ANÁLISE DE VIABILIDADE TÉCNICA PARA REUTILIZAÇÃO DE...

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ANÁLISE DE VIABILIDADE TÉCNICA PARA REUTILIZAÇÃO DE CONTEINÊRES ISO NA CONSTRUÇÃO DE HABITAÇÕES DA FAIXA 1 DO PROGRAMA MINHA CASA, MINHA VIDA. Paola Neves de Abreu Projeto de Graduação apresentado ao Curso de Engenharia Civil da Escola Politécnica, Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Engenheiro. Orientador: Profº. Elaine Vazquez RIO DE JANEIRO Março 2018

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ANÁLISE DE VIABILIDADE TÉCNICA PARA REUTILIZAÇÃO DE

CONTEINÊRES ISO NA CONSTRUÇÃO DE HABITAÇÕES DA FAIXA 1 DO

PROGRAMA MINHA CASA, MINHA VIDA.

Paola Neves de Abreu

Projeto de Graduação apresentado ao

Curso de Engenharia Civil da Escola

Politécnica, Universidade Federal do Rio

de Janeiro, como parte dos requisitos

necessários à obtenção do título de

Engenheiro.

Orientador: Profº. Elaine Vazquez

RIO DE JANEIRO

Março 2018

1

ANÁLISE VIABILIDADE TÉCNICA PARA REUTILIZAÇÃO DE CONTEINÊRES ISO

NA CONSTRUÇÃO DE HABITAÇÕES DA FAIXA 1 DO PROGRAMA MINHA CASA,

MINHA VIDA.

Paola Neves de Abreu

PROJETO DE GRADUAÇÃO SUBMETIDO AO CORPO DOCENTE DO CURSO DE

ENGENHARIA CIVIL DA ESCOLA POLITÉCNICA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO

RIO DE JANEIRO COMO PARTE DOS REQUISITOS NECESSÁRIOS PARA A

OBTENÇÃO DO GRAU DE ENGENHEIRO CIVIL.

Examinada por:

______________________________________________

Prof. Elaine Garrido Vazquez

______________________________________________

Prof. Eduardo Linhares Qualharini

______________________________________________

Prof. Leandro Torres Di Gragório

RIO DE JANEIRO

Março de 2018

2

Abreu, Paola Neves

Análise Viabilidade técnica para reutilização de contêineres

ISO na construção de habitações da faixa 1 do Programa

Minha Casa, Minha Vida./ Paola Neves de Abreu – Rio de

Janeiro: UFRJ / Escola Politécnica, 2017.

51 p.: il.; 29,7 cm.

Orientadora: Elaine Vazquez Garrido

Projeto de graduação – UFRJ/ Escola Politécnica / Curso

de Engenharia Civil, 2017.

Referências bibliográficas: p..57 à 59

1.Introdução 2. O programa Minha Casa Minha Vida 3.

Construção em Contêiner 4. 5. Considerações Finais.

I. Elaine Vazquez Garrido. II. Universidade Federal do

Rio de Janeiro, Escola Politécnica, Curso de Engenharia

Civil. III. Título

3

AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente à Deus, por ter me dado força por toda a vida, possibilitando estar

concluindo mais esta fase. Não foi fácil chegar até aqui, foi preciso muita paciência e dedicação

e agradeço muito a Deus por ter me dado a capacidade emocional suficiente para tal.

A minha família, que é minha base, agradeço de todo coração. Agradeço aos meus pais, Márcio

e Luciana, por desde sempre fazerem o possível e o impossível para o meu bem, por sempre

valorizarem a educação e ter feito com que desde pequena eu procurasse evoluir. Agradeço pelo

amor e paciência que tiveram comigo, principalmente nesses anos de graduação, no qual, por

muitas vezes, cheguei em casa muito estressada ou desmotivada, eles estiverem do meu lado,

passo a passo até aqui. Minha irmã também foi essencial para tudo na minha vida, sempre (ou

não) paciente comigo e agora seguindo meus passos, obrigada demais e agora eu estarei ao seu

lado para te ajudar a terminar essa jornada. À minha irmã do coração, Roberta, e Mimi, agradeço

por todos os momentos de alegria, nos quais eu pude escapar de todas minhas responsabilidades

e aproveitar nossa relação de tanto carinho e amor.

Ao meu noivo agradeço por todo amor e carinho. Agradeço por estar ao meu lado desde o

primeiro passo dentro da Universidade até o último. Seu estímulo e incentivo foram essenciais

para minha vitória e ela também é sua.

Aos meus tios Denilson e Fernanda e minha prima Maria agradeço por terem aberto sua casa

para mim e terem feito dela a minha pelos 2 anos que precisei. Vocês me acolheram com muito

amor e carinho e me fizeram sentir parte da família, sem vocês com certeza o caminho teria

sido mais árduo.

Agradeço aos meus amigos dessa caminhada, Maria, Renan, Ignez, Danielle, Matheus, Jéssica

e Gabriela. A chegada até aqui teria sido muito mais difícil e sem graça sem a presença de

vocês, cada um foi de extrema importância em cada dia vivido dentro da faculdade.

Agradeço aos professores que me auxiliaram na minha vida acadêmica e que compartilharam

comigo seus conhecimentos para que hoje eu possa ser digna ao título de Engenheira Civil.

