório dorsal, diminuição dos sons respiratórios ventrais e som de roçar pleural. A região de

sutura mostrava-se edemaciada e logo acima desta havia um abaulamento da região costal. O

animal foi medicado com fenilbutazona (4,4 mg/kg, BID, IV, 7 dias), penicilina G potássica

(40.000 UI/kg, BID, IV, 19 dias) e a linha de sutura foi limpa com solução salina estéril, duas

vezes por dia. Foi coletado sangue para hemograma e fibrinogênio. O hematócrito estava em 28%,

os eritrócitos 5,37 x 106/µL, a hemoglobina 8,4 g/dL e o fibrinogênio 2 g/L. Outras avaliações

hematológicas foram realizadas durante todo o período de internação, para monitoramento da

paciente. Após uma semana de internação, foi realizada a primeira vídeotoracoscopia, para

avaliação do hemitórax esquerdo da égua. O equino foi submetido a um jejum hídrico de 6 horas e

alimentar de 12hs. O animal foi contido em estação em um tronco, sendo na sequência sedado

com xilazina (1 mg/kg, IV). Após bloqueio local, uma incisão de pele de dois centímetros foi

realizada no décimo segundo espaço intercostal, em seu aspecto mais dorsal. O tecido subcutâneo

foi igualmente incisado e a musculatura intercostal foi divulsionada. A pleura foi aberta com o

auxílio de uma pinça hemostática. Na sequência, um trocarter de 11 mm de diâmetro (Ø) foi

inserido no interior da cavidade torácica, por meio da abertura previamente estabelecida. Pelo

interior da bainha do trocarte, foi introduzido um endoscópio de 10 mm Ø, com ângulo de visão de

0° e com 30 cm de comprimento, previamente adaptado a uma microcâmera. A imagem gerada foi

visualizada em um monitor de tela plana de 21 polegadas. Foi possível visualizar na parede

torácica interna do lado esquerdo, correspondendo à área do trauma torácico externo, uma lesão

hemorrágica, evidenciando presença de fibrina aderida à parede. Não foram identificadas outras

alterações significativas na área torácica cujo campo visual foi acessível pelo endoscópio

utilizado. Ao final do procedimento, a pressão negativa do tórax foi restabelecida, através do uso

de um equipo estéril, acoplado a um aspirador cirúrgico. O equipo foi retirado antes do último

ponto de obliteração da parede torácica. O espaço subcutâneo foi reduzido por meio da aplicação

de duas suturas isoladas simples, com poliglactina 910, n° 2-0. A pele foi suturada com pontos

simples isolados utilizando-se fio mononáilon n° 0. A partir do décimo sexto dia de internação, a

paciente começou a apresentar dispnéia. Na ausculta pulmonar foi observada crepitação na região

dorsal e abafamento da ausculta ventral. Havia, também, abafamento da ausculta cardíaca. Um

exame ultrasonográfico foi realizado e mostrou líquido na cavidade torácica esquerda, na região

ventral e a presença de fibrina. O tórax foi drenado com um cateter número 14, guiado pelo

ultrasom, e o líquido, que era turvo e de coloração vermelha, foi coletado para cultura

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bacteriológica, antibiograma e análise bioquímica. Na bacteriologia foi encontrado o crescimento

de uma bactéria oportunista e gram negativa, a Enterobacter cloacae. E passou-se a utilizar como

antibioticoterapia o metronidazol (15 mg/kg, QID, PO, 40 dias) e a enrofloxacina 10% (2,5 mg/kg,

BID, IM, 32 dias). No vigésimo primeiro dia de internação, decidiu-se fazer uma nova

vídeotoracoscopia para a colocação de dreno intratorácico. O animal em jejum foi contido em um

tronco móvel. O protocolo de sedação e anestesia local foi o mesmo utilizado anteriormente. A

pele do sexto espaço intercostal foi aberta, logo baixo da região lesionada. O tecido conjuntivo

divulsionado e a musculatura aberta. A pleura foi incisada e um trocarter de 10 mm Ø, com ângulo

de visão de 0° e com 30 cm de comprimento foi inserido no local. Desta vez, foi possível observar

grande quantidade de líquido, de coloração amarelada, acumulado no hemitórax esquerdo. Este

