Analise Arqueologica de Estruturas Em Alvenaria.dissertacao

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO DE FILOSOFIA E CINCIAS HUMANAS PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM ARQUEOLOGIA

ANLISE DE ESTRUTURAS EM ALVENARIA Modelo para anlise e identificao dos processos construtivos e das etapas de execuo de uma edificao de valor histrico/cultural

MANUELA XAVIER GOMES DE MATOS

RECIFE 2009 1

Manuela Xavier Gomes de Matos

ANLISE DE ESTRUTURAS EM ALVENARIA Modelo para anlise e identificao dos processos construtivos e das etapas de execuo de uma edificao de valor histrico/cultural

Dissertao apresentada ao Programa de Ps-Graduao em Arqueologia da UFPE, Departamento de Histria, como requisito parcial para obteno do grau de Mestre em Arqueologia. Orientador: Prof. Dr. Paulo Martin Souto Maior Co-orientadora: Prof. Dr. Lucila Ester Prado Borges

Recife 2009 2

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A Pedro e Rafael, meus sobrinhos, que so um pouquinho de mim.

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AGRADECIMENTOS A Acio e Walkiria, meus pais, e Ozael e Marcela, meu irmo e cunhada, pela torcida e apoio desproporcional na espera deste momento. A minha av Marieta, por ter me ensinado muito do que sou. A minha cara Lilibeth, pela constante inspirao. As amigas Glena, Flaviana, Pollyanna e Paula, por estarem por perto acompanhando os duros momentos e penosas conquistas e ajudando, cada uma do seu jeito. A todos que foram comigo ao Engenho Monjope realizar essa pesquisa: Antnio de Pdua, Glena, Rafael, Gleyce, Carlos Rios, Carolzinha e Almir. A Prof. Lucila Prado, pelo suporte e disponibilidade. A Prof. Anne-Marie Pessis, pelo exemplo de profissional srio, capaz e incentivador. Ao Prof. Henry Lavalle, pelos ensinamentos e ateno a mim dispensada. Aos professores do curso de arqueologia da Universidade Federal de Pernambuco, por abrir os caminhos ao aprendizado de uma linda profisso. A Luciane Borba, pelas orientaes e apoio e pelo exemplo de disciplina. Fao um agradecimento especial aos professores, tcnicos e alunos dos Laboratrios de Fsica, Paleontologia, Energia Nuclear, e Engenharia Mecnica da Universidade Federal de Pernambuco pela realizao dos exames fsico-qumicos, to importantes para o desenvolvimento dessa pesquisa. A FUNDARPE, pela permisso para o desenvolvimento dessa pesquisa, incluindo o Sr. Renato, administrador do Engenho, pela compreenso e apoio durante mais de um ano de visitas ao Engenho.

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RESUMONo mbito da pesquisa acadmica brasileira em programas de arqueologia, as estruturas construdas em alvenaria tm sido cientificamente exploradas aqum do seu potencial informativo. Os trabalhos se resumem a descrever o espao tridimensional e discutir a evoluo construtiva das edificaes. A sistematizao de um Mtodo de Anlise de Alvenaria vem preencher essa lacuna. A proposta foi disponibilizar uma maneira de analisar essas estruturas para que o pesquisador possa conhecer os homens por detrs dos objetos. Atravs da aplicao do mtodo na casa grande do Engenho Monjope, em Igarassu/PE, pode-se verificar sua eficcia. Utilizando as caractersticas fsicas dos materiais, alvenarias e da edificao, a partir de mtodos arqueomtricos, foi possvel conhecer aspectos do comportamento construtivo de uma comunidade, a cronologia construtiva da edificao e mudanas tecnolgicas no sistema de alvenaria de tijolo, pedra e misto.Palavras-chave: Arqueologia Histrica Mtodo Arqueometria Alvenaria - Tijolo.

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ABSTRACTUnder the Brazilian academic research in archeology programs, structures made of masonry have been scientifically explored below its potential information. The works are summarized to describe the tridimensional space and discuss the development construtive of the edifications. The systematization of a Method of Analysis of Masonry fills that gap. The proposal was to provide a way to analyze these structures for the researcher to know the men behind the objects. Using the method in the Casa Grande do Engenho Monjope in Igarassu / PE, you can verify its effectiveness. Using the physical properties of the materials, masonry and construction, from methods of archeometry, was possible know constructive aspects of the behavior of a community, the chronology of the building and constructive changes in the technology of masonryWord-key: Historical Archeology - Method - Archeometry - Masonry - Brick.

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LISTA DE ANEXOSANEXO 01. Resultados das anlises por Difratometria de Raios-X DRX dos materiais construtivos: tijolo, rocha, argamassa e sedimento. .......................................................................................................... 211 ANEXO 02. sedimento. Resultados das Fluorescncias de Raios-X de amostras de materiais construtivos: tijolo e ........................................................................................................................................ 217

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LISTA DE APNDICESAPNDICE 1. Figuras dos 10 tipos de tijolos cermicos macios identificados na casa grande do Engenho Monjope, Igarassu/PE. .................................................................................................. 220 APNDICE 2. Figuras dos 02 tipos de rochas para construo civil identificados na casa grande do Engenho Monjope, Igarassu/PE. ............................................................................................. 225 APNDICE 3. Figuras dos 06 tipos de agenciamento de alvenaria identificados na casa grande do Engenho Monjope, Igarassu/PE. ............................................................................................. 226 APNDICE 4. Figuras dos 23 tipos de alvenaria identificados na casa grande do Engenho Monjope, Igarassu/PE. ................................................................................................................. 229

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LISTA DE FIGURASFigura 01. Figura 02. V. Fluxograma das atividades do mtodo proposto. ................................................................... 46 Exemplo do mtodo de triangulao. Fonte: Giovanni Carbonara, 1990. Obra citada. Figura ............................................................................................................................................... 54

Figura 03. Exemplificao da diferena entre a capacidade de evidenciao das escalas. Desenho A: escala 1/50 evidenciando a fachada completa, os espaos e a estrutura e seus elementos; Desenho B: escala 1/20 evidenciando os elementos da estrutura e sugerindo os sistemas construtivos; Desenho C: escala 1/10 evidenciando os sistemas construtivos (alvenaria de adobe) e seus materiais constituintes (adobe e argamassa de barro com fragmentos de telha cermica). Fonte: arquivo da Fundao Serid. Stio Arqueolgico Benedita no municpio de Nazar/BA (Desenho: Autora). ..................................................... 56 Figura 04. Ilustrao da face e aresta e das situaes extremas de cada um dos componentes da feio exterior de um tijolo: a face varia de lisa a enrugada; e um tijolo pode ter uma aresta viva ou no ter aresta. Fonte: Figura pela autora. .............................................................................................................................. 60 Figura 05. Os trs planos de um tijolo: horizontal, vertical e profundidade, ou seja, comprimento, espessura e largura, respectivamente. Fonte: Figura pela autora. .................................................................. 62 Figura 06. pela autora. Exemplos de tratamento de superfcie em rochas para construo de edifcios. Fonte: Figura ............................................................................................................................................... 66

Figura 07. Os trs planos projetados de uma rocha: horizontal, vertical e profundidade, ou seja, comprimento, espessura e largura, respectivamente. Fonte: Figura pela autora. ........................................... 67 Figura 08. Formatos de rochas utilizadas na construo de edifcios. Regulares e irregulares. Fonte: Figura pela autora. ......................................................................................................................................... 67 Figura 09. Exemplos de dimenso de argamassa, tanto da junta na posio vertical como da junta na posio horizontal. Fonte: Figura pela autora................................................................................................ 69 Figura 010. autora. Exemplos de diferentes disposies de juntas na posio vertical. Fonte: Figura pela ............................................................................................................................................... 70

Figura 011. Exemplo de lmina petrogrfica e da sua visualizao em microscpio petrogrfico com identificao dos minerais presentes. Fonte: Modificado de Varela, 2005.................................................... 79 Figura 012. Quantificao da composio mineralgica em partes a partir da lmina somando as reas dos minerais identificados. No exemplo, h 1,5 partes de quartzo, 1 parte de Feldspato e 1,3 parte de Cimento Carbontico. Fonte: Figura pela autora. .......................................................................................... 80 Figura 013. Estrutura cristalina do argilomineral Caolinita. Al2Si2O5(OH)4. Vermelho = oxignio. Azul escuro = silcio. Azul claro = alumnio. Branco = hidrognio. Fonte: www.eagps.info/angelus/cap21/estcamada.htm........................................................................................................ 81 Figura 014. 2005. Difratograma de Raios-X do padro de Quartzo e do padro de Caolinita. Fonte: Varela, ............................................................................................................................................... 81

Figura 015. Difratogramas de duas amostras compostas por Ilita e Quarzto evidenciando intensidades diferentes dos respectivos picos. Essa diferena est indicando a existncia de quantidades diferentes de Ilita e Quarzto em cada amostra. Considerando que estas amostras foram processadas pelo FULLPROOF.82 Figura 016. Grfico da curva de emisso da termoluminescncia. Os picos a serem observados para verificao da intensidade so aqueles quando a amostra est submetida a 325C e 375C de temperatura. 85

