Análise da Eficácia do Treinamento da Musculatura Ventilatória com Incentivador Respiratório...

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ANÁLISE DA EFICÁCIA DO TREINAMENTO DA MUSCULATURA VENTILATÓRIA COM INCENTIVADOR RESPIRATÓRIO THRESHOLD® EM PACIENTES SUBMETIDOS À VENTILAÇÃO MECÂNICA INVASIVA ROCHA, P.M.N. 2 ; BAHIA, B. L. 2 ; BARBOSA, H.N. 2 XAVIER, D. S. 1 . INTRODUÇÃO Sarmento (2010) nos afirma em seu estudo que a adequada manutenção da ventilação pulmonar é fundamental para a preservação da vida humana. Os músculos respiratórios, assim como todos os músculos esqueléticos, podem melhorar a sua função com o treinamento muscular. Disfunções na musculatura respiratória (DMR) podem ocorrer após cirurgia abdominal, com redução das pressões respiratórias máximas, induzidas por irritação, inflamação ou trauma próximo ao diafragma, alteração biomecânica local, inibição do reflexo de tosse e dor na ferida operatória. Com isso, complicações pulmonares podem ocorrer e aumentar a morbidade e a permanência hospitalar (MARTINS, 2007). Justificativa: Pacientes submetidos à Ventilação Mecânica Invasiva(VMI) podem apresentar em poucos dias alterações nos músculos ventilatórios, resultando em hipotrofia do diafragma. Justificamos este estudo pela escassez de trabalhos científicos que contemplem o fortalecimento da musculatura ventilatória em pacientes submetidos à ventilação mecânica invasiva, com isso, surge a importância da aplicabilidade do treinamento nesta musculatura. Objetivo: buscamos com esse trabalho analisar a eficácia do treinamento da musculatura ventilatória por intermédio do incentivador respiratório threshold® em pacientes submetidos à ventilação mecânica por meio de uma revisão literária. MATERIAIS E MÉTODOS Para a realização do presente trabalho realizamos um levantamento bibliográfico nas bases de dados LILACS, MEDLINE E SCIELO, utilizamos também artigos indicados por outros profissionais e livros de acervos universitários. Utilizamos os descritores: fortalecimento da musculatura ventilatória, fisioterapia na UTI e incentivador respiratório TRESHOLD ® . O Protocolo de Fortalecimento inicia-se com a mensuração da força contrátil dos músculos respiratórios através das medições das pressões máximas (PiMáx = pressão inspiratória máxima e PeMáx = pressão expiratória máxima) (tabela 1), com o aparelho manovacuômetro (figura 1). Sendo que, a PiMáx corresponde ao índice da força diafragmática, e a PeMáx mede a força da musculatura abdominal e intercostal (SILVA, 2000). Xavier (2011) nos informa que a mensuração da força dos músculos respiratórios é importante para detectar sua fraqueza e quantificar a sua gravidade. TABELA 1: Valores normais de PImáx e Pemáx FONTE: PRESTO & DAMÁZIO, 2009. FIGURA1: Mensuração de PImáx e PEmáx através da manovacuometria. FONTE: Arquivo Pessoal dos Autores. Outro critério que foi proposto para avaliar a endurance muscular inspiratória é o Índice de Resistência à Fadiga (IRF), que corresponde à PI max final / PI max inicial. A PImáx final é avaliada após 2 minutos de inspiração resistida (Threshold®– Health – Scan Products, Inc), com uma carga inspiratória em 30% do valor da PImáx inicial. IRF< 1,0 = Treinamento de Resistência e >1,0 = Treinamento de Força (NEMER, 2007). Costa 1999, nos relata que o incentivador respiratório Threshold® tem como objetivo a reexpansão pulmonar, aumento da permeabilidade das vias aéreas e fortalecimento dos músculos respiratórios (figura 2). Para a realização do protocolo de fortalecimento da musculatura respiratória podemos utilizar 40% da Pimáx realizando cinco (5) séries de dez (10) repetições, uma vez ao dia, havendo uma progressão de 10% da carga a cada uma (1) semana. No treinamento de endurance aplicaremos 20% da Pimáx por dez (10) minutos uma vez por dia, com