líquido foi drenado com a ajuda de um equipo, conectado a um aspirador. A lavagem no tórax foi

feita com dez litros de solução salina com iodopovidine tópico diluído, através de uma punção,

com catéter 14, na região dorsal torácica. O dreno de borracha foi colocado e fixado no local, por

meio de sutura de sapatilha chinesa, utilizando fio mononáilon nº0. A pressão torácica negativa foi

restabelecida, através de um cateter, inserido dorsalmente no tórax, no décimo quinto espaço

intercostal, e acoplado a um equipo, conectado a um aspirador. No pós-operatório, o líquido

torácico foi drenado diariamente e a cavidade torácica esquerda lavada com solução salina estéril

(20 L) e, no final do processo, o dreno foi fechado e a gentamicina (8,8 mg/kg, SID, IT, 5 dias),

diluída em 500 mL de solução salina estéril, instilada no local. O dreno foi mantido por uma

semana e depois retirado. No quadragésimo quarto dia de internação, a gentamicina parenteral foi

instituída (4 mg/kg, BID, IV, 21 dias). O animal, após tratamento intensivo com antibióticos,

antiinflamatórios, fluidoterapia e monitoramento clínico e bioquímico, teve seu processo agudo

estabilizado, permanecendo com abafamento de sons pulmonares no lado esquerdo do tórax. A

égua hoje se encontra bem e está solta no campo, não tendo apresentado mais nenhuma crise

respiratória. A cirurgia torácica videoassistida é indicada nos casos clínicos de pleurite e também

para a colocação de dreno torácico em equinos 4,6. A anestesia local utilizada associada a um alfa-

2-agonista foi satisfatória para o procedimento. O espaço intercostal utilizado foi o décimo

segundo, sendo esse um dos pontos de melhor visualização da cavidade torácica 5. Com a técnica

foi possível avaliar como estava o interior do tórax do paciente, visto que ele chegou ao hospital já

suturado e não tínhamos idéia real da extensão do trauma torácico. O endoscópio rígido, com

ângulo de 0°, utilizado não permitiu que houvesse uma avaliação ampla da cavidade, entretanto foi

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possível examinar a parede torácica esquerda, na altura da lesão externa. A colocação do dreno

auxiliou na limpeza do tórax, porém não foi possível drenar parte da fibrina, provavelmente

devido a sua grande quantidade formada no tórax e ao calibre do dreno. A vídeotoracoscopia

demonstrou ser de grande ajuda, tanto para o diagnostico da patologia respiratória, quanto como

auxiliar no tratamento do paciente, devendo ser utilizada nos casos de trauma torácico em equinos,

sempre que estiver disponível, já que é um procedimento simples, rápido e menos invasivo em

comparação à toracotomia.

Palavras-chave: videotoracoscopia, equino, pleurite.

Key words: videothoracoscopy, equine, pleuritis.

REFERÊNCIAS:

1 Netto VD, Saad R, Rasslan S (2001). Videotoracoscopia no Trauma de Tórax. Revista do Colégio Brasileiro de Cirurgiões, 28. Disponível em: http://www.cbc.org.br/upload/pdf/revista/01022001%20-%2006.pdf > Acesso em: 2 maio de 2010. 2 Beck CAC et al. (2004). Toracoscopia nas Hérnias Diafragmáticas de Cães. Ciência Rural, 34. Disponível em: < http://www.scielo.br/pdf/cr/v34n6/a29v34n6.pdf>. Acesso em: 10 julho de 2010. 3 Oliveira HA (2009). Estudo da Regeneração Simpática Pós Simpaticotomia Seletiva Experimental (Ramocotomia). Tese de Doutorado. Faculdade de Medicina, Universidade de São Paulo. São Paulo, 113 p.

4 Vachon AM, Fischer A (1998). Thoracoscopy in the horse: diagnostic and therapeutic indications in 28 cases. Equine Veterinary Journal, 30: 467-475.

5 Peroni JF et al. (2001). Equine Thoracoscopy: Normal Anatomy and Surgical Techinique. Equine Veterinary Journal, 33: 231-237. 6 Zoppa ALV (2001). Toracoscopia em Equinos: Técnica e Emprego com Método de Avaliação da Cavidade Pleural. Ciência Rural, 31: 825-830.

