ANÁLISE CONCEITUAL DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL · ANÁLISE CONCEITUAL DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL 1.1 As...
Transcript of ANÁLISE CONCEITUAL DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL · ANÁLISE CONCEITUAL DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL 1.1 As...
9
ANÁLISE CONCEITUAL DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL
1.1 As relações Homem Mundo Natural
É indiscutível que as atitudes do homem para com a natureza e,
consequentemente, as suas ações sobre e no meio ambiente são produtos da sua
trajetória histórica variando, portanto, nas diferentes épocas, regiões e culturas. Não
obstante sermos produtos de nossa época e filhos do nosso tempo, não vivemos apenas
em nosso próprio tempo, pois também carregamos conosco a nossa história. Assim, a
tradição cultural é um dos determinantes da nossa postura e ação em relação ao meio
ambiente, aqui entendido não apenas como o local onde os seres vivos vivem, mas
como o conjunto de fatores nos qual o ser humano está envolvido e que influem na sua
vida: modos de vida social, familiar, de trabalho, condições de moradia, bem como os
elementos bióticos e abióticos que o rodeiam em um espaço e tempo concretos.
Na atualidade as abordagens para a mudança ambiental vão desde se pode ser
feito, faça-se até a filosofia da volta à natureza dos mais extremados ecologistas. O que
importa no momento, não é classificá-las como corretas ou não, mas, sim, reconhecer
que afetam significativamente o modo como o homem procura se adaptar ou moldar o
seu ambiente. É importante, portanto, que se conheça como se efetiva a interação
Homem-Natureza numa perspectiva histórica para que se possa separar o joio do trigo,
adotando conscientemente e de modo responsável os valores fundamentais que deverão
orientar não só os planos de desenvolvimento, mas possibilitar uma nova consciência,
capaz de transformar o modelo de civilização vigente, a partir de uma opinião crítica em
relação ao mundo em que vivemos e aos valores estabelecidos por gerações anteriores.
O quadro a seguir apresenta, resumidamente, a trajetória histórica das atitudes e
ações do homem sobre e no meio ambiente, fruto da tradição cultural das diferentes
épocas, regiões e culturas, suas conseqüências, o surgimento de movimentos de defesa
do meio natural e da educação ambiental como processo educativo que visa à mudança
na percepção das relações entre a sociedade e natureza.
10
Quadro 1
Atitudes e ações do homem sobre e no meio ambiente: trajetória histórica
Evolução das atividades e
organizações humanas
Percepção da natureza relações entre homem e
demais elementos do ambiente: conseqüências Defesa do meio
natural/Educação Ambiental
- Estágio de coletores,
pescadores e caçadores.
(aproximadamente
27.000 a.C.)
- Descoberta do fogo
(Paleolítico -
aproximadamente 9.000
a.C.) e introdução da
agricultura (Neolíticos
aproximadamente 2.500
a.C.)
- Fundação das
primeiras cidades
(aproximadamente
3.000 a.C.)
- Antigüidade (400a.C
476 d.C.)
- Surgimento da
Filosofia (600 a..C.)
Filósofos pré-socráticos
(filósofos naturais -
séculos XVII e XVI
a.C.)
- Sócrates (470-399a.C.)
- Filósofos pós-
socráticos: Platão (427-
-Adaptação ao meio; não havia destruição massiva das
plantas nem extermínio de animais. Consumo do
estritamente necessário fornecido pelo meio natural.
Respeito pela natureza decorrente do contexto de
igualdade com animais e plantas.
- Alteração do mecanismo de sucessão ecológica
impedindo os ecossistemas de alcançarem o clímax.
- Início do extermínio de várias espécies animais.
- Domínio sobre as cadeias tróficas mediante a
domesticação de animais e consumidores secundários.
- Utilização como fonte de energia, da queima da lenha;
emprego da irrigação artificial. Degradação dos
ecossistemas naturais.
- Aumento da demanda de água, condições sanitárias
insatisfatórias, baixo nível de higiene, desenvolvimento
de focos de epidemia, poluição do ar.
- A magia como forma de interpretar o mundo.
- Nova forma de pensamento: não mais atrelado aos
mitos, mas sim, construído sobre a experiência e a razão.
Ruptura entre filosofia e religião. Busca de explicações
materiais para os processos da natureza.
O homem, e não mais a natureza, passou a ser o centro do
interesse dos filósofos. Sofistas: o homem é a medida de
todas as coisas. Isto é, o certo e o errado, o bem e o mal
devem ser avaliados em relação às necessidades do
homem.
- A capacidade de distinguir entre o certo e o errado está
na razão e não na sociedade.
- A morada da razão é a alma imortal do homem.
- As coisas existentes dividem-se em dois grupos: as
11
347ªa.C.), Aristóteles
(384-322 a.C.).
- Concepção judaico-
cristã
- Renascimento (fins do
século XIV
século
XVII)
- Desenvolvimento do
método científico
(método empírico
séc.
XVII) Bacon, Descartes,
Newton: fundadores do
paradigma mecanicista
- Mercantilismo (séc.
XV-XVIII)
Capitalismo comercial e
industrial
- Revolução Industrial
coisas inanimadas e as criaturas vivas. O homem está no
alto da escada porque possui uma centelha da razão
divina. Deus é o ponto mais alto. Plantas e animais foram
criados por serem necessárias aos animais e estes, por
serem necessários ao Homem. O mundo está destinado ao
benefício do homem. Separação entre homem e natureza.
Abismo entre Deus e natureza.
- Homem feito à imagem de Deus.
- O Homem é o centro de interesse e não Deus. O Homem
não existe somente para servir a Deus, mas, para ser ele
próprio, desfrutar a vida. A natureza é vista como algo
divino. O mundo é algo que deve ser conquistado.
Grandes descobrimentos e grandes impactos ambientais:
aumento do ritmo do desaparecimento de espécies
animais, danos irreparáveis à flora; introdução de animais
exóticos, aceleração dos processos de erosão e
desertificação. Início do processo de deterioração
ecológica.
- Revolução tecnológica; aparecimento de novas
invenções. O Homem se liberta das condições impostas
pela natureza
deixa de ser apenas uma parte dela. A
natureza passou a ser algo que poderia e deveria ser usado
e explorado. Intervenção do Homem na natureza e
controle desta em seu benefício. Efeitos negativos na
modificação da Biosfera à medida que as técnicas foram
se tornando mais sofisticadas.
A ciência como facilitadora da soberania do homem. O
conhecimento como facilitador da dominação e
transformação da natureza. Superioridade do Homem. O
homem está fora da natureza e é autônomo:
Antropocentrismo.
- Apropriação privada da terra, da água e dos recursos
naturais com o objetivo de sua transformação em
mercadoria e o seu uso como fator gerador de lucros,
rendas e capital.
- Os recursos naturais passam a ser considerados matéria-
prima para as máquinas, fonte de riqueza e lucros.
- Criação, nos Estados
Unidos, do 1º
movimento
ambientalista (1626).
12
(iniciada ao final do
século XVIII)
- Iluminismo (século
XVIII)
Kant
- Romantismo (início
em fins do século
XVIII)
- Naturalismo (século
XIX e XX)
Marx, Darwin (séc.XIX)
e Freud (Séc.XX).
- Existencialismo
Sartre (séc. XX)
- Ecofilosofia (séc. XX)
- Ecologia profunda
(séc.XX)
- Ecologia social
(séc.XX)
- Eco-socialismo /
Marxismo (séc. XX)
Exploração desenfreada dos recursos naturais
ocasionando alterações profundas no meio ambiente e
acelerada degradação ambiental.
- O Homem conquista a natureza e dela extrai poder e
riqueza. A razão conquistará a natureza. Nossa razão
prática é que nos diz o que é certo e o que é errado no
campo da moral. Ética do dever.
- O amor pela natureza. Panteísmo.
- O Homem é parte da natureza.
- Não existem valores ou regras eternas a partir das quais
podemos nos guiar. Nossas decisões e escolhas são de
nossa única responsabilidade.
- As relações entre o Homem e a natureza encontradas na
civilização ocidental não são corretas do ponto de vista
ambiental.
- Enfoque biocêntrico: os minerais, vegetais e animais
têm os mesmos direitos que o Homem; a interferência
humana na natureza é demasiada.
- A acumulação capitalista é a força motriz da devastação
do planeta.
- A natureza é considerada apenas em virtude da ação
transformadora do Homem por meio do processo de
trabalho.
- No Brasil: Carta Régia
de 1797 alertava para a
destruição das matas
brasileiras causadas
pela exploração
indiscriminada.
- Na Inglaterra: recuperação do prestígio da vida rural; constatação da deterioração da vida urbana; reação contra o avanço das fronteiras agrícolas. - Difusão do movimento ambientalista na França, Espanha, Itália, Alemanha, Suécia e Suíça.
- Final do século XIX: fundadas sociedades de proteção à fauna e questionada a autoridade humana sobre os animais domésticos. - Criação, em meados do século XIX do 1º parque nacional do mundo
o do Yellowstone nos Estados Unidos. No século XX foram criados o Central Park e o Yosemite. - No Brasil (1850) D. Pedro II editou a Lei
13
601 proibindo a exploração florestal em terras descobertas. Criado o 1º parque brasileiro
Parque
Estadual da Cidade de São Paulo. - No Brasil (meados do século XX) fundadas as primeiras instituições ambientalistas. - Criada, na França, a União Internacional para a Conservação da Natureza (UINC). - Criação do Clube de Roma. - Surgimento da expressão educação ambiental. - Criação da expressão Desenvolvimento Sustentável. Criação do Programa sobre o Homem e a Biosfera. Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente (Suécia). Criação do Programa UNESCO/PNUMA (1974). Criação do Programa PNUMA/PIEA (1975). Seminário Internacional de Educação Ambiental (Belgrado). Conferência Intergovernamental de Educação Ambiental (Tbilisi). Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento (Rio 92). Conferência Internacional sobre o Meio Ambiente e Sociedade: Educação e Sensibilização para a Sustentabilidade (Thessaloniki).
Fonte: Collingwood (s.d. ); Fromm (1979); Vitale (1985); Thomas (1988); Acot (1990); Nogueira (1992); Brailovsky (1992); Bookchin (1993); Catalão (1993); Leff (1993); Giordan (1994); Grün (1994); Sessions, Naess (1995); Diegues (1996); Sciacca (1996); Colom (1998).
14
A respeito das informações contidas no Quadro 1 cabem algumas considerações
e complementações em vista dos objetivos e alcance mais imediato deste trabalho:
os ecossistemas da Terra começaram a ser alterados em grande escala com o
aparecimento do Homem. Na verdade, qualquer espécie que apareça provoca
mudanças nos ecossistemas. O que torna o aparecimento do homem um evento
diferenciado é a magnitude das mudanças por ele provocadas;
dois fatos destacam-se como propiciadores das mudanças nesse relacionamento
entre o homem e o meio natural: a descoberta do fogo e sua manipulação (no
período Paleolítico) e a introdução da agricultura (período Neolítico). Ao queimar os
bosques e florestas o homem alterou o mecanismo complexo da sucessão ecológica,
impedindo os ecossistemas de alcançar o equilíbrio
o clímax. Da mesma forma, o
uso do fogo, utilizado para facilitar a caça, auxiliou o extermínio de várias espécies
animais. O extermínio dos grandes vertebrados terrestres começou no Paleolítico e a
progressão do seu desaparecimento segue a progressão da colonização humana nos
diversos continentes: de sessenta e nove espécies de grandes mamíferos existentes
na Europa no Pleistoceno, quinze haviam desaparecido ao final do Paleolítico, com
indícios de intervenção humana em quase todos os casos. A maior parte destes
animais desapareceu por não terem podido se adaptar às mudanças que o fogo
provocou nos ecossistemas. (Brailovsky, 1992:32)
A introdução da agricultura, por sua vez, mesmo significando um salto
qualitativo na história humana (Brailovsky, 1992:34) provocou intensas alterações
no ambiente natural e nas relações do Homem com esse ambiente, tais como:
domínio sobre as cadeias tróficas aumentando, mediante a domesticação de
animais, os consumidores secundários; a utilização, como fonte de energia, a
queima da lenha, a energia humana e animal, a seleção de plantas para cultivo,
domesticação de animais, principalmente o gado, a fabricação de utensílios, o
aparecimento de formas diferenciadas de trabalho, a irrigação artificial e a
conseqüente desertificação, e, por fim, a fundação de cidades. Este último
acontecimento contribuiu sobremaneira para a alteração do meio ambiente:
aumento da demanda de água, condições sanitárias insatisfatórias, baixo nível de
higiene, desenvolvimento de focos de epidemia, poluição do ar, etc. A invenção do
arado de metal permitindo o cultivo em terrenos antes inacessíveis intensificou tais
15
alterações. Na América Latina a introdução da agricultura ocorreu
aproximadamente no ano 4000 a.C.
O entendimento da concepção ou percepção que os homens têm a respeito da
natureza e de si próprio é fundamental para a compreensão das suas relações com o
ambiente natural ao longo da sua história. Desse modo, o grande respeito que os
homens primitivos tinham pela natureza é justificado pelo fato destes perceberem-
se em contexto de igualdade com animais e plantas. Ao longo de milênios as
dúvidas que os homens tinham a respeito da vida e as dificuldades em explicá-las
favoreceram o aparecimento de uma enorme variedade de explicações mitológicas
para tentar fornecer respostas a tais indagações: os mitos, que passavam de gerações
a gerações. Neles sempre os deuses eram responsáveis pelos acontecimentos que
afetavam a vida dos homens
a alternância das estações do ano, uma grande seca,
enchentes catastróficas ou más colheitas. Ação e sentimentos humanos são
transferidos para a natureza ocorrendo, assim, a sua antropomorfização à medida
que os fenômenos naturais adquirem características próprias do Homem: ira,
vingança, amor (Ramos, 1996:36). Por volta de 600 aC surgiu na Grécia uma
forma completamente nova de pensar a Filosofia, não mais atrelada aos mitos mas
a um pensamento construído sobre a experiência e a razão;
adotando-se o critério da posição do Homem no ou em relação ao mundo natural é
possível distinguir-se duas grandes fases na história da idéia de natureza no
Ocidente: a pré-socrática e a pós-socrática numa clara referência a Sócrates. Os
filósofos da fase pré-socrática deram o primeiro passo na direção de uma forma
científica de pensar, ocasionando a ruptura entre a filosofia e a religião. Eram
pesquisadores naturais, isto é, interessavam-se sobretudo pela natureza e pelos
processos naturais, pelas transformações ocorridas na natureza e por isso
denominados de Filósofos Naturalistas. No período pós-socrático sucederam-se
vários e importantes filósofos e diversas concepções a respeito da interação
Homem-Natureza ou de sua dissociação, da superioridade do Homem e dos meios
para o exercício da sua soberania (Antropocentrismo);
as idéias vão se diversificando ao longo do tempo numa constante dialética e dessa
forma surgiram as mais recentes correntes filosóficas: o Naturalismo (ao final do
século XIX mas vigorando até recentemente) que considera como única realidade à
16
natureza e o mundo fenomenológico, sendo o Homem parte desta natureza. Marx,
Darwin e Freud são três importantes pensadores adeptos do Naturalismo.
Segundo Marx, o Homem é parte da natureza mas não pode ser confundido com
ela. Ele depende da natureza mas dela se diferencia na medida em que, pela sua
atividade
o trabalho, a transforma. A distinção/afirmação entre Homem/Natureza
significa a impossibilidade de isolar estes termos e de compreendê-los
separadamente. Assim a compreensão da natureza é também a compreensão do
Homem e vice-versa uma vez que é na relação Homem/natureza que o Homem se
transforma e transforma a natureza. (Ramos,1996:52), numa interação dialética.
Em seu naturalismo dialético Marx estabelece que o Homem se enfrenta com a
natureza com uma atitude de transformação e apropriação. Essa dominação, no
entanto, não deve ser entendida como uma atitude espoliadora e predatória da
natureza, mas sim como um manejo adequado do sistema natural visando a
satisfação das necessidades humanas. A preocupação marxista da natureza não é
pela natureza em si mas sim pelo fato desta ser o substrato de toda a atividade
econômica. (Bifani,1997:50)
Darwin adquiriu importância ao contestar o fato de se atribuir a Deus o ato da
criação. Em suas obras defende a teoria da evolução pela seleção natural e o
aparecimento do Homem como resultante da evolução de formas inferiores. Um
fato que diferencia o Homem dos outros seres vivos, no que se refere ao quesito
seleção natural (quem melhor se adapta ao ambiente tem mais chance de
sobreviver), é a sua versatilidade, isto é, a sua capacidade de adaptação às mais
diversas condições de vida.
Freud, por sua vez, afirma que o Homem não é apenas o ser racional como
defendem os racionalistas do século XVIII. Isso porque freqüentemente seus
pensamentos e ações são determinados pelo que ele chamou de impulso. E são
justamente esses impulsos que regem a vida do homem. Quanto à relação do
Homem com o meio, Freud explica que esta não ocorre sem dificuldades visto
existir, sempre, uma tensão ou conflito entre ambas as partes dada a exigência do
meio sobre o Homem.
O Existencialismo, por outro lado, tem como ponto de partida a situação
existencial do Homem. Dentre os existencialistas destaca-se Sartre que descreveu o
17
Homem urbano desse século. Para Sartre a inexistência de valores ou regras eternas
a partir das quais podemos nos guiar implica a responsabilidade única do Homem
no que se refere às suas decisões e escolhas. Não há possibilidade de
responsabilizarmos a natureza, a fraqueza humana, ou qualquer outra coisa pelas
nossas decisões. Sartre explica que tal fato não significa que nada tem sentido e
tudo é permitido. Para ele a vida deve ter um sentido; sentido este que deve ser
criado por nós. Existir é criar a sua própria vida. Sartre chamou a atenção para um
fato importante: as questões existenciais não podem ser respondidas de uma vez e
para todo o sempre. Uma questão filosófica é uma questão que cada geração, cada
ser humano tem de se colocar novamente em função das transformações e dos
novos problemas que surgem. Foram justamente os problemas ambientais surgidos
no nosso século que deram origem à Ecofilosofia cujos seguidores acreditam que as
relações entre Homem e natureza encontradas na civilização ocidental não são
corretas do ponto de vista ambiental pois não consideram a capacidade de
sustentação do Planeta. Questionam as idéias evolucionistas de Darwin,
justificando que a postura de senhores da natureza criada pelo fato de nos situarmos
no ápice da escala evolutiva pode ser fatal para a sua própria existência. Buscam
em outras culturas, possíveis respostas para seus questionamentos. Outros
pensadores, tanto ocidentais quanto orientais, também insatisfeitos com os rumos
das respectivas civilizações, acreditam na necessidade de um novo paradigma que
traga uma mudança radical ao nosso modo de vida. A visão holística é um exemplo.
Pierre Weil, presidente da Universidade Holística Internacional sediada em
Brasília, define a abordagem holística como sendo uma atividade conceitual e
vivencial de lançar pontes sobre todas as fronteiras e reducionismos humanos em
direção a uma convivência direta do real que transcende a parcialidade do meio. A
visão holística ultrapassa a dimensão cognitiva para abranger e transformar a
totalidade das vivências: seres inteiros compreendem o real com razão, sentimento,
corpo, emoção e êxtase (Catalão,1993:28).
nas últimas décadas três correntes de pensamentos originados nos movimentos
ativistas dos anos 60, procuram estabelecer princípios norteadores da relação entre
Homem e os demais elementos do ambiente. Diegues (1996:44-50) descreve-as: a
Ecologia profunda (deep ecology), assim denominada por Naess, filósofo
18
norueguês, em 1972, apresenta um enfoque preponderantemente biocêntrico, com
forte influência espiritualista, aproxima-se quase de uma adoração do mundo
natural. Seus princípios básicos são: os minerais, vegetais e animais têm os mesmos
direitos que o Homem; a vida humana e não humana têm valores intrínsecos
independentes do utilitarismo; os humanos não têm o direito de reduzir a
biodiversidade, exceto para satisfazer suas necessidades vitais; o florescimento da
vida humana e das culturas são compatíveis com um decréscimo substancial da
população humana. O florescimento da vida humana requer tal decréscimo; a
interferência humana na natureza é demasiada; as políticas devem, portanto, ser
mudadas, afetando as estruturas econômicas, tecnológicas e ideológicas. A ecologia
profunda enfatiza a necessária revisão crítica do humanismo e a definição de
princípios éticos que devem reger as relações Homem e o entorno. Não se trata mais
de proteger o Homem, em primeiro lugar, dele mesmo mas, sim, proteger a Terra
das ações humanas. A natureza deve ser preservada por ela própria e não por
possíveis contribuições ao bem-estar do Homem. O centro da deep ecology é sua
plataforma, criada por Naess e Sessions (1995), que consiste de inúmeros fatos e
normas inter-relacionados acerca dos humanos e as suas relações com o restante da
natureza. A plataforma é a descrição desse movimento social e deve atuar no sentido
de facilitar a união entre todos os que aceitam a importância do biocentrismo.
Estabelece oito pontos fundamentais que vão desde o reconhecimento da riqueza e
diversidade das formas de vida como valores em si mesmos e do fato de que os
humanos não têm direito de reduzi-los a não ser para satisfazer suas necessidades
vitais até a proposição de que a mudança ecológica deverá ocorrer principalmente na
direção da qualidade de vida muito mais do que aderir a um crescente padrão
elevado de vida. Salientam os autores que a adoção da plataforma é dificultada não
só pela necessária distinção entre o que é vital para os humanos e outras
necessidades, tarefa nada fácil, como pelo fato de que os problemas são evidentes
mas não mostram o que deve ser feito para resolvê-los. Entre outros pensadores, são
defensores dessa linha de pensamento: Aldo Leopold (EEUU), Hans Jonas
(Alemanha), Michel Serres (França). (Catalão,1993:53; Sessions,Naess,1995;
Novo,1995:82; Diegues,1996:44-50).
19
A Ecologia social, cujo expoente máximo é Murray Bookchin, atribui à
acumulação capitalista a força motriz da devastação do Planeta. Os ecologistas
sociais não consideram os seres humanos uma espécie diferenciada mas, sim, uma
espécie constituída de grupos diferentes: pobres e ricos; brancos e negros; jovens e
velhos. Propõem uma sociedade democrática, descentralizada e baseada na
propriedade comunal de produção. Seguindo uma visão ecocêntrica consideram o
equilíbrio e a integridade da biosfera como um fim em si mesmo, insistindo que o
Homem deve mostrar um respeito consciente pela espontaneidade do mundo
natural. Buscam nas comunidades primitivas um exemplo e um modelo para uma
nova sociedade na qual a tecnologia estaria sempre a serviço do Homem.
O que difere esta tendência social é o reconhecimento do fato de que quase
todos os problemas ecológicos atuais surgem de problemas sociais profundamente
arraigados e que, como tal, não podem ser claramente entendidos nem resolvidos
sem que sejam tratados na sociedade. Assim, os conflitos econômicos, étnicos e
culturais, entre outros, estão no cerne dos mais sérios problemas ecológicos atuais
além daqueles produzidos por catástrofes naturais.