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Figura 017. Disposio horizontal dos materiais construtivos como exemplos de alinhamento de materiais com ordenamentos reconhecveis e no reconhecveis. Fonte: Figura pela autora. ....................... 89 Figura 018. Disposio horizontal dos materiais construtivos como exemplos de nivelamento de materiais alinhados entre si. Fonte: Figura pela autora. ................................................................................ 90 Figura 019. Disposio vertical dos materiais construtivos sem prumo. Identificao, nos elementos que cruzaram as linhas, da largura do material que est fora da linha, e nos elementos que no tocaram as linhas, pela distncia da face do material at a linha. Fonte: Figura pela autora. ..................................................... 91 Figura 020. Procedimento de homogeneizao da argamassa de assentamento. Fonte: modificado de www.apostilas.netsaber.com.br/apostilas/573.doc. ..................................................................................... 103 Figura 021. Tipos de paredes construdas em alvenaria de rocha, tijolo ou mista. Paredes macias e preenchidas, em tijolo e em rocha. As paredes de rocha podem ser em perpiano, ou seja, quando a pedra ocupa toda a largura de uma parede, com as quatro faces aparelhadas. Fonte: Figura pela autora. ............ 105 Figura 022. Execuo de paredes a cutelo em alvenaria macia de tijolo cermico. So utilizados mangueira de nvel, linha e fio de prumo para garantir o alinhamento, nivelamento e prumo da parede. Fonte: Figura pela autora. ............................................................................................................................ 107 Figura 023. Mapas de localizao do municpio de Igarassu, Estado de Pernambuco, nordeste do Brasil. Fonte: Mapas modificados a partir de imagem do Google Earth. ............................................................... 110 Figura 024. Mapa de situao do Engenho Monjope. O acesso at a Estrada do Monjope feito pela BR 101, na altura do km 60. Fonte: Mapa modificado a partir de imagem do Google Earth. ........................... 110 Figura 025. Mapa de localizao do Engenho Monjope. O acesso feito pela Estrada do Monjope. Fonte: Mapa modificado a partir de imagem do Google Earth. .............................................................................. 111 Figura 026. Mapa de aldeias e fazendas de propriedade da Companhia de Jesus na Capitania de Pernambuco. Os nomes das aldeias esto sublinhados com linha cheia e os das fazendas com linha tracejada. Fonte: Serafim Leite. Histria da Companhia de Jesus no Brasil. p. 390. .................................. 114 Figura 027. Mapa geolgico de municpios do Litoral Norte de Pernambuco. Fonte: Estudo da vulnerabilidade e proposta de rea de proteo de aqferos na faixa costeira norte de Pernambuco. LAGESE.UFPE. ........................................................................................................................................ 124 Figura 028. Mapa com localizao das lavras de areias e argilas at 5000m de raio do engenho Monjope. Fonte: modificado do mapa de localizao das lavras de areia e argila e do zoneamento das mineraes (Mapeamento e cadastro de reas de minerao de areia e argila da regio metropolitana do Recife e municpios circunvizinhos: 2006). .............................................................................................................. 128 Figura 029. Fachada frontal e posterior da Casa Grande do Engenho Monjope. Levantamento da situao atual. Fonte: Figura pela autora. .................................................................................................................. 132 Figura 030. Fachada lateral direita da Casa Grande do Engenho Monjope. Levantamento da situao atual. Fonte: Figura pela autora. .................................................................................................................. 133 Figura 031. Fachada lateral esquerda da Casa Grande do Engenho Monjope. Levantamento da situao atual. Fonte: Figura pela autora. .................................................................................................................. 134 Figura 032. Planta Baixa do pavimento superior da Casa Grande do Engenho Monjope. Levantamento da situao atual. Fonte: Figura pela autora. .................................................................................................... 135 Figura 033. Planta Baixa do pavimento superior da Casa Grande do Engenho Monjope. Levantamento da situao atual. Fonte: Figura pela autora. .................................................................................................... 136

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Figura 034. Identificao e localizao dos grupos de alvenaria da casa grande sobre a base grfica. Fonte: Figura pela autora. ............................................................................................................................ 138 Figura 035. Identificao e localizao dos grupos de alvenaria da casa grande sobre a base grfica. Fonte: Figura pela autora. ............................................................................................................................ 139 Figura 036. Planta Baixa do pavimento trreo com identificao e localizao dos 23 tipos de alvenaria da casa grande sobre a base grfica. Fonte: Figura pela autora. .................................................................. 149 Figura 037. Planta Baixa do pavimento superior com identificao e localizao dos 23 tipos de alvenaria da casa grande sobre a base grfica. Fonte: Figura pela autora. .................................................................. 150 Figura 038. Plantas de parte das alvenarias selecionadas para realizao de estudos complementares: alvenarias AL01, AL02 e AL04. Fonte: Figura pela autora. ....................................................................... 156 Figura 039. Plantas de parte das alvenarias selecionadas para realizao de estudos complementares: alvenarias AL07, AL10 e AL14. Fonte: Figura pela autora. ....................................................................... 157 Figura 040. Figura 041. Figura 042. Figura 043. Figura 044. Figura 045. Figura 046. Figura 047. Figura 048. Figura 049. Figura 050. Figura 051. Figura 052. Figura 053. Figura 054. Figura 055. Figura 056. Resultado do exame macroscpico da amostra 067. Fonte: Figura pela autora................... 161 Resultado do exame macroscpico da amostra 054. Fonte: Figura pela autora................... 162 Resultado do exame macroscpico da amostra 048. Fonte: Figura pela autora................... 162 Resultado do exame macroscpico da amostra 089. Fonte: Figura pela autora................... 163 Resultado do exame macroscpico da amostra 063. Fonte: Figura pela autora................... 163 Resultado do exame macroscpico da amostra 071. Fonte: Figura pela autora................... 164 Resultado do exame macroscpico da amostra 075. Fonte: Figura pela autora................... 164 Resultado do exame macroscpico da amostra 078. Fonte: Figura pela autora................... 165 Resultado do exame macroscpico da amostra 065. Fonte: Figura pela autora................... 165 Resultado do exame macroscpico da amostra 066 Fonte: Figura pela autora. .................. 166 Resultado do exame macroscpico da amostra 047. Fonte: Figura pela autora................... 166 Resultado do exame macroscpico da amostra 088. Fonte: Figura pela autora................... 167 Resultado do exame macroscpico da amostra 092. Fonte: Figura pela autora................... 167 Resultado do exame macroscpico da amostra 061. Fonte: Figura pela autora................... 168 Resultado do exame macroscpico da amostra 070. Fonte: Figura pela autora................... 168 Resultado do exame macroscpico da amostra 074. Fonte: Figura pela autora................... 169 Resultado do exame macroscpico da amostra 098. Fonte: Figura pela autora................... 169

Figura 057. Comparao dos difratogramas das amostras 062/ 249 e 067/ 253 para verificao de semelhanas ou diferenas entre esses tijolos T01 das alvenarias AL01 e AL07. ...................................... 173 Figura 058. Comparao dos difratogramas das amostras 092/ 252 e 085/ 254 para verificao de semelhanas ou diferenas entre essas argamassas da alvenaria AL04. ...................................................... 173

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Figura 059. Comparao dos difratogramas das amostras 092/ 252 e 085/ 254 para verificao de semelhanas ou diferenas entre essas argamassas da alvenaria AL04. ...................................................... 174 Figura 060. Comparao dos resultados das anlises qumicas das amostras de tijolo e do sedimento do rio Utinga para verificar se algum dos tijolos pode ter sido feito com esse sedimento. .............................. 177 Figura 061. Resultado das curvas de emisso de TL de todas as amostras submetidas ao exame. As curvas alm de sobrepostas no permitiram a leitura da intensidade. ......................................................... 180 Figura 062. Verificao do prumo das alvenarias e dos materiais construtivos a partir da marcao de uma linha contnua vertical e identificao da distncia dos materiais at essa linha. Fonte: Figura pela autora. ............................................................................................................................................. 182 Figura 063. Verificao do alinhamento dos materiais construtivos em fiadas a partir da marcao de linhas tracejadas no eixo dos materiais e identificao de unidades que estejam em posio diagonal linha de referncia. Fonte: Figura pela autora. ..................................................................................................... 183 Figura 064. Verificao do nivelamento dos materiais construtivos em fiadas a partir da marcao de linhas tracejadas na parte imediatamente inferior e superior do material construtivo e identificao das partes dos materiais que esto acima e abaixo das linhas de referncia. Fonte: Figura pela autora. ........... 185 Figura 065. Cronologia da edificao considerando as seis alvenarias estudadas, a saber, em ordem crescente: AL04, AL02, AL01/AL07, AL14 e AL10. Fonte: Figura pela autora........................................ 198 Figura 066. Ficha de identificao do Tijolo T01. Observa-se a cor/ composio de argila branca/cinza, o formato retangular irregular e uma face fraturada e enrugada, com aresta viva. Fonte: Figura pela autora.220 Figura 067. Ficha de identificao do Tijolo T02. Observa-se a cor/ composio de argila vermelha, o formato retangular regular e a face ntegra e enrugada, com aresta viva. Fonte: Figura pela autora. .......... 220 Figura 068. Ficha de identificao do Tijolo T03. Observa-se a cor/ composio de argila branca, rosa e cinza, o formato retangular regular e a face fraturada e enrugada, com aresta viva. Fonte: Figura pela autora. ............................................................................................................................................. 221 Figura 069. Ficha de identificao do Tijolo T04. Observa-se a cor/ composio de argila branca, rosa e cinza, o formato retangular irregular e a face fraturada e enrugada, sem aresta. Fonte: Figura pela autora.221 Figura 070. Ficha de identificao do Tijolo T05. Observa-se a cor/ composio de argila vermelha, amarela, o formato retangular regular e a face fraturada e lisa, com aresta viva. Fonte: Figura pela autora. .... ............................................................................................................................................. 222 Figura 071. Ficha de identificao do Tijolo T06. Observa-se o formato retangular irregular e o mau estado de fragmentao da face. Fonte: Figura pela autora. ........................................................................ 222 Figura 072. Ficha de identificao do Tijolo T7. Observa-se a cor/ composio de argila branca, rosa, cinza e caf, o formato retangular irregular e a face fraturada e enrugada, sem aresta. Fonte: Figura pela autora. ............................................................................................................................................. 223 Figura 073. Ficha de identificao do Tijolo T8. Observa-se a cor/ composio de argila vermelho e telha, o formato retangular regular e a face fratura e lisa, com aresta viva. Fonte: Figura pela autora. ...... 223 Figura 074. Ficha de identificao do Tijolo T9. Observa-se a cor/ composio de argila branca, o formato retangular irregular e a face fraturada e enrugada, com aresta viva. Fonte: Figura pela autora. .... 224 Figura 075. Ficha de identificao do Tijolo T10. Observa-se a cor/ composio de argila branca e cinza, o formato retangular regular e a face ntegra e enrugada, com aresta viva. Fonte: Figura pela autora. ....... 224 Figura 076. Ficha de identificao do tipo de rocha 01. Observa-se a rugosidade da superfcie da rocha, seu perfil tendendo a circular e a grande variao de tamanhos. Fonte: Figura pela autora. ....................... 225

