Análise de Iracema

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ANÁLISE DE IRACEMA

Gisele Souza e Silva

A) HISTÓRIA:

Para relembrar a história narrada em Iracema, preste atenção no seguinte resumo, extraído do Pequeno Dicionário da Literatura Brasileira, organizado por Massaud Moisés, 1969: "Numa atmosfera lendária, de exótica e delicada poesia, desenrola-se a história triste dos amores de Martim, primeiro colonizador português do Ceará, e Iracema, jovem e bela índia tabajara, filha de Araquém, pajé da tribo. Martim saíra à caça com seu amigo Poti, guerreiro pitiguara, e perdera-se do companheiro, indo ter aos campos dos inimigos tabajaras. Encontra Iracema, que o acolhe na cabana de Araquém, enquanto volta Caubi, seu irmão, que reconduziria o guerreiro branco, são e salvo às terras pitiguaras. Iracema, porém, apaixona-se por Martim, traindo o segredo de jurema, que guardava como virgem de Tupã. Acompanha o esposo, deixando na sua tribo um ambiente de revolta, acirrado pelos ciúmes de Arapuã, destemido chefe tabajara. Desencadeia-se a guerra da vingança, e os tabajaras são derrotados; Iracema confunde as venturas do amor com as amargas tristezas que despertam os campos juncados de cadáveres de seus irmãos. Ao remorso e saudade outra dor se lhe acrescenta: o arrefecimento do amor de Martim que, para amenizar a nostalgia da pátria distante, ausenta-se em longas e demoradas jornadas. Num dos seus regressos, encontra Iracema às portas da morte, exausta pelo esforço que fizera para alimentar o filhinho recém-nascido, a quem dera o nome de Moacir, literalmente na sua língua, filho da dor. Martim enterra o corpo da esposa e parte, levando o filho e a saudade da fiel companheira.”  

1) Qual é o acontecimento principal da história, aquele que tem a atenção de todos os capítulos do romance?

O acontecimento principal e que tem a atenção de todos os capítulos do romance é a história de amor entre Iracema e Martim. Assim, Ao longo da história, o narrador mostra o encontro do colonizador português com a índia tabajara, até o nascimento do filho do casal e a morte da índia.

2) Quais elementos dificultam a realização desse acontecimento principal e/ou contribuem para o seu desenlace infeliz?

Os elementos que dificultam a realização desse acontecimento principal e seu desenlace infeliz estão relacionados ao fato de Iracema e Martim pertencerem a povos com valores e culturas diferentes:, ela uma índia e ele um colonizador português. Além disso, durante o desenrolar da história, o narrador mostra que Martim vai ficando com saudade da sua terra natal e se afasta paulatinamente de Iracema.

3) Paralelamente ao acontecimento principal do romance, que outro conflito estimula o desenrolar da história?

O outro conflito que estimula o desenrolar da história é guerra da tribo dos índios tabajaras contra a tribo dos índios pitiguaras. No capitulo IV, a existência dos

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conflitos entre as tribos, pode ser comprovada pela seguinte passagem: “O maior chefe da nação tabajara, Irapuã, descera do alto da Serra Ibiapaba, para levar as tribos do sertão contra o inimigo pitiguara. Os guerreiros do vale festejam a vinda do chefe, e o próximo combate”.(p. )

4) A história é movida por personagens que agem, pela oposição ou ajuda que estabelecem entre si. Quem são as personagens-protagonistas dessa história? Que personagens funcionam como seus adjuvantes? E quais, como antagonistas? Protagonistas: Os protagonistas são Iracema e Martim, sendo que, eles ocupam a função das personagens centrais na história. Adjuvantes: Os adjuvantes são Poti, Caubi, Araquém e Moacir, e ajudam Iracema e Martim ao longo da narrativa.Antagonistas: O antagonista é Irapuã, e é por intermédio da sua atuação que acontece o desenrolar do conflito. Na narrativa, Irapuã deseja o amor de Iracema, e isso é um dos motivos de conflito com Martim.