elevação da carga em 10% por semana, conforme protocolo de treinamento funcional da musculatura respiratória. FIGURA 2: Aplicabilidade do Protocolo de Fortalecimento da Musculatura Ventilatória utilizando o Incentivador Respiratório TRESHOLD®. FONTE: Arquivo pessoal dos Autores. DISCUSSÃO O fortalecimento da musculatura respiratória visa restabelecer a função dos músculos respiratórios, melhorando sua força e endurance. Portanto, deve ser o mais precoce possível, e o ideal é que o paciente já esteja com uma melhora da força antes de se iniciar o desmame da ventilação mecânica invasiva (CUNHA, Cleize; ET AL, 2008). Britto, Brant & Parreira (2009) nos relatam que não existem evidências que apontam o treinamento resistivo ou linear como método de escolha. O resistivo tem a desvantagem de ser fluxo-dependente e o linear necessita da geração da pressão adequada antes que o fluxo ocorra. O treinamento linear, além de ser fluxo-independente, possibilita uma melhor relação de tempo inspiratório e expiratório, pois o aumento da velocidade de contração muscular inspiratória necessária para superar a carga imposta leva a uma diminuição do tempo inspiratório e, conseqüentemente, a um aumento do tempo expiratório (Tempo de relaxamento da musculatura inspiratória). CONSIDERAÇÕES FINAIS Faz-se necessário a implantação de um programa de treinamento da musculatura ventilatória no incremento de força e resistência dessa musculatura, haja vista que os pacientes internados em UTI’s apresentam deficiências significativas na mecânica ventilatória durante a VMI, retardando assim o desmame ventilatório e consequente extubação. Presto e Damásio (2009) complementam que é importante lembrar que a literatura atual ainda não possui evidencias científicas suficientes para embasar a utilização destas técnicas em 100% dos pacientes. Por outro lado, existem alguns ensaios que relatam resultados promissores, fato que deve estimular novas pesquisas a respeito da técnica. REFERÊNCIAS COSTA, D. Fisioterapia Respiratória Básica. São Paulo: Atheneu, 1999. CUNHA, Cleize S.; ET AL. Técnicas de Fortalecimento da Musculatura Respiratória Auxiliando o Desmame do Paciente em Ventilação Mecânica Invasiva. Cadernos UniFOA, Volta Redonda, n.6, 2008. Disponível em: HTTP://www.unifoa.edu.br/pesquisa/caderno/edicao/06/80.pdf. MARTINS, Camila G.G.; ET AL. Comprometimento da Força Muscular Respiratória no Pós Operatório de Cirurgia Abdominal em Pacientes Oncológicos. São Paulo, 2007. NEMER, S.R. Avaliação da Força Muscular Inspiratória (Pimáx), da atividade do Centro Respiratório (P 0.1) e da Relação da Atividade do Centro Respiratório/Força Muscular Inspiratória (P 0.1/ Pimáx) Sobre o Desmame da Ventilação Mecânica. São Paulo: Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, 2007, 36p. Dissertação (Doutor em Ciências). Disponível em: HTTP:// www.teses.usp.br/teses/disponiveis/5/5150/.../sergionnemer.pdf. PRESTO, Bruno; DAMÁZIO, Luciana. Fisioterapia na UTI. 2°ed. Elsevier. Rio de Janeiro. 2009. SARMENTO, G. J. V. Princípios e Práticas de Ventilação Mecânica. Editora: Manole, São Paulo, 2010. SILVA, Luiz; ET AL. Avaliação Funcional Pulmonar. Rio de Janeiro: Revinter, 2000. XAVIER, D. S. Fisioterapia Onco-Funcional para a graduação. 1° Ed. São Paulo: Clube dos Autores, 2011. Fisioterapeuta, Mestre em Terapia Intensiva 1 Fisioterapeuta, especializando em Fisioterapia Intensiva 2 Gênero PImáx PEmáx HOMENS (20-80 ANOS) 143 - 0,55 x Idade 268 -1,03 x Idade MULHERES (20-80 ANOS) 104 - Idade x 0,51 170 - Idade x 0,53

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ANÁLISE DA EFICÁCIA DO TREINAMENTO DA MUSCULATURA VENTILATÓRIA COM INCENTIVADOR RESPIRATÓRIO THRESHOLD® EM PACIENTES

SUBMETIDOS À VENTILAÇÃO MECÂNICA INVASIVA

ROCHA, P.M.N.2; BAHIA, B. L.2; BARBOSA, H.N.2 XAVIER, D. S.1.