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Figura 077. Ficha de identificao do tipo de rocha 02. Observa-se que a superfcie da rocha foi tratada deixando-a mais regular que o perfil, tendendo a quadrangular, e menor a variao de tamanhos. Fonte: Figura pela autora. ....................................................................................................................................... 225 Figura 078. Ficha de identificao do tipo de agenciamento 01 utilizada em paredes estruturais ou divisrias, com amarrao alinhada, mas sem rigidez. Fonte: Figura pela autora. ...................................... 226 Figura 079. Ficha de identificao do tipo de agenciamento 02 utilizada em colunas, com amarrao alinhada com rigidez. Fonte: Figura pela autora. ........................................................................................ 226 Figura 080. Ficha de identificao do tipo de agenciamento 03 utilizada em paredes estruturais ou divisrias cujos elementos constituintes esto conglomerados. Fonte: Figura pela autora. ........................ 227 Figura 081. Registro do tipo de agenciamento 04 utilizado em paredes estruturais ou divisrias, com amarrao aleatria. Fonte: Figura pela autora. ........................................................................................... 227 Figura 082. Ficha de identificao do tipo de agenciamento 05 utilizada em colunas e molduras de portas e janelas, sem amarrao. Fonte: Figura pela autora. .................................................................................. 228 Figura 083. Ficha de identificao do tipo de agenciamento 06 utilizada em paredes divisrias, com amarrao alinhada, mas sem rigidez. Fonte: Figura pela autora. ............................................................... 228 Figura 084. Ficha de identificao da Alvenaria 01. Observar a existncia de linhas de continuidade pouco rgidas entre tijolos de nveis diferentes. Essa alvenaria est sendo utilizada como parede estrutural ou divisria. Fonte: Figura pela autora. ....................................................................................................... 229 Figura 085. Ficha de identificao da Alvenaria 02. Observar a existncia de linhas de continuidade rgidas e a elevada espessura da argamassa entre tijolos de nveis diferentes. Essa alvenaria est sendo utilizada para compor colunas de 70x70cm. Fonte: Figura pela autora....................................................... 229 Figura 086. Ficha de identificao da Alvenaria 03. Observar a existncia de linhas de continuidade pouco rgidas. Essa alvenaria est sendo utilizada para complementar uma parede, aumentando-a. Fonte: Figura pela autora. ....................................................................................................................................... 230 Figura 087. Ficha de identificao da Alvenaria 04. Observar a ausncia de linhas nesta alvenaria, a organizao dos elementos que a compe se assemelha a um conglomerado. A funo dessa alvenaria a de parede estrutural ou divisria. Fonte: Figura pela autora. ........................................................................... 230 Figura 088. Ficha de identificao da Alvenaria 05. Observar a existncia de linhas de continuidade pouco rgidas e utilizao de diferentes tipos de tijolo. Essa alvenaria est sendo utilizada para fechar uma porta, transformando-a numa janela. Fonte: Figura pela autora. ................................................................. 231 Figura 089. Ficha de identificao da Alvenaria 06. Observar a existncia de linhas de continuidade pouco rgidas. Essa alvenaria est sendo utilizada para compor o espao sob um arco de descarga. Fonte: Figura pela autora. ....................................................................................................................................... 231 Figura 090. Ficha de identificao da Alvenaria 07. Observar a ausncia de linhas de continuidade e a utilizao de retraos de rocha e de tijolos ao redor das rochas tipo 2. Essa alvenaria est sendo utilizada de duas maneiras: como parede estrutural ou divisria e como moldura para porta e janela. Fonte: Figura pela autora. ............................................................................................................................................. 232 Figura 091. Ficha de identificao da Alvenaria 08. Observar a ausncia de linhas, essa alvenaria tem os elementos organizados tipo conglomerado e tem funo de parede estrutural ou divisria. Fonte: Figura pela autora. ............................................................................................................................................. 233 Figura 092. Ficha de identificao da Alvenaria 09. Observar a ausncia de linhas de continuidade e a funo de fechar uma arcada. Fonte: Figura pela autora. ............................................................................ 233

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Figura 093. Ficha de identificao da Alvenaria 10. Observar que essa alvenaria est sendo utilizada para fechar uma porta. Verifica-se a ausncia de linhas de continuidade. Fonte: Figura pela autora. ................ 234 Figura 094. Ficha de identificao da Alvenaria 11. Observar que essa alvenaria obedece a organizao horizontal dos materiais construtivos, mas utiliza pedaos de tijolos, seja na posio horizontal como na vertical. Essa alvenaria est sendo utilizada para compor o espao sob um arco de descarga. Fonte: Figura pela autora. ............................................................................................................................................. 234 Figura 095. Ficha de identificao da Alvenaria 12. Observar que essa alvenaria obedece a organizao horizontal dos materiais construtivos, mas utiliza no s tijolos inteiros mas tambm em pedaos. Fonte: Figura pela autora. ....................................................................................................................................... 235 Figura 096. Ficha de identificao da Alvenaria 13. Observar que essa alvenaria no obedece a organizao horizontal dos materiais construtivos, essa organizao tipo aglomerado. Fonte: Figura pela autora. ........................................................................................................................................ 235 Figura 097. Ficha de identificao da Alvenaria 14. Observar que essa alvenaria obedece a organizao horizontal dos materiais construtivos e a existncia de linhas de continuidade pouco rgidas. Fonte: Figura pela autora. ............................................................................................................................................. 236 Figura 098. Ficha de identificao da Alvenaria 15. Observar que essa alvenaria obedece a organizao horizontal e diagonal dos materiais construtivos e que as linhas de continuidade so pouco rgidas. Fonte: Figura pela autora. ....................................................................................................................................... 236 Figura 099. Ficha de identificao da Alvenaria 16. Observar que essa alvenaria obedece a organizao horizontal dos materiais construtivos e que no h rigidez na organizao pela ausncia de linhas de continuidade entre tijolos de nveis diferentes. Fonte: Figura pela autora................................................... 237 Figura 0100. Ficha de identificao da Alvenaria 17. Observar que essa alvenaria obedece a organizao horizontal e diagonal dos materiais construtivos e que as linhas de continuidade so pouco rgidas. Fonte: Figura pela autora. ............................................................................................................... 237 Figura 0101. Ficha de identificao da Alvenaria 18. Observar a existncia de linhas de continuidade rgidas entre tijolos de nveis diferentes. Essa alvenaria est sendo utilizada na coluna que suporte duas arcadas. Fonte: Figura pela autora. .............................................................................................................. 238 Figura 0102. Ficha de identificao da Alvenaria 19. Observar a existncia de sobreposio dos tijolos de nveis diferentes. Essa alvenaria est sendo utilizada como moldura de uma porta. Fonte: Figura pela autora. ........................................................................................................................................ 238 Figura 0103. Ficha de identificao da Alvenaria 20. Observar a existncia de sobreposio dos tijolos de nveis diferentes. Essa alvenaria est sendo utilizada tanto como coluna (acima) como moldura de uma porta (abaixo). Fonte: Figura pela autora. ................................................................................................... 239 Figura 0104. Ficha de identificao da Alvenaria 21. Observar a existncia de linhas de continuidade pouco rgidas entre tijolos de nveis diferentes. Essa alvenaria est sendo utilizada como moldura de uma arcada. Fonte: Figura pela autora. ............................................................................................................... 240 Figura 0105. Ficha de identificao da Alvenaria 22. Observar a existncia de linhas de continuidade rgidas entre tijolos de nveis diferentes. Essa alvenaria est sendo utilizada como moldura de uma arcada. Fonte: Figura pela autora. ............................................................................................................................ 240 Figura 0106. Ficha de identificao da Alvenaria 23. Observar a existncia de linhas de continuidade rgidas entre tijolos de nveis diferentes. Essa alvenaria est sendo utilizada como moldura de uma arcada. Fonte: Figura pela autora. ............................................................................................................................ 241

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LISTA DE FOTOSFoto 01. Exemplos de tijolos que apresentam a feio externa e tijolos que evidenciam a parte interna. No tijolo A grande parte da face em evidncia apresenta as marcas da coco; nos tijolos B e C, percebe-se, em diferentes graus, a diferena entre a colorao da superfcie e da parte interna central. Se os dados fossem ser levantados a partir dos tijolos B e C, no estariam contribuindo para aumentar o conhecimento sobre os procedimentos de preparao dessa material construtivo. Fonte: Foto pela autora. ........................ 61 Foto 02. Exemplo de dois tipos de tijolos considerando a colorao da pasta a partir da superfcie. Observar que os tijolos da direita, por estarem seccionados, permitem a visualizao do interior enegrecido, mas na superfcie que se pode verificar a colorao da pasta. Fonte: Foto pela autora. ............................. 63 Foto 03. Rocha sedimentar terrgena macroclstica como exemplo de agrupamento de materiais sem ordenamento reconhecvel. Conglomerado do Vale da Capivara no Parque Nacional Serra da Capivara, So Raimundo Nonato, PI. Fonte: Foto pela autora. ............................................................................................ 88 Foto 04. Exemplo de molde de madeira para preparao de tijolos cermicos macios e do procedimento de retirar os tijolos conformados do molde. Esse molde permite que trs unidades de tijolos sejam moldados ao mesmo tempo. Fonte: olariatudo em http://www.griootzen.com/index.php?base_principal=base&id_base=8. ..................................................... 97 Foto 05. Exemplo de queima de tijolos macios, onde o forno resultado da organizao dos tijolos. Fonte: olariatudo em http://www.griootzen.com/index.php?base_principal =base&id_base=8. .................. 99 Foto 06. Vista frontal do Engenho Monjope a partir do acesso principal. Da esquerda para a direta: capela de So Pedro e casa grande. Fonte: Foto pela autora. ...................................................................... 112 Foto 07. Vista frontal da casa grande do Engenho Monjope. Igarassu. PE. Fonte: Foto pela autora. .... 112

Foto 08. Vista da situao atual da casa grande (fachadas frontal e lateral direita). V-se o mau estado de conservao da edificao, principalmente pela ausncia de reboco, tombamento dos arcos das esquadrias e pela existncia de vegetao nas paredes. Fonte: Foto pela autora. ............................................................ 120 Foto 09. Foto 010. autora. Vista dos cmodos do acesso principal casa grande. Fonte: Foto pela autora. ...................... 121 Vista da janela ou porta, dentro da casa, com p-direito de h = 1,81 metros. Fonte: Foto pela ............................................................................................................................................. 121