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Viabilidade técnica para reutilização de contêineres ISO na construção de habitações da Faixa

1 do Programa Minha Casa, Minha Vida no Estado do Rio de Janeiro.

Paola Neves de Abreu

Agosto/2017

Orientador: Elaine Vazquez Garrido

Curso: Engenharia Civil

Resumo:

Diante do grande problema que o país enfrenta há muitos anos, o déficit habitacional, o governo

necessitou criar políticas para alavancar o crescimento de construção de moradias e possibilitar

a aquisição de imóveis de famílias mais necessitadas. O último programa criado, Minha Casa

Minha Vida, que até hoje é mantido, apesar de ter entregue várias habitações e ter cumprido

suas metas nas suas primeiras fases, não consegue que a taxa déficit habitacional caia

significativamente. Pensando nisso, e também no fato do Rio de Janeiro ser um dos estados

com maior índice de déficit habitacional, este trabalho apresenta uma possibilidade construtiva

para alavancar a construção de moradias populares, a construção em contêiner. Este tipo de

construção ainda é pouco utilizado no Brasil, até mesmo pela falta de conhecimento, mas é

eficiente e pode ser uma grande tendência. É necessário a análise do seu método construtivo

para comparar com os requisitos que o programa, que se baseiam na NBR 15575, exige para

suas moradias para que seja possível dizer se esse tipo de construção é viável tecnicamente para

o programa. Neste trabalho foi analisado, através das especificações técnicas exigidas pelo

programa, nas obras já construídas no Brasil utilizando contêineres, se os métodos e materiais

usados são compatíveis com essas especificações, sendo possível seu uso para construções de

moradias populares.

Palavras-chave: déficit habitacional. Programa Minha Casa Minha Vida. Contêiner.

Viabilidade técnica. NBR 15575.

5

Abstract of Monograph present to Poli/UFRJ as a partial fulfillment of the requirements for

degree of Civil Engineer.

Abstract

Considering the large problem, which Brazil has been facing since long time ago: the housing

deficit, the Brazilian government has created specific programs to contribute with the growth

of housing construction and to allow the acquisition of properties from poor families. The last

program created, Minha Casa Minha Vida, in English, “My Home My Life”, which is still

maintained by the government, has attended many families and it has accomplished its goals in

the initial phases of the program though this policy has not significantly reduced the housing

deficit in Brazil. Regards to this scenario and in the fact of Rio de Janeiro is one of the states in

Brazil that presents the highest rates of housing deficit; this thesis shows a constructive

possibility (way,method) that can be used to the popular housing construction: container

construction. This type of construction is not usual in Brazil yet, mainly because of the lack of

expertise, however it is efficient and it can become a trend in the future. It is important to

analyze its constructive method and to comply with the program requirements guarantying

technical viability for this kind of construction.

Key words: Housing deficit, “Minha Casa Minha Vida” Program, containers, technical

viability. NBR 15575.

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SUMÁRIO

AGRADECIMENTOS ........................................................................................... 3

LISTA DE FIGURAS ............................................................................................ 7

1. INTRODUÇÃO ................................................................................................. 10

1.1 CONTEXTUALIZAÇÃO ............................................................................. 10 1.2 OBJETIVO .............................................................................................. 13 1.3 JUSTIFICATIVA DO TEMA .................................................................. 13 1.4 METODOLOGIA ........................................................................................ 13

2. O PROGRAMA MINHA CASA MINHA VIDA ............................................... 15

2.1 PROGRAMA MCMV NO ESTADO DO RIO DE JANEIRO ....................... 16 2.2 DIRETRIZES CONSTRUTIVAS - FASE 3 ................................................. 18

2.2.2 REQUISITOS PARA SISTEMA DE REVESTIMENTO ............................ 22

2.2.3 REQUISITOS PARA OS SISTEMAS DE COBERTURA .......................... 23

2.2.4 REQUISITOS PARA SISTEMAS HIDROSANITÁRIOS .......................... 24

2.2.5 REQUISITOS PARA PORTAS E JANELAS .............................................. 24

3. CONSTRUÇÃO EM CONTÊINER ................................................................... 26

3.1 HISTÓRICO DO USO DOS CONTÊINERES ISSO .................................... 26 3.2 CARACTERÍSTICAS DO CONTÊINER ..................................................... 28 3.3 USO DE CONTÊINER NA CONSTRUÇÃO CIVIL .................................... 30

3.4 ASPECTOS PROJETUAIS .......................................................................... 33 3.5 ASPECTOS CONSTRUTIVOS .................................................................... 36

3.5.1 ABERTURA .................................................................................................. 36

3.5.2 PINTURA EXTERNA .................................................................................. 36

3.5.3 DIVISÃO E REVESTIMENTO .................................................................... 37

3.5.4 INSTALAÇÕES ............................................................................................ 38

3.5.5 ISOLAMENTO TÉRMICO ....................................................................... 39

4. ESTUDO DE VIABILIDADE PROJETUAL E CONSTRUTIVA EM CONTÊINER

40

4.1 ASPECTOS PROJETUAIS .......................................................................... 40 4.2 ASPECTOS CONSTRUTIVOS .................................................................... 41