INTRODUÇÃO

Sarmento (2010) nos afirma em seu estudo que a adequada manutenção da ventilação pulmonar é fundamental para a preservação da vida humana. Os músculos respiratórios, assim como todos os músculos esqueléticos, podem melhorar a sua função com o treinamento muscular. Disfunções na musculatura respiratória (DMR) podem ocorrer após cirurgia abdominal, com redução das pressões respiratórias máximas, induzidas por irritação, inflamação ou trauma próximo ao diafragma, alteração biomecânica local, inibição do reflexo de tosse e dor na ferida operatória. Com isso, complicações pulmonares podem ocorrer e aumentar a morbidade e a permanência hospitalar (MARTINS, 2007). Justificativa: Pacientes submetidos à Ventilação Mecânica Invasiva(VMI) podem apresentar em poucos dias alterações nos músculos ventilatórios, resultando em hipotrofia do diafragma. Justificamos este estudo pela escassez de trabalhos científicos que contemplem o fortalecimento da musculatura ventilatória em pacientes submetidos à ventilação mecânica invasiva, com isso, surge a importância da aplicabilidade do treinamento nesta musculatura. Objetivo: buscamos com esse trabalho analisar a eficácia do treinamento da musculatura ventilatória por intermédio do incentivador respiratório threshold® em pacientes submetidos à ventilação mecânica por meio de uma revisão literária.

MATERIAIS E MÉTODOS

Para a realização do presente trabalho realizamos um levantamento bibliográfico nas bases de dados LILACS, MEDLINE E SCIELO, utilizamos também artigos indicados por outros profissionais e livros de acervos universitários. Utilizamos os descritores: fortalecimento da musculatura ventilatória, fisioterapia na UTI e incentivador respiratório TRESHOLD ® .

O Protocolo de Fortalecimento inicia-se com a mensuração da força contrátil dos músculos respiratórios através das medições das pressões máximas (PiMáx = pressão inspiratória máxima e PeMáx = pressão expiratória máxima) (tabela 1), com o aparelho manovacuômetro (figura 1). Sendo que, a PiMáx corresponde ao índice da força diafragmática, e a PeMáx mede a força da musculatura abdominal e intercostal (SILVA, 2000). Xavier (2011) nos informa que a mensuração da força dos músculos respiratórios é importante para detectar sua fraqueza e quantificar a sua gravidade.

TABELA 1: Valores normais de PImáx e Pemáx

FONTE: PRESTO & DAMÁZIO, 2009.

FIGURA1: Mensuração de PImáx e PEmáx através da manovacuometria.

FONTE: Arquivo Pessoal dos Autores.

Outro critério que foi proposto para avaliar a endurance muscular inspiratória é o Índice de Resistência à Fadiga (IRF), que corresponde à PI max final / PI max inicial. A PImáx final é avaliada após 2 minutos de inspiração resistida (Threshold®– Health – Scan Products, Inc), com uma carga inspiratória em 30% do valor da PImáx inicial. IRF< 1,0 = Treinamento de Resistência e >1,0 = Treinamento de Força (NEMER, 2007).

Costa 1999, nos relata que o incentivador respiratório Threshold® tem como objetivo a reexpansão pulmonar, aumento da permeabilidade das vias aéreas e fortalecimento dos músculos respiratórios (figura 2).

Para a realização do protocolo de fortalecimento da musculatura respiratória podemos utilizar 40% da Pimáx realizando cinco (5) séries de dez (10) repetições, uma vez ao dia, havendo uma progressão de 10% da carga a cada uma (1) semana. No treinamento de endurance aplicaremos 20% da Pimáx por dez (10) minutos uma vez por dia, com elevação da carga em 10% por semana, conforme protocolo de treinamento funcional da musculatura respiratória.