Para Bookchin (1993), a maneira como os seres humanos se tratam entre si é
crucial para enfocar a crise ecológica. O reconhecimento de tal fato implica aceitar
que a neutralidade hierárquica e os relacionamentos entre as classes que permeiam
a sociedade originam a idéia de dominação do mundo natural e não a tecnologia ou
o crescimento populacional. Para os ecologistas sociais as verdadeiras causas dos
problemas ambientais são ignoradas pela sociedade: o comércio de resultados, a
expansão industrial e a identificação do progresso como interesse corporativo.
Talvez sejam estes motivos que os levem a considerar exemplares as sociedades
primitivas. (Bookchin,1993; Diegues,1996:44-50).
A terceira corrente de pensamento, a Eco-socialismo/Marxismo, teve suas
origens no movimento de crítica do marxismo clássico no que diz respeito à
concepção do mundo natural, principalmente a partir da década de 60. Segundo
seus seguidores a visão de natureza de Marx é estática, de vez que a considera
apenas em virtude da ação transformadora do Homem por meio do processo de
trabalho, proporcionando-lhe as condições naturais desse trabalho e o arsenal dos
meios de subsistência. Esse modo de perceber a natureza dever-se-ia ao fato de que
20
Marx se preocupou fundamentalmente com a explicação do sistema capitalista onde
a natureza já aparecia como simples mercadoria.
A concepção eco-socialismo/marxismo reafirma a unidade ente a sociedade e a
natureza, entre a ciência do Homem e da natureza. O Homem está dentro da
natureza e essa realidade não pode ser abolida. O Homem produz o meio que o
cerca e é ao mesmo tempo seu produto e, nesse sentido, é normal a sua intervenção
no curso dos fenômenos e dos ciclos naturais. O problemático é a maneira como se
dá esta intervenção, isto é, como ocorre a relação entre o Homem e a Natureza.
Na visão dos defensores desta concepção a relação desejada é aquela que
substitui a separação (antropocentrismo) pela unidade (biocentrismo). Os princípios
que regem o grupo foram estabelecidos em 1972, no 1
Seminário do movimento
ecológico de esquerda denominado Ecologia e Revolução. (Diegues,1996:48-50;
Ramos,1996:80)
Para Bifani (s.d:4), aceitando-se que a problemática ambiental é um componente
inseparável do social e do econômico aceita-se, também, que esta apresente uma
dimensão global que supera limites geográficos, barreiras econômicas e posições
políticas e ideológicas. A posição que os indivíduos têm na sociedade e os níveis de
desenvolvimento econômico e social alcançados por cada país determinam uma
percepção diferente da problemática e uma forma distinta de hierarquizar os
problemas ambientais. Assim, para os países industrializados e prósperos, a
problemática ambiental se insere na questão mais ampla da qualidade de vida. Nos
países em desenvolvimento, em muito dos quais grande parte da população não tem
com satisfazer suas necessidades básicas de vida, onde o número de subalimentados
e miseráveis aumenta, o problema fundamental centra-se na utilização racional dos
recursos ambientais para superar a pobreza e permitir o crescimento sustentável da
economia e alcançar o desenvolvimento sustentável.
na sociedade industrial contemporânea o predomínio da razão na cultura atinge o
seu ápice. O progresso da civilização ocidental tem caminhado lado a lado com a
separação irreconciliável entre natureza e cultura, sentimento e razão, corpo e
mente. Até o advento da era industrial, o domínio do Homem sobre a natureza era
limitado. A partir do aparecimento da indústria a economia sofre uma das mais
importantes modificações. As relações econômicas produtor/consumidor são
21
substituídas por formas complexas que favorecem o aparecimento de inúmeros
escalões intermediários. Os homens deixam de ser donos dos meios de produção, a
população cresce, se diferencia e a divisão do trabalho se acentua. Aumenta a escala
em que os recursos naturais são solicitados, inclusive com a utilização de alguns até
então não empregados. Como conseqüência, o impacto sobre a natureza atinge
proporções gigantescas. A utilização desenfreada dos recursos naturais e o ritmo
acelerado em que estes estão sendo utilizados para garantir o lucro acarretam um
desequilíbrio no ritmo normal do ciclo de degradação-renovação. O resultado é
óbvio: a quantidade de matérias-primas se torna precária e os resíduos se acumulam
além da capacidade de renovação dos ecossistemas, causando escassez e poluição.
Esse comportamento evidencia uma mudança nas relações entre o Homem e a
natureza: o importante é a sua conquista, sua utilização e transformação, em
concordância com os objetivos da sociedade mesmo que, ao final, sobrevenha a sua
destruição. A sociedade industrial tem menosprezo pela natureza. As pessoas, hoje,
são atraídas pelo que é automático, pelas máquinas poderosas, pelo que é inerte
(Fromm,1979:29).
Com o domínio da natureza os homens julgaram-se senhores das suas
próprias vidas. Pensaram, também, que esta liberdade estender-se-ia para todos desde
que a industrialização mantivesse seu ritmo. Desse modo assegurar-se-ia riqueza e
bem-estar para todos e, como conseqüência, felicidade para todos. Como sabemos,
isso não ocorreu. Inúmeras são as possíveis explicações para o fracasso da grande
promessa da era industrial. Uma delas seria a mudança ocorrida no comportamento
econômico das sociedades ao longo das diferentes épocas. Até o século XVIII este
foi determinado por princípios éticos, sujeito aos valores da ética humanística. A
partir dessa época, no entanto, o capitalismo sofreu uma mudança radical: o
comportamento econômico separou-se da ética e dos valores humanos. Não mais se
pergunta o que é bom para o Homem? E, sim, o que é bom para a melhoria do
sistema capitalista? O que é bom para o sistema, por extensão deverá ser bom para o
Homem? (Fromm,1979:28).
O capitalismo e, em particular o industrial, gerou formas específicas de atuação
humana determinadas não só pelos condicionantes internos do seu desenvolvimento
como, também, pela influência dos condicionantes externos a ela.
22
Enfocando especificamente o Brasil, Nogueira (1992:17-23) afirma que este no
afã de se tornar um país desenvolvido, passou e ainda passa por experiências
desastrosas no que se refere aos impactos ambientais causados pelos estilos de
desenvolvimento adotados. Sem negar os pontos positivos do processo de
modernização cita alguns dos seus resultados desastrosos: abandono do campo com
aumento acentuado da população urbana: apenas um pouco mais de 20% da
população brasileira ainda vive no campo; uma sociedade extremamente
desequilibrada no que se refere à concentração de renda e de terras; o uso
extremamente depredador dos recursos naturais; favelização; miséria; fome.
Salienta ainda que não é coincidência que sejam os trabalhadores, dentro ou fora
das fábricas, nas favelas, nos barracos e nas sociedades operárias, as maiores
vítimas da poluição; que sejam os camponeses e trabalhadores agrícolas os
primeiros a sofrerem os efeitos dos agrotóxicos que manipulam ou os pescadores
que, com a morte da flora e da fauna dos rios percam o seu meio de sustento. A
miséria/pobreza e a degradação ambiental caminham juntas e têm de ser
equacionadas conjuntamente.
A sociedade mundial é um sistema cujas interdependências são cada vez mais
evidentes. As contradições e conflitos que surgem da diferença de bem-estar e
desenvolvimento estão no centro de uma potencial crise do sistema. Enfatiza Bifani
(s.d:5): o mais preocupante é que, longe de melhorar, esta situação tende a
acentuar-se. Em que pese o enorme potencial econômico, científico e tecnológico
hoje disponível, as disparidades entre países desenvolvidos e países em
desenvolvimento tendem a aumentar. No sentido de evitar tal situação Giordan
(1994:19) afirma:
os países não devem escolher entre desenvolvimento e meio ambiente.
Esta seria uma alternativa errada. Ao contrário, devem escolher a qualidade
ou o tipo de desenvolvimento. Para tanto, deverão considerar o meio
ambiente como uma dimensão necessária ao desenvolvimento já que os
objetivos e estratégias ambientais e de desenvolvimento podem ser
complementares .
Essa é a proposta do desenvolvimento sustentável, concepção de
desenvolvimento apresentada em 1987 pela Comissão Brundtland. A partir de então
23
o desenvolvimento sustentável se converte em uma proposta inovadora que passará a
orientar a busca de uma nova ordem econômica internacional. Passará a orientar,
também, os posicionamentos educativos referentes às questões ambientais tanto no
nível da Pedagogia Ambiental como no da Educação Ambiental entendida esta
como ação interdisciplinar. Orientação não isenta de ambigüidades, fato que
demonstra a necessidade de busca de respostas claras e objetivas à questão
fundamental: o que é e o que pode ou deve ser a educação ambiental para o
desenvolvimento sustentável no cenário da sociedade contemporânea? (Caride,
Meira,1998:17). Salientam os autores que o centro do debate deve girar em torno do
problema de ser da sociedade e o deve ser da educação.
A concepção de desenvolvimento sustentável, que será analisada mais
detalhadamente em outro tópico deste mesmo capítulo do trabalho,
consequentemente foi a diretriz que orientou o planejamento e a implementação das
atividades de educação ambiental desenvolvidas em escola do município de
Pinhais, contexto desta pesquisa.
1.2
A defesa do Mundo Natural: das primeiras manifestações aos movimentos
ambientalistas uma cunha para a Educação Ambiental.
A concepção de que o mundo natural é algo a ser conquistado, usado e
explorado pelo homem, que perdurou inconteste por longo tempo começou, mesmo que
de forma tímida e nem sempre com clareza a respeito de seus objetivos, a sofrer
controvérsias e manifestações a esse respeito surgiram em diferentes locais. No Brasil, a
Carta Régia de 13 de março de 1797 alertava para o fato de serem necessárias medidas
preventivas para evitar a destruição das matas brasileiras causada pela exploração
indiscriminada (Diegues,1996:112). No entanto, segundo o autor, as Cartas Régias
elaboradas pela Coroa Portuguesa deixavam claro que sua preocupação centrava-se na
possível falta de madeira para a construção naval.
Nos países europeus, nessa mesma época, começavam a surgir dúvidas a
respeito da posição do homem na natureza e do seu relacionamento com as demais
espécies. Na Inglaterra, por exemplo, tais dúvidas originaram mudanças na relação dos
ingleses com o mundo natural: recuperação do prestígio da vida rural, resultado da
constatação da deterioração da vida urbana; reação contra o avanço das fronteiras
24
agrícolas; o surgimento da noção de preservação e o surgimento do dilema: morte ou
mercê? (Thomas,1988:299-302). Surgiram, na ocasião, os movimentos naturalistas
também largamente defendidos na França, Espanha, Itália, Suécia e Suíça.
Nos Estados Unidos as idéias preservacionistas já em questão nos países
europeus culminou, em meados do século XIX, na criação do primeiro parque nacional
do mundo
o de Yellowstone. O termo parque nacional passa, então, a designar áreas
naturais, selvagens e não habitadas que seriam colocadas à disposição das populações
para fins de recreação. O Wilderness Act, de 1964, reforça esse entendimento ao
enfatizar que nas áreas de conservação o homem é visitante e não morador (Diegues,
1996:27). Há que se ressaltar que as áreas de conservação nem sempre situam-se em
regiões desabitadas de vez que, muitas delas encontravam-se habitadas por índios ou
pertenciam a eles, o que indica um profundo desprezo por parte do homem branco aos
selvagens e à sua cultura, fato que suscitou inúmeras críticas. À criação do Yellowstone
segue-se à do Central Park (década de 50) e do Yosemite (1890). A criação de tais
parques com a intenção de melhorar a qualidade de vida humana de vez que se
constituem em um pedaço da natureza como espaço de lazer, de felicidade e de prazer,
reflete bem a visão antropocêntrica que conduz esse incipiente movimento ambientalista
(Catalão,1993:39).
Desde o século XIX duas correntes de pensamento disputam, nos
Estados Unidos, a primazia no que se refere à maneira de utilização dos recursos
naturais pelo Homem: o Conservacionismo e o Preservacionismo.
O conservacionismo advoga três princípios: o uso dos recursos naturais pela
geração presente; a prevenção do desperdício e o uso dos recursos naturais para
benefício da maioria dos cidadãos. Tais princípios, como destaca Diegues (1996:29)
subsidiaram a criação, por Maurice Strong, em 1974, do termo desenvolvimento
sustentável. Constituíram-se, também, no centro dos debates da Conferência de
Estocolmo sobre o Meio Ambiente Humano (1972) e mais tarde, 1992, da Eco-92.
O preservacionismo, contrariamente, defende a proteção da natureza contra o
desenvolvimento moderno, industrial e urbano. Seu defensor mais importante foi John
Huir mas vários outros cientistas e escritores tornaram-se defensores de suas idéias
como Aldo Leopold com suas obras A Servidão da Terra (1933) e A Ética da Terra
25
(1949) e Rachel Carson autora do famoso Silent Spring (Primavera Silenciosa),
publicada em 1961.
No Brasil, José Bonifácio de Andrade e Silva foi dos primeiros a manifestar, no
início do século XIX, sua preocupação com a destruição das matas nativas. Sua defesa
não se baseava em idéias românticas mas, sim, decorriam do seu conhecimento a
respeito dos efeitos do desmatamento sobre os solos férteis de Portugal, adquirido
quando ocupou o cargo de Superintendente das Obras de Reflorestamento nos Areais
das Costas Marítimas naquele país. Sua concepção de natureza não era a de algo a ser
contemplado e preservado na sua pureza original mas a de um recurso básico a ser
utilizado para o desenvolvimento social e material. No entanto, isso não justificava, no
seu modo de ver, o mau uso e o desperdício deste recurso causado pela má organização
da produção e pela ignorância das leis naturais. (Pádua,1987:30). Em 1850, D. Pedro II,
Imperador do Brasil, editou a Lei 601 proibindo a exploração florestal em terras
descobertas, outorgando plenos poderes às províncias para a sua aplicação. Ressalta-se
que, à época, a Lei foi ignorada e a devastação das florestas continuou. O primeiro
parque no Brasil
Parque Estadual da Cidade de São Paulo foi criado em 1896. Mais
tarde, em 1939, foi criado o Parque Nacional do Iguaçu, no Estado do Paraná. De
acordo com Diegues (1996:111) há, no Brasil, poucas publicações acerca das idéias e
valores que historicamente têm orientado as tomadas de decisões no que se refere à
preservação ambiental. Cita, no entanto, como defensores dos recursos naturais
brasileiros os seguintes autores: André Rebouças, defensor da criação dos primeiros
parques nacionais e acirrado combatente do desmatamento; Euclides da Cunha, para
quem a destruição da natureza era um obstáculo ao processo de evolução; Coelho Neto
e Augusto Lima, que contribuíram para a criação do Serviço Florestal em 1921; Alberto
Sampaio e Leôncio Correia, promotores da 1ª Conferência para a Proteção da Natureza
realizada em 1934; André Rebouças, que advogou a primeira proposta de criação de
parques nacionais em 1876 tendo como referência os parques dos Estados Unidos
recém-criados; Hubmayer, defensor da criação do Parque Nacional de Itatiaia (ocorrida
em 1937) proposta por Alberto Löfgren em 1913. Cita, ainda, Euclides da Cunha,
Afonso Arinos, Roquete Pinto, Alberto Torres, Gustavo Barroso e Alberto José
Sampaio pelos livros e escritos em defesa da natureza no Brasil.
Foram, sem dúvida, os precursores dos movimentos ambientalistas.
26
1.2.1 Os Movimentos Ambientalistas
Um estudo que pretende buscar, nas origens e trajetória da educação ambiental a
compreensão a respeito da sua evolução, incluindo-se ai a evolução do seu próprio
conceito, não pode prescindir de conhecimentos a respeito dos movimentos
ambientalistas uma vez que esta surgiu na esteira desses movimentos. Assim, torna-se
necessária a recuperação histórica dos movimentos ambientalistas: suas fases,
tendências e ações.
A preocupação com a degradação do meio ambiente e a possibilidade de
concretização de iniciativas visando sua conservação, graças aos conhecimentos
resultantes de estudos científicos favoreceram o aparecimento, em meados do século
XX, de movimentos organizados dedicados à essa causa.
A trajetória dos movimentos ecológicos, seja em nível mundial ou brasileiro,
pode ser traçada a partir da identificação das tendências que os orientam. Assim é que,
os primeiros movimentos ecológicos, como indica a sua designação
movimentos
ecológicos preservacionistas
surgidos nas décadas de 40 e 50, permaneciam
vinculados ao discurso naturalista e conservacionista. Preocupavam-se com a questão da
educação ambiental no que se referia ao gerenciamento dos recursos naturais e da
preservação de ambientes naturais que levaram, mais tarde, à ampliação do conceito de
meio ambiente que passa a incluir o homem entre os seus elementos constituintes.
Propiciaram o aparecimento de literatura de denúncias como por exemplo, A Servidão
da Terra (1933) e A Ética da Terra (1949), de autoria de Aldo Leopold.
(Caride,1991:47; Diegues, 1996:125; Carneiro,1999:2)
Anteriormente às iniciativas populares, organismos oficiais já se encontravam
empenhados na discussão a respeito de questões relacionadas à conservação da
natureza. A tradição da realização de Encontros e Conferências Internacionais com esse
propósito teve inicio na Suíça, com a Conferência de Berna, em 1913.
Dentre as instituições e grupos ambientalistas criados neste período destaca-se a
União Internacional Para a Proteção da Natureza, fundada na França em 1948 e que,
mais tarde passaria a ser chamada de União Internacional Para a Conservação da
Natureza e dos Recursos Naturais (UICN). Enquanto a UICN era criada sob a
chancela da UNESCO e do Governo Francês, no Brasil as mais antigas entidades de
conservação (Sociedade Para a Defesa da Flora e Fauna do Estado de São Paulo e a
27
Sociedade Amigos das Árvores, ambas criadas em 1931, e a Fundação Brasileira
Para a Conservação da Natureza
1958), inspiradas na visão preservacionista
americana, não tinham vínculos com instituições oficiais. (Viola,1987:86; Caride,
1991:47; Diegues,1996:125).
A partir da década de 60 os movimentos ambientalistas passaram a adotar uma
postura de denúncias, embasadas, principalmente, na ocorrência de grandes desastres
ecológicos e suas nefastas conseqüências. Por este motivo podem ser denominados de
ambientalismo combativo e denunciador. Eram motivados não só por questões
ecológicas como também por razões sócio-políticas e econômicas. Aparecem, nessa
época, os questionamentos a respeito do modelo de desenvolvimento adotado pelos
países desenvolvidos e copiado por aqueles em desenvolvimento, que favorece a
degradação ambiental. As atenções voltam-se para a ação predatória das atividades
humanas, especialmente as industriais, com o começo do envolvimento de novas
tecnologias. Ao mesmo tempo questionava-se a falência e a incompetência do Estado
em oferecer proteção social aos cidadãos e assegurar o cumprimento da promessa de
uma vida com melhor qualidade para todos. Caracterizaram-se por protestos estudantis
em vários países, pelo pronunciamento de artistas de renome e por reflexões, denúncias
e posicionamentos de estudiosos de diversas áreas do conhecimento científico;
congregavam organizações civis e não-governamentais. Dentre os grupos de
ambientalistas criados nesse período talvez os de maior renome sejam o Greenpeace e
o WWF (Fundo Mundial para a Natureza) e a National Audubon Society, ainda
atuantes, conhecidos internacionalmente pela sua luta constante em favor do meio
ambiente.
Na década de 60 há que se destacar, pela sua importância, a fundação do Clube
de Roma (1968), entidade que reuniu um grupo de 30 especialistas das mais variadas
áreas com o objetivo de discutir a crise ambiental gerada pela constatação dos limites
materiais do crescimento e da crescente interferência do sistema produtivo no equilíbrio
dos ecossistemas. Fruto da primeira reunião do Clube de Roma, o Informe Meadows,
publicado em 1972, com o título Os Limites do Crescimento , alerta para necessidade
de se buscar novos meios para a conservação dos recursos naturais e não-renováveis
para o controle do crescimento da economia mundial via o controle da população, da
28
produção de alimentos, da poluição e da produção industrial. (Ramos,1996:65; Czapski,
1998:29; Carneiro,1999:24)
Na década de 70 os movimentos ambientalistas tornam-se, cada vez mais,
movimentos políticos que buscam estabelecer nova postura do homem no meio
ambiente. Centram sua crítica no modo burguês de vida (valorização do trabalho não
manual, conforto material, privatismo, segurança,...), questionavam a sociedade de
consumo, o privilégio dos aspectos intelectuais ou práticos em detrimento dos
espirituais, o aniquilamento de outras culturas, o conceito de progresso vigente nas
sociedades modernas, enfim, o estilo de vida adotado por estas sociedades. Criticam a
lógica do lucro a qualquer custo, o utilitarismo, não só nas relações no interior da
sociedade, mas também nas relações sociedade
natureza, a ideologia e a dinâmica da
sociedade industrial, a tecnologia que, mesmo trazendo contribuição ao homem pode se
tornar instrumento da sua destruição, a corrida armamentista e o crescimento
populacional.
A Guerra Fria estabelecida entre as duas maiores potências mundiais após a 2ª
Guerra Mundial fez com que estas e as demais passassem a investir pesadamente no
desenvolvimento de sofisticados equipamentos militares que passaram a representar um
perigo para a humanidade. Tal fato, condenado pelos pacifistas, ensejou a união destes
com os ambientalistas fortalecendo, desse modo, o movimento em prol do ambiente.
No Brasil, na década de 70, surgiu um movimento ecológico de denúncia
representado pela AGAPAN (Sociedade Gaúcha de Proteção ao Meio Ambiente),
Resistência Ecológica, Associação Catarinense de Preservação da Natureza e
Associação Paulista de Proteção à Natureza entidades que, mesmo não estando
necessariamente vinculados a partidos de esquerda, fato que levaria o governo militar a
combatê-las, criticavam o modelo econômico brasileiro e denunciavam os grandes
projetos que geravam não só graves impactos sobre a natureza como também o êxodo
rural que, por sua vez, acarretou o aumento de favelas nas cidades e a miséria. Nesse
contexto surgiu o Manifesto Ecológico Brasileiro: O Fim do Futuro (1976) encabeçado
pelo ecologista José Luztemberger, mais tarde Ministro do Meio Ambiente no governo
Collor (1990-1992). No entender de Diegues (1996:128), o documento, escrito e
apresentado em pleno regime militar repressivo, é corajoso mas, não obstante, bastante
incompleto, omisso no que diz respeito às origens e causas da degradação ambiental e
29
da pobreza mas avalia não somente o modelo de desenvolvimento dos países
industrializados como também atribui sua riqueza à exploração dos países
subdesenvolvidos. Faz crítica profunda à agroindústria como causadora de problemas
ambientais e sociais que desaloja a força de trabalho.
Nas décadas de 70 e 80 o movimento ecológico brasileiro agregava duas
correntes: a que denunciava a degradação ambiental nas cidades e a que representava as
comunidades alternativas rurais. As associações de denúncia, constituídas por pessoas
com formação universitária, tinham, entre seus alvos mais comuns, as indústrias
poluidoras, a utilização de áreas verdes por projetos predatórios e a especulação
imobiliária desenfreada. As comunidades rurais, por sua vez, constituídas por jovens
provenientes das regiões metropolitanas de São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e
Porto Alegre, advogavam um novo modo de vida, um novo cotidiano, longe dos efeitos
predatórios gerados pelas cidades. Há que se destacar que ambos os movimentos têm
forte rejeição à atividade política (Viola,1987:91).
