ANÁLISE DA QUALIDADE DO GASTO NA EDUCAÇÃO SUPERIOR … · A evasão no ensino superior é um...
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ANÁLISE DA QUALIDADE DO GASTO NA EDUCAÇÃO SUPERIOR
LEVANDO EM CONSIDERAÇÃO A EVASÃO: CASOS DE ALGUNS CURSOS
DA UFRN COM INGRESSO EM 2009
Mayany Cleyses Morais de Souza
Resumo
O presente artigo teve como objetivo analisar a qualidade do gasto público na
educação, que é desperdiçado com a evasão escolar. A evasão é um problema
constante na educação do Brasil, atingindo em grandes escalas o nível
superior, é um tema muito importante e bastante discutido de várias formas. É
necessário estudos aprofundados sobre a evasão no ensino superior, pois é de
grande valia observar o quanto do investimento público está sendo
desperdiçado mediante a evasão. Baseando-se nas informações supracitadas,
o presente trabalho visa obter os resultados dos gastos públicos empregados
na educação superior da Universidade Federal do Rio Grande do Norte
(UFRN). Através de um levantamento quantitativo de dados referentes ao custo
por estudante em determinados cursos disponibilizado pela Pró-Reitoria de
Planejamento e Coordenação Geral (PROPLAN) e dos dados disponibilizados
pelo Observatório da Vida do Estudante Universitário (OVEU), pretende-se
realizar uma análise estatística do gasto público e demográfica em cima das
informações dos discentes. Uma das estratégias a ser utilizada neste estudo
será a aplicação dos dados coletados ao método do Índice de qualidade do
gasto (IQ). O método IQ consiste no resultado da razão entre o indicador de
desempenho e o indicador de despesa.
Palavras-chave: Evasão, índice de qualidade do gasto, ensino superior,
UFRN.
Trabalho apresentado no VII Congreso de la Asociación LatinoAmericana de Población e XX Encontro Nacional de Estudos Populacionais, realizado em Foz do Iguaçu/PR – Brasil, de 17 a 22 de outubro de 2016. Atuária. Mestranda em Demografia/UFRN. Orientada por Moisés Alberto Calle Aguirre, docente do Departamento de Demografia e Ciências Atuariais da UFRN e do Programa de Programa de Pós-Graduação em Demografia da UFRN (PPGDEM).
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ANÁLISE DA QUALIDADE DO GASTO NA EDUCAÇÃO SUPERIOR
LEVANDO EM CONSIDERAÇÃO A EVASÃO: CASOS DE ALGUNS CURSOS
DA UFRN COM INGRESSO EM 2009
Mayany Cleyses Morais de Souza
1. INTRODUÇÃO
O presente estudo diz respeito ao investimento público feito no Ensino
Superior, tendo como enfoque observar a qualidade do gasto público em
educação de nível superior em alguns cursos oferecidos na Universidade
Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), a fim de analisar como encontram-se
os cursos através deste indicador; a ineficiência do índice tem relação, em
grande parte, pela evasão dos alunos nos cursos de graduação, observada
através da taxa de concluintes conhecida como taxa de sucesso, pois, quando
os estudantes evadem, isto acarreta na não conclusão do curso e em
consequência no desperdício do investimento empregado, fazendo com que a
eficiência da qualidade do gasto público seja reduzida.
A evasão no ensino superior é um problema que ocorre de modo geral
nas instituições tanto públicas quanto privadas, como também no ensino
fundamental e médio. Busca-se tentar encontrar quais são as causas dessa
evasão e como evitá-la, pois no setor público, os investimentos feitos são
descartados e não trarão retorno. Levando em consideração que o
investimento que o governo faz na educação de nível superior é alto e o
mesmo espera que haja mais profissionais qualificados e que irão contribuir
para o desenvolvimento do país, no momento em que a evasão no ensino
superior é alta tem-se um grande problema em questão, pois o desempenho do
curso acaba sendo comprometido.
Diante de vários estudos feitos e observados, percebeu-se o quanto a
evasão está presente no ensino superior. Isso é algo relevante e muito
preocupante, levando em consideração que quando ocorre à evasão, existe um
grande gasto financeiro, pois o aluno não conclui o curso e assim deixa de
existir mais um profissional no mercado devidamente formado pela
universidade. Diante destes problemas, os objetivos do presente trabalho são
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analisar a evasão dos estudantes de oito cursos selecionados da educação
superior da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, que ingressaram no
ano de 2009 que é considerado pela taxa de concluintes em 2012.2 e,
concomitantemente, determinar a qualidade do gasto público nos cursos
selecionados.