4.2.1 REQUISITOS PARA OS SISTEMAS DE VEDAÇÕES VERTICAIS INTERNAS

E EXTERNAS ........................................................................................................ 41

4.2.2 REQUISITOS PARA OS SISTEMAS DE PISOS ...................................... 46

4.2.4 REQUISITOS PARA OS SISTEMAS DE COBERTURA .......................... 48

4.2.5 REQUISITOS PARA OS SISTEMAS HIDROSANITÁRIOS .................... 51

4.2.6 REQUISITOS PARA PORTAS E JANELAS .............................................. 52

4.3 RESULTADO DO ESTUDO ........................................................................ 53 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................. 54

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................... 56

7

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 Números do programa MCMV até a segunda fase. ................................................... 11

Figura 2 Déficit habitacional – em milhões.............................................................................. 12

Figura 3 a) Empreendimento Bairro Carioca localizado em Triagem, RJ. b) Empreendimento

Parque Carioca localizado em Jacarepaguá, RJ........................................................................ 17

Figura 4 Mapa das zonas bioclimáticas brasileiras. ................................................................. 22

Figura 5 Exemplo de um sistema de piso e seus elementos ..................................................... 22

Figura 6 Contêiner ISO 20’. ..................................................................................................... 27

Figura 7 Componente de um contêiner. ................................................................................... 28

Figura 8 a) Loja Container Ecology Store; b) Escritório em contêiner – Canteiro de Obra. ... 31

Figura 9 a) Primeira casa contêiner no Brasil, São Paulo; b) Planta Baixa da primeira casa

contêiner no Brasil, São Paulo. ................................................................................................. 32

Figura 10 Algumas construções no Sul do Brasil..................................................................... 33

Figura 11 a) casa com contêineres sobrepostas; b) casa com contêineres lado a lado. ............ 34

Figura 12 Esquema de transformação de contêiner – ampliação. ............................................ 34

Figura 13 a) Abertura no contêiner para colocação de portas e janelas; b) Casa contêiner com

parede de vidro. ........................................................................................................................ 35

Figura 14 a) Casa com aspecto visual com contêiner; b) Casa sem aspecto visual de contêiner.

.................................................................................................................................................. 35

Figura 15 Recorte do contêiner e instalação do requadro. ....................................................... 36

Figura 16 Tratamento na chapa para remoção de corrosão. ..................................................... 37

Figura 17 a) Estrutura wood frame; b) Revestimento de gesso acartonado. ........................... 37

Figura 18 Escritório em contêiner com utilização do teto verde. ............................................. 38

Figura 19 a) Instalação elétrica embutida na placa de gesso acartonado; b) instalação

hidráulica externa. .................................................................................................................... 39

Figura 20 Planta baixa apartamento do condomínio Betim Conquista, em Betim, MG. ......... 40

Figura 21 Projeto de uma casa em contêiner Dry 40’ baseado na planta da casa do PMCMV.

.................................................................................................................................................. 41

Figura 24 Amostra de lã de pet. ................................................................................................ 43

Figura 25 Lã de Pet aplicada na casa do arquiteto Danilo Corbas. .......................................... 43

Figura 26 Portas e janelas em casa container. .......................................................................... 44

Figura 27 Aplicação de placas de gesso acartonado resistente ao fogo. .................................. 45

Figura 28 Diferentes tipos de placa de gesso. .......................................................................... 45

Figura 22 Inspeção da condição do piso do contêiner com ajuda de cavaletes. ....................... 47

Figura 23 Camada de isolamento térmico entre o piso original do contêiner e o revestimento.

.................................................................................................................................................. 48

Figura 29 Projeto de uma casa contêiner com telha embutido. ................................................ 49

Figura 30 Estruturação do telhado fixados nas laterais do contêiner. ...................................... 49

Figura 31 Gráfico Espessura do isolante X Condutibilidade Térmica. .................................... 50

Figura 32 Montagem do telhado com isolamento térmico de poliuretano. .............................. 50

Figura 33 Instalação hidráulica de uma casa contêiner. ........................................................... 51

Figura 34 a) Banheiro de uma casa contêiner com aparelhos hidrosanitários instalados; b)

Cozinha de uma casa contêiner com aparelho hidráulico instalado. ........................................ 51

Figura 35 Porta de madeira no acesso da casa contêiner. ......................................................... 52

8

Figura 36 Paredes em gesso acartonado com porta de madeira. .............................................. 53

9

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 Principais mudanças nas especificações técnicas do PMCMV da primeira para

segunda fase. ............................................................................................................................. 18

Quadro 2 Cargas de ensaio e critérios para peças suspensas fixadas por mão-francesa padrão.