No bojo do ambientalismo combativo e denunciador também são identificadas
inúmeras iniciativas oficiais. A primeira observação oficial da necessidade de uma
abordagem global para a busca de soluções para os problemas ambientais coube à
delegação da Suécia na ONU (Organização das Nações Unidas), já em 1968, e foi
justamente em Estocolmo que, sob o patrocínio dessa Organização, realizou-se em 1972
a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano. Nessa ocasião a
questão ambiental foi examinada e discutida, pela primeira vez, de maneira abrangente e
coordenada, com o objetivo de buscar respostas aos problemas e definir linhas de ação.
Como subsídio à discussão foram considerados os dados no Informe Founex (1971),
documento elaborado por uma comissão integrada por cientistas oriundos de vários
países e reunida na Suíça em encontro preparatório à Conferência. O documento, além
de apontar os efeitos de um crescimento econômico mal planejado do ponto de vista
ambiental, como por exemplo, o esgotamento dos recursos, a contaminação biológica e
química e a deterioração social, incorpora as dimensões ética e social na implantação de
programas ambientais. Como fruto da Conferência foi elaborada a Declaração de
Estocolmo contendo 26 princípios referentes as preocupações e concepções ambientais
da época e o Plano de Ação de Estocolmo (Plano de Ação Mundial) com 109
recomendações que buscavam estabelecer bases para a tomada de medidas e ações
30
concretas com o objetivo de aumentar o conhecimento a respeito do meio ambiente o
que permitiria preservá-lo e melhorar sua qualidade. Foi elaborado também, a
Declaração sobre o Meio Humano assinada por 113 países, contendo 23 princípios que
deveriam servir de inspiração e orientação à humanidade para a preservação e melhoria
do ambiente humano. Como órgão catalizador das ações relativas às questões
ambientais foi criado, em 1973, o PNUMA (Programa das Nações Unidas para o Meio
Ambiente) e a CMMAD (Comissão Mundial para o Meio Ambiente e o
Desenvolvimento).(Dias,1992:44; Maimon,1993:56; Catalão,1993:49; Novo,1995:34).
Os representantes do Brasil e de outros países subdesenvolvidos na Conferência
divergiram do teor das recomendações no que se referiam à redução do crescimento
industrial e à transformação dos recursos naturais em patrimônio comum da
humanidade. São palavras do chefe da delegação brasileira, General Costa Cavalcanti:
um país que não alcançou o nível satisfatório mínimo para prover o essencial não está
em condições de desviar recursos consideráveis para a proteção do meio ambiente.
(Feldman,1992:29 apud Catalão,1993:49). O relatório brasileiro apresentado na
Conferência reafirmava o princípio antropocêntrico: o homem é o sujeito de toda a vida
planetária e, portanto, capaz de submeter a natureza e dela extrair o progresso como sua
mais significativa invenção.
A possibilidade de se conceber e pôr em prática estratégias que considerassem o
meio ambiente na promoção de um desenvolvimento sócio-econômico equilibrado está
contida na Declaração Cocoyoc, elaborada na Conferência de Cocoyoc, México, em
1974.
O termo ecodesenvolvimento cunhado por Maurice Strong, em 1974, para
designar um desenvolvimento sócio-econômico equilibrado é substituído, no relatório
Nosso Futuro Comum, produzido em 1987 pela Comissão Brundtland, pela expressão
desenvolvimento sustentável. No citado relatório, o desenvolvimento sustentável é
apresentado como aquele que satisfaz as necessidades da geração presente sem
comprometer a capacidade das gerações futuras em satisfazer as suas próprias
necessidades. Interpretado sob a ótica do antropocentrismo, significa utilizar os recursos
no presente de modo que o Planeta possa satisfazer no futuro as necessidades das
demais gerações. Sob o ponto de vista do biocentrismo, no entanto, significa que se
deve respeitar o equilíbrio dos ecossistemas, considerando a possibilidade de renovação
31
dos recursos. No Informe, o conceito de desenvolvimento sustentável tem três vertentes
principais: crescimento econômico, eqüidade social e equilíbrio ecológico.
(Maimon,1993:59-60;Novo,1995:50).
A alternativa do desenvolvimento sustentável surgiu como forma de solução
para os problemas globais na medida em que supera a dicotomia entre meio ambiente e
desenvolvimento, reconhece as interdependências planetárias, a necessidade de
compatibilizar dimensões temporais de curto e longo prazo, enfatizando a capacidade do
sistema social para superar limites e conflitos (Bifani,1997:122). Independentemente
das múltiplas, e nem sempre concordantes, interpretações do conceito de
desenvolvimento sustentável é inegável que, como teoria, tem pautado as discussões e
ações que visam a busca de opções para a resolução dos problemas surgidos com o
desenvolvimento econômico. É, sem dúvida, um conceito amplo e complexo que, como
afirma Bifani (1997:122), envolve distintas dimensões que passam pelo compromisso de
assegurar a satisfação das necessidades das gerações futuras, ao estabelecimento de
limites, incluída aqui a capacidade da biosfera de absorver os efeitos das atividades
humanas e a necessária vontade política para o alcance de um crescimento social e
econômico mais justo e eqüitativo em nível global. Dimensões essas que estabelecem a
diferença crucial entre desenvolvimento e crescimento, uma vez que o primeiro
enquanto conceito qualitativo transcende a mera acumulação de bens e a disponibilidade
econômica.(Colom,1998:31). Implica manutenção dos processos ecológicos,
preservação da diversidade genética, utilização racional dos recursos, conscientização e
respeito social, fortalecimento da identidade cultural e eficácia na gestão econômica.
(Pardo,1995:45). Isso significa considerar não só o desenvolvimento ecologicamente
sustentável mas, também o desenvolvimento socialmente sustentável. Há muitos
argumentos a respeito da base de toda a riqueza: a terra, o trabalho humano, o capital,
etc, mas na verdade a fonte de toda a riqueza é o trabalho e o capital e a energia ou os
diferentes materiais da Terra. Apresentado o sistema econômico sob a forma de uma
pirâmide verifica-se a existência de quatro níveis: os meios fundamentais (a matéria e a
energia primordiais do planeta: luz do sol, água, minerais, solos, combustíveis fósseis e
matéria viva
desde bactérias até os seres humanos); os meios intermediários
(equipamentos de todos os tipos, instrumentos e máquinas, matérias primas processadas,
formas de energias derivadas e aproveitáveis e o trabalho humano. Os meios
32
intermediários são gerados a partir dos meios fundamentais com a utilização do
conhecimento da tecnologia e organização social); os meios intermediários são o
alimento para os fins intermediários (saúde, riqueza, produção, educação, transporte,
comunicação, produto nacional bruto. A conversão dos meios intermediários em fins
intermediários é governada pelos sistemas político e econômico). No topo da pirâmide
estão os fins fundamentais que não são concretos nem fáceis de medir ou definir, mas
que podem ser indicados por palavras abstratas tais como realização, felicidade, amor,
harmonia, comunidade, identidade, satisfação, qualidade de vida. Os fins intermediários
são transformados em fins fundamentais via preceitos ou percepções vindas da filosofia,
da ética, da religião, da cultura e da sabedoria interna individual. Atingir os fins
fundamentais depende de cada parte da pirâmide e de processos efetivos a cada passo.
Verifica-se, desse modo, que não faz sentido o antagonismo entre Homem e mundo
natural; os seres humanos são parte do ambiente e a economia é derivada da natureza e
sustentada por ela. O desenvolvimento econômico é algo muito mais amplo e profundo
do que a economia, e o desenvolvimento sustentável, por sua vez, não é centrado na
produção, mas sim nas pessoas, sendo o seu recurso básico a iniciativa criativa dessas
pessoas e seu objetivo fundamental: o bem-estar material e espiritual. Para tanto, o
desenvolvimento sustentável deve ser adequado não somente ao ambiente e recursos
mas também à cultura, história e sistemas sociais do local onde ele ocorre. (São Paulo,
1994:52-62).
O fato dos problemas ambientais terem sidos gerados por processos econômicos,
políticos, jurídicos, sociais e culturais, significa que uma proposta de desenvolvimento
sustentável implica, também, a construção de uma racionalidade ambiental entendida
como um conjunto de objetivos (explícitos ou não); de meios e instrumentos; de regras
sociais, jurídicas e valores culturais; de sistemas de significação e de conhecimentos; de
teorias e conceitos; de métodos e técnicas de produção. (Leff,1993:105). Para o autor, a
racionalidade ambiental estabeleceria os critérios que orientariam a tomada de decisões
dos agentes sociais, orientaria as políticas públicas e normatizaria os processos de
produção e consumo, legitimando as ações e comportamentos dos atores e grupos
sociais, com o objetivo de assegurar o alcance dos fins propostos pelo desenvolvimento
sustentável.
33
De acordo com Bifani (1997:130), dentre os vários enfoques de desenvolvimento
sustentável, o enfoque ecológico com amplo respaldo é o apresentado pela Estratégia
Mundial de Conservação, que o define como a modificação da biosfera e a aplicação
dos recursos humanos e financeiros para a satisfação das necessidades humanas e
melhoria da qualidade de vida, sendo a conservação o mecanismo que o promoverá.
Conservação entendida como a forma de utilização humana da biosfera de modo que
esta possa produzir um maior desenvolvimento sustentável para as gerações presentes,
mantendo ao mesmo tempo o seu potencial para satisfazer as necessidades e aspirações
das gerações futuras.
Face às ambigüidades na interpretação do conceito de desenvolvimento
sustentável cada país, cada região, cada grupo social faz dele a leitura que lhe convém,
adequada aos seus interesses específicos. É apregoado, portanto, tanto por credores
como devedores, produtores e consumidores, empresários e empregados, ricos e pobres,
países do centro e da periferia (Medina,1994:22).
Para Novo (1995:51), a expressão desenvolvimento sustentável contém dois
conceitos fundamentais:
1) O conceito de necessidade, em particular as necessidades essenciais dos pobres, as
quais devem ser preponderantes: alimentação, habitação adequada, trabalho
reconhecido, possibilidade de constituir uma família, desenvolvimento cultural, etc.
Hoje o mundo está dividido: as necessidades do Norte, satisfeitos os aspectos básicos,
giram em torno do consumo de objetos supérfluos enquanto que as do Sul continuam
centradas na obtenção de água potável, saneamento básico, saúde, educação... Um
exemplo: com o que é gasto nos países ricos em dietas para emagrecimento e produtos
dietéticos, poder-se-ia eliminar a fome em muitos países pobres.
2) O conceito de limitações impostas pelo estado atual da tecnologia e a organização
social frente a capacidade do meio ambiente para satisfazer as necessidades presentes e
futuras. O conhecimento científico permite que se estabeleça quais são as taxas de
renovação dos sistemas naturais, sua capacidade de absorver população e resíduos, etc.
O problema está justamente no fato de que temos ultrapassado e continuamos a
ultrapassar esses limites, na crença de que a ciência e a tecnologia encontrarão soluções
tecnológicas para todos os problemas. Do mesmo modo são conhecidos os limites dos
sistemas urbanos e sociais que condicionam a qualidade de vida. No entanto, as
34
políticas econômicas adotadas pelos nossos governos não levam a sério tal fato e os
movimentos migratórios, originados de tais políticas, continuam a ocorrer numa
velocidade e volume cada vez maiores, acarretando profundos desequilíbrios na relação
Homem espaço urbano.
De acordo com Sachs (1993:47), desenvolvimento sustentável é aquele orientado
para a satisfação das necessidades materiais e espirituais de toda uma comunidade a
partir das suas tradições culturais e das suas aspirações e operacionalizado de forma
apropriada a cada contexto histórico, cultural e ecológico, garantindo as cinco
dimensões de sustentabilidade: social, econômica, ecológica, espacial e cultural.
Independentemente das interpretações atribuídas à expressão desenvolvimento
sustentável, o Relatório Brundtland, com suas 109 recomendações, apresentou um
diagnóstico ambiental acurado e uma análise abrangente das suas causas. Mais ainda, as
soluções apontadas dimensionaram o discurso ecológico das instituições
governamentais (Catalão,1993:61).
Ainda em 1974 foi realizado em Haia, na Holanda, o 1º Congresso
Internacional de Ecologia com o objetivo de discutir as questões relativas à
deterioração das condições ambientais inclusive a possibilidade da redução da camada
de ozônio (Dias,1992:46).
Também na Holanda foi realizada, anos mais tarde (1989), a Conferência
Internacional sobre a Proteção da Atmosfera, convocada pela França, Holanda e
Noruega, da qual participaram Chefes de Estado de 24 países que enfatizaram a
necessidade de todos os países e as organizações internacionais ligadas à área firmarem
e ratificarem acordos relativos à proteção da natureza e o meio ambiente (Caride,
1991:54).
Em meados da década de 80, os movimentos ambientalistas passaram a
incorporar nas suas lutas e denúncias as questões sociais, caracterizando uma nova fase:
a do ecologismo dos movimentos sociais. (Diegues,1996:130). O ecologismo sócio-
político vai além das denúncias a respeito das questões relacionadas à destruição dos
recursos naturais. Pretende, acima de tudo, politizar esta destruição, relacionando-a à
natureza do desenvolvimento econômico (capitalismo), à uma forma social de vida
(individualismo) e à sensibilidade (consumista) dos indivíduos face às suas necessidades
e ao consumo de bens produzidos. (Ramos,1996:69)
35
No Brasil, de acordo com Viola (1987:95), essa transição iniciou-se em 1982
com a participação do movimento ecológico nas eleições para os governos estaduais,
consolidando-se em 1984 por ocasião da campanha a favor das eleições diretas para a
escolha do presidente da república. Em 1986, o movimento apresentou um crescimento
significativo tendo em vista a possibilidade de intervenção na elaboração da nova
Constituição Brasileira.
A abrangência das questões envolvidas nos movimentos ambientalistas
indica o novo entendimento a respeito do termo ambiente. Anteriormente significando
algo que estava fora do Homem, algo do qual o Homem não era integrante e,
geralmente, designando o meio físico onde os seres vivos habitam, passa a ter um
significado mais amplo como demonstra o conceito estabelecido por Silva (1992:4):
o meio ambiente é constituído por relações complexas entre as bases
físicas e biológicas da natureza e as bases social e cultural do homem sendo que
a base social diz respeito à sociedade na qual o homem vive, trabalha e se
organiza e a base cultural, ao próprio homem e à sua identidade .
Em consonância com o enfoque que favoreceu a ampliação do significado do
termo meio ambiente, o Movimento Livre de Florianópolis (Santa Catarina) lançou,
em 1988, um documento no qual são apresentados os princípios que regem os
movimentos ambientalistas no Brasil. Princípios amplos que envolvem desde a
proposição de uma relação equilibrada, harmoniosa e integrada com a natureza
(considerando o homem parte desta natureza) até a sugestão de uma combinação de
trabalho manual e não manual, do contato com a natureza, de alimentação sadia,
exercícios físicos e sexualidade espiritualizada.
Nesse período, no Brasil, as ONGs (organizações não-governamentais) passaram
a mobilizar a sociedade, em particular aqueles segmentos que lutam por melhorar a sua
condição social como, por exemplo, as populações rurais que lutam contra a destruição
do seu modo de vida, a perda da terra para trabalhar e viver, a destruição de rios e
florestas e os sem-terra que, como o nome diz, buscam um pedaço de terra onde possam
viver e trabalhar. O termo ONG vem dos países do Norte (NGOs
Non Governmental
Organizations) e refere-se a entidades ou agências de cooperação financeira a projetos
desenvolvimentistas ou assistencialistas, em favor de populações desprivilegiadas do
Primeiro e do Terceiro Mundo. As ONGs brasileiras têm se caracterizado como
36
entidades de assessoria, apoio, promoção, educação e defesa de direitos humanos e
ambientalistas, com o objetivo de transformar aspectos negativos da realidade social,
manifestados por meio de movimentos sociais e/ou das comunidades. (Scherer-
Warren,1995:163).
A destruição da floresta amazônica originou um movimento adepto da ecologia
social, que luta pela preservação dos recursos naturais da região, valoriza o extrativismo
e os sistemas de produção baseados em tecnologias alternativas. É representado pelo
Conselho Nacional de Seringueiros, pelo Movimento dos Atingidos pelas
Barragens, pelo Movimento dos Pescadores Artesanais, pelos Movimentos
Indígenas, etc. Esse movimento foi responsável pela realização do I Encontro dos
Povos Indígenas do Xingu, em Altamira, no ano de 1989 (Diegues,1996:146). Dentre
os líderes ambientalistas destaca-se Chico Mendes, assassinado em 1988, pela sua luta
contra o descaso do governo brasileiro com o desmatamento da Amazônia.
Na América Latina não existem movimentos ambientais do porte daqueles
existentes na Europa e nos Estados Unidos mas, como afirma Vitale (1983:108)
não há dúvida de que vêm contribuindo de forma significativa para a
criação de uma consciência ambiental à medida em que se tornam instrumentos
de denúncias e arregimentadores de defensores do meio ambiente ao mesmo
tempo em que buscam e propõem soluções alternativas para os problemas
ambientais .
A importância dos movimentos sociais ficou patente por ocasião da ECO-92
(ou Rio-92), quando estes realizaram simultaneamente à Conferência das Nações
Unidas o Fórum Tratados Alternativos das ONGs. Participaram do evento cerca de
2500 organizações de 150 países com o objetivo de fortalecer os mecanismos de
cooperação e articulação entre as ONGs visando a busca de soluções para os
problemas do ambiente e do desenvolvimento. Como resultado das discussões
ocorridas no Fórum Tratados Alternativos das ONGs, foi elaborada a Carta da Terra
Valores e Princípios para um Desenvolvimento Sustentável que, em um dos seus
princípios, afirma: nós reconhecemos nossa diversidade e nossa afinidade comuns.
Nós respeitamos todas as culturas, afirmamos os direitos de todos os povos às
necessidades ambientais básicas (Carta da Terra apud Vianna,1994:23).
37
Papel de destaque na preparação da participação das ONGs brasileiras na
Conferência foi desempenhado pelo Fórum de ONGs Brasileiras, criado em São Paulo
no ano de 1990. O Fórum, que à época da Rio-92 congregava cerca de 1200
organizadores com representantes de várias correntes ambientalistas, elaborou o
relatório Meio Ambiente e Desenvolvimento. Uma visão das ONGs e dos Movimentos
Sociais Brasileiros baseado nos resultados de oito encontros nacionais em diferentes
regiões do país. Segundo Viola (1995:137), o Fórum Global foi um sucesso
extraordinário do ponto de vista da confraternização, mas implicou resultados bem mais
modestos e um fracasso, se avaliado pelo seu impacto sobre a conferência oficial dos
governos.
Após a Rio-92 o movimento passou a se chamar Fórum Brasileiro de ONGs e
Movimentos Sociais para o Meio Ambiente e Desenvolvimento e continuou, apesar
de dificuldades financeiras, a promover encontros nacionais sendo o mais recente em
Brasília sob a denominação de XII Encontro Nacional e da Consulta Nacional de
ONGs e Movimentos Sociais para a Rio +5. Na ocasião foi elaborado o documento
Brasil Século XXI
Caminhos da Sustentabilidade: 5 anos depois da Rio-92 contendo
17 relatórios setoriais. A situação atual do Fórum, no que se refere ao número de
participantes, difere daquela apresentada em 1992: já não são mais 1200 organizadores.
Muitas acabaram, outras surgiram, restando um número de 300 recadastradas.
O número de ONGs vem aumentando em todos os países. No Brasil, em 1997
existiam 726 ONGs ambientalistas (Carneiro,1999:29). No Paraná destacam-se duas
organizações: a Fundação Boticário e a SPVS (Sociedade de Pesquisa da Vida
Selvagem). Para Sachs (1993:30), o surgimento da sociedade social como terceiro
poder, ao lado do Estado e do poder econômico, deve ser considerado como o
acontecimento maior deste último quarto de século.
Viola (1995:142-144), analisando o movimento ambientalista brasileiro após a
RIO-92, aponta para outro fato que vem ocorrendo não obstante o aumento do número
de ONGs. Trata-se do que ele denomina de desorientação do ambientalismo, expressa
pela carência de uma agência estruturada e concreta da questão da sustentabilidade para
a sociedade brasileira; falta de elementos teóricos e analíticos a respeito de como
construir-se uma coalizão sócio-política sustentabilista no país, precariedade das bases
38
organizativas; precariedade da comunicação intersetorial e a produção limitada e baixa
circulação da informação.
Os países latino-americanos elaboraram em 1990 o relatório Nossa Própria
Agenda, cujo foco é a divergência de interesses entre os países ricos do Norte e os
pobres do Sul. No relatório, os países signatários deixam claro o que esperam dos países
ricos: mobilização de recursos financeiros para a recuperação ambiental dos países
pobres, transferência de tecnologias apropriadas ao desenvolvimento sustentável e
tratamento justo e eqüitativo nas trocas comerciais (ONU,1990).
Em 1991 o PNUMA, em conjunto com instituições ambientalistas, editou o
documento Cuidando do Planeta Terra uma estratégia para o futuro da vida no qual
é enfatizada a necessidade de uma cidadania ativa para a proteção do meio ambiente.
Cidadania oriunda de uma nova atitude para com o meio ambiente caracterizada por
uma consciência ecológica voltada à preservação ambiental, amparada na solidariedade
para com todas as formas de vida e na economia dos recursos naturais renováveis e não
renováveis (Catalão,1993:61).
Muitas das recomendações contidas no Relatório Brundtland (1987) orientariam,
cinco anos mais tarde, a temática e os objetivos da Conferência das Nações Unidas
sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento promovida pela ONU, no Rio de Janeiro,
Brasil. Na Conferência, também conhecida com Cúpula da Terra, ECO-92 ou
Conferência do Rio, e considerada a mais importante do século, foram discutidas
formas de conciliação entre propostas de desenvolvimento e preservação ambiental.
Dentre os fatos e acontecimentos marcantes ocorridos na Conferência destacam-se: a) o
discurso da Primeira Ministra da Noruega, Gro Brundtland, presidente do CMMAD, no
qual caracteriza, mais uma vez, a pobreza como a mais tocante questão ambiental de vez
que degrada o pobre e quem permite a pobreza. Denuncia, também, a resistência dos
países ricos à destinação de 0,7% do PIB (Produto Interno Bruto) para um fundo
internacional de proteção ambiental; b) a afirmação dos países africanos de que a fome
lá existente é fruto da degradação ambiental que estes são obrigados a fazer para pagar a
dívida externa e manter relações de troca com os países ricos. A renegociação da dívida
e a redução das taxas de juros, no entanto, não foram discutidas na Conferência; c) a
falta de disposição dos países tropicais em negociarem a Convenção das Florestas. O
texto produzido a respeito dessa questão limita-se a estabelecer princípios gerais para a
39
proteção e exploração florestal; d) a oposição ao estabelecimento de limite de prazo
para a redução drástica da emissão de gás carbônico, apresentada pelos Estados Unidos,
China, Índia e países árabes; e) as divergências entre países ricos e pobres no que diz
respeito ao necessário acordo de cooperação tecnológica cujo objetivo é o de possibilitar
aos países em desenvolvimento, o acesso a tecnologias não poluentes que lhes
permitiria crescer sem degradar o meio ambiente; f) a recusa dos Estados Unidos em
assinar a Convenção da Biodiversidade que prevê o pagamento pelo acesso às fontes de
biodiversidade e prevê a transferência de tecnologias geradas a partir dessas fontes.