Foto 011. Vista dos restos da escada que dava acesso ao pavimento superior. Vem-se as runas da estrutura de alvenaria que dava suporte escada e os restos da estrutura de madeira do piso do pavimento superior. Fonte: Foto pela autora. ................................................................................................................ 122 Foto 012. Grade metlica quadrada, de 1mx1m, com cordas verticais e horizontais a cada 10cm, que permite realizar o levantamento do agenciamento das alvenarias com preciso e velocidade, em campo ou no laboratrio. Fonte: Foto pela autora. ...................................................................................................... 181

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LISTA DE GRFICOSGrfico 01. Grfico 02. Grfico 03. Grfico 04. Grfico 05. Grfico 06. Grfico 07. Grfico 08. Grfico 09. Grfico 010. Grfico 011. Grfico 012. Grfico 013. Grfico 014. Percentual de alvenaria por tipo no pavimento trreo. Fonte: Figura pela autora................ 154 Percentual de alvenaria por tipo, no pavimento superior. Fonte: Figura pela autora. .......... 154 Difratograma da amostra 075/242 Tijolo T07. ................................................................. 211 Difratograma da amostra 071/244 Tijolo T05. ................................................................. 211 Difratograma da amostra 063/243 Tijolo T02/ ALVENARIA 07 .................................... 212 Difratograma da amostra 048/250 Tijolo T02/ ALVENARIA 02. ................................... 212 Difratograma da amostra 062/249 Tijolo T01/ ALVENARIA 07. ................................... 213 Difratograma da amostra 067/253 Tijolo T01/ ALVENARIA 01. ................................... 213 Difratograma da amostra 092/252 Argamassa 04. ............................................................ 214 Difratograma da amostra 085/254 Argamassa 04. ........................................................ 214 Difratograma da amostra 047/257 Argamassa 02. ....................................................... 215 Difratograma da amostra 074/262 Argamassa 14 ........................................................ 215 Difratograma da amostra 070/261 Argamassa 01. ....................................................... 216 Difratograma da amostra 064/258 Rocha 01. .............................................................. 216

Grfico 015. Elementos presentes na amostra 075/242 identificados a partir de FRX. Anlise e resultados realizados no Laboratrio de Metrologia das Radiaes Ionizantes LMRI do Departamento de Energia Nuclear DEN da UFPE. .............................................................................................................. 217 Grfico 016. Elementos presentes na amostra 063/243 identificados a partir de FRX. Anlise e resultados realizados no Laboratrio de Metrologia das Radiaes Ionizantes LMRI do Departamento de Energia Nuclear DEN da UFPE. .............................................................................................................. 217 Grfico 017. Elementos presentes na amostra 071/244 identificados a partir de FRX. Anlise e resultados realizados no Laboratrio de Metrologia das Radiaes Ionizantes LMRI do Departamento de Energia Nuclear DEN da UFPE. .............................................................................................................. 218 Grfico 018. Elementos presentes na amostra 062/249 identificados a partir de FRX. Anlise e resultados realizados no Laboratrio de Metrologia das Radiaes Ionizantes LMRI do Departamento de Energia Nuclear DEN da UFPE. .............................................................................................................. 218 Grfico 019. Elementos presentes na amostra 098/255 identificados a partir de FRX. Anlise e resultados realizados no Laboratrio de Metrologia das Radiaes Ionizantes LMRI do Departamento de Energia Nuclear DEN da UFPE. .............................................................................................................. 219

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LISTA DE TABELASTABELA 01. TABELA 02. TABELA 03. Nomenclatura da granulometria de detritos sedimentares. ............................................... 76 Tabela de Compton, 1962. ................................................................................................ 77 Planilha para estimativa de percentagem. ......................................................................... 78

TABELA 04. Tabela das lavras de areia identificadas num raio de 5km a partir do Engenho Monjope. Igarassu/PE. Fonte: Mapeamento e cadastro de reas de minerao de areia e argila da regio metropolitana do Recife e municpios circunvizinhos: 2006. Anexo 1) ............................................................................. 126 TABELA 05. Tabela das lavras de argila identificadas num raio de 5km a partir do Engenho Monjope. Igarassu/PE. Fonte: Mapeamento e cadastro de reas de minerao de areia e argila da regio metropolitana do Recife e municpios circunvizinhos: 2006. Anexo 1) ............................................................................. 127 TABELA 06. Tabela resumo de tipos de tijolos identificados no levantamento dos materiais construtivos da casa grande. Foram identificados treze tipos, mas s 10 tipos sero considerados no mbito deste trabalho. ........................................................................................................................................ 142 TABELA 07. Tabela resumo de tipos de rochas para construo civil identificadas no levantamento dos materiais construtivos da casa grande. Foram identificados dois tipos. ...................................................... 143 TABELA 08. Tabela resumo de tipos de agenciamento identificados no levantamento dos materiais construtivos da casa grande. ........................................................................................................................ 145 TABELA 09. Tabela resumo do catlogo de tipos de alvenaria identificados no levantamento dos materiais construtivos e do agenciamento dos materiais da casa grande. .................................................... 147 TABELA 010. Tabela com lista de alvenarias identificadas no levantamento de campo na casa grande relacionando-as aos vinte e trs tipos de alvenarias. ................................................................................... 148 TABELA 011. Tabela das quantidades, em metro linear, de alvenaria por tipo, presente no pavimento trreo da casa grande do Engenho Monjope. Igarassu/PE. .......................................................................... 154 TABELA 012. Tabela das quantidades, em metro linear, de alvenaria por tipo, presente no pavimento superior da casa grande do Engenho Monjope. Igarassu/PE. ...................................................................... 154 TABELA 013. anlise de DRX. TABELA 014. TABELA 015. Lista das amostras de materiais de construo (argamassa, tijolo e rocha) enviadas para ................................................................................................................................... 172 Lista das amostras enviadas para anlise de FRX pelo sistema de EDXRF. ............. 175 Lista das amostras enviadas para anlise de FRX pelo sistema de WDXRF. ............ 176

TABELA 016. Lista das amostras de tijolos cermicos macios das alvenarias da casa grande enviadas para datao por TL. ................................................................................................................................... 179

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LISTA DE SIGLASCTG DEN DRX FRX FUNDARPE MAE-USP PPArq PUC-RS TGS TL UFPE Centro de Tecnologia Departamento de Energia Nuclear Difrao de Raios-X Fluorescncia de Raios-X Fundao do Patrimnio Histrico e Artstico de Pernambuco Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de So Paulo Programa de Ps-Graduao em Arqueologia Pontifcia Universidade Catlica do Rio Grande do Sul Teoria Geral dos Sistemas Termoluminescncia Universidade Federal de Pernambuco

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SUMRIORESUMO ABSTRACT ................................................................................................................................ 6 ................................................................................................................................ 7

LISTA DE ANEXOS ....................................................................................................................... 8 LISTA DE APNDICES ................................................................................................................. 9 LISTA DE FIGURAS .................................................................................................................... 10 LISTA DE FOTOS ........................................................................................................................ 16 LISTA DE GRFICOS ................................................................................................................. 17 LISTA DE TABELAS ................................................................................................................... 18 LISTA DE SIGLAS ....................................................................................................................... 19 INTRODUO ............................................................................................................................. 22

CAPTULO 1. FUNDAMENTAO TERICA E REFERENCIAIS METODOLGICOS.... 291.1 1.2 CRTICA TENDNCIA TERICA PROCESSUAL-FUNCIONALISTA ..................................................... 29 A TENDNCIA TERICA PROCESSUAL-COGNITIVA E O ENFOQUE TECNOLGICO ............................ 34 A Tendncia Terica Processual-Cognitiva........................................................................... 34 Processamento de dados na abordagem Processual-Cognitiva .............................................. 37 O Enfoque Tecnolgico e a Anlise das Estruturas em Alvenaria ........................................ 38 Mudana Tecnolgica ............................................................................................................ 40

1.2.1 1.2.2 1.2.3 1.2.4 1.3

O UNIVERSO DA PESQUISA E O CARTER MULTIDISCIPLINAR ......................................................... 41

CAPTULO 2. MTODO PARA ANLISE DE ESTRUTURAS EM ALVENARIA ............... 442.1 LEVANTAMENTO DE DADOS ............................................................................................................ 47 Fontes documentais ............................................................................................................... 47 Fontes fsicas ......................................................................................................................... 49 Identificao de tipos ............................................................................................................. 92 Identificao das cadeias operatrias ..................................................................................... 94

2.1.1 2.1.2 2.2 2.2.1 2.2.2

ANLISE DE DADOS.......................................................................................................................... 92

CAPTULO 3. APLICAO DO MTODO PROPOSTO ....................................................... 1093.1 3.2 ENGENHO MONJOPE....................................................................................................................... 109 Casa Grande ......................................................................................................................... 112 Levantamento e processamento de dados histricos............................................................ 113 APLICAO DO MTODO ............................................................................................................... 113

3.1.1 3.2.1

20

3.2.2 3.2.3 3.2.4 3.2.5 3.3 3.3.1 3.3.2 3.3.3

Levantamento e processamento de dados em campo........................................................... 119 Seleo das Alvenarias a Serem Analisadas ........................................................................ 153 Levantamento e processamento de dados complementares em campo................................ 157 Anlise dos dados ................................................................................................................ 186 Modus construendi .............................................................................................................. 196 Cronologia da edificao ..................................................................................................... 197 Mudana Tecnolgica .......................................................................................................... 201

CONCLUSO................................................................................................................................... 196

CONSIDERAES FINAIS ....................................................................................................... 202 BIBLIOGRAFIA.......................................................................................................................... 208 ANEXOS APNDICES ............................................................................................................................ 211 ............................................................................................................................ 220