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Inicialmente, esta seção aborda sobre a evasão no ensino superior do
Brasil. E em sequência os investimentos financeiros e a qualidade do gasto na
educação superior.
2.1 EVASÃO NO ENSINO SUPERIOR
Pelos autores Biurrum e Nunes (2010), evasão em um curso de ensino
superior é entendida como a diferença entre o número de ingressantes e o
número de concluintes naquele curso, ou seja, é analisado o período de
formação, que é desde a data de entrada até a data de saída.
Para a Comissão Especial de Estudos sobre a Evasão nas
Universidades Públicas Brasileiras, a evasão é definida como a saída definitiva
do aluno de seu curso de origem, sem concluí-lo.
De acordo com Kotler e Fox (1994), a manutenção de alunos é crucial
para as instituições de ensino, pois os alunos são a razão de “ser” dessas
instituições. Sem alunos as escolas fechariam suas portas. Garantir que os
alunos se re-matriculem é tão importante quanto matricular novos alunos. E,
complementando a ideia deles, é essencial que os alunos continuem, pois o
investimento feito para um aluno é completo e engloba todo o período de
formação, ou seja, se algum aluno evadir vão ter prejuízos financeiros,
educacionais e estruturais, pois se uma sala comporta 50 alunos e tem apenas
25 alunos, 50% do espaço físico foi inutilizado da mesma forma que o dinheiro
empregado para que a sala estivesse totalmente completa de alunos e o
conhecimento que poderia ter sido adquirido pelos demais estudantes que
evadiram.
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2.2 QUALIDADE DO GASTO NA EDUCAÇÃO SUPERIOR
A análise da qualidade do gasto público é de extrema importância, pois
é necessário saber se o investimento feito está produzindo resultados
favoráveis e eficazes. Segundo Borges (2011), no que tange o “processo de
análise de políticas públicas é importante verificar não somente se as questões
de atendimento ao cidadão foram totalmente alcançadas, mas também se
foram alcançadas com eficiência e eficácia”. Faz-se necessário levar sempre
em consideração a melhor utilização dos recursos públicos, para que se evitem
desperdícios financeiros e que, assim, o investimento tenha uma qualidade
eficiente para a sociedade.
Segundo Riani (2002, p. 80), o gasto público é a escolha que os
governantes fazem para aplicar os recursos públicos em setores importantes
para a sociedade. Ainda assim, Rezende (2001) argumenta que, os gastos
representam o custo da quantidade e da qualidade dos serviços oferecidos
pelos governos e que são classificados por ação, programa, finalidade e
natureza, e podem ser de custeio, investimentos, transferências e inversões.
Almeida (2001) declara que um dos maiores desafios é “produzir a
melhoria da qualidade do aprendizado que, afinal, é o que qualquer governo
deve almejar como resultado da oferta dos serviços públicos educacionais para
a população”. Desta forma, observamos o quanto é importante que não haja
evasão, a fim de que os objetivos do governo sejam alcançados e o
investimento seja eficaz.
Na literatura encontram-se alguns trabalhos que mensuram a qualidade
do gasto público através do método do Índice de Qualidade do Gasto Público
(IQGP), que faz uso do valor da despesa orçamentária e, através de
indicadores socioeconômicos, assim, observa o desempenho dos
investimentos empregados.
Segundo Borges (2012 p. 44), a qualidade da saúde e educação,
representa a “relação entre os gastos que foram realizados nessas áreas com
a eficiência do mesmo através dos resultados, no caso, representado pelos os
indicadores sociais de resultado”.
Borges (2012) declara que o IQGP é uma alternativa para tentar
mensurar a qualidade do gasto público, para os casos em que se é possível
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comparar os valores empregados juntamente com os indicadores sociais e
assim obter os resultados da eficiência do gasto público.
Desta forma, cabe ressaltar a importância de analisar a qualidade do
gasto público e de que formas estão sendo realizados estes gastos, a fim de
saber quais os retornos que estes gastos estão produzindo em benefícios para
a sociedade.