5) Que ideias essa configuração da história acaba por destacar acerca do confronto entre o colonizado e o colonizador?

A história destaca a ideia de dominação exercida pelo colonizador sobre o povo indígena. Além disso, no Capítulo XXII, o narrador usa o diálogo para mostrar o que sente o índio pitiguara quando é visitado pelo neto Poti e o estrangeiro Martim: “– Tupã quis que estes olhos vissem antes de se apagarem, o gavião branco junto da narceja”. Portanto, o velho índio, antes de morrer, profetiza o fim dos índios quando se refere a Martim como gavião branco e trata o neto como narceja (ave – a proximidade entre uma ave de rapina (predadora) e um passarinho ( a presa) é a representação do ideal da paz, da convivência amigável, reafirmada pela amizade que havia entre as duas personagens).

B) TEMPO Observe como a narrativa organiza, cronologicamente, a história.1) O que é narrado no primeiro capítulo do romance? Essa parte apresenta o início do caso de Martim e Iracema? Segundo a ordem cronológica da história, onde este capítulo deveria se situar? Como costumamos denominar, em teoria da narrativa, essa antecipação da narrativa?

No primeiro capítulo do romance é narrada a saída de Martim com o filho Moacir do Ceará. Na verdade, o capitulo I do romance está deslocado, e é uma antecipação do fim da história. Segundo, o estudioso Genette esta espécie de anacronia é denominada de prolepse. Nesse caso, o narrador revela uma situação que só posteriormente irá se concretizar, portanto, há uma antecipação de um fato que em obediência à cronologia da história, só deveria ser narrado mais tarde. (muito boa a tua resposta).

2) A caça de Martim e Poti, que levou o português aos campos dos tabajaras e assim possibilitou o seu encontro com Iracema, chega a ser narrada no texto? Em que momento da narrativa e através de quem esse fato é aludido? Ele se apresenta segundo a ordem temporal da história?

A caça de Martim e Poti, que levou o português aos campos dos tabajaras e assim possibilitou o seu encontro com Iracema, é narrado mencionado no capitulo III.

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No final do capitulo, o narrador, utiliza o recurso do diálogo em que Martim relata sua história ao pajé da tribo dos tabajaras, Araquém. A passagem do final do capítulo III comprova que o fato é narrado aludido por, quando Martim que diz: “Só eu de tantos fiquei, porque estava entre os pitiguaras de Aracaru, na cabana do bravo Poti, irmão de Jacaúna, que plantou comigo a árvore da amizade. Há três sóis partimos para caça; e perdido dos meus, vim aos campos dos tabajaras” (p.). De acordo com o estudioso Genette, este procedimento de evocar um acontecimento que ocorreu num tempo anterior é chamado de anacronia por retrospecção ou analepse. Este recurso é muito usado para esclarecer os antecedentes de uma determinada situação ou da vida passada de uma personagem. Nesse caso, o fato narrado serve para esclarecer como Martim chegou à tribo dos tabajaras.

3) Vimos, na análise do segundo capítulo, que a narrativa usa a pausa descritiva para apresentar, em detalhes, a personagem Iracema e o cenário que a rodeia. No momento em que descreve Iracema, a narrativa se estende, a narração torna-se mais lenta, como se o desenvolvimento da história ficasse, por um momento, estacionado. Usando o terceiro capítulo do romance como exemplo, demarque outros movimentos da narrativa: sumário, em que o narrador resume os eventos, isto é, o que pode ter levado muito tempo para acontecer é contado em poucas linhas; cena, em que a história transcorre naturalmente e a duração/extensão do discurso parece igual ao tempo que os eventos/falas levaram para acontecer; elipse, em que o narrador não menciona determinado evento da história, “pulando” para o evento seguinte, ou seja, um fato que pode ter levado tempo para transcorrer não é narrado.