(Catalão,1993:76-78; Carneiro,1999).
Dentre os documentos resultantes da ECO-92 destacam-se a Declaração do Rio
sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento e a Agenda 21 considerada pelo Senador José
Sarney, ex-presidente do Brasil, a mais extensa e detalhada cartilha consensual que a
Comunidade Internacional logrou acordar para fazer face ao dilema da relação,
recentemente tensa, entre a espécie humana e a natureza (Sarney,1996:2)
A Agenda 21 apresenta 40 capítulos divididos em quatro seções: dimensões
sociais e econômicas, conservação e gerenciamento dos recursos para desenvolvimento,
fortalecimento do papel dos grupos principais e meios de implementação. O documento
estabelece as orientações a respeito das políticas e estratégias necessárias à transição
para o desenvolvimento sustentável.
A respeito da Agenda 21, o Fórum Brasileiro de ONGs e Movimentos Sociais
para o Meio Ambiente e Desenvolvimento (Leroy,Maia,Guimarães 1997:16) denuncia:
O Brasil ainda não conta com uma Agenda 21 nacional, o que
deve causar ainda maior estranheza quando se considera o fato de ter
sido o governo brasileiro um dos grandes impulsionadores da
preparação da Agenda 21 internacional e de ter assumido a liderança da
sua negociação durante a Conferência do Rio em 1992 .
Na década de 90 outras Conferências das Nações Unidas foram realizadas. Entre
elas:
- 1995: Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Social (Dinamarca). Objetivo:
debater a respeito da necessidade urgente de resolver graves problemas sociais,
especialmente a pobreza, o desemprego e a marginalização social que afetam a
todos os países. Na ocasião foi elaborada a Declaração de Copenhague sobre o
40
Desenvolvimento Social. Ressalta-se que o documento, no item nº 26, estabeleceu
que as ações pretendidas têm como objetivo colocar o ser humano no centro do
desenvolvimento e orientar a economia para satisfazer mais eficazmente as
necessidades humanas.
- 1996: II Conferência sobre Assentamentos Humanos (Habitat II, Turquia).
Objetivo: debater a questão do abrigo para todos e o desenvolvimento de instalações
humanas sustentáveis num mundo urbanizado. Da Conferência resultou a
Declaração de Istambul sobre Assentamentos Humanos e a Agenda Habitat.
Os dados aqui apresentados não deixam dúvidas a respeito do avanço e da
consolidação dos movimentos ambientalistas mundiais, traduzidos por ações que
indicam uma interação crescente entre o ambientalismo stricto sensu
e o
ambientalismo multissetorial: empresarial, governamental, sócio-ambientalismo,
religioso, dos artistas, cientistas, jornalistas e educadores. A aproximação com estes
dois últimos reflete a importância atribuída à opinião pública e à escola, considerando-
se esta a responsável pela educação ambiental no ensino formal. (Viola,1995:140-141)
A educação ambiental ocorre, então, no campo educativo constituído pelos
aspectos políticos e pedagógicos que emergem da prática social, gerando um conjunto
de valores, saberes e concepções sempre articulados com a totalidade desta prática. Os
movimentos ecológicos, nesse sentido, também educam e são produtores de valores
(Carvalho,1989:105;Grün,1994:178). A respeito do papel das associações
ambientalistas na educação ambiental Viola (1992:105) estabelece quatro modalidades
de atuação: 1) difusão de valores ecológicos através de sua capacidade rotineira de luta
pela proteção ambiental; 2) programas próprios de educação ambiental; 3) colaboração
com programas do sistema formal de ensino; 4) envolvimento da população em
atividades específicas de conservação ou restauração do ambiente danificado. Destas a
primeira modalidade é a contribuição mais difundida.
Isto não significa, no entanto, que os movimento ambientalistas tenham um
discurso próprio sobre educação ambiental. Na verdade, o trabalho em educação
ambiental dos movimentos ecológicos tem sido mais prático do que reflexivo, com um
grande desequilíbrio, ainda que tenha sempre uma crescente preocupação em torná-la
um elemento de transformação da realidade em consonância com os princípios
reflexivos do ecologismo. Tal conclusão, apresentada nas Jornadas sobre Educación
41
Ambiental y Movimiento Ecológico ocorridas em Hondarribia (1993), é valida para os
movimentos ecológicos mundiais.
42
CAPÍTULO II
EDUCAÇÃO AMBIENTAL: NECESSIDADE, ORIGEM E
DESENVOLVIMENTO
A percepção de que os recursos naturais do Planeta não são infinitos e, além do
mais, que estão rapidamente se esgotando graças à degradação ambiental causada
principalmente por sistemas de produção que negligenciaram os cuidados necessários ao
meio ambiente, sob a égide de uma ética antropocêntrica, originou, como já apontado,
os movimentos de defesa do meio ambiente que visavam mudar o modelo de
desenvolvimento e melhorar as relações do Homem com os demais elementos do meio
ambiente. A questão ambiental passou a ser uma prioridade estratégica, um dos
componentes mais importantes para o planejamento político e econômico de todos os
países. No entanto, para se chegar a uma gestão do meio ambiente não é suficiente
somente a simples informação. É necessário que os valores, atitudes e comportamentos
humanos sejam modificados à luz de novos conhecimentos e, nesse processo, a
educação exerce um papel fundamental. Isso porque a educação é, do ponto de vista da
Antropologia, um processo de socialização que permite aos indivíduos a aquisição de
valores, atitudes e comportamentos característicos de sua sociedade e de sua cultura.
Transcende, portanto, uma mera função reprodutiva ao assumir seu papel educativo.
Surge, então, a educação ambiental como um enfoque favorecedor de uma síntese
entre as Ciências Naturais e as Ciências Sociais.
De acordo com Grün (1996:21)
a necessidade de se adicionar o predicado ambiental à
educação surge hoje pelo simples fato de que não existe ambiente na
educação moderna. Tudo se passa como se fôssemos educados e
educássemos fora do ambiente .
A respeito do surgimento da expressão educação ambiental, duas versões foram
coletadas. Segundo Caride (1991:47) e Dísinger (1983, citado por Sureda,Colom;
1989:47) foi cunhada em 1948, por Thomas Pritchard, por ocasião da fundação da então
denominada União Internacional para a Proteção da Natureza. Segundo Carvalho
43
(1989:102), o termo foi empregado pela primeira vez em um artigo publicado em 1965
por ocasião do encontro The Keele Conference on Education and the Countryside.
A educação ambiental foi lançada oficialmente, em nível internacional, durante a
realização da Conferência de Estocolmo, no mês de junho de 1972, quando a
Recomendação n 96 estabeleceu a sua criação como um programa educativo
internacional cujo desenvolvimento foi considerado como elemento essencial no
combate à crise ambiental mundial.
Quanto ao seu significado, Caride (1991:61), após considerar e analisar
inúmeros conceitos, afirma:
a educação ambiental é um processo educativo, aberto e permanente,
pessoal e coletivo, de orientação teórico-prática, mediante o qual os indivíduos
e a comunidade tomam consciência de sua realidade físico-social e cultural,
com o objetivo de adquirir e transmitir os valores, atitudes e comportamentos
necessários à compreensão e transformação do mundo, atendendo às
necessidades básicas da qualidade ambiental .
Salienta o autor que tal conceito
deixa patente que a educação ambiental não consiste exclusivamente
em promover uma maior capacidade de conhecimentos acerca do meio
ambiente... representa, sobretudo, um projeto pedagógico multidimensional .
A educação ambiental, como programa educativo, vem sendo incorporada `a
pauta dos encontros e conferencias a respeito do meio ambiente e sua degradação desde
a década de 60, quando ocorreu a institucionalização do movimento ambientalista.
Dessa época até o presente vem se ampliando a sua importância em função das
atribuições que lhes são outorgadas, resultantes das discussões a respeito dos problemas
ambientais em seus múltiplos enfoques. Assim é que, de uma visão inicialmente
preservacionista
conservacionista (década de 60) quando foi introduzida uma nova
visão: educar em favor do meio ambiente mais do que educar sobre e no meio ambiente,
visando a conservação do mundo natural via o desenvolvimento de valores para a sua
conservação, a educação ambiental, nos anos 71-72, respaldada pela Conferência das
Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano (1972), que recomendou a sua
promoção em todos os países e pela Conferência Intergovernamental sobre Educação
Ambiental realizada em Tbilisi (1977), passou a incorporar o enfoque holístico de meio
44
ambiente. Enfoque que integra, também, os fatores sócio-econômicos considerados
causadores dos problemas ambientais bem como os problemas do desenvolvimento para
os quais o Informe Brundtland (1987) apresenta como solução a adoção de uma nova
modalidade desenvolvimentista qualificada de desenvolvimento sustentável (ou
sustentado). À educação ambiental caberia, nos anos 80, educar para mudar a sociedade
de modo que esta se oriente para um desenvolvimento baseado na sustentabilidade e
responsabilidade global o que significa que deverá estar baseada em valores que
promovam a transformação social, o pensamento crítico e a ação emancipatória. Esta
educação ambiental, dirigida ao desenvolvimento sustentável, desenvolver-se-ia em
linhas de atuação que levariam à ativação da crítica do modelo vigente a partir do
desvelamento das contradições sociais e ecológicas; à reorientação das satisfação das
necessidades básicas via atuação sobre o consumo e os estilos de vida; à redefinição dos
objetivos, conteúdos, organização do trabalho e dos processos produtivos a partir de
critérios sociais e ambientais; à formação de uma marco alternativo de valores, centrado
na equidade e na solidariedade redistributiva para orienta a partilha dos ônus e
benefícios ambientais; à promoção da relação local
global via incentivo a projetos
comunitários que facilitem a compreensão das conexões globais entre a crise ecológica
e o modelo de sociedade (Caride,1998:11-14). Nessa mesma direção foi elaborada em
1992, durante a ECO
92 (Cúpula da Terra), a Agenda 21 (já citada) cujo capítulo 36,
dedicado a educação, reafirma as recomendações da Conferência de Tbilisi (1977) para
a educação ambiental ressaltando a necessidade da incorporação da perspectiva do
desenvolvimento sustentável. (Requejo,1991:138; Novo, 1995:33,65)
São três as áreas de programas incluídas no capítulo 36: reorientação do ensino
no sentido do desenvolvimento sustentável, aumento da consciência pública e
promoção de treinamento. Em vista dos objetivos do trabalho será focalizada a área
relacionada a questão do ensino da educação ambiental na perspectiva do
desenvolvimento sustentável, isto é, da sustentabilidade.
O ensino reconhecido como processo pelo qual seres humanos e as sociedades
podem desenvolver plenamente suas potencialidades, tem fundamental importância na
promoção do desenvolvimento sustentável considerando-se a sua possibilidade de
abordar questões do meio ambiente e do desenvolvimento, sendo este considerado parte
essencial do aprendizado. Como processo, o ensino é indispensável para a modificação
45
das atitudes das pessoas para com o ambiente, à medida em que possibilita-lhes o
desenvolvimento da capacidade de avaliar os problemas do desenvolvimento
sustentável. Avaliação que só se torna possível quando o ensino confere às pessoas
consciência ambiental e ética, técnicas e comportamentos consonantes com o
desenvolvimento sustentável e que favoreçam a sua participação efetiva nas tomadas de
decisão. Para tanto, o ensino sobre o meio ambiente e desenvolvimento deve abordar a
dinâmica do desenvolvimento do meio físico/biológico, do sócio/econômico e do
humano e integrar-se a todas as disciplinas em todos os níveis de ensino. A abordagem
dos conceitos de ambiente e desenvolvimento deverá ser realizada de forma a
possibilitar a integração entre eles a partir da análise das causas dos principais
problemas ambientais e de desenvolvimento em um contexto local. (Agenda 21,
1999:533-535)
A educação voltada para a sustentabilidade promove, desta forma, a aquisição de
valores tais como: cooperação, solidariedade, parceria, igualdade de direitos,
democracia e participação. Ressalta-se que a própria sustentabilidade é vista como uma
ética., um valor superior que, para ser alcançado, exige estratégias em escala planetária.
(Crespo,1998:222).
Na ECO-92 foi elaborada, ainda, a Carta Brasileira para a Educação
Ambiental em evento coordenado pelo Ministério da Educação. O documento enfatiza
a necessidade de compromisso real do poder público no cumprimento da legislação
brasileira visando a introdução ambiental em todos os níveis de ensino. Foi elaborado
também o Tratado de Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis e
Responsabilidade Global onde são apresentados princípios e um plano de ação para
educadores ambientais bem como uma lista de públicos a serem envolvidos na educação
ambiental. (Czapski,1998:54-55).
Nesse contexto, a educação ambiental nos anos 90 entra em uma nova fase:
torna-se mais crítica e os educadores estão cada vez mais conscientes de suas limitações
no que se refere a possibilidade de formação de uma sociedade sustentável. (Caride,
Meira, 1998:9). E com razão, pois, de acordo com Colom (1998:44)
a educação para o desenvolvimento supera amplamente os pressupostos
da educação ambiental uma vez que requer um novo paradigma educacional
46
que responda às mudanças econômicas, sociais, políticas, culturais e
axiológicas .
Educação que deve ter os seguintes requisitos: possibilitar o pensamento crítico
e inovador transformador da realidade; possibilitar a formação com consciência local e
planetária, basear-se em valores próprios do desenvolvimento sustentável que
possibilitem uma visão holística e sistêmica do Homem, da natureza e do universo;
possibilitar a promoção da diversidade cultural, a cooperação e o diálogo entre as
instituições os indivíduos, a democratização dos meios de comunicação, a integração
entre conhecimentos, atitudes, valores e comportamentos e a aquisição de
conhecimentos éticos que levem ao respeito a todas as formas de vida existentes no
Planeta. (Colom,1998:44).
Não obstante as dificuldades para a construção de uma educação para o
desenvolvimento sustentável, Colom (1998:46) afirma que esta pode ser implementada
já em nossas escolas se conseguirmos fazer uma síntese educativa entre os
conhecimentos oriundos da educação inter e multicultural, da educação ambiental, da
educação para o consumo e da educação cívico-social. Delas seriam extraídos
respectivamente os valores internacionais e o respeito pela diversidade cultural; a ética
em favor da natureza e a certeza da vulnerabilidade dos ecossistemas; a formação de
novos posicionamentos econômicos que impeçam o Homem de considerar o material
como valor e ainda, a formação de atitude em prol da justiça social, dos direitos
humanos e a cooperação entre os homens.
As idéias contidas no documento preparatório da Conferência Internacional
sobre o Meio Ambiente e a Sociedade: Educação e Sensibilização para a
Sustentabilidade realizada no ano de 1997 em Thessaloniki (Grécia), reafirmam as
conclusões a respeito da importância da educação em prol da sustentabilidade e da
educação ambiental na promoção de investigações interdisciplinares que possibilitem
uma visão mais ampla da questão do desenvolvimento sustentável. Conclusões que
haviam sido estabelecidas não só na ECO-92 como em reuniões realizadas em Istambul
(1993), Cairo (1994), Copenhague (1995) e Istambul (1996). Isto posto,
o princípio da sustentabilidade na concretude do seu desdobramento
processual (que inclui várias dimensões tais como sustentabilidade planetária,
ambiental e demográfica) constitui a própria meta da educação ambiental
47
sobretudo sob o aspecto de comprometimento para com a preservação,
conservação e recuperação das diversidades eco-sócio-culturais e econômicas
que ambientam as populações humanas e lhes possibilitam uma participação
diferenciadamente eqüitativa dos avanços tecnológicos globais . (Carneiro,
1999:69)
2.1 A trajetória da Educação Ambiental em países da América Latina especialmente
no Brasil
A partir do levantamento de eventos relacionados às questões ambientais
ocorridos em países da América Latina1 é possível se estabelecer algumas conclusões
que coincidem com os fatos já apresentados a respeito da crescente importância
atribuída pelos diversos países e suas instituições à educação ambiental bem como da
ampliação dos seus objetivos e finalidades. Assim é que, no início da década de 70, os
eventos relacionados à educação ambiental tinham como objetivo a capacitação de
professores para o desenvolvimento de projetos de ensino envolvendo a relação entre os
problemas ecológicos, a família e a população, para o uso de instrumentos de medição
da poluição atmosférica ou, ainda, orientá-los no planejamento de cursos a respeito da
conservação de materiais renováveis. (1972 - Curso Nacional de Educação:
população, ecologia e família, Córdoba/Argentina; 1974
Criação do Centro de
Estudo da Contaminação Atmosférica, Santa Fé/Argentina; 1975
Seminário
Docente, Córdoba/Argentina; 1976
Seminário sobre Educação Ambiental, Peru,
organizado pela UNESCO/PNUMA 2/ PIEA3).
Em meados da década de 70, mais precisamente 1976, nas temáticas dos eventos
passou a ser incorporado o conceito mais abrangente de meio ambiente (integração entre
fatores bióticos, abióticos e sócio-econômicos) e a questão do desenvolvimento
sustentável como orientador de uma política educativa voltada para o meio ambiente.
1 Os dados foram coletados de inúmeros estudos e publicações produzidos por entidades governamentais ou não, nos países: Espanha, Brasil, EUA, Argentina e Uruguai e por vários autores, entre os quais destaca-se Giolitto(1984),Novo(1988/1995),Carvalho(1989), Caride(1991),Brailovsky(1992),Dias(1992),Catalão(1993),Medina(1994),Pardo(1995), Carneiro(1999). Dentre as publicações, destaca-se Contact, Boletim de Educação Ambiental produzido pela UNESCO/PNUMA. Isso não significa, no entanto, que todos os eventos estejam contemplados nessa revisão. 2 PNUMA: Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente 3 PIEA: Programa Internacional de Educação Ambiental
48
Ressalte-se a preocupação dos países latino-americanos com a formação de professores,
a elaboração de materiais didáticos apropriados à nova orientação da educação
ambiental e o desenvolvimento de projetos experimentais nessa área. (1976
Encontro
Regional de Educação Ambiental da América Latina, Colômbia, sob o patrocínio da
UNESCO/PIEA; 1976 a 1979
Desenvolvimento do Projeto Experimental,
Colômbia; 1977
1a Oficina Experimental de Educação Ambiental da Bacia do Rio
Saldaña, Colômbia; 1978
Seminários Nacionais de Formação Docente, Argentina,
Brasil e Chile; 1979
Seminário de Educação Ambiental para a América Latina,
Costa Rica; 1983
Seminário Latino-americano sobre Educação Ambiental, Chile;
1985
1a Seminário Universidade e Meio Ambiente para a América Latina e
Caribe, Colômbia, patrocinado pela UNESCO/PNUMA; 1988
1a Simpósio Ibero-
americano de Educação Ambiental, Chile; 1988
Seminário Latino-americano de
Educação Ambiental, Argentina; 1988
Seminário sobre a Gestão Ambiental para
a América Latina, Venezuela. Os três últimos realizados com a cooperação do
PNUMA).
A par dos eventos citados, inúmeras outras atividades relacionadas ao ensino de
educação ambiental vêm sendo desenvolvidas, desde a década de 70, em vários países
latino-americanos. Atividades que envolvem a elaboração e testagem de metodologias
para a capacitação de docentes dos vários níveis de ensino e de líderes comunitários,
produção de materiais didáticos e intercâmbio entre docentes.
Na década de 90, o destaque deve ser dado às reuniões envolvendo os países
participantes do MERCOSUL4 realizadas com o objetivo de promover, de forma
cooperativa, atividades de apoio à gestão ambiental (educação, capacitação,
investigação, etc), em consonância com as diretrizes da educação para a
sustentabilidade que enfatizam a necessidade da cooperação, da solidariedade e da
parceria entre os povos. (1993
1a Reunião Especializada de Meio Ambiente do
MERCOSUL/REMA, Uruguai; 1994
2a Reunião Especializada de Meio Ambiente
do MERCOSUL/REMA, Argentina; 1995
3a Reunião Especializada de Meio
Ambiente do MERCOSUL/REMA, Brasil. Nesta última foi aprovado o documento
4 MERCOSUL: Mercado Comum do Sul, organização atualmente constituída por Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai
49
Diretrizes Básicas em Matéria de Política Ambiental a ser adotado no âmbito do
MERCOSUL).
Há que se salientar, nesse contexto, o papel da Rede de Formação Ambiental
para a América Latina e o Caribe que vem, há 17 anos, impulsionando um amplo
processo de educação e capacitação que acompanha a institucionalização das
administrações ambientais dos países dessa região. (PNUMA,1999:1). Justamente com
o objetivo de analisar as atuais orientações da Rede e propor um projeto para o biênio
2000-2001 foi realizada, em abril do corrente ano, uma reunião de especialistas. O
projeto será apresentado para a aprovação final na Reunião de Ministros a ser
celebrada em Barbados em fevereiro de 2000.
Não obstante o empenho da Rede, a educação ambiental tem sido a prioridade
esquecida dentre os acordos estabelecidos na RIO-92 e, como conseqüência, deixou de
ser um campo prioritário de vários organismos internacionais. Em contrapartida, os
ministros do meio ambiente da América Latina e Caribe vêm atribuindo prioridade à
educação ambiental resultando, tal fato, no fortalecimento das redes nacionais de
formação ambiental associadas à Rede de Formação Ambiental do PNUMA. (PNUMA,
1999:1).
A Rede Brasileira de Educação Ambiental, que teve seu inicio em 1992, foi
idealizada no processo preparatório da ECO-92 com o propósito de multiplicar, manter
os participantes interligados e com a energia canalizada para a finalidade do coletivo,
estimular e acompanhar a formação de rede regionais e municipais de educação
ambiental. (Czapski,1998:152).
No Brasil a educação ambiental foi oficializada pelo Decreto Federal N 73.030
de 30/10/73. O Decreto criava, nesse momento, a Secretaria Especial do Meio
Ambiente (SEMA), subordinada ao Ministério dos Transportes, primeiro organismo
brasileiro de ação nacional, orientado para a gestão integrada do meio ambiente (Dias,
1992:46). Segundo o autor a criação da SEMA foi conseqüência da Conferência de
Estocolmo, de pressões do Banco Mundial e de algumas instituições ambientalistas que
atuavam no Pais (Dias,1991:4). Passou a ser, desde essa época, atribuição do Estado a
promoção de programas nacionais para o meio ambiente, a capacitação e a educação
ambiental. Tais ações sendo consideradas instrumentos essenciais à conscientização do
50
povo sobre o uso e conservação de recursos naturais. Ainda que, segundo Catalão
(1993:111),
o documento não defina o que seja educação ambiental e circunscreva
o conceito de meio ambiente ao ambiente natural, o referido decreto assinala
um progresso em relação à legislação anterior que trabalhava de forma ainda
mais fragmentada as propostas educativas para o setor, separando educação
sanitária florestal e outras, que foram então agrupadas como educação para o
ambiente .