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INTRODUOO presente trabalho surgiu da constatao de que, no mbito da pesquisa acadmica brasileira em programas de arqueologia, as estruturas construdas em alvenaria tm sido cientificamente exploradas aqum do seu potencial informativo. Porm, na realidade, essas estruturas materializam uma maneira de construir, ou seja, uma seleo de recursos disponveis associados a conhecimentos transmitidos por geraes. Dentre os trabalhos que estudam essas estruturas, o objetivo est voltado mais na descrio do espao tridimensional, da funcionalidade da edificao e/ou das cronologias de construo. O foco est na edificao e no nas culturas dos homens do passado, sendo praticamente nulas as referncias s comunidades e aos seus comportamentos. Dos trs cursos de ps-graduao em arqueologia existentes no Brasil: Universidade Federal de Pernambuco UFPE, Universidade de So Paulo USP e Pontifcia Universidade Catlica do Rio Grande do Sul PUC-RS, at o ano de 2008, 20 dissertaes, do total de 141 defendidas, e 10 teses, das 38 defendidas, abordaram temas relacionados a estruturas em alvenaria. Desse total, apenas 4 dissertaes e 1 tese utilizaram os dados obtidos das estruturas para conhecer as comunidades. Na UFPE1, do total de 29 dissertaes, 12 analisaram estruturas em alvenaria. Deste conjunto, 7 tinha como objetivo descrever seu espao tridimensional e/ou as suas cronologias de construo, 2 utilizaram as informaes espaciais da estrutura para contextualizar o stio arqueolgico2 e 3 estudaram o espao e as cronologias de construo da edificao para conhecer as comunidades3. Das 4 teses defendidas, apenas

1

O Programa de Ps-Graduao em Arqueologia - PPArq da UFPE teve incio em 1974 como uma rea de concentrao do Programa de Ps-Graduao em Histria, do Centro de Filosofia e Cincias Humanas CFCH. No ano de 2003 tornou-se independente e vem propiciando a elaborao de pesquisas em trs linhas de concentrao: Conservao do Patrimnio Cultural Histrico e Pr-Histrico; Enclaves Regionais da Pr-Histria; e Registros Grficos Rupestres da Pr-Histria do Nordeste. MEDEIROS, Elisabeth Gomes de Matos. Ttulo da dissertao: O povoado dos arrecifes e o baluarte holands do sculo XVII; e BORGES, Fabio Mafra. Ttulo da dissertao: Marim dos Caet: caracterizao histrico-arqueolgica do Stio do Campo, Paulista-PE (sculo XVII e XVIII). COSTA, Carlos Alberto Santos. Ttulo da dissertao: A influncia do Colgio dos Jesutas na configurao da malha urbana de Salvador-BA (1549-1760); SILVA JUNIOR, Luiz Severino da. Ttulo da

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1 teve como objeto de pesquisa uma estrutura em alvenaria. O autor estudou o espao tridimensional da Igreja e Convento do Carmo, Olinda/PE, buscando identificar a presena da cultura artstica espanhola nas formas e decoraes da edificao4. Na USP5, das 46 dissertaes defendidas, apenas 1 utilizou a estrutura em alvenaria como objeto de estudo, porm limitou-se a descrever o seu espao tridimensional e as suas cronologias de construo6. Apesar de a autora ter proposto a utilizao dos materiais construtivos como fonte de dados e de querer utilizar as informaes espaciais para discutir as mudanas no modo de vida da comunidade, o resultado da pesquisa consistiu numa sucinta descrio de parte dos materiais construtivos, na descrio das edificaes e na apresentao das atividades desenvolvidas no interior delas ao longo do tempo. Quanto s teses, das 32, apenas 5 trataram de temas relacionados a estruturas em alvenaria e stios histricos e destas, apenas 1 utilizou os dados retirados das construes para discutir o comportamento da comunidade7. Nesse trabalho, o autor alm de aprofundar questes sobre o espao tridimensional e sobre a funo da edificao, utilizou essas informaes e outras, obtidas com anlise arqueomtricas, para reencontrar a sociedade mameluca de So Paulo. Das outras 4 teses, 3 trataram apenas do espao tridimensional, buscando

dissertao: O Forte do Matos e o crescimento urbano do extremo sul do Recife: uma perspectiva arqueolgica, 1680 1730; e, PEREIRA FILHO, Antnio de Moura. Ttulo da dissertao: Anlise do Art Nouveau no Estado de Pernambuco (1870-1939).4

SOUZA, Fernando Antonio Guerra de. As duas faces de um mesmo monumento: a Igreja e o Convento de Santo Antnio do Carmo em Olinda, Pernambuco. Recife: UFPE, 2007. Tese (Doutorado) - Programa de Ps-Graduao em Arqueologia, Faculdade de Filosofia e Cincias Humanas, Universidade Federal de Pernambuco, 2007.

O Programa de Ps-Graduao em Arqueologia da USP oferece duas reas de concentrao para pesquisas em arqueologia: Arqueologia e Arqueologia e Patrimnio. rea de Concentrao I: Arqueologia; Linhas de Pesquisa: - Artefatos e cultura material: significados e potencialidades; - Processos de formao do registro arqueolgico; - Representaes simblicas em arqueologia; - Processos de formao e transformao social; - Espao e organizao social. rea de Concentrao II: Arqueologia e Patrimnio; Linhas de Pesquisa: Gesto e Ordenamento Jurdico do Patrimnio Arqueolgico; - Arqueologia e Educao; - Musealizao da Arqueologia; - Arqueologia Preventiva; - Histria da Arqueologia e Perspectivas Tericas Contemporneas. Esse Programa teve inicio em 1972 como uma rea de concentrao do Programa de Antropologia Social da Faculdade de Filosofia, Letras e Cincias Humanas - FFLCH. Em 2004 passou a ser um programa independente com sede no Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de So Paulo - MAE-USP.6

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QUEIROZ, Claudia Moreira. Chcara Xavier: um estudo de caso em arqueologia histrica. Dissertao. 12-12-2006. USP.

7 ZANETTINI, Paulo Eduardo. Maloqueiros e seus palcios de barro: o cotidiano domstico na Casa Bandeirista.

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descrever as estruturas e stios, sua funo e evoluo histrica8; e 1, denominada pelo prprio autor de inventrio, apesar de se propor a discutir as mudanas nos hbitos da comunidade, apenas descreve essas mudanas a partir de dados histricos e no arqueolgicos9. Finalmente, das dissertaes e teses defendidas na PUC-RS10, 7, das 66 dissertaes, tm como objeto estruturas em alvenaria ou stios histricos. E desse conjunto, 1 utilizou dados espaciais para tratar da cultura da comunidade. Nesse trabalho, a autora se props a fazer uma correlao entre as mudanas no espao urbano da cidade de Porto Alegre e a mudana nos valores culturais da sociedade ao longo do sculo XIX. Contudo, as outras 5 dissertaes trataram apenas de descrever o espao tridimensional dos stios e edificaes, a fim de explicar sua funo; e, 1 utilizou os dados espaciais para contextualizar o stio e apresentar suas cronologias de evoluo. E apenas 4, das 22 teses, trataram de temas relacionados a estruturas em alvenaria, mas nenhuma as utilizou para explicar o comportamento das comunidades passadas. Dessas 4 teses, 1 fez a descrio espacial dos edifcios11; e 3, apesar de no se limitarem ao espao tridimensional, no utilizaram as estruturas e seus materiais construtivos como fonte de dados: uma delas utilizou utenslios domsticos para explicar os traos culturais da comunidade12; outra se props a fazer uma relao entre espao e identidade13; e a ltima fez um trabalho descritivo a partir de dados histricos e no arqueolgicos14.

MACHADO, Neli Teresinha Galarce. Entre guardas e casares: um pouco da histria do interior do RS uma perspectiva arqueolgica; CORRA, Marcus Vinicius de Miranda. Da Capela Carmelita a Catedral Metropolitana de Manaus (AM) Uma arqueologia da arquitetura; e ZEQUINI, Anicleide. Arqueologia de uma fbrica de ferro: morro de Araoiaba sculos XVI-XVIII. VILAR, Dalmo Dippold. gua aos cntaros - os reservatrios da Cantareira: um estudo de Arqueologia Industrial. O Programa de Ps-Graduao em Histria da PUC de Porto Alegre/ RS conta com trs reas de concentrao: Histria do Brasil, Histria Ibero-americana e Arqueologia. O Programa foi criado em 1970, mas foi desde 1981 que comearam a ser defendidas teses e dissertaes em arqueologia.11 10 9

8

MARQUES, Fernando Luiz Tavares. Modelo da Agroindstria Canavieira Colonial no Esturio Amaznico: Estudo Arqueolgico de Engenhos dos Sculos XVIII e XIX. Data: 20/07/2004. Arqueologia

12 TOCCHETTO, Fernanda Bordin. Fica Dentro ou Joga Fora? Sobre Prticas Cotidianas em Unidades Domsticas na Porto Alegre Oitocentista. Data: 15/01/2004. Arqueologia;

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A partir da anlise desses trabalhos acadmicos, constatou-se tambm que nos casos em que o comportamento das comunidades foco da pesquisa, as fontes de dados exploradas so os documentos histricos e vestgios de utenslios domsticos associados estrutura. Ficando de lado a prpria estrutura e os dados construtivos extrados dela. No entanto, se os vestgios arqueolgicos pr-histricos, como a cermica, por exemplo, so considerados documentos da memria coletiva e so utilizados como meio para se conhecer a comunidade e sua cultura, porque as estruturas histricas em alvenaria no o so? Na presente pesquisa parte-se do pressuposto de que as estruturas em alvenaria tambm so documentos da memria coletiva e podem ser utilizadas para se conhecer as comunidades e suas culturas. E, ainda, , como j foi dito inicialmente, que os dados extrados das estruturas tm elevado potencial informativo, especificamente sobre o comportamento construtivo da comunidade, ou seja, o seu modus construendi. A maneira de construir, segundo Bardeschi15, o conjunto de escolhas feitas na utilizao dos recursos disponveis para se alcanar objetivos especficos; o modus construendi est relacionado prpria tradio de uma comunidade.(...) a construo de uma casa tradicional se desenvolve segundo um programa executivo... que passado de uma gerao a outra segundo modelos organizativos de normas e regras amplamente experimentadas e codificadas... (LONDINO, 1998: p.187).

