ANÁLISE DE UM CICLO RANKINE ORGÂNICO...

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ANÁLISE DE UM CICLO RANKINE ORGÂNICO EMPREGANDO PENTANO COMO FLUIDO DE TRABALHO E RESÍDUOS AGRÍCOLAS COMO INSUMO ENERGÉTICO Tarcisio Meibak Tavares Pereira Projeto de Graduação apresentado ao Curso de Engenharia Mecânica da Escola Politécnica, Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Engenheiro. Orientadores: Prof. Alexandre Salem Szklo, D.Sc e Silvio Carlos Anibal de Almeida, D.Sc. Rio de Janeiro Setembro de 2017

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ANÁLISE DE UM CICLO RANKINE ORGÂNICO EMPREGANDO

PENTANO COMO FLUIDO DE TRABALHO E RESÍDUOS

AGRÍCOLAS COMO INSUMO ENERGÉTICO

Tarcisio Meibak Tavares Pereira

Projeto de Graduação apresentado ao Curso de

Engenharia Mecânica da Escola Politécnica,

Universidade Federal do Rio de Janeiro, como

parte dos requisitos necessários à obtenção do

título de Engenheiro.

Orientadores: Prof. Alexandre Salem Szklo, D.Sc

e Silvio Carlos Anibal de Almeida, D.Sc.

Rio de Janeiro

Setembro de 2017

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ANÁLISE DE UM CICLO RANKINE ORGÂNICO EMPREGANDO

PENTANO COMO FLUIDO DE TRABALHO E RESÍDUOS

AGRÍCOLAS COMO INSUMO ENERGÉTICO

Tarcisio Meibak Tavares Pereira

PROJETO FINAL SUBMETIDO AO CORPO DOCENTE DO DEPARTAMENTO DE

ENGENHARIA MECÂNICA DA ESCOLA POLITÉCNICA DA UNIVERSIDADE FEDERAL

DO RIO DE JANEIRO COMO PARTE DOS REQUISITOS NECESSÁRIOS PARA A

OBTENÇÃO DO GRAU DE ENGENHEIRO MECÂNICO.

Aprovado por:

_______________________________________________

Prof. Silvio Carlos Anibal de Almeida, D.Sc (Orientador)

_______________________________________________

Prof. Alexandre Salem Szklo, D.Sc (Orientador)

_______________________________________________

Prof. Thiago Gamboa Ritto, D.Sc

RIO DE JANEIRO, RJ - BRASIL

SETEMBRO de 2017

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Pereira, Tarcisio Meibak Tavares

Análise de um Ciclo Rankine Orgânico Empregando Pentano como Fluido de

Trabalho e Resíduos Agrícolas como Insumo Energético / Tarcisio Meibak

Tavares Pereira – Rio de Janeiro: UFRJ/ Escola Politécnica, 2017.

XII,80, p.:il.; 29,7 cm

Orientadores: Alexandre Salem Szklo e Silvio Carlos Anibal de Almeida.

Projeto de Graduação – UFRJ/Escola Politécnica/Curso de Engenharia

Mecânica, 2017.

Referências Bibliográficas: p. 80-86

1. Ciclo Rankine Orgânico. 2. Resíduos Agrícolas. 3. Pentano. I. Szklo,

Alexandre Salem. De Almeida, Silvio Carlos Anibal. II. Universidade Federal do

Rio de Janeiro, Escola Politécnica, Curso de Engenharia Mecânica. III. Análise

de um Ciclo Rankine Orgânico Empregando Pentano como Fluido de Trabalho e

Resíduos Agrícolas como Insumo Energético.

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“A persistência é o menor caminho do êxito”

Charles Chaplin

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Agradecimentos

Agradeço aos meus pais, Marília e Ricardo, pelo amor e apoio irrestritos, pelos ensinamentos

e valores transmitidos, pelo modelo que são, pela estrutura e sustento que com muito esforço

me proporcionaram e, principalmente, pela vida.

Ao meu irmão mais velho Marcelo, meu primeiro e melhor amigo, agradeço pela lealdade e

proteção de sempre, pelas brincadeiras, jogos, brigas e piadas internas, com quem amadureci

dividindo e convivendo durante tanto tempo.

Agradeço à minha amada namorada Gabrielle, simplesmente por tornar minha vida mais

alegre há tantos anos. Obrigado por sempre acreditar em mim, mesmo nos momentos mais

difíceis desta trajetória, por me dar força e estímulo, indispensáveis para eu seguir em frente.

Sua amizade, companheirismo, cumplicidade, amor e paciência foram essenciais, sobretudo

nestes últimos meses.

Não poderia deixar de agradecer aos meus orientadores Alexandre e Silvio, primeiramente

pela prontidão em aceitar tal responsabilidade e por terem acreditado em mim. Sou ainda mais

grato, no entanto, pela dedicação com que me conduziram à conclusão deste trabalho, com

excelentes feedbacks e ricas explicações e esclarecimentos, dando-me a clareza e motivação

para avançar e superar cada desafio enfrentado ao longo do processo.

A meus colegas da UFRJ, em especial à Clarissa, à Iasmin, à Íris, ao Iago, à Daniela, ao

Sandro, ao Vinicius e ao Mateus pelo tempo e convivência durante minha graduação. Graças

a vocês, este longo período de graduação pareceu mais curto. Agradeço ainda a meus amigos

que fiz ao longo da minha vida fora da faculdade, pelos tantos anos de amizade, cumplicidade

e suporte, tornando minha vida mais plena, divertida e sólida.

Por fim, agradeço a Deus por ter colocado em minha vida todas essas pessoas que tive a sorte

de conhecer e conviver, pelos obstáculos que só me fortaleceram, pela minha saúde e pelas

tantas conquistas e alegrias que vivi e viverei.

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Resumo do Projeto de Graduação apresentado à Escola Politécnica/UFRJ como parte

dos requisitos necessários para a obtenção do grau de Engenheiro Mecânico.

ANÁLISE DE UM CICLO RANKINE ORGÂNICO EMPREGANDO PENTANO

COMO FLUIDO DE TRABALHO E RESÍDUOS AGRÍCOLAS COMO INSUMO

ENERGÉTICO

Tarcisio Meibak Tavares Pereira

Setembro/2017

Orientadores: Alexandre Salem Szklo e Silvio Carlos Anibal de Almeida

Curso: Engenharia Mecânica

Diante do acelerado crescimento do consumo energético mundial e do impacto ao meio

ambiente devido à exploração e utilização de combustíveis fósseis, novas alternativas para a

obtenção de energia são cada vez mais buscadas, incentivadas e pesquisadas. É nesta

conjuntura que sistemas operando em ciclo Rankine orgânico se mostram excelentes

alternativas, através das quais fontes renováveis e descentralizadas, cuja combustão produz

calor de baixa e média temperatura, perfilam-se como recursos energéticos promissores, cujo

potencial pode ainda ser aperfeiçoado. O presente trabalho destina-se a avaliar o desempenho

termodinâmico de um ciclo Rankine orgânico utilizando-se de resíduos provenientes da

produção agrícola do Brasil, cujo aproveitamento é pouco explorado. Para isso, foi

desenvolvida uma ferramenta em Microsoft Excel, a qual ainda é capaz de mensurar o

potencial de geração de energia dos municípios que mais produzem commodities agrícolas,

consideradas as de maior relevância no país.

Palavras-chave: Ciclo Rankine Orgânico, Resíduos Agrícolas, Pentano.

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Abstract of Undergraduate Project Presented to POLI/UFRJ as a partial fulfillment of

the requirements for the degree of Mechanical Engineer

ANALYSIS OF AN ORGANIC RANKINE CYCLE EMPLOYING PENTANE AS A

WORK FLUID AND AGRICULTURAL WASTE AS ENERGY SUPPLY

Tarcisio Meibak Tavares Pereira

September/2017

Due to the rise of the world energy consumption and the implied impact on the environment

derived from the exploitation and use of fossil fuels, new alternatives for obtaining energy are

increasingly sought after, encouraged and researched. Hence, systems operating under organic

Rankine cycle (ORC) prove to be an excellent alternative. These systems allow the use of

renewable and decentralized sources whose combustion generates heat of low and medium

temperatures, being, thus, promising energy resources. This work aims at evaluating the

thermodynamic performance of an organic Rankine cycle using residues from agricultural

production in Brazil, whose use is still not explored. For this purpose, a tool was developed in

Microsoft Excel, which is also able to measure the power generation potential of the major

municipalities that produce the most important agricultural products in the country.

Key words: Organic Rankine Cycle, Agricultural Crop Residues, Pentane.

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Sumário

Lista de Figuras ................................................................................................................ x

Lista de Tabelas .............................................................................................................. xii

1. Introdução .................................................................................................................... 1

1.1 Objetivos ................................................................................................................. 4

1.2 Organização do Trabalho ........................................................................................ 4

2. Contextualização da Proposta ...................................................................................... 5

2.1 Biomassa ................................................................................................................. 5

2.2 Tecnologias de Conversão de Biomassa ................................................................. 9

2.2.1 Combustão Direta.......................................................................................... 10

2.3 Resíduos Agrícolas ............................................................................................... 14

2.3.1 Definição ....................................................................................................... 14

2.3.2 Aplicações e Utilidades ................................................................................. 14

2.3.3 Desafios ......................................................................................................... 15

2.3.4 Resíduos no Brasil ........................................................................................ 16

3. Ciclo Rankine Orgânico ............................................................................................. 20

3.1 Introdução ............................................................................................................. 20

3.2 Seleção do Fluido de Trabalho ............................................................................. 25

3.2.1 Propriedades Termodinâmicas ...................................................................... 26

3.2.2 Saúde, Segurança e Impacto Ambiental........................................................ 29

3.2.3 Disponibilidade e Custos............................................................................... 30

3.3 Pentano .................................................................................................................. 30

3.4 Comparação entre Ciclo Rankine Orgânico e Ciclo Convencional a

Vapor ................................................................................................................... 33

3.5 Fontes de Calor do ORC ....................................................................................... 38

4. Ferramenta de Análise Técnica do Ciclo ................................................................... 42

4.1 Configuração do Ciclo .......................................................................................... 42

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4.2 Modelo Matemático .............................................................................................. 44

4.3 Ferramenta Desenvolvida ..................................................................................... 45

4.3.1 Aba “Etapa 1 Análise do Ciclo ORC” .......................................................... 46

4.3.1.1 Guia ao Usuário ................................................................................................. 46

4.3.1.2 Equacionamento Básico da Ferramenta ............................................................ 51

4.3.2 Aba “Etapa 2 Análise do Ciclo Geral” .......................................................... 54

4.3.2.1 Guia ao Usuário ................................................................................................. 54

5. Estudo de Casos ......................................................................................................... 61

5.1 Caso A – Módulo ORC de 200kW, com o n-pentano no estado de

vapor saturado na entrada da turbina, uso de resíduos do milho ......................... 62

5.2 Caso B – Módulo ORC de 200kW, com o n-pentano no estado de

vapor saturado na entrada da turbina, uso de resíduos do arroz .......................... 68

5.3 Caso C – Módulo ORC de 1MW, com o n-pentano no estado de

vapor saturado na entrada da turbina, uso de resíduos do arroz .......................... 71

5.4 Caso D – Módulo ORC de 1MW, com o n-pentano no estado de

vapor superaquecido na entrada da turbina, uso de resíduos do arroz ................. 73

6. Conclusão ................................................................................................................... 78

Referências Bibliográficas .............................................................................................. 79

Anexo I ........................................................................................................................... 87

Primeira Lei da Termodinâmica ................................................................................. 87

Segunda Lei da Termodinâmica ................................................................................. 89

Anexo II .......................................................................................................................... 90

Listas dos Municípios Maiores Produtores do Produto Agrícola ............................... 90

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Lista de Figuras

Figura 1 – Rotas Tecnológicas para Geração de Energia [18] ................................................. 10

Figura 2 - Processos de Conversão para Geração de Energia [18] ........................................... 10

Figura 3 – Configuração básica de um ciclo Rankine [27] ...................................................... 20

Figura 4 – Faixas de potência e eficiência típicas de algumas máquinas térmicas [14]........... 21

Figura 5 – Faixas de potência e temperatura típicas de algumas máquinas térmicas [31] ....... 22

Figura 6 – Configuração básica de um ciclo Rankine orgânico [18] ....................................... 23

Figura 7 – Configuração de um ciclo Rankine orgânico com regenerador [18] ...................... 24

Figura 8 – Tipos de perfil das curvas de vapor saturado para diferentes fluidos [14].............. 26

Figura 9 – Curvas de saturação da água e de alguns fluidos refrigerantes [8] ......................... 34

Figura 10 – Configuração de um ciclo Rankine orgânico – biomassa [40] ............................. 39

Figura 11 – Configuração de um ciclo Rankine orgânico – energia solar [27] ........................ 40

Figura 12 – Configuração de um ciclo Rankine orgânico – energia geotérmica [27] .............. 41

Figura 13 – Configuração de um ciclo Rankine orgânico – calor residual de processos

industriais [27] .......................................................................................................................... 42

Figura 14 – Modelo Utilizado do Ciclo e sua Composição [27] .............................................. 43

Figura 15 – Configuração e diagrama T x s do Ciclo Rankine simples [32] ........................... 45

Figura 16 – Mapeamento dos 6 estados termodinâmicos existentes durante o ciclo Rankine

orgânico [42]............................................................................................................................. 47

Figura 17 – Aba “Etapa 1 Análise do Ciclo ORC” – interface dos campos de entrada ........... 47

Figura 18 – Aba “Etapa 1 Análise do Ciclo ORC” – Guia para intervalo aceitável para T4.... 48

Figura 19 – Aba “Etapa 1 Análise do Ciclo ORC” – Interface dos campos de saída .............. 49

Figura 20 – Aba “Etapa 1 Análise do Ciclo ORC” – Curva de saturação e gráfico do ciclo

ORC .......................................................................................................................................... 50

Figura 21 – Aba “Etapa 1 Análise do Ciclo ORC” – Legenda................................................. 51

Figura 22 – Aba “Etapa 1 Análise do Ciclo ORC” – Máxima eficiência possível .................. 51

Figura 23 – Dados do Equipamento [39] ................................................................................. 55

Figura 24 – Seleção do Produto Agrícola ................................................................................. 56

Figura 25 – Seleção do Município Dentre os Maiores Produtores da Produção Agrícola

Selecionada [26] ....................................................................................................................... 57

Figura 26 – Legenda da Aba “Etapa 2 Análise do Ciclo Geral” .............................................. 61

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Figura 27 – Caso A: Dados de Entrada .................................................................................... 62

Figura 28 – Caso A: Diagrama do Ciclo .................................................................................. 62

Figura 29 - Caso D: Dados de entrada ...................................................................................... 73

Figura 30 – Caso D: Diagrama do Ciclo .................................................................................. 73

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Lista de Tabelas

Tabela 1 – Comparação entre biomassa e petróleo [12] ............................................................. 6

Tabela 2 – Análise de alguns biocombustíveis e do carvão (base em massa) [13] .................... 7

Tabela 3 – Composição das cinzas de alguns dos produtos da biomassa e do carvão [13] ..... 11

Tabela 4 – Efeitos negativos de cada elemento no combustível no leito fluidizado [4] .......... 12

Tabela 5 – Série Histórica de Produção por Safras – Brasil (1.000 t/ano) [9] ......................... 17

Tabela 6 – Série Histórica de Área Plantada – Brasil (1.000 ha) [9] ....................................... 18

Tabela 7 – Quantidade de produto das lavouras primárias produzida em 2015 [26] ............... 19

Tabela 8 – Propriedades de aproveitamento dos resíduos agrícolas [9] ................................... 19

Tabela 9 – Funções dos equipamentos de um ciclo Rankine orgânico [11] ............................ 25

Tabela 10 – Custo e índices de impacto ambiental e segurança de alguns refrigerantes [32] .. 29

Tabela 11 – Comparação entre os ciclos Rankine orgânico e a vapor [27] .............................. 38

Tabela 12 – Análise dos Equipamentos Turboden [19] ........................................................... 55

Tabela 13 – Análise dos Produtos Agrícolas [9] ...................................................................... 56

Tabela 14 – Consumo elétrico por município [26][43] ............................................................ 58

Tabela 15 – Resultados da Combinação Equipamento/Biomassa/Município .......................... 58

Tabela 16 – Caso A: Dados de saída ........................................................................................ 64

Tabela 17 – Caso A: Dados do equipamento ........................................................................... 65

Tabela 18 – Caso A: Dados da biomassa ................................................................................. 66

Tabela 19 – Caso A: Resultados ............................................................................................... 67

Tabela 20 – Caso B: Dados da biomassa .................................................................................. 69

Tabela 21 – Caso B: Resultados ............................................................................................... 70

Tabela 22 – Caso C: Dados do equipamento ............................................................................ 71

Tabela 23 – Caso C: Resultados ............................................................................................... 72

Tabela 24 – Caso D: Dados de saída ........................................................................................ 74

Tabela 25 – Caso D: Dados do equipamento ........................................................................... 76

Tabela 26 – Caso D: Resultados ............................................................................................... 77

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1. Introdução

Nos últimos anos, o consumo de energia mundial tem-se elevado a níveis nunca antes

alcançados, liberando, no mesmo processo, grandes quantidades de CO2 na atmosfera.