Os projetos de educação desenvolvidos pela SEMA foram extremamente
conservacionistas na visão de Reigota (1994:12) em desacordo com a política e as
práticas ambientais vigentes no país. No entanto, apesar desta característica e de sua
atuação limitada, a SEMA exerceu um papel importante, sendo a responsável pela
organização e implementação de cursos de capacitação para docentes tanto em nível de
extensão como de especialização e, ainda, por fomentar a discussão nas universidades a
respeito das questões ambientais.(Meyer,1994:63). Dentre os projetos desenvolvidos na
década de 70, um dos mais divulgados foi a realização do Curso de Extensão para
Profissionais de Ensino de 1º grau
Ecologia (1976), baseado na reformulação da
proposta curricular de ciências físicas e biológicas. O curso, resultado de convênio entre
a SEMA, a Fundação Educacional do Distrito Federal e a Universidade de Brasília,
envolveu 44 unidades educacionais e propiciou o treinamento de 4000 profissionais
(professores, supervisores, administradores), de acordo com dados apresentados por
Dias (1991:4). No entanto, mesmo não desenvolvendo um autêntico trabalho de
educação ambiental, considerando-se a sua concepção atual, como seu nome indica
centrou os conteúdos e as atividades no estudo da Ecologia fato que, para a época, foi
considerado um avanço, pois os assuntos de que tratavam os materiais didáticos
utilizados no curso, usualmente eram apresentados nos cursos de formação de
professores de forma isolada, em disciplinas como Botânica e Zoologia.
Da mesma forma, mesmo as recomendações da Conferência de Estocolmo terem
sido no sentido do desenvolvimento da educação ambiental num enfoque denominado à
época de multidisciplinar, no ano de 1975 a Fundação Educacional do Distrito Federal
desenvolveu o projeto O Homem e o Meio Ambiente, com textos modulares e
sugestões metodológicas para o ensino de ciências físicas e biológicas na rede escolar
51
de Brasília. A visão de que o ensino de educação ambiental deva ser preferencialmente
(quando não exclusivamente) desenvolvido na disciplina Ciências ainda é predominante
na educação brasileira. Somente muito recentemente a educação ambiental passou a ser
discutida e considerada também na disciplina Geografia.
Em contrapartida, o Projeto de Educação Ambiental da Ceilândia (Brasília)
proposto pela Secretaria de Educação e Cultura em 1977 e desenvolvido com a
cooperação de órgãos e instituições como a SEMA e a UNESCO, antecipou as
recomendações internacionais oriundas das Conferências de Tbilisi (1977) e Moscou
(1987). Isso porque, de acordo com Catalão (1993:134), a proposta contida no referido
Projeto enfatizava o currículo flexível, o enfoque interdisciplinar, a participação
comunitária e a transformação da realidade local.
Ainda na década de 70, dois programas educativos merecem destaque: 1) a
publicação do livro Saúde como Compreensão de Vida, que apresenta a saúde como
resultante das formas de relação Homem Mundo natural numa superação do conceito
de saúde como bem estar físico e mental. (Meyer,1994:63); 2) a publicação do
documento Ecologia uma proposta para o ensino de 1o e 2o graus fruto de convênio
do Ministério da Educação e Companhia de Tecnologia e Saneamento Ambiental de
São Paulo (CETESB), introduzindo o estudo da ecologia nos currículos escolares. No
entendimento de Dias (1991:6) tratava-se (o documento) de uma forma absolutamente
reducionista de abordar a temática ambiental, contrariando as diretrizes de Tbilisi.
Refletia, talvez, a política ambiental do País preocupada com o desenvolvimento
econômico independentemente das suas conseqüências.
Merece destaque, também, a realização em 1978 do 1º Simpósio Nacional de
Ecologia (Curitiba
Paraná). Do encontro resultou o documento A Carta de Curitiba,
um manifesto de repúdio aos atuais modelos desenvolvimentistas em especial àquele
seguido pelo Governo Brasileiro, por serem considerados absurdos e insustentáveis. O
documento também exorta a população a participar das grandes e pequenas decisões que
afetam seu destino. Em plena vigência do período ditatorial, traz a afirmação da
necessidade da abertura democrática e da participação cidadã, na redefinição de
progresso. (Carta de Curitiba apud Dias,1992:337).
A institucionalização da educação ambiental recebeu um grande estímulo no
início da década de 80 com a promulgação, em nível federal, da Lei nº 6.938 de 1981
52
que estabelecia no seu 10º princípio a sua inclusão em todos os níveis de ensino
(educação formal) e na educação da comunidade (educação não-formal), com o objetivo
de capacitar a todos para a participação ativa em defesa do meio ambiente. Esta Lei,
conquista do movimento ambientalista brasileiro, ao dispor sobre a política nacional do
meio ambiente, seus fins, mecanismos de formulação e aplicação constitui-se, segundo
Dias (1992:51) num importante instrumento do amadurecimento e consolidação da
política ambiental no país. Catalão (1993:112) a esse respeito observa:
a Lei 6938 não é conclusiva sobre a forma de inserção do tema
ambiental no currículo e o Ministério da Educação também não se pronunciou
sobre a matéria. Assim como os projetos de educação ambiental e as grandes
discussões sobre o tema, também na legislação sobre a educação ambiental a
iniciativa parte dos órgãos públicos de meio ambiente, inserindo-se na sua
legislação específica antes que tenha sido discutida pelos órgãos públicos de
educação .
A Lei nº 6.938 criou também o Sistema Nacional do Meio Ambiente
(SISNAMA), integrado pelo Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) do
qual participam os ministérios e entidades setoriais da administração federal diretamente
afetos à questão ambiental, bem como órgãos congêneres das administrações estaduais e
municipais, além de entidades de classe e ONG s. O CONAMA teria objetivos amplos:
assessorar, estudar e propor ao governo federal diretrizes de políticas governamentais
para o meio ambiente e deliberar sobre normas e padrões de preservação ambiental;
fornecer, ao público, informações tanto a respeito das agressões ao meio ambiente como
de ações de proteção ambiental
estudos de impactos ambientais, por exemplo. O
Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturáveis Renováveis
(IBAMA) criado em 1989, em substituição aos órgãos: Secretaria do Meio Ambiente
(SEMA), Superintendência do Desenvolvimento da Pesca (SUDEPE), Superintendência
da Borracha (SUDHEVEA), Instituto Brasileiro do Desenvolvimento Florestal (IBDF),
tornou-se o órgão executor da política ambiental brasileira.
Em 1987, o Parecer 226/87, emitido pelo então Conselho Federal de Educação
ressaltou a urgência da formação de uma consciência pública voltada para a preservação
da qualidade ambiental, enfatizando que a educação ambiental deve ser iniciada a partir
da escola, numa abordagem interdisciplinar, levando a população a um posicionamento
53
em relação a fenômenos ou circunstâncias do ambiente. O Parecer, mesmo denotando
uma visão preservacionista conservadora típica de décadas anteriores, teve o mérito de
apontar o caráter interdisciplinar da educação ambiental em consonância com as
recomendações das Conferências e Seminários Internacionais. A esse respeito cabe aqui
um parênteses. Embora nesses eventos tenha sido dado grande ênfase à questão da
interdisciplinaridade e vários projetos desenvolvidos no país tenham buscado alcançá-lo
(como, por exemplo, a proposta de Ciência Integrada, a proposta curricular para o
ensino de Ciências e Programa de Saúde do Estado de São Paulo, ambas de 1988 e o
projeto Educação Científica
Tecnológica da Universidade de Brasília, iniciado no
início da década de 90, inserido no Projeto de ensino à distância O Professor em
Construção), do ponto de vista prático, ou seja, do desenvolvimento de propostas
concretas de trabalho e da produção de material instrucional), pouco se produziu nesse
sentido (Carvalho,1989:155). Pode-se acrescentar que o mesmo ocorre ainda hoje nas
escolas, nas salas de aula, onde as atividades de ensino continuam se desenvolvendo
segundo o modelo tradicional, em disciplinas isoladas, com conteúdos bem demarcados,
fato que dificulta, quando não impossibilita, o enfoque interdisciplinar. Acrescenta-se à
essa situação a ausência de consenso a respeito do significado do termo
interdisciplinaridade.
De acordo com Carvalho (1989:237-239), o trabalho interdisciplinar não
prescinde dos conhecimentos particulares mas, ao contrário, alimenta-se deles, não dilui
as abordagens específicas e as perspectivas próprias de cada ciência pois é a partir das
análises empreendidas pelas várias ciências que a interdisciplinaridade se torna
possível. Segundo o autor, outros pressupostos, de ordem mais prática, devem ser
considerados a respeito da questão da interdisciplinaridade, tais como a dificuldade em
romper as barreiras entre as pessoas fato que dificulta sobremaneira o trabalho conjunto
chegando, às vezes, a impedi-lo; necessidade de mudança das atitudes do professor em
relação ao seu trabalho quer com alunos, quer com seus colegas. Isto é, mudança de
atitudes individualistas para atitudes de cooperação; os horários de trabalho que não
possibilitam o planejamento conjunto e a troca de experiências; falta de recursos
materiais; despreparo do professor e administradores para esse tipo de trabalho; excesso
de aluno em sala de aula, etc. O próprio Parecer 226/87 contribui para dificultar a
compreensão e a operacionalização da interdisciplinaridade ao sugerir que a educação
54
fosse obrigatoriamente incluída na parte diversificada dos currículos cuja constituição
seria prerrogativa dos Conselhos Estaduais de Educação. Dentre as sugestões gerais
apresentadas na ocasião, figura a formação de equipes interdisciplinares e a
constituição, em cada unidade da Federação, de um Centro de Educação Ambiental. O
Parecer também não explicita o conceito de meio ambiente, concorrendo deste modo
para o surgimento de variadas interpretações. Assim, as múltiplas concepções a respeito
do termo meio ambiente também têm dificultado o desenvolvimento das atividades e de
materiais didáticos para o ensino de educação ambiental. Para um número expressivo de
educadores, meio ambiente tem o mesmo significado de habitat, seja ele mais definido
ou limitado ou mais abrangente
Planeta, espaço natural. Nessa concepção os seres
vivos estariam excluídos. Outros educadores relacionam meio ambiente como o
conjunto de seres vivos e não vivos da natureza. Esta última concepção é, em geral, a
veiculada pela mídia seja nos programas educativos, nos anúncios ou, ainda, nas
propagandas de órgãos oficiais. Ressalta-se que, nesse último caso, o Homem não
aparece como integrante do meio. Tal fato é confirmado por Krasilchik (1986:1958)
quando afirma que, ao se fazer uma análise dos diversos projetos de educação
ambiental, verifica-se uma grande diversidade na concepção de meio ambiente que
passa por dois extremos: num lado o ambiente é apenas um tema neutro de estudo, na
antiga tradição naturalística cujo objetivo é o conhecimento íntimo e direto da natureza
e, às vezes, a conservação dos recursos naturais. No outro extremo o termo inclui o
Homem e os fatores que interferem em suas relações com o meio ambiente.
Reigota (1995:76), ao analisar os resultados de pesquisa feita com seus alunos da
disciplina Fundamentos e Tendências da Educação Ambiental do curso de capacitação
de professores ofertado pela Faculdade de Filosofia de Guarapuava (Paraná),
estabeleceu a conclusão que é válida até hoje:
a compreensão do meio ambiente enquanto interação complexa de
configurações sociais, biofísicas, política, filosóficas e culturais parece distante
de grande parte dos professores, visto a impossibilidade destes incorporarem
espontaneamente questões que perfazem a totalidade da problemática. A
abrangência de seus conhecimentos profissionais e pessoais, não era, naquele
momento, suficiente para reconhecer no meio ambiente um conteúdo existencial
e conceitual multifacetado .
55
É necessário que se acrescente um fato explicativo: a quase totalidade dos
alunos a que o autor se refere tem formação em Ciências e Biologia e são justamente
eles, em geral, os responsáveis pelo ensino de educação ambiental nas escolas de 1º
grau. De todo modo, o significado de meio ambiente como estabelecido pela
Conferência de Tibilisi, não é aquele comumente apresentado pelos professores,
administradores, planejadores e autores de livros didáticos.
A falta de clareza a respeito do significado de meio ambiente certamente afeta o
entendimento do que seja educação ambiental e, conseqüentemente, a sua
operacionalização nas escolas. Assim é que são consideradas, ainda hoje, como
atividades de educação ambiental e como tal desenvolvidas, os passeios ecológicos e a
construção de hortas, alcançando os primeiros os aplausos de todos (professores, alunos
e administradores) a ponto de, muitas vezes, servir como propaganda para o
estabelecimento de ensino. Constata-se, assim, a permanência da proposta pedagógica
estudo do meio e a resistência, por parte dos educadores, em substituí-la pela pedagogia
ambiental mais adequada ao conceito de educação ambiental como processo que visa,
além de fornecer informações a respeito do meio, desenvolver nos alunos valores,
atitudes e comportamentos ambientalmente corretos.
A preocupação com a inexistência de um conceito consensual de educação
ambiental que propiciasse a unidade e a coerência entre os vários projetos iniciados à
época, estimulou a Secretaria Especial do Meio Ambiente (SEMA) a criar, já em 1978,
um grupo de trabalho constituído por educadores, ecólogos, engenheiros, economistas,
biólogos e cientistas sociais, com a finalidade de estabelecer o conceito de educação
ambiental e seus objetivos gerais (Krasilchik,1986:1959).
A Constituição Brasileira, promulgada em 1988, consolidou a
institucionalização da educação ambiental no país. A par dos avanços no que se refere
às questões ambientais, procurou garantir o princípio constitucional do direito ao meio
ambiente ecologicamente equilibrado previsto no Artigo 225 do capítulo VI, visto este
ser bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida. Para tanto, no 1º
parágrafo do referido Artigo, estabelece que é incumbência do poder público promover
a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para a
preservação do meio ambiente. As Constituições Estaduais, seguindo o preconizado na
Constituição Brasileira, reafirmaram os mesmos princípios, garantindo a eficácia da
56
legislação nas duas instâncias da administração pública. Os comentários a respeito da
Constituição do Estado do Paraná, promulgada em 1989, serão apresentados em
capítulo posterior deste trabalho.
Na esteira da Constituição, leis, portarias e programas foram aprovados nas várias
instâncias governamentais. Entre essas destacam-se:
criação do Fundo Nacional do Meio Ambiente (1989), de natureza contábil, no
âmbito do Ministério do Meio Ambiente e da Amazônia Legal. Objetivo: obtenção
de recursos destinados à implementações das ações relativas ao meio ambiente
propostas na Constituição Brasileira de 1988.
a divulgação das Diretrizes de Educação Ambiental elaboradas pela Secretaria do
Meio Ambiente e Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais
Renováveis. O documento divide-se em três partes: bases conceituais, critérios para
a operacionalização e diretrizes para a operacionalização.
a Portaria nº 678, de 14 de maio de 1991/MEC, determinando que a educação
escolar deveria contemplar a educação ambiental, permeando todo o currículo dos
diferente níveis e modalidades de ensino. Esta Portaria ensejou a realização de
encontros nacionais e regionais de educação ambiental nos quais foi enfatizada a
necessidade urgente de investimentos nessa área, principalmente quanto à formação
de professores. Em decorrência, durante o ano de 1992, o MEC apoiou a criação de
Centros de Educação Ambiental em alguns Estados que tornaram-se catalisadores
de experiências e possibilidades para a melhoria das condições de vida das
comunidades onde se encontram inseridos (BRASIL,s.d:10).
a elaboração do Plano Decenal de Educação para Todos 1993-2003, onde a
dimensão ambiental se faz presente, com mais ênfase, nos objetivos referentes à
satisfação das necessidades básicas dos indivíduos e à ampliação dos meios e do
alcance da educação básica;
o Programa Nacional de Educação Ambiental (PRONEA) formulado pelos
Ministérios do Meio Ambiente, Recursos Hídricos e as Amazônia Legal; Educação
e Desporto; Cultura; Ciência e Tecnologia. O Programa, criado em 1994 com a
finalidade de instrumentalizar politicamente as ações da educação ambiental no
país, tem como objetivo principal possibilitar as ações propostas na Constituição de
1988 e nos compromissos internacionais dos quais o Brasil é signatário. As ações
57
do PRONEA orientar-se-ão em duas perspectivas das quais ressaltamos a primeira
por estar relacionada ao presente estudo: o aprofundamento e a sistematização da
educação ambiental para as atuais e futuras gerações, tendo o sistema escolar como
seu instrumento. Como orientadoras de práticas de educação ambiental foram
estabelecidas sete linhas de ação das quais destaca-se a de número 1: Educação
Ambiental Através do Ensino Formal. Seu objetivo é
capacitar o sistema de educação formal, supletivo e
profissionalizante, em seus diversos níveis e modalidades, visando a
formação da consciência, a adoção de atitudes e a difusão do
conhecimento teórico e prático, voltados para a proteção do meio
ambiente e a conservação dos recursos naturais (BRASIL,1994:8).
Tal objetivo deverá ser alcançado mediante ações estratégicas como capacitação
de docentes e técnicos dos sistemas de ensino, apoio aos projetos desenvolvidos em
cada Estado, como por exemplo, os projetos experimentais dos municípios de
Macaé (RJ); Mata de São João (BA) e Recife (PE), onde estão aplicadas
metodologias específicas e distintas de capacitação de multiplicadores, gestão e
educação ambiental no meio urbano; apoio a projetos de pesquisa para geração de
instrumentos e metodologias voltadas para a abordagem da dimensão ambiental nos
currículos e a projetos do Governo Federal (Programa Nacional do Livro Didático,
de Salas de Leitura, Biblioteca do Professor, etc,); à produção de material
educativo e à revisão da bibliografia e do material pedagógico referente às questões
ambientais.
a instalação da Câmara Técnica Temporária de Educação Ambiental criada pela
Resolução nº 11 de 11 de Dezembro de 1995, do Conselho Nacional de Meio
Ambiente (CONAMA);
a promulgação da Lei nº 9276 de Maio de 1996 que instituiu o Plano Plurianual
para o quadriênio 1996/1999 que define como um dos principais objetivos da área
de Meio Ambiente a promoção da educação ambiental via divulgação e uso de
conhecimentos sobre tecnologias de gestão sustentável dos recursos naturais;
a promulgação, em Dezembro de 1996, da Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional (LDB), que enfatiza a dimensão ambiental na educação escolar.
Referências mais detalhadas a respeito da LDB estão apresentadas em capítulo
58
posterior deste trabalho mas cabe ainda ressaltar, como afirma Carneiro (1999:47),
que a ausência de uma referência direta sobre a educação ambiental na LDB em
nada diminui seu estatuto institucional e, menos ainda, sua importância sócio-
pedagógica. Isso porque, explica a autora citada, os artigos que referem-se à
questão ambiental o fazem em termos claramente denotativos e suficientemente
compreensivos para a realização da dimensão ambiental da educação escolar.
Com toda a certeza a implementação da educação ambiental no ensino formal será
fortalecida graças ao estabelecimento, em 1997, pelo Ministério da Educação e do
Desporto, dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) que, ao proporem uma
educação comprometida com a cidadania e eleger esta como eixo da educação
escolar, firmou o compromisso de orientá-la segundo princípios que consideram a
dignidade da pessoa humana, a igualdade de direitos, a participação e a co-
responsabilidade pelos distintos da vida coletiva. Princípios estes que não diferem
daqueles defendidos pela educação ambiental e que encontram-se embutidos na sua
conceituação, se aceitarmos o conceito apresentado e defendido neste trabalho,
elaborado a partir das idéias de estudiosos também aqui citados.
Com o intuito de favorecer e assegurar a inclusão da educação ambiental nos
currículos escolares e, ainda mais, de permitir que cada estabelecimento de ensino
priorize os temas relativos à cidadania de forma contextualizada, isto é, de acordo
com as realidades locais e regionais, os PCNs instituíram os Temas Transversais
dentre os quais estão incluídos a Ética e o Meio Ambiente, que serão desenvolvidos
paralelamente aos conteúdos das áreas de conhecimento (Língua Portuguesa,
Matemática, Ciências Naturais, História, Geografia, Artes, Educação Física e Língua
Estrangeira). Percebe-se, então, que as questões ambientais não deverão mais ficar
restritas à disciplina Ciências Físicas e Biológicas (e Geografia).
Em linhas gerais pode-se descrever assim os dois Temas Transversais citados:
- Ética: diz respeito às reflexões sobre as condutas humanas. A questão central das
preocupações éticas é a justiça, entendida como inspirada pelos valores de igualdade
e eqüidade. O Tema traz a proposta de realização, na escola, de um trabalho que
possibilite o desenvolvimento da autonomia moral, condição para a reflexão ética.
Para tanto o trabalho deverá se desenvolver em quatro blocos de conteúdo: respeito
59
mútuo, justiça, diálogo e solidariedade, valores referenciados no princípio da
dignidade do ser humano, um dos fundamentos da Constituição Brasileira;
- Meio Ambiente: a perspectiva ambiental consiste num modo de ver o mundo em que
se evidenciam as inter-relações e a interdependências dos diversos elementos na
constituição e manutenção da vida. Em termos de educação essa perspectiva
contribui para evidenciar a necessidade de um trabalho vinculado aos princípios da
dignidade do ser humano, da participação, da co-responsabilidade, da solidariedade
e da eqüidade. A partir desse pressuposto, a principal função do trabalho com o
Tema Meio Ambiente é contribuir para a formação de cidadãos conscientes, aptos
para decidirem e atuarem na realidade sócio-ambiental de um modo comprometido
com a vida, o bem-estar de cada um e da sociedade local e global que, em última
instância é também o objetivo da educação ambiental (BRASIL, 1997b).
Acredita-se que a implantação de diferentes Temas Transversais no currículo
escolar tenha se dado para facilitar e orientar a ação pedagógica de professores,
planejadores e administradores escolares. Por outro lado, quando se advoga uma
educação ambiental que tem como objetivo primordial desenvolver, nos alunos,
valores, atitudes e habilidades que permitam-lhes, a partir da aquisição de
conhecimentos e da compreensão da sua realidade físico-social e cultural, tomar
decisões e apresentar comportamentos ambientalmente corretos visando a melhoria
da qualidade ambiental e a sustentabilidade, sabe-se que sua implementação só será
possível se os professores, na sua ação cotidiana, incluírem informações e questões
relativas à saúde, higiene, orientação sexual, pluralidade cultural e ética, que
constituem os Temas Transversais. Em suma, o que se pretende dizer é que a
educação ambiental poderia ser tema transversal a partir do qual seriam estudados,
analisados e questionados os conteúdos das áreas de conhecimentos.
a transformação, em Lei, do projeto nº 3792/93 de autoria do Deputado Fábio
Feldmann, que dispõe sobre a educação ambiental e institui a Política Nacional de
Educação Ambiental, veículo articulador do Sistema Nacional de Meio Ambiente
SISNAMA e do Sistema Nacional de Educação. A nova lei, nº 9.795 de 27 de
Abril de 1999 (Anexo 13) composta por três capítulos, estabelece que as atividades
econômicas vinculadas à Política Nacional de Educação Ambiental devem ser
desenvolvidas na educação formal e não formal inter-relacionadas com a
60
capacitação de recursos humanos e o desenvolvimento de estudos e pesquisas,
respeitando sempre os objetivos e princípios básicos da educação ambiental
definidos no Capítulo I:
- enfoque humanista e democrático;
- a concepção do meio ambiente sem sua totalidade, considerando a interdependência
entre o meio natural e social;
- o pluralismo das idéias e concepções pedagógicas;
- a vinculação entre a educação, o trabalho e as práticas sociais;
- a garantia de continuidade e permanência do processo educativo;
- a participação da comunidade;
- a permanente avaliação crítica do processo educativo;
- a abordagem das questões ambientais do ponto de vista local, regional, nacional e
global;
- o reconhecimento da pluralidade e diversidade cultural existente no país;
- o desenvolvimento de ações junto a todos os membros da coletividade, respondendo
às necessidades e interesses dos diferentes grupos sociais e faixas etárias.