.................................................................................................................................................. 21

Quadro 3 Área mínima de ventilação em dormitórios e salas de estar..................................... 21

Quadro 4 Especificação de Louças e Metais do PMCMV. ...................................................... 24

Quadro 5 Normas Brasileiras que tratam sobre contêineres..................................................... 26

Quadro 6 Tipos e dimensões dos contêineres ISO usuais. ....................................................... 29

Quadro 7 Características do contêiner. ..................................................................................... 29

Quadro 8 Resultado do ensaio de carga suspensa. ................................................................... 46

Quadro 9 Resultado do estudo de viabilidade. ......................................................................... 53

10

1. INTRODUÇÃO

1.1 CONTEXTUALIZAÇÃO

Desde 1940, de acordo com Lorenzetti (2001), quando começou a realocação das famílias da

área rural para área urbana, a moradia é um problema a ser solucionado no Brasil. A necessidade

dos trabalhadores, vindo de outros estados para trabalhar nas metrópoles, Rio de Janeiro e São

Paulo, de morar perto do serviço fez com que a periferia começasse a ser habitada. Dessa forma

a população urbana começou a crescer descoordenadamente com a capacidade de instalação

infraestrutura das cidades, fazendo com que houvesse uma ocupação desordenada do solo e a

expansão das periferias devido à falta de geração de empregos suficientes, ofertas de moradias

e infraestrutura. É aí então que nasce um problema que assola o país até hoje, o déficit

habitacional.

O termo déficit habitacional é utilizado para se referir à famílias que vivem em moradias

precárias, ou seja, associadas a moradias em risco que precisam ser reconstruídas e não deve

ser confundida com o fato de uma família ter sua casa própria. De acordo com os critérios do

IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) uma habitação é inadequada quando for

inexistente instalação sanitária ligada à rede geral ou fossa séptica, abastecimento de água com

canalização interna ligada à rede geral, coleta de lixo e ligação à rede de energia elétrica, além

de se considerar a coabitação familiar e o fato da construção ser do tipo durável.(

www.ibge.gov.br)

O estudo anual sobre habitações feito pela Fundação João Pinheiro (FJP) mostra que mais de

75% do déficit habitacional no país concentra-se na região sudeste e nordeste. O Nordeste

apresenta mais problemas de habitações inadequadas enquanto no Sudeste o maior problema é

a coabitação familiar.

Buscando solucionar o déficit habitacional o Governo começa a criar políticas públicas para

frear o aumento deste contingente. Em 1942 o governo cria a Lei o Inquilinato, tentando garantir

os direitos dos inquilinos, porém não foi alcançado o objetivo, pois, segundo Bonduki (2011),

moradias de aluguéis eram as principais formas de moradias e começou a aumentar os números

de despejos fazendo com que houvesse ocupação de áreas periféricas e loteamentos irregulares.

Em 1964 criou-se o Banco Nacional de Habitação (BNH) que permitia o uso do fundo de

garantia para criar financiamento habitacional. Esse programa teve duração de 20 anos,

passando suas atribuições para Caixa Econômica Federal (CEF).

11

Após muitos anos sem nenhum programa visando a moradia, em 2003 cria-se o Ministério

das Cidades.

O Ministério das Cidades foi criado com o caráter de órgão coordenador,

gestor e formulador da Política Nacional de Desenvolvimento Urbano,

envolvendo, de forma integrada, as políticas ligadas à cidade, ocupando um

vazio institucional e resgatando para si a coordenação política e técnica das

questões urbanas. Coube-lhe, ainda, a incumbência de articular e qualificar os

diferentes entes federativos na montagem de uma estratégia nacional para

equacionar os problemas urbanos das cidades brasileiras, alavancando

mudanças com o apoio dos instrumentos legais estabelecidos pelo Estatuto

das Cidades (BONDUKI, 2008, p.96).

Em 2007 houve a criação do Plano de Aceleração do Crescimento (PAC), visando

desenvolvimento econômico federal, com orçamento de meio bilhão de reais para logística,

energia e habitação.

Com a crise econômica mundial, em 2009, o governo, com intenção de diminuir os impactos

dessa crise, criou o Programa Minha Casa Minha Vida (PMCMV), criando créditos imobiliários

para famílias de baixa renda.

A primeira fase do programa visava entregar 1 milhões de moradias, sendo 40 % para famílias

de até três salários mínimos, e doze meses após seu início já tinha sido comprido 41 % do

prometido. Mesmo que ao final do programa a meta tenha sido alcançada, o governo entendeu

que precisava ser feita mudanças e, em junho de 2011, iniciou-se a segunda fase do programa,

com promessa de construção de 2 milhões de moradias, com 60 % destinadas à famílias com

renda até três salários.

Figura 1 Números do programa MCMV até a segunda fase.

Fonte: Caixa Econômica (2014)

12

Mesmo com a criação do programa e com muitas moradias sendo integres, o déficit habitacional

não diminui, e até mesmo aumenta em alguns anos, como mostra a figura 2 a seguir.

Figura 2 Déficit habitacional – em milhões.

Fonte: Fundação João Pinheiro (2015)

Diante do cenário que ainda se encontra a economia do país e o declínio financeiro das

construtoras, buscou-se, nesse trabalho final de curso, analisar a viabilidade da construção em

contêineres para habitações do programa MCMV no Estado do Rio de Janeiro, pensando na

questão do déficit habitacional e também ecológica, já que esse tipo de construção gera menos

resíduos e é um material descartado depois da sua vida útil no uso de transporte de carga, e,

segundo Mesquita (2015), se espera um crescimento acerca de 7,4% no setor de transporte

marítimo na próxima década, por conseguinte, aumentando o número de contêineres

descartados, fazendo com que a grande oferta do produto baixe o custo da sua venda, baixando

também o valor deste tipo de construção.