Para se ter uma ideia, segundo dados da Agência Internacional de Energia, prevê-se que,

até 2030, em nível mundial, o crescimento da demanda por energia elétrica seja de

119% no setor residencial, 97% em serviços e 86% no segmento industrial, resultando

em uma produção de 30.364 TWh [1].

Já em âmbito nacional, dados da ANEEL revelam que a energia gerada em 2016 em

todo o território brasileiro foi de 539.270 GWh [2], e pesquisas realizadas pelo ONS

(Operador Nacional do Sistema Elétrico), em conjunto com a EPE (Empresa de

Pesquisa Energética), projetam para 2030 uma demanda do SIN (Sistema Interligado

Nacional) de 1.071.379 GWh [3].

Deve-se levar em conta, no entanto, que tal geração de energia elétrica, dependendo de

como é obtida, tem seus efeitos colaterais, comprometendo o meio ambiente de forma

significativa. Várias caldeiras, fornos e motores que queimam combustíveis fósseis

emitem poluentes gasosos, tais como SO2, NOx, CO, N2O, mercúrio e compostos

orgânicos voláteis (HC). Os ventos carregam esses poluentes a grandes distâncias, às

vezes criando problemas de poluição transfronteiriça. Alguns poluentes gasosos, como

o SOx, entram em reações químicas complexas com a umidade, catalisadas pela luz

solar, formando ácidos. Estes ácidos são então precipitados na terra por meio de chuvas

ácidas [4].

Sob a ótica de aquecimento global, usinas baseadas em combustíveis fósseis têm grande

influência nas alterações climáticas globais, uma vez que emitem gases que contribuem

com o efeito estufa, como CO2 [4]. Para se ter uma ideia, atualmente, a geração de

eletricidade contribui com cerca de 83% das emissões globais de gases de efeito de

estufa, devido à grande dependência do carvão [3].

Por último, a poluição por mercúrio contamina peixes em lagos, reservatórios e rios. A

ingestão de peixe contaminado com mercúrio, por exemplo, pode resultar em danos ao

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2

sistema nervoso humano, causando atrasos no desenvolvimento e dificuldades de

aprendizagem e colocando riscos especiais para crianças e mulheres em idade fértil [4].

A evolução da tecnologia energética, contudo, bem como as políticas energéticas e

climáticas, está conduzindo a um cenário de mudança global em direção à produção de

eletricidade com baixo teor de carbono [5], intensificando-se investimentos visando não

somente à redução da emissão de gases de efeito estufa e à maximização da eficiência

da conversão de energia, mas também a uma contribuição maior do uso de fontes

renováveis de energia.

Tais preocupações com as mudanças climáticas provavelmente incluirão, como

consequência, algumas melhorias nos atuais sistemas de energia: diminuição da

intensidade energética dos edifícios e da indústria; substituição de combustíveis fósseis

para eletricidade em aplicações como transporte e aquecimento; geração de energia

limpa por uma mudança maciça rumo a fontes renováveis (eólica, hídrica, solar,

biomassa, geotérmica etc.); e reforço da capacidade e transmissão das redes inter-

regionais para comportar flutuações diárias e sazonais [6].

Adicionalmente, outra significativa mudança que vem ocorrendo em conjunto com as

tendências supracitadas é a produção de energia elétrica descentralizada. Como o nome

já sugere, trata-se de energia produzida próxima de onde será utilizada, em oposição à

produzida em uma usina de grande escala, distribuída pela rede nacional [7].

Tal geração local reduz as perdas de transmissão e a emissão de carbono na atmosfera.

Além disso, a segurança do aprovisionamento de energia é aumentada em âmbito

nacional, uma vez que os clientes não necessitam partilhar uma oferta nem dependem de

grandes centrais elétricas, relativamente escassas e remotas.

É possível, ainda, se obter benefícios econômicos, uma vez que a energia

descentralizada, em longo prazo, poderá oferecer preços mais competitivos do que a

energia tradicional. Embora os custos iniciais de instalação possam ser maiores, uma

tarifa especial de energia descentralizada gera preços mais estáveis. Com isso, esta

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3

abordagem de fornecimento de energia com baixo teor de carbono possibilita promover

uma escolha de energia local, sustentável, competitiva e inteligente [7].

É diante deste cenário rumo à produção renovável e descentralizada de energia que

surgem, como excelentes alternativas, sistemas que operam sob o Ciclo Rankine

Orgânico (ORC). Estes sistemas transformam energia térmica em trabalho e envolvem

os mesmos componentes que uma central de vapor convencional (uma caldeira, um

dispositivo de expansão de produção de trabalho, um condensador e uma bomba). No

entanto, diferenciam-se pelo fluido de trabalho empregado, que é um componente

orgânico caracterizado por uma menor temperatura de ebulição que a água, permitindo,

assim, a geração de energia a partir de fontes de calor a baixas temperaturas,

proporcionando a geração de potência descentralizada e em pequena escala [8].

Tais aspectos tornam a tecnologia ORC mais adequada para a conversão de energia a

partir de fontes renováveis do que ciclos convencionais a vapor, pois o seu

aproveitamento é normalmente mais condicionado à localização do que os combustíveis

fósseis, além de sua temperatura ser mais baixa do que a obtida com combustíveis

tradicionais [8].

Dentre as diversas aplicações de um sistema ORC, o presente trabalho faz uma análise

mais aprofundada da conversão de energia a partir da biomassa, em especial da

proveniente de resíduos da produção agrícola no Brasil, dada a sua grande

disponibilidade e seus inúmeros benefícios, os quais serão descritos nos capítulos

subsequentes.

A utilização dos resíduos produzidos no Brasil, entretanto, necessita ainda de avaliações

acuradas e detalhadas sobre o seu potencial de recuperação economicamente viável,

assim como análises completas de seus ciclos de vida como produtos energéticos.

Apesar da escassez de informações disponíveis sobre estes parâmetros até o presente

momento, decorrente principalmente da ausência de interesse de sua utilização como

produto energético, os estudos neste sentido começam a ser desenvolvidos de forma

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4

mais consistente frente às expectativas da valorização destes resíduos para diversas

aplicações sustentáveis [9].

1.1 Objetivos

Tendo em vista o cenário de crescimento da demanda de energia e a preocupação com

os efeitos nocivos ao meio ambiente, este trabalho visa à análise do potencial de energia

elétrica gerada a partir de um sistema operando sob o Ciclo Rankine Orgânico,

utilizando o pentano como fluido de trabalho e empregando resíduos das produções

agrícolas mais significativas no Brasil como insumo energético. Para esse propósito, foi

desenvolvida uma ferramenta computacional, em plataforma Microsoft Excel, capaz de

simular o funcionamento do ciclo, permitindo ao usuário aperfeiçoar a produção

energética em função da escolha de um determinado resíduo, do equipamento utilizado -

e sua respectiva potência nominal -, e do município onde ele seria empregado, levando

em conta a sua disponibilidade e o seu potencial aproveitamento.

1.2 Organização do Trabalho

Este trabalho foi organizado em sete capítulos. No primeiro, é feita uma breve

introdução do tema proposto, identificando algumas motivações que levaram ao estudo

desta recente tecnologia, apresentando suas principais características e aplicações. Além

disso, são explicitados os objetivos que se ambicionam alcançar neste trabalho, assim

como é indicado um breve resumo de como ele foi organizado.

O segundo capítulo analisa aspectos da biomassa no mundo e mais especificamente no

Brasil. Também são introduzidas as tecnologias de conversão de biomassa, com

enfoque na combustão direta e seus principais desafios, por se tratar do método mais

utilizado em sistemas ORC. Além das propriedades da biomassa em questão, são

utilizados dados de produção dos produtos agrícolas primários fornecidos pelo IBGE e

apresentada uma estatística sobre o aproveitamento de seus respectivos resíduos.

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Já o terceiro capítulo aborda o Ciclo Rankine Orgânico, apontando suas principais

características e aplicações. Adicionalmente, são separadas seções específicas, as quais

ilustram os critérios de seleção do fluido de trabalho do sistema, contendo as principais

diferenças entre o Ciclo Rankine Orgânico e o Ciclo Rankine a Vapor, uma breve

descrição do pentano e as diferentes aplicações nas quais o ORC é empregado, com

foco especial naquela que utiliza a combustão de biomassa como fonte de calor.

O quarto capítulo é destinado ao equacionamento que foi utilizado em todo o trabalho,

onde são mencionadas as considerações quanto à configuração do sistema ORC e ainda

discorre sobre a ferramenta desenvolvida neste trabalho. Ainda neste capítulo, são

apresentados a estrutura da ferramenta, os parâmetros que são inseridos pelo usuário, os

resultados obtidos, seus significados e os cálculos realizados para alcançá-los.

O quinto capítulo apresenta os estudos de caso realizados. Foram analisados quatro

casos, sempre se alterando um parâmetro em relação ao caso anterior. Para cada um

deles, foram apresentados todos os parâmetros utilizados como dados de entrada na

ferramenta, assim como os resultados obtidos.

O sexto capítulo apresenta as conclusões a que chegou o estudo dos casos, além de

terem sido feitas propostas para futuros trabalhos, a fim de aprofundar as análises

realizadas em um sistema operando sob um Ciclo Rankine Orgânico utilizando-se da

combustão de resíduos da agricultura como fonte de calor.

Finalmente, o sétimo e último capítulo lista as referências bibliográficas consultadas

para a realização deste trabalho.

2. Contextualização da Proposta

2.1 Biomassa

Em termos energéticos, a biomassa pode ser considerada como qualquer matéria

orgânica de origem animal ou vegetal que possa ser utilizada na produção de energia.

Este tipo de fonte tem, como grande vantagem, a combustão direta em fornos e caldeiras

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com pouco impacto ambiental. Contudo, sua eficiência é reduzida se comparada a

outros tipos de conversão de energia [10].

A composição da biomassa se dá basicamente pelos elementos químicos C, H e O,

formando um hidrocarboneto, assim como os combustíveis fósseis. Entretanto, a

principal diferença é a alta concentração do oxigênio na formação da biomassa. A

presença deste átomo faz com que a biomassa requeira menos oxigênio do ar,

diminuindo a quantidade de energia a ser liberada e, consequentemente, reduzindo seu

Poder Calorífico Superior [11].

Esta redução do Poder Calorífico Superior se explica principalmente pelo nitrogênio.

Durante a combustão, o nitrogênio presente no ar – cuja concentração mássica (78,08%)

é consideravelmente alta – se comporta como um gás inerte e não reage com outros

elementos. Todavia, a presença de nitrogênio afeta bastante o resultado de um processo

de combustão, uma vez que este elemento inicia a combustão a baixas temperaturas e

em grande quantidade e, ao fim do processo, alcança temperaturas consideravelmente

mais altas, absorvendo uma grande proporção da energia liberada durante a combustão.

A tabela 1 ilustra a comparação entre as concentrações típicas dos principais elementos

constituintes de biomassa e do petróleo, além de comparar o Poder Calorífico das

referidas fontes de energia.

Tabela 1 – Comparação entre biomassa e petróleo [12]

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7

Observando-se a tabela 1, destaca-se a evidente correlação entre a elevada quantidade

de oxigênio na biomassa e seu consequente baixo poder calorífico.

As propriedades mais importantes do combustível que permitem uma primeira

impressão de seu potencial se dão pela sua composição, além do seu poder calorífico e

ponto de fusão das cinzas. A tabela 2 ilustra a composição de alguns produtos da

biomassa, juntamente com o carvão.

Tabela 2 – Análise de alguns biocombustíveis e do carvão (% em base mássica) [13]

Observando a tabela 2, percebe-se que, em comparação com o carvão, a biomassa

normalmente contém, percentualmente, menos carbono, mais oxigênio, mais potássio,

menos alumínio e menos ferro, além de possuir menor poder calorífico e maior

umidade. Além disso, a biomassa possui alta reatividade devido ao seu elevado

conteúdo de matéria volátil. Isto faz com que a biomassa inicie a ignição a partir de

baixas temperaturas e consuma até 90% de sua massa apenas nesse estágio.

A biomassa entrou no mercado de energia elétrica por ser considerada uma fonte

renovável, pois o ciclo de vida das plantas é relativamente curto. Adicionalmente,

quando deriva de cultivo ou floresta plantada, é uma fonte de menor impacto para

Mudanças Climáticas Globais, pois, durante seu crescimento, a planta absorve o CO2

que será liberado mais tarde. Assim, ela passou a ser considerada uma boa alternativa

para a diversificação da matriz energética mundial e passou a atrair o interesse de

desenvolvedores. A biomassa ainda tem uma parcela pequena do consumo energético

mundial, mas a tendência é de crescimento [10].

A biomassa encontra-se amplamente disponível em processos agrícolas e industriais,

tais como resíduos agrícolas ou indústria da madeira. A sua utilização, mais bem

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sucedida em nível local, deve-se principalmente a três motivos: à sua respectiva baixa

densidade energética, que aumenta os custos de transporte da biomassa; a sua produção

ser dispersa e descentralizada, novamente aumentando os custos de transporte; e ao fato

de a demanda por eletricidade e calor ser normalmente local, o que torna este tipo de

instalações particularmente adequado nos casos em que não existe ligação à rede ou em

que esta ligação não seja fiável. A produção local conduz, assim, a instalações menores

(< 1 MW), excluindo os ciclos de vapor tradicionais que não são economicamente

viáveis nem tão eficientes nesta gama de potência [14] [12].

Ademais, a biomassa oferece uma série de vantagens em relação a combustíveis fósseis.

Ela é considerada uma fonte de energia renovável com baixa ou nenhuma emissão de

CO2, se produzida de forma sustentável. Uma avaliação do balanço de CO2, por

exemplo, mostra que, comparada à combustão do carvão, a combustão de biomassa

pode reduzir as emissões de CO2 em até 93% [13].

Baixas emissões de SOx (responsável por chuvas ácidas) e NOx (outro gás de efeito-

estufa) são outros benefícios. A cinza alcalina da biomassa capta SO2 formado durante a

combustão e, portanto, também pode reduzir as emissões líquidas desse gás.

Adicionalmente, o teor de nitrogênio combustível na biomassa é em muitos casos menor

do que no carvão, além de poder ser convertido em amônia durante o estágio de pirólise

da combustão, diminuindo, assim, sua emissão.

Além disso, as culturas energéticas cultivadas para o crescimento sustentável da

biomassa podem ser um gerador de empregos, especialmente nas áreas rurais, assim

como podem ser fonte de energia para os países, reduzindo com isso as importações de

carvão.

É neste contexto que se insere no mercado a construção de novas plantas de ORC, visto

que esta é a única tecnologia comprovada para aplicações descentralizadas de produção

de energia até 1 MWe a partir de combustíveis sólidos como a biomassa [14].

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9

2.2 Tecnologias de Conversão de Biomassa

Os resíduos florestais, agrícolas, animais e a matéria orgânica contida nos resíduos

industriais e domésticos decorrem de matéria vegetal gerada por meio da fotossíntese,

que contêm energia química provinda da transformação energética da radiação solar e

pode ser liberada diretamente por combustão ou convertida em outras fontes energéticas

mais adequadas [9].

Uma ampla possibilidade de rotas de conversão energética da biomassa está disponível

e resulta em uma ampla variedade de produtos energéticos para a geração de calor, de

energia elétrica e de combustíveis para o transporte [9].

Existem três categorias das principais tecnologias de conversão de energia a partir da

biomassa: processos termoquímicos (combustão direta, gaseificação e pirólise),

processos bioquímicos e processos agroquímicos. Atualmente, os métodos mais

utilizados para converter a energia da biomassa em eletricidade são a gaseificação e

combustão direta, sendo este último o método utilizado em tecnologias ORC. Por essa

razão, será dada uma atenção especial ao processo de combustão [15][16][17].

As mencionadas rotas, que podem ser classificadas de acordo com a natureza de seus

processamentos primários, são apresentadas na figura 1.

Outra forma de classificação é pela fonte de biomassa e seus possíveis processos de

conversão. Como o conceito biomassa abrange uma grande gama de materiais, cada um

deve seguir por uma rota que melhor o processe, a fim de melhorar seu rendimento

energético ou se adequar a um tipo de usina. A figura 2 ilustra um diagrama

esquemático das rotas destes processos em função da fonte e classificação da biomassa.

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10

Figura 1 – Rotas Tecnológicas para Geração de Energia [18]

Figura 2 - Processos de Conversão para Geração de Energia [18]

2.2.1 Combustão Direta

A combustão é uma reação química exotérmica entre um combustível (o redutor) e um

oxidante, geralmente oxigênio atmosférico, liberando uma grande quantidade de energia

e gerando produtos oxidados, geralmente gasosos [19][20].

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11

Por meio da combustão de biomassa, o calor dessa reação pode ser transferido para um

fluido de trabalho, o qual é fornecido a um motor principal. As aplicações mais comuns

são o ciclo Rankine a vapor, com turbinas convencionais a vapor ou uma variedade de

diferentes máquinas a vapor, ou o ciclo Rankine orgânico, que se utiliza de um fluido

orgânico em vez de água como fluido de trabalho [15][16].

Na caldeira, onde ocorre a combustão, podem surgir alguns problemas relacionados às

cinzas no leito fluidizado (LF) devido à composição química da biomassa, os quais

serão analisados mais detalhadamente a seguir.