3. METODOLOGIA
A pesquisa realizada neste trabalho teve como objetivo analisar a
qualidade do gasto público no ensino superior da UFRN. Podemos classificar a
pesquisa como uma análise exploratória e descritiva. Ela é exploratória na
medida em que se obtêm informações sobre as funções orçamentárias no
gasto de cada estudante do ensino superior. E descritiva, tendo em vista que
procura descrever e entender as características acerca da temática abordada.
Foram utilizados dois bancos de dados para as análises. O primeiro é o
Observatório da Vida do Estudante Universitário, disponibilizado pelo site do
Núcleo Permanente de Concursos (COMPERVE). Trata-se de um centro de
informações estatísticas sobre os estudantes que ingressam na UFRN e os
documentos sobre o acesso ao Ensino Superior, objetivando, disponibilizar um
conhecimento maior sobre a população desta instituição.
Em segundo o banco de dados disponibilizado pela Pró-Reitoria de
Planejamento e Coordenação Geral (PROPLAN), mas, especificamente foi
utilizado apenas o custo por aluno de cada ingressante nos cursos de
graduação estudados, o qual serve para demonstrar o quanto que o setor
público da UFRN investe em cada estudante do ensino superior da instituição,
sendo apresentados os valores conforme o custo dos alunos integrais, que leva
em consideração o peso do curso que está inserido, desta maneira os que
possuem maiores pesos, possuem maiores custos.
No vestibular da COMPERVE sucedido em 2009, para o campus de
Natal, foram oferecidas, aos novos ingressantes, 4948 vagas, distribuídos em
88 cursos. Para o estudo, foram analisados os cursos que possuem a mesma
quantidade de vagas no primeiro semestre e a mesma duração de curso, foram
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escolhidos os cursos com 40 (quarenta) vagas e com 4 (quatro) anos de
duração para a análise do IQ.
3.1 CARACTERÍSTICAS DO MODELO
Segundo Brunet, Bertê e Borges (2008), a qualidade do gasto público
em educação pode ser medida através do indicador:
𝑰𝑸 =𝑰𝒏𝒅𝒊𝒄𝒂𝒅𝒐𝒓 𝒅𝒆 𝒅𝒆𝒔𝒆𝒎𝒑𝒆𝒏𝒉𝒐
𝑰𝒏𝒅𝒊𝒄𝒂𝒅𝒐𝒓 𝒅𝒆 𝒅𝒆𝒔𝒑𝒆𝒔𝒂
O IQ representa o índice de qualidade do gasto em educação superior,
sendo assim, representa o resultado da razão entre o indicador de
desempenho e o indicador de despesa, ambos com a referência ao mesmo
ano, para cada curso da instituição.
Os mesmos autores, após o resultado do IQ, fazem uso de um método
estatístico chamado de “escore padronizado”, pelo método da função da
distribuição acumulada normal.
Para o cálculo do indicador de desempenho é utilizado à fórmula
abaixo:
𝑫 =𝟏
𝒏∑
(𝝏𝒊 − 𝝁)
𝜹𝒊
𝒏
𝒊=𝟏
Onde cada variável representa:
D é o indicador de desempenho;
∂ é o escore bruto da variável desempenho;
µ e δ são, respectivamente, a média e o desvio-padrão dos escores brutos de
desempenho de todos os cursos da UFRN.
Este indicador de desempenho serve para ver, de forma clara, quais
cursos possuem um melhor desempenho, que é analisado no intervalo entre 0
e 1. Ou seja, os cursos que apresentam os valores mais próximos a 1, melhor
será o desempenho dos estudantes do nível superior.
Outro índice que é necessário à fórmula do IQ de Brunet, Bertê e
Borges (2008), é o indicador de despesa, o qual se comporta de forma inversa
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ao indicador anterior, dado pela fórmula:
𝑮 =[
𝒔𝒎 − 𝝁𝒕]
𝜹𝒕
Onde cada variável representa:
G é o indicador de despesa por curso;
s é a despesa em educação superior na UFRN;
m é o total de matrículas no curso superior;
μt e δt são, respectivamente, a média e o desvio-padrão da despesa por aluno
de todos os cursos da UFRN no mesmo período de tempo.