a) “O estrangeiro seguiu a virgem através da floresta”. Explicação: nesse fragmento, todo o trajeto percorrido pelas personagens e os possíveis fatos acontecidos durante esse trajeto são resumidos em uma única linha. Assim a extensão da narrativa é pequena frente à possível duração dos acontecimentos da história.Recurso narrativo: sumário.

b) “O ancião fumava a porta, sentado na esteira de carnaúba, meditando os sagrados ritos de Tupã. O tênue sopro da brisa carmeava, como flocos de algodão, os compridos e ralos cabelos brancos. De imóvel que estava, sumia a vida nos olhos cavos e nas rugas profundas”.Explicação: nesse fragmento, o narrador usa de absoluta lentidão, ou seja, o narrador parece parar de contar a história para descrever como estava o ancião, o que estava fazendo e como ele era fisicamente.Recurso: pausa descritiva.

c) “– Ele veio, pai. – Veio bem. É Tupã que traz o hóspede à cabana de Araquém. Explicação: nesse fragmento, o narrador utiliza o diálogo, dando a ilusão de que o fato está acontecendo diante dos nossos olhos, ou seja, a narração da conversa entre Iracema e Araquém parece reproduzir exatamente o tempo que as ações duraram.Recurso: cena.

d) “Depois a virgem entrou com a igaçaba, que na fonte próxima enchera de água fresca para lavar o rosto e as mãos do estrangeiro.

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Quando o guerreiro terminou a refeição, o velho Pajé apagou o cachimbo e falou...”Explicação: nesse fragmento, o narrador apresenta um grau máximo de aceleração, ou seja, a narração passa diretamente do momento em que a virgem Iracema entrou com a igaçaba, para o momento em que o guerreiro Martim terminou a refeição, e o velho Pajé apagou o cachimbo. Portanto, são sintetizados vários momentos, sem indicação explícita do tempo que transcorreu os eventos.Recurso: elipse.

4) Analise o último capítulo do romance quanto à velocidade da narrativa. Que movimento da narrativa predomina aí: pausa descritiva, cena, elipse ou sumário? Que efeito de sentido, quanto à passagem do tempo/ da história, esse predomínio causa?

O movimento que predomina é o do sumário, em que o narrador resume em poucas linhas uma ação que poderia corresponder a um tempo longo. O narrador, na primeira linha do Capítulo XXXIII, relata que se passaram quatro anos, conforme a seguinte passagem: “O cajueiro floresceu quatro vezes depois que Martim partiu das praias do Ceará, levando no frágil barco o filho e o cão fiel”. Portanto, o narrador sintetiza vários anos da história e oferece apenas algumas informações sobre os episódios, tornando a narrativa acelerada.

5) Se você reler os fatos narrados em Iracema, perceberá que eles se desenrolam em três anos diferentes: 1604, 1608 e 1611. Para melhor entender isso, é necessário também ler o Argumento Histórico, que antecede a narrativa, onde José de Alencar explica os episódios históricos que inspiraram o romance e os situa no tempo. Para organizar os fatos narrados numa sequência cronológica, precisamos dividir o ano de 1604 em duas partes, assim como o último capítulo, XXXIII, que se refere especificamente a dois momentos diferentes. Isso porque o tempo da narrativa está parcialmente fora de uma sequência cronológica linear. Você vai resolver este problema, numerando as colunas B e C, de acordo com a coluna A.

(1) começo de 1604 ( 2 ) cap. I ( 3 ) volta de Martim ao Ceará; 2ª expedição colonizadora.

(2) fim de 1604 ( 4 ) final do cap. XXXIII (1) romance de Martim e Iracema

(3) ano de 1608 (1) cap. II a XXXII ( 2 ) partida de Martim, levando Moacir.