A proposta atravs desta pesquisa , portanto, sistematizar um mtodo multidisciplinar que permita levantar e processar dados de estruturas em alvenaria para extrair informaes sobre o modus construendi das comunidades que as edificaram, as cronologias de construo do edifcio e verificar a existncia, ou no, de mudana

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THIESEN, Beatriz Vallado. Fbrica, Identidade e Paisagem Urbana: arqueologia da Bopp Irmos (19061924). Data: 14/03/2005. Arqueologia

UESSLER, Cludia de Oliveira. Stios arqueolgicos de assentamentos fortificados ibero-americanos na Regio Platina Oriental. Data: 22/03/2006. Arqueologia.15

14

Bardeschi, 2005: p.84.

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tecnolgica na maneira de se construir em alvenaria. At o momento essas informaes no estavam acessveis, pela ausncia de um instrumento de pesquisa. O objetivo , portanto, utilizar a histria construtiva do edifcio, atravs da identificao das caractersticas fsicas da estrutura, de seus materiais e tcnicas construtivas, como estratgia de conservao e restaurao, orientando projetos arquitetnicos e estruturais. Esse conjunto de informaes permite hierarquizar16 as partes da edificao que apresentam cronologias de construo diferentes e orientar a escolha dos materiais e tcnicas construtivas a serem utilizadas. Segundo DAgostino, toda interveno de conservao e restaurao deve ter como princpios a busca pela homogeneidade de materiais e tcnicas, compatibilidade construtiva com o monumento, durabilidade de mais de 100 anos dos materiais escolhidos e reversibilidade da interveno17. Deve-se, contudo, esclarecer que os resultados obtidos a partir de uma edificao no podem ser generalizados para toda a sociedade de uma poca. Cada caso pode ser nico. Porm, se se reunissem os resultados de um conjunto de edificaes em uma regio, seria possvel conhecer aspectos da cultura construtiva da comunidade dessa regio em um dado momento temporal, ou mesmo ao longo de um perodo temporal determinado. Atravs desse trabalho, no se pretende oferecer uma tcnica acabada de levantamento de dados e sim, estabelecer um roteiro bsico a partir do qual o pesquisador, de maneira consciente, pode levantar e processar dados; a comear do que focar e de como observar em uma estrutura em alvenaria, at a definio mais criteriosa das formas mais adequadas de registro e as possveis anlises e resultados. Considerando o mbito em que se insere essa pesquisa, como uma atividade de psgraduao em arqueologia, o estudo foi direcionado ao sistema construtivo das paredes e colunas das edificaes em alvenaria. Assim, foram detalhados os processos de estudo das paredes e colunas edificadas em alvenaria de pedra, de tijolo e mista. A escolha das

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A hierarquizao de alvenarias pressupe a pr-definio da hierarquia de atributos relativos s alvenarias, como antiguidade, grau de preservao, grau de autenticidade etc. Os atributos devem ser definidos para cada caso. DAgostino: 1999. p. 17.

17

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paredes e das colunas como objeto de estudo se justificou por se tratar de elementos que resistem ao tempo; por estar quase sempre visveis, no exigindo uma escavao; mas, principalmente, porque renem uma grande complexidade construtiva. Uma parede implica em materiais e sistemas construtivos, espao tridimensional e conhecimentos tcnicos. Essa escolha, no entanto, no limita o mtodo, pois uma vez comprovada a sua utilidade cientfica, ser possvel, com alguns ajustes nos procedimentos operacionais propostos, ampliar a variedade de partes da edificao e de sistemas construtivos a serem analisados. Como, a partir desse trabalho, o objetivo conhecer a comunidade atravs das estruturas de valor histrico/cultural, no se fez necessrio o estudo do seu comportamento mecnico. Enquanto o mtodo proposto possibilita conhecer a cultura construtiva de uma comunidade e assim permite a elaborao de um projeto arquitetnico que valorize as partes da edificao e conseqentemente a sua comunidade; o estudo do comportamento mecnico etapa complementar no processo de restaurao permitindo que o projeto elaborado seja executado e que a estabilidade mecnica da construo seja mantida. Para obteno dos dados desejados, foram utilizados mtodos quantitativos provenientes de outras disciplinas como a arquitetura, engenharia, geologia, mineralogia, qumica, fsica. Ao se observar uma estrutura de alvenaria, os conhecimentos da arquitetura e da engenharia permitem analisar o espao tridimensional, os sistemas construtivos e identificar os conhecimentos tcnicos utilizados; observando-a na escala dos materiais construtivos, so os conhecimentos geolgicos e mineralgicos que permitem aprofundar o olhar e evidenciar os conhecimentos tcnicos usados na preparao dos materiais e a prpria matria-prima utilizada. Para auxiliar essas anlises, so os mtodos quantitativos que vo permitir identificar grupos de materiais e de alvenarias e tcnicas de preparao como, por exemplo, os arqueomtricos. Atravs dos dados levantados, podem ser identificados tipos de alvenarias. Cada tipo representa um conjunto de cadeias operatrias, ou seja, materializam em si materiais construtivos, mo-de-obra e instrumentos. A partir do reconhecimento das cadeias operatrias envolvidas na construo de um edifcio, possvel descrever o modus construendi de uma comunidade. Faz parte das diversas maneiras de construir, os conhecimentos tcnicos, tais como, sistemas de medio, utilizao de ferramentas e 27

escolha e agenciamento dos materiais, seguindo um projeto pr-concebido e uma programao de atividades. A verificao da aplicao desse mtodo foi feita a partir da sua aplicao a uma construo existente. O estudo de caso foi feito na casa grande do Engenho Monjope, em Igarassu, PE. A escolha dessa estrutura construda fundamentou-se na grande variedade de paredes construdas com diferentes alvenarias e na disponibilidade de observao de seus sistemas construtivos. Foram identificados vinte e trs grupos de alvenarias, utilizando rochas e tijolos como materiais construtivos e argamassa como material ligante.

28

Captulo 1. FUNDAMENTAO

TERICA

E

REFERENCIAIS

METODOLGICOSOs trabalhos arqueolgicos de enfoque processualista, tambm chamado enfoque processual-funcionalista18, tm a tendncia de produzir estudos cujo foco est na dimenso espacial da edificao e no na cultura da comunidade. Mas no era esse o interesse cientfico dos arquelogos que apresentavam essa tendncia. A proposta dessa nova arqueologia foi ser uma arqueologia explicativa interessada em compreender quais foram os motores de transformao da sociedade, deixando para trs o carter descritivo e historicista das arqueologias mais tradicionais19. E a anlise espacial foi uma das inovaes incorporadas por esse enfoque20. Assim sendo, como explicar a existncia de trabalhos sobre estruturas em alvenaria elaborados no mbito do enfoque processual-funcionalista, que se encerram na descrio do espao tridimensional, da funo e das cronologias de construo da edificao ou do stio? 1.1 CRTICA TENDNCIA TERICA PROCESSUAL-FUNCIONALISTA

Na primeira metade do sculo XX, a arqueologia do processo surgiu no mbito de uma sociedade norte-americana que queria compreender as causas do conflito estabelecido entre as classes sociais. Essa sociedade buscava o fim da explorao entre as classes e o bem estar social. Dcadas depois, a partir de 1960, a sociedade se modificou e passou a buscar a manuteno daquela condio de explorao das classes mais favorecidas sobre as classes menos favorecidas.A partir das correntes tericas materialista e funcionalista, base do paradigma moderno que se formava, o comportamento humano passou a ser entendido como parte de um sistema social onde cada elemento ou subsistema tinha sua funo e era interdependente dos demais. Essa idia de sociedade harmnica, tendendo ao

O termo processual-funcionalista foi utilizado por Renfrew e Bahn (1991: p. 451) para diferenciar esse enfoque terico arqueolgico, desenvolvido na dcada de 1970, de outro enfoque desenvolvido na dcada de 1980, o processual-cognitivo.19

18

A tendncia terica processual-funcionalista tambm conhecida pelas seguintes denominaes: Arqueologia Processual, Arqueologia do Processo, Nova Arqueologia e New Archeologie. Gallay, 1986: p. 30.

20

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equilbrio, foi considerada pela arqueologia e projetada para o passado pelo novo enfoque processualista21. Essa mudana de paradigma produziu uma nova configurao disciplinar. A arqueologia recebeu influncias da escola filosfica do neo-positivismo lgico, da Teoria Geral dos Sistemas TGS de Ludwing Von Bertalanffy e, conseqentemente, dos estudos estatsticos e matemticos que vinham sendo praticados em outras disciplinas e do enfoque terico ecolgico-cultural em desenvolvimento na antropologia norteamericana22. A contribuio dessas proposies intelectuais estruturao da nova arqueologia ser apresentada a seguir. A influncia do neo-positivismo lgico arqueologia processual-funcionalista permitiu, principalmente, aproximar a disciplina arqueolgica de um conhecimento racional, cientfico e nomolgico como acontecia nas cincias exatas. At aquele momento, a produo arqueolgica baseava-se na observao de fenmenos particulares para induzir princpios gerais. A fragilidade das Leis estabelecidas a partir dessa abordagem empricoindutiva no permitia que a arqueologia fosse considerada uma cincia, pois qualquer exceo as faria perder seu valor23. Com essas novas discusses filosficas, passou-se a utilizar o mtodo hipottico-dedutivo atravs do qual a observao de fenmenos particulares passou a ser orientada por princpios gerais de carter hipottico. Essas hipteses e teorias, quando confirmadas pelos dados empricos, assumiam valor de Leis gerais vlidas para todas as culturas (carter nomolgico do conhecimento cientfico). E toda essa construo cientfica considerava vlida e necessria a realizao de comparaes entre diferentes teorias cientficas, mesmo que oriundas de enfoques e paradigmas distintos (interdisciplinaridade)24. Foi esse conjunto de elementos que permitiu aos trabalhos de enfoque processualista serem considerados como pesquisas cientficas, e no como estudos histricos de eventos singulares25. No entanto, apesar dos

21 22 23 24 25

Hernando, 2002. p. 15-46. Sanjun, 2005: p. 187. Martnez, 1990: p. 227. Sanjun, op.cit. p. 188. Trigger, 2004: p. 293.