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OVÁRIO-HISTERECTOMIA VIA NOTES HÍBRIDA EM CADELAS - RELATO DE 22

CASOS

OVARIOHYSTERECTOMY IN DOGS BY HYBRID NOTES – TWENTY-TWO CASES

REPORT

BRUN, M.V.1; SILVA, M.A.M.2; ATAÍDE, M.W.3; COLOMÉ, L.M.4; FERANTI, J.S.P.5;

SANTOS, F.R.6 ; OLIVEIRA, M.T.5

1 Professor da Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária (FAMV) da Universidade de Passo Fundo (UPF). Professor do

Mestrado em Medicina de Pequenos Animais da Universidade de Franca (UNIFRAN). [email protected] 2 Doutorando da UNESP- Jabuticabal. 3 Mestranda em Ciências Veterinárias. 4 Professor do Curso de Medicina Veterinária da FAMV/UPF. 5 Acadêmico do Curso de Medicina Veterinária da FAMV/UPF. 6 Médica veterinária do Hospital Veterinário da FAMV/UPF.

Introdução

Desde sua concepção e desenvolvimento inicial em 20071,2, a ovário-histerectomia via

Natural Transluminal Endoscopic Surgery (NOTES) híbrida têm se apresentado como técnica

segura e adequada para caninos de diferentes conformações anatômicas. Atualmente, vêm sendo

utilizada em animais hígidos e com determinadas doenças associadas ao trato reprodutivo, tais

como hiperplasia e prolapso vaginais. No presente relato, são trazidos 22 casos encaminhados ao

Hospital Veterinário da Universidade de Passo Fundo, nos quais esse novo acesso foi empregado.

Material e métodos

Previamente a operação, procedia-se a sondagem vesical após anti-sepsia da cavidade

vaginal com PVP-I a 0,1% (10mL/kg). Com os animais posicionados e em decúbito dorsal,

promovia-se a introdução do primeiro portal através da cicatriz umbilical pela técnica aberta,

sendo utilizadas para esse fim, cânulas de 4mm (n= 1) ou 5mm (n=21). A cavidade foi insuflada

com CO2 medicinal (1 a 2L/min.) até se obter a pressão de 10 a 12 mmHg. Sob visão direta, foi

introduzido uma cânula de 5mm (15 pacientes) ou 10 mm (sete cães) através da vagina, sendo, por

esse portal, posicionados os instrumentos operatórios para hemostasia e diérese. Os pacientes

foram então colocados em decúbito lateral direito, a partir da fixação conjunta dos membros

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anteriores ao lado da mesa3, expondo-se assim o ovário esquerdo. Procedia-se a ruptura do

ligamento suspensor com pinça de apreensão ou de Maryland. O ovário era então fixado

temporariamente à parede muscular com sutura transparietal aplicada externamente à cavidade.

Promovia-se dissecção entre o mesométrio e mesovário, facilitando a hemostasia dos vasos

ovarianos com a aplicação de clipes de titânio (9/21) ou eletrocirurgia bipolar (12/21). Após a

secção do mesovário e vasos ovarianos com tesoura de Metzenbaum, o paciente era reposicionado

para a exposição do ovário direito. As manobras de hemostasia e diérese realizadas nos ligamentos

e vasos ovarianos esquerdos foram repetidas do lado esquerdo. Os ovários e os cornos uterinos

eram tracionados através da ferida vaginal e expostos da cavidade. A hemostasia dos vasos

uterinos era obtida externamente ao abdome por duas ligaduras transfixantes com poliglactina 910,

aplicadas a partir da técnica das três pinças. O coto vaginal remanescente, ora invertido, era então

reposicionado com o dígito do cirurgião na cavidade pélvica, e a cavidade abdominal reavaliada

para a certificação da ausência de hemorragia. Com o abdome desinsuflado, a ferida abdominal

era ocluida com poliglactina 910 e náilon monofilamentar.