(4) ano de 1611 (3) começo do cap. XXXIII (4 ) fundação da “Mairi” dos cristãos e do presídio N. S. do Amparo; permanência definitiva de Martim no Ceará.

6) Observemos que há uma tendência da narrativa de relatar de forma mais lenta a primeira parte da história – o encontro de Iracema, os conflitos de Martim com Irapuã, a entrega da virgem ao amado, a luta entre as tribos, a partida de Iracema com o esposo. Até o capítulo XX, transcorrem apenas alguns dias, basta observar como a passagem do

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tempo é mencionada (“o dia enegreceu; era noite já”; “caía a noite”, o “límpido trinado anuncia a aproximação do dia”). O predomínio desse tipo de organização do tempo, em tal parte da narrativa, é compreensível, já que, de maneira geral, essa parte constitui a mais dramática do romance, onde o narrador apresenta, com mais detalhes, as personagens, suas ações e diálogos. A partir do capítulo XX, em que a narrativa se centra na rotina de Iracema junto do marido, nas ausências de Martim e na tristeza crescente da índia, a narração se acelera, marcando a passagem do tempo em luas ou meses (cap. XXIII: “Quatro luas tinham alumiado o céu depois que Iracema deixara os campos do Ipu; e três depois que ela habitava nas praias do mar a cabana do seu esposo”; cap. XXV: “a alegria ainda morou na cabana todo o tempo que as espigas de milho levaram a amarelecer”; XXVII: “passava os já tão breves, agora longos sóis, na praia, ouvindo gemer o vento e soluçar as ondas”). A tensão só volta a predominar mesmo do capítulo XXX ao XXXII, que narram o nascimento de Moacir e a morte de Iracema. Já no último capítulo, permanece a aceleração intensa da narrativa, que sintetiza, em poucas páginas, os acontecimentos que seguem à morte de Iracema. Aqui a passagem do tempo é revelada em anos (capítulo XXXIII: “O cajueiro floresceu quatro vezes depois que Martim partiu das praias do Ceará”).

C) ESPAÇO Notemos que há no romance uma clara divisão espacial, dando destaque para dois tipos de lugares – o interior das matas e a costa do mar – aos quais se ligam forças opostas. A divisão espacial acaba por realçar o conflito existente entre os tabajaras (os que dominam o interior da província, as matas do Ipu) e os pitiguaras (“a nação que habitava as bordas do mar”, “senhores dos vales”, “comedores de camarão”). Notemos também que são os habitantes da costa os guerreiros que se aliam ao colonizador português e os habitantes do interior, os que protegem a terra e se opõem mais diretamente a ele. É o que explica Irapuã, o chefe dos Tabajaras, no cap. V:

“Nos guardamos as serras, donde manam os córregos, com os frescos ipus onde cresce a maniva e o algodão; e abandonamos ao bárbaro potiguara, comedor de camarão, as areias nuas do mar, com os secos tabuleiros sem águas e sem florestas. Agora os pescadores das praias, sempre vencidos, deixam vir pelo mar a raça branca dos guerreiros de fogo, inimigos de Tupã”.

1) É notável no romance a ligação de Martim com a costa marítima. Em que situações podemos verificar isso? O que o mar significa para ele? Lembremos que esse sentido já é alimentado, de algum modo, por meio da descrição física da personagem, já no segundo capítulo.

Martim tem uma forte ligação com o mar e a tribo de quem é aliado, os pitiguaras, vive no litoral. No Capítulo II, o narrador descreve Martim: “Tem nas faces das areias que bordam o mar, nos olhos o azul triste das águas profundas” (p.). Portanto, o narrador expressa toda a ligação que Martim carrega com o mar. Além disso, Martim é um colonizador que se aventura pelos mares para descobrir novos lugares e povos. No capítulo XX, o narrador descreve com detalhes o momento em que Martim vê o mar e transparece toda a ligação do guerreiro com as águas e seu ímpeto desbravador, como mostra a passagem: “Os olhos do guerreiro branco se dilataram pela vasta imensidade; seu peito suspirou. Esse mar beijava também as brancas areias de Potengi, seu berço natal, onde ele vira a luz americana” (p.).