No indicador para a despesa, os valores também estão entre 0 e 1,
porém a interpretação é diferente do indicador de desempenho, pois quanto
mais próximo de 1, maior será a despesa utilizada.
O indicador de qualidade do gasto no ensino superior possibilita um
estudo entre os cursos da UFRN, a fim de analisar a relação ao quanto se
retorna em termos de desempenho escolar, a partir da despesa realizada em
cada curso. O desejável, é que o Índice de Qualidade do Gasto no Ensino
Superior, seja no mínimo, 1, a qual demonstra que a despesa realizada está
sendo retornada em termos de desempenho.
Através desses resultados pode-se fazer as análises sobre o
investimento, se está sendo bem utilizado ou não. Para tanto, neste trabalho foi
utilizado o software Office Excel, disponibilizado pela Microsoft, o qual permite
a análise dos dados, bem como a elaboração de gráficos, tabelas e os
resultados.
4. ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
A população considerada na pesquisa é composta pelos ingressantes
na UFRN para o semestre de 2009.1, referentes aos cursos de Artes Visuais
(L) manhã e tarde, Ciências Atuariais (B) noturno, Dança (L) noturno, Educação
Física (L) manhã e tarde, Fonoaudiologia (F) manhã e tarde, Gestão em
Sistemas e Serviços de Saúde (F) noturno, Geografia (B) manhã e Geografia
(L) noturno, esta amostra corresponde a 12% das vagas ofertadas para o 1°
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semestre de 2009.1 para a UFRN no Campus de Natal.
Neste ponto, através dos gráficos de barras, analisou-se as variáveis
demográficas dos cursos em estudo, pelo Gráfico 1 visualiza-se os sexos dos
ingressantes que estão divididos em 43,1% para o sexo masculino e 56,9%
para o sexo feminino. O percentual feminino é maior principalmente nos cursos
das áreas de humanas e biomédica, como Artes Visuais, Dança,
Fonoaudiologia e Gestão em Sistemas e Serviços de Saúde.
Gráfico 1. Sexo dos ingressantes dos cursos em estudo da UFRN, 2009
Fonte: Elaboração própria com base nos dados do OVEU – UFRN (2009)
Através do Gráfico 2, nota-se que 87,2% dos estudantes que
ingressaram em 2009.1 na UFRN possuem o estado civil de solteiro; 8,8% são
casados e 4,1% tem um outro tipo de estado civil que não é especificado.
Gráfico 2. Estado Civil dos ingressantes dos cursos em estudo da UFRN, 2009
Fonte: Elaboração própria com base nos dados do OVEU – UFRN (2009)
0% 20% 40% 60% 80% 100%
Artes Visuais (L-MT)
Ciências Atuariais (B - N
Dança (L - N
Educação Física (L - MT)
Fonoaudiologia (F - MT)
Geografia (B - M
Geografia (L - N)
Gestão em Sistemas e Serviços de Saúde (F - N)
FemininoMasculino
0% 50% 100% 150%
Artes Visuais (L-MT)
Ciências Atuariais (B - N
Dança (L - N
Educação Física (L - MT)
Fonoaudiologia (F - MT)
Geografia (B - M
Geografia (L - N)
Gestão em Sistemas e Serviços de Saúde (F - N)
Outro
Casado(a)
Solteiro(a)
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Já no Gráfico 3, observa-se as faixas etárias na qual os estudantes
ingressaram nos cursos da UFRN em 2009, a faixa etária com o maior
percentual de estudantes foi a de 18 a 19 anos com 28,13%, seguidas das
faixas etárias de 20 a 21 (24,69%); 25 a 29 anos (15,31%); 22 a 24 anos
(14,69%); 30 a 39 anos (7,81%); 40 a 72 anos (5,31%) e 15 a 17 anos (4,06%).
São ingressantes jovens, que devem ter concluído o ensino médio
recentemente e logo em seguida ingressam na universidade.
Gráfico 3. Faixa etária dos ingressantes dos cursos em estudo da UFRN,
2009
Fonte: Elaboração própria com base nos dados do OVEU – UFRN (2009)
Pela Tabela 1, observa-se os dados básicos das despesas totais em
educação para cada curso, com a duração de 4 anos, através dos dados
disponibilizados pela PROPLAN. Os cursos estão com as cores definidas por
áreas como foram divididos na Tabela 2. O curso de Ciências Atuariais foi o
que apresentou maior indicador bruto de despesa por estudante entre os oito
cursos analisados, com o valor de R$135.606,72, o que demonstra que a
despesa é alta neste curso.