Resultados e discussão

Para a execução das cirurgias, foi necessário utilizar 20,78±15,98L de CO2 (n=13). Os

procedimentos cirúrgicos duraram 86,09±36,75min., com poucas intercorrências transoperatórias,

sendo estas observadas apenas no período considerado dentro da curva de aprendizado. Constatou-

se uma laceração superficial de baço; uma ocorrência de enfisema subcutâneo; um caso de

sangramento de retorno associado ao ovário esquerdo; e uma hemorragia associada à gordura

pélvica. Todos os pacientes evoluíram adequadamente, sem a necessidade de hemoterapia ou

reintervenção cirúrgica. A utilização de único portal abdominal demonstrou ser apropriada, pois

permitiu a adequada escolha do ponto de introdução do acesso vaginal, evitando-se lesões

vesicais, intestinais ou ureterais nessa etapa. Além disso, o campo de visão obtido pelo

posicionamento do endoscópio rígido na parede muscular parece ser superior ao possibilitado

quando esse instrumento é colocado pela vagina. Durante o decorrer do aprimoramento técnico,

constatou-se que o melhor posicionamento para a introdução do portal vaginal foi o ventro-lateral

junto à cérvix, o qual permitia ampla visão do ponto de punção e acompanhamento visual dessa

etapa, além de possibilitar a perfuração da vagina com menores riscos de lesões iatrogênicas. De

outra forma, a partir dessa posição, foi possível aplicar as três pinças caudalmente à ferida de

acesso na maioria dos animais, condição que possibilitou completa oclusão vaginal e a ausência de

hemorragias vaginais no pós-operatório. Nos pacientes de maior porte e naqueles com maior

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quantidade de gordura abdominal, foi necessário dilatar a ferida vaginal por divulsão ou por

incisão com a tesoura de Metzenbaum para a exteriorização de cornos do útero e ovários, haja

vista suas dimensões e a presença de considerável quantidade de tecido adiposo nos ligamentos

uterinos e ovarianos. Constatou-se que a exteriorização do trato reprodutivo para a etapa

convencional do procedimento se configurou como a de maior dificuldade técnica, principalmente

naqueles animais com maior deposição de tecido adiposo no mesométrio e no mesovário.

Verificou-se ainda que a passagem de um portal de 10mm facilitou a exteriorização dos ovários e

cornos uterinos através da vagina, possibilitando que um dos ovários fosse posicionado no interior

da cânula anteriormente ao seu tracionamento através do acesso vaginal. Conclusão - Os

resultados obtidos nesses pacientes permitem afirmar que a extirpação do útero e ovários por

NOTES híbrida é segura e adequada para cadelas, podendo ser incluída como alternativa à OSH

por procedimentos convencionais, videolaparoscópicos ou vídeo-assistidos.

Palavras-chave: Cirurgia endoscópica, videocirurgia, caninos.

Key Words: Endoscopic surgery, videosurgery, canine.

Referencias bibliográficas

1 Brun MV (2007). Ovário-histerectomia em cadela por NOTES. �Disponível em:

<http://www.youtube.com/watch?v=aG8N1bHq2gU>. Acesso em: �28 set. 2007

2 Brun MV (2009) et al. NOTES híbrida �na realização de ovariosalpingohisterectomia em 12

cadelas. In: IX Congresso Brasileiro de Videocirurgia, 2009, Belo Horizonte. Brazilian

�Journal of Videoendoscopic Surgery. Rio de Janeiro : Prensa, 2009. (2):70-71.

3 Silva MAM (2008). Avaliação laparoscópica das aderências intraperitoneais pós-cirúrgicas em

cadelas: emprego de duas doses de solução de azul de metileno a 1% na profilaxia. Dissertação

de Mestrado. Escola de Veterinária, Universidade Federal de Goiás. Goiânia, 74p.

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OVÁRIO-HISTERECTOMIA VIA LESS UMBILICAL COM TRIPORTTM EM CADELAS

- RELATO DE DOIS CASOS

OVARIOHYSTERECTOMY BY UMBILICAL LESS WITH TRIPORTTM – TWO CASES

REPORT

BRUN, M.V.1; OLIVEIRA, M.T.2; ATAÍDE, M.W.3; COLOMÉ, L.M.4; FERANTI, J.S.P.5;

SANTOS, F.R.5; GUIZZO JÚNIOR, N.2

1 Professor da Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária (FAMV) da Universidade de Passo Fundo (UPF). Professor do

Mestrado em Medicina de Pequenos Animais da Universidade de Franca (UNIFRAN). Hospital Veterinário da Universidade de

Passo Fundo. Bairro São José, BR 285 – Km 171, caixa postal 611, CEP 99052900, Passo Fundo, RS. [email protected] 2 Médico Veterinário do Curso de Medicina Veterinária da FAMV/UPF. 3 Mestrando do Programa de Pós-graduação em Medicina Veterinária de UFRGS. 4 Professor do Curso de Medicina Veterinária da FAMV/UPF. 5 Acadêmico(a) do Curso de Medicina Veterinária da FAMV/UPF.

