Análise Comparativa nas Odes Horácio, original e tradução inglesa.

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A partir da tradução de John Conington para o inglês da Ode XIV do Livro I dos Carmina de Horácio, comparada ao original latino, pretende-se observar as semelhanças e diferenças nos dois poemas.

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARABACENTRO DE CINCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTESDEPARTAMENTO DE LETRAS CLSSICAS E VERNCULASCURSO DE LICENCIATURA EM LETRAS (HABILITAO EM CLSSICAS)DISCIPLINA: INTRODUO AOS ESTUDOS DA TRADUO LATINAPROF. DIGENES MARQUESALUNO: Jaynno Fernando Silva Lopes MATRCULA: 11313617

1 Exerccio Avaliativo de Introduo aos Estudos da Traduo Latina

- Anlise comparativa dos versos 5-12 da elegia I dos Amores de Ovdio

Entre os trechos em questo do poema I do Livro I dos Amores de Ovdio e a sua traduo por Lucy Ana de Bem, h algumas diferenas pertinentes. O poema de Ovdio construdo em dstico elegaco e trata da converso do eu elegaco de poeta pico para poeta elegaco, deixando de cantar as armas e violentas guerras para cantar o amor que reina no peito vazio. A traduo de tal poema por Lucy Ana de Bem caracteriza-se por busar preservar o sentido, em detrimento da forma; apesar de a tradutora no ter hesitado em preserv-la quando no houvesse comprometimento do sentido.Nessa anlise comparativa entre o texto original e a traduo, sero considerados os aspectos morfossintticos e seus impactos semnticos.

Comeando pelo verso 5, pode-se observar o incio do discurso do eu elegaco a Cupido quando esse lhe roubou um p do verso inferior ao primeiro:

Quis tibi, saeue puer, dedit hoc in carmina iuris?Cruel menino, quem te deu este direito em poesia?

A traduo tem quase total correspondncia com o original. No entanto, preciso destacar a diferena no complemento do verbo dedit (deu) em Latim. Ovdio usa o acusativo neutro singular do pronome hic, haec, hoc, restringido pelo genitivo (adjunto adnominal restritivo) iuris, como objeto direto de dedit. Na traduo, ao contrrio, tem-se por ncleo do objeto direto o substantivo direito, caracterizado pelo pronome demonstrativo este, como adjunto adnominal do substantivo.

Na prxima orao, a do verso 6, h, na traduo de Lucy, diferenas claras do original.

Pieridum uates, non tua turba sumus.Vate das Pirides, no sou da tua turma

Primeiramente, a tradutora parece interpretar o verbo sumus como um plural potico, ou seja, apesar da forma de 1 pessoa do plural, o verbo estaria se referindo a uma nica pessoa, como pode ocorrer em Latim. Assim, ela traduz por sou o verbo que em Latim est no plural.Outra observao pertinente que se deve fazer sobre a interpretao de Pieridum uates como vocativo singular, referindo-se a Cupido. Essa interpretao perfeitamente possvel pela estrutura morfossinttica do grupo nominal; todavia, necessrio ressaltar que o mais razovel dentro do contexto que Ovdio esteja se referindo ao grupo de vates das Pirides (ou seja, os poetas picos) do qual faz parte at ento o eu elegaco. Isto , Ovdio estaria dizendo: ns somos vates das Pirides, no somos tua turba, Pieridum uates como predicativo do sujeito, no como vocativo.Considerando essa interpretao, a traduo do verso se distanciaria expressivamente do seu sentido original.

No perodo seguinte, ou seja, nos versos de 7 a 8, a tradutora no preserva o tempo verbal do texto original de Ovdio.

Quid, si praeripiat flauae Venus arma Mineruae, / uentilet accensas flaua Minerua faces?E se Vnus roubasse as armas da loura Minerva, e a loura Minerva avivasse tochas ardentes?

O perodo composto por trs oraes. A primeira tem o verbo sum implcito e a orao principal: quid sit. Lucy deixa implcita toda essa orao, acrescentando a conjuno e que, em unio com a conjuno se numa orao interrogativa j subentende, em Portugus, a orao o que seria?. Nas oraes subordinadas desse perodo, Ovdio utiliza os verbos praeripio e ventilo conjugados na 3 pessoa do singular do presente infectum do subjuntivo. Lucy, por sua vez, utiliza o passado infectum do subjuntivo para traduzir ao Portugus. No entanto, a opo pelo imperfeito do subjuntivo se d pela escolha da conjuno se na traduo, visto que, em Portugus, no seja habitual a utilizao do presente do subjuntivo com esta conjuno. Essa opo pelo imperfeito, contudo, no significa um distanciamento do sentido do original, j que Ovdio utiliza o presente do subjuntivo no para marcar o tempo da ao, mas para marcar a idia de (im)possibilidade, prpria do modo subjuntivo. No mais, a traduo preserva, na medida da equivalncia entre as lnguas de partida e chegada, as caractersticas de morfologia, sintaxe e o sentido do original.

Os versos 9-10 so traduzidos por Lucy com distanciamento das formas originais, mas sem traio do sentido.

Quis probet in siluis Cererem regnare iugosis, / lege pharetratae Virginis arua coli?Quem aprovaria o domnio de Ceres pelas selvas montanhosas / E os campos cultivados pela lei da virgem sagitria

O verbo principal do perodo probet, conjugado na 3 pessoa do singular do presente infectum do subjuntivo. Mais uma vez, a utilizao do presente do subjuntivo no objetiva marcar um tempo cronolgico da ao, mas dar-lhe sentido de uma enunciao de (im)possibilidade. Com efeito, Lucy respeita esse sentido traduzindo o verbo para o futuro do pretrito aprovaria. Tambm preservando o sentido, em detrimento da forma, Lucy traduz os complementos do verbo probet como nomes: regnare como domnio e arua coli como campos cultivados. Em Latim, como se pode ver, esses complementos so oraes subordinadas substantivas objetivas diretas reduzidas de infinitivo. Traduzindo essas oraes reduzidas por nomes, era natural que o sujeito acusativo Cererem passasse a ser adjunto adverbial restritivo de domnio, e que o infinitivo passivo coli se tornasse um adjetivo predicativo do objeto campos e, assim, o tambm sujeito acusativo arua se tornasse um simples objeto direto de aprovaria.

Nos dois ltimos versos (11-12), a traduo de Lucy extremamente fiel s formas e faz a devida adaptao s formas correspondentes do Latim, inexistentes em Portugus.

Crinibus insignem quis acuta cspide Phoebum / instruat, Aoniam Marte movente lyram.Quem proveria Febo, insigne pelos cabelos, com aguda lana, / enquanto Marte toca a lira ania?

Neste perodo, Ovdio usa uma estrutura de ablativo absoluto com particpio presente, o que no usual em Portugus, vista a no abundncia de particpios presentes nesta lngua. A partir disso, compreende-se o porqu de Lucy ter usado a orao desenvolvida com a conjuno enquanto, preservando a idia de simultaneidade da orao reduzida de particpio presente do Latim.

Portanto, a traduo dos versos 5-12 pode ser considerada relativamente fiel ao texto original de Ovdio, j que, na maioria das vezes, atm-se s formas presentes na elegia I. Apenas no verso 6 houve um distanciamento do original capaz de gerar confuso de sentido.