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2) Transcreva as descrições do romance para os campos dos tabajaras e para as praias habitadas pelos pitiguaras (inclusive a que Martim, Poti e Iracema constroem residência).

Caracterização da floresta: A floresta é caracterizada em várias passagens da história. É o ambiente onde

acontece o romance entre Iracema e Martim e alguns embates entre tabajaras e pitiguaras. No Capítulo VI, o narrador descreve a floresta na seguinte passagem: “Atravessaram o bosque e desceram o vale. Onde morria a falda da colina o arvoredo era basto: densa abóboda de folhagem verde-negra cobria o adito agreste, reservado aos mistérios do rito bárbaro” (p.). O narrador descreve uma floresta fechada, cheia de segredos do povo indígena e que está sendo desbravada pelos colonizadores. Desta forma, surge uma atmosfera ligada ao modo como o narrador percebe o espaço da floresta, cheia de mistérios.

Caracterização do litoral: O litoral é caracterizado no Capítulo XXI, em que o narrador descreve a chegada

de Martim, Iracema e Poti ao litoral, como mostra a passagem: “Chegam os viajantes à foz do rio onde se criam em grande abundância as saborosas traíras; suas praias são povoadas pela tribo dos pescadores, da grande nação dos pitiguaras”.

Também no Capitulo XXI, o narrador usando o recurso do diálogo descreve o local onde Martim levantou a cabana para morar, como mostra a passagem: “Seguindo pela margem do rio, o cristão escolheu o lugar para levantar a cabana. Poti cortou esteios de troncos da carnaúba; a filha de Araquém ligava os leques da palmeira para vestir o teto e as paredes. Martim cavou a terra e fabricou a parta das fasquias da taquara” (p.).

a) De maneira geral, há diferenças no tom de exaltação do narrador em relação à beleza desses dois espaços?

O narrador parece exaltar à beleza da floresta, quando usa denominações como “bosque sagrado” no Capítulo VI. Além disso, o narrador usa os elementos da natureza, das matas, dos animais para descrever a personagem principal, Iracema, criando uma atmosfera de exaltação em relação à floresta.

b) Note que a floresta é mais escura, fechada, sombria, e a costa, mais clara e mais aberta. Essa impressão sobre o ambiente da floresta é alimentada ainda pela alusão a espécies de esconderijos, como o “bosque sagrado”, o “recôndito sítio”, que esconde os segredos da jurema, e a “gruta profunda”, nas “entranhas da terra”, aberta pelo grito do pajé ao invocar Tupã. Nessa gruta, Iracema e Martim se comunicam com Poti, que “fala pela boca de Tupã”, segundo o entendimento de Iracema. A floresta parece guardar, portanto, mistérios, forças sagradas nas quais acreditam os índios.

Levando isso em consideração, o que pode significar a invasão do espaço da floresta e a derrota dos tabajaras pelos pitiguaras, aliados estes do colonizador português?

A invasão do espaço da floresta e a derrota dos tabajaras pelos pitiguaras, aliados estes do colonizador português, significam a perda da identidade do povo indígena, a modificação cultural, ou seja, o processo de colonização dos portugueses nas terras do povo indígena.

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D) PERSONAGENS:

1) Analise desde as notas explicativas do autor sobre os nomes de algumas personagens, também as descrições físicas e o caráter demonstrado pelas personagens através de suas ações e falas. A partir disso, explique como se apresentam no texto as seguintes personagens: Iracema

A personagem Iracema é descrita de maneira idealizada. A protagonista abandona sua tribo e acompanha seu grande amor. Ela deixa suas origens para acompanhar o guerreiro branco e consequentemente o povo de uma tribo rival, tudo em busca da felicidade e do amor. No Capítulo II, o narrador descreve a índia: “Iracema, a virgem dos lábios de mel, que tinha os cabelos mais negros que a asa da graúna, e mais longos que seu talhe de palmeira. O favo da jati não era doce como seu sorriso; nem a baunilha recendia no bosque como seu hálito perfumado”. A visão de Iracema é de uma virgem, bela, e submissa ao seu “guerreiro e senhor” (ALENCAR, 2009. p.84)o narrador compara a personagem à beleza da floresta.