Introdução

A utilização de LESS (laparoendoscopic single-site surgery) vêm continuamente se

desenvolvendo em diferentes especialidades médicas. Nesse conjunto de procedimentos, pode-se

se lançar mão do posicionamento de portais convencionais através de ferida cutânea única de

acesso1, ou se utilizar diferentes dispositivos comercialmente disponíveis, dentre os quais destaca-

se o TriPortTM (Advanced Surgicial Concepts, Baton Rouge, LA). Cirurgias de complexas estão

sendo executadas com este equipamento na Medicina, tais como a nefrectomia radical e a

nefrectomia parcial2,3. Contudo, na Medicina Veterinária, seu uso ainda é muito incipiente. O

presente trabalho descreve o emprego do referido dispositivo em duas cadelas com alterações

uterinas e com hérnias umbilicais na realização de ovariosalpingohisterectomia (OSH).

Metodologia:

Caso 1 - Foi encaminhada para OSH uma cadela da raça poodle, com três anos e 4,8kg, hígida aos

exames clínicos e complementares, para a realização de OSH eletiva. A paciente foi posicionada

em decúbito dorsal, realizando-se incisão sobre a hérnia umbilical e remoção do falciforme que ali

se encontrava. O defeito da parede abdominal foi ampliado, obtendo-se uma ferida de

aproximadamente 2 cm, através da qual foi posicionado o TriPortTM. O corno uterino esquerdo foi

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Anais do IX Congresso Brasileiro de Cirurgia e Anestesiologia Veterinária

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então fixado à parede abdominal ventral com sutura transparietal, e os vasos uterinos e o corpo do

útero submetidos à hemostasia por eletrocirurgia bipolar. Após a secção do corpo e vasos uterinos,

a paciente foi colocada em decúbito obliquo, facilitando a exposição do ovário direito.

Posteriormente à ruptura do ligamento suspensor e fixação do corno uterino direito à parede

muscular com sutura transparietal, procedeu-se a hemostasia do mesovário com pinça bipolar,

seguida da secção dos vasos ovarianos com tesoura de Metzenbaum. Os tecidos extirpados foram

removidos da cavidade em conjunto com o dispositivo. Realizou-se a laparorrafia e a aproximação

do tecido subcutâneo com poliglactina 910 2-0 em padrão de Sultan, enquanto a pele foi ocluida

em padrão interrompido simples, com náilon monofilamentar 5-0.

Caso 2 – Uma cadela da raça Pastor Alemão, com 29,5kg e 18 meses de idade, foi atendida com

suspeita de piometra, apresentando na avaliação hematológica hipoalbuminemia. Não foram

constatadas alterações nos parâmetros bioquímicos, contudo ao exame ultrasonográfico, verificou-

se a presença de conteúdo uterino, compatível com piometra. Optando-se pela OSH via LESS, o

paciente foi posicionado de em decúbito dorsal. A operação foi realizada de forma similar à

descrita no caso 1, contudo foram aplicados clipes hem-o-lok nos vasos uterinos, método de

hemostasia também utilizado no mesovário direito. Já nos vasos ovarianos do lado esquerdo,

aplicou-se sutura extracorpórea com poliglactina 910 1. Considerando a presença de conteúdo no

interior do órgão, procurou-se realizar a oclusão e secção do corpo do útero de forma vídeo-

assistida, expondo o trato reprodutivo a partir da remoção do dispositivo. Foi então procedida a

sutura transfixante no corpo do útero pelo método convencional, procurando aplicá-la no ponto

mais caudal que a exposição permitia. Contudo, ao se reposicionar o endoscópio e reinsuflar a

cavidade, verificou-se a permanência de parte do corpo uterino, optando-se então pala aplicação

de ligadura extracorpórea com poliglactina 910 1 próximo à cérvix, seguida da remoção do coto

residual. A parede muscular foi ocluida em padrão de Sultan com mesmo fio, e a pele em padrão

interrompido simples com náilon monofilamentar 4-0.