0% 10% 20% 30% 40% 50%
Artes Visuais (L - MT)
Ciências Atuarias (B - N)
Dança (L - N)
Educação Física (L - MT)
Fonoaudiologia (F - MT)
Geografia (B - M)
Geografia (L - N)
Gestão em Sistemas e Serviços deSaúde (F - N)
40 a 72 anos
30 a 39 anos
25 a 29 anos
22 a 24 anos
20 a 21 anos
18 a 19 anos
15 a 17 anos
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Tabela 1. Dados brutos das despesas no ensino superior, ingressos e despesa
por aluno para os cursos analisados da UFRN, 2009
Curso
Dados Brutos de Despesa Indicador Bruto
de Despesa por
estudante
Despesa em
educação
Ingressantes
2009.1
Artes Visuais (L) (MT) 4.068.201,60 40,00 101.705,04
Ciências Atuariais (B) (N) 5.424.268,80 40,00 135.606,72
Dança (L) (N) 4.068.201,60 40,00 101.705,04
Educação Física (L) (MT) 4.068.201,60 40,00 101.705,04
Fonoaudiologia (F) (MT) 4.068.201,60 40,00 101.705,04
Geografia (B) (M) 2.712.134,40 40,00 67.803,36
Geografia (L) (N) 2.712.134,40 40,00 67.803,36
Gestão em Sistemas e
Serviços de Saúde (F) (N) 2.712.134,40 40,00 67.803,36
Média 93229,62
Desvio padrão 23972,11
Fonte de dados básicos: Despesa em educação – PROPLAN. Ingressantes - OVEU
2009/UFRN
Este indicador bruto de despesa por estudante é obtido pela razão
entre a despesa em educação e o número de ingressantes para o respectivo
curso.
Cabe ressaltar que os cursos de Aquicultura e Turismo não serão
analisados. O primeiro, tendo em vista que não houve nenhum formando, já o
segundo, levando-se em consideração que os dados dos ingressantes do
primeiro e do segundo semestre de 2009 estão agrupados no banco de dados
do OVEU. Sendo assim, a análise dos dados seria para uma turma de 80
alunos, não se enquadrando no critério de análise adotado..
Para encontrar o indicador de despesa, fez-se uso do escore
padronizado calculado pelo método da função de distribuição acumulada
normal. Ainda assim, foi necessário a utilização do software Excel para obter os
resultados. Para o cálculo da função acumulada normal, utiliza-se os dados do
Indicador de Despesa Bruta por Curso, a média e o desvio-padrão e o
acumulativo de todos os cursos analisados na amostra. Repetindo a função
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para os demais cursos e em cada curso utilizando o indicador bruto de despesa
por estudante.
O indicador de despesa varia entre 0 e 1, quanto mais próximo de 1 o
valor se encontre, significa que maior será a despesa utilizada. Pela Tabela 2
encontramos que o curso de Ciências Atuariais é o que apresenta o maior
indicador de despesa, seguido de Artes Visuais, Dança, Educação Física,
Fonoaudiologia, Geografia (licenciatura e bacharelado) e Gestão em Sistemas
e Serviços de Saúde.
Tabela 2. Indicador de despesa dos cursos analisados da UFRN, 2009
Curso Indicador de
Despesa
Artes Visuais (L) (MT) 0,64
Ciências Atuariais (B) (N) 0,96
Dança (L) (N) 0,64
Educação Física (L) (MT) 0,64
Fonoaudiologia (F) (MT) 0,64
Geografia (B) (M) 0,14
Geografia (L) (N) 0,14
Gestão em Sistemas e Serviços de Saúde (F) (N) 0,14
Fonte: Elaboração própria com base nos dados da PROPLAN – UFRN (2009)
É necessário calcular o indicador de desempenho e para isso as
variáveis utilizadas para os indicadores brutos de desempenho foram à taxa
formandos em 2012.2, dos estudantes com ingresso em 2009.1. O mesmo
método estatístico utilizado no indicador de despesa será utilizado para o
indicador de despesa com base nos dados brutos da taxa de concluintes em
2012.2. O indicador de desempenho também varia entre 0 e 1, porém, é
desejável que o valor esteja mais próximo de 1, significando que possui um
bom desempenho.