Em relação ao ensino formal, a lei estabelece que, em nível de educação básica, a
educação ambiental não deve ser como uma disciplina no currículo escolar. Já em
cursos superiores devem ser incluídas disciplinas que tratem das interações das
atividades profissionais com o meio ambiente natural e social. Nos currículos dos cursos
de formação de professores em todos os níveis, a presença de temas relativos às relações
entre o meio social e o natural em todas as disciplinas onde couberem, e obrigatória. A
lei prevê, ainda, que os professores em atuação deverão receber formação complementar
visando o cumprimento adequado dos objetivos e princípios da Política Nacional de
Educação Ambiental.
Cabe aos estados e municípios, na esfera de sua competência e nas áreas de sua
jurisdição, definir diretrizes, normas e critérios para a educação ambiental.
Ao longo do processo de institucionalização da educação ambiental vários
eventos, em diferentes estados brasileiros, foram realizados. Serão a seguir
61
apresentados5, em ordem cronológica. Cabe aqui, a esse respeito, uma ressalva. De
acordo com Reigota (1994:51), com o assassinato, em 1988, de Chico Mendes,
ambientalista de renome internacional e a indignação mundial pelo acelerado processo
de desmatamento da Amazônia ocorreu, no país, um boom
da educação ambiental,
excessivamente presente na mídia e, em geral, com pouco fundamento filosófico e
pedagógico. Cita, como exemplo, a ocorrência dos vários Primeiro Encontro Nacional
de Educação Ambiental, a partir de 1988. É, no entanto, necessário que se ressalte que
nesse contexto realizaram-se, também, cursos e eventos caracterizados por propostas
adequadamente fundamentadas e atividades criteriosamente desenvolvidas.
1984 - 1º Encontro Paulista de Educação Ambiental (Sorocaba, S.P.) que, embora
de caráter regional, merece destaque por ter reunido pela primeira vez no Brasil, os
poucos praticantes e pesquisadores em educação ambiental, que apresentaram
trabalhos realizados no últimos anos (Reigota,1994:51).
1986
1º Seminário Nacional sobre Universidade e Meio Ambiente, realizado na
Universidade de Brasília, teve como objetivo iniciar um processo de integração
entre as ações do Sistema Nacional do Meio Ambiente e do Sistema Universitário.
Do encontro resultaram importantes resoluções do CONAMA, algumas ainda em
vigor. Nos anos três anos seguintes mais três cursos de Especialização em Educação
Ambiental foram realizados na Universidade do Mato Grosso, promovidos por um
conjunto coordenado de órgãos (SEMA, IBAMA, Conselho Nacional de Pesquisa;
Coordenação de Aperfeiçoamento do Pessoal de Ensino Superior, Ministério da
Educação e Cultura, com o apoio do PNUMA.
1988
I Congresso Brasileiro de Educação Ambiental e II Congresso Estadual
de Educação Ecológica (Ibirubá, Rio Grande do Sul), sob o patrocínio da SEMA,
do MEC, da Superintendência do Desenvolvimento da Região Sul, da Secretaria de
Estado da Agricultura e Abastecimento, da Secretaria de Estado de Saúde e do
Meio Ambiente e da Prefeitura Municipal de Ibirubá. Objetivo: propiciar ocasião de
encontro, reflexão e debate sobre a educação ambiental na atual conjuntura social,
possibilitando ampla participação das comunidades na problemática ambiental.
5 Para elaboração do resumo foram consultados os trabalhos de Wilheim(1988); Dias(1992); Catalão(1993); Reigota(1994); Meyer(1994); Czapski(1998); Carvalho(1999); Carneiro(1999), além dos anais do 1º Congresso Brasileiro de Educação Ambiental e IV Congresso Estadual de Educação Ecológica. RS. 1988
62
Lançamento do Guia do Professor de 1º e 2º graus (Série Educação Ambiental)
patrocinado pela Secretaria de Meio Ambiente do Estado de São Paulo e pela
Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (CETESB). O livro, fruto do
projeto de autoria da professora Kazue Matsushima, apresenta inúmeras e variadas
sugestões de estratégias de abordagem da questão ambiental nas disciplinas
escolares existentes nos currículos. Seu objetivo é ajudar os professores a ampliar a
discussão ambiental no seu trabalho educativo de modo que os resultados se
traduzam em desenvolvimento harmônico da sociedade e em melhoria da qualidade
de vida de todos os cidadãos.
1989
1º Encontro Nacional sobre Educação Ambiental no Ensino Formal
(Recife), promovido pelo IBAMA e Universidade Federal de Pernambuco, com a
participação de representantes de vários órgãos estaduais de meio ambiente.
Realização do Programa Universidade Aberta, de ensino à distância, em convênio
com 15 universidades nordestinas e outras instituições de difusão tecnológica. Os
fascículos de educação ambiental foram elaborados por professoras da Universidade
Rural de Pernambuco.
I Fórum de Educação Ambiental, realizado na Faculdade de Direito no Largo de
São Francisco, São Paulo, sob a coordenação da Coordenadoria Executiva de
Cooperação e de Atividades Especiais
USP e de um conjunto de instituições
governamentais e não-governamentais. Objetivos: possibilitar a formação de um
campo de diálogo que aponte para o aprofundamento das práticas e das análises
críticas sobre as mesmas; criar um espaço para a troca de afetividades entre os
participantes; fortalecer o movimento e a organização dos educadores ambientais e
debater o papel da educação ambiental no enfrentamento da insustentabilidade do
atual modelo de desenvolvimento.
1990
Realização do IV Curso de Especialização em Educação Ambiental
(Cuiabá, Mato Grosso) promovido pelo PNUMA/IBAMA/CNPq/CAPES e
Universidade Federal do Mato Grosso, com a participação de representantes do
Brasil, Colômbia e Peru.Objetivo: operacionalização de um exercício
interdisciplinar de análise das questões ligadas à introdução da dimensão ambiental
no processo de desenvolvimento auto-sustentável.
63
Realização do IV Seminário Nacional sobre Universidade e Meio Ambiente
(Florianópolis, Santa Catarina), sob o patrocínio do PNUMA, outros órgãos
governamentais e Universidade Federal de Santa Catarina. Objetivo: discutir os
mecanismos de interface entre a universidade e a comunidade, face à política
ambiental brasileira.
1991
II Fórum de Educação Ambiental (São Paulo) com os mesmos objetivos
do 1º realizado em 1989.
Realização do 1º Encontro Nacional de Educação Ambiental (Curitiba, Paraná)
sob o patrocínio da Associação Nacional de Municípios e Meio Ambiente,
Prefeitura de Curitiba e Universidade Livre do Meio Ambiente sediada na capital
paranaense.
Realização do Seminário sobre Desenvolvimento e Educação Ambiental
(Brasília) organizado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais
(INEP) do Ministério da Educação. Fruto do seminário e com a colaboração da
Secretaria do Meio Ambiente da Presidência da República (SEMAM/PR), foi
elaborado um relatório a respeito da situação da educação ambiental no Brasil a
partir do qual foram estabelecidas diretrizes para o desenvolvimento de ações
setoriais no qüinqüênio 91-95. As orientações, de modo geral, referem-se ao apoio
aos cursos de formação de professores e especialistas, à incorporação da educação
ambiental nos currículos de formação de recursos humanos, à adoção, em todos os
níveis de ensino, de propostas pedagógicas que permitam uma interpretação
holística das relações como seu entorno, à implantação e/ou implementação de
programas e projetos de educação ambiental não-formal e à preparação de
campanhas institucionais em âmbito nacional e de caráter educativo, sobre o meio
ambiente. Também com o objetivo de elaborar um diagnóstico mais completo da
educação ambiental em todos os estados brasileiros as Secretarias Executivas do
MEC/SEMAM/PR promoveram, ao final de 1991 e no primeiro semestre de 1992,
vários encontros regionais. Os resultados obtidos e que foram posteriormente
apresentados no Fórum de debates sobre a educação ambiental ocorrido na ECO/92
contemplaram, além das dificuldades, necessidades, etc, recomendações quanto à
capacitação de recursos humanos, ao material didático, às formas de trabalho na
comunidade e na escola e à comunicação social no processo de educação ambiental
64
(Catalão,1993:101) faz uma crítica aos relatórios elaborados nos encontros
regionais afirmando que trazem um conceito vago de desenvolvimento sustentável,
reafirmam as carências de formação na área de recursos humanos e a falta de
continuidade das ações públicas no setor. Salienta, ainda, que em nenhum dos
documentos aparece uma proposta pedagógica, mesmo em esboço, ou é sinalizado
um caminho metodológico para a inserção da educação ambiental no currículo
escolar que considere as disciplinas, as atividades e os hábitos que caracterizam o
trabalho escolar.
1992
Realização do maior evento internacional de educação ambiental
a
Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento (Rio
de Janeiro), cujos objetivos e resultados foram apresentados anteriormente nesse
mesmo capítulo. Cabe acrescentar que a ECO-92 produziu um amplo movimento
educativo brasileiro com a publicação de livros, revistas especializadas e artigos;
realização de debates com especialistas, políticos e cidadãos; filmes, peças de teatro
e exposições de artes plásticas com temas ambientais foram realizadas além da
ocorrência de eventos científicos e o estabelecimento de acordos de cooperação
técnica e intercâmbio com diferentes países; nas universidades iniciaram-se novos
cursos relacionados à área ambiental e multiplicaram-se os cursos de
aperfeiçoamento de professores. Assim é que, desde 1992 até hoje têm sido
realizados seminários e congressos de educação ambiental, tanto em nível regional
como em nível nacional. Carneiro (1999:55) refere-se a alguns deles: em 1994
II
Fórum de Educação Ambiental (São Paulo) e, II Congresso de Educação Para a
Integração da América Latina (Maringá, Paraná); em 1996, o Fórum Estadual de
Educação Ambiental do Paraná (Curitiba). A esses acrescenta-se a 1ª
Conferência Nacional de Educação Ambiental
ICNEA (Brasília) em 1997, no
contexto da Rio+5, ocasião em que foi produzida a Declaração de Brasília para a
Educação Ambiental com sugestões de diretrizes políticas para a educação
ambiental no Brasil apresentadas na Conferência da Grécia (1977), o I Encontro
Paranaense em Educação Ambiental (Curitiba) realizado no final de 1998 pelo
Núcleo de Apoio à Agroindústria (NAAGRI) do Setor de Ciências Agrárias da
UFPR e o III e IV Fóruns de Educação Ambiental, ocorridos respectivamente em
1994 (São Paulo) e 1997 no Espírito Santo. Paralelamente ao último evento ocorreu
65
o I Encontro da Rede Brasileira de Educação Ambiental
REBEA, organização
não-governamental.
O documento fruto da ICNEA apresenta uma síntese nacional e cinco
documentos regionais, divididos em cinco temas: 1) A educação ambiental e as virtudes
do desenvolvimento sustentável; 2) Educação ambiental formal: papel e desafios; 3)
Educação ambiental no processo de gestão ambiental; 4) A Educação Ambiental e as
Políticas Públicas; 5) Educação Ambiental, ética e formação da cidadania: educação,
comunicação e informação da sociedade.
A respeito do tema 2
Educação Ambiental Formal: papel e desafios, de
interesse mais imediato, destacam-se os seguintes pontos: crítica ao modelo de educação
vigente nas escolas e universidades; descompasso entre as políticas públicas de
educação e o contexto sócio-político-econômico; ausência de pesquisas na área de
educação ambiental; capacitação precária dos professores e ausência de estímulos
salariais e profissionais; dificuldade na inserção da educação ambiental no ensino
formal; carência de materiais de apoio ao desenvolvimento de atividades de educação
ambiental e o descompasso entre os órgãos oficiais responsáveis pelo funcionamento do
ensino formal que se traduz no fato da nova Lei de Diretrizes Básicas da educação
nacional (LDB
96) não contemplar a educação ambiental ignorando a existência de
um Programa Nacional de Educação Ambiental, do Plano Decimal de Educação e dos
Parâmetros Curriculares Nacionais. Com o objetivo de minimizar e até mesmo sanar
tais problemas, a declaração apresenta várias recomendações, tais como:
- propiciar a estruturação de novos currículos nos três níveis de ensino de forma a
permitir a incorporação da temática ambiental num enfoque interdisciplinar;
- incentivar e financiar a criação de cursos de pós-graduação com vistas à capacitação
de recursos humanos e a produção de conhecimentos em educação ambiental;
- criar um programa interinstitucional de formação continuada envolvendo os órgãos
públicos diretamente ligados às questões ambientais e à formação de educadores
ambientais;
- estimular e apoiar a criação de centros de excelência de educação ambiental em
nível estadual e regional;
- envolver as instituições de ensino superior em programas de capacitação de recursos
humanos em educação ambiental.
66
Na avaliação dos dados coletados para a elaboração da síntese nacional alguns
resultados merecem destaque, segundo Czapski (1998:65):
- 28,8 % dos projetos de educação ambiental foram desenvolvidos em parceria com
prefeituras municipais. Em segundo lugar, 13,7%, foram implementados em
convênios com órgãos de governos estaduais e federal, em terceiro lugar, 13%, com
as universidades e, em quarto lugar, 9,7%, pelas ONGs;
- os temas geradores dos projetos priorizaram os problemas da realidade local e geral
(47,2%). Em seguida vem o lixo (32,6%), ambiente urbano (20,2%), ações
comunitárias (19,4%) e o contexto escolar (45,1%);
- quanto às fontes de financiamento, a maior parte era brasileira. O apoio
internacional não chegou a um quinto do total de projetos (18,2%);
- atividades mais comumente desenvolvidas nos projetos: produção de material
didático (25,1%), treinamento de professores (23%) e ações direcionadas ao ensino
de 1º grau (22%).
A descrição da trajetória da educação ambiental no Brasil tornar-se-ia mais
completa e acurada se dados a respeito de projetos educativos desenvolvidos ou em
desenvolvimento fossem encontrados com facilidade. Inúmeras são as dificuldades que
se interpõem na busca de informações: a falta de divulgação das atividades; o número
reduzido de exemplares dos anais de encontros, congressos e seminários, fato que
dificulta sobremaneira o acesso aos dados pois poucas são as pessoas que os recebem.
Pelo mesmo motivo estes não são encontrados nas bibliotecas e as informações não
constam de bancos de dados; o restrito número de veículos de divulgação (livros,
revistas, jornais) das atividades educativas fato que, aliado à falta de hábito do professor
brasileiro de escrever a respeito das suas experiências de ensino, acaba por desestimular
e inibir qualquer iniciativa nesse sentido; a dificuldade de comunicação com as
Secretarias de Educação e outros órgãos do governo no que se refere à obtenção de
dados a respeito de projetos de ensino. Poder-se-ia aventar a hipótese de que essa
situação se deve ao desconhecimento dos próprios órgãos a respeito de tal assunto; a
grande extensão territorial brasileira que dificulta, quando não impede, a participação
nos eventos; a falta de sistematização das experiências que se realizam em todo o país.
Ciente destas e de outras dificuldades e da importância da divulgação de
informações a respeito de temas relacionados à educação e meio ambiente, o Instituto
67
Ecoar para a Cidadania, organização não-governamental nacional, formada por
profissionais, estudiosos e ativistas ambientalistas, desenvolveu um projeto cujo
objetivo era avaliar a produção de materiais impressos para a educação ambiental. O
referido projeto, desenvolvido no período junho de 1995 a junho de 1996, mesmo não
tendo como objetivo realizar um levantamento de projetos e/ou experiências de
educação ambiental mas, sim, realizar o levantamento e a coleta de materiais impressos
de educação ambiental produzidos no país pelos mais variados segmentos, é de grande
valia à medida em que torna tais materiais disponíveis aos educadores ambientais e
estimula o debate em torno das características presentes nas publicações. Para a coleta
de materiais foram contatadas 5500 pessoas/instituição de todo o Brasil, ligadas à
educação ambiental, todas as secretarias estaduais de meio ambiente e de educação,
todos os departamentos ou secretarias de meio ambiente e de educação pertencentes a
prefeituras de todos os municípios brasileiros, as setenta principais editoras comerciais
cadastradas na Câmara Brasileira do Livro, universidades públicas e privadas de todo o
país.
A análise dos dados possibilitou, aos elaboradores do projeto, as seguintes
conclusões que, de certa forma, retratam a forma de operacionalização da educação
ambiental no Brasil:
- enquanto a educação ambiental busca um mundo diferente, transformador e
eqüitativo, os textos expressam, de forma sisuda, normas de comportamentos nem
sempre seguidas pelos próprios livros;
- os materiais publicados parecem estar muitas vezes atrelados à situação didática
formal, utilizando histórias infantis nas quais o excesso de conteúdo informativo a
ser passado acaba sobrecarregando a narrativa e prestando um desserviço;
- em termos de coerência, jogos e brincadeiras em educação ambiental deveriam
enfatizar a cooperação e não a competitividade;
- as experiências já realizadas, divulgadas pelos periódicos, não apresentam detalhes
que possam orientar outros grupos interessados em conduzir um trabalho
semelhante;
- nas cartilhas o conteúdo conceitual é disfarçado sob a forma de diálogo, retratando
relações nas quais o aprendiz apenas recebe informações. Não há valorização de seu
conhecimento e de suas experiências;
68
- nos impressos produzidos por empresas o objetivo de marketing prejudica outras
intenções, como por exemplo, a de educar para o meio ambiente saudável. Essa
visão de marketing permeia a seleção de temas abordados pelos textos. Assim, os
ecossistemas considerados de pouco apelo de mídia (oceanos, cerrados, mangues)
estão mais ausentes dos materiais publicados;
- o que se nota nos materiais impressos é um cientificismo na linguagem que, por um
lado, torna os conteúdos pouco acessíveis ao público leigo e, por outro, não chega a
atingir públicos mais especializados;
- grande parte do material produzido tende a oscilar entre o maniqueísmo e a
idealização da natureza. Mesmo que os textos não explicitem que no mundo natural
os dias são claros e belos e no mundo urbano são cinzentos e escuros, nas ilustrações
a dicotomia aparece;
- o social, representado pelo ser humano, quase sempre chamado de o Homem , em
uma linguagem sexista, aparece como um vilão destruidor, o símbolo do mal. Tal
discurso apocalíptico que culpa a sociedade, tende a criar um imobilismo nos
indivíduos expostos a informações fragmentadas e descontextualizadas.
(Trajber,Manzochi,1996)
No que se refere a materiais de educação ambiental merece destaque a
publicação do livro Muda o Mundo Raimundo! - educação ambiental no ensino
básico do Brasil por ter resultado na capacitação de mil professores
multiplicadores
em todo o país.
2.2- A Educação Ambiental em países da Europa: algumas considerações
De acordo com Pardo (1995:53), diferentemente do que ocorre na América
Latina, os problemas que não estão diretamente ligados ao sistema produtivo se
mantêm, na Europa, em segundo plano, como decorrência da existência de um relativo
bem-estar econômico nos países europeus. Segundo o citado autor, as primeiras
medidas de proteção ambiental na Europa começaram a surgir como conseqüência dos
intercâmbios comerciais entre os países (Primer Programa Europeo de Acción en
Materia de Medio Ambiente
1973/1977; Segundo Programa de Acción
1978/83;
Tercer Programa de Acción 1983/87; Cuarto Programa 1987/92 e Quinto Programa de
69
Acción, aprovado em 1993).6 As medidas contidas nos Programas de Ação, que
inicialmente referiram-se ao controle de eventuais formas de contaminação, passaram a
refletir a preocupação ambiental e, desse modo, a privilegiar os aspectos relacionados à
prevenção da contaminação, conclamando os países a assumirem sua responsabilidade
no tocante às questões ambientais. Ao mesmo tempo, o entendimento a respeito do
termo meio ambiente evoluiu a partir de uma concepção centrada na natureza para, ao
longo do tempo, incluir o aspecto social, o planetário e o desenvolvimento sustentável.
Concomitantemente à essa evolução surgiu a necessidade da educação ambiental
gerando, em 1988, uma Resolução adotada pela Comunidade Européia e elaborada com
base nas recomendações do Congresso sobre Educação e Formação Ambientais
realizado em Moscou no ano de 1987. Tal Resolução incita os países europeus a
praticarem uma política educativa baseada em uma estratégia de ação para os últimos
anos do século XX voltada, entre outros aspectos, para o desenvolvimento de programas
educacionais e materiais didáticos, à formação de pessoal capacitado ao ensino de
educação ambiental e à cooperação internacional e regional. Anteriormente à Resolução
de 1988, alguns países como Portugal e Alemanha já haviam incluído atividades de
ensino de educação ambiental nos seus sistemas educativos, adequando-as às suas
características e atendendo às recomendações da Conferência de Tbilisi (1972).
Nesse contexto, em todos os países da Europa, centenas de professores
desenvolvem atividades de educação ambiental. No início da década de 90, os temas
mais freqüentes nos cursos de educação ambiental referem-se a problemas gerais do
ambiente, seguidos pelo estudo da natureza, a sua conservação e exploração e a gestão
do ambiente urbano (resíduos). O papel preponderante que os professores desempenham
e a sua dedicação no desenvolvimento da educação ambiental são reconhecidos mas, ao
mesmo tempo, reconhecem o fato de que uma boa vontade ecológica esconde, muitas
vezes, uma falta de métodos adequados de trabalho.
Com vistas a sanar deficiências, seja no que diz respeito a métodos e estratégias
de ensino, ou no que se refere à inclusão de outros assuntos além daqueles derivados das
Ciências Naturais, em consonância com a ampliação da abrangência do termo meio
6 A síntese apresentada foi elaborada a partir de dados fornecidos por publicações oficiais (Ministério de Obras Publicas y Urbanismo
MOPU,1989), pelos autores Giordan(1994); Gonzáles(1994); Lucini(1995); Pardo(1995); Martinez(1996); Esteban(1996); por artigos de Bachiorri, Schleider, Jerzak, Molnar e Morán, apresentados no livro Practices in Environmental Education in Europe(1995) organizado por Leal, Dematt e Murphy
70
ambiente, cada país instituiu comissões para refletir e elaborar propostas de educação
ambiental. Do trabalho das comissões resultaram recomendações específicas mas que
não deixam de apresentar elementos comuns:
- integração da educação ambiental nas matérias curriculares obrigatórias;
- estímulo à participação dos alunos em atividades de educação ambiental na própria
escola;
- integração entre administradores escolares e equipes pedagógicas, favorecendo o
trabalho coletivo;
- sugestão de releitura dos conteúdos tradicionais à luz da questão ambiental
oportunizando o estabelecimento de relações entre as diferentes disciplinas
(interdisciplinaridade);
- desenvolvimento de conceitos básicos tais como sistema, desenvolvimento
sustentável, cidadania e interdependência, entre outros;
- ênfase na aquisição de valores ambientalmente corretos: formação de cidadãos
solidários e comprometidos com a transformação progressiva do meio.