Resultados e discussão

As cirurgias foram completadas em 81 e 190 min., respectivamente, sem a ocorrência de

complicações trans-operatórias. Na avaliação macroscópica do útero de ambos os pacientes,

constatou-se aumento de volume e a presença de líquido. Nos dois casos se verificou que a o

defeito herniário permitiria o posicionamento do dispositivo através do abdome, condição a qual

motivou se empregar essa nova tecnologia num procedimento até então não descrito. A sequência

técnica de ambas operações seguiu os passos previamente realizados para a OSH com três portais

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e para a OSH vídeo-assistida com dois portais4, adaptando-se as manobras à condição de mínima

triangulação providenciada pelo equipamento. Segundo o conhecimento dos autores, esses são os

primeiros dois casos nos quais esse dispositivo foi utilizado a partir de hérnias previamente

existentes, possibilitando a realização de ovário-histerectomias terapêuticas em cadelas, com

mínima lesão muscular de acesso. Conclusão: Pode-se realizar de forma eficiente e segura OSH

terapêutica em cadelas por LESS utilizando o TriPortTM. Em casos de hérnia umbilical em cães, o

dispositivo pode ser posicionado através da ampliação do defeito herniário, permitindo mínima

lesão de acesso.

Palavras-chave: Cirurgia endoscópica, videocirurgia, caninos

Key Words: Endoscopic surgery, videosurgery, canine

Referencias bibliográficas

1 Müller EM et al (2010).Training for laparoendoscopic single-site surgery (LESS). International

Journal of Surgery, 8: 64-68.

2 Kaouk JH, Goel RK (2009). Single-port laparoscopic and robotic partial nephrectomye. Eur

Urol, 55(5):1163-9.

3 Stolzenburg JU; et al (2009). Technique of laparoscopic-endoscopic single-site surgery radical

nephrectomy. Eur Urol, 56(4):644-50.

4 Brun MV et al (2008). Ovariosalpingohisterectomia Eletiva Vídeo-Assistida em Cadelas –

Relato de Três Casos In: VIII Congresso Brasileiro de Cirurgia e Anestesiologia Veterinária,

2008, Recife. Ciência Veterinária nos Trópicos. 11:101.

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DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL DE AFECÇÕES DAS GLÂNDULAS SALIVARES EM

CÃES E GATOS

DIFFERENTIAL DIAGNOSIS OF SALIVARY GLAND DISORDERS IN DOGS AND

CATS

PIGNONE, V.N. 1; CONTESINI, E.A. 1; PINTO, L.A.T. 1, OLIVEIRA, R. 1

1Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Av. Bento Gonçalves, nº 9090 – Bairro: Agronomia - Porto Alegre - RS- Brasil /

[email protected]

Introdução

Os cães e gatos apresentam quatro glândulas salivares maiores (parótida, zigomática,

mandibular e sublingual) e menores espalhadas pela submucosa oral, entretanto os felinos

possuem também a glândula salivar molar1,2,3. As doenças que acometem as glândulas salivares de

cães e gatos podem ter origem inflamatória, neoplásica e traumática, contudo o diagnóstico

diferencial torna-se fundamental para direcionar seu tratamento1. O presente trabalho tem como

objetivo relatar quatro casos de afecções de glândulas salivares descrevendo quais as condutas

clínicas e diagnósticas adotadas em cada caso.

Metodologia

Foram atendidos no Hospital de Clínicas Veterinárias da Universidade Federal do Rio

Grande do Sul (HCV-UFRGS) quatro pacientes apresentando aumento de volume de glândula

salivar mandibular ou sublingual no primeiro semestre de 2010. Destes quatro animais, dois eram

da espécie felina (Persa e sem raça definida) e dois da espécie canina (Dachshund e Poodle).