Segundo Silva (2011), que também faz uso da fórmula do IQ, os dados
para os indicadores brutos de desempenho utilizados foram as 4 médias em
português e matemática coletadas dos microdados da Prova Brasil 2009, para
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os municípios utilizados na sua pesquisa. Neste caso, foi necessário a média
das 4 variáveis de indicadores brutos de desempenho para então poder
calcular o modelo estatístico da função de distribuição acumulada normal.
Como nos cursos da UFRN está sendo utilizada apenas uma variável para o
cálculo, aplicamos diretamente no método. Pela Tabela 3 obtemos que o curso
com o melhor indicador de desempenho é o de Fonoaudiologia com (0,95) e
em sequência os cursos de Gestão em Sistemas e Serviços de Saúde (0,82),
Educação Física (0,76), Dança (0,54), Artes Visuais (0,34), Geografia
licenciatura (0,20) e Ciências Atuariais e Geografia bacharelado (0,15).
Tabela 3. Indicador de desempenho dos cursos analisados da UFRN, 2009.
Curso
Indicadores Brutos de
Desempenho Indicadores de
Desempenho Taxa de concluintes
em 2012.2
Artes Visuais (L) (MT) 0,25 0,34
Ciências Atuariais (B) (N) 0,10 0,15
Dança (L) (N) 0,38 0,54
Educação Física (L) (MT) 0,53 0,76
Fonoaudiologia (F) (MT) 0,75 0,95
Geografia (B) (M) 0,10 0,15
Geografia (L) (N) 0,15 0,20
Gestão em Sistemas e
Serviços de Saúde (F) (N) 0,58 0,82
Média 0,35
Desvio padrão 0,24
Fonte: Elaboração própria com base nos dados do OVEU – UFRN (2009)
Após obtidos os resultados dos indicadores de desempenho e despesa
podemos calcular o índice de qualidade do gasto público em educação (IQ),
que é a razão entre o indicador de desempenho e o indicador de despesa.
Espera-se que o Índice de Qualidade do Gasto seja de pelo menos 1, pois isso
demonstra que a despesa realizada está sendo retornada em termos de
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desempenho.
Conforme Brunet, Bertê e Borges (2008), podemos classificar a
qualidade do gasto em três tipos de intervalos, conforme os critérios adotados
por eles, consideram que os valores abaixo de 1 (um) são ineficazes; já a
média da amostra somada ao desvio-padrão é eficaz e acima desse valor é
altamente eficaz. Utilizando esses critérios para a qualidade do gasto público
nos cursos da UFRN, temos o Quadro 1 abaixo:
Quadro 1. Classificação da qualidade do Gasto Público
Intervalos Classificação
0,16 - 0,99 Ineficaz
1,00 - 3,26 Eficaz
3,27 - 5,67 Altamente eficaz
Fonte: Elaboração própria.
Silva (2011) adota a classificação da qualidade do gasto público
através da descrição abaixo:
IQ < 1 – é ineficiente, isso ocorre quando o indicador de desempenho é menor
que o indicador de despesa;
IQ = 1 – é eficiente, pois retorna o valor mínimo esperado;
IQ > 1 – é eficiente, pois retorna mais que o valor esperado.
De acordo com a Tabela 4, obtemos o resultado do indicador de
qualidade do gasto para os cursos analisados. Observa-se que, segundo a
classificação dos autores Brunet, Bertê e Borges (2008), o curso de Gestão em
Sistemas e Serviços de Saúde é o único considerado altamente eficaz, já os
cursos de Fonoaudiologia Educação Física, Geografia licenciatura e
bacharelado são classificados como eficazes e os cursos de Artes Visuais,
Ciências Atuariais e Dança como ineficazes.
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Tabela 4. Indicador de despesa, desempenho e da qualidade do gasto dos
cursos analisados na UFRN, 2009
Curso
Indicador de
qualidade do
gasto
Classificação
Artes Visuais (L) (MT) 0,53 Ineficaz
Ciências Atuariais (B) (N) 0,16 Ineficaz
Dança (L) (N) 0,84 Ineficaz
Educação Física (L) (MT) 1,19 Eficaz
Fonoaudiologia (F) (MT) 1,49 Eficaz
Geografia (B) (M) 1,04 Eficaz
Geografia (L) (N) 1,40 Eficaz
Gestão em Sistemas e
Serviços de Saúde (F) (N) 5,67
Altamente
eficaz
Fonte: Elaboração própria.