Antes de discorrer sobre eles, no entanto, vale estabelecer o conceito de cinza, que nada

mais é do que a parte inorgânica e não consumível do combustível que remanesce após

a combustão completa, contendo a fração mineral da biomassa original [13].

A tabela 3 ilustra a composição das cinzas de alguns dos produtos da biomassa,

juntamente com a composição das cinzas do carvão. Já a tabela 4 lista tais problemas,

relacionando-os aos elementos que compõem a biomassa.

Tabela 3 – Composição das cinzas de alguns dos produtos da biomassa e do carvão

(% em base mássica) [13]

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12

Tabela 4 – Efeitos negativos de cada elemento no combustível no leito fluidizado [4]

Com isso, a partir das tabelas 3 e 4, é possível destacar as adversidades mais prováveis,

em função da composição das cinzas. A obstrução e corrosão dos dutos, juntamente

com a deposição de partículas no fundo do leito (aglomeração), são os principais

desafios a serem evitados, os quais merecem adicional atenção:

• Aglomeração no fundo do leito:

Embora a queima em LF’s em princípio não contenha virtualmente nenhuma

cinza livre, a cinza liberada durante a combustão forma camadas em torno de

partículas inertes (geralmente areia de quartzo), sendo esta a principal razão de

problemas de aglomeração em LF’s [13].

< 𝑠𝑖𝑙𝑖𝑐a > + < a𝑙𝑐a𝑙𝑖 > = < 𝑚𝑖𝑠𝑡𝑢𝑟a 𝑒𝑢𝑡é𝑡𝑖𝑐a 𝑑𝑒 𝑠𝑖𝑙𝑖𝑐a𝑡𝑜 >

2 S𝑖O2 + Na2𝐶O3 = 2NaO . 2 S𝑖O2 + 𝐶O2 [4]

Maior inconveniente encontrado na queima de biomassa, a aglomeração, em casos

extremos, leva ao desligamento não programado da planta. Por isso, é o principal

problema a ser evitado neste processo [13].

É importante ressaltar que, apesar de a temperatura de fusão da sílica ser 1.450°C,

a mistura eutética, silicato, pode fundir a 874°C. Já em sais com potássio, a

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13

mistura se funde a 754°C. Esse fato abordado acima é um dos motivadores do

interesse do presente trabalho em se utilizar um ciclo Rankine orgânico (CRO)

para se trabalhar com a queima a temperaturas mais amenas [4][14].

• Obstrução dos dutos:

São depósitos, comumente caracterizados por camadas de materiais (cinzas)

coletadas na superfície dos equipamentos de transferência de calor.

As principais contribuições para tais incrustações provêm da fração inorgânica do

combustível, que é conhecida por causar graves problemas de deposição a

temperaturas moderadas e altas. Compostos alcalinos, tais como potássio e sódio,

são conhecidos por desempenhar um papel importante nos processos de

deposição, dado que, em biomassa, estes metais alcalinos são principalmente

presentes como compostos orgânicos ou simplesmente como sais e, portanto, são

facilmente liberados para a fase gasosa durante a combustão. Eles formam

silicatos alcalinos que se fundem a baixas temperaturas (podendo ser inferiores a

700°C), proporcionando assim uma superfície pegajosa para intensa deposição. A

taxa de deposição de cinzas de biomassa pode facilmente exceder a do carvão

devido ao alto teor de cinzas do combustível [13].

Como consequência, esse fenômeno contribui para a perda de transferência de

calor nos trocadores de calor, redução de temperatura do fluxo de massa do fluido

de trabalho e aumento de temperatura dos metais dos dutos, causando ou

acelerando sua corrosão [4][11][13].

• Corrosão:

Corrosão é a deterioração das propriedades intrínsecas de um material devido a

reações com o seu entorno. Pode ocorrer tanto diretamente por elemento em fase

gasosa, quanto por depósitos [13].

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14

O cloro contribui para aumentar o potencial de corrosão a quente, que ocorre em

leitos operando a altas temperaturas e pressões. Este elemento químico reage com

metais alcalinos formando cloro alcalino com baixo ponto de fusão, ocasionando

o mesmo efeito de obstrução e aglomeração, porém, devido à sua presença,

adiciona-se o efeito da corrosão [14].

2.3 Resíduos Agrícolas

2.3.1 Definição

Os resíduos agrícolas compreendem o material resultante das colheitas das culturas e

produções agrícolas. A sua retirada do terreno de cultivo para utilização em outros fins

deve ser realizada de maneira racional, pois quando permanecem na zona de plantio

exercem importante papel agrícola, que serão abordados ao longo desta seção [9].

Estes resíduos são constituídos basicamente das folhas e as hastes das plantas,

comumente chamados de palha e têm um Poder Calorífico Inferior (PCI) médio em

torno de 15,7 MJ/kg de matéria em base seca. A quantidade de resíduos agrícolas pode

ser consideravelmente elevada, representando, em geral, duas vezes mais a do produto

colhido [9].

2.3.2 Aplicações e Utilidades

Historicamente, esses materiais têm tido diversas aplicações e usos: como leitos e

alimentos para animais; como fonte de combustível doméstico e materiais de construção

em muitos países de baixa renda; como excelente substrato para o cultivo de cogumelos;

para a produção de papel; como fontes para extração de compostos orgânicos; ou

simplesmente são queimados ou deixados nos campos [21].

Contudo, como já mencionado, avanços científicos recentes permitem agora que os

produtores transformem resíduos agrícolas em combustíveis à base de biomassa, como

o etanol, ou para usá-los para gerar eletricidade. Em geral, segundo a ficha informativa

da Union of Concerned Scientists [22], “Turning Agricultural Residues and Manure into

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15

Bioenergy”, a agricultura americana poderia fornecer até 155 milhões de toneladas de

resíduos para produzir bioenergia em 2030. E por serem subproduto das atuais culturas

primárias, os resíduos podem ser usados para produzir energia sem a necessidade de

expandir a quantidade de agricultura terrestre agora ocupada [22].

Os resíduos também desempenham um papel importante na agricultura, protegendo o

solo contra a erosão e contra a perda de carbono, retendo a umidade do solo em regiões

áridas, além de servir como matéria-prima para o cultivo seguinte. Devem, portanto, ser

utilizados para a bioenergia somente em circunstâncias específicas e, mesmo assim,

apenas em determinadas escalas. A quantidade de resíduos que pode ser retirada

sustentavelmente varia de campo para campo, ou mesmo no próprio campo,

dependendo das condições do solo, a inclinação da terra, das práticas de gestão e do

clima regional, fazendo com que a proporção a ser deixada no campo seja normalmente

entre 30% e 60%. Isto porque a remoção excessiva de resíduos causa problemas (como

o aumento da erosão do solo) enquanto que sua não remoção pode impedir que o solo

venha a secar na primavera, dificultando plantações temporárias ou outras operações de

campo [21][22][23].

2.3.3 Desafios

Devido à baixa densidade mássica e energética dos resíduos agrícolas, o seu transporte

acaba se tornando o maior desafio a ser superado para o seu melhor aproveitamento,

visto que o tempo e energia (e, consequentemente, o custo) investidos para deslocar

grandes quantidades de volume trazem pouco retorno em termos de massa e energia.

Além do transporte, o estoque de resíduos pode se tornar um problema. Dependendo do

volume de matéria-prima envolvida, o seu armazenamento pode ser necessário durante

até seis meses a um ano, podendo estar sujeito a gelo, chuva, neve e/ou umidade.

Embalar fardos grandes e redondos com malha oferece alguma proteção contra os

elementos. O invólucro de malha e as lonas, obviamente, adicionam custos adicionais,

mas a perda de matéria prima evitada pode compensar os custos. O armazenamento

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16

interno é outra opção, embora resulte em fardos mais densamente embalados, o que

aumenta o risco de incêndio.

Técnicas de armazenamento inadequadas podem acarretar perda de biomassa

potencialmente significativa. Quanto mais tempo o resíduo permanece em estoque, mais

perdas devido à biodegradação aeróbia ocorrerão. Além disso, se a biomassa for

molhada, também haverá perdas, incluindo a emissão do metano, cujo efeito nocivo ao

meio ambiente no que tange ao efeito estufa é 21 vezes mais elevado do que o CO2,

considerando-se um horizonte de 100 anos. Tais emissões, quando adicionadas à

energia gasta na colheita, coleta e transporte podem resultar em emissões significativas

de gases de efeito estufa. Além de perdas e emissões de matéria-prima, os fardos

úmidos podem aquecer até o ponto em que o fogo se torna uma preocupação realista.

Os problemas apontados nesta seção são grandes motivadores para a utilização dos

resíduos próximos aos locais onde são colhidos, reduzindo o tempo e o custo de seu

aproveitamento, conjuntamente com as vantagens da já citada geração descentralizada

de energia, a qual também seria consumida no local.

2.3.4 Resíduos no Brasil

De acordo com as tabelas 5 e 6, observa-se que em 2010 as principais culturas agrícolas

do país foram, em ordem decrescente de importância, a cana-de-açúcar, a soja, o milho,

a mandioca, a laranja e o arroz, correspondendo a 94% da produção física e 78% da área

utilizada para plantio. Percebe-se ainda que a cana-de-açúcar, sozinha, correspondeu a

75% da produção física, ocupando apenas 14% da área destinada ao plantio,

evidenciando um considerável rendimento médio de 78 toneladas / hectare (enquanto

que a soja, por exemplo, segundo maior produtor nacional, teve um rendimento médio

de 3 toneladas / hectare).

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Tabela 5 – Série Histórica de Produção por Safras – Brasil (1.000 t/ano) [9]

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18

Tabela 6 – Série Histórica de Área Plantada – Brasil (1.000 ha) [9]

Ainda tendo como base as tabelas 5 e 6, o presente trabalho direciona seu foco às

principais lavouras temporárias do país, cuja participação na produção agrícola é

notavelmente maior. A exceção se faz à cana-de-açúcar dada a elevada densidade

energética do bagaço de cana (e, portanto, já há aplicações para esta matéria-prima) e a

alta temperatura de fusão de suas cinzas devido ao seu baixo teor de cinzas básicas

(sódio, cálcio e potássio), permitindo temperaturas muito superiores às das fontes

quentes dos sistemas ORC. Por estes motivos, este resíduo não será tratado no estudo

[24][25]. A partir deste momento, pois, serão analisadas apenas as culturas de soja,

milho, arroz, algodão, feijão, mandioca e trigo.

A tabela 7 indica a produção das referidas lavouras agrícolas no ano de 2015, ano

escolhido como referência para este estudo.

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Tabela 7 – Quantidade de produto das lavouras primárias produzida em 2015 [26]

Quanto aos seus resíduos agrícolas, objeto de estudo deste trabalho, a sua quantificação

é feita com base em seu índice de produtividade, o qual expressa a relação percentual

entre a quantidade total de resíduos gerados por hectare plantado de uma determinada

cultura e a quantidade de produto economicamente aproveitável [9]. Os diferentes

valores para o índice de produtividade dos resíduos estudados neste trabalho podem ser

observados na tabela 8.

Como já mencionado anteriormente, não se deve retirar todo o resíduo das áreas

plantadas devido à sua utilidade no solo. Essa proporção do quanto é recomendado

retirar é denominada fator de disponibilidade. Já a energia que poderá ser liberada como

forma de calor denomina-se poder calorífico inferior, o qual terá enorme importância

neste estudo. A tabela 8 aponta o poder calorífico inferior, assim como o fator de

disponibilidade dos resíduos analisados neste trabalho.

Tabela 8 – Propriedades de aproveitamento dos resíduos agrícolas [9]

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20

Toda a análise realizada neste trabalho se utiliza dos dados das tabelas 7 e 8, que

fornecem, na prática, a quantificação do potencial energético dos respectivos resíduos

agrícolas das produções agrícolas estudadas.

3. Ciclo Rankine Orgânico

3.1 Introdução

O Ciclo Rankine Orgânico (ORC – Organic Rankine Cycle) é uma variante do Ciclo

Rankine a Vapor (SRC - Steam Rankine Cycle), mas que, em vez de operar com a água,

conta com um fluido orgânico para realizar essa transformação de energia, o que exige

ou permite alterações nos equipamentos utilizados ao longo do ciclo, de forma a

beneficiar os aspectos econômicos, técnicos e operacionais.

A figura 3 mostra esquematicamente a configuração do ciclo básico Rankine, seja ele

orgânico ou a vapor:

Figura 3 – Configuração básica de um ciclo Rankine [27]

Enquanto o fluido utilizado pelo ciclo Rankine convencional é o vapor d’água,

conforme mencionado anteriormente, em sistemas ORC, o fluido empregado é

orgânico, podendo ser um hidrocarboneto ou uma gama de diferentes fluidos

refrigerantes, permitindo-se optar pelo que melhor se adequa às demandas do ciclo

projetado [11].

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21

Essa diferença fundamental do fluido de trabalho empregado, entretanto, modifica

completamente a sua aplicação. Em razão de estes fluidos orgânicos apresentarem baixo

ponto de ebulição e calor latente de vaporização em relação à água, o seu uso permite

uma evaporação a uma temperatura mais baixa e, consequentemente, um melhor

aproveitamento do calor cedido pela fonte quente [28]. Em outras palavras, a faixa de

temperatura da fonte de calor dentro da qual o sistema ORC opera é de 60°C e 200°C se

estiver trabalhando com fonte de baixa temperatura, podendo atingir 350°C se a fonte

for de média temperatura [29][30].

Por conta dessa grande amplitude de temperaturas admissíveis para o seu

funcionamento, o ciclo ORC vem desempenhando um importante papel em relação a

outras tecnologias de conversão de energia, já que possui uma quantidade considerável

de aplicações, trabalhando em uma extensa gama de potências e em diferentes e

variados regimes [28].

As figuras 4 e 5 mostram a gama de potência (10 kW - 3 MW), a faixa de temperatura

(abaixo de 400°C) e a eficiência (8% - 16%) em que costumam operar as máquinas

térmicas funcionando segundo um ORC.

Figura 4 – Faixas de potência e eficiência típicas de algumas máquinas térmicas [14]

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22

Figura 5 – Faixas de potência e temperatura típicas de algumas máquinas térmicas [31]

Nota-se que o fluido orgânico permite ao ciclo operar sob pressões muito inferiores às

do ciclo convencional que emprega vapor d´água (condensando a pressão ambiente, por

exemplo), permitindo, assim, instalações e equipamentos mais simples e baratos, cuja

resistência a altas tensões não se faz necessária.

Em plantas típicas de ciclo Rankine orgânico, dois ciclos térmicos são normalmente

utilizados: ciclo com óleo térmico e o ciclo com o fluido orgânico. O calor dos gases

exauridos da queima do combustível no ciclo primário é transferido para o óleo térmico

que, por meio de um trocador de calor, transfere o calor para o CRO, para que o fluido

orgânico se encontre na configuração de vapor saturado a uma dada pressão na entrada

da turbina e, dessa forma, gerando potência.

A figura 6 esquematiza os ciclos térmicos descritos acima e ilustra os respectivos

estados termodinâmicos no diagrama T-s de cada etapa, na forma mais simples de um

ciclo ORC.

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23

Figura 6 – Configuração básica de um ciclo Rankine orgânico [18]

Essa configuração ilustra todo o processo: em um primeiro momento, uma bomba

hidráulica proporciona, isentropicamente, pressão ao fluido, ainda em estado líquido (3-

4), conduzindo-o a um evaporador, onde será aquecido, isobaricamente (4-1), de modo a

tornar-se vapor saturado, isto é, vapor com temperatura igual à sua temperatura de

saturação na pressão em que se encontra. Em seguida, o vapor do fluido neste estado

termodinâmico percorre uma turbina (1-2), gerando nela movimento rotativo,

produzindo, assim, eletricidade, uma vez que a turbina está acoplada a um gerador.

Durante essa etapa, vapor do fluido se expande isentropicamente, reduzindo com isso

sua temperatura e pressão. Finalmente, após atravessar a turbina, o fluido é resfriado

isobaricamente (2-3), por meio de um condensador, o qual retorna o vapor ao estado

líquido, regressando à bomba e reiniciando, assim, o ciclo.

Diferentemente de um ciclo a vapor, as variações da configuração do ciclo Rankine

orgânico são muito limitadas. Por exemplo, a utilização de um reaquecedor na entrada

da turbina não é necessária, visto que a maioria das máquinas ORC utiliza como fluido

de trabalho, fluidos secos. Caso o superaquecimento seja necessário, o fluido orgânico

pode ser aquecido no próprio evaporador antes de ingressar na turbina. O sangramento

da turbina, tecnologia comum em turbinas a vapor, também não é aplicável a instalações

ORC, visto que a turbina destes sistemas tem, na maioria dos casos, somente um estágio

de expansão.

Contudo, apesar das poucas variações necessárias ao ciclo ORC, a instalação de um

recuperador entre a saída da bomba e a saída da turbina é uma prática comum nesse

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ciclo. Esta tecnologia faz com que o fluido entre no condensador como vapor saturado

(ou mais próximo da condição de saturação), permitindo reduzir a quantidade de calor

necessária para a vaporização do fluido de trabalho (além de reduzir a quantidade de

calor cedida no condensador) e, consequentemente, aumentando a eficiência do ciclo.