MartimO guerreiro Martim simboliza a invasão dos portugueses. É o colonizador forte e

desbravador. O narrador compara o guerreiro ao mar. No Capítulo II, a passagem comprova: “Tem nas faces das areias que bordam o mar, nos olhos o azul triste das águas profundas”. Durante a história, a personagem cumpre seu papel de colonizar a terra dos índios, mesmo vivendo um romance com Iracema. O narrador descreve Martim como o guerreiro do mar, como mostra na passagem do Capítulo XX: “O guerreiro do mar deixa as margens do rio das garças, e caminha para as terras onde o sol se deita. A esposa e o amigo seguem sua marcha” (p.).

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IrapuãA personagem Irapuã é o antagonista. O líder dos tabajaras luta contra os

pitiguaras, e também sente um amor por Iracema. O índio tabajara não aceita o domínio dos portugueses.

AraquémA personagem Araquém é o pajé da tribo, pai de Iracema. Ele é responsável pela

invocação de Tupã, o espirito sagrado. O feiticeiro da tribo dos pitiguaras é descrito com detalhes pelo narrador no Capítulo III, como comprova a passagem: “O ancião fumava a porta, sentado na esteira de carnaúba, meditando os sagrados ritos de Tupã. O tênue sopro da brisa carmeava, como frocos de algodão, os compridos e raros cabelos brancos. De imóvel que estava, sumia a vida nos olhos cavos e nas rugas profundas”.

PotiA personagem Poti é o amigo fiel do guerreiro Martim. Ambos plantaram uma

árvore da amizade. No Capítulo XXXIII, o narrador descreve que Poti recebeu o nome do povo branco, conforme mostra a passagem: “Ele recebeu com o batismo o nome do santo, cujo era o dia; e o do rei, a que ia servir, e sobre os dois o seu, na língua dos novos irmãos”. De acordo com argumento histórico, Poti recebeu o nome de Antônio Filipe Camarão e prestou serviços aos colonizadores.

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2. Analise a personagem Iracema quanto ao seu comportamento amoroso. A personagem Iracema apresenta um comportamento amoroso, apaixonado e

servil. Ela faz tudo por amor, trai o segredo da Jurema, que não poderia ser traído, já que é a filha do pajé. No Capítulo XXI, o narrador mostra por intermédio do diálogo, o comportamento de Iracema em relação ao seu amor Martim: “O coração da esposa está sempre alegre junto de seu guerreiro e senhor”.

3) Atente para a seguinte afirmativa, de Goldstein e Campedelli, em Literatura brasileira (1983): “Lendo Iracema, verificamos que as personagens têm pouca complexidade psicológica... provavelmente, em função do caráter simbólico destas personagens: não são pessoas comuns, com dúvidas, dramas, e sim representantes de antepassados heróicos, cada qual com uma característica marcante”. Escolha uma das personagens do romance e analise esse aspecto, mostrando por que tal personagem se apresenta como plana.

De acordo com o teórico Forster, em seu livro Aspectos do romance, as personagens planas são construídas ao redor de uma única ideia ou qualidade. Geralmente, não mudam seu caráter no transcorrer da narrativa. Assim, a personagem Iracema, a virgem dos lábios de mel, mantém seu caráter ao longo da narrativa, é uma índia que se apaixona pelo guerreiro branco e morre por amor.