Além do custo, esse tipo de construção apresenta outros benefícios como serem pré-fabricados,

compactos, modulados, poderem ser transladados e facilmente empilhados e, mais importante,

terem alta resistência mecânica e grande durabilidade. Outo grande ponto positivo desse tipo

de construção no Rio de Janeiro é pelo estado possuir o maior número de portos entre as cidades

do Brasil, dessa forma, o transporte se torna mais fácil e barato.

Um dos atrativos deste tipo de construção é a agilidade no seu processo construtivo, além de já

ter estrutura própria, a obra não depende de fatores climáticos para acontecer. Segundo Castilho

(2016), diretor da empresa Delta Container, uma obra em contêiner, geralmente, é 60% mais rápida

que uma obra em de alvenaria comum. Esse fator é muito importante em relação à construções

13

populares, pois, mesmo sendo um programa eficiente em relação as suas propostas, o Programa

Minha Casa Minha Vida não consegue beneficiar todas as famílias necessitadas.

Para que seja viável utilizar construções em contêiner no Programa Minha Casa Minha Vida, é

necessário que esta obedeça requisitos mínimos impostos pelo programa, requisitos estes que

são baseados na NBR 15575.

1.2 OBJETIVO

O presente trabalho tem como objetivo avaliar a viabilidade construtiva da reutilização de

contêineres ISSO Dry 40’ para construções de moradias do programa federal Minha Casa

Minha Vida para faixa 1 no estado do Rio de Janeiro, levou-se em conta os aspectos projetuais

e construtivos, visando atender todas as especificidades pedidas pelo programa, que são

baseadas na NBR 15575, buscando diminuir o índice do déficit habitacional no estado.

1.3 JUSTIFICATIVA DO TEMA

As moradias populares são de extrema importância para o controle do déficit habitacional e para

garantir melhor qualidade de vida para as famílias de classe baixa. Portanto, um estudo de novos

métodos construtivos capaz de alavancar este tipo de construção é de enorme relevância para a

população.

1.4 METODOLOGIA

A metodologia adotada tem como base a descrição algumas etapas da construção de casas do

programa Minha Casa, Minha Vida, levando em consideração todas as especificações técnicas

exigidas para construção, baseada na NBR 15575, e seus materiais comparando com uma

construção em contêiner que possa, além de se adequar as especificações, levar conforto para

as famílias necessitadas.

1.4 DESCRIÇÃO DOS CAPÍTULOS

O primeiro capítulo faz uma breve apresentação do tema abordado, contextualizando-o e

apresentando seu objetivo e justificativa. Também é feita um pequeno resumo da metodologia

aplicada no trabalho.

14

No segundo capítulo é feita a apresentação do Programa Minha Casa Minha Vida (PMCMV),

abrangendo toda sua história e as características da sua construção. Nele é feito uma descrição

dos requisitos exigidos pelo programa para algumas etapas de construção, que são baseadas na

NBR 15575.

O terceiro capítulo trata da história do contêiner e como ele começou a ser utilizado na

arquitetura no Brasil e no mundo, além de apresentar os aspectos construtivos desse método e

as mudanças necessárias para que a habitação seja viável.

O quarto capítulo apresenta a viabilidade técnica da construção em contêiner comparando

métodos e materiais já usados em habitações em contêiner pelo Brasil com as exigências

construtivas do programa, que é baseado na NBR 55575.

No quinto capítulo é feita as considerações finais do trabalho, analisando as comparações feitas

entre os dois métodos construtivos.

Por fim, é apresentado a revisão bibliográfica e o anexo.

15

2. O PROGRAMA MINHA CASA MINHA VIDA

“Artigo 2º: O Programa Minha Casa Minha Vida (PMCMV) tem como

finalidade criar mecanismos de incentivo á produção e à aquisição de novas

unidades habitacionais pelas famílias com renda mensal de até 10 (dez)

salários mínimos, que residam em qualquer dos Municípios brasileiros.” Lei

nº 11.977, 7 julho de 2009, pela qual foi implantada o PMCMV

O programa do Governo Federal, Minha Casa Minha Vida, foi criado em 2009 em parceria com

os estados, municípios e empresas privadas, sem fins lucrativos e com parte do valor de

construção subsidiado pelo governo, com intuito de facilitar a aquisição de imóveis de famílias

de renda baixa e média, ajudando a minimizar o déficit habitacional, que hoje é de 6,237

milhões de moradias no país, de acordo com IBGE (2010), e assim, concomitantemente, a

diminuir as diferenças sociais. Desde seu início, segundo a Caixa Econômica Federal (2017),

já foram entregues mais de três milhões de moradias, contemplando aproximadamente 12

milhões de pessoas em todo país. No estado do Rio de Janeiro, segundo a Prefeitura (2016), já

foram entregues mais de 133 mil unidades ajudando 534 mil pessoas. (www.cidades.gov.br)

Tal produção se dá num contexto condicionado por dois fatores: construção

em grande escala e ao menor custo possível. As habitações assim produzidas

são “vendidas” com prazos de pagamento de até 25 anos, não sendo, portanto,

a prestação a fonte de sustentação financeira do sistema e nem elemento de

pressão para a melhoria da qualidade. (OLIVEIRA et al., 2004, p. 01).