Por conta de suas vantagens e do seu relativo baixo custo, além de sua consequente

frequência de uso, foi considerada esta configuração, com a referida tecnologia, para a

elaboração da ferramenta empregada neste trabalho.

Na configuração com recuperador, ilustrado na figura 7, o fluido de trabalho, após sair

da bomba (ponto 4), ingressa no recuperador, onde é preaquecido pelo fluido advindo

da saída da turbina (ponto 2). Em seguida, é encaminhado para o evaporador (ponto 10),

dando continuidade ao ciclo.

Figura 7 – Configuração de um ciclo Rankine orgânico com regenerador [18]

A tabela 9 contém um resumo das funções dos equipamentos, assim como as

transformações ocorridas pelo fluido e a natureza de tais transformações:

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25

Tabela 9 – Funções dos equipamentos de um ciclo Rankine orgânico [11]

3.2 Seleção do Fluido de Trabalho

O desempenho de um Ciclo Rankine Orgânico é basicamente condicionado pelo fluido

de trabalho escolhido para a instalação. Sendo assim, a seleção do fluido orgânico tem

extrema importância no tipo e forma de aproveitamento alcançado pelo ORC,

constituindo-se a essência de toda esta tecnologia e assumindo-se como questão chave

para o sucesso deste tipo de ciclo [32].

Ao se selecionar o fluido com o qual a máquina térmica irá operar, pretende-se que ele

maximize a eficiência do ciclo e/ou a potência produzida. Entretanto, a escolha do

fluido não se resume tão somente às avaliações técnicas e termodinâmicas. Além das

análises referidas, também são avaliados os riscos ambientais, as questões de segurança

e de saúde pública, além dos aspectos econômicos, tornando todo o processo de seleção

muito mais criterioso e fundamentado [28].

Tendo todas estas considerações em mente, cabe uma avaliação mais detalhada das

características do fluido sob esses diferentes aspectos, que deve ser levada em conta, a

fim de se selecionar o(s) fluido(s) mais adequado(s) para cada aplicação.

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26

3.2.1 Propriedades Termodinâmicas

A seleção do fluido de trabalho com o qual o ciclo irá operar se dá primordialmente

pelas suas propriedades termofísicas, visto que tem grande influência em seu

rendimento.

A sua principal característica envolve o tipo de perfil da sua curva de vapor saturado em

um gráfico que relaciona a temperatura com a entropia. Levando em consideração a

variação de temperatura em função da variação de entropia (dT/ds), é possível observar

três categorias de fluido, conforme demonstrado na figura 8.

Figura 8 – Tipos de perfil das curvas de vapor saturado para diferentes fluidos [14]

Fluido isentrópico: possui sua derivada (dT/ds) infinita na região de vapor

saturado e o vapor se expande ao longo de uma linha vertical no diagrama T-s.

Mais especificamente, o vapor saturado na entrada da turbina permanece

saturado ao longo da expansão, até sua saída, não ocorrendo a sua condensação

nem tampouco o seu superaquecimento [8].

Fluido úmido: possui sua derivada (dT/ds) negativa na região de vapor saturado

e o vapor se condensa ao longo de sua expansão. Para contornar esse fenômeno,

o qual ocasionaria eventuais danos ao equipamento por erosão devido a uma

considerável quantidade de partículas em forma líquida, faz-se necessário o

superaquecimento do vapor na entrada da turbina. Isto ocorre, por exemplo, com

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27

ciclos Rakine convencionais, que empregam a água como fluido de trabalho, que

se enquadra nesta categoria [14].

Fluido seco: possui derivada (dT/ds) positiva na região de vapor saturado e o

vapor saturado torna-se superaquecido durante a sua expansão. É o caso dos

fluidos orgânicos empregados nos ciclos Rankine orgânicos, os quais não

apresentam o risco de erosão na turbina devido ao estado superaquecido em sua

saída [14]

Além do perfil da curva de saturação, a massa específica também é um parâmetro

fundamental, especialmente para fluidos com baixa pressão de condensação. A baixa

densidade implica uma alta vazão volumétrica, o que aumenta a perda de carga nos

trocadores de calor, o tamanho e o custo da máquina de expansão. Já a baixa

viscosidade, tanto na fase gasosa quanto na fase líquida, é fundamental para otimizar as

trocas de calor no ciclo e para reduzir as perdas de carga por atrito nos trocadores de

calor [15].

Ademais, ao contrário da água, fluidos orgânicos apresentam, em geral, problemas a

altas temperaturas, em que eles se decompõem ou deterioram. Deve ser escolhido,

portanto, um fluido que suporte as temperaturas e pressões de operação em todos os

processos do ciclo. Além disso, a substância orgânica deve manter-se fluida nas

temperaturas mais baixas do ciclo – na temperatura ambiente – para evitar o seu

congelamento [18].

Além das características essências supracitadas, outras propriedades muito importantes

devem ser consideradas para a seleção do fluido, a fim de se aumentar a eficiência e

reduzir eventuais complicações [11][33][34]:

A temperatura crítica do fluido de trabalho deve ser maior que a maior

temperatura de operação do ciclo, visando minimizar a irreversibilidade gerada

durante a transferência de calor em uma diferença finita de temperatura no ciclo.

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28

A pressão de condensação do fluido de trabalho deve ser maior que a pressão

atmosférica para que não haja penetração de ar para dentro do sistema.

O ponto triplo do fluido deve ser menor que a temperatura ambiente mínima

para assegurar que os fluidos de trabalho não venham a se solidificar em

nenhuma condição de operação ou durante o desligamento do ciclo.

No diagrama T-s, a curva de vapor saturado do fluido deve ser próxima da

vertical para que seja evitado superaquecimento excessivo na saída da turbina, o

que configuraria uma grande perda exergética.

A densidade do fluido de trabalho na entrada da turbina deve ser alta para que a

turbina atenda às pequenas dimensões e de forma a compensar o reduzido salto

entálpico específico do turbo-expansor.

O parâmetro de coeficiente de transferência de calor por convecção deve ser alto

devido às trocas de calor por convecção ocorridas nos trocadores de calor do

ciclo; o coeficiente é mais alto à medida que se eleva a condutividade térmica e

se reduz a viscosidade do fluido (a viscosidade na forma líquida e vapor dos

fluidos de trabalho deve ser baixa para minimizar quedas de pressão).

Os fluidos orgânicos não devem ser corrosivos para a maioria dos materiais

utilizados para os diferentes componentes do ciclo CRO, como dutos, turbina,

trocadores de calor e selos.

O fluido orgânico deve ser térmica e quimicamente estável ao operar em todas

as temperaturas e pressões do ciclo.

Nota-se, portanto, que a seleção do fluido não é um processo simples e muito menos

óbvia, visto que nenhum fluido satisfaz a todos esses requisitos. Além disso, são

medidas quantitativas e não qualitativas, ou seja, diferentes fluidos podem satisfazer a

certas condições, mas em níveis distintos.

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29

3.2.2 Saúde, Segurança e Impacto Ambiental

Além das propriedades termofísicas, que influenciam no desempenho técnico e

operacional, deve-se sempre levar em conta os impactos que os fluidos podem gerar ao

meio ambiente e à saúde a quem estiver exposto a eles.

O principal empecilho ao uso de uma grande quantidade de compostos orgânicos é o

impacto que causam na camada de ozônio. Algumas substâncias empregadas

principalmente como refrigerantes estão atualmente proibidas na utilização e produção,

exceto para aplicações especiais, como na indústria médica [27].

O critério para determinar a capacidade de uma substância de destruir a camada de

ozônio é chamado de ODP (Ozone Depletion Potential). A medida padrão é o potencial

destrutivo do R-11, igual a 1. O valor de 0 significa nenhum dano provocado ao ozônio,

portanto, quanto menor o ODP menos nociva é a substância à camada de ozônio

[27][35]. A Tabela 10 exibe o ODP de alguns fluidos orgânicos.

Tabela 10 – Custo e índices de impacto ambiental e segurança de alguns refrigerantes [32]

O parâmetro que determina o quanto uma determinada quantidade de gás contribui para

o aquecimento global é o GWP (Global Warming Potential). É uma medida relativa que

compara o gás em questão com a mesma massa de dióxido de carbono, cujo GWP é

igual 1 [27][35]. A Tabela 10 exibe o GWP de alguns fluidos orgânicos.

Além dos efeitos nocivos ao meio ambiente, os efeitos nocivos à saúde também devem

ser considerados. Por isso, o fluido de trabalho de um ciclo Rankine orgânico não deve

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30

ser corrosivo, tóxico ou inflamável, nem deve apresentar índices de autoignição

elevados. Estas características são fundamentais para garantir a segurança, não só dos

envolvidos na operação do sistema, como de todos os que vivem próximo à instalação

[27].

A classificação de segurança ASHRAE (American Society of Heating, Refrigerating,

And Air-Conditioning Engineers) dos refrigerantes é o indicador utilizado para medir o

nível de periculosidade [27][30]. A Tabela 10 exibe o índice de segurança de alguns

fluidos orgânicos.

3.2.3 Disponibilidade e Custos

Finalmente, ao se selecionar o fluido a ser empregado, deve-se optar por fluidos

disponíveis no mercado, preferencialmente por fluidos amplamente difundidos. Além de

facilitar a busca em si pelo fluido, produtos produzidos em larga escala são em geral

menos custosos. Além disso, fluidos extensivamente usados são também preferíveis

devido à compatibilidade e adequação dos equipamentos empregados em conjunto com

eles. A Tabela 6 mostra os custos de alguns fluidos orgânicos [27].

3.3 Pentano

Com foco nas propriedades abordadas, o presente trabalho simula, avalia e dá especial

atenção a sistemas ORC operando com o pentano por conta da disponibilidade de suas

tabelas termodinâmicas e por sua ampla utilização no mercado. Por essa razão, vale

destacar suas principais características e propriedades, as quais serão descritas ao longo

desta seção.

O pentano é um hidrocarboneto com 5 carbonos e 12 hidrogênios, cuja fórmula química

é C5H12. Existem três isômeros do pentano: o n-pentano (IUPAC: pentano), o iso-

pentano (IUPAC: metil butano) e o neo-pentano (IUPAC: dimetil propano) [37].

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31

Este hidrocarboneto tem aparência líquida e incolor e seus pontos de ebulição, fusão e

fulgor são de 36,1°C, -129,8°C e -49°C, respectivamente. Ademais, a sua massa

molecular é de 72,15 g/mol, enquanto que sua densidade é, em seu estado líquido, 0,626

g/cm³ e sua solubilidade tem o valor de 0,01 g/100 mL (20°C) [36].

O pentano possui ótimas vantagens para o seu uso como líquido de trabalho em um

ciclo Rankine orgânico. Sua curva T-s apresenta a expansão seca, que evita a

condensação dentro da turbina. Ele também é de fácil obtenção e baixa viscosidade,

tendo baixas perdas de carga em tubulações, evaporador, condensador e bomba. Além

disso, entre os fluidos mais estudados para este tipo de ciclo, o pentano possui um dos

melhores rendimentos líquidos [18].

Contudo, no que diz respeito aos fatores de risco à saúde e ao meio ambiente, o pentano

é um fluido a que deve ser dada sua devida atenção, pois além de altamente inflamável,

a exposição ao produto acarreta graves consequências.

Segundo a FISPQ - Ficha de Informação de Segurança de Produto Químico, da

Refinaria de Petróleo Rio-grandense, as principais possíveis consequências à saúde de

quem está exposto ao produto são [37]:

• Inalação: a inalação de vapores pode provocar sonolência, vertigem, irritação

no trato respiratório, náuseas, vômitos e perda de consciência. Exposições

repetidas e prolongadas a elevadas concentrações de vapor podem produzir

danos no sistema nervoso central;

• Ingestão: se ingerido pode causar dano pulmonar. A aspiração aos pulmões

pode causar pneumonite;

• Pele: a exposição repetida pode provocar secura ou formação de rachaduras

na pele;

• Olhos: a exposição a vapores ou ao líquido pode causar irritação, dor e

vermelhidão.

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32

O pentano também representa riscos ao meio ambiente. Ainda de acordo com o mesmo

documento, seus efeitos são [37]:

• Ar: os vapores do produto tornam o ambiente extremamente explosivo e são

prejudiciais ao meio ambiente;

• Água: sua volatilização do curso d´água deverá ser rápida. O produto e a

água resultante do combate ao fogo e de diluição podem transmitir

qualidades a água que limitam o seu uso e, por isso, também são prejudiciais

à fauna e à flora aquática;

• Solo: o produto derramado sobre o solo na maior parte evaporará, porém em

parte poderá percolar e contaminar o lençol freático. O produto é

biodegradado no solo.

Por conta desses riscos, a classificação do pentano é: Extremamente inflamável (F+),

Nocivo (Xn) e Perigoso para o ambiente (N) e suas frases de risco e segurança são:

Frases de Risco:

R – 12 = Extremamente inflamável.

R—65 = Nocivo, se ingerido pode causar dano pulmonar

R- 66= A exposição repetida pode provocar secura ou formação de rachadura na pele.

R-67= A inalação de vapores pode provocar sonolência e vertigem.

R51/53= Tóxico para os organismos aquáticos, pode provocar, a longo prazo, efeitos

negativos ao ambiente aquático.

Frases de Segurança:

S – 9 = Conservar o recipiente em local bem ventilado

S – 16 = Manter afastado de qualquer chama ou fonte de faísca. Não fumar.

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33

Por conta dessa classificação e conforme já observado na seção 2.3 deste trabalho, o

pentano normalmente não se mostra a escolha mais adequada como fluido de trabalho

para as aplicações da tecnologia ORC, apesar de suas vantagens termofísicas detalhadas

anteriormente.

De fato, o fluido que mais tem sido utilizado em aplicações com biomassa é o

Octametiltrisiloxano (OMTS) [1028]. No entanto, estudos [34] revelam que as

eficiências térmica e global do sistema são relativamente baixas quando o OMTS é

utilizado nessas aplicações.

Como consequência, devem ser definidos fluidos de trabalho mais adequados, levando

em consideração a disponibilidade de fontes de calor de alta temperatura [38]. Nesse

sentido, o presente trabalho analisa o comportamento de um ciclo ORC operando com o

pentano (apesar do relativamente alto grau de risco à saúde e ao meio ambiente), a fim

de se avaliar sua aplicabilidade e valia em sistemas que dispõem da combustão de

biomassa como fonte de calor.

3.4 Comparação entre Ciclo Rankine Orgânico e Ciclo Convencional a

Vapor

Como exposto anteriormente, a grande diferença entre o Ciclo ORC e um ciclo Rakine a

vapor se dá pelo fluido de trabalho. Ao contrário do ciclo a vapor, que emprega, como o

nome sugere, vapor d´água, o ciclo orgânico se utiliza de fluidos orgânicos,

normalmente hidrocarbonetos ou refrigerantes [10].

A figura 9 ilustra o perfil de saturação em um diagrama T-s de alguns dos fluidos mais

utilizados em ciclos Rankine orgânicos, juntamente com o da água.

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34

Figura 9 – Curvas de saturação da água e de alguns fluidos refrigerantes [8]

Essa única variação resulta em muitas outras diferentes características e aplicações entre

os sistemas, fazendo com que o Ciclo ORC apresente vantagens e desvantagens em

relação ao ciclo Rankine a vapor ou outras máquinas térmicas.

Superaquecimento: conforme mencionado anteriormente, os fluidos orgânicos mantêm-

se superaquecidos à medida que ocorre a expansão na turbina, dessa maneira o

superaquecimento do fluido não é requerido, ao contrário do que ocorre em ciclos

Rankine convencionais. A ausência de fluido na fase de mistura saturada também reduz

de maneira eficaz a corrosão nas pás da turbina, o que aumenta a vida útil dessas pás

para 27-30 anos em vez de 15-20 anos, como nas turbinas convencionais [11].

Temperatura na entrada da turbina: devido ao fato de que o ORC opera a temperaturas

mais baixas do que as do ciclo convencional, a temperatura de entrada da turbina é

menor do que a do ciclo convencional. Tal fato reduz as tensões térmicas nas pás da

turbina, logo simplificando seu projeto. Esta é uma vantagem para aplicações em áreas

remotas do Brasil [11].

Projeto da turbina: turbinas operando em um ciclo Rankine convencional trabalham

com uma maior queda entálpica do fluido de trabalho, o que usualmente leva à

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35

necessidade de mais de um estágio de expansão na turbina, aumentando a sua

complexidade, tempo de manutenção e tamanho. Como o ORC opera com quedas

entálpicas menores, torna-se viável a utilização de apenas um estágio operando a

menores rotações. Este fato, além de reduzir tensões de fadiga do material, permite o

acoplamento diretamente ao gerador, tornando desnecessário um redutor de velocidades

[11].

Caldeira: como o ORC trabalha a menores temperaturas do que o ciclo tradicional, a

caldeira está sujeita a menos tensões térmicas. Logo, a caldeira pode possuir menores

dimensões ao ser comparada com as do ciclo tradicional [11].

Temperatura de evaporação: devido ao fluido de trabalho do ORC possuir menor

temperatura de ebulição, favorece-se a utilização de uma maior gama de fontes de calor

a menores temperaturas [11]. Além disso, pode-se garantir que a combustão da

biomassa não levará a temperaturas acima daquela de fusão das cinzas.