E) NARRADOR

1) Examine o modo como o narrador se pronuncia – em primeira ou terceira pessoa? Também, verifique que tipo de conhecimento, predominantemente, ele demonstra sobre as personagens – sua visão é ampla, onisciente, ou restrita, focalizada? Use exemplos para comprovar isso.

O narrador se pronuncia em terceira pessoa. Ele demonstra conhecer as personagens e tem uma visão ampla, onisciente, ou seja, a narrativa é não focalizada. No capítulo II, passagem comprova o narrador em terceira pessoa e demonstra conhecer o que sabe sobre a personagem Iracema: “Um dia, ao pino do sol, ela repousava em um claro da floresta. Banhava-lhe o corpo a sombra da oiticica, mais fresca do que o orvalho da noite”.

2) Note que a perspectiva assumida pelo narrador é coerente com o tipo de informações que ele oferece ao leitor. Se o narrador assumisse o ponto de vista interno, relativo a uma das personagens, ele poderia dar, ao mesmo tempo, informações sobre os costumes indígenas, as perspectivas do colonizador e os eventos históricos que se seguiram à primeira expedição colonizadora do Ceará?

O narrador não poderia assumir o ponto de vista interno. Segundo Genette, a narrativa de focalização interna é aquela em que se verifica a “visão com”: o narrador diz apenas o que a personagem sabe. No contexto do romance Iracema, o narrador vai além, ele mostra o contexto histórico e esse ficaria comprometida se assumisse a visão das personagens.

F) RECURSOS LINGUÍSTICOS

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Já analisamos, na semana anterior, aspectos sobre o uso da língua e o tipo figuras predominantes em Iracema.

Na Carta que escreve a Jaguaribe, em posfácio ao seu romance, José de Alencar afirma:

sem dúvida que o poeta brasileiro tem de traduzir em sua língua as idéias, embora rudes e grosseiras, dos índios; mas nessa tradução está a grande dificuldade; é preciso que a língua civilizada se molde quanto possa à singeleza primitiva da língua bárbara; e não represente as imagens e pensamentos indígenas senão por termos e frases que ao leitor pareçam naturais na boca do selvagem. O conhecimento da língua indígena é o melhor critério para a nacionalidade da literatura. Ele nos dá não só o verdadeiro estilo, como as imagens poéticas do selvagem, os modos do seu pensamento, as tendências do seu espírito, e até as menores particularidades de sua vida.

Verifique como o romance Iracema concretiza esse projeto de Alencar. Para isso, identifique no texto do romance, transcreva e analise passagens que exemplifiquem os seguintes aspectos:

1) O texto aproveita intensamente o vocabulário tupi. Inclusive, muitos termos, como os nomes das personagens, são escolhidos em função da força expressiva de sua origem etimológica.

No Capítulo II, o nome Iracema, significa a virgem dos lábios de mel, como comprova a passagem: “Iracema, a virgem dos lábios de mel, que tinha os cabelos mais negros que a asa da graúna, e mais longos que seu talhe de palmeira”. (p.).

No Capítulo XXX, quando nasce o filho de Iracema e Martim, a índia dá o nome de Moacir, significa filho da dor, como comprova a passagem: “Tu és Moacir, o nascido de meu sofrimento” (p.).

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2) Para anunciar um novo dia ou para demarcar a passagem do tempo, o narrador não usa a linguagem do calendário comum, do relógio, mas, isto sim, imagens que lembram o modo como o indígena percebe o tempo.

As passagens do tempo são marcadas em vários trechos. No Capítulo XXIII, quatro luas, significam que passaram quatro semanas, como mostra a passagem: “Quatro luas tinham alumiado o céu depois que Iracema deixara os campos de Ipu; e três que ela habitava nas praias do mar a cabana de seu esposo”. No Capítulo XXXIII, “o cajueiro floresceu quatro vezes” significa que passaram quatro anos, como comprova a passagem: “O cajueiro floresceu quatro vezes depois que Martim partiu das praias do Ceará, levando no frágil barco o filho e o cão fiel”.