FIGURA 2: Aplicabilidade do Protocolo de Fortalecimento da Musculatura Ventilatória utilizando o Incentivador Respiratório TRESHOLD®.

FONTE: Arquivo pessoal dos Autores.

DISCUSSÃO

O fortalecimento da musculatura respiratória visa restabelecer a função dos músculos respiratórios, melhorando sua força e endurance. Portanto, deve ser o mais precoce possível, e o ideal é que o paciente já esteja com uma melhora da força antes de se iniciar o desmame da ventilação mecânica invasiva (CUNHA, Cleize; ET AL, 2008). Britto, Brant & Parreira (2009) nos relatam que não existem evidências que apontam o treinamento resistivo ou linear como método de escolha. O resistivo tem a desvantagem de ser fluxo-dependente e o linear necessita da geração da pressão adequada antes que o fluxo ocorra. O treinamento linear, além de ser fluxo-independente, possibilita uma melhor relação de tempo inspiratório e expiratório, pois o aumento da velocidade de contração muscular inspiratória necessária para superar a carga imposta leva a uma diminuição do tempo inspiratório e, conseqüentemente, a um aumento do tempo expiratório (Tempo de relaxamento da musculatura inspiratória).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Faz-se necessário a implantação de um programa de treinamento da musculatura ventilatória no incremento de força e resistência dessa musculatura, haja vista que os pacientes internados em UTI’s apresentam deficiências significativas na mecânica ventilatória durante a VMI, retardando assim o desmame ventilatório e consequente extubação. Presto e Damásio (2009) complementam que é importante lembrar que a literatura atual ainda não possui evidencias científicas suficientes para embasar a utilização destas técnicas em 100% dos pacientes. Por outro lado, existem alguns ensaios que relatam resultados promissores, fato que deve estimular novas pesquisas a respeito da técnica.

REFERÊNCIAS

COSTA, D. Fisioterapia Respiratória Básica. São Paulo: Atheneu, 1999.

CUNHA, Cleize S.; ET AL. Técnicas de Fortalecimento da Musculatura Respiratória Auxiliando o Desmame do Paciente em Ventilação Mecânica Invasiva. Cadernos UniFOA, Volta Redonda, n.6, 2008. Disponível em: HTTP://www.unifoa.edu.br/pesquisa/caderno/edicao/06/80.pdf.

MARTINS, Camila G.G.; ET AL. Comprometimento da Força Muscular Respiratória no Pós Operatório de Cirurgia Abdominal em Pacientes Oncológicos. São Paulo, 2007.

NEMER, S.R. Avaliação da Força Muscular Inspiratória (Pimáx), da atividade do Centro Respiratório (P 0.1) e da Relação da Atividade do Centro Respiratório/Força Muscular Inspiratória (P 0.1/ Pimáx) Sobre o Desmame da Ventilação Mecânica. São Paulo: Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, 2007, 36p. Dissertação (Doutor em Ciências). Disponível em: HTTP:// www.teses.usp.br/teses/disponiveis/5/5150/.../sergionnemer.pdf.

PRESTO, Bruno; DAMÁZIO, Luciana. Fisioterapia na UTI. 2°ed. Elsevier. Rio de Janeiro. 2009.

SARMENTO, G. J. V. Princípios e Práticas de Ventilação Mecânica. Editora: Manole, São Paulo, 2010.

SILVA, Luiz; ET AL. Avaliação Funcional Pulmonar. Rio de Janeiro: Revinter, 2000.

XAVIER, D. S. Fisioterapia Onco-Funcional para a graduação. 1° Ed. São Paulo: Clube dos Autores, 2011.

Fisioterapeuta, Mestre em Terapia Intensiva 1 Fisioterapeuta,

especializando em Fisioterapia Intensiva 2

Gênero PImáx PEmáx

HOMENS (20-80 ANOS) 143 - 0,55 x Idade 268 -1,03 x Idade

MULHERES (20-80 ANOS) 104 - Idade x 0,51 170 - Idade x 0,53