Além da diminuição do déficit habitacional brasileiro, o PMCMV nasceu com intuito de

resolver problemas de infraestrutura e saneamento básico das residências já existentes, através

de concessões de subsídios às famílias, e resolver problemas técnicas muito recorrentes em

construções de habitações populares. Para isso foi criado um padrão de construção, listados na

diretriz que consta especificações mínimas para elaboração de projetos e unidades, e imposição

de infraestrutura urbana mínima para liberação de projetos e dos recursos.

Lançado em 2009, logo após o início da crise financeira mundial, o programa estimulou o setor

da construção civil, um setor que tradicionalmente emprega grande quantidade de mão-de-obra

desqualificada ou de baixa qualificação e que tem grande participação no PIB do país, ajudando

então o crescimento econômico.

Com a implantação da MCMV deu-se início a primeira fase do programa com objetivo de

popularizar a aquisição de moradias e, segundo órgão O Sienge (2016), com meta de construir

1 milhão de unidades. A prioridade do programa foi dada para famílias que possuíssem renda

de até três salários mínimos, mas, também, englobou famílias com outras faixas de renda.

Inicialmente foram contempladas 3 faixas de renda familiar: considerando renda máxima de

16

cinco mil reais na terceira faixa, o equivalente, aproximadamente, a 10 salários mínimos da

época. (www.sienge.com.br/minha-casa-minha-vida/)

As habitações que seriam construídas, com a meta de 1 milhão, foram divididas do seguinte

modo: 400 mil para famílias com rendas até três salários, outras 400 mil para a segunda faixa,

renda maior que três salários e inferior a seis, e então, 200 mil para famílias de renda superior

a seis e inferior a 10 salários.

Em 2011 deu-se início a segunda fase do programa, por um período de três anos, indo até 2014.

O programa tinha como meta a construção de mais 2 milhões de moradias, novamente dando

prioridade para famílias com renda até três salários mínimos. Nessa fase a construção de

habitações foi dividida de seguinte maneira: 1,2 milhões para famílias da primeira faixa (renda

até 3 salários mínimos), 600 mil para famílias pertencentes à segunda fase (renda entre 3 e 6

salários) e 200 mil para famílias da terceira fase (renda superior a 6 salários e inferior a 10).

A terceira fase do programa iniciou-se em março de 2016 com previsão de término em 2018

com esperança de serem entregues mais de 4,6 milhões de unidades até o fim da etapa. Para

essa fase houve aumento dos limites financeiros das faixas de renda contempladas e foi criada

uma nova faixa de renda familiar, a faixa 1,5, além do aumento do preço máximo do imóvel

para cada faixa.

Para 2017 o governo tinha meta de construir 610 mil novas unidades por meio do programa,

sendo 170 mil para a faixa 1; 40 mil para a faixa 1,5 e 400 mil para as faixas 2 e 3.

O programa possui três tipos de construção: as casas populares, apartamentos e quitinetes. Cada

tipo de construção possui suas características, regras e métodos construtivos dentro de cada

faixa. A Faixa 1 do programa engloba somente casas e apartamentos que precisam se enquadrar

nas especificações mínimas exigidas pelo programa.

2.1 PROGRAMA MCMV NO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Com o lançamento do programa e de suas diretrizes, foi relegado aos municípios o papel de

aprovar os projetos dos empreendimentos, adaptando as devidas legislações urbanísticas, além

de selecionar as famílias para receberem os benefícios destinados as habitações da faixa 1.

Dessa forma é possível dizer que o Programa não é o mesmo em todas as cidades em que atua.

Na prática, os municípios deveriam agir de forma a liberar entraves e facilitar

a atuação do setor privado. Já a Caixa Econômica Federa l – através de suas

Gerências de Desenvolvimento Urbano (GIDUR) e, posteriormente, por meio

das Gerência s de Habitação (GIH A B) – ficaria responsável por avaliar se

17

os projetos dos empreendimentos propostos estariam de acordo com os

parâmetros técnicos estabelecidos pelas normativas. (AMORE, C.; SHIMBO,

L.; et al, 2016)

A cidade do Rio de Janeiro, de acordo com a Caixa Econômica Federal, foi a primeira do Brasil

a assinar o termo de adesão com o Programa, esse fato contribui para que a cidade seja a campeã

na produção de unidades habitacionais, sendo a maior parte para famílias pertencentes a faixa

1 do programa (com renda bruta até três salários mínimos).