Estas vantagens técnicas resultam em conveniências operacionais, muitas delas

essenciais ao favorecimento desta tecnologia na agroindústria, em zonas rurais do

Brasil. Por conta disso, vale enumerar todos os benefícios, de forma geral e resumida

[27] [14] [10] [18] [11] [39]:

• Baixa perda de eficiência em regime de carga parcial (até 10% de sua carga

nominal) e boa resposta no arranque do ciclo, devido à ampla faixa de

temperatura do fluido de trabalho permitida ao seu funcionamento;

• Bom rendimento, mesmo a baixas temperaturas;

• Extremamente elevado rendimento da turbina;

• Reduzida fadiga mecânica dos componentes da turbina devido à menor

velocidade de rotação do rotor;

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36

• Menor velocidade de rotação das turbinas permite o acoplamento direto de

um gerador sem redutor;

• Expansão seca;

• Reduzida erosão das pás da turbina devido à expansão seca;

• Ausência de problemas de corrosão devido à característica não corrosiva do

fluido;

• Operação automática de inicialização e desligamento;

• Operação totalmente automática com baixos custos de manutenção e

operação;

• Temperatura e pressão máximas mais baixas (de aproximadamente 300ºC e 1

MPa, respectivamente);

• Período de vida útil alargado;

• Instalação econômica;

• Solução construtiva compacta, robusta e confiável;

• Baixa emissão de ruídos;

• Não é necessário sistema de tratamento de água;

• Ausência de necessidade de pessoal qualificado para operar o sistema,

significando também que clientes com baixa capacitação técnica possam

avaliar o investimento com facilidade.

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37

Vantagens como o bom funcionamento em regime parcial (devido à sazonalidade das

produções agrícolas), o bom rendimento operando em baixas temperaturas, a redução de

desgastes físicos e mecânicos (diminuindo a necessidade de sua manutenção e

aumentando sua vida útil), a sua simplicidade (reduzindo o custo de instalação, e

operação) e o seu reduzido tamanho (principalmente se comparado a usinas a vapor)

tornam esta tecnologia excelente para instalações locais baseadas em resíduos agrícolas.

Contudo, apesar de todas as vantagens supracitadas, nem sempre esta tecnologia se

mostra mais adequada a determinadas aplicações, justificando o emprego do ciclo

convencional em muitos outros casos. As principais vantagens dos ciclos a vapor

relativamente ao ORC são:

• Consumo da bomba: a diferença de entropia entre o líquido saturado e o

vapor saturado é muito menor para fluidos orgânicos, consequentemente, a

entalpia de vaporização também é menor. Assim, para uma mesma carga

térmica no evaporador, a vazão mássica do fluido orgânico deve ser maior

que a da água, o que conduz a um maior consumo de potência pela bomba

[27];

• Eficiência: a eficiência dos ciclos Rankine orgânicos em alta ou baixa

temperatura não excede 24%. Já os ciclos Rankine tradicionais apresentam

uma eficiência térmica maior que 30%, mas com configuração mais

complexa em termos de tamanho e número de componentes [27] [8].

• Características do fluido: a água como fluido de trabalho é muito

conveniente quando comparada aos fluidos orgânicos. Apresenta bom custo-

benefício e alta disponibilidade, é um fluido não tóxico, não inflamável e

não nocivo ao meio ambiente, é estável quimicamente e possui baixa

viscosidade [27] [32].

Em função do exposto acima, a escolha da tecnologia a ser empregada para a obtenção

de eletricidade a partir de uma fonte de calor deve levar em conta as peculiaridades de

cada uma, tendo como fator de restrição a temperatura disponível da fonte quente, a

potência a que se visa gerar e o montante disponível para investimento.

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38

Em geral, o ORC se mostra mais adequado para aplicações de baixa e média potência,

tipicamente menores do que 3 MWel, visto que plantas de pequena escala requerem

componentes simples e de baixo custo e operação automatizada. Para potências mais

elevadas, o ciclo a vapor se torna mais vantajoso [27]. A tabela 11 sintetiza as vantagens

citadas de cada ciclo.

Tabela 11 – Comparação entre os ciclos Rankine orgânico e a vapor [27]

3.5 Fontes de Calor do ORC

Conforme já mencionado, a tecnologia ORC se mostra uma excelente alternativa para

gerar energia a partir de uma fonte de calor a baixa temperatura, não tendo de fato uma

restrição quanto à sua proveniência. Em função disso, essa tecnologia tem quatro

diferentes grandes áreas de aplicação, sempre aproveitando calor a baixas temperaturas:

a biomassa, energia geotérmica, energia solar e o calor residual de processos industriais

(Waste Heat Recovery - WHR).

Biomassa:

A biomassa é um recurso de energia renovável perfeitamente adaptado à

produção combinada de energia sob a forma de calor e eletricidade em pequena

escala. Encontra-se disponível em processos agrícolas e industriais e em

resíduos urbanos. A principal vantagem da construção de plantas ORC -

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39

biomassa reside no potencial energético e na grande disponibilidade dos

resíduos de biomassa em nível mundial.

O calor da combustão é transferido dos gases de exaustão para o fluido

intermediário (óleo térmico) por meio do trocador de calor, sob uma temperatura

que varia entre 150 e 320°C. O óleo térmico é então direcionado ao loop ORC

para evaporar o fluido de trabalho a uma temperatura um pouco inferior a 300°C

[14][27]. A figura 10 esquematiza o ciclo ORC – biomassa.

Figura 10 – Configuração de um ciclo Rankine orgânico – biomassa [40]

Energia Solar:

É a energia térmica sob a forma de radiação advinda da luz emitida pelo sol.

Essa energia, quando chega à superfície terrestre, tem um valor aproximado de

750 W/m2. Mesmo com uma elevada quantidade de energia solar disponível, a

quantidade de energia elétrica gerada a partir de luz solar é muito pequena

quando comparada ao consumo de energia mundial [14][27][35][41].

A concentração de energia solar é uma tecnologia já testada e comprovada: o Sol

é monitorado, a luz solar é concentrada através de espelhos ou lentes num

coletor linear ou pontual, transferindo-se o calor para um fluido que, em seguida,

será utilizado no ciclo de produção de energia elétrica. Os captadores mais

utilizados são os concentradores parabólicos, os concentradores lineares, os

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40

sistemas de recepção central (torres solares) e os discos parabólicos

[14][27][35][41]. A figura 11 esquematiza o ciclo ORC – energia solar.

Figura 11 – Configuração de um ciclo Rankine orgânico – energia solar [27]

Energia Geotérmica:

É a energia subterrânea emitida a partir do centro da Terra. Seu aproveitamento

para os processos de aquecimento e/ou eletricidade se dá por meio do fluido

geotérmico (predominantemente composto por água), o qual é bombeado direta

ou indiretamente ao evaporador, onde aquecerá o fluido orgânico [27].

A temperatura da Terra aumenta com o aumento da profundidade. Próximo à

superfície, o gradiente geotérmico médio é cerca de 25°C/km. O fluxo de calor

da Terra varia de um lugar para outro na superfície, e com o tempo num

determinado local [41].

Fontes de calor geotérmicas estão disponíveis em uma ampla gama de

temperaturas, de algumas dezenas de graus até 300°C. O atual limite tecnológico

inferior para geração de energia é cerca de 80°C: Abaixo dessa temperatura, a

eficiência de conversão torna-se muito pequena e usinas geotérmicas passam a

não ser rentáveis economicamente [8][27][41]. A figura 12 ilustra o ciclo ORC –

energia geotérmica.

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41

Figura 12 – Configuração de um ciclo Rankine orgânico – energia geotérmica [27]

Calor Residual de Processos Industriais:

O calor residual é o calor gerado durante o processo de combustão ou qualquer

outro processo térmico/químico, que é rejeitado diretamente para atmosfera. Os

processos industriais, bem como motores térmicos e equipamentos mecânicos

produzem grandes quantidades de calor residual [27].

Alguns segmentos industriais apresentam particularmente um alto potencial para

a recuperação de calor residual. Dentre eles, está a indústria de cimento, na qual

40% do calor é perdido nos gases de exaustão. Estes gases são liberados nos

processos de preaquecimento do calcário e na produção de clínquer, com uma

temperatura que varia entre 215 e 730°C. Além das cimentarias, as siderúrgicas,

as indústrias de ferro, as refinarias e as indústrias químicas também são fortes

candidatas à implantação de sistemas de recuperação de calor residual

[6][27][32]. A figura 13 ilustra o ciclo ORC utilizando-se do calor residual de

processos industriais.

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42

Figura 13 – Configuração de um ciclo Rankine orgânico – calor residual de processos

industriais [27]

4. Ferramenta de Análise Técnica do Ciclo

4.1 Configuração do Ciclo

Nesta seção, pretende-se explicar e fundamentar todas as formulações consideradas,

bem como critérios e decisões tomadas relativamente a cada um dos parâmetros

envolvidos, que sustentam o modelo matemático que simula o desempenho do ciclo de

Rankine orgânico.

Para a formulação do ciclo, introduziu-se o conceito de rendimento isentrópico dos

equipamentos, a fim de avaliar o desempenho do ciclo de forma mais precisa, uma vez

que existem irreversibilidades em cada um dos processos termodinâmicos, tais como

expansão não-isentrópica (na turbina) e compressão não-isentrópica (na bomba). Além

disso, levaram-se em conta as perdas de calor no sistema, cedido ao ambiente, durante

as trocas térmicas no evaporador, no condensador e na caldeira, além de perdas

mecânicas no gerador acoplado à turbina. Por fim, desprezaram-se as perdas de carga

nos tubos, além das perdas de calor para o ambiente na turbina, na bomba e no

regenerador.

Ao longo deste trabalho, foi considerado o arranjo do ciclo ORC mais utilizado e

comercializado no mercado, que é o arranjo simples acrescido de um recuperador. O

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43

incremento deste equipamento no ciclo tem ótima relação custo-benefício, tornando a

escolha adequada e contextualizada. A figura 14 representa a disposição implantada.

Figura 14 – Modelo Utilizado do Ciclo e sua Composição [27]

A vantagem da utilização de um recuperador se deve pela sua capacidade de aumentar a

eficiência do ciclo. Isto se explica pela equação da eficiência térmica do ciclo:

ɳ𝑡ℎ = 𝑊𝑙𝑖𝑞

𝑄𝑒

Por definição, em um ciclo termodinâmico, o trabalho líquido gerado (ou consumido) é

igual ao calor líquido absorvido (ou cedido). Ou seja,

𝑊𝑙𝑖𝑞 = 𝑄𝑙𝑖𝑞 = 𝑄𝑒 − 𝑄𝑠

A equação da eficiência pode ser expressa, portanto, da seguinte forma:

ɳ𝑡ℎ =𝑄𝑒 − 𝑄𝑠

𝑄𝑒= 1 −

𝑄𝑠

𝑄𝑒

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44

Através do recuperador, o fluido na saída da turbina cede calor ao fluido na saída da

bomba de tal forma que o calor do sistema é reaproveitado no ciclo, reduzindo seu valor

rejeitado ao ambiente pelo condensador. Em outras palavras, pela equação da eficiência,

o recuperador reduz o valor de Qs para um mesmo valor de Qe, reduzindo o módulo da

parcela que está sendo subtraída, aumentando, assim, o valor da eficiência.

4.2 Modelo Matemático

Com o intuito de contabilizar as irreversibilidades e obter um rendimento global do

ciclo mais realista, introduziu-se nos cálculos o rendimento isentrópico da turbina

(ɳturbina) e da bomba (ɳbomba), conforme equacionado abaixo.

ɳ 𝑡𝑢𝑟𝑏𝑖𝑛𝑎 =ℎ3 − ℎ4

ℎ3 − ℎ4𝑠

ɳ 𝑏𝑜𝑚𝑏𝑎 =ℎ2𝑠 − ℎ1

ℎ2 − ℎ1

onde o índice s se refere ao valor da entalpia isentrópica, ou seja, a entalpia ideal, obtida

caso não haja perdas ao longo do processo. A figura 15 ilustra bem a diferença entre os

processos de expansão isentrópica e expansão com irreversibilidades.

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45

Figura 15 – Configuração e diagrama T x s do Ciclo Rankine simples [32]

4.3 Ferramenta Desenvolvida

Com o propósito de estudar aparelhos operando sob o ciclo ORC empregando o pentano

como fluido de trabalho e combustão de biomassa como fonte de calor, foi elaborada

uma ferramenta computacional, em Microsoft Excel, que simula o ciclo sob diferentes

condições definidas pelo usuário. O software foi escolhido por se tratar de um programa

capaz de realizar operações complexas de maneira simplificada, com interface amigável

ao usuário, por ocupar pouca memória em relação a outras plataformas e,

principalmente, por ser amplamente difundido no mundo, podendo ser utilizado

facilmente.

Vale ressaltar, no entanto, que, devido à função “Interpolar” criada no trabalho, o

usuário deverá sempre habilitar Macros ao abrir o arquivo a fim de garantir o seu

completo funcionamento.

O arquivo possui 21 abas ocultas, auxiliares para cálculo, e duas abas visíveis ao

usuário, onde os dados de entrada serão inseridos e os resultados serão exibidos ao

usuário. Estas abas são:

“Etapa 1 Análise do Ciclo ORC”

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46

“Etapa 2 Análise do Ciclo Geral”

As próximas sessões descreverão detalhadamente as funções dessas abas, a importância

de cada um dos dados de saída gerados pela ferramenta e os cálculos feitos para obtê-

los.

4.3.1 Aba “Etapa 1 Análise do Ciclo ORC”

4.3.1.1 Guia ao Usuário

Nesta aba, o usuário obterá os valores das propriedades intensivas do fluido

atravessando os diferentes estágios do ciclo ORC. Para isto, deverá apenas fornecer as

condições sob as quais o ciclo ORC irá operar, definindo apenas algumas variáveis e

atribuindo valores de sua escolha. Todos os outros valores serão gerados a partir dos

condicionantes iniciais. As variáveis que deverão ser definidas pelo usuário são:

Eficiência Isentrópica da bomba;

Eficiência Isentrópica da turbina;

Temperatura a que está submetido o pentano ao entrar na turbina;

Pressão a que está submetido o n-pentano ao entrar na turbina;

Pressão a que está submetido o n-pentano ao sair da turbina.

A figura 16 relaciona os seis estados termodinâmicos em que o fluido se encontra, ao

longo dos diferentes estágios do ciclo, com os números 1, 2, 3, 4, 5 e 6, enquanto a

figura 17 retrata a interface de como os valores de entrada listados acima estarão

dispostos ao usuário:

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47

Figura 16 – Mapeamento dos seis estados termodinâmicos existentes durante o ciclo

Rankine orgânico [42]

Figura 17 – Aba “Etapa 1 Análise do Ciclo ORC” – interface dos campos de entrada

A possibilidade de arbitrar valores para os rendimentos da turbina e bomba, assim como

decidir os valores para as pressões em que o ciclo opera, se deve ao fato de sistemas

ORC possuírem característica modular, ou seja, o ciclo não é fixo e os equipamentos

podem ser acoplados/desacoplados com facilidade, permitindo, assim, sua substituição e

consequente alteração de suas características.

Já o valor da temperatura está relacionado à quantidade e ao poder calorífico da

biomassa que entra em combustão na caldeira e às vazões dos fluidos de trabalho, que

favorecerão ou não a troca térmica entre eles.

Ao longo deste trabalho, foi considerado o arranjo mais utilizado no mercado, que é o

arranjo simples acrescido de um recuperador. Como já discutido, a adição deste

equipamento traz vantagens ao ciclo.

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48

Vale ressaltar, no entanto, que os campos de entrada não são independentes entre si,

estando alguns deles condicionados aos que foram inseridos anteriormente a eles. Por

essa razão, devem ser preenchidos na ordem em que se encontram. O intervalo

permitido ao valor de temperatura do estado 4, por exemplo, depende dos outros quatro

campos, para poder ser definido pelo usuário da ferramenta. Tal intervalo não é trivial: é

variável em função das propriedades do fluido (n-pentano) e das condições impostas

pelo usuário. O limite inferior do intervalo corresponde à temperatura de vapor saturado

na alta pressão, valor abaixo do qual o estado 4 não deve estar contido; o limite superior

do intervalo é definido em função da temperatura de líquido saturado, valor acima do

qual o ponto 3 não deve estar contido, após a troca térmica no regenerador entre o fluido

no estado 2 e o fluido no estado 5.

Por essa razão, após a definição da alta e baixa pressão do ciclo, o intervalo é

automaticamente explicitado pela ferramenta ao usuário para auxiliá-lo no momento da

escolha do valor dessa temperatura, conforme ilustrado na figura 18:

Figura 18 – Aba “Etapa 1 Análise do Ciclo ORC” – Guia para intervalo aceitável para T4

Uma vez definidos os valores acima, a planilha gera os estados termodinâmicos (isto é,

a pressão, temperatura, entropia e entalpia) de todos os pontos do ciclo e, por meio

dessas informações, calcula ainda o trabalho líquido específico do ciclo e sua eficiência.

A figura 19 ilustra um exemplo da disposição dos resultados obtidos, apenas com o

preenchimento dos campos ilustrados na figura 18:

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Figura 19 – Aba “Etapa 1 Análise do Ciclo ORC” – Interface dos campos de saída

Ressalta-se que os dados de saída ilustrados neste exemplo são gerados a partir dos

valores inseridos na figura 18 e, para o campo referente à temperatura do estado 4, foi

atribuído o valor de 170°C, dentro do intervalo permitido.

Vale salientar, ainda, que estas operações são feitas a partir de tabelas de saturação e de

vapor superaquecido do pentano. A partir destas tabelas, as quais estão contidas em abas

ocultas da planilha, o arquivo “encontra” o valor correspondente e o utiliza para realizar

os cálculos necessários.

Além disso, graças à nova função “Interpolar” criada em macros, é permitido ao usuário

inserir na entrada quaisquer valores de pressão e temperatura – desde que dentro do

intervalo permitido – e não apenas os contidos nas tabelas, dando assim liberdade e

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50

facilidade de o usuário lidar com os valores exatos que desejar, e ainda sem a

necessidade de interpolar manualmente.

A presente aba gera, também, automaticamente, o gráfico (s x T), o qual posiciona os

diferentes estados do ciclo. A figura 20 ilustra o ciclo em torno da curva de saturação,

auxiliando a visualização e o entendimento quanto ao que está ocorrendo e quanto a

possíveis melhorias a serem feitas, já que é viável e simples comparar o comportamento

do gráfico para diferentes dados de entrada. O gráfico da figura em questão também é

gerado apenas com os valores preenchidos na figura 17:

Figura 20 – Aba “Etapa 1 Análise do Ciclo ORC” – Curva de saturação e gráfico do ciclo

ORC

Assim como na figura 19, o gráfico é gerado a partir dos valores inseridos na figura 18

e, para o campo referente à temperatura do estado 4, foi atribuído o valor de 170°C,

dentro do intervalo permitido.

Visando a uma interface mais amigável, os campos de entrada e saída estão dispostos

em locais separados, embora ainda na mesma aba. Além disso, para facilitar ainda mais

a visualização, foram distinguidos por cores diferentes, de acordo com a figura 21:

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Figura 21 – Aba “Etapa 1 Análise do Ciclo ORC” – Legenda

Por fim, a aba fornece ao usuário a maior eficiência possível a ser alcançada com o

arranjo considerado neste estudo, além de fornecer os valores de entrada necessários

para atingi-la, conforme apresentado na figura 22. Cabe salientar que, como a tabela tem

por objetivo informar a máxima eficiência possível, foi considerada eficiência de 100%

tanto para a bomba quanto para a turbina.

Figura 22 – Aba “Etapa 1 Análise do Ciclo ORC” – Máxima eficiência possível

4.3.1.2 Equacionamento Básico da Ferramenta

Para se atingir os resultados obtidos na figura 19, foi realizado o balanço de energia do

ciclo proposto. Os valores encontrados no estado 1 levaram em conta a pressão baixa do

ciclo – pressão em que se encontra o fluido antes de percorrer a bomba – e assumiu-se

que o fluido é líquido saturado nesse momento. A partir da tabela de saturação do n-

pentano, é possível encontrar todas as propriedades intensivas (entalpia específica,

volume específico, entropia específica, temperatura) referentes à pressão fornecida.

Quanto ao estado 2, o cálculo é feito a partir do trabalho de compressão realizado pela

bomba, que é calculado a partir da eficiência da bomba (ɳbomba) e do trabalho de

compressão isentrópica, ou seja, compressão sem perdas devido à irreversibilidades do

processo:

𝑤𝑏𝑜𝑚𝑏𝑎 =𝑤𝑠 , 𝑏𝑜𝑚𝑏𝑎

ɳ𝑏𝑜𝑚𝑏𝑎

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Este trabalho de compressão isentrópica leva em conta a pressão que é incrementada ao

fluido e o seu volume específico, pela seguinte equação:

𝑤𝑠 , 𝑏𝑜𝑚𝑏𝑎 = 𝑣1(𝑃2 − 𝑃1)

A partir da Primeira Lei da Termodinâmica, ou seja, da conservação da entalpia,

obtemos o estado 2. Em outras palavras, somando-se a entalpia do estado 1 e o trabalho

fornecido ao fluido obtém-se a entalpia do estado 2, conforme a equação abaixo:

ℎ2 = ℎ1 + 𝑤𝑏𝑜𝑚𝑏𝑎

Como é fornecido o valor da pressão do estado 2 (pressão alta do ciclo), é possível

encontrar, por interpolação, todas as outras propriedades intensivas do estado 2 a partir

das tabelas termodinâmicas do n-pentano, relacionando a entalpia encontrada (h2) com a

pressão do fluido após percorrer a bomba (P2).

O estado 3 será definido a partir dos estados 2, 5 e 6 e, portanto, será descrito mais

adiante.

Já o estado 4 é determinado informando-se a temperatura e a pressão em que se

encontra o n-pentano. Tendo estas duas informações, é possível determinar todas as

outras propriedades intensivas do fluido a partir das tabelas disponibilizadas.

Para a obtenção do estado 5, o primeiro passo é supor que a expansão na turbina é

isentrópica, ou seja, que a entropia do estado 5 é a mesma do estado 4, previamente

encontrada. Além disso, sabe-se que o n-pentano, neste ponto, se encontra na pressão

baixa do ciclo, previamente fornecida. Em posse destas duas informações, é possível

encontrar o valor da entalpia do estado 5s, ou seja, do estado hipotético caso a expansão

tivesse sido isentrópica. Como a ferramenta supõe irreversibilidades na expansão, faz-se

o uso da equação da eficiência isentrópica da turbina:

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ℎ5 = ℎ4 − (ℎ4 − ℎ5𝑠). ɳ𝑡𝑢𝑟𝑏𝑖𝑛𝑎

Tendo o valor da entalpia (assim como todas as outras propriedades) do estado 5, é

possível se encontrar o trabalho real gerado pela turbina que, novamente pela

conservação de entalpia do sistema, se dá pela equação:

𝑤𝑡𝑢𝑟𝑏𝑖𝑛𝑎 = ℎ4 − ℎ5

Quanto ao estado 6, se trata do vapor saturado na pressão baixa do ciclo, e é o estado em

que o n-pentano se encontra antes de percorrer o condensador. Por meio da tabela de

saturação disponibilizada, determinam-se todas as propriedades intensivas do fluido.

Finalmente, o ponto 3 é obtido fazendo-se um balanço do fluxo de calor que atravessa o

recuperador. Em outras palavras, o fluxo de calor cedido pelo fluido, que transforma o

estado 5 ao estado 6, é o mesmo fluxo de calor recebido pelo fluido, que leva o estado 2

ao estado 3:

|5�̇�6| = |2�̇�3|

ou

�̇�(ℎ5 − ℎ6) = �̇�(ℎ3 − ℎ2)

e, portanto,

ℎ3 = ℎ5 − ℎ6 + ℎ2

onde |5�̇�6| é o fluxo de calor cedido pelo fluido no ponto 5, |2�̇�3| é o fluxo de calor

recebido pelo fluido no estado 2 e �̇�, a vazão mássica do fluido.

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Conhecendo-se a entalpia específica do estado 3 e sabendo-se a pressão nesse ponto,

todas as outras propriedades termodinâmicas do referido estado podem ser obtidas pelas

tabelas disponibilizadas.

Além disso, é possível se determinar a quantidade de calor cedida ao pentano no

evaporador, assim como a quantidade de calor rejeitada mesmo pelo fluido de trabalho,

no condensador:

𝑞𝑒 = ℎ4 − ℎ3

e

𝑞𝑠 = ℎ6 − ℎ1

4.3.2 Aba “Etapa 2 Análise do Ciclo Geral”

4.3.2.1 Guia ao Usuário

Uma vez definidas as propriedades intensivas do ciclo e sua eficiência por meio da aba

descrita anteriormente, a presente aba leva em consideração as propriedades extensivas

do ciclo. Em outras palavras, ao selecionar o equipamento que operará o ciclo Rankine

orgânico a partir de uma lista suspensa (exibindo alguns equipamentos da empresa

Turboden), o usuário obterá automaticamente o valor da potência nominal que é cedida

à rede, do fluxo de calor cedido ao ciclo a partir da biomassa, do fluxo de calor que é

rejeitado pelo sistema à fonte fria (água), da vazão mássica do pentano no ciclo ORC e

da eficiência de todos os equipamentos envolvidos, conforme ilustra a figura 23:

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Figura 23 – Dados do Equipamento [39]

Os módulos do ciclo Rankine orgânico que compõem a lista foram selecionados a partir

do catálogo da empresa Turboden, os quais, por sua vez, foram armazenados no arquivo

utilizando-se a tabela 12, contida na aba oculta “Análise dos Equipamentos”.

Deve-se ressaltar, contudo, que os equipamentos aqui listados não existem, de fato, no

mercado. Correspondem apenas às potências dos equipamentos existentes da Turboden,

uma vez que os equipamentos da empresa não se utilizam do n-pentano como fluido de

trabalho. É importante notar que as máquinas Turboden aqui destacadas representam, na

verdade, apenas suas respectivas potências, uma vez que os equipamentos existentes no

mercado não operam com o n-pentano.

Tabela 12 – Análise dos Equipamentos Turboden [19]

Além disso, o usuário poderá selecionar a biomassa com a qual será simulado o

equipamento definido. Ao escolher o produto agrícola a partir da lista suspensa, a

ferramenta gera automaticamente seu respectivo resíduo, com seu poder calorífico

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inferior, seu índice de produtividade e seu fator de disponibilidade. Adicionalmente, a

ferramenta gera ainda uma lista suspensa dinâmica (que varia em função do produto

agrícola escolhido) contendo os oito maiores municípios produtores do referido produto,

conforme ilustra a figura 24:

Figura 24 – Seleção do Produto Agrícola

Conforme já abordado na seção 2.3.4, foi feita uma avaliação do potencial dos resíduos

agrícolas, com foco nas culturas que apresentam maior representatividade no país. Neste

sentido, a quantificação da geração física de resíduos e de seu conteúdo energético,

juntamente com a análise de seu poder calorífico, é essencial na avaliação de seu

potencial de uso em tecnologias, tendo este trabalho dado foco especial naquelas

operando em sistemas ORC.

Os dados na figura 24 são gerados automaticamente a partir da tabela 13, contida na aba

“Análise dos Resíduos” do arquivo, a qual foi obtida a partir da tabela 8 deste trabalho.

Tabela 13 – Análise dos Produtos Agrícolas [9]

Além disso, uma vez selecionado o produto agrícola com que o usuário deseja fazer sua

análise, a planilha gera automaticamente uma lista suspensa com os oito municípios que

em maior quantidade o produzem no país, conforme o Anexo II.

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A lista exibida na figura 25 é o terceiro e último campo de entrada da aba descrita nesta

seção. Ao se selecionar o município, o arquivo informa ao usuário a produção, em

toneladas, do referido produto, no ano de 2015, da produção do resíduo e da sua

disponibilidade para se analisar, de fato, o potencial de energia a ser gerada (apenas com

o resíduo escolhido). Adicionalmente, é informado também o consumo energético do

referido município para uma melhor avaliação quanto ao impacto do aproveitamento

desse resíduo na economia de energia elétrica no local.

Figura 25 – Seleção do Município Dentre os Maiores Produtores da Produção Agrícola

Selecionada [26]

O consumo de energia elétrica no município pôde ser estimado de acordo com o seu

número de habitantes no ano em questão e o consumo médio de eletricidade por

habitante, conforme a UF onde se encontra este município. A tabela 14, contida na aba

“Consumo por Município (Ano 2015)” foi elaborada com o intuito de se estimar o

consumo por município.

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Tabela 14 – Consumo elétrico por município [26][43]

Uma vez escolhidos o equipamento, o produto agrícola e o município, a presente aba é

capaz de fornecer dados importantes ao usuário para a avaliação do módulo operando

com a biomassa selecionada, assim como a sua capacidade de abastecimento do

município definido, conforme exibido na tabela 15, cujos resultados são obtidos a partir

dos campos de entrada inseridos, como demonstram as figuras 23, 24 e 25:

Tabela 15 – Resultados da Combinação Equipamento/Biomassa/Município

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O consumo necessário para produzir a potência nominal do aparelho, indicado na tabela

14, é calculado levando-se em conta o fluxo de calor cedido pela biomassa ao ciclo e o

poder calorífico do resíduo, pela seguinte fórmula:

𝐶𝑟𝑒𝑠í𝑑𝑢𝑜 =�̇�𝑟𝑒𝑠í𝑑𝑢𝑜

𝑃𝐶𝐼𝑟𝑒𝑠í𝑑𝑢𝑜

onde Cresíduo é o consumo do resíduo.

O segundo campo da tabela 14 relaciona o trabalho líquido gerado com o consumo do

resíduo. Embora essa relação não seja direta, uma vez que depende de todo o

funcionamento do ciclo, ela pode ser obtida pela equação:

𝑇𝑈𝑒𝑞𝑢𝑖𝑝𝑎𝑚𝑒𝑛𝑡𝑜−𝑟𝑒𝑠í𝑑𝑢𝑜 =𝑃𝑁𝑒𝑞𝑢𝑖𝑝𝑎𝑚𝑒𝑛𝑡𝑜

𝐶𝑟𝑒𝑠í𝑑𝑢𝑜

onde TU(equipamento-resíduo) é o trabalho líquido por unidade de massa do resíduo

consumida e PN corresponde à potência nominal do equipamento.

O terceiro campo da tabela 14 é o trabalho total gerado à rede por um equipamento em

um ano, considerando o funcionamento contínuo e ininterrupto do ciclo, já que os ciclos

ORC possuem esta vantagem. Considera-se, pois, a potência nominal multiplicada por

8.760 (quantidade de horas em um ano).

𝐸𝐴𝑒𝑞𝑢𝑖𝑝𝑎𝑚𝑒𝑛𝑡𝑜 = 𝑃𝑁 𝑋 8760

Deve-se levar em conta, contudo, que este valor se trata de uma simplificação, pois, por

uma questão de sazonalidade, a geração de insumo energético não será constante e

talvez não se tenha resíduo disponível durante todo o ano. Além disso, não são levadas

em conta as eventuais perdas devido ao estoque, que prejudicam as propriedades do

resíduo (degradação por microrganismos, absorção de umidade etc.).

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Já o quarto campo da tabela 14 leva em consideração a produção do referido resíduo

agrícola no município escolhido e, através desse dado, calcula o potencial (total) de

energia que poderia ser gerada no município, apenas com o resíduo selecionado.

𝑇𝑇 = 𝑇𝑈𝑒𝑞𝑢𝑖𝑝𝑎𝑚𝑒𝑛𝑡𝑜−𝑟𝑒𝑠í𝑑𝑢𝑜 𝑋 𝑃𝑟𝑒𝑠í𝑑𝑢𝑜

onde TT corresponde ao trabalho total que poderia ser gerado no ano com o resíduo

escolhido e Presíduo corresponde à produção de resíduo no ano.

Através do consumo de energia elétrica do município no ano e a quantidade de energia

elétrica que pode ser gerada com o resíduo escolhido, é possível avaliar se o município é

capaz de gerar sua própria energia apenas por meio do consumo de biomassa no ciclo

ORC, verificando apenas se o consumo de energia é maior ou não que a geração de

energia. Esta informação é obtida no quinto campo.

Caso seja viável abastecer o município apenas com o resíduo em questão, o sexto

campo informa ao usuário o número de módulos ORC necessários para esse fim.

Independentemente do resultado do 6º campo da tabela, o 7º campo calcula a

quantidade de equipamentos necessários para aproveitar todo o resíduo gerado no ano,

considerando funcionamento contínuo e ininterrupto.

Finalmente, a tabela ainda nos informa os percentuais, tanto da representação da

geração de energia de um equipamento quanto na geração total de energia, em relação

ao consumo do município no referido ano. As fórmulas indicam o cálculo mencionado:

%𝐸𝐴𝑒𝑞𝑢𝑖𝑝𝑎𝑚𝑒𝑛𝑡𝑜 =𝐸𝐴𝑒𝑞𝑢𝑖𝑝𝑎𝑚𝑒𝑛𝑡𝑜

𝐶𝑚𝑢𝑛𝑖𝑐í𝑝𝑖𝑜 𝑋 100

%𝐸𝐴𝑚𝑢𝑛𝑖𝑐í𝑝𝑖𝑜 =𝐸𝐴𝑚𝑢𝑛𝑖𝑐í𝑝𝑖𝑜

𝐶𝑚𝑢𝑛𝑖𝑐í𝑝𝑖𝑜 𝑋 100

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onde %EAequipamento corresponde à representação do trabalho gerado em um ano, por um

equipamento e Cmunicípio é o consumo estimado do município em questão, no referido

ano. Na segunda equação, %EAmunicípio representa a relação entre o total de energia que

poderia ser gerada no município com o resíduo no referido ano e o consumo de energia

no município no mesmo ano.

Vale destacar, por fim, que as tabelas referentes ao equipamento, à biomassa escolhida e

aos resultados estão posicionados na tabela para mais fácil visualização. Visando ainda

a uma melhor interface, as tabelas que dão destaque às diferentes categorias foram

separadas por cores, conforme evidencia a figura 26:

Figura 26 – Legenda da Aba “Etapa 2 Análise do Ciclo Geral”

5. Estudo de Casos

Para melhor avaliação do ciclo em função das escolhas feitas pelo usuário, este capítulo

se destina a avaliar e a comparar diferentes situações e condições sob as quais o ciclo

ORC opera. Com isso, será possível ter uma melhor avaliação da ferramenta

desenvolvida, assim como uma interpretação dos resultados gerados para os diferentes

casos.

Por fim, quanto ao município, será contemplado sempre o maior produtor do respectivo

produto cujo resíduo estará em análise.

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5.1 Caso A – Módulo ORC de 200kW, com o n-pentano no estado de

vapor saturado na entrada da turbina, uso de resíduos do milho

Dentre os equipamentos disponibilizados pela Turboden para ciclos ORC – biomassa, o

módulo 200kW é o mais compacto e econômico, embora seja também o que, em menor

escala, gera energia elétrica. Por conta de sua relativamente fácil aplicação (devido à

sua baixa demanda por combustível), é um equipamento com grande potencial no

mercado e cujo estudo é, portanto, de grande valia.

Figura 27 – Caso A: Dados de Entrada

Figura 28 – Caso A: Diagrama do Ciclo

Percebe-se pelas figuras 27 e 28 que a temperatura em que o n-pentano entra na turbina

é a temperatura de vapor saturado e que seu valor é 147°C. Como esse valor foi

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arredondado para um número inteiro, optou-se por sempre atribuir a temperatura um

grau acima para garantir que ela nunca fosse inferior à temperatura de vaporização, o

que seria fisicamente inconsistente.

É importante ressaltar que, em todos os casos analisados, considerou-se a eficiência

isentrópica da turbina e da bomba em 85% e 80%, respectivamente, que são percentuais

dentro do intervalo típico dos referidos equipamentos [44]. Além disso, mantiveram-se

constantes os valores das pressões baixa e alta do ciclo, sendo a pressão baixa a mínima

possível – 0,2 Mpa – e a pressão alta a máxima possível – 1,5 Mpa – considerando-se os

limites estabelecidos pelas tabelas termodinâmicas do n-pentano.

O fato de o vapor do n-pentano iniciar a expansão como vapor saturado, ao invés de

vapor superaquecido, resulta em menores esforços térmicos nas pás da turbina,

acarretando menor necessidade (e frequência) de manutenção e maior tempo de vida

útil.

É importante frisar que esta possibilidade de se trabalhar com vapor saturado só é viável

devido à propriedade do n-pentano que, como já visto, é um fluido seco, ou seja, possui

sua curva de vapor saturado com derivada positiva. Conforme já visto, esta propriedade

garante que, após a expansão, o fluido permanecerá no estado de vapor (no caso, vapor

superaquecido). Caso contrário, para que permanecesse vapor após sua expansão, o

fluido deveria iniciar sua expansão em um estado superaquecido.

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Tabela 16 – Caso A: Dados de saída

Observa-se, pela tabela 16, que a eficiência do ciclo neste caso é de 15,8% e que o

trabalho gerado pela turbina e o consumido pela bomba são de, respectivamente, 66,3 kJ

e 2,8 kJ por quilo de n-pentano. A tabela também nos informa que o calor fornecido ao

n-pentano no evaporador e o calor rejeitado pelo n-pentano no condensador são de,

respectivamente, 402,9 kJ e 339,4 kJ por quilo de pentano.

Pode-se notar, também, que a temperatura em que o n-pentano inicia sua condensação,

na pressão de 0,2 MPa, é de 58°C. O fluido permanece nesta temperatura até a condição

de líquido saturado, quando sofrerá compressão pela bomba. É possível verificar que a

bomba não altera a temperatura do fluido, o que já era de se esperar. Após a troca

térmica no recuperador, o fluido é aquecido à temperatura de 87°C, temperatura esta

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muito aquém da máxima permitida pelo ciclo, ou seja, a temperatura de líquido saturado

na pressão de 1,5 MPa, de 148°C. Esta diferença é um indicativo de que a temperatura

na qual o fluido entrará na turbina pode ainda ser superior à inserida, o que aumentaria o

rendimento geral do ciclo. Por fim, nota-se que o fluido, devido à expansão, é resfriado

de uma temperatura de 148°C a 96°C e, posteriormente, resfriado no condensador até

voltar à temperatura de 58°C.

Tabela 17 – Caso A: Dados do equipamento

A tabela 17 nos informa o fluxo de energias térmica e elétrica ao longo do ciclo,

levando-se em conta a potência nominal do equipamento selecionado. A partir desta, é

calculada a vazão mássica em que o n-pentano percorrerá o ciclo e, através dessa

informação, juntamente com os rendimentos dos equipamentos, são obtidos os dados

restantes.

Os valores dos rendimentos do evaporador, condensador e caldeira (98%, 98% e 80%,

respectivamente) foram obtidos a partir do catálogo da Turboden, enquanto que, para o

gerador, foi considerada uma eficiência típica de 95% [6].

É importante salientar que os equipamentos inseridos na planilha não são os

equipamentos já existentes no mercado, uma vez que não operam com o n-pentano.

Consideraram-se, contudo, as potências nominais de equipamentos existentes, obtidas a

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partir do catálogo da Turboden e realizaram-se as devidas modificações para adequá-los

ao n-pentano.

Tabela 18 – Caso A: Dados da biomassa

Dentre os produtos agrícolas estudados neste trabalho, a escolha pelo milho se deve ao

alto poder calorífico inferior de seus resíduos, com valor médio de 17,7 MJ/kg (o mais

alto dentre os abordados neste trabalho), e sua relevante produção no país, ficando atrás

apenas da soja entre os produtos estudados.

As culturas de milho produzem, além dos grãos que serão comercializados, palha,

folhas, sabugo e colmo. A produção desses resíduos é definida pelo seu índice de

produtividade de 1,68, ou seja, é gerado em média 1,68 kg para cada 1,00 kg de grão de

milho.

Devido à sua aplicabilidade nos campos, nem todo resíduo deve/pode ser retirado do

local. O fator de disponibilidade nos informa a quantidade ideal a ser retirada (ou a

quantidade a ser deixada no solo). No caso dos resíduos do milho, de acordo com a

tabela 18, deverá ser deixada no solo a fração mássica de 60%, podendo, portanto, ser

aproveitada somente 40% de sua produção.

O município que em maior quantidade produziu milho no país, tendo 2015 como ano de

referência, foi Sorriso, no Estado do Mato Grosso. Nesse ano, segundo nos mostra a

tabela 18, a produção total foi de 2.619.690 toneladas de milho e, fazendo uso do índice

de produtividade, foi possível estimar a quantidade de resíduo produzida de 4.401.079

toneladas. Uma vez que, como já dito, apenas 40% pode ser retirado do local, calculou-

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se também a quantidade total efetiva de resíduo que poderia ter sido aproveitada para

combustão em 2015, de 1.760.432 toneladas.

Para se poder contar com uma melhor referência quanto à energia elétrica que

potencialmente poderia ter sido gerada no município, levou-se em conta neste trabalho o

consumo do município, também de 2015. No caso do município de Sorriso-MT, foi

estimado um consumo, no referido ano, de 262 GWh.

Tabela 19 – Caso A: Resultados

A tabela 19 nos informa que a quantidade média a ser consumida pelos resíduos do

milho, levando-se em consideração seu PCI médio, é de 326 kg/h. Constata-se também

que, ao longo do ciclo, para cada 1,00 kg de resíduo do milho que entrou em

combustão, gerou-se 0,58 kWh.

Além disso, foi possível calcular o trabalho total gerado em 2015 do equipamento

selecionado, resultando em 1,6 GWh, levando-se em conta sua potência nominal de 188

kW, funcionando ininterruptamente ao longo do ano, ou seja, durante 8.760 horas.

O potencial de geração de energia elétrica de Sorriso-MT ao longo de 2015, levando-se

em consideração a sua produção de milho, foi de 1.016 GWh, bem acima do seu

consumo no ano. Com isso, pode-se concluir que o fluido é capaz de se sustentar

sozinho em termos de energia elétrica, produzindo cerca de quatro vezes mais energia

do que o que consome.

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Para que seja possível aproveitar todo o resíduo disponível no ano para combustão, e

utilizando apenas o equipamento escolhido, seriam necessárias 617 unidades, enquanto

que, para o caso de apenas se sustentar (sem aproveitar todo resíduo produzido no ano),

seriam necessárias 159 unidades do módulo escolhido, tendo em vista que a produção

de energia elétrica de cada unidade representa 0,6% do consumo de eletricidade do

município.

5.2 Caso B – Módulo ORC de 200kW, com o n-pentano no estado de

vapor saturado na entrada da turbina, uso de resíduos do arroz

Para mais fácil avaliação do impacto de cada variável na operação de aparelhos ORC,

este trabalho modifica um parâmetro de cada vez, mantendo os outros constantes. Com

esta premissa em mente, o presente caso é idêntico ao caso anterior, modificando apenas

o resíduo a partir do qual a queima será realizada.

Por esta razão, a aba “Etapa 1 Análise do Ciclo ORC” não sofre nenhuma alteração em

relação ao Caso A. Além disso, como o equipamento ainda é o mesmo, os campos

referentes a ele, na aba “Etapa 2 Análise do Ciclo Geral”, tampouco sofrem

modificação. Portanto, as Figuras 27 e 28 e as tabelas 16 e 17 e suas respectivas

descrições ilustram, também, este Caso.

Esta seção faz uma análise dos resíduos de arroz em relação aos de milho e uma

avaliação quanto ao seu potencial de geração de energia elétrica nos municípios que

mais produziram arroz em 2015.

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Tabela 20 – Caso B: Dados da biomassa

Embora não tenha tanto destaque nacional quanto a produção de milho, a produção de

arroz tem grande relevância e seus resíduos (casca e palha) teriam também serventia e

disponibilidade. O poder calorífico inferior destes resíduos é, em média, 16 MJ/kg.

A produção desses resíduos é definida pelo seu índice de produtividade, destacado na

tabela 19, de 1,73, ou seja, é gerado em média 1,73 kg para cada 1,00 kg de grão de

arroz.

Devido à sua aplicabilidade nos campos, nem todo o resíduo deve/pode ser retirado do

local. O fator de disponibilidade nos informa a quantidade ideal a ser retirada (ou a

quantidade a ser deixada no solo). No caso dos resíduos de arroz, de acordo com a

tabela 20, deverá ser deixada no solo a fração mássica de 60%, podendo, portanto, ser

aproveitada somente 40% de sua produção.

O município que em maior quantidade produziu arroz no país, tendo como ano de

referência 2015, foi Uruguaiana, no Estado do Rio Grande do Sul. Naquele ano,

segundo nos mostra a tabela 20, a produção total foi de 751.684 toneladas de arroz e,

fazendo uso do índice de produtividade, foi possível estimar a quantidade de resíduo

produzida de 1.300.413 toneladas. Uma vez que, como já dito, apenas 40% podem ser

retirados do local, calculou-se também a quantidade total efetiva de resíduo que poderia

ter sido aproveitada para combustão em 2015 de 520.165 toneladas.

A fim de se ter uma melhor referência quanto à energia elétrica que potencialmente

poderia ter sido gerada no município, levou-se em conta neste trabalho o consumo do

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município, também de 2015. No caso do município de Uruguaiana-RS, foi estimado um

consumo, no referido ano, de 1.458 GWh.

Tabela 21 – Caso B: Resultados

A tabela 21 nos informa que a quantidade média a ser consumida pelos resíduos do

arroz, levando-se em consideração seu PCI médio, é de 360 kg/h, superior aos 326 kg/h

dos resíduos do milho. Ou seja, para a produção da mesma potência do equipamento, é

necessária mais matéria-prima disponível a entrar em combustão. Constata-se também

que, ao longo do ciclo, para cada 1,00 kg de resíduo do arroz que entrou em combustão,

gerou-se 0,52 kWh, inferior a 0,58 kWh gerado com a combustão de 1,00 kg de

resíduos do milho.

Além disso, assim como no Caso A, foi possível calcular o trabalho total gerado pelo

equipamento selecionado em 2015, resultando em 1,6 GWh, levando-se em conta sua

potência nominal de 188 kW, funcionando ininterruptamente ao longo do ano, ou seja,

durante 8.760 horas. Este trabalho total de um equipamento representa 0,1% do

consumo do município.

O potencial de geração de energia elétrica de Uruguaiana-RS ao longo de 2015,

levando-se em consideração a sua produção de arroz, foi de 271 GWh, bem abaixo do

seu consumo do ano. Com isso, pode-se concluir que o município não é capaz de se

sustentar sozinho, em termos de energia elétrica, e que, se fossem instaladas 165

unidades a fim de aproveitar todo o resíduo produzido, o município geraria 18,6% da

energia elétrica que consome.

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5.3 Caso C – Módulo ORC de 1MW, com o n-pentano no estado de

vapor saturado na entrada da turbina, uso de resíduos do arroz

Assim como no Caso B, nenhuma alteração foi feita na aba “Etapa 1 Análise do Ciclo

ORC”, mantendo-se, portanto, os mesmos resultados e respectivas análises das figuras

27 e 28 e tabela 16.

Já na aba “Etapa 2 Análise do Ciclo Geral”, com a alteração de potência, muda-se o

equipamento escolhido.

Tabela 22 – Caso C: Dados do equipamento

A tabela 22 nos informa que, para o equipamento escolhido, e mantida a eficiência do

ciclo ORC da aba “Etapa 1 Análise do Ciclo ORC” de 15,8%, é necessária uma vazão

de 16 kg/s de n-pentano, muito superior à vazão de 3,0 kg/s para o equipamento dos

casos A e B. Esta vazão é calculada conhecendo-se o trabalho líquido específico do

ciclo ORC, ou seja, o trabalho líquido gerado para cada 1,0 kg de n-pentano e a potência

líquida que deve ser obtida no equipamento, que por sua vez é calculada por meio do

rendimento do gerador e da potência nominal do equipamento.

Como a biomassa estudada neste caso é a mesma do Caso B, todos os dados referentes a

ela, como poder calorífico inferior, índice de produtividade e fator de disponibilidade do

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resíduo, assim como o município que mais produz o produto agrícola, serão os mesmos

do Caso B e, portanto, não serão tratados nesta seção.

Tabela 23 – Caso C: Resultados

A tabela 23 informa que a quantidade média a ser consumida pelos resíduos do arroz,

levando-se em consideração seu PCI médio e à potência do equipamento, é de 1.848

kg/h. Este consumo supera bastante o dos casos anteriores, com equipamentos de mais

baixas potências, nos quais o consumo necessário de biomassa não ultrapassava os 400

kg/h. Constata-se também que, ao longo do ciclo, para cada 1,0 kg de resíduo do arroz

que entrou em combustão, gerou-se 0,52 kWh, mesmo valor do caso anterior, uma vez

que o resíduo é o mesmo, assim como o rendimento do ciclo ORC.

Além disso, foi possível calcular o trabalho total gerado em 2015 do equipamento

selecionado, resultando em 8,4 GWh, levando-se em conta sua potência nominal de 964

kW, funcionando ininterruptamente ao longo do ano, ou seja, durante 8.760 horas. Este

trabalho total de um equipamento representa 0,6% do consumo do município.

O potencial de geração de energia elétrica de Uruguaiana-RS ao longo de 2015,

levando-se em consideração a sua produção de arroz, foi de 271 GWh, inferior ao

consumo de eletricidade no mesmo ano. Percebe-se, novamente, que esta grandeza não

varia com o equipamento, dependendo apenas do resíduo utilizado. Novamente, pode-se

concluir que o município não é capaz de se sustentar sozinho, em termos de energia

elétrica, e que, se fossem instaladas 32 unidades a fim de aproveitar todo o resíduo

produzido, o município geraria 18,6% da energia que consome.

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5.4 Caso D – Módulo ORC de 1MW, com o n-pentano no estado de

vapor superaquecido na entrada da turbina, uso de resíduos do

arroz

A diferença deste caso para os anteriores é a condição em que o vapor do n-pentano

entra na turbina. Embora não seja necessário superaquecer o vapor para evitar erosão

das pás da turbina devido à característica de expansão seca do n-pentano, o

superaquecimento ainda assim é utilizado em muitos casos, uma vez que esta medida

aumenta a eficiência térmica do ciclo.

Ao contrário dos casos anteriores, portanto, a aba “Etapa 1 Análise do Ciclo ORC”

sofrerá alterações desde o início, já que o próprio ciclo ORC operará de forma diferente

das anteriores.

Figura 29 - Caso D: Dados de entrada

Figura 30 – Caso D: Diagrama do Ciclo

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Conforme evidenciado na figura 29, foi escolhida para este caso a maior temperatura

possível dentro do intervalo imposto pela planilha, visto que a eficiência do ciclo

aumenta com o aumento da diferença entre as temperaturas da fonte quente e da fonte

fria. A figura 30 ilustra melhor a diferença em relação ao ciclo anterior.

Tabela 24 – Caso D: Dados de saída

Observa-se, pela tabela 24, que a eficiência do ciclo neste caso é de 19,6%, acima da de

15,8% obtida nos casos anteriores, com o vapor entrando na turbina na condição

saturada. Esta diferença de 3,8% é considerável em ciclos ORC, com um aumento

relativo da eficiência de 24,1%.