O primeiro caso atendido foi de um felino, macho, 3 anos, castrado, da raça persa que tinha

disfagia sem perda do apetite e sem histórico de trauma. Ao exame clínico observou-se um

aumento de volume sublingual no lado esquerdo de consistência macia, que segundo o

proprietário quando terminava terapia com corticóide havia recidiva do aumento de volume. As

frequências cardíaca e pulmonar estavam dentro da normalidade, assim como temperatura retal,

linfonodos e mucosa oral. Como exame complementar diagnóstico realizou-se BAAF do aumento

de volume que tinha consistência viscosa compatível com saliva de coloração avermelhada. Além

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do exame citológico, que confirmou presença de saliva e células inflamatória foi realizada

radiografia do crânio látero-lateral e dorsoventral que apresentou apenas aumento de volume dos

tecidos moles. O paciente foi encaminhado para realização da sialoadecnectomia das glândulas

salivares mandibular e sublingual esquerda, chegando-se ao diagnóstico de sialocele inflamatória.

O outro felino sem raça definida, fêmea, 4 anos, castrada, tinha um aumento de volume

sublingual bilateral agudo há uma semana. Ao exame clínico o animal estava com dispnéia e o

proprietário informou que não conseguia alimentar-se, porém tinha apetite. Como exame

diagnóstico foi realizado punção da região sublingual aumentada, que tinha consistência firme,

contudo continuava hiperplásico e a seringa sem conteúdo. Foi indicada a realização de

sialoadenectomia das glândulas salivares afetas. Todavia foi necessário fazer traqueostomia para

intubação traqueal e manutenção anestésica com isoflurano ao efeito devido ao grande edema

sublingual. A abordagem cirúrgica iniciou-se ventralmente ao ramo horizontal mandibular

esquerdo seguido de divulsão e dissecação da glândula afetada. Porém, no trans-operatório foi

possível diagnosticar que tratava-se de uma neoplasia extensa que comunicava as glândulas

sublingual e mandibular em direção ventral com envolvimento de toda faringe com compressão da

traquéia, sendo incompatível com a vida.

O terceiro relato de caso que foi atendido era um canino da raça poodle, macho, não

castrado, 10 anos, que apresentava aumento de volume na região mandibular ventral, de

consistência macia, dias após retornar do banho da pet shop. O canino continuava se alimentando

bem, mas estava um pouco prostrado. Foi indicado realização de BAAF, onde,

macroscopicamente, apresentava coloração vermelho escuro e consistência viscosa e,

microscopicamente, muitas células inflamatórias. A radiografia do crânio dorsoventral revelou que

a glândula afetada era a direita, que à palpação ficou indefinida. O paciente foi encaminhado para

a cirurgia para realização de sialoadenectomia da glândula mandibular direita, que apesar de

apresentar coloração escura, assim como a saliva, chegou-se ao diagnóstico de sialocele de origem

traumática.

O quarto relato de caso tratava-se de um canino, macho, dachshund, 12 anos, não castrado,

que apresentava leve aumento de volume na região do ângulo da mandíbula direita com dor à

palpação. O animal alimentava-se normalmente, e o proprietário observava que ao se alimentar-se,

a região aumentava um pouco. Foi indicada a realização de radiografia do crânio látero-lateral,

que evidenciou múltiplos sialólitos dentro da glândula salivar mandibular direita. Foi indicado

tratamento cirúrgico, porém seu proprietário optou em não realizar.

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Resultados

Os quatro casos clínicos apresentados de afecções das glândulas salivares tiveram seus

diagnósticos definidos por meio de exames complementares, apesar das etiologias distintas como

sialocele inflamatória, neoplásica e sialolitíase. O exame citológico (BAAF) foi fundamental para

orientar a terapia e o exame radiográfico na localização da glândula afetada (direita ou esquerda),

assim como descartar ou confirmar presença de sialólito, quando sua composição reproduzir

imagem radiopaca. De acordo com os relatos anteriormente descritos dois casos apresentaram

sucesso no tratamento, porém o felino com neoplasia da glândula salivar foi eutanasiado no trans-

operatório e um dos caninos não realizou tratamento cirúrgico.