3) As personagens, seus sentimentos e ações são reiteradamente comparados a elementos da natureza, assim como o indígena tende a interpretar o mundo a partir de forças naturais.

Um dos exemplos de comparação usada pelo narrador é a personagem Iracema, no Capitulo II, na passagem: “Iracema, a virgem dos lábios de mel, que tinha os cabelos mais negros que a asa da graúna, e mais longos que seu talhe de palmeira. O favo da jati não era doce como seu sorriso; nem a baunilha recendia no bosque como seu hálito perfumado. Mais rápida que a ema selvagem, a morena virgem corria o sertão e as

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matas do Ipu, onde campeava sua guerreira tribo, da grande nação tabajara.” O narrador compara a personagem a elementos da natureza: os cabelos de Iracema são comparados à asa da graúna (ave) e realça o sentido negro. Também compara o sorriso de Iracema ao fato de ser mais doce que favo do jati (abelha que fabrica mel), ou seja, a índia apresenta um sorriso doce e simpático. Outra comparação é com a ema selvagem. Portanto, o narrador realça o sentido da jovialidade e agilidade da índia.

4) A organização dos discursos das personagens se assemelha ao modo de falar associado ao indígena. Uma marca disso é a preferência pela terceira pessoa: as personagens costumam se referir a si mesmas como se fossem outras, usando da terceira pessoa do discurso ao invés da primeira.

O narrador utiliza esse recurso, como mostra no Capítulo XXIII, na passagem: “Travou da mão do esposo, e impôs no regaço:- Teu sangue já vive no seio de Iracema. Ela será mãe do teu filho.Nessa passagem, a personagem faz referência a ela mesma, usando a terceira pessoa.

Boa tarefa Gisele! Teus parágrafos estão bem estruturados e as respostas adequadas.

REFERÊNCIAS

ALENCAR, José. Iracema. São Paulo: Scipione. 2003.

Material de Introdução aos Estudos Literários I. UFSM. 2010.

CONCLUSÃOIracema deixa perceber alguns aspectos que o Romantismo em geral e

especialmente o brasileiro assumiu: ao incorporar à linguagem do romance termos, maneiras de falar e o

imaginário tipicamente indígenas, e ao transfigurar a flora e a fauna locais, o autor demonstra claramente sua intenção de valorizar o homem e o espaço brasileiro nativo, conforme os ideais nacionalistas que identificaram sua geração;

a narrativa de Iracema idealiza o índio, apresenta-o com simpatia e piedade, exalta sua bravura, seu heroísmo e sua capacidade de sentir os mais nobres e profundos sentimentos, como a amizade, o amor e a fidelidade incondicional – tendência que também marcou a primeira geração romântica brasileira, haja vista a proposta poética de Gonçalves Dias já estudada;

quanto às técnicas de narração e de construção das personagens, o romance opta pelas formas mais tradicionais, ainda longe do tempo em que a perspectiva reduzida, focalizada do narrador e o mergulho na consciência complexa das personagens passam a ser privilegiados pelo romance;

o sentimentalismo intenso e o amor incondicional que fundamentam o relacionamento de Martim e Iracema são característicos da maneira como as relações amorosas costumam ser representadas na poesia e no romance românticos;

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tipicamente românticos também são o culto da natureza e a importância da paisagem, descrita de maneira idealizada, bela, exuberante;

o tom exaltado, os exageros que funcionam para idealizar ao máximo o mundo e o homem representados lembram também o estilo romântico, conforme o que explica Domício Proença Filho, em Estilos de época na literatura (1989): “o romântico não admite meio termo. As qualidades e os defeitos são radicalmente colocados”;

as metáforas e comparações que se abundam em Iracema são também uma marca da prosa romântica, que propende à multiplicação de imagens, ao estilo pitoresco.