A grande viabilização dos empreendimentos da faixa 1 pela Prefeitura do Rio se deu através de

cessão de terrenos, contando com a munição de equipamentos públicos municipais, como foi o

caso do caso do Bairro Carioca e do Parque Carioca.

a) b)

Fonte: www.cidades.gov.br

De acordo com Caixa Econômica até 50% das unidades habitacionais da faixa 1 podem ser

destinadas a famílias que foram dispensadas de sorteio, escolhidas pela prefeitura, por estarem

vivendo em situações de risco, essas famílias também não pagariam pela habitação. Dessa

forma, a Prefeitura do Rio priorizou a parceira com PMCMV essencialmente para o

reassentamento sendo um dos motivos o deslocamento involuntário de muitas famílias devido

aos grandes deslizamentos ocorridos em 2010 e as grandes obras para Copa do Mundo (2014)

e Olimpíadas (2016). (http://www.caixa.gov.br/voce/habitacao/minha-casa-minha-

vida/urbana)

De acordo com a carta do então Secretário de Habitação, das 12.812 famílias

removidas até agosto de 2011, 4 mil foram reassentadas em apartamentos do

PMCMV, 1.965 receberam indenização, 1.374 realizaram compra assistida de

outro imóvel, ao passo que 5.473 delas estavam recebendo aluguel social e

Figura 3 a) Empreendimento Bairro Carioca localizado em Triagem, RJ. b) Empreendimento

Parque Carioca localizado em Jacarepaguá, RJ

18

aguardando reassentamento definitivo em empreendimentos do PMCM V

ainda não entregues. (AMORE, C.; SHIMBO, L.; et al, 2016)

2.2 DIRETRIZES CONSTRUTIVAS - FASE 3

Para que haja um padrão e qualidade mínima nas construções do PMCMV foram elaboradas

diretrizes para que as construtoras que atuam no programa possam seguir e, assim, no final de

cada construção, possa haver uma fiscalização para aprovação por parte da Caixa.

Para empreendimentos destinados a famílias da Faixa 1 (renda não superior a três salários

mínimos) é necessário satisfazer especificações mínimas adotadas pelo PMCMV. Essas

especificações contemplam as casas e apartamentos além de todas especificações urbanísticas

do empreendimento destinado. A norma brasileira de desempenho de edifícios habitacionais de

até cinco pavimentos (NBR 15575/ 2013) foi usada para alguns requisitos de dimensionamento.

Um dos aspectos levantados foi a determinação que o empreendimento tenha infraestrutura

urbana básica, como ruas pavimentadas, drenagem pluvial, calçadas, iluminação pública,

abastecimento de água potável, coleta de lixo, etc. Além da conectividade, mobilidade,

diversidade e sistemas de espaços livres.

Em cada fase do programa as especificações técnicas foram alteradas em algum aspecto, como

é citado no quadro a seguir.

Quadro 1 Principais mudanças nas especificações técnicas do PMCMV da primeira para

segunda fase.

Mudanças Técnicas

Aumento da dimensão de portas e janelas

Aumento da área construída das habitações

Aumento das dimensões dos compartimentos

Melhoria de alguns materiais de acabamento

Melhores condições de acessibilidade nas habitações correntes

Disponibilização de habitações adaptadas ao uso por pessoas portadoras de

deficiência, com mobilidade reduzida e idosos

19

Com a terceira fase do programa, iniciada em 2016, foi elaborada a última diretriz do programa,

aprovada em março de 2017, com mudanças nas especificações técnicas das construções. As

diretrizes se encontram na Portaria 269, de 22 de março de 2017.

Os tamanhos mínimos dos cômodos não são definidos, deixando a elaboração do projeto mais

livre, mas é arbitrado o mínimo de móveis que devam caber em determinado cômodo, com suas

medidas. As áreas mínimas da habitação são definidas e diferente para cada tipo de construção.

As casas deverão ter área mínima de 36,00 m², se área de serviço for externa, e 38,00 m² com

área de serviço interna, respeitando o mobiliário mínimo definido e considerando dois

dormitórios, sala de estar, cozinha, banheiro, circulação e área de serviço. Para apartamentos

ou casas sobrepostas o tamanho mínimo é de 39,00 m² e deverão obedecer aos mesmos

requisitos que as casas.

As construções das habitações do programa podem ser feitas por pessoa física ou jurídica, basta

seguir as normas e exigências mínimas. É necessário a apresentação de um projeto de acordo

com a legislação municipal e requisitos da Caixa.

Empresas que constroem para o programa, que segundo Claúdio Conz, presidente da

Associação Nacional dos Comerciantes de Material de Construção - Anamaco , são 70%

empresas de pequeno e médio porte, devem se enquadrar em qual faixa do programa irão

construir. As principais construtoras do programa são: MRV Engenharia, Tenda, Vitale e

Direcional Engenharia.

Além da área mínima, também foi estabelecido o número máximo de unidades habitacionais,

dependendo da população da cidade em questão. No Rio de Janeiro, de acordo com a população

estimada do IBGE (2017), são, aproximadamente, 6,5 milhões de habitantes, sendo possível a

construção de 500 unidades habitacionais por empreendimento limitado por vias públicas em

todo o perímetro; permitido agrupamento de no máximo 4 empreendimentos, separados por

vias públicas, para unidades multifamiliares (apartamentos) e unifamiliares (casas).

Todos os revestimentos, acabamentos, esquadrias são também descritos na diretriz, fazendo

com que tenha sempre um padrão e que todos os itens estejam dentro das normas brasileiras,

sempre focando na segurança.

A importância da especificação mínimas de construção, além de adquirir um padrão no

programa, é facilidade de analisar os orçamentos dos projetos apresentados. Como todos tem

que seguir o mínimo proposto, é esperado um padrão também nos orçamentos. O valor do

pagamento de cada projeto do programa realizado pelo governo para as construtoras da Faixa

20

1 são feitos, de acordo com a Caixa Econômica Federal, com base de estudo de orçamentos a

partir do Sistema Nacional de Pesquisa de Custos e Índices da Construção Civil (SINAPI) que

conste preços unitários e quantitativos de serviços.