Pelo Gráfico 4, verifica-se uma linha, que representa a fronteira de
desempenho mínimo para que a qualidade da despesa em educação dos
cursos da UFRN sejam eficazes. Segundo a classificação utilizada por Silva
(2011), através do Quadro 1 observa-se que tem quatro cursos que possuem a
mesma despesa de 0,64, no entanto, o curso de Fonoaudiologia é o que
apresentou maior desempenho de 0,95. Existem outros três cursos com a
mesma despesa de 0,14, contudo o curso de Gestão em Sistemas e Serviços
de Saúde tem o melhor desempenho. Quando compara-se os dois cursos com
desempenhos melhores, observa-se que o curso de Gestão em Sistemas e
Serviços de Saúde possui uma despesa bem menor comparado ao curso de
Fonoaudiologia e como a diferença de desempenho de ambas não é grande,
tem-se então o IQ maior para o curso de Gestão em Sistemas e Serviços de
Saúde.
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Gráfico 4. Relação entre os indicadores de despesa e desempenho, nos cursos
da UFRN, 2009
Fonte: Elaboração própria.
Levando em consideração os resultados obtidos nos cálculos
anteriores para o IQ, nota-se que o curso de Ciências Atuariais (B – N)
apresentou o menor indicador entre os cursos analisados. É necessário
ressaltar que o curso de Ciências Atuariais é novo e foi criado em 2009 na
UFRN. Sendo assim, a ineficiência do curso pode ter relação direta com a
despesa que foi empregada para implantá-lo através do Programa de Apoio a
Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni), e
que tem como principal objetivo ampliação do acesso e a permanência na
educação superior, e por essa razão, apresentou maior valor, já o desempenho
do curso está baixo, levando-se em consideração que é a primeira experiência
do curso, ou seja, primeira turma formada, desta forma, o desempenho é
considerado baixo por está em fase de desenvolvimento e adaptação da grade
curricular, além de ser considerado como um curso de segunda opção.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Artes Visuais (L) (MT)
Ciências Atuariais (B) (N)
Dança (L) (N)
Educação Física (L) (MT)
Fonoaudiologia (F) (MT)
Geografia (B) (M) Geografia (L) (N)
Gestão em Sistemas e Serviços
de Saúde (F) (N)
0,00
0,10
0,20
0,30
0,40
0,50
0,60
0,70
0,80
0,90
1,00
0,00 0,10 0,20 0,30 0,40 0,50 0,60 0,70 0,80 0,90 1,00
16
Dentre os cursos analisados na UFRN que ingressaram em 2009,
observa-se que a população estudada possui predominância do sexo feminino
e com estado civil de solteiro, além de tratar-se de uma população jovem.
Percebeu-se que a qualidade do gasto público em três cursos são
considerados ineficientes e nos demais possuem o indicador eficiente ou
altamente eficiente.
Enfim, observa-se que, através do método utilizado, não é necessário
que o investimento seja o mais alto possível, mas que sim o desempenho dos
estudantes seja alto para que acompanhe o investimento feito, de maneira a
tornar os cursos com indicadores eficientes. Como o curso de Ciências
Atuariais é recente, não pode-se fazer análises concretas da qualidade do
gasto, levando em consideração que os estudantes podem concluir o curso
posteriormente, mesmo que em atraso. Porém, o estudo foi uma maneira
parcial de análise para identificar a situação dos cursos dentre os estudados
com o mesmo número de ingressos e com o mesmo período de curso, para o
mesmo ano, e levando em consideração que a taxa de concluintes foi baixa no
curso de Ciências Atuariais, houve uma tendência maior para que a qualidade
do curso fosse ineficaz.
Contudo, é importante que se tenha uma preocupação em melhorar a
qualidade dos cursos, de maneira a fazer com que os estudantes se sintam
motivados a continuar no curso e não a evadirem, pois são altos os
investimentos empregados e é de extrema importância que tenham resultados
positivos para a sociedade e o governo.
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gasto com educação. Em Aberto, v. 18, n. 74, p. 121-135, 2001.
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