A existência de elementos comuns não significa que as práticas estabelecidas
para atender as recomendações sejam uniformes. Há uma grande heterogeneidade nas
ações, que passa pela seleção e tratamento dos assuntos e pela forma de integração.
Nessa questão muitas são as soluções: interdisciplinaridade, multidisciplinaridade,
realização de projetos de ação ambiental ou projetos de ação disciplinar, desenvolvidos
no horário escolar ou não, geralmente em torno de unidades temáticas que envolvem as
preocupações ou problemas ambientais característicos das regiões onde as escolas se
localizam.
Dentre as ações educativas que buscam um trabalho integrado destaca-se,
segundo Giordan (1994:13), a criação de redes para o desenvolvimento e qualidade da
educação ambiental. A Itália é apresentada como modelo na conceituação e
operacionalização dessa modalidade de estratégia, que consiste em estabelecer
interligações entre estabelecimentos de ensino e outras associações, órgãos de governo,
etc. A interligação mínima situa-se em nível local envolvendo uma escola e uma
municipalidade num projeto ambiental que apresenta duas fases: a prática e a de
comunicação. As redes podem se desenvolver em diferentes níveis, envolvendo
organizações diversas e escolas ou, ainda, em torno de escolas situadas em locais
71
diferentes com problemas ambientais comuns, que se tornam o elo de ligação. Como
exemplo dessa modalidade o autor cita o Baltic Sea Project criado a partir da ameaça da
poluição do mar e o Hertforshire and Norvegian Schools Project resultante das
preocupações com a chuva ácida.
A participação de entidades governamentais, associações e organizações não-
governamentais no desenvolvimento de ações de educação ambiental nas escolas, além
de enriquecer tais práticas preenche, muitas vezes, as lacunas causadas pela falta de
espaços apropriados, equipamentos, recursos em geral e de pessoal especializado.
Dentre os agentes de apoio existentes e operantes, Pardo (1995:78) cita a rede IDEE da
Bélgica (criação de serviços documentais e redes de informação); a World Wildlife Fund
WWF (publicação de materiais pedagógicos para as escolas); a British Petroleum
(ajuda financeira para a produção de materiais); a Fédération d Oeuvres Educatives et
de Vacances de l Éducation National
FOEVEN (equipamentos para a realização de
atividades fora da sala de aula) e a Lega per l Ambiente en Italia (projetos de
colaboração com as escolas). A utilização de recursos externos favorece o que Zabalza
(1991:265) denomina de conexão currículo-território e atende as recomendações de que
o professor deve, com vistas à melhoria da qualidade de processo ensino-aprendizagem,
buscar e aproveitar os recursos do território fugindo à concepção prevalente de que as
escolas são organismos auto-suficientes.
A formação de professores aptos a desenvolver um ensino de educação
ambiental coerente com os princípios e objetivos estabelecidos nas Conferências e
Congressos internacionais é buscada continuamente. As alternativas variam de um país
a outro e vão desde a inclusão de temas relacionados à educação ambiental nas
disciplinas tradicionais ofertadas nos cursos de formação de professores (Reino Unido,
Portugal e Dinamarca) até a delegação da formação em educação ambiental a cursos de
especialização após a formação básica (Dinamarca). A capacitação de professores é um
objetivo em torno do geral constituem-se várias redes como por exemplo: a Réseaux
d Institutions de Formation
RIF; a Initial Training in Environmental Education
ITEE; a Strathclyde University e a associação entre a Organização de Cooperação e
Desenvolvimento Econômicos (OCDE) e a Environmental and school iniatiatives
(ENSI).
72
Nota-se que a preocupação com a formação e capacitação de professores é
comum a todos os países europeus. Tal fato motivou a realização da 1ª Universidade de
Verão de Educação Ambiental em Toulouse, no ano de 1994. Debater a questão da
formação docente foi, justamente, um dos objetivos do evento.
A respeito da eficiência das atividades de ensino de educação ambiental no que
se refere ao alcance dos objetivos pretendidos, Caride (s.d.:11-12) afirma:
podemos concluir que globalmente os problemas da educação
ambiental, sobretudo na educação institucionalizada, não residem tanto nas
declarações, princípios e objetivos estabelecidos, como nas práticas adotadas
dentro e fora das salas de aulas. São problemas relacionados com o
reconhecimento e valoração efetiva de suas propostas, a congruência entre as
idéias e os fatos, o compromisso e as responsabilidades públicas, o saber em si
mesmo e o saber para fazer nos âmbitos epistemológico, metodológico e
didático .
Alia-se a tais problemas, em alguns países como Alemanha e Polônia, o
desinteresse político pela educação ambiental. Na maioria dos países europeus é
predominante a percepção de que a educação ambiental deve ser um processo integrador
e superador das limitações decorrentes de programas de ensino centrados em disciplinas
estanques. A forma encontrada para alcançar tal meta é peculiar a cada país. Na
Espanha, por exemplo, o marco legislativo da reforma educativa é a Lei Orgânica
1/1990 de Ordenação Geral do Sistema Educativo (LOGSE). Na análise elaborada por
Martinez (1996), as referências à educação ambiental são escassas na lei, no entanto
ocasionou a sua integração definitiva no sistema escolar ao estabelecê-la como um dos
temas ou eixos transversais do currículo. Isso porque, de acordo com Caride (s.d:14) a
transversalidade significa que todo o currículo deve ser impregnado por uma dimensão
ambiental não significando, tal fato, a introdução de novos conteúdos mas sim o estudo
das já existentes no currículo sob a ótica da educação ambiental. Acrescenta Lucini
(1995:32): os problemas e a realidade social inseridos nos temas transversais devem
ser contextualizados nos conteúdos de todas e de cada uma das Áreas, especialmente
na perspectiva atitudinal. Ainda de acordo com o autor, os temas transversais tornam-se
elementos contextualizadores dos conteúdos desenvolvidos nas matérias curriculares e
possibilitam uma transformação positiva da realidade. A transversalidade da educação
73
ambiental segundo essa ótica engloba três dimensões: a conceitual, baseada no conceito
de meio ambiente que engloba, além dos fatores bióticos e abióticos, todo um sistema
de relações políticas, econômicas e sócio-culturais que configuram a Sociosfera; a
institucional, definida pelas normas, recomendações e leis estabelecidas em nível
internacional ou nacional e a pedagógica que tem por objetivo levar à escola e aos
alunos os conhecimentos, os valores e atitudes fundamentais ao exercício da cidadania.
É interessante ressaltar que a elaboração dos Parâmetros Curriculares Nacionais,
pelo Ministério da Educação do Brasil, foi fortemente influenciada pelas diretrizes da
LOGSE a ponto dos Temas Transversais curriculares também constarem no documento
brasileiro.
Outras similaridades podem ser constatadas quando se compara o
desenvolvimento da educação ambiental em alguns países europeus e no Brasil:
reconhecimento da sua importância; as dificuldades para integrar efetivamente as
atividades de educação ambiental nos currículos escolares; a escolha e a freqüência dos
temas nos cursos; a ênfase nos assuntos relacionados às Ciências Naturais; o
reconhecimento da necessidade e da importância da escola priorizar, no ensino de
educação ambiental, a aquisição, pelos alunos, de valores ambientalmente corretos; o
reconhecimento da necessidade de estudos a respeito da interdisciplinaridade, enfoque
preconizado para o desenvolvimento da educação ambiental nos currículos escolares; a
importância e a necessidade de investimentos na capacitação de professores... Dessa
constatação pode-se concluir que, em termos da educação ambiental, existem muito
mais similaridades do que diferenças entre o que ocorre atualmente na Europa e no
Brasil.
2.3 - Educação Ambiental: enfoques ético e metodológico
A reflexão sobre a educação e o meio ambiente é tão antiga quanto a
reflexão sobre o homem e sua obra. Mais ainda, é inseparável desta e faz parte
de um discurso da humanidade já consolidado. Em assim sendo, educação e
ambiente, inscritos no repertório das leituras pedagógicas, vinculam teoria e
prática em um marco complexo de conhecimentos e experiências educativas
(Caride,1991:44)
74
A valorização pedagógica do meio ambiente e a recomendação de que na
educação do Homem deveria ser utilizado como instrumento de formação, no sentido de
propiciar não um ensino abstrato mas sim relacionado à realidade na qual os indivíduos
estão inseridos, é muito antiga e referendada por ilustres pedagogos. Giolitto
(1984:114); Caride (1991:44) e Novo (1995:21-23) referem-se a Rabelais (1494-1553),
que convida o aluno a visitar as árvores e plantas; Montaigne (1533-1592), que ampliou
o conceito de meio ao incluir nele o comércio dos homens; Comenius (1592-1671), que
preconizava o estudo da natureza e não o dos livros; Rousseau (1712-1778), para quem
a natureza é nosso primeiro professor; Pestalozzi (1746-1827), para quem as idéias vêm
das coisas e alcançam a mente através dos sentidos: é a pedagogia intuitiva que
preconiza um ensino a partir dos objetos ou de sua representação com visitas à obtenção
do conhecimento. É necessário que se veja, toque e sinta o sabor para que ocorra o
conhecimento. Nesse período a escola começou a transformar-se, com a introdução de
recursos de ensino oriundos do meio, a criação de museus e as excursões pedagógicas. É
importante que se ressalte o fato de que as teorias pedagógicas resultantes das
concepções dos educadores citados são conservadoras no sentido que consideram a
natureza um recurso educativo. O estudo do meio, que advoga a sua utilização como
uma forma de obtenção do conhecimento, não deixa de ser, como afirmam Giolitto
(1984:114) e Novo (1995:21), uma forma de exploração do meio pelo Homem à medida
em que incentiva as práticas docentes a explorarem a natureza como uma fonte
educativa.
O movimento pedagógico conhecido como Escola Nova, que iniciou-se ao final
do século XIX e estendeu-se até meados do século XX, e não representa apenas uma
iniciativa mas, pelo contrário, é um termo genérico que abrange todas as correntes
pedagógicas de oposição e crítica à escola autoritária e tradicional e de incentivo à uma
escola mais livre e formativa, atribui ao estudo do meio, além da aquisição de
conhecimentos, três outras funções: servir de motivação para a aquisição do
conhecimento, facilitar o relacionamento da criança como entorno, possibilitar a atuação
do indivíduo no entorno de modo a adaptá-lo às necessidades humanas. O meio,
portanto, não deve ser somente observado mas fundamentalmente transformado, numa
clara visão antropocêntrica. Dentre os educadores adeptos da Escola Nova destacam-se
Tolstoi (1828-1910), para quem a única via para a aquisição do conhecimento é a
75
experiência; Rabindranath Tagore (1861-1941), fundador da Escola Santiniketan onde
as crianças eram educadas em comunhão profunda com a natureza. Como Rousseau, se
opõe ao fato de que os livros sejam o recurso básico de ensino; Báden Powell (1857-
1941), criador do escotismo (Scout), para quem a natureza é o elemento básico do
ensino e da aprendizagem; Dewey (1859-1952) e Claparède (1873-1940), que
apontavam o estímulo proveniente do meio como fator imprescindível ao
desenvolvimento da inteligência; Maria Montessori (1870-1952), cujo método de ensino
buscava despertar o interesse das crianças pelas necessidades da sua vida, determinadas
pelo ambiente; Decroly (1871-1932), para quem os conhecimentos adquiridos do meio
servem de suporte para os demais. Como Montessori e Dewey, afirmava que o interesse
que move as crianças para o conhecimento está relacionado às suas necessidades; Piaget
(1896 - 1980), que continuou e aprofundou os estudos de Claparède; Freinet (1896-
1966), que considerava o meio fonte de progresso intelectual e fundamentalmente social
(Sciacca,1966; Giliotto,1984; Novo,1988;1995; Sureda ,Colom,1989; Caride,1991).
No entanto, como afirma Ramos (1996:108)
estas orientações visavam, sobretudo, o desenvolvimento do indivíduo.
A preocupação com a degradação ambiental, embora presente, não tinha o
significado atual pois os problemas ambientais não atingiam (à época), o nível
que hoje conhecemos .
A mudança na percepção das relações entre a sociedade e a natureza, motivada
pelo conhecimento da extensão e gravidade dos problemas ambientais, acarretou uma
nova visão pedagógica do ambiente: não é mais suficiente somente ensinar a partir da
natureza e nem somente fornecer informações a seu respeito. O que se preconiza é
educar para o meio ambiente, de modo que as atitudes e comportamentos corretos para
com o meio e no meio sejam um dos objetivos do processo ensino-aprendizagem (Novo,
1995:23). Nessa nova visão situa-se a diferença entre as duas propostas pedagógicas
estudo do meio e pedagogia ambiental. De acordo com Giolitto (1984:119), enquanto a
primeira busca instruir e formar a criança, a segunda pretende, acima de tudo, ensiná-la
a utilizar judiciosamente o meio ambiente. Trata-se, enfim, de passar de uma educação
baseada exclusivamente em objetivos psicológicos (o desenvolvimento das pessoas)
para integrar, ao mesmo tempo, critérios ecológicos (o desenvolvimento equilibrado das
pessoas aliado ao desenvolvimento equilibrado do meio ambiente). Salienta o autor que,
76
embora os objetivos das propostas sejam divergentes, na ação pedagógica ambas são
complementares, pois uma possibilita o conhecimento do meio e, a outra, a maneira de
administrá-lo racionalmente. Além disso, as duas propostas pedagógicas têm em comum
o fato de que não pretendem assumir o status
de uma diferença mas, pelo contrário,
buscam constituir-se em um instrumento privilegiado na formação do aluno (estudo do
meio) ou no denominador comum de todas as disciplinas, no momento em que todas
compartilhem seus objetivos (pedagogia ambiental). A conciliação dos objetivos
próprios de cada uma das propostas é o desafio imposto à educação ambiental (Novo,
1988:34), enquanto instrumento de operacionalização da pedagogia ambiental.
Nesse contexto, a pedagogia ambiental e a educação ambiental situam-se em
dois níveis diferenciados, mas convergentes no processo educativo ambiental: a
primeira, como ciência pedagógica que analisa, investiga e teoriza a respeito da ação
educativa ambiental e a segunda, como ação interdisciplinar a favor do meio ambiente
(Novo,1988/1989, apud Caride,1991:7; Meira,1991:93).
Sureda,Colom (1989:50), à guisa de conclusão, afirmam que a pedagogia
ambiental possui como preocupação a qualidade do meio; como meta a proteção e
melhoria do meio; como campo, os problemas do meio; como enfoque, a relação e a
interdependência e, como instrumento metodológico básico, o exercício de tomada de
decisões a respeito do meio. A educação ambiental, por outro lado, é uma forma de
educação que se caracteriza pelos seguintes aspectos: interdisciplinaridade,
encadeamento de causas e efeitos, o sentido global, o internacionalismo, o
estabelecimento de uma nova ética baseada em novas relações entre o homem e a
natureza, os comportamentos e ações derivados da nova postura ética. Desse modo, sua
filosofia centra-se no favorecimento da natureza; seu programa axiológico no
desenvolvimento de uma nova ética e seu objetivo, na mudança das atitudes e no
exercício de tomada de decisões.
A educação ambiental, enquanto processo educativo, não apresenta unanimidade
no que se refere aos seus objetivos e propostas metodológicas. Meira (1991:98-100), a
esse respeito, cita dois autores
Terradas (1983) e Lucas (1979)
que buscaram
identificar as diferentes orientações da prática educativa implícitas nas tendências ou
concepções de educação ambiental. Para Terradas são duas as tendências: ambientalista
e pedagogicista. A primeira, com o objetivo fundamental de fomentar atitudes de
77
proteção ou conservação do meio ambiente, prega a renovação dos conteúdos de ensino
visando a inclusão de temas relacionados aos problemas ambientais. Trata-se, portanto,
de uma concepção preservacionista/conservacionista da educação ambiental. A segunda
propõe uma renovação teórico-metodológica da prática da educação ambiental a partir
do estudo do meio num enfoque interdisciplinar, visando a promoção de uma
compreensão ecológica do meio natural e humano.
Segundo Lucas, seriam três as tendências: a primeira, centrada na aquisição de
conhecimentos gerais acerca do meio com vistas à mudanças no modelo de sociedade; a
segunda, à semelhança da tendência pedagogicista, busca o conhecimento do meio e o
desenvolvimento de metodologias para a aquisição desse conhecimento e a terceira,
com o objetivo de uma mudança radical na ordem socio-econômica, propõe um
currículo de educação ambiental centrado na análise da crise ambiental.
Medina (1994:59-62), por sua vez, refere-se a duas abordagens da educação
ambiental: vertente ecológica preservacionista que postula uma educação para a
preservação da natureza sem uma análise econômico-social das causas dos problemas
ambientais, privilegiando o conhecimento popular originário da experiência. A segunda
abordagem
vertente sócio-ambiental, também postula uma educação para a
preservação e conservação da natureza mas no marco da análise econômico-social dos
problemas ambientais num enfoque interdisciplinar. Seu objetivo seria a construção de
valores e conhecimentos para a tomada de decisões adequadas à preservação do
ambiente e da própria sociedade humana. Nesse contexto, a educação para a
sustentabilidade (ou para o desenvolvimento sustentável) surge como uma modalidade
de educação ambiental que, ao mesmo tempo em que incorpora alguns pressupostos de
outras tendências, ultrapassa-as ao se configurar como um posicionamento holístico que
afeta a realidade em todas as suas dimensões. (Colom,1998:43). Essa concepção
implica, portanto, um novo paradigma educativo caracterizado pelo seu caráter inovador
e participativo que habilite as pessoas a assumir a responsabilidade de engajar-se na
prevenção e resolução de problemas sócio-ambientais (Pardo,1995:38-
39;Caride,Meira,1998:2), num enfoque oposto à aprendizagem de adaptação e
manutenção do sistema vigente. Paradigma educativo que, sustentado pelo princípio da
sustentabilidade, isto é, comprometido com a busca de uma conciliação criteriosa entre
78
desenvolvimento social e preservação da qualidade ambiental, configura a meta da
educação ambiental. (Carneiro,1999:67-69).
Educar para o desenvolvimento sustentável deve, então, orientar-se em três
direções: a formação, nos indivíduos, de valores, atitudes e comportamentos favoráveis
à sustentabilidade; o desenvolvimento de novas formas de organização do processo
educativo que possibilite uma integração entre os agentes sociais e econômicos e a
participação da comunidade; o desenvolvimento de novos programas e metodologias
que enfatizem o aprimoramento da habilidade de resolução de problemas e do uso do
conhecimento científico para a tomada de decisões que levem à melhoria da qualidade
ambiental. (Pardo,1995:47; Holbrook,s.d:10). A necessidade de se abordar a educação
ambiental a partir da perspectiva da educação em valores se justifica, segundo Ortega.
Minguez,Gil (1996:145-147), pelas seguintes razões:
não é seguro esperar um comportamento ecológico respeitoso em relação ao meio
ambiente se ao mesmo tempo não se tem presentes outros valores. Por exemplo: é
possível discutir e aceitar o respeito ao meio natural e urbano sem valores de
responsabilidade e solidariedade?
é necessário preparar os cidadãos não somente para responder aos problemas atuais
mas também aos que se apresentarão no futuro. Uma resposta isolada, pontual, pode
ficar parada no tempo e num contexto determinado. É necessário desenvolver
valores que levem à uma busca permanente de novas formas de responder a novos
problemas com quais a sociedade pode se deparar. As mudanças de comportamento
em relação ao meio ambiente não se produzirá até que a maioria dos cidadãos tenha
assimilado a nova concepção e valores positivos a respeito do meio, que os levarão a
conceber uma maneira diferente de viver;
os valores, enquanto idéias de realização pessoal nos quais buscamos pautar nossa
existência ao longo da nossa vida exercem, em nós, uma função dinamizadora e
orientadora de nosso comportamento. Mas exercem essa função somente quando são
assumidos, quando participam de nossas crenças vitais, quando fazem parte de nossa
cultura ou são nossa própria cultura como forma de vida;
os valores não valem se são somente objeto de conhecimento. O valor da justiça não
necessariamente nos leva a ser justos como o conhecimento do valor da tolerância
não necessariamente nos leva a ser tolerantes. Todos sabemos, há muito tempo o
79
que significa do ponto de vista da ecologia, um rio limpo e uma natureza protegida.
Porém seu valor ecológico ainda não foi assumido como valor vital, integrante de
nossa cultura como forma de vida, ao mesmo por uma grande parte da população;
os valores não se ensinam somente dando-lhes a conhecer. É necessário a
experiência pessoal do valor. A justiça, como valor, não se aprende. É necessário
que tenhamos experiências com ela, vejamos como as pessoas justas se comportam,
qual é a sua conduta. Da mesma forma o valor ecológico não se aprende porque é
objeto de ensino nas escolas, como um conhecimento a ser adquirido, mas sim,
aprendemos se junto com o conhecimento tivermos experiência de um entorno
limpo e protegido e de cidades habitáveis;
com freqüência, a educação ambiental é vista como uma tarefa que deve se
desenvolver longe da escola e da cidade. A educação ambiental, no entanto, não se
identifica com atividades exóticas, alheias à atividades e experiências cotidianas.
Pelo contrário, exige uma atuação sobre o entorno mais imediato, aquele que
constitui o lugar da nossa experiência do dia a dia. Nesse sentido a família, o lar e a
escola se convertem em cenários obrigatórios da educação ambiental.
Os valores citados pelos estudiosos como essenciais num projeto de educação
ambiental são: respeito, cidadania, justiça, prudência, honestidade, tolerância,
liberdade, paz e generosidade. Valores que estão expressos na Declaração de Direitos
Humanos que, segundo Lucini (1995:16), deveriam ser aceitos por todas as pessoas
independentemente de suas crenças, princípios religiosos e sensibilidades culturais. São
valores básicos com os quais nos identificamos e que, numa sociedade de contrastes,
constituem a base e o fundamento da convivência democrática. Se um projeto de
educação ambiental não considerar tais valores não passará, como diz Pardo
(1995:105), de simples doutrinamento ecológico.
Considerando-se a proposta de educação ambiental orientadora desta pesquisa
enfatiza-se alguns aspectos relacionados aos valores citados7.
Cidadania: Relaciona-se aos direitos e deveres do cidadão em prol da qualidade de
vida, ou seja, da satisfação das necessidades básicas dos indivíduos e da sociedade.
Comporta a cidadania relacionada às condições de vida (satisfação das necessidades
7 Síntese elaborada a partir de Caduto (1985); Silva(1988); Grün(1994); Häring(1995); Lucini(1995); Novo(1995); Pardo(1995);Camps(1996); Ortega,Minguez,Gil(1996): Leroy,Maia,Guimarães (1997) e Carneiro(1999).
80
básicas relacionadas à moradia, alimentação, vestuário, etc. em nível superior à simples
sobrevivência) e a cidadania como participação política (em termos de oportunidades
para a ação dos cidadãos nas tomadas de decisões a respeito de questões relacionadas
aos problemas ambientais em toda a sua amplitude, ao exercício de direitos e deveres
referentes à livre-expressão e à organização sócio comunitária e profissional).