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avanos, essa escola filosfica, ao sobrevalorizar os dados na sua capacidade de comprovar as hipteses formuladas, acabou dissociando teoria e prtica, o que dificultou a sua comprovao e o reconhecimento dos resultados alcanados. A partir da nova estruturao formal da disciplina, buscou-se ampliar a viso funcionalista de origem antropolgica, na qual a sociedade era formada por sistemas e que a mudana em um sistema promoveria mudana nos demais relao de causa e efeito. Os arquelogos dessa tendncia processual se apoiaram na TGS, que defendia um processo de realimentao entre os sistemas, ou seja, sugerindo a existncia de um processo dinmico e circular onde todo efeito a causa de uma nova transformao, num processo contnuo onde no h nem princpio nem fim definidos. Atravs da TGS, almejava-se tambm poder quantificar matemtica e estatisticamente o comportamento de cada sistema a partir de um mesmo conjunto de variveis que, depois de comparadas, permitiria a construo de um modelo de co-varincia. Esse modelo seria a verificao de como um sistema funcionava quando os demais componentes do sistema mudavam concatenadamente. A observao do funcionamento de um sistema em comparao com outros sistemas que permitiria ao arquelogo descobrir Leis gerais do comportamento humano26. Mas, segundo Sanjun, a TGS nunca foi aplicada na arqueologia utilizando todo o rigor matemtico proposto, apesar da sua inteno de ser um heurstico universal de anlise. Sua aplicao foi simplificada. Os sistemas e as variveis pr-identificadas eram muito gerais, dificultando sua contrastao e conseqente generalizao. No entanto, a influncia da TGS na disciplina arqueolgica levou os pesquisadores a seguirem as suas orientaes formais, permitindo que os trabalhos fossem considerados como pesquisas cientficas27. Finalmente, a contribuio do enfoque terico ecolgico-cultural arqueologia do processo, estava relacionada necessidade de aprofundar o conhecimento sobre os sistemas e subsistemas. Essa corrente de pensamento foi incorporada pela sua proposta de estudar as relaes da sociedade humana com o meio-ambiente a partir das transformaes tecnolgicas, demogrficas, sociais e econmicas, excluindo os sistemas

26 27

Martnez, op.cit. p. 243-245. Sanjun, op.cit. p. 189.

31

religioso, ideolgico e psicolgico. Ou seja, considerou a existncia de dois sistemas, um sociocultural, exclusivamente infra-estrutural, e um ambiental, que estariam interrelacionados dinamicamente. E defendeu que o meio-ambiente nem determinava nem limitava o comportamento sociocultural do homem, esse papel cabendo ao sistema sociocultural28. Pelo determinismo infra-estrutural, a sociedade se adaptava natureza atravs da tecnologia disponvel e pelo seu estgio de organizao socioeconmico29. Esse enfoque terico, ao excluir os aspetos superestruturais do sistema sociocultural, simplificou a complexa realidade do homem e, conseqentemente, limitou o alcance do enfoque processual-funcionalista. Apesar disso, umas das repercusses consideradas mais significativas da ecologia-cultural foi o surgimento da arqueologia espacial, atravs da qual se acreditava que um stio refletia diretamente a relao entre um grupo humano e a natureza e auxiliaria na identificao dos motores da transformao da sociedade30. A Arqueologia Espacial, ou anlise espacial arqueolgica, so mtodos que esto diretamente relacionados identificao e registro da localizao dos vestgios encontrados. Segundo Sanjun, seu objetivo ... recuperar a informao relativa s relaes espaciais arqueolgicas e o estudo das conseqncias espaciais da atividade humana do passado dentro e entre contextos e estruturas...31

. Esse tipo de anlise foi considerado fundamental para

investigar a implantao de uma sociedade ou cultura em um ambiente, uma vez que permitiu observar a distribuio das ocupaes por funo e as suas fases cronolgicas. A arqueologia espacial foi dividida arbitrariamente em trs nveis, a fim de facilitar a investigao: uma escala micro, cujo foco est nas estruturas e contextos individuais, como uma casa ou uma tumba, uma escala semi-micro, que observa stios onde se

A corrente determinista considera os subsistemas do meio-ambiente (geologia, clima, fauna, flora) como responsveis pelas diferentes configuraes scio-culturais do homem. E o possibilismo, defendia que o meio-ambiente impunha limites formao e evoluo cultural do homem (SANJUN, 2005. p. 190-191). O determinismo infra-estrutural, por sua vez, defendeu que a causa da mudana social e cultural estava na esfera econmico-subsistencial e tecnolgica (SANJUN, 2005. p. 194).29 30 31

28

Sanjun, op.cit. p. 190-191. Idem. p. 195-196. Ibiden: p. 201.

32

desenvolvem atividades coletivas, e uma escala macro, que busca compreender as relaes entre stios e entre um stio e o meio-ambiente32.Desde o momento em que a influncia da Ecologia-Cultural se associa arqueologia surge todo um novo mbito disciplinar, todo um novo conjunto de problemas e perguntas que a arqueologia nunca havia feito e que a partir desse momento deve responder. A investigao arqueolgica das pautas de assentamentos se converte numa ferramenta fundamental de anlise da ecologia humana.33

Foi a partir da anlise espacial arqueolgica que a dimenso espacial passou a ser considerada nos estudos arqueolgicos. At ento, o espao era considerado um cenrio imutvel onde se desenvolvia a atividade humana34. Em trabalhos anteriores dcada de 70, a utilizao de mapas tinha o objetivo de ilustrar a posio e rea geogrfica das culturas identificadas e a circulao de bens entre os grupos culturais35. O espao no era objeto de anlise, era apenas o lugar onde se encontravam os vestgios arqueolgicos. No entanto, apesar da construo terico-metodolgica inovadora, a Arqueologia do Processo no foi capaz de explicar os motores da transformao social. Segundo Martinez, as causas poderiam ser trs: ou pela excessiva generalizao dos enunciados tornando difcil a comprovao das hipteses, inclusive fazendo com que houvesse distintas explicaes para uma mesma configurao de registros arqueolgicos (equifinalidade). Ou, porque essa busca por Leis Gerais j partiu da considerao de que a sociedade humana um sistema mecnico e homogneo, ignorando toda a sua complexidade. Ou, ainda, pela dificuldade de se estabelecer uma correlao entre fenmenos, mesmo quando h coincidncia temporal e associao espacial36. No caso especifico das pesquisas elaboradas sobre estruturas arquitetnicas no mbito da arqueologia processual-funcionalista, a impossibilidade de explicar os motores da

32 33 34 35 36

Ibiden. p. 196 e 201. Ibiden. p. 196-197. Borrazs: 2002. p. 16. Alarco: 1996. p. 14. Martnez, op.cit. p. 254-257.

33

transformao social limitou os resultados descrio da dimenso espacial da edificao. Esses trabalhos se encerram na descrio da organizao e funo dos espaos e na sua evoluo cronolgica. 1.2 A TENDNCIA TERICA PROCESSUAL-COGNITIVA E O ENFOQUE TECNOLGICO

Para disponibilizar uma ferramenta cientfica que, diferentemente da proposta do enfoque processual-funcionalista, permita conhecer aspectos do comportamento humano, foram eleitos eixos de reflexo da abordagem processual-cognitiva. E para que essa ferramenta seja um meio confivel de reconstituio do passado, optou-se por aprofundar o enfoque tecnolgico das estruturas objeto de estudo. Segundo Gallay, esse enfoque possvel de ser aprofundado e apresenta um grau mais baixo de incertezas dos resultados. 1.2.1 A TENDNCIA TERICA PROCESSUAL-COGNITIVA

A arqueologia processual-cognitiva um enfoque terico-metodolgico desenvolvido a partir da dcada de 80 cujo objetivo estudar as maneiras de pensar dos homens do passado a partir dos vestgios materiais. Esta tendncia defende que a cultura material tambm representa a maneira como os homens do passado compreendiam seu mundo e que, atravs da verificao de como esses smbolos eram utilizados, possvel compreender alguns aspectos na sua mente37. Sero apresentados, abaixo, os princpios que orientaram a sistematizao do mtodo de anlise de alvenaria. Dados e teorias no foram tratados separadamente. A comprovao de uma hiptese deve ser feita empiricamente ou fundamentada teoricamente, mas no h autonomia entre o limite do emprico e do plausvel, pois no se pode observar a realidade para coletar dados sem marcos de referncias que, por sua vez, so fornecidos pelas teorias. Segundo Renfrew, os fatos modificam a teoria e a teoria usada para determinar os fatos38.

37 38

Renfrew, 2001.p 3-11 Renfrew, 1993: p. 452.

34

Buscou-se tambm evitar a sobrevalorizao dos elementos da cultura material, significando dizer que um grupo de vestgios no suficiente para representar toda uma sociedade. Foi, portanto, preciso compreender a arqueologia como uma disciplina que trabalha com limitaes, uma vez que parte de elementos vestigiais de um tempo que no mais existe39. indiscutvel, no entanto, que os mtodos de coleta de vestgios so considerados minuciosos e exaustivos, e que as tcnicas de classificao utilizam modelos matemticos complexos e sofisticados e computadores de ltima gerao40. Porm, essa constatao no elimina o reconhecimento e a necessidade de aprimoramento desse aparato metodolgico41. E tambm no exclui o fato de que os vestgios que so estudados pelos arquelogos so apenas parte dos vestgios encontrados, que so parte daqueles que se conservaram, que, por sua vez, j so parte da cultura material das sociedades passadas. Pode-se concluir, portanto, que apesar das modernas tcnicas de coleta e mtodos de registro, o arquelogo sempre estar trabalhando com uma pequena frao da cultura material de um grupo humano do passado. E, por isso, deve-se sempre questionar sobre a capacidade daqueles vestgios de representarem determinada cultura42. Considerando que, muitas vezes, a ambio dos pesquisadores pode ir alm dos limites do emprico, nesse estudo, pressupem-se que as questes a serem levantadas possam apresentar respostas. Nos casos, por exemplo, em que os dados evidenciarem comportamento humano, considerar-se- que se trata apenas de alguns aspectos desse comportamento, no da sua totalidade. Segundo Gallay, no podemos fazer com que os vestgios revelem tudo o que quisermos (1986. p. 7). Ressalta-se, ainda, o fato das hipteses terem sido formuladas enquanto argumentos lgicos, para que pudessem ser comprovadas. Do ponto de vista prtico, um argumento lgico obedece a trs requisitos: o primeiro, considerar o limite da capacidade

39 40

Gallay. op.cit. p. 5.