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Além disso, constata-se que o trabalho gerado pela turbina e o consumido pela bomba

são, respectivamente, 85,4 kJ e 2,8 kJ por kg de n-pentano. Em relação aos casos

anteriores, houve um aumento do trabalho obtido na turbina por kg de n-pentano, uma

vez que o trabalho específico dos outros casos foi de 66,3 kJ. Quanto ao trabalho

realizado pela bomba, este se manteve constante, apesar da mudança de temperatura na

entrada da turbina.

Adicionalmente, a tabela nos informa que o calor fornecido ao n-pentano no evaporador

e o calor rejeitado pelo n-pentano no condensador são de, respectivamente, 422,0 kJ e

339,4 kJ por kg de n-pentano. Novamente, houve um aumento em relação aos casos

anteriores no que diz respeito ao calor recebido pelo n-pentano, já que, naqueles casos,

o calor foi de 402,9 kJ. Quanto ao calor rejeitado pelo n-pentano à água, no

condensador, por quilo de n-pentano, se manteve constante, apesar da mudança proposta

neste caso.

Pode-se notar, também, que a temperatura em que o n-pentano inicia sua condensação,

na pressão de 0,2 MPa, é de 58°C. O fluido permanece nesta temperatura até a condição

de líquido saturado, quando sofrerá compressão pela bomba. É possível verificar que a

bomba não altera a temperatura do fluido, o que já era de se esperar. Após a troca

térmica no recuperador, o fluido é aquecido à temperatura de 146°C, temperatura

máxima permitida do n-pentano antes de começar a evaporar, ou seja, a temperatura de

líquido saturado na pressão de 1,5 MPa. O fato de o fluido sair do recuperador à

temperatura de líquido saturado é um indicativo de que, se a temperatura que entra na

turbina fosse mais alta, o fluido sairia do recuperador e entraria no evaporador já tendo

iniciado a evaporação, o que não é desejado. Por fim, nota-se que o fluido, devido à

expansão, é resfriado de uma temperatura de 219°C a 173°C, e posteriormente resfriado

no condensador até voltar à temperatura de 58°C.

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Tabela 25 – Caso D: Dados do equipamento

Nota-se, pela tabela 25, que, embora se tenha mantido o equipamento e sua respectiva

potência nominal de 1,0 MW, a mudança de temperatura do ponto em que o n-pentano

entra na turbina varia as condições do equipamento. Dito de outra forma, para uma

mesma potência nominal, a vazão mássica do aparelho reduziu com o aumento da

eficiência, reduzindo também todos os fluxos de calor envolvidos no ciclo, assim como

o trabalho gerado e consumido. O maior benefício desta mudança é a menor

necessidade de energia advinda da biomassa, a qual consequentemente reduz seu

consumo.

Quanto à biomassa e ao município que mais a produz, esta mudança do ciclo não altera

em nada as suas propriedades e, portanto, não será detalhada nesta seção. Os resultados

desta mudança, assim como a manutenção do equipamento e resíduos utilizados

anteriormente se encontram na tabela 26.

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Tabela 26 – Caso D: Resultados

Conforme já previsto, a principal mudança ao se elevar a temperatura na qual o n-

pentano inicia a sua expansão, aumentando, consequentemente, a sua eficiência, é a

menor necessidade de biomassa para uma mesma potência nominal do equipamento.

Nos casos anteriores, quanto o n-pentano iniciava a expansão na condição de vapor

saturado, o consumo de biomassa para satisfazer as condições do equipamento equivalia

a 1.848 kg/h. Com o aumento da eficiência, este valor foi reduzido a 1.488 kg/h,

redução relativa de 19,5% do consumo de biomassa.

Analisando o impacto desta modificação por outro ângulo, percebe-se também o

aumento de trabalho líquido gerado no ciclo por quilograma de biomassa consumida.

No caso C, antes desta modificação, este valor era de 0,52 kWh/kg de biomassa

consumida, enquanto que com esta mudança, este valor aumentou para 0,65 kWh/kg.

No que diz respeito ao trabalho gerado por um equipamento ao longo de um ano, este

não sofreu nenhuma alteração, uma vez que a potência do equipamento se manteve a

mesma. Isto significa que, ao longo de um ano, a energia que teria sido produzida se

manteve em 8,4 GWh, assim como a sua representação de 0,6% em relação ao consumo

elétrico do município no ano de 2015.

Contudo, apesar de se manter a mesma potência nominal do equipamento, o potencial

de geração de energia elétrica, levando em conta a produção do resíduo do município,

aumentou drasticamente com o aumento da eficiência do ciclo. Em outras palavras,

antes da modificação deste caso, o trabalho que teria sido gerado em 2015 era de 271

GWh, enquanto que, com esta alteração, o trabalho passou para 337 GWh,

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representando um aumento de 24,4%. Com isso, a produção de energia elétrica com este

aumento de eficiência aumentou de 18,6% para 23,1% em relação ao consumo elétrico

do município no ano de 2015. Para utilizar todo resíduo produzido no município, seriam

necessárias 40 unidades do equipamento selecionado, superior às 32 unidades do caso

C, antes desta modificação.

6. Conclusão

Com o mundo buscando utilizar mais fontes renováveis e descentralizadas de energia

com vistas à redução da emissão de gases de efeito estufa, como ocorre com os

combustíveis fósseis, novas tecnologias que operam em um sistema ORC se mostram

uma alternativa interessante.

De fato, os aparelhos ORC se mostram vantajosos e têm enorme potencial em regiões

rurais, que são menos acessíveis, já que a matéria-prima já estaria no local onde seria

consumida. Assim, não haveria necessidade de transportar os resíduos acumulados dos

produtos agrícolas – cujo excesso é muitas vezes indesejado – evitando, com isso,

desperdício de tempo e custos com o deslocamento e até mesmo perda de qualidade da

biomassa (devido à biodegradação por microrganismos, acúmulo de umidade etc.).

Além disso, embora o ORC tenha uma baixa eficiência (18% - 23%) em relação a um

ciclo a vapor, ele se mostra mais adequado a um produtor agrícola por conta de seu

baixíssimo custo de operação, dado que o aparelho não necessita de manutenção

regular, não depende de mão-de-obra especializada para operá-lo devido à sua

simplicidade, pode operar com carga parcial permitindo variações por conta da

sazonalidade do cultivo, consegue operar com fontes combustíveis de pior qualidade e

mesmo heterogêneas (o que permitiria a mistura de resíduos) e, principalmente, opera

com combustível a custo zero, advindo da sua própria produção local.

Pelas razões supracitadas, aparelhos ORC se mostram excelentes alternativas ou um

complemento para o produtor agrícola obter energia elétrica, assim como para dar

destino a seus resíduos. No entanto, o presente trabalho não levou em conta os custos

necessários para operar aparelhos ORC. Por isso, este estudo sugere que seja

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desenvolvida, como complemento à análise técnica realizada, um estudo econômico da

aquisição, instalação, manutenção e operação dos aparelhos ORC, de modo a

aprofundar o conhecimento e também auxiliar na obtenção de uma decisão que leve em

conta a viabilidade do projeto e/ou o tempo de retorno do montante investido.

Este trabalho propõe, ainda, aprimorar a ferramenta desenvolvida em Excel, de modo a

permitir ampliar a análise teórica para diferentes fluidos, da mesma forma que foi

realizada com o pentano. Seria recomendável criar um espaço predefinido nas opções de

entrada de dados, a fim de possibilitar a escolha do fluido pelo usuário e, com isso,

simular diferentes equipamentos, empregando diferentes resíduos, operando com

diferentes fluidos, visando obter um melhor embasamento teórico e, assim, projetar o

funcionamento de uma máquina térmica, operando sob um sistema ORC, de acordo

com as escolhas do usuário.

Adicionalmente, este trabalho também sugere a inclusão de uma opção na plataforma

que viabilize uma análise mais aprofundada para os casos onde há dupla safra, o que

ocorre em alguns locais do Brasil. Uma vez que ciclos ORC permitem a mistura de

resíduos como insumo energético, conforme mencionado anteriormente, essa

característica ampliaria o leque de aplicações para uma mesma instalação ORC e,

consequentemente, o potencial elétrico do local sem a necessidade de modificações e

sem custo adicional. Neste caso, bastaria estimar o PCI médio da mistura, levando-se

em conta o PCI dos resíduos que compõem a mistura e suas respectivas quantidades.

Por fim, como o presente trabalho considerou a produção anual dos resíduos abordados

e seu aproveitamento de forma contínua (o que de fato não ocorre, devido à

sazonalidade), propõe-se um estudo mais aprofundado quanto à disponibilidade dos

resíduos agrícolas ao longo do ano e o desenvolvimento de estratégias para seu melhor

aproveitamento, levando em conta a sazonalidade dos produtos agrícolas, o tempo de

estoque possível antes de eventuais perdas das propriedades físico-químicas dos

resíduos e a demanda energética de um dado município.

Referências Bibliográficas

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[41] SILVA, T. C., Dimensionamento de Trocadores de Calor para Recuperação de

Calor Residual em Sistema ORC de uma FPSO. Defesa de Pós-Graduação –

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Referência: 2015, Núcleo de Estudos Estratégicos de Energia, 2016;

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http://www.woodconsumption.org/alts/meghanhayes.html, Acesso em agosto de 2017;

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http://www.codapar.pr.gov.br/arquivos/File/pdf/residalgodao_055_90.pdf, Acesso em

abril de 2017.

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Anexo I

Primeira Lei da Termodinâmica

A primeira lei da termodinâmica é o princípio de conservação de energia. De forma

simplificada, dizemos que a variação de energia total em um sistema corresponde à

soma das trocas de energia realizadas com o meio externo por meio de trabalho e

transferência de calor. Em termos de taxas, escrevemos:

�̇� = �̇� − �̇�

ou, para um sistema que sofre uma mudança de um estado 1 a um estado 2:

𝐸2 − 𝐸1 = 1𝑄2 − 1𝑊2 = 𝑚(𝑒2 − 𝑒1) = 𝑚(𝑢2 − 𝑢1) +𝑚(𝑉2)2

2−

𝑚(𝑉1)2

2+ 𝑚𝑔𝑧2 − 𝑚𝑔𝑧1

Ou seja, a energia interna de um sistema corresponde à soma de todas as energias

cinéticas e das energias potenciais associadas às partículas que compõem um dado

sistema termodinâmico. A energia atrelada à radiação térmica confinada também integra

a energia interna e sua contribuição inclui-se usualmente na parcela de energia térmica.

Para um sistema fechado, e desprezando-se a variação de energia cinética e potencial

macroscópica, essa lei costuma ser representada pela equação:

∆𝑈 = 𝑄 − 𝑊

A energia interna U do sistema, assim como a energia potencial e a energia cinética, é

uma propriedade extensiva e traduz, em termos macroscópicos, fenômenos

microscópicos das partículas do sistema. Quando um corpo recebe calor, parte (ou todo)

deste calor tem como impacto no sistema a elevação desta energia interna, enquanto o

restante gera trabalho, obedecendo ao equilíbrio acima. Em um ciclo, ou seja, quando o

sistema percorre uma série de caminhos e volta ao seu estado inicial e, portanto,

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apresenta a mesma energia interna, o trabalho realizado deve ser igual ao calor

fornecido ao sistema.

Calor é o termo associado à transferência de energia térmica de um sistema a outro - ou

entre partes de um mesmo sistema - exclusivamente em virtude da diferença

de temperaturas entre eles. Designa também a quantidade de energia térmica transferida

em tal processo. Segundo a equação apresentada, definimos calor como positivo quando

transferido ao sistema e negativo quando transferido pelo sistema.

Por fim, o trabalho é a medida de energia transferida pela aplicação de uma força, ao

longo de um deslocamento. Há, portanto, duas condições para que uma força realize

trabalho: que haja deslocamento e que a força (ou componente dela) seja na direção do

deslocamento. Se a força estiver no sentido do deslocamento, o trabalho é dito positivo.

Se estiver no sentido oposto, o trabalho é negativo. Na convenção aqui usada na

equação apresentada, o trabalho tem valor positivo quando realizado pelo sistema e

negativo quando realizado sobre o sistema.

Uma vez definidos energia interna, trabalho e calor, cabe introduzir a função

termodinâmica associada à Primeira Lei da Termodinâmica, a entalpia. Esta função

engloba em si não apenas a energia interna do sistema, mas também a energia

armazenada no conjunto sistema-vizinhança que, absorvida pelo sistema

via trabalho realizado pela vizinhança em processos termodinâmicos que impliquem a

diminuição de seu volume, também integra uma parcela de energia passível de ser

extraída na forma de calor a partir do referido sistema. A entalpia mensura, pois, a

totalidade de energia de alguma forma atrelada ao sistema - incluindo-se nesta não

apenas a energia encerrada no sistema como também a energia atrelada ao sistema em

virtude das relações que este estabelece com a sua vizinhança.

De acordo com o apresentado, a entalpia absoluta, ou simplesmente entalpia, H, define-

se por:

𝐻 = 𝑈 + 𝑃𝑉

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onde U representa a energia interna do sistema e PV mensura a quantidade de energia

associada ao conjunto sistema-vizinhança devido ao fato de o sistema ocupar um

volume V quando submetido à pressão constante P, ou seja, o máximo trabalho

executável pela vizinhança sobre o sistema.

Segunda Lei da Termodinâmica

Num sentido geral, a segunda lei da termodinâmica afirma que as diferenças entre

sistemas em contato tendem a igualar-se. As diferenças de pressão, densidade e,

particularmente, as diferenças de temperatura tendem a equalizar-se. Isto significa que

um sistema isolado chegará a alcançar uma temperatura uniforme. Uma máquina

térmica é aquela que provê trabalho eficaz graças à diferença de temperatura entre dois

corpos. Dado que qualquer máquina termodinâmica requer uma diferença de

temperatura, se deriva que nenhum trabalho útil pode extrair-se de um sistema isolado

em equilíbrio térmico, isto é, requererá de alimentação de energia do exterior. A

segunda lei se usa normalmente como a razão pela qual não se pode criar uma máquina

de movimento perpétuo (moto contínuo).

A segunda lei da termodinâmica nos introduz o conceito de entropia, sendo esta definida

como uma medida do grau de irreversibilidade de um sistema. Quando um sistema

muda de um estado bem definido para outro estado bem definido, a variação de entropia

é definida como:

∆𝑆 = ∫𝜕𝑄

𝑇

𝑓

𝑖

+ 𝑆1 (𝑔𝑒𝑟𝑎𝑑𝑜)2

onde i e f são, respectivamente, os estados inicial e final; δQ corresponde ao incremento

de energia térmica transferida ao sistema fechado; T, a temperatura de interface na qual

ocorre a troca; e ∆S, a variação da entropia entre os dois estados. Note-se ainda a

existência do termo [1S2,(gerado)], que, de acordo com a segunda lei, será sempre maior

ou igual a zero, sendo nulo no caso de um processo reversível.

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Anexo II

Listas dos Municípios Maiores Produtores do Produto Agrícola

Algodão Município Produção (t)

São Desidério (BA) 477.268

Sapezal (MT) 440.800

Campo Verde (MT) 336.996

Formosa do Rio Preto (BA) 190.350

Campo Novo do Parecis (MT) 145.080

Diamantino (MT) 144.854

Riachão das Neves (BA) 144.650

Primavera do Leste (MT) 131.365

Feijão Município Produção (t)

Unaí (MG) 81.000

São Desidério (BA) 68.064

Sorriso (MT) 60.324

Cristalina (GO) 54.800

Euclides da Cunha (BA) 54.500

Luis Eduardo Magalhães (BA) 52.157

Barreiras (BA) 51.058

Paracatu (MG) 49.740

Arroz Município Produção (t)

Uruguaiana (RS) 751.684

Itaqui (RS) 587.103

Santa Vitória do Palmar (RS) 582.633

Alegrete (RS) 495.964

Dom Pedrito (RS) 419.521

São Borja (RS) 347.438

Arroio Grande (RS) 337.840

Lagoa da Confusão (TO) 261.600

Mandioca Município Produção (t)

Acará (PA) 381.000

Santarém (PA) 304.780

Araruna (PR) 264.000

Alenquer (PA) 220.000

Oriximiná (PA) 216.000

Manacapuru (AM) 207.765

Tuneiras do Oeste (PR) 205.148

Bragança (PA) 183.260

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Milho Município Produção (t)

Sorriso (MT) 2.619.690

Jataí (GO) 1.593.000

Rio Verde (GO) 1.512.900

Maracaju (MS) 1.152.150

Nova Ubiratã (MT) 1.105.800

Sapezal (MT) 1.036.554

Nova Mutum (MT) 972.360

Ponta Porã (MS) 936.000

Trigo Município Produção (t)

Tibagi (PR) 114.000

Itaberá (SP) 95.000

Castro (PR) 75.900

Cascavel (PR) 71.815

Arapoti (PR) 63.000

Londrina (PR) 61.270

Mamborê (PR) 60.264

Guarapuava (PR) 58.728

Soja Município Produção (t)

Sorriso (MT) 1.951.710

Sapezal (MT) 1.222.500

Campo Novo do Parecis (MT) 1.197.900

Nova Mutum (MT) 1.181.830

São Desidério (BA) 1.134.000

Formosa do Rio Preto (BA) 1.123.200

Nova Ubiratã (MT) 1.118.400

Querência (MT) 1.017.600