Discussão

Os exames complementares indicados nos casos relatados foram realizados de acordo com

a literatura, sendo cada conduta terapêutica estabelecida conforme cada caso1,3. As neoplasias de

glândulas salivares representam 0,17% e acometem pacientes mais idosos e geralmente a glândula

é a mandibular ou parótida 4,5. Entretanto, o felino que apresentou neoplasia tinha apenas 4 anos.

A radiografia do crânio em casos de sialolitíase foi importante, além de definir o lado

afetado, conforme o caso do felino persa e dos dois caninos. Apesar de etiologias distintas, a base

do tratamento definitivo é cirúrgico1,2,3,4,5.

Conclusão

O diagnóstico diferencial das doenças que acometem as glândulas salivares de cães e gatos

deve ser sempre realizado de acordo com os achados clínicos e de anamnese, procurando histórico

de trauma, aparecimento dos sinais clínicos, não descartando a hipótese de neoplasia, mesmo em

animal jovem.

Palavras-chave: neoplasia, sialocele, sialolitíase

Key words: neoplasia, sialocele, sialolithiasis

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PROLAPSO RETAL EM ÉGUA PÓS PARTO: RELATO DE CASO

RECTAL PROLAPSE IN MARE AFTER CHILDBIRTH: CASE REPORT

CHEQUE¹, T. C., LIRA2, C.C.S., FREITAS2, M.L.B., NETO2, H.L.S.V., Silva2, D.D., MENEZES2, T.M., SANTA ROSA3, M.G.

¹ Discente de Medicina Veterinária da UFRPE, E-mail: [email protected] ² Discentes de Medicina Veterinária da UFRPE; 3 Professora Adjunta do Departamento de Medicina Veterinária da UFRPE.

O prolapso retal é a inversão da mucosa retal e suas estruturas através do esfíncter do ânus.

É uma patologia que ocorre em qualquer espécie, sendo pouco frequente nos equinos tendo maior

frequência em fêmeas. Em equinos a causa do prolapso retal está associada a tenesmo secundário,

e uma variedade de condições: parto, distocia, prolapso uterino, diarréia, constipação entre outros.

É classificado em: tipo 1- Exposição da mucosa retal e submucosa; tipo 2- Exibição da espessura

total da parede do reto e ampola retal; tipo 3-Exibição da espessura total da parede do reto mais

invasão do cólon menor terminal e o tipo 4- Exibição da espessura total da parede do reto mais

intussuscepção do reto peritoneal. Uma égua Mangalarga, com 09 anos de idade, 465 kg, oriunda

de uma propriedade do Município de Lagoa do Carro - PE, com onze meses de gestação,

desenvolveu prolapso retal após o parto. Segundo relatos o animal foi vermifugado, vacinado e

encontrava-se normal. Alimentava-se com capim Tifton, Pangolão, concentrado, sal mineral e

água. Durante a madrugada a égua pariu um potro, com defeito congênito no maxilar. Ao

amanhecer foi solicitada a presença do veterinário devido à formação de um “caroço” no ânus da

égua. O animal apresentava andar relutante, tremores no corpo e sudorese intensa. Diagnosticado

prolapso de reto tipo 2, o animal foi sedado com acepromazima e realizada epidural alta com

lidocaína a 2% e epinefrina a 2%. O reto foi lavado com água mineral para retirada da debris e a

redução do prolapso foi conduzida após lubrificação da mucosa com Nitrofurazona e em seguida

feita a inversão do reto. Durante este procedimento o animal não manifestou nenhuma resistência

à inversão. A sutura de bolsa de fumo não foi realizada por que o esfíncter anal apresentava

contração. A paciente foi medicada com flunixin meglumina, Gentamicina e Buscopam, além de

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soro anti-tetânico por via intramuscular. Foi recomendada alimentação líquida por 48 horas,

adicionando a esta o óleo mineral. As complicações comuns após o prolapso de reto são recidiva,

estenose retal e obstipação. O diagnóstico correto e o tipo de prolapso têm grande importância

para a sobrevivência do animal. Neste caso o animal não respondeu satisfatoriamente ao

tratamento, vindo a óbito nas primeiras 24 horas pós-procedimentos. A não realização da

necropsia impediu uma avaliação mais detalhada da morte do animal e do insucesso do

tratamento.

Palavras-chave: Equino, Parição, Inversão. Key-word:Equine,Prolapse, Childbirth