Solidariedade: diz respeito às necessidades coletivas mais que as prioridades
individuais na busca de solução de problemas ambientais por iniciativas autônomas e
movimentos sociais. Envolve duas dimensões mutuamente complementares: a
sincrônica (entre as gerações presentes, buscando alternativas de desenvolvimento
sustentável no sentido da valorização das diversidades culturais e envolvendo decisões
relativas à troca e à transferência de conhecimentos científicos e tecnológicos, à
redistribuição de matérias primas e a investimentos de apoio econômico a regiões ou
países mais carentes); a diacrônica (relaciona-se à manutenção da vida com qualidade
na Terra, em vista das futuras gerações , de modo que o uso dos bens coletivos pelas
gerações presentes leve em conta e baseie-se no conceito de usufruto e não o de
propriedade. Isso implica o questionamento a respeito da distinção entre o necessário e
o supérfluo, do atual estilo de vida e do relacionamento entre países ricos e pobres.
Justiça: é o valor referencial básico que orienta as ações humanas no sentido da
eqüidade dos direitos e deveres e, portanto, no sentido da cooperação e que, nas
questões ambientais envolve o direito à vida, liberdade do pensamento e expressão livre
das idéias e crenças, liberdade de participação na vida comunitária, direito de igualdade
ante a lei, promoção de uma ordem mundial mais eqüitativa, isto é, mais justa e
igualitária já a partir de ações locais e em vista da necessidade de justiça social para a
própria sobrevivência na Terra.
Responsabilidade: é um valor que desperta tanto os indivíduos quanto os grupos,
populações, enfim, a humanidade toda, para as conseqüências das ações humanas sobre
o meio ambiente; é o cuidado que todos devem ter como um dever de proteger e
melhorar as condições de vida do entorno, tendo em vista o benefício das gerações
presentes e futuras. O espaço da responsabilidade é amplo e complexo. A autonomia e a
responsabilidade consistem na capacidade de cada um responder a situações conflitivas
tomando como critério suas crenças. A responsabilidade individual tem várias
dimensões que vão desde a responsabilidade para com a vida ( no sentido de mantê-la e
81
enriquecê-la visando uma vida humana plena); a responsabilidade para com a história
(no sentido de recuperação do respeito ao que o homem foi, é e pode vir a ser), a
responsabilidade para consigo mesmo (no sentido do questionamento de sua relação
com o coletivo a partir do compromisso com o gênero humano visando a prosperidade
mundial compartilhada).
Respeito: ato ou efeito de respeitar (se)
tratar com reverência ou acatamento; honrar.
Envolve basicamente três dimensões: 1) o respeito à vida, não só humana mas a de
todos os seres vivos, sob a perspectiva das possibilidades de sobrevivência na Terra.
Essa concepção, denominada de biocentrismo, estabelece a indissociabilidade entre o
homem e seu entorno, considerando-se que os seres humanos compartilham a Biosfera
com os demais seres vivos e a estes estão unidos por interesses comuns. Expressa,
assim, um enfoque ético centrado na vida; 2) O respeito frente à biodiversidade e à
diversidade cultural, em termos de proteção e recuperação dos ecossistemas da Terra,
para a satisfação das necessidades básicas e enriquecimento das sociedades humanas; 3)
o respeito ao meio ambiente enquanto patrimônio de todos, bem comum.
Liberdade: significa, acima de tudo, estar livre de coações e limitações. Significa
poder optar, preferir, escolher. Pode ser entendida num duplo sentido: como estilo de
vida (quando o importante não é ter liberdade mas sim ser e sentir-se livre. Representa
o estado de autonomia no qual o indivíduo decide a respeito da sua conduta e da sua
forma de viver. Implica, no entanto, o exercício da responsabilidade individual frente
aos outros. Pode ser entendida, também, como conquista pessoal e social. A liberdade
pessoal está diretamente associada a um compromisso pela defesa de instituições livres,
constituídas sobre o reconhecimento e a prática da liberdade como princípio diretor da
sociedade. A liberdade, portanto, é um princípio de vida social.
Tolerância: tolerar não é fazer a alguém uma concessão gratuita. Quando toleramos
não fazemos mais do que manifestar nosso reconhecimento da dignidade do outro, de
sua personalidade e diversidade, de suas condições de pessoa. É o reconhecimento do
direito à própria opinião, pensamento ou credo que exige o nosso respeito às outras
pessoas, livres por natureza. A tolerância nos leva à compreensão de que a diversidade,
o multiculturalismo e o pluralismo podem converter-se em oportunidades para o
enriquecimento mútuo. É, portanto, uma atitude que consiste em uma pessoa mostrar-se
82
razoável, compreensiva com as idéias, crenças religiosas, sistemas políticos diferentes
ou contrários aos próprios.
Paz: ausência de lutas, violência ou perturbações sociais; tranqüilidade pública,
harmonia, bom entendimento. A paz, nessa perspectiva, supõe um tipo de sociedade
que, além de não estar em guerra, apresente o compromisso sincero de ir superando todo
e qualquer tipo de violência. A educação para a paz deve ter como objetivo a adoção,
pelos indivíduos, de uma atitude decidida com relação à violência. Estimular a paz
implica educar para a paz o que, por sua vez, significa desenvolver nos alunos o respeito
pela vida, a identificação com a humanidade, a capacidade de crítica e a capacidade de
dizer não, isto é, não admitir ser cúmplice da injustiça e da opressão.
Prudência: refere-se à utilização dos recursos do mundo natural, tendo como critério o
limite das matérias primas (água, ar, minerais, etc...). Envolve a aplicação do critério de
precaução, isto é, de prevenção, em situações de risco de prejuízos graves ou
permanentes ao mundo natural, devendo-se suspender as ações danosas ainda quando
falta uma certeza científica de que os prejuízos ou danos possam ocorrer. Envolve,
ainda, a avaliação da viabilidade ecológica de projetos, usos ou práticas de produção de
bens não-renováveis (especialmente no campo da energia), da super exploração de bens
renováveis ( pesca, madeira, grãos alimentícios, etc), do controle de resíduos e efeitos
poluentes e a viabilidade espacial, isto é, escolha criteriosa da localização de áreas
industriais e dos espaços destinados a reservas naturais.
Honestidade: é o valor que tem haver com a coerência de decisões individuais e
públicas, indicando integridade por parte de quem decide e confiança da parte dos
destinatários das decisões. Fundamental é que as informações sejam um bem comum,
acessíveis a todos sem o que a sociedade torna-se sujeita a desvios burocráticos
caracterizados pelo jogo de interesses dos administradores dos serviços públicos
(Carneiro,1999:62).
A educação ambiental, enquanto processo que objetiva a educação em valores
com vistas ao desenvolvimento sustentável, requer, para a sua implementação, tanto no
ensino formal quanto no ensino não formal, uma coerência conceitual e metodológica
com os pressupostos éticos. Novo (1995:95-98) apresenta alguns princípios orientadores
da tarefa educativa que favorecem essa integração:
83
formular problemas a partir de questionamentos e dúvidas com o objetivo de ajudar
as pessoas a se questionar sobre as origens dos problemas ambientais e a procurar
soluções para as situações. Nesse processo vai se configurando uma nova maneira
de atuação e interação com o entorno e, por conseguinte, vão surgindo novos
posicionamentos éticos decorrentes do processo;
favorecer o pensamento a respeito das questões ambientais a médio e a longo prazo
tanto no que se refere aos efeitos das ações humanas tanto quanto a possíveis
soluções. Dessa forma a capacidade de antecipação vai se incorporando à formação
dos alunos;
não negar o conflito em vista a uma pretendida falácia de neutralidade
considerando-se que a educação ambiental surgiu a partir da complexa problemática
ambiental contemporânea. A aceitação do conflito facilita o estabelecimento de
critérios precisos a respeito do meio ambiente que orientarão a tomada responsável
de decisões. A confrontação das situações problemáticas favorecem, ainda, a
aprendizagem da arte da negociação quando há divergências de opiniões. A atitude
de enfrentar o conflito conduz a outro princípio: tomar decisões embasadas em
valores ambientais mesmo que essas nem sempre resultem em ações, dada a
complexidade das questões e problemas. O que importa sobretudo é o exercício da
tomada de decisões na formação dos alunos e o reconhecimento de que estes, como
cidadãos, têm o direito e dever de questionar as decisões dos governantes. A tomada
de decisões por sua vez, implica, muitas vezes, em não fazer, isto é, abandonar
velhos hábitos, costumes, valores e atitudes.
A educação em valores ambientais respaldadas nos princípios orientadores,
deve, nas escolas, desenvolver-se a partir de estratégias de ensino que possibilitem aos
alunos, não só a aquisição de conhecimentos mas também a aquisição de valores e
atitudes ambientalmente corretas. Existe um grande número de estratégias de ensino que
podem ser empregadas para o alcance de tais objetivos. Na questão da aquisição de
valores um aspecto importante a ser observado pelos professores no que se refere à
escolha das estratégias de ensino, é o nível de desenvolvimento moral dos alunos. No
caso de alunos moralmente dependentes (8 a 13 anos aproximadamente, categoria em
que se encontram os alunos nesta pesquisa), três orientações básicas devem ser
seguidas: as estratégias de ensino deverão possibilitar a formação, pelos alunos, de
84
valores ambientalmente corretos que os orientem na sua integração com os demais
constituintes do meio; deverão incentivar a sua capacidade para agir como pessoa
autônoma, moralmente educada, capaz de tomar decisões morais conscientes e
responsáveis; deverão apoiá-los na direção da auto-realização e da integração no meio
ambiente com vistas ao seu envolvimento com temas morais, sociais e ambientais.
A educação em valores exige, portanto, que as metodologias empregadas pelos
professores sejam coerentes com as bases éticas e conceituais da educação ambiental de
forma que o modo de ensinar e de aprender se convertam em conteúdo educativo (Novo,
1995:152).
Outro aspecto importante no que se refere à questão metodológica da educação
ambiental é o princípio da interdisciplinaridade estabelecida na Conferência de
Belgrado (1975) e ratificado em Tbilisi (1977) e em Thessaloniki (1997). O enfoque
interdisciplinar possibilita uma visão mais global dos problemas ambientais ao analisá-
los em sua totalidade superando a tradicional visão fragmentária. A incorporação do
enfoque interdisciplinar na prática educativa implica num planejamento integrado das
ações educativas que levem em conta as condições geográficas, ecológicas, políticas,
econômicas e culturais que constituem o território no qual a instituição escolar está
inserida. A partir da análise das características e problemas ambientais do território
deverão surgir as orientações para a escolha dos processos investigativos e das ações
sociais que conduzam à construção de uma racionalidade ambiental orientada para um
desenvolvimento sustentável (Leff,1998:78). Implica, ainda, considerar que a
interdisciplinaridade não deve limitar-se ao apoio mútuo das diferentes disciplinas
curriculares mais sim, significa a inclusão de pessoas do território com suas diferentes
experiências e especialidades (Ordóñez,1992:50).
Os Parâmetros Curriculares Nacionais para o ensino fundamental ao tempo em
que apresentam os Temas Transversais esclarecem a relação entre transversalidade e
interdisciplinaridade ao explicitar que, na prática pedagógica, ambas alimentam-se
mutuamente: o tratamento das questões apresentadas pelos Temas Transversais expõe as
inter-relações entre os objetos de conhecimento de forma que um trabalho pautado na
transversalidade só pode ser desenvolvido em uma perspectiva interdisciplinar
(BRASIL/MEC, 1997a:40). Com o intuito de buscar a interdisciplinaridade, o
documento elaborado pelo Ministério da Educação sugere que os professores
85
desenvolvam estratégias de ensino que: a) promovam a participação dos alunos na
organização de suas experiências de aprendizagem, dando-lhes a oportunidade de tomar
decisões e aceitar suas conseqüências; b) favoreçam o estabelecimento de uma relação
entre a sensibilização ao meio ambiente, a aquisição de conhecimentos, a atitude para
resolver os problemas e a clarificação de valores; c) desenvolvam a sensibilização dos
alunos para os problemas ambientais existentes na sua comunidade; d) ajudem os alunos
a descobrir os sintomas e as causas reais dos problemas ambientais; e) aproveitem o
conteúdo específico de cada área de modo a conseguir uma perspectiva global da
questão ambiental (BRASIL/MEC, 1977a:72). Isso significa desenvolver concepções
metodológicas e propostas curriculares orientadas ao desenvolvimento sustentável via
formação de alunos politicamente alfabetizados já a partir dos processos educativos
formais, pela mediação da escola. Alunos que ultrapassem o estágio de consciência
ingênua e alcancem o de consciência crítica a partir da análise crítica das suas relações
com seus semelhantes e com o mundo natural (Freire,1979; Carneiro,1999:78)
O documento também fornece orientações quanto aos critérios que deverão
orientar a seleção e organização dos conteúdos com vistas à interdisciplinaridade. Os
conteúdos deverão ser selecionados a partir de três blocos gerais: os ciclos da natureza,
sociedade e meio ambiente e manejo e conservação ambiental.
As formas de operacionalização das orientações didáticas até aqui referidas são
apresentadas, juntamente com o método para inclusão da educação ambiental no
currículo escolar de modo a atender sua conceituação, seus objetivos, finalidades e suas
características pedagógicas no capítulo deste trabalho referente à Delimitação e desenho
do estudo empírico Fase de Diagnóstico: identificação da situação desejável.
Considerando-se que a construção de uma racionalidade ambiental
orientada ao desenvolvimento sustentável exige, conforme apresentado anteriormente, o
conhecimento das condições e características do território onde se situa a instituição
escolar serão apresentados nos Capítulos III e IV do trabalho dados relativos ao Estado
do Paraná e ao Município de Pinhais de modo a configurar o contexto onde a pesquisa
foi desenvolvida.
This document was created with Win2PDF available at http://www.daneprairie.com.The unregistered version of Win2PDF is for evaluation or non-commercial use only.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ACOT,P. História da Ecologia.Rio de Janeiro, Campus.1990 BACHIORI,A. Current trends in environmental education in italy. In:LEAL FILHO,W.Practices in environmental education in Europe.Bradforf Research and Training Centre on Environmental Education. p.31-40.1995. BIFANI,P.Meioambiente e desarrollo.México. Universidad de Guadalajara.1997. BOOKCHIN,M. Environmental Philosofy:from animal rights to radical ecology. Montreal. M.E. Zimmerman, Englewood Cliffs,N.J. 1993. BRAILOVSKY,A.Esta,nuestra única Tierra. Buenos Aires.Larousse.1992. BRASIL PRONEA. Programa nacional de Educação Ambiental.Brasília.MEC. 1994 ----------.Parâmetros curriculares nacionais. Apresentação dos temas transversais.Meio Ambiente e Saúde. Brasília. MEC.1997b. ----------. Portaria nº678 de 14 de maio de 1991. Determina que a educação escolar contemple a Educação Ambiental. CARIDE,J.A.La educación ambiental:concepto,historia y perspectivas.In:CARIDE,J.A.(org).CANDEDO,M.D.;MEIRA,P.A.;MOSQUERA,M.J;REQUEJO,A.; ROSALES,C.; ZABALZA,M.A.Educación ambiental: realidades y perspectivas. Santiago de Compostela.Torculo.p.7-86. 1991. CARIDE,J.A,;MEIRA,P.A. Educación Ambiental y desarrollo: la sustentabilidad y lo comunitário como alternativa. In: Pedagogia Social. Revista Interuniversitaria. 2 Segunda Epoca.Decembro. p.11-12. 1998. CARNEIRO, S.M. A dimensão ambiental da educação escolar de 1ª a 4ª série do ensino fundamental na rede escolar pública da cidade de Paranaguá. Curitiba. Tese de Doutorado. UFPR1999. CARVALHO,L.M. A temática ambiental e a escola de 1° grau.São Paulo. USP/Faculdade de educação. Tese de Doutorado.1989. CATALÃO,V.M. Educação Ambiental e escola- retorno ao naturalismo ou senha para a transformação? Brasília.UNB.Dissertação de Mestrado. 1993. COLLINGWOOD,R.G. Ciência e Filosofia.Lisboa.Editorial Presença. S.d. COLOM,A.J.Modelos de intervención socio-educativa. Madrid.Narcea.1987. ---------------El desarrollo sustenible y la educación para el desarrollo.In: Pedagogia Social. Revista Interuniversitaria.p.31-49. 1998. CRESPO,S.Educar para a sustentabilidade: a educação ambiental no Programa da Agenda 21.In: Tendências da educação ambiental brasileira. Santa Cruz do Sul. EDUNISC. P.211-225.1998. CZAPSKI,S.A implantação da educação ambiental no Brasil. Brasília. MEC.1998. DIAS,G.F.Educação ambiental:princípios e práticas. Brasília. Gaia.1992. DIEGUES,A.C O mito moderno da natureza intocada. São Paulo. Hucitec. 1996. ESTEBAN,M.I; SÁNCHEZ,E.L.Educación ambientsl integrada em los sisytemas educativos del Reino Unido y espanã. Una visión comparada. Congresso Internacional estratexias e praticas en Educación Ambiental.Santiago de Compostela. Gráficas Garabal.p509-520. 1996.
FROMM,E. Ter ou ser? Rioo de Janeiro. Zahar. 1979. GIORDAN,A. (coord).Educación ambiental:guia práctica. Sevilla. Díada Editorial. 1994. GONZALES,L.J.Ética ecológica para América Latina. Buenos Aires.Espacio Editorial.1994. GRÜN,M. Ética e Educação Ambiental.A conexão necessária. Campinas. Papirus. 1986 ------------Uma discussão sobre valores éticos em Educação Ambiental.In: Educação e Sociedade. Porto Alegre. 19(2):p 171-196. 1994
JERZAK,L;JEZAK,I. Environmental education in Polish Schools.In:LEAL FILHO,W. Practices in Environmental Education in Europe. Bradford,European
Research and Training Center on Envuronmental Education.p.113-117. 1995. KRASILCHIK,M. Educação Ambiental na escola brasileira-passado, presente e futuro.Ciência e Cultura. 38(12):p.1958-1961.1986. LEAL, F.W;MACDERMOTT,F;MURPHY,Z.Practices in Environmental Education in Europe.Bradford,ERTCEE.1995. LEFF,E.Sociologia y ambiente:sobre el concepto de racionalidad ambiental y las transformaciones del conocimento.In: VIEIRA,J. (org). As ciênciaas sociais e a questão ambiental: rumo à interdisciplinaridade. Rio de Janeiro.. APED/NACEA. 1993. LEROY,J.P.;MAIA,K.;GUIMARÃES,R.P. (org). Brasil Século XXI: os caminhos da sustentabilidade cinco anos depois da Rio-92. Rio de Janeiro. Fase.1997. LUCINI,F.Temas transveersales y áreas curriculares. Madrid. Anaya. 1995. MAIMON,D. Mudança da política ambiental. In:O ambienta inteiro- uma contribuição crítica da Universidade à questão ambiental. Rio de Janeiro.UFRJ. 1992. MARTINEZ,P.A.. Legislación básica Materia de Educación Ambiental y recupercio]ín en el curriculo de la ensenânza formal.In:Congresso internacional estratexias e practicas en educación ambiental.Santiago de Compostela. Gráficas Garabal. 1996. MEDINA,N. La educación ambiental: una alternativa. Documento reprográfico. s.d. MEYER,M de A. Projeto pedagpogico e educação ambiental. In:Desenvolvimento e educação ambiental. Brasília INEP.P.94-101. 1992. MOLNAR,E.C. Environmental Education and Training in Hungary. In: LEAL FILHO,W.;MACDERMOTT,F.;MURPHY,Z.Practices in Environmental Education in Europe. Bradford.RTCEE.p.137-142.1985. MORÁN,C.;FERNANDÉZ,M.;MEIRA,P.C. Promoting environmental education in Spain: a historical perspective and present trends.In: LEAL FILHO,W.;MACDERMOTT,F.;MURPHY,Z.Practices in environmentaleducatios in Europe. Bradford. RTCEE.p.143-160. 1995.B NOGUEIRA,J,M. Desenvolvimento e educação ambiental. In:Desenvolvimento e Educação Ambiental. Brasília. INEP.p.17-23.1992. NOVO,M. La educación ambiental. Bases éticas, conceptuales y metodologicas. Madrid. Editorial Universitas. 1995. PÁDUA,J.A.Natureza e projeto nacional- as origens da ecologia política no Brasil. In:PÁDUA,J.A;VIOLA,E.;MINC,C,; VIEIRA,L.;GABEIRA,F.; GONZAGA,P. Ecologia e política no Brasil.Rio de Janeiro.Espaço e Tempo/ Instituto Universitário de Pesquisa do Rio de Janeiro. p.13-62.1987. PARDO,A.D. La educación ambiental como proyeto.Barcelona.Orsoni.1995.
PNUMA. Formación ambiental.México.v.11.n°24 jan-jun.1999. RAMOS,E.C.Educação ambiental: evolução histórica, implicações te´ricas e sociais. Uma avaliação crítica.Curitiba.UFPR. Dissertação de Mestrado. REIGOTA,M.O que é educação ambiental.São Paulo. Cortez. 1994. REQUEJO,.A Hombre e medio ambiente. Perspectivas antropológicas y pautas de acción para uma educación ambiental. In: CARIDE,J.A;(coord);MEIRA,P,A.;GONZÀLEZ,M,J.; REQUEJO,º; CANDEDO,M,D.; MOSQUERA,M,J.; ZABALZA,M,A.Educación Ambiental: realidades y perspectivas.Santiago de Compostela. Torculo. p.127-157. 1991. SACHS<I.Estratégias de transição para o século XX. In:RAYNAUT,C.;ZANONI,M. (org).Cadernos de Desenvolvimento e Meio Ambiente.Curitiba. Editora UFPR.p.6-12.1993. SCHLEIDER,R. Trends and current state of environmental education in Germany.In: LEAL FILHO,W.;MACDERMOTT.F.;MURPHY,Z.Practices in Environmental Education in Europe.Bradford. ERTCEE. SCIACCA,M.F.O problema da educação.São Paulo.Herder. 1996. SESSIONS,G.Deep ecology for the 21 century. Boston.Shambhala. 1995. SILVA,D.Hacia un paradigma de la questión ambiental en América Latina: In: Revista Interamericana de Planificación.V.XXVV,n° 98.1992. THOMAS, K. O homem e o mundo natural.São Paulo.Cortez Editora.1988 VIOLA,E.J.O ambientalismo setorial do Brasil para além da Rio-02: o desafio de uma estratégia globalista viável.In: VIOLA,E J.;LEIS,H.;SCHERER-WARREN,I.; GUIVANT,J.; VIEIRA,P.F.; KRISCHKER,P,J.Meio Ambiente, desenvolvimento e cidadania: desafios para as ciências sociais. Florianópolis,Cortez/UFSC.p.134-160.1995. VITALE,L.Hacia uma historia Del ambiente em América Latina. México. Editorial Nueva Imagem. 1983. WILHEIM,J.Apresentação.In; Guia do professor de 1° e 2° graus. São Paulo.CETESB.1988. ZABALZA,M.A El ambiente desde uma perspectiva curricular. In: CARIDE,J.A, (coord).; CANDEDO,M.D.;MEIRA,P.ªA; MOSQUERA,M.J.;REQUEJO.ª; ROSALES,C.; ZABALZA,M.A.Educación ambiental: realidade y perspectivas. Santiago de Compostela. Torculo.p.243-297. 1991.
This document was created with Win2PDF available at http://www.daneprairie.com.The unregistered version of Win2PDF is for evaluation or non-commercial use only.