Para empreendimentos das outras faixas do programa não existe especificações mínimas, os

projetos precisam ser aprovados e os valores de venda precisam estar dentro do teto estipulado

pelo programa.

A tabela de especificações mínimas e as especificações urbanísticas dos empreendimentos,

presentes na portaria 269 se encontram no anexo I no final deste trabalho.

2.2.1 REQUISITOS PARA SISTEMA DE VEDAÇÃO

Mesmo sem função estrutural, as vedações podem atuar como

contraventamento de estruturas reticuladas, ou sofrer as ações decorrentes das

deformações das estruturas, requerendo assim uma análise conjunta do

desempenho dos elementos que interagem. Podem também interagir com

demais componentes, elementos e sistemas da edificação, como caixilhos,

esquadrias, estruturas, coberturas, pisos e instalações. As vedações verticais

exercem ainda outras funções, como estanqueidade à água, isolação térmica e

acústica, capacidade de fixação de peças suspensas, capacidade de suporte a

esforços de uso, compartimentação em casos de incêndio etc.. (NBR

15575/2013)

De acordo com a norma técnica do programa as paredes de geminação devem ter espessura

mínima de 14 cm, desconsiderando os revestimentos. O sistema de vedação externa e interna,

segundo NBR 15575/2013 parte 4, precisa garantir estanqueidade em relação á águas de chuvas

incidentes e de outras fontes, não permitir infiltração de água através de suas faces quando em

contato com água garantir o desempenho térmico, de acordo com ABNT NBR 15220-1 e ABNT

NBR 15220-5, apresentar aberturas para ventilação, garantir o desempenho acústico,

durabilidade e manutenibilidade.

Outro aspecto que as vedações devem cumprir é a solicitação de cargas provenientes de peças

suspensas atuantes, como quadros, prateleiras, lavatórios e outros. O sistema de vedação não

deve apresentar fissuras, lascamentos, rupturas nem permitir o arrancamento dos dispositivos

de fixação.

21

Quadro 2 Cargas de ensaio e critérios para peças suspensas fixadas por mão-francesa padrão.

Fonte: NBR 15575 – 4/2013.

O sistema de vedação utilizado deve resistir as ações transmitidas pelas portas, um dos critérios

a ser cumprido é ser submetido a 10 fechamentos de porta de maneira brusca sem apresentar

falhas, fissurações, destacamentos nos encontros do marco e outros.

A segurança contra o incêndio é um requisito que está presente em todas as partes da norma, o

sistema de vedação deve dificultar a ocorrência de inflamação generalizada e não gerar fumaça

excessiva capaz de evitar a fuga dos moradores em situação de incêndio. Em casos de

habitações unifamiliares de até 2 pavimentos, o sistema de vedação deve resistir à, pelo menos,

30 minutos somente nas paredes da cozinha e cômodo fechado que contenha equipamento de

gás.

Em ambientes de longa permanência, como salas, quartos e cozinhas, o sistema de vedação

externa deve conter aberturas de tamanho adequado para a instalação de janelas. As aberturas

para ventilação devem atender a legislação do local da obra, mas caso não houver exigências

devem usar as medidas indicadas no quadro a seguir.

Quadro 3 Área mínima de ventilação em dormitórios e salas de estar.

NÍVEL DE DESEMPENHO Zonas 1 a 7:

Aberturas médias

Zona 8:

Aberturas grandes

22

Fonte: Adaptação NBR 15575-4/2013

As zonas que o quadro anterior se refere são as zonas bioclimáticas brasileiras, que pode ser

vista no mapa a seguir.

Figura 4 Mapa das zonas bioclimáticas brasileiras.

Fonte: NBR 15575-1/2013

2.2.2 REQUISITOS PARA SISTEMA DE REVESTIMENTO

A Portaria 269 exige que todas os cômodos da residência possuam revestimento cerâmico

esmaltado no piso e rodapé, ou qualquer outra solução que obedeça a NBR 15575. A parte 3

da norma trata do sistema de pisos usados em áreas comuns ou privativas de acordo com os

critérios estabelecidos.

Fonte: NBR 15575/2013

MÍNIMO A ≥ 7% da área do piso

A ≥ 12% da área de piso na

região norte do Brasil.

A ≥ 8% da área do piso nas

regiões Nordeste e Sudeste.

Figura 5 Exemplo de um sistema de piso e seus elementos

23

A camada estrutural é o elemento resistente às diversas cargas do sistema de piso e é analisada

de acordo com as combinações de ações possíveis durante a vida útil. A camada de

impermeabilização tem finalidade de proteger as construções contra a ação de umidade, são

usadas, normalmente, em áreas molhadas, como cozinhas e banheiros.

O isolamento acústico é obrigatório somente para edificações multifamiliares, no qual dividem

paredes e piso/teto. O contrapiso tem função de regularização proporcionando uma superfície

uniforme e coesa que esteja adequada para instalação do revestimento. A camada de

acