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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA CENTRO DE TECNOLOGIA DEPARTAMENTO DE CONSTRUÇÃO CIVIL CURSO DE ENGENHARIA CIVIL ANÁLISE DA AÇÃO DE ALTAS TEMPERATURAS EM PAINÉIS DE ALVENARIA ESTRUTURAL DE BLOCOS CERÂMICOS COM DIFERENTES PREENCHIMENTOS TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO Marciana Cocco Santa Maria, RS, Brasil 2014

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA CENTRO DE TECNOLOGIA

DEPARTAMENTO DE CONSTRUÇÃO CIVIL CURSO DE ENGENHARIA CIVIL

ANÁLISE DA AÇÃO DE ALTAS TEMPERATURAS EM PAINÉIS DE ALVENARIA ESTRUTURAL DE BLOCOS CERÂMICOS COM DIFERENTES PREENCHIMENTOS

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO

Marciana Cocco

Santa Maria, RS, Brasil

2014

ANÁLISE DA AÇÃO DE ALTAS TEMPERATURAS EM

PAINÉIS DE ALVENARIA ESTRUTURAL DE BLOCOS

CERÂMICOS COM DIFERENTES PREENCHIMENTOS

Marciana Cocco

Trabalho de Conclusão de Curso de Graduação em Engenharia Civil, da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM, RS), como requisito

parcial para obtenção do grau de Engenheiro Civil.

Orientador: Profª. Drª. Larissa Degliuomini Kirchhof

Santa Maria, RS, Brasil

2014

Universidade Federal de Santa Maria Centro de Tecnologia

Curso de Engenharia Civil

A comissão Examinadora, abaixo assinada, aprova o Trabalho de Conclusão de Curso de Graduação

ANÁLISE DA AÇÃO DE ALTAS TEMPERATURAS EM PAINÉIS DE ALVENARIA ESTRUTURAL DE BLOCOS CERÂMICOS COM

DIFERENTES PREENCHIMENTOS

elaborado por Marciana Cocco

como requisito parcial para obtenção do grau de Engenheiro Civil

COMISSÃO EXAMINADORA

Larissa Degliuomini Kirchhof, Drª.

(Presidente/Orientador)

Rogério Cattelan Antocheves de Lima, Dr. (UFSM)

Eduardo Rizzatti, Dr. (UFSM)

Santa Maria, 16 de dezembro de 2014.

RESUMO

Trabalho de Conclusão de Curso de Graduação Curso de Engenharia Civil

Universidade Federal de Santa Maria

ANÁLISE DA AÇÃO DE ALTAS TEMPERATURAS EM PAINÉIS DE

ALVENARIA ESTRUTURAL DE BLOCOS CERÂMICOS COM

DIFERENTES PREENCHIMENTOS

AUTORA: MARCIANA COCCO

ORIENTADOR: LARISSA DEGLIUOMINI KIRCHHOF

Data e Local da Defesa: Santa Maria, 16 de dezembro de 2014.

A alvenaria estrutural teve seu uso intensificado na construção civil a partir do fim dos anos 80. Se comparada às estruturas convencionais de concreto armado, ela oferece vantagens, como significativa redução de custo em empreendimentos de alturas não muito elevadas. Além disso, as paredes de alvenaria estrutural apresentam boa resistência ao fogo. Este trabalho tem como objetivo principal analisar o desempenho de painéis executados em alvenaria de blocos cerâmicos, sob carga de serviço, com e sem preenchimentos, quando submetidos a altas temperaturas. O estudo se baseou na verificação dos critérios estabelecidos pela NBR 5628 (2001) “Componentes construtivos estruturais – Determinação da resistência ao fogo”, resultando em um diagnóstico do desempenho dos painéis quanto ao Tempo de Resistência a Altas Temperaturas (TRAT). Seis amostras foram moldadas, sendo duas sem preenchimento, duas com preenchimento de graute estrutural, e o restante com preenchimento de areia. Os corpos de prova receberam revestimento argamassado, nas faces expostas e não expostas ao calor. Eles foram mantidos à temperatura de 900 °C durante 240 minutos, sob carga axial de serviço de 10 toneladas. A temperatura atingida na face não exposta foi monitorada por uma câmera termográfica com sensor infravermelho, em intervalos de 30 minutos. Ao final da análise percebeu-se que os preenchimentos melhoram consideravelmente o desempenho das paredes de alvenaria estrutural quanto à exposição à altas temperaturas, evidenciado pela manutenção da temperatura próxima aos 100 °C a partir dos 90 minutos de ensaio. Verificou-se ainda que o areia foi o material que apresentou o melhor desempenho térmico, além de possuir o menor custo. Há, portanto, possibilidade real de ser empregada como preenchimento em paredes corta-fogo.

Palavras-chave: Desempenho. Fogo. Preenchimento.

LISTA DE EQUAÇÕES

Equação 2.1 – Equação para elevação padronizada de temperatura em função do

tempo para materiais celulósicos (incêndio padrão)..........................20

Equação 2.2 – Equação para elevação padronizada de temperatura em função do

tempo para hidrocarbonetos..............................................................21

LISTA DE FIGURAS

Figura 2.1 – Triangulo do fogo....................................................................................15 Figura 2.2 – Tetraedro do fogo...................................................................................16 Figura 2.3 – Curva de incêndio real............................................................................18 Figura 2.4 – Curva de incêndio natural.......................................................................19 Figura 2.5 – Elevação padronizada da temperatura...................................................20 Figura 2.6 – Curva de incêndio padrão.......................................................................21 Figura 2.7 – Curva temperatura-tempo para hidrocarbonetos....................................22 Figura 3.1 – Prismas: antes (a) e durante (b) o ensaio de resistência à

compressão...........................................................................................32 Figura 3.2 – Corpo de prova do graute antes do ensaio de resistência à

Compressão..........................................................................................33 Figura 3.3 – Corpos de prova da argamassa empregada, antes do ensaio...............34 Figura 3.4 – Painel de alvenaria estrutural sem preenchimento, antes da aplicação do

revestimento..........................................................................................38 Figura 3.5 – Forno e pórtico utilizados nos ensaios....................................................40 Figura 3.6 – (a) Macaco hidráulico utilizado para a aplicação de carga nos painéis

e (b) Detalhe do mostrador analógico durante o ensaio........................40 Figura 3.7 – Parede adotada para cálculos................................................................41 Figura 3.8 – Estrutura montada para os ensaios a altas temperaturas......................42 Figura 3.9 – Câmera termográfica com sensor infravermelho....................................43 Figura 4.1 – Curva de aquecimento do painel “V1” ....................................................46 Figura 4.2 – Análise térmica do painel “V1” para o tempo de 240 minutos de ensaio...47 Figura 4.3 – Curva de aquecimento dos painéis “G1” e “G2” .....................................48 Figura 4.4 – Análise térmica dos painéis “G1” (a) e “G2” (b) para o tempo de

240 minutos de ensaio...........................................................................49 Figura 4.5 – Curva de aquecimento dos painéis “A1” e A2” ........................................49 Figura 4.6 – Análise térmica dos painéis “A1” (a) e “A2” (b) para o tempo de

240 minutos de ensaio...........................................................................50 Figura 4.7 – Médias das temperaturas atingidas pelos painéis..................................51 Figura 4.8 – Fissura no painel “G1” ...........................................................................52 Figura 4.9 – Superfície exposta do painel “V1” ..........................................................53 Figura 4.10 – Superfície exposta do painel “G1” ........................................................53 Figura 4.11 – Superfície exposta do painel “A1” ........................................................54

LISTA DE QUADROS

Quadro 2.1 – Tempo de resistência ao fogo de paredes de blocos cimentíceos.........26

LISTA DE TABELAS

Tabela 3.1 – Resistência à compressão dos blocos cerâmicos..................................30 Tabela 3.2 – Resistência à compressão dos prismas sem preenchimento aos

28 dias...................................................................................................31 Tabela 3.3 – Resistência à compressão dos prismas preenchidos com graute aos

28 dias...................................................................................................32 Tabela 3.4 – Resistência à compressão do graute aos 7 dias....................................33 Tabela 3.5 – Resistência à compressão do graute aos 28 dias..................................34 Tabela 3.6 – Resistência à compressão da argamassa aos 7 dias............................35 Tabela 3.7 – Resistência à compressão da argamassa aos 28 dias..........................35 Tabela 3.8 – Resistência à tração e à compressão da argamassa de revestimento aos

7 dias.....................................................................................................36 Tabela 3.9 – Resistência à tração e à compressão da argamassa de revestimento

aos 28 dias............................................................................................37 Tabela 3.10 – Granulometria da areia........................................................................37

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .......................................................................... 10

1.1 Objetivos ................................................................................................. 12

1.1.1 Objetivo geral ........................................................................................... 12

1.1.2 Objetivos Específicos ............................................................................... 12

1.2 Limitações de estudo ............................................................................. 12

1.3 Estrutura do trabalho ............................................................................. 13

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ................................................ 15

2.1 O fogo e o incêndio ................................................................................ 15

2.1.1 Fases do incêndio .................................................................................... 17

2.1.2 Curvas de incêndio ................................................................................... 18

2.2 Proteção Ativa e Passiva ....................................................................... 22

2.2.1 Compartimentação ................................................................................... 23

2.2.2 Rotas de fuga ........................................................................................... 23

2.2.3 Resistência ao fogo .................................................................................. 24

2.3 Comportamento de painéis de alvenaria estrutural após exposição a

altas temperaturas................................................................................................... 27

3 MATERIAIS E METODOLOGIA ............................................... 29

3.2 Materiais empregados no estudo e ensaios realizados ...................... 30

3.2.1 Blocos cerâmicos ..................................................................................... 30

3.2.2 Graute estrutural ....................................................................................... 32

3.2.3 Argamassa de assentamento ................................................................... 34

3.2.4 Argamassa de revestimento ..................................................................... 35

3.2.5 Areia ......................................................................................................... 37

3.2.6 Painéis estudados .................................................................................... 38

3.2.7 Equipamentos utilizados para a montagem do ensaio ............................. 39

3.2.8 Equipamento utilizado para leitura das temperaturas no painel ............... 42

3.3 Metodologia adotada .............................................................................. 43

4 RESULTADOS E ANÁLISES ................................................... 45

4.1 Critério de isolamento térmico .............................................................. 45

4.2 Critério de estanqueidade...................................................................... 52

4.3 Critério de segurança estrutural ........................................................... 53

5 CONCLUSÕES E SUGESTÕES .............................................. 55

5.1 Conclusões ............................................................................................. 55

5.2 Sugestões ............................................................................................... 56

6 REFERÊNCIAS ......................................................................... 57

10

1 INTRODUÇÃO

Impulsionado pelo aumento da renda da população brasileira e pela facilidade

de acesso ao crédito, o mercado da construção civil no Brasil vem experimentando

crescimento significativo nos últimos anos. Investimentos públicos e privados, além

de programas habitacionais, como o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC)

e o Minha Casa, Minha Vida, estão entre as principais causas desse desenvolvimento

(Revista Mercado, 2011). Várias técnicas construtivas vem sendo aperfeiçoadas para

satisfazer esse mercado crescente, entre elas a alvenaria estrutural.

O Brasil e os Estados Unidos são os países que mais utilizam a alvenaria

estrutural como sistema construtivo atualmente. Nos Estados Unidos, desde a década

de 60, regras e normas técnicas vem sendo publicadas para o dimensionamento de

edificações em alvenaria estrutural, sendo resultado de ensaios e pesquisas. No

Brasil, porém, os estudos iniciaram-se bem mais tarde, na década de 70, no Instituto

de Pesquisas Tecnológicas (IPT) e na Universidade de São Paulo (USP).

Antes disso, na década de 60, a utilização da alvenaria estrutural em

construções já havia iniciado. A maioria delas porém, apresentou patologias, devido à

baixa qualidade dos materiais empregados. Em decorrência disso, e também devido

ao maior domínio das técnicas de construção em concreto armado, a execução de

estruturas em alvenaria estrutural permaneceu estagnada até o final dos anos 80. A

partir daí, ela ganhou força, contando com o impulso de parcerias entre empresas e

universidades, que desenvolveram equipamentos e também materiais nacionais para

sua produção. (SILVESTRE, 2013).

Depois desse estímulo, houve grande aumento da utilização de alvenaria

estrutural na construção civil, já que ela oferece inúmeras vantagens em relação ao

sistema de concreto armado convencional. Segundo Tauil (2013), para edificações de

até quatro pavimentos, há uma economia que chega a 30 % em relação ao sistema

convencional (há possibilidade de execução de projetos mais altos, porém o custo

benefício deve ser avaliado com mais cuidado).

Além de maior economia, esse sistema construtivo apresenta outras

vantagens, como baixa produção de resíduos, já que os rasgos das paredes são

evitados e a utilização de fôrmas é reduzida; otimização da mão de obra, sem a

11

necessidade de carpinteiros e armadores para vigas e pilares; facilidade de controle,

graças à existências de normas técnicas que regulamentam o projeto, a execução e

os materiais. (SILVESTRE, 2013).

Quanto à resistência ao fogo de uma parede de alvenaria estrutural, deve-se

verificar quais são as exigências normativas em relação a esse quesito. Somente

depois dessa averiguação é que será possível avaliar se ela atende ou não aos

requisitos exigidos. (ROSEMANN, 2011)

Segundo Pereira (2009, p.109), “A importância do planejamento nessa área é

medida pelos sinistros evitados e não pelos incêndios extintos”. Por essa razão, as

edificações precisam ser planejadas de modo que não existam perdas humanas nem

estruturais em caso de sinistro. Conforme a NBR 15575-1 (2013), alguns requisitos

básicos devem ser levados em conta na etapa de projeto a fim de preservar a

segurança dos moradores, mantendo a estrutura estável. Deve-se garantir a saída

dos ocupantes de forma segura; o socorro público deve ter acesso operacional de

viaturas, equipamentos e pessoal, para realizar as atividades de salvamento e

combater o incêndio; evitar e, de preferência anular, os danos na edificação sinistrada,

nas vizinhas, na infraestrutura pública, bem como no meio ambiente.

No entanto, para que os ocupantes possam deixar a edificação com

segurança, o projeto deve contemplar rotas de fuga seguras que protejam os

ocupantes não só do fogo, mas também da fumaça e dos gases tóxicos. O elemento

imprescindível para os casos em que os pavimentos não tenham saída em nível para

o exterior é a escada, enclausurada ou não. Segundo a NBR 9077 (2001, p. 8), quando

ela for enclausurada, deve ser constituída de material incombustível. Caso não seja

enclausurada, além de incombustível, os elementos estruturais devem possuir um

tempo mínimo de resistência ao fogo de duas horas. Ainda segundo a NBR 9077

(2001, p. 7), para que o desempenho seja satisfatório (mínimo de duas horas de

resistência ao fogo), as paredes das rotas de fuga precisam ter um isolamento térmico

e uma inércia térmica equivalentes a uma parede de tijolo maciço, rebocada, de 15

cm de espessura.

Pensando nisso, pesquisadores vêm investigando materiais com

desempenho semelhante. Algumas pesquisas têm como base o estudo do

comportamento dos materiais, como os efeitos do fogo nos componentes do concreto,

dos blocos e da armadura (LIMA, 2005; CAETANO, 2008). Outras já foram realizadas

com o objetivo de analisar o desempenho do painel como um todo, utilizando paredes

12

em concreto armado, de várias espessuras (CASONATO, 2007), e também paredes

de alvenaria estrutural de blocos cerâmicos (RIGÂO, 2012). No presente trabalho, o

foco é a análise da ação de altas temperaturas em painéis de alvenaria estrutural de

blocos cerâmicos com diferentes preenchimentos, procurando encontrar a

configuração com melhor desempenho e também menor custo, retratando

possibilidades de uso reais, como em caixas de escadas.

1.1 Objetivos

1.1.1 Objetivo geral

Analisar o desempenho de painéis executados em alvenaria de blocos

cerâmicos, sob carga de serviço, com e sem preenchimentos, quando submetidos a

altas temperaturas, com vistas a simular uma situação real de aquecimento provocada

durante um incêndio.

1.1.2 Objetivos Específicos

a) Avaliar o desempenho de dois tipos de preenchimento: areia e graute, a fim

de evidenciar qual deles proporciona um melhor desempenho quanto à

proteção dos usuários e da própria estrutura;

b) Estimar o Tempo de Resistência à Altas Temperaturas (TRAT) de cada uma

das amostras ensaiadas, através da verificação dos parâmetros previstos

na NBR 5628 (2001) quanto ao isolamento térmico, estanqueidade e

resistência mecânica.

1.2 Limitações de estudo

Conforme percebe-se pela descrição dos materiais e a metodologia adotada

para o estudo, o método de ensaio indicado pela NBR 5628 (2001) não foi seguido

13

integralmente, embora os parâmetros estabelecidos por ela para avaliação do

desempenho das amostras foram utilizados para a determinação do Tempo de

Resistência à Altas Temperaturas (TRAT) de cada painel ensaiado, algo semelhante

ao TRF.

As dimensões dos corpos de prova foram reduzidas, já que o forno disponível

para o ensaio não comportava os tamanhos indicadas na norma. De acordo com a

NBR 5628 (2001), a resistência ao fogo de um elemento estrutural deve ser verificada

com amostras em tamanho real. Ela ainda recomenda que, se não houver a

possibilidade de ser executado nessas condições, as dimensões mínimas devem ser

de 2,5x2,5 m. No presente estudo, porém elas apresentam dimensões de 74x79x17,5

cm, sendo corpos de prova em escala real, porém com dimensões reduzidas.

Além disso, os registros das temperaturas da face não exposta não foram

realizados com termopares, como é indicado pela NBR 5628 (2001), e sim com uma

câmera termográfica com sensor infravermelho. Essa câmera, no entanto, registra a

temperatura de todos os pontos do painel, sendo cada pixel um ponto de captação,

sendo isso algo positivo da sua utilização nos ensaios, sendo possível uma melhor

avaliação o comportamento da superfície não exposta como um todo.

Por fim, o forno empregado nos ensaios possui uma taxa de aquecimento

média de 20°C/min, inferior àquela necessária para simular a Curva de Incêndio

Padrão.

1.3 Estrutura do trabalho

O primeiro capítulo deste trabalho apresenta um breve histórico da alvenaria

estrutural no Brasil, algumas vantagens desse sistema construtivo, introdução a

exigências normativas quanto à resistência ao fogo de paredes de alvenaria em caso

de incêndio, bem como a apresentação dos objetivos desse estudo.

O segundo capítulo constitui-se na etapa de revisão bibliográfica, a qual

abrange conceitos relacionados ao fogo e ao incêndio, definições de curvas de

incêndio real e padrão, proteção ativa e passiva, além de serem abordados aspectos

importantes quanto à compartimentação das edificações.

14

O capítulo 3 trata de aspectos relacionados ao programa experimental,

incluindo detalhes sobre a escolha de materiais, variáveis experimentais, métodos,

ensaios e procedimentos adotados.

O capítulo 4 apresenta a análise dos resultados obtidos quanto ao isolamento

térmico, à estanqueidade e à resistência mecânica das amostras após a exposição a

elevadas temperaturas.

Por fim, a quinta parte apresenta a conclusão e sugestões para trabalhos

futuros.

15

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 O fogo e o incêndio

Fogo: “1 Toda combustão acompanhada de desenvolvimento de luz, calor e,

geralmente, de chamas. 2 Labareda. 3 Fogueira, lume. 4 Incêndio. 5 .... ”. (FOGO,

Michaelis). De acordo com a NBR 13860 (1997, p. 6) o fogo é o “processo de

combustão caracterizado pela emissão de luz e calor”. É uma reação química de

oxidação, exotérmica, que só ocorre quando coexistem o combustível, o comburente

e o calor, denominado triângulo do fogo (Figura 2.1). Para cessar essa reação

química, é imprescindível que um dos três componentes do triângulo seja suprimido.

(CASONATO, 2007).

Figura 2.1 - Triângulo do fogo.

De acordo com CASONATO (2007), a combustão produz chamas que geram

luz e liberam calor, além de emitir fumaça, gases e outros resíduos. A fumaça impede

a visibilidade, já que é formada por partículas sólidas em suspensão. Ela dificulta a

fuga dos ocupantes da edificação, bem como o trabalho de resgate e combate ao

fogo. Além disso, a fumaça pode intoxicar e asfixiar os ocupantes, podendo causar a

morte ou ainda complicações nesses após algum tempo do sinistro. Os gases

emanados da combustão são também tóxicos, no entanto, ao contrário da fumaça,

16

são invisíveis. Sua difusão ajuda a propagar o incêndio. Somado aos gases, o calor

que é irradiado acaba provocando elevação na temperatura dos materiais próximos,

o que pode provocar sua autoignição. Esse fenômeno chama-se reação em cadeia

(BAYON, 1978 apud CASONATO, 2007).

Devido a ela, foi proposta uma alteração no triangulo do fogo, resultando no

quadrilátero (ou tetraedro) do fogo (Figura 2.2). Caso não ocorra a retirada de um dos

componentes do tetraedro, essa reação ocorrerá de forma descontrolada, gerando o

incêndio. (CASONATO, 2007).

Figura 2.2 - Tetraedro do fogo.

Incêndio: “1 Ato ou efeito de incendiar. 2 Fogo que lavra com

intensidade. 3 Grande calor. 4 Conflagração. 5 Calamidade.” (INCÊNDIO, Michaelis).

Na NBR 13860 (1997, p. 7), incêndio significa “fogo fora de controle”. De acordo com

a NBR 6118 (2014, p.66), no dimensionamento de uma estrutura o incêndio é

considerado como uma ação variável excepcional, já que a probabilidade de

ocorrência realmente é baixa. Porém, quando ele ocorre, normalmente resulta em

grande destruição, o que põe em risco os ocupantes e a própria estrutura.

17

2.1.1 Fases do incêndio

O incêndio possui três etapas. Na fase inicial ocorre a elevação progressiva

da temperatura. A segunda fase é caracterizada pela inflamação ou combustão

generalizada. Na última fase ocorre a decadência e a extinção. (ROSSO, 1994 apud

CASONATO, 2007)

A primeira fase, também chamada pré-flashover, ainda apresenta baixa

temperatura. No entanto há exalação de gases tóxicos provenientes do material

combustível em chamas, já oferecendo perigo aos usuários. A desocupação do local

deve ser feita ainda nessa etapa, bem como a extinção do incêndio, já que os riscos

à estrutura são pequenos. (SILVA, 1997, 2012)

Se o incêndio não for extinto durante a primeira fase, ocorrerá a inflamação

generalizada, conhecida por flashover. Nesta segunda etapa, toda a superfície da

carga combustível do ambiente entra em ignição e a temperatura eleva-se

rapidamente. Essa etapa perdura até praticamente todo o material combustível ser

consumido. (SILVA, 2012). Nela podem ocorrer explosões, acarretando o rompimento

de janelas e vidros, o que alimenta ainda mais o processo, já que o fluxo de oxigênio,

que é o combustível, é acrescido. Nesta fase, de 60 a 80% de todo o material

combustível é consumido. Quando o incêndio chega ao flashover, a degradação dos

elementos estruturais é intensificada.

Os projetos estruturais devem, portanto, levar em conta a temperatura desta

etapa no momento do dimensionamento e verificação da estrutura. Após o início da

inflamação generalizada, a temperatura se mantém elevada e ocorre a combustão.

Essa fase é delicada, pois a estrutura se encontra comprometida devido às mudanças

físico-químicas ocorridas nos materiais, além da degradação dos elementos

estruturais, havendo risco de desabamento e também propagação das chamas para

as habitações adjuntas (CASONATO, 2007).

Na última fase há o resfriamento gradativo dos gases, havendo decaimento

na curva. Falando-se de estruturas de concreto, quanto maior for a temperatura

atingida durante o flashover e mais rápido for o resfriamento dos gases nesta última

etapa, menor será a resistência residual após o incêndio. (SILVA, 2012)

18

2.1.2 Curvas de incêndio

As curvas de incêndio podem ser classificadas como real, natural ou incêndio-

padrão.

Em relação à curva temperatura-tempo de um incêndio real (Figura 2.3), três

etapas definem o avanço da temperatura em função do tempo: pré-flashover,

flashover e resfriamento. Com ela, pode-se calcular qual a temperatura máxima

atingida pelas peças estruturais e sua correspondente capacidade resistente às

temperaturas elevadas (SILVA, 1997).

Figura 2.3 - Curva de incêndio real. Fonte: SILVA (2012 p.37)

Um incêndio, quando na sua primeira fase, pode ser extinto com o auxílio dos

elementos da proteção ativa, tais como extintores, sistemas automáticos de detecção

de calor e fumaça, sistema de chuveiros automáticos e a rede de hidrantes e

mangotinhos. No entanto, não há certeza de que esses meios de extinção irão

realmente funcionar. Por isso, há possibilidade de se modelar o incêndio, com o auxílio

de curvas temperatura-tempo com base em ensaios ou modelos matemáticos

19

realísticos de incêndio, onde a variação da quantidade de materiais combustíveis, bem

como a ventilação do compartimento são levados em consideração. Esses modelos

são conhecidos por modelo de incêndio natural (Figura 2.4), onde é suposto que o

incêndio inicie no momento do flashover (SCHLEICH, 1994 apud SILVA, 1997).

Figura 2.4 - Curva de incêndio natural. Fonte: SILVA (1997 p. 4)

O modelo de incêndio natural dificilmente é usado em simulações de incêndio

e dimensionamento de estruturas, pois depende, como já citado, de vários fatores,

como a carga de incêndio e a ventilação do compartimento, características físico-

térmicas dos materiais das vedações, entre outros, sendo que, cada compartimento

apresentaria uma curva de incêndio diferente. (SILVA, 2012).

Por simplificação, as normas técnicas permitem o uso de uma Curva de

Incêndio Padrão, que surgiu devido a sistematização da parte mais agressiva da curva

de incêndio real: o flashover (Figura 2.5). Inicialmente, o objetivo era a utilização desta

curva em ensaios de materiais e estruturas. No entanto, ela foi consolidada pelas

normas ISO 834 (1975) e NBR 5628 (2001) e é adotada em vários países

(CASONATO, 2007).

A característica principal dessa curva é apresentar apenas um ramo

ascendente, admitindo que a temperatura dos gases é sempre crescente. Também

20

não considera as características do ambiente nem a carga de incêndio. Ela, portanto,

não representa um incêndio real, sendo que qualquer resultado de ensaio obtido a

partir do seu uso deve ser analisado com cuidado. (SILVA, 2012)

Figura 2.5 – Elevação padronizada da temperatura. Fonte: SILVA (1997 p. 5)

A recomendação das NBR 14432 (2001, p.3) e NBR 5628 (2001, p. 2) é que

a equação logarítmica 2.1 seja adotada para a elevação padronizada de temperatura

em função do tempo. Essa equação é baseada, segundo Silva (2012), na ISO 834

(1990) e resulta na Curva de Incêndio Padrão da figura 2.6.

�� = 345��� 8� + 1� + ��,� (2.1)

Sendo:

� – tempo em minutos

�� – temperatura dos gases, em graus Celsius, no instante t.

��,� – temperatura dos gases no início do aquecimento, em graus Celsius, geralmente

admitida 20°C.

21

Figura 2.6 - Curva de incêndio padrão.

Fonte: SILVA (2012, p 39)

De acordo com Silva (2012), a curva ISO 834 (Curva de Incêndio Padrão) é

aplicável onde a carga de incêndio, em termos de potencial calorífero, é equivalente

à madeira, como papéis, panos, etc (materiais celulósicos em geral). Para demais

casos outras curvas são indicadas. Geralmente elas apresentam um ramo inicial mais

agressivo do que a ISO 834. Uma delas é a de hidrocarbonetos (Figura 2.7), que são

os derivados do petróleo. Ela segue a equação 2.2.

�� = 1080 1 � 0,33���,��� � 0,68���,��� + 20 (2.2)

Sendo:

� – tempo em minutos

�� – temperatura dos gases, em graus Celsius, no instantet.

22

Figura 2.7 - Curva temperatura-tempo para hidrocarbonetos Fonte: SILVA (2012, p 40)

2.2 Proteção Ativa e Passiva

Assim que a combustão se inicia, a fumaça e os gases já são exalados. Esses

dois componentes, assim como o calor e o desabamento de elementos estruturais

geram risco à vida dos ocupantes da edificação. A fumaça, no entanto, é a principal

causa de óbitos, já que ela ocorre nos primeiros instantes do incêndio e se alastra

rapidamente. É justamente por isso que a desocupação da edificação deve ser

realizada da maneira mais rápida possível. (SILVA, 2012) Essa rápida evacuação

deve estar prevista desde a fase de projeto. Além disso, de maneira complementar,

precisam ser instalados meios de rápida extinção do foco do incêndio, impedindo que

ele se alastre.

A proteção ativa se caracteriza por ser acionada manual ou automaticamente

em resposta aos estímulos provocados pelo fogo. Ela é composta basicamente pelas

instalações prediais de proteção contra incêndio, segundo NBR 14432 (2001, p. 3).

Os exemplos mais comuns são os extintores, a rede de hidrantes e mangotinhos,

sistemas automáticos de detecção de calor e fumaça, sistema de chuveiros

automáticos, sistemas de exaustão de fumaça, iluminação de emergência e o próprio

corpo de bombeiros (SILVA, 2012).

A proteção passiva, por sua vez, é composta por medidas incorporadas à

edificação, sendo úteis durante o funcionamento da mesma e reagindo de forma

23

passiva ao desenvolvimento do incêndio, atuando contra seu crescimento e

propagação, de acordo com a NBR 14432 (2001, p. 3). Ela garante a resistência ao

fogo, facilita a fuga dos usuários e também a aproximação da brigada de combate ao

incêndio em segurança. É composta por compartimentação horizontal e vertical, rotas

de fuga e a resistência ao fogo das estruturas, entre outros. (SILVA, 2012).

2.2.1 Compartimentação

Embora seja considerado uma ação variável excepcional, de acordo com a

NBR 6118 (2014), o risco do incêndio acontecer é real. Quando ele ocorrer, deve-se

impedir que o fogo saia do local onde se iniciou. Para que isso seja possível, deve ser

previsto, ainda no projeto arquitetônico, as compartimentações horizontais e verticais.

A compartimentação vertical é composta de lajes, com espessura mínimas para

respeitar o isolamento e a estanqueidade, elementos nas fachadas, como marquises

e parapeitos, além de portas corta fogo, que também funcionam como

compartimentação horizontal. (SILVA, 2012).

A compartimentação horizontal, por sua vez, é feita com portas corta fogo,

distâncias mínimas entre aberturas, firestops, e paredes corta fogo (SILVA, 2012).

Estas podem ser executadas com diversos materiais, como alvenaria de tijolo maciço

e paredes de concreto armado. Há também a possibilidade de, em obras executadas

em alvenaria estrutural, utilizar esse mesmo material para a confecção da

compartimentação horizontal.

2.2.2 Rotas de fuga

As edificações que necessitarem de um sistema de proteção contra incêndio

devem ser planejadas considerando as atividades que serão exercidas na mesma,

afim de se determinar qual seu grau de risco. Além disso, devem ser consideradas as

características físicas do imóvel, desde a altura da edificação, com o número de

pavimentos, até o valor total de área construída. O número de pessoas que ocupam

(ou ocuparão) a edificação também deve ser levado em conta no momento do

planejamento, já que, em caso de sinistro a evacuação deve ser feita em poucos

minutos. (Revista Equipe de Obra, 2010).

24

A NBR 13860 (1997), em seu item 2.253, define rota de fuga como sendo as

“saídas e caminhos devidamente sinalizados e protegidos, a serem percorridos pelas

pessoas para um rápido e seguro abandono do local em emergência”. Essa proteção

deve ser feita por elementos que bloqueiem, ou ao menos minimizem os efeitos do

sinistro, que pode estar ocorrendo no compartimento ao lado. Eles devem apresentar,

além de incombustibilidade, resistência ao fogo.

Segundo Silva (2014), as alvenarias de blocos de concreto executadas com ou

sem revestimento, de gesso ou argamassa à base de cimento, estão isentas da

comprovação do requisito de incombustibilidade, já que são materiais que não entram

em combustão. Essa comprovação é feita pela NBR 9442 (1988).

2.2.3 Resistência ao fogo

Conforme a NBR 9077 (2001), uma parede resistente ao fogo é aquela capaz

de resistir estruturalmente aos efeitos do fogo ao qual possa vir a ficar exposta,

durante um tempo determinado. Segundo a NBR 15575-4 (2013) esse tempo de

resistência ao fogo deve ser de, no mínimo, 30 minutos para edificações de até cinco

pavimentos. Para alturas superiores, os cálculos devem ser feitos conforme consta na

NBR 14432 (2001, p. 7) ou, por exemplo, por instruções técnicas regulamentadoras

estaduais como a IT 08 (2011, p. 198), do Corpo de Bombeiros e Polícia Militar do

Estado de São Paulo (CBPMESP).

Já a NBR 5628 (2001) trata do método de ensaio para a determinação da

resistência ao fogo de elementos construtivos estruturais, analisando o tempo que as

amostras, expostas a uma simulação de incêndio, satisfazem as exigências contidas

na mesma. São condições quanto às temperaturas máxima e média que não podem

ser ultrapassadas na face não exposta ao fogo; quanto à estanqueidade da amostra,

não podendo haver fissuras que permitam a passagem de chamas e gases quentes

da face exposta para a não exposta; e também quanto à resistência mecânica,

considerando inutilizado o componente que apresentar ruptura ou deslocamento

transversal maior que o estipulado pela norma citada. Esse tempo é denominado

Tempo de Resistência ao Fogo (TRF) de um elemento estrutural.

Semelhante à NBR 5628, a NBR 14432 (2001) define que, para que um

elemento seja considerado resistente ao fogo, ele precisa manter sua capacidade de

25

isolamento térmico, estanqueidade e garantira segurança estrutural no caso de um

sinistro.

Quanto ao isolamento térmico, o item 4.10.3 da NBR 5628 (2001), sugere que:

4.10.3 Isolamento térmico:

Considera-se o componente satisfatório como isolante térmico se não sofrer

aumento de temperatura, na face não exposta, acima da temperatura inicial,

superior em média a 140 °C e em qualquer ponto a 180 °C. (NBR 5628, p. 6)

Pressupõe-se que, caso esses limites sejam ultrapassados, os materiais

contidos nos compartimentos vizinhos correm o risco de sofrer autoignição e, além

disso, a desocupação dos ocupantes torna-se onerosa. O isolamento depende, no

entanto, de vários fatores. Segundo CASONATO (2007), um deles é a capacidade

calorífera do material que compõe o elemento construtivo. Os cerâmicos possuem

melhor desempenho se comparados aos materiais cimentícios, já que eles mantêm a

temperatura, com menor variação, por mais tempo.

As espessuras das paredes corta fogo também são relevantes no seu

desempenho como isolante, já que aumentam a inércia térmica do elemento. No caso

de serem executadas com blocos de alvenaria, o revestimento influencia

consideravelmente no seu desempenho (considerando revestimento argamassado

em ambas as faces, com espessura de 1,5 cm), acrescendo cerca de 30 minutos sua

resistência ao fogo, conforme resultados apresentados pela IT 08 (2011), no seu

anexo B. As paredes que apresentaram esses resultados, segundo observação

apresentada pela própria Instrução Técnica, foram feitas de blocos de concreto, sem

função estrutural e ensaiadas totalmente vinculadas dentro da estrutura de concreto

armado, com dimensões de 2,8x2,8 m totalmente expostas ao fogo (em uma das

faces). O quadro 3.1 é um resumo dos resultados obtidos somente para blocos

cimentíceos de dimensões 14x19x29 cm, retirados do anexo B da IT 08 (2011). Eles

possuem as mesmas dimensões dos blocos cerâmicos utilizados nesse trabalho.

26

Paredes ensaiadas

Espessura da argamassa de revestimento em cada face

(cm)

Espessura total da

parede (cm)

Duração do ensaio

(min)

Tempo de resistência

ao fogo (horas)

Parede de blocos vazados

de concreto (2 furos)

Bloco de 14 cm sem revestimento - 14 100 1 1 2�

Bloco de 14 cm com revestimento 1,5 17 150 2,0

Quadro 2.1 - Tempo de resistência ao fogo de paredes de blocos cimentíceos Fonte: IT 08 (2011), anexo B, p. 199.

A estanqueidade, segundo a NBR 14432 (2001, p. 3), é garantida quando o

elemento construtivo não apresenta trincas ou aberturas suficientes para passagem

de gases quentes, fumaça ou chamas, que podem gerar inflamação de materiais do

outro lado do compartimento sinistrado. Ela deve ser assegurada ainda na fase de

construção da parede, por meio de juntas verticais e horizontais bem executadas, para

que não existam vazios entre os blocos. A verificação à estanqueidade da edificação,

ao fogo e à fumaça, é um dos requisitos a serem atendidos também quanto a NBR

15575-4 (2013), que avalia o desempenho das edificações habitacionais.

A segurança estrutural deve ser também investigada, já que o edifício precisa

ficar estável tempo suficiente para que, no mínimo, os ocupantes sejam evacuados e

a equipe de combate ao incêndio possa fazer seu trabalho de maneira segura. De

acordo com a NBR 13860 (1997, p. 8), proteção estrutural é uma “característica

construtiva que evita ou retarda a propagação do fogo e auxilia no trabalho de

salvamento de pessoas em uma edificação”.

A segurança estrutural de um elemento construtivo está relacionada ao Estado

Limite de Utilização (ELU) e ao Estado Limite de Serviço (ELS). Nos dois casos, a

temperatura máxima do incêndio, obtida através da curva de incêndio padrão, deve

ser considerada nos cálculos. Isso anula ou, no mínimo, minimiza o risco de colapso

da edificação (LORENZI, 2013).

27

2.3 Comportamento de painéis de alvenaria estrutural após exposição a altas temperaturas.

Durante a fase de revisão bibliográfica houve a percepção de que há carência

de norma brasileira que trate especificamente do projeto de resistência ao fogo de

paredes de alvenaria estrutural. Para isso, precisa-se valer de normas internacionais,

como o Eurocode 6 - Design of masonry structures, de 1996.

Outra dificuldade encontrada quando se inicia um estudo sobre ação do fogo

sobre elementos de construção é o pouco número de publicações na área.

CASONATO (2007), propôs um estudo sobre o desempenho de paredes de

concreto, concreto armado e alvenaria frente às altas temperaturas. Segundo ele, as

legislações vigentes nos planos diretores de inúmeras cidades especifica que as

paredes corta fogo das caixas de escada precisam ser executadas com tijolo

cerâmico, de 20 centímetros de espessura ou mais. Seu objetivo foi, justamente,

analisar o desempenho de outros materiais frente à aplicação de carga de serviço,

como os elementos de concreto armado pré-fabricados. Eles vêm sendo empregados

como componente de vedação na construção civil sem análise normativa prévia

quanto ao seu desempenho frente a altas temperaturas.