Deve-se fazer referncia, no entanto, que na realidade da arqueologia, a coleta minuciosa e exaustiva ainda deixa de lado os vestgios que no fazem parte do interesse direto do pesquisador. Como afirma Gallay, s vemos aquilo para o qual nos preparamos para ver... (GALLAY, 1986: p. 6) Esse aprimoramento constante; busca diminuir o carter destrutivo da arqueologia e aumentar tanto a possibilidade de coletar vestgios antes incgnitos, como de melhorar os resultados da obteno de dados a partir dos vestgios. Gallay, op.cit. p. 36.

41

42

35

informativa dos dados por reconhecer que h aspectos da existncia humana que esto perdidos, e no mais podero ser conhecidos43

. O segundo, estar relacionado

diretamente a dados que podem vir a comprov-los; e, o terceiro, estar relacionado, pela lgica, a outros argumentos que sejam diretamente comprovados por dados44. Seguindo essa diretriz, procurou-se evitar interpretaes de dados, ou seja, evitar explicar sem poder comprovar. Segundo os pesquisadores da tendncia terica processual-cognitiva, numa pesquisa cientfica no so os dados que validam um argumento, mas a lgica com que este foi construdo e o significado que os dados lhe do45. Finalmente, considerou-se a possibilidade de generalizar aspectos do comportamento humano, como defende a tendncia processual-cognitiva. Segundo James Bell, a generalizao provm de um enunciado universal que pode e deve ser elaborado, desde que possa ser comprovado. A diferena est na quantidade de implicaes comprovveis. Quanto mais geral o argumento, maior o nmero de implicaes. Portanto, generalizaes foram feitas quando estavam disponveis dados suficientes para cobrir todos os campos abrangidos pelo enunciado46. Contudo, a partir dos princpios apresentados acima, foi necessrio apresentar um corpo de conhecimentos estruturados para orientar a anlise dos vestgios nos seus contextos, considerando que os dados no tm a capacidade de falar por si s. Ou seja, os dados foram confrontados com referncias externas a eles47. Segue abaixo a base de conhecimento utilizada.

43

Alain Gallay exemplificou essa afirmao descrevendo uma situao em se encontrou um depsito de grandes lminas de slex e que a partir dos dados seria possvel saber aspectos da tcnica de lascamento que pode fornecer elementos para discutir sobre redes de troca comercial e at mesmo sobre especializao do trabalho, mas que os vestgios no poderiam dizer nada sobre a identidade tnica do grupo ou individuo, nem sobre a natureza do comercio nem suas supersties ou sobre o idioma falado (GALLAY, 1986: p. 7). Bell, 2001: p. 17-19. Renfrew, op.cit. 2001: p.6. Bell. op.cit. p. 19-20. Gallay. op.cit. p. 5.

44 45 46 47

36

1.2.2

PROCESSAMENTO DE DADOS NA ABORDAGEM PROCESSUAL-COGNITIVA

Para o desenvolvimento do trabalho, partiu-se do pressuposto de que possvel interpretar o comportamento humano atravs dos smbolos48. Segundo Renfrew, ... um smbolo algo que significa ou representa algo mais: um sinal visvel de uma idia, ou de qualidade, ou de outro objeto49. Assim, para os arquelogos processuais-cognitivos, o homem tem uma especial habilidade de construir smbolos, e estes materializam a compreenso que as sociedades passadas tinham do seu mundo. Portanto, estudar os smbolos pode fornecer dados sobre o funcionamento da mente do homem e tambm sobre as suas aes. Assim, a anlise feita a partir da observao de como os smbolos foram usados, diferentemente da anlise feita na abordagem terica ps-processual, onde os smbolos tambm foram utilizados como dados de anlise cujo objetivo era conhecer o seu significado. O carter subjetivo dos resultados dos trabalhos ps-processuais entrou em conflito com os critrios objetivos do mtodo cientfico, e, nesse sentido, foi muito criticado50. No mbito deste trabalho, foi utilizada uma srie de categorias de comportamento humano desenvolvida pelos arquelogos da tendncia processual-cognitiva para orientar a anlise dos smbolos. Essas categorias tm o objetivo de reunir em classes de comportamento um conjunto de smbolos que apresentam aspectos especficos e comuns51. Dentre as seis categorias propostas, trs foram consideradas para a anlise dos dados espaciais e construtivos das estruturas em alvenaria. A primeira categoria considerada foi a do comportamento humano projetivo, ou seja, quando se verifica uma intencionalidade na preparao do smbolo traduzida numa estrutura coerente de aes verificadas. Um dos exemplos utilizados para esclarecer essa categoria de comportamento a atitude mental que orienta um arteso a realizar um objeto. A segunda categoria utilizada, foi a do comportamento humano planejador. Os smbolos que refletem essa categoria demonstram a existncia de uma programao para

48 49 50 51

Renfrew, op.cit. 1993. p. 453. Renfrew. op.cit. 2001: p.5. Renfrew, p.cit. 2001: p.5-6.

So seis as categorias de comportamento humano estabelecidas no mbito da tendncia terica processual-cognitiva: projetivo, planejador, medidor, social, sobrenatural e representativo (Idem. p.6).

37

a realizao da ao. A incluso da idia de tempo nessa categoria a diferencia da categoria anterior. Pode-se identificar uma reflexo sobre as aes a serem feitas e a programao do encadeamento dessas aes: o planejamento do trabalho a ser realizado. Finalmente, a ltima categoria considerada foi a do comportamento medidor, ou seja, que cria instrumentos e os utiliza para realizar medies. Essa categoria, segundo Renfrew, tem um carter especial na arqueologia processual-cognitiva, pois requer a preparao dos instrumentos, a realizao de aes seqenciadas e repetitivas, e ainda pressupe um pensamento quantitativo e a prtica de realizar medies. Os instrumentos referidos so aqueles necessrios para identificar peso, distncia, volume, tempo etc. 52. As categorias apresentadas acima vieram ao encontro da proposta de aprofundar a anlise sobre as estruturas em alvenaria. Elas propiciaram a leitura dos dados construtivos enquanto smbolos do comportamento humano. 1.2.3 O ENFOQUE TECNOLGICOE A

ANLISE

DAS

ESTRUTURAS

EM

ALVENARIA Os vestgios da cultura material, segundo Gallay, podem ser divididos em quatro categorias: habitao em sentido amplo; objetos manufaturados para permitir subsistncia, defesa ou status; detritos diversos da atividade tcnico-econmica e sepulturas e monumentos funerrios. E cada um desses grupos pode ser estudado a partir de enfoques como tecnologia, economia, demografia, sociologia, crenas e smbolos. No mbito deste trabalho, a categoria que est sendo estudada a habitao e o enfoque o tecnolgico. Ainda segundo Gallay, dos enfoques possveis de serem estudados h aqueles mais acessveis de aprofundamento e outros menos acessveis. O enfoque escolhido para ser aprofundado neste trabalho, o tecnolgico, considerado um dos enfoques mais acessveis. No extremo oposto est o enfoque simblico. Segundo Gallay, ... a abordagem tecnolgica no coloca problemas insuperveis, e no de se espantar que o nmero de estudos tratando os fatos materiais sob este ngulo seja to elevado na

52

Ibiden. p.6.

38

literatura arqueolgica53. A abordagem tecnolgica apresenta um grau de incerteza menor sobre os resultados alcanados em comparao com a abordagem religiosa ou simblica. O princpio da incerteza est diretamente relacionado possibilidade de um vestgio ser suficiente para permitir a reconstituio total do passado54. Sobre o enfoque tecnolgico importante ainda ressaltar a existncia de uma ntima relao entre tcnica, matria-prima e Leis da fsica. Essa relao propicia certa uniformidade de solues tcnicas que podem ser identificadas. Mas, apesar das regularidades, existem limites a serem obedecidos. Enquanto possvel, a partir da anlise, reconhecer qual ao foi executada na fabricao do material e qual o agente fsico utilizado, no se podem definir precisamente quais foram os gestos realizados e os instrumentos utilizados55. A constatao das possibilidades informativas do enfoque tecnolgico vem ao encontro do interesse em sistematizar um mtodo de anlise de estruturas em alvenaria a partir dos dados construtivos. Alm de a informao tecnolgica ser um dos aspectos presentes nos vestgios e de poder ser identificada, deve-se lembrar que no mbito da arqueologia histrica, as estruturas em alvenaria tm elevada capacidade de preservao. Desta feita, o mtodo vem no s preencher uma lacuna, mas utilizar dados disponveis, e pouco explorados, que oferecem elevada capacidade informativa. A anlise do enfoque tecnolgico possibilita conhecer a maneira como uma estrutura foi construda. Mas, muitas vezes numa mesma estrutura esto materializadas diferentes culturas construtivas. Nos casos em que uma estrutura em alvenaria apresentar mais de um modus construendi, essa diferena pode estar materializando uma mudana tecnolgica. No entanto, para identificar processos de transformao tecnolgica, preciso antes de tudo compreender a diferena entre tcnica e tecnologia.

53 54 55

Gallay, op.cit. p. 38. Idem. p. 51. Ibiden. p. 64.

39

1.2.4

MUDANA TECNOLGICA

Na histria do homem, a luta pela sobrevivncia da espcie comeou exigindo a utilizao do prprio corpo como instrumento de subsistncia e defesa. Com a percepo da possibilidade de intensificar seus sentidos e capacidades, o homem investigou, experimentou e transformou materiais em instrumentos. Para Mumford, os instrumentos foram desenvolvidos no s para incrementar as capacidades mecnicas e sensrias do corpo humano, mas tambm para produzir e canalizar energia para o trabalho e para trazer ordem e regularidade sua ao56. Esse processo de experimentao e investigao denominado Tecnologia. Seu objetivo modificar uma ao ou objeto e, para isso, parte de um comportamento racional de observao e de realizao de testes57. Segundo Bernal, o homem primitivo enquanto realizava suas atividades utilizando instrumentos, estabelecia as bases da Mecnica e da Fsica. A primeira utiliz