Já Rosemann (2011) investigou a resistência ao fogo de paredes de alvenaria

estrutural com dimensões de 2,7x2,6 m somente em relação ao critério normativo de

isolamento térmico, sem aplicação de carga. A confecção dos corpos de prova foi feita

com blocos cerâmicos, revestidos ou não, com e sem preenchimento de areia. Seu

estudo contou com o auxílio de métodos experimentais e analítico-numéricos e obteve

resultados positivos quanto ao desempenho do painel que continha preenchimento

dos vazios dos blocos e revestimento argamassado nas paredes que exigiam

resistência ao fogo.

Morales, Campos e Faganello (2011), realizaram um estudo que trata do

comportamento dos materiais que compõem o concreto armado, isoladamente e na

vinculação deles. A ação do fogo foi analisada em amostras de argamassa e também

em concretos, os quais perdem sua resistência e elasticidade conforme há aumento

de temperatura.

Rigão (2012) também realizou ensaios com paredes de alvenaria estrutural,

porém com dimensões reduzidas, com o objetivo de avaliar seu desempenho frente a

altas temperaturas, sob carga de serviço. Em seu estudo, realizou análise da

28

degradação dos componentes das paredes isoladamente e no conjunto após

exposição a altas temperaturas. Para isso, ensaios foram realizados com corpos de

prova de argamassa com várias resistências, com os blocos e também com prismas.

Os resultados foram queda de resistência dos prismas após exposição a 900 °C e

redução significativa de resistência das amostras de argamassa após aquecidas e

expostas novamente ao ar. Nenhuma alteração foi constatada nos blocos, já que,

segundo o autor, a temperatura atingida nos ensaios está abaixo daquela atingida na

fabricação dos mesmos.

Levando em consideração os resultados obtidos nos estudos destes autores,

percebe-se que a as propriedades físicas e químicas dos elementos construtivos são

alteradas quando expostos a elevadas temperaturas. A magnitude desses efeitos

depende, no entanto, do tempo de exposição, do traço do concreto, do elemento

estrutural e do tipo de estrutura (MORALES; CAMPOS; FAGANELLO, 2011). Além

disso, a temperatura máxima atingida pelo fogo e velocidade de resfriamento são de

extrema importância para as propriedades finais dos materiais após o sinistro já que,

segundo Silva (2012), quanto maior for a temperatura atingida durante o incêndio e

mais rápido for o resfriamento, menor será a resistência residual da parede de

concreto.

Além disso, outros efeitos também são percebidos na superfície exposta ao

fogo, como a mudança de tonalidade e a calcinação:

A calcinação ocorre através da ação do fogo nas peças de concreto, sendo

possível observá-la pela alteração da cor da peça, verificando assim a sua

perda de resistência e a temperatura em que o fogo atingiu o concreto.

Geralmente o concreto desagrega a partir dos 600° C, pois ocorre a expansão

dos agregados, causando assim tensões internas que fraturam o concreto.

(BRIK; MOREIRA; KRÜGER, 2013)

Conforme Rigão (2012), o processo de calcinação nas argamassas estruturais

ocorre por um processo químico, já que elas possuem alta concentração de hidróxido

de cálcio que, ao sofrer aquecimento, origina óxido de cálcio. Em contato com a

umidade do ar, esse componente volta a formar hidróxido de cálcio Essa reação é

expansiva, gerando, além de esfarelamento da superfície, queda da resistência

mecânica do material.

29

3 MATERIAIS E METODOLOGIA

Com a finalidade de atingir os objetivos propostos, este capítulo é destinado à

descrição dos materiais empregados, em relação às suas características e finalidades,

à apresentação das variáveis de estudo, bem como à descrição da metodologia

adotada para a realização dos ensaios.

3.1 Apresentação do programa experimental:

30

¹

3.2 Materiais empregados no estudo e ensaios realizados

3.2.1 Blocos cerâmicos

No mercado da construção civil existem várias tipologias de blocos, podendo

ser de concreto ou cerâmica, com várias classes de resistência, estruturais ou de

vedação. Para o presente estudo, o bloco empregado foi estrutural cerâmico, com

resistência à compressão de 15 MPa. Eles foram fornecidos pela empresa Pauluzzi

Produtos Cerâmicos Ltda., situada em Gravataí, RS.

Os blocos empregados para a confecção dos corpos de prova foram o bloco

inteiro e meio bloco, com dimensões nominais de, 14x19x29 cm e 14x19x14 cm,

respectivamente. A tabela 3.1 apresenta os valores de resistência obtidos nos ensaios

de compressão de 13 amostras, realizados segundo NBR 15270-3 (2005).

Tabela 3.1 - Resistência à compressão dos blocos cerâmicos.

Exemplar Tipologia do Bloco

Área Bruta Média (mm²)

Carga de ruptura (N)

Resistência à compressão (Mpa)

Individual Média (fbm)

fbk, estimada adotada²

3156

41031 620000 15,1

19,6 15,6

3157 40749 755000 18,5 3158 40171 610000 15,2 3159 40460 890000 22,0 3160 40749 780000 19,1 3161 40890 825000 20,2 3162 40740 845000 20,7 3163 40310 860000 21,3 3164 40749 770000 18,9 3165 40740 825000 20,3 3166 40890 955000 23,4 3167 40449 770000 19,0 3168 40749 840000 20,6

Desvio-padrão (MPa): 2,4

Coeficiente de variação (%): 12,1

Área bruta/Área líquida = 0,53

Data de ensaios: 21/09/2014 ¹ FONTE: Site da empresa Pauluzzi. ² Determinada de acordo com o processo estatístico definido no item 5.5 da NBR 15270-2 (2005)

31

Além da análise dos blocos isolados, prismas também foram ensaiados. Doze

corpos de prova foram moldados, sendo seis deles sem preenchimento e o restante

preenchidos com graute estrutural de resistência 25 MPa. Os resultados dos ensaios,

aos 28 dias, constam nas tabelas 3.2 e 3.3. Nota-se que a resistência característica à

compressão dos prismas sem preenchimento (fpk) apresentou uma redução de 36,6%

em relação àquela obtida nos ensaios dos blocos (fbk).

Tabela 3.2 - Resistência à compressão dos prismas sem preenchimento aos 28 dias.

Unidade Largura (mm)

Comprimento (mm)

Área (mm²)

Carga (N)

Tensão (MPa)

Tensão média (MPa) fpk (MPa)

1 140 290 40600 425000 10,47

10,99 9,89

2 141 291 41031 490000 11,94 3 139 291 40449 410000 10,14 4 140 292 40880 460000 11,25 5 139 290 40310 480000 11,91 6 140 290 40600 415000 10,22

Desvio-padrão (MPa): 0,82

Coeficiente de variação (%): 7,51

Data de ensaios: 25/11/2014

Tabela 3.3 - Resistência à compressão dos prismas preenchidos com graute aos 28 dias.

Unidade Largura (mm)

Comprimento (mm)

Área (mm²)

Carga (N)

Tensão (MPa)

Tensão média (MPa)

fpk (MPa)

1 139 289 40171 790000 19,67

20,00 18,60

2 140 290 40600 760000 18,72 3 141 290 40890 840000 20,54 4 141 292 41172 865000 21,01 5 141 291 41031 800000 19,50 6 139 291 40449 820000 20,27

Desvio-padrão (MPa): 0,8

Coeficiente de variação (%): 4,1

Data de ensaios: 25/11/2014

32

Como já era esperado, os prismas preenchidos com graute apresentaram

resistência característica à compressão superior à dos blocos cerâmicos, cerca de

16%. Já em relação aos prismas sem preenchimento, esse ganho de resistência foi

de 46,83%. Isso ratifica o fato de o preenchimento de graute, em projetos estruturais

de alvenaria, ser utilizado para aumentar a resistência à compressão de determinadas

paredes, quando muito solicitadas.

(a) (b)

Figura 3.1 – Prisma: antes (a) e durante (b) o ensaio de resistência à compressão.

3.2.2 Graute estrutural

Nesse estudo, o graute estrutural foi empregado como preenchimento de dois

dos seis painéis para a verificação de seus desempenhos em relação ao TRAT

(Tempo de Resistencia à Altas Temperaturas). O graute utilizado é industrializado da

marca FIDA (Irmãos Cioccari & Cia. Ltda.), com fábrica em Caçapava do Sul, RS. A

resistência nominal fornecida pelo fabricante é de 25 MPa. E o rendimento, por

unidade de 25 kg é de 12,5 litros.

Seis corpos de prova cilíndricos foram moldados, com 10 cm de diâmetro e 20

cm de altura (Figura 3.2). Três deles foram ensaiados aos 7 e outros três aos 28 dias,

de acordo com as NBR 5738 (2003), NBR 5739 (2007), NBR 12655 (2006). Os

33

resultados desses ensaios encontram-se nas tabelas 3.4 e 3.5. O graute utilizado

atingiu a resistência preestabelecida pelo fabricante aos 28 dias, apresentando

resistência significativa já aos 7 dias.

Figura 3.2 – Corpo de prova do graute antes do ensaio de resistência à compressão

Tabela 3.4 - Resistência à compressão do graute aos 7 dias.

Exemplar Slump (mm)

Área Média (mm²)

Carga de Ruptura (N)

Resistência à compressão (MPa) Individual Média

2067 270

7.854 176.000 22,4 23,3 2068 7.854 176.000 22,4

2069 7.854 196.000 25,0 Desvio padrão obtido no ensaio (MPa): 1,5

Coeficiente de variação da amostra (%): 6,6

Teor de umidade (%): 15,0

Data de realização dos ensaios: 04/09/2014

34

Tabela 3.5 - Resistência à compressão do graute aos 28 dias.

Exemplar Slump (mm)

Área Média (mm²)

Carga de Ruptura (N)

Resistência à compressão (MPa) Individual Média

2070 270

7.854 194.000 24,7 25,1 2071 7.854 204.000 26,0

2072 7.854 194.000 24,7 Desvio padrão obtido no ensaio (MPa): 0,7

Coeficiente de variação da amostra (%): 2,9

Teor de umidade (%): 15,0

Data de realização dos ensaios: 25/09/2014

3.2.3 Argamassa de assentamento

A argamassa empregada nesse estudo é industrializada, também da marca

FIDA. A resistência nominal fornecida pelo fabricante é de 10 MPa. Seis corpos de

prova de dimensões 40x40x160 mm foram moldados (Figura 3.3). Três deles foram

ensaiados aos 7 e outros três aos 28 dias, de acordo com a NBR 13279 (2005), à

tração e à compressão. Os resultados desses ensaios encontram-se nas tabelas 3.6

e 3.7.

Figura 3.3 - Corpos de prova da argamassa empregada, antes do ensaio.

35

Tabela 3.6- Resistência à compressão da argamassa aos 7 dias.

Exemplar Carga de ruptura à Compressão (N)

Resistência à Compressão (MPa) Individual Média

4750 13700 8,56

9,3

15100 9,44

4751 14600 9,13 15100 9,44

4752 14900 9,31 15600 9,75

Desvio-padrão (MPa): 0,4 Data de ensaios: 17/09/2014

Desvio absoluto máximo (MPa): 0,7 Teor de umidade na mistura: 17,6%

Coeficiente de variação (%): 4,3 Índice de consistência: 262mm

Tabela 3.7 - Resistência à compressão da argamassa aos 28 dias.

Exemplar Carga de ruptura à Compressão (N)

Resistência à Compressão (MPa) Individual Média

4753 19800 12,38

12,1

19100 11,94

4754 18400 11,50 19100 11,94

4755 20000 12,50 20200 12,63

Desvio-padrão (MPa): 0,4 Data de ensaios: 10/10/2014

Desvio absoluto máximo (MPa): 0,6 Teor de umidade na mistura:

17,6% Coeficiente de variação (%): 3,5 Índice de consistência: 262mm

Percebe-se, a partir dos resultados, que a argamassa utilizada já apresenta um

bom desempenho mesmo no sétimo dia. Seu ganho de resistência inicial é elevado e

a resistência final satisfatória, atingindo o patamar de 12,1 MPa, superior à fornecida

pelo fabricante.

3.2.4 Argamassa de revestimento

Pelo fato de aumentar seu tempo de resistência ao fogo e também devido à

análise ser feita com câmera termográfica com sensor infravermelho, a qual necessita

que a superfície possua a mesma emissividade térmica para fornecer resultados

36

confiáveis, foram feitos revestimentos em todos os painéis ensaiados, com espessura

de 2,0 cm na face exposta e 1,5 cm na face não exposta. As espessuras dos

revestimentos foram escolhidas de tal modo, pois simulam o interior de uma escada

enclausurada, sendo os 2 cm a parte externa da mesma.

Para que a aderência do revestimento com o bloco cerâmico fosse assegurada,

houve execução de chapiscamento antes do revestimento. A argamassa de

revestimento utilizada também é industrializada, do tipo reboco grosso, da mesma

fornecedora da argamassa e do graute estrutural. A resistência nominal fornecida pelo

fabricante é de 3 MPa. Seis corpos de prova de dimensões 40x40x160 mm também

foram moldados. Três deles foram ensaiados aos 7 e outros três aos 28 dias, de

acordo com a NBR 13279 (2005). Os resultados desses ensaios encontram-se nas

tabelas 3.8 e 3.9.

Tabela 3.8 - Resistência à tração e à compressão da argamassa de revestimento aos 7 dias

Exemplar

Carga de ruptura à Flexão

(N)

Resistência à Tração na Flexão

(MPa)

Carga de ruptura à

Compressão (N)

Resistência à Compressão

(MPa)

Resistências médias calculadas (Mpa)

Tração na Flexão Compressão

4696 630 1,48 4000 2,50

1,4 2,4

3700 2,31

4697 561 1,32 3500 2,19 3800 2,38

4698 616 1,44 4200 2,63 4200 2,63

Desvio-padrão (MPa): 0,1 Desvio-padrão (MPa): 0,2 Data de ensaios: 18/08/2014

Desvio absoluto máximo (MPa): 0,1 Desvio absoluto máximo (MPa): 0,2

Teor de umidade na mistura: 17,6%

Coeficiente de variação (%): 8,0 Coeficiente de variação (%): 7,8 Índice de consistência: 260mm

37

Tabela 3.9 - Resistência à tração e à compressão da argamassa de revestimento aos 28 dias.

Exemplar

Carga de ruptura à Flexão

(N)

Resistência à Tração na Flexão

(MPa)

Carga de ruptura à

Compressão (N)

Resistência à Compressão

(MPa)

Resistências médias calculadas (Mpa)

Tração na Flexão

Compressão

4699 712 1,67 4.300 2,69

1,6 2,7

4.200 2,63

4700 671 1,57 3.900 2,44 4.300 2,69

4701 726 1,7 4.400 2,75 4.700 2,94

Desvio-padrão (MPa): 0,1 Desvio-padrão (MPa): 0,2 Data de ensaios: 10/09/2014

Desvio absoluto máximo (MPa): 0,1 Desvio absoluto máximo (MPa): 0,3 Teor de umidade na mistura:

17,6%

Coeficiente de variação (%): 4,1 Coeficiente de variação (%): 6,1 Índice de consistência: 260mm

De acordo com os resultados obtidos para a argamassa de revestimento,

observa-se que ela não atingiu o patamar de resistência apresentado pelo fabricante,

chegando aos 2,7 MPa, pouco inferior aos 3,0 MPa. Mesmo assim implicou resultados

positivos no desempenho dos painéis ensaiados.

3.2.5 Areia

A areia empregada é classificada com média a fina e foi cedida pelo setor de

concreto do LMCC (Laboratório de Materiais de Construção Civil) da UFSM. A

granulometria do material está descrito na tabela 3.10.

Tabela 3.10 - Granulometria da areia.

Abertura da peneira (mm) 9,5 6,3 4,8 2,4 1,2 0,6 0,3 0,15 0,075 <0,075

% retida média 0,0 0,5 0,6 1,9 3,9 17,8 50,2 20,3 4,4 0,5 % retida acumulada 0,0 0,5 1,1 3,0 7,0 24,7 74,9 95,2 99,5 100,0 Módulo de finura 2,06 Massa específica (g/cm³) 1,2

38

3.2.6 Painéis estudados

Devido ao fato de o LMCC não possuir forno suficientemente grande para a

execução dos ensaios com exemplares das dimensões sugeridas por norma, o

dimensionamento dos painéis foi feito de acordo com a abertura da boca do forno, que

é de 50x50 cm. Além disso, as dimensões dos blocos foram determinantes para o

tamanho final de cada painel. Levando em consideração que cada fiada fosse feita

com dois blocos inteiros de 14x19x29 cm, um meio bloco de 14x19x14 cm, uma junta

de 1 cm entre cada bloco e revestimentos de 1,5 e 2,0 cm, a dimensão final dos painéis

foi de 74x79x17,5 cm. A figura 3.4 mostra um dos painéis sem revestimento, podendo-

se visualizar a distribuição dos blocos em cada fiada.

Figura 3.4 – Painel de alvenaria estrutural sem preenchimento, antes da aplicação

do revestimento.

Após a execução do revestimento, os painéis receberam capeamento nas faces

inferior e superior. Isso porque há necessidade de uniformizar a aplicação da carga

pelo macaco hidráulico. Esse capeamento foi executado com cimento CPV – ARI, que

possui alto ganho de resistência inicial.

39

3.2.7 Equipamentos utilizados para a montagem do ensaio

Os corpos de provas foram aquecidos com a utilização de um forno elétrico

trifásico, com potência de 18 kW/h. Ele é munido de controle automático de

temperatura digital micro processado e precisão de 1 °C, com programação de

aquecimento e resfriamento. A temperatura máxima atingida por ele é de 1050 °C,

devido às resistências em aço Kanthal A e ao isolamento térmico em fibra cerâmica.

A taxa média de incremento de temperatura é de 20 °C/min. Para o presente trabalho,

o forno foi programado de tal maneira que atingisse o patamar de 900 °C, temperatura

que seria mantida durante os 240 minutos de ensaio. Uma adaptação do forno foi

necessária para encaixar os painéis na sua abertura frontal: um pórtico metálico, que

já existia no LMCC. A figura 3.5 mostra uma vista geral do forno, com o pórtico utilizado

para o acoplamentos dos painéis.

Figura 3.5 – Forno e pórtico utilizados no ensaio.

40

Como o objetivo do estudo foi analisar o desempenho de paredes estruturais,

houve a necessidade de aplicação de carga nos corpos de prova. Para isso, foi

acoplado um macaco hidráulico na parte superior do pórtico, preso por um trilho

metálico. Uma barra metálica sob o trilho distribuiu de maneira uniforme o

carregamento no topo do painel. O macaco hidráulico possui capacidade de carga de

até 50 tf (Figura 3.6), mobilizado com o auxílio de uma bomba manual. O

carregamento aplicado nos painéis foi de 10 tf.

(a) (b) Figura 3.6 – (a) Macaco hidráulico utilizado para aplicação de carga nos painéis e

(b) Detalhe do mostrador analógico durante o ensaio.

A carga a ser aplicada foi obtida tendo por base as orientações da NBR 6120

(1980) e de acordo com um projeto fictício, considerando o peso próprio de uma laje

de 12 cm, revestimento inferior de 1,5 cm e superior de 4 cm (regularização +

cerâmica) e sobrecarga de 0,2 tf/m². Foi adotada uma parede interna, com vãos de

lajes apoiadas sobre ela de 4 m, conforme figura 3.7. Para essa simulação foi

considerado um edifício de 6 andares. A parede ensaiada foi a do térreo, já que é a

mais carregada da prumada. Os painéis confeccionados possuem 74 cm de

comprimento. A carga a ser aplicada pelo macaco hidráulico foi calculada da seguinte

forma:

a) Peso próprio: 2,5 tf m³⁄ x0,12m = 0,3 tf m²⁄

b) Revestimento superior: 2,1 tf m³⁄ x0,04m = 0, 084 tf m²⁄

41

c) Revestimento inferior: 1,9 tf m³⁄ x0,015m = 0,0285 tf m²⁄

d) Sobrecarga: 0,2 tf m²⁄

e) Carga total/m²: 0,6125 tf m²⁄

f) Sobre a parede atuam 2,0 m de vão de cada laje:

0,6125 tf m²⁄ x2x2m = 2,45 tf m⁄

g) Como são 5 andares descarregando na parede e o painel ensaiado possui

0,74 m, pode-se calcular a carga pontual a ser aplicada no painel pelo

macaco hidráulico: 2,45 tf m. andar⁄ x0,74mx5andares = 9,0tf

Figura 3.7 – Parede adotada para cálculos.

A fim de facilitar o controle do carregamento aplicado no corpo de prova, foi

adotado 10 tf como carga de ensaio para os 6 painéis. A figura 3.8 mostra os aparelhos

montados, prontos para o início do ensaio.

42

Figura 3.8 – Estrutura montada para os ensaios a altas temperaturas.

3.2.8 Equipamento utilizado para leitura das temperaturas no painel

A medição da temperatura na face não exposta do painel foi feita com uma

câmera termográfica com sensor infravermelho (Figura 3.9), da marca Flir, modelo

T440. Ela possui sensibilidade térmica de 0,045°C à 30°C, capaz de medir

temperaturas de -20°C à +1200°C, além de visualizar pontos quentes em distâncias

de 14 mm à 10 m. Sua resolução é de 76.000 pixels, sendo cada pixel um ponto de

medição de temperatura. Os parâmetros utilizados para a configuração da câmera

termográfica são:

a) Emissividade: 0,86;

b) Temperatura refletida: 20°C;

c) Temperatura ambiente: 20°C;

d) Umidade relativa do ar: 70%;

e) Distância do objeto: 3,0 m;

f) Velocidade do ar: 0 m/s.

43

Figura 3.9 - Câmera termográfica com sensor infravermelho. Fonte: Site da empresa Flir.

3.3 Metodologia adotada

O processo adotado para a realização dos ensaios foi a exposição do painel a

um aquecimento total de 900 ºC em uma de suas faces, com o uso do forno com

aquecimento programável. Esse procedimento de ensaio já vem sendo adotado pelo

LMCC para estudos anteriores. A amostra foi mantida sob carga axial de 10 tf

equivalente ao carregamento de serviço e a elevação da temperatura na face não

exposta foi monitorada.

A realização de cada ensaio seguiu a metodologia descrita a seguir:

a) Capeamento das faces inferior e superior do painel, para futura aplicação

do carregamento de serviço, com o auxílio do macaco hidráulico;

b) Acoplamento do painel ao forno, posicionando-o sobre o pórtico. A face

revestida com 2 cm de reboco foi posicionada voltada à boca do forno;

c) Instalação do sistema de aplicação de carga: trilho, chapas metálicas,

bomba manual e macaco hidráulico;

d) Programação e posicionamento do forno para aquecimento da face

interna do corpo de prova, sendo adotada uma curva de incremento

médio da temperatura de 20ºC/min, até atingir a temperatura de

referência de 900 ºC;

e) Manutenção da temperatura a 900 ºC até que uma das condições limites

fosse atingida;

44

f) Programação da câmera termográfica e monitoramento do incremento de

temperatura na face não exposta do painel em intervalos contínuos de 30

minutos, contados a partir do instante que o forno atingisse 900 °C;

g) Observação do aparecimento de fissuras longitudinais e/ou transversais;

h) Interrupção do ensaio após 240 minutos caso nenhumas das condições

limite fosse alcançada;

i) Descarregamento e resfriamento do painel natural por 24 horas;

j) Reaplicação do carregamento após 24 horas do final do ensaio para a

verificação da resistência mecânica e deformações após a exposição às

altas temperaturas;

k) A análise das fotografias da câmera termográfica com o auxílio do

software FLIR Tools, da mesma fabricante.

45

4 RESULTADOS E ANÁLISES

Embora os ensaios não tenham seguido os métodos prescritos pela NBR 5628

(2001), o que possibilitaria a determinação do Tempo de Resistência ao Fogo (TRF)

dos painéis, a análise foi feita de modo a avaliar o Tempo de Resistência à Altas

Temperaturas (TRAT) de cada amostra, procedimento que vem sendo adotado no

Laboratório de Materiais e de Construção Civil (LMCC) da UFSM, na realização de

ensaios de paredes em altas temperaturas. Tanto as amostras já ensaiadas

anteriormente pelo LMCC, quanto as deste trabalho não são, portanto, classificadas

de acordo com as condições normativas. Esses quesitos são tomados como base

para determinação de um TRAT de cada amostra. Desta forma, pode-se fazer uma

recomendação de qual utilização é mais indicada para a configuração de parede

ensaiada.

4.1 Critério de isolamento térmico

Durante a análise dos resultados quanto ao isolamento térmico são

apresentadas as curvas de aquecimento de cada amostra ensaiada, as quais

apresentam as temperaturas máximas e médias alcançadas em cada uma delas.

É importante salientar que as imagens termográficas foram captadas em

intervalos contínuos de 30 minutos, após o forno alcançar a temperatura de 900°C,

até se atingir uma das condições limite ou interrupção do ensaio após 4 horas de

exposição. Além disso, as análises de temperatura, em relação à condição de

isolamento térmico foram realizadas, levando em consideração, apenas a região

correspondente ao contato entre painel e boca do forno, totalizando uma área efetiva

de 50 centímetros de largura e 50 centímetros de altura.

O estudo inicial foi feito com os painéis sem preenchimento para posterior

comparação com painéis preenchidos com areia e graute. Na figura 4.1 estão

apresentados os valores de temperaturas obtidas em função do tempo para a primeira

amostra sem preenchimento, intitulada “V1”.

46

Figura 4.1 - Curva de aquecimento do painel "V1".

De acordo com a figura 4.1 e a tabela A.1 (Anexo A), percebe-se que, ao final

dos 240 minutos de ensaio, as temperaturas máxima e média atingidas na superfície

não exposta do corpo de prova foram de 168,1 °C e 146,7 °C, respectivamente. A

variação de temperatura máxima nessa face foi de 117,9 °C. Embora elevados, os

valores de temperatura obtidos para essa amostra ainda estão abaixo dos limites

prescritos pela NBR 5628 (2001). Sendo a temperatura ambiente (Tamb) igual a 20,6

°C, coletada no dia da execução do ensaio (Tabela A.1):

a) Tmáx = 20,6 + 180 = 200,6 °C;

b) Tméd = 20,6 + 140 = 160,6 °C.

A figura 4.2 mostra a imagem obtida, em conjunto com a câmera termográfica

e o software Flir Tools, para o tempo de 240 minutos.

0

20

40

60

80

100

120

140

160

180

0 30 60 90 120 150 180 210 240

Tem

pera

tura

(°C

)

Tempo (minutos)

Painel "V1"

Tmáx

Tméd

47

Figura 4.2 - Análise térmica do painel “V1” para o tempo de 240 minutos de ensaio.

O segundo painel, denominado “V2”, precisou ser descartado devido a

problemas técnicos ocorridos durante a realização do ensaio. O tempo escasso não

permitiu que outro corpo de prova fosse moldado. Desse modo, a comparação dos

resultados das demais amostras, com preenchimento, será feita somente com os

resultados obtidos com o painel “V1”.

A partir do primeiro painel avaliado iniciou-se a comparação de desempenho

com as amostras que foram preenchidas - com graute ou areia. Além disso, foi feita a

confrontação dos preenchimentos entre si, a fim de verificar qual deles apresentou o

melhor desempenho, ou se ambos se comportaram de maneira semelhante.

O terceiro e quarto painéis estudados foram chamado de “G1” e “G2” e seus

preenchimentos são o graute estrutural. A figura 4.3 mostra a curva de aquecimento

desenvolvida por eles durante as 4 horas de ensaio.

Por meio de análise da figura 4.3 e tabelas A.2 (Anexo A), pode- se ver que as

temperaturas máximas e médias alcançadas nos dois painéis foram, respectivamente:

106 e 98,9 °C no painel “G1”; e 100 e 94,7 °C no segundo painel grauteado (“G2”). Há

uma redução de temperatura máxima ao final do ensaio, em média, de 65,1 °C, em

relação àquela encontrada no painel “V1” na face não exposta. A figura 4.4 apresenta

as temperaturas máximas e médias obtidas ao final das 4 horas de ensaio dos painéis

“G1” e “G2”, respectivamente.

48

Figura 4.3 - Curva de aquecimento dos painéis "G1" e “G2”.

(a)

0

20

40

60

80

100

120

140

160

180

0 30 60 90 120 150 180 210 240

Tem

pera

tura

(°C

)

Tempo (minutos)

Painéis "G1" e "G2"

Tmáx "G1"

Tméd "G1"

Tmáx "G2"

Tméd "G2"

49

(b)

Figura 4.4 - Análise térmica dos painéis “G1” (a) e “G2” (b) para o tempo de 240 minutos de ensaio.

Os dois últimos painéis analisados são os que apresentam como

preenchimento a areia. Eles foram moldados para que se fizesse a comparação de

desempenho entre os dois preenchimentos.

Figura 4.5 - Curva de aquecimento dos painéis "A1" e “A2”.

0

20

40

60

80

100

120

140

160

180

0 30 60 90 120 150 180 210 240

Tem

pera

tura

(°C

)

Tempo (minutos)

Painéis "A1" e "A2"

Tmáx "A1"

Tméd "A1"

Tmáx "A2"

Tméd "A2"

50

A partir da figura 4.5 e tabelas A.3 (Anexo A), percebe-se que o comportamento

das temperaturas máximas e médias registradas na face não exposta são muito

semelhantes ao do graute. As temperaturas máximas e médias alcançadas nos dois

painéis foram, respectivamente: 106,2 e 93,1°C no painel “A1”; e 96,6 e 89,1 °C no

painel “A2”. Para esse preenchimento, a variação de temperatura em relação ao painel

vazio chegou à 66,7 °C, considerando a média da temperatura máxima. A figura 4.6

apresenta as temperaturas máximas e médias obtidas ao final do ensaio dos painéis

“A1” e “A2”, respectivamente.

(a)

(b)

Figura 4.6 - Análise térmica dos painéis “A1” (a) e “A2” (b) para o tempo de 240

minutos de ensaio.

51

Para uma melhor análise do comportamento dos corpos de prova preenchidos

em relação ao painel sem preenchimento, foram feitas as médias das temperaturas

atingidas por eles (máximas e médias). Essa comparação consta na figura 4.7 e os

valores das médias das temperaturas encontram-se na tabela A.4 (Anexo A)

Figura 4.7 - Médias das temperaturas atingidas pelos painéis.

Por meio de análise comparativa, fica claro que as três composições de painéis

– sem preenchimento e preenchidos com graute e com areia – apresentam pouca

variação na temperatura na face não exposta ao sinistro, até o tempo de 90 minutos.

A partir daí, observa-se um comportamento diferenciado para as curvas que

representam o painel sem preenchimento. Enquanto que os painéis preenchidos com

areia e graute atingem temperaturas na faixa entre 90 e 100 °C em 240 minutos, o

0

20

40

60

80

100

120

140

160

180

0 30 60 90 120 150 180 210 240

Tem

pera

tura

(°C

)

Tempo (minutos)

Comparação entre as temperaturas máximas e médias

Graute: média da Tmáx

Areia: média da Tmáx

Graute: média da Tméd

Areia: média da Tméd

Vazio: Tmáx

Vazio: Tméd

52

painel V1 chega a atingir a temperatura máxima acima de 160°C, para o mesmo

patamar de temperatura. Outro fato evidenciado na figura 4.7 é que os painéis

preenchidos com areia foram os que atingiram os menores patamares de temperatura

ao longo do tempo de ensaio. Uma pesquisa de preços feita em algumas lojas de

materiais de construção da região de Santa Maria, com os materiais utilizados nos

ensaios (metro cúbico da areia e valor unitário dos sacos de 25 kg de graute

estrutural), mostrou que o custo por metro cúbico do graute é cerca de 35 vezes maior

do que o da areia.

4.2 Critério de estanqueidade

De maneira geral, os painéis não apresentaram fissuração suficiente durante a

realização dos ensaios a altas temperaturas que permitisse a passagem, da face

exposta para a não exposta, de gases aquecidos capazes de inflamar um chumaço

de algodão. Mesmo o painel “G1”, que apresentou uma fissura mostrada na figura 4.8,

obedeceu o critério de estanqueidade.

Figura 4.8 - Fissura no painel "G1"

FISSURA

53

4.3 Critério de segurança estrutural

Após 24 horas da realização do ensaio a carga de 10 tf foi reaplicada nos

painéis, os quais não apresentaram rupturas ou deformações excessivas,

satisfazendo, portanto, os requisitos da NBR 5628 (2001).

Em todos os painéis ensaiados, no entanto, dois fenômenos ocorreram: a

mudança de tonalidade e a calcinação do revestimento argamassado na face exposta.

As figuras 4.9, 4.10 e 4.11 mostram as superfícies dos painéis após o ensaio.

Figura 4.9 - Superfície exposta do painel “V1”.

Figura 4.10 - Superfície exposta do painel “G1”.

54

Figura 4.11 - Superfície exposta do painel “A1".

55

5 CONCLUSÕES E SUGESTÕES

5.1 Conclusões

Este trabalho teve como objetivo principal estudar o desempenho de painéis

executados em alvenaria de blocos cerâmicos, sob carga de serviço, quando

submetidos à altas temperaturas. Houve interesse em estimar qual o Tempo de

Resistencia à Altas Temperaturas (TRAT) de cada painel, tomando como base os

critérios estipulados na norma brasileira NBR 5628 (2001). Além disso, foi feita uma

análise comparativa de desempenho dos dois preenchimentos - graute e areia.

Em relação ao critério de isolamento térmico, percebeu-se que todos os painéis

(sem e com preenchimento) atenderam quanto a este requisito. No entanto, quando

houve a comparação entre o painel vazio e os preenchidos, fica nítido que os

preenchimentos provocaram significativa melhora de seus desempenhos quanto ao

isolamento térmico. Ao contrário do que pode ser observado no painel sem

preenchimento, tanto a areia quanto o graute acarretaram uma manutenção da

temperatura próxima aos 100 °C a partir dos 90 minutos de ensaio. O acréscimo de

temperatura na superfície não exposta praticamente cessou a partir deste instante.

Portanto, em caso de sinistro, a fuga dos ocupantes, bem como o trabalho da equipe

de socorro será feita mais facilmente.

Além disso, observou-se que os painéis preenchidos com areia obtiveram os

melhores resultados quanto ao requisito de isolamento térmico. Isso pode trazer

também benefícios econômicos, visto que o custo por metro cúbico da areia é da

ordem de 35 vezes menor do que a do graute.

Já quanto à estanqueidade e resistência mecânica, os painéis apresentaram

bom desempenho durante as 4 horas de ensaio, sem sofrer fissuração excessiva da

face não exposta e permaneceram estáveis após a realização dos ensaios. No

entanto, é necessário um maior número de ensaios, já que as dimensões dos painéis

podem ter influência nesse desempenho.

O que pode ser percebido em todas as amostras ensaiadas foi a mudança de

tonalidade da superfície exposta, bem como sua calcinação (sendo mais rigorosa nos

56

painéis com preenchimento). Isso evidencia que as altas temperaturas provocam

modificações, físicas e químicas, na argamassa de revestimento.

5.2 Sugestões

As conclusões deste trabalho, embora tenham sido válidas para a comparação

entre os painéis ensaiados, não geraram resultados conclusivos quanto ao Tempo de

Resistencia ao Fogo estabelecido pela NBR 5628 (2001).

Por isso, para trabalhos futuros, seria de grande valia se fosse possível

encontrar fatores de correlação entre os resultados obtidos com painéis em tamanho

normalizado com os de tamanhos reduzidos, bem como com relação às curvas

padronizada e do forno utilizado.

57

6 REFERÊNCIAS

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60

SILVA, V. P. Projeto de estruturas de concreto em situação de incêndio: conforme NBR 15200:2012. São Paulo: Blucher, 2012. 237 p. SILVESTRE, M. Alvenaria Estrutural em Pauta – Entrevista. In: ABPC. Associação Brasileira de Cimento Portland. São Paulo, 14 out. 2013. Disponível em <http://www.abcp.org.br/conteudo/imprensa/noticias/alvenaria-estrutural-em-pauta#.VH-LDDHF9ps>. Acesso em 03 dez. 2014. SITE DA EMPRESA FLIR. Disponível em: <http://www.flir.com/thermography/americas/br/responsive/?id=62960>. Acesso em 30 nov. 2014 SITE DA EMPRESA PAULUZZI. Disponível em: <http://www.pauluzzi.com.br/produtos.php?id=15MPa14>. Acesso em 01 nov. 14 TAUIL, C. A. Alvenaria Estrutural – Entrevista. In: IMEC. O portal do Engenheiro. Minas Gerais, 21 set. 2013. Disponível em <http://www.imecmg.org.br/30/index.php/imec/2013-09-21-17-21-54/noticias/90-construir/156-alvenaria-estrutural-entrevista>. Acesso em 26 out. 2014.

ANEXOS

Anexo A – Tabelas de aquecimento dos painéis ensaiados.

Tabela A.1 - Aquecimento do painel "V1".

Tempo de ensaio Tmáx Tméd 0 50,20 42,70

30 73,40 67,60 60 89,40 82,80 90 98,10 90,10 120 115,30 98,30 150 134,30 109,90 180 148,50 122,50 210 161,30 137,40 240 168,10 146,70

Tabela A.2 - Aquecimento dos painéis "G1" e "G2". Tempo de ensaio Tmáx "G1" Tméd "G1" Tmáx "G2" Tméd "G2"

0 46,50 36,00 31,80 28,90 30 70,10 55,80 51,80 43,10 60 89,60 73,40 71,60 61,00 90 100,80 85,50 92,80 75,80 120 103,00 90,10 96,70 85,10 150 103,40 93,70 98,20 89,90 180 102,90 95,90 99,20 92,20 210 104,80 97,60 99,80 93,60 240 106,00 98,90 100,00 94,70

Tabela A.3 - Aquecimento dos painéis "A1" e "A2". Tempo de ensaio Tmáx "A1" Tméd "A1" Tmáx "A2" Tméd "A2"

0 38,50 32,00 48,10 27,30 30 58,40 48,80 65,50 47,60 60 71,80 64,60 78,60 65,20 90 93,70 74,50 90,90 75,60 120 93,60 79,30 89,70 79,90 150 94,90 82,90 91,40 82,60 180 97,20 86,80 93,90 84,70 210 97,40 90,10 95,70 86,60 240 106,20 93,10 96,60 89,10

Tabela A.4 – Médias das temperaturas atingidas pelos painéis. Graute:

média da Tmáx

Areia média da

Tmáx

Graute: média da

Tméd

Areia: média da

Tméd

Vazio: Tmáx

Vazio: Tméd

39,15 43,3 32,45 29,65 50,2 42,7 60,95 61,95 49,45 48,2 73,4 67,6 80,6 75,2 67,2 64,9 89,4 82,8 96,8 92,3 80,65 75,05 98,1 90,1 99,85 91,65 87,6 79,6 115,3 98,3 100,8 93,15 91,8 82,75 134,3 109,9 101,05 95,55 94,05 85,75 148,5 122,5 102,3 96,55 95,6 88,35 161,3 137,4 103 101,4 96,8 91,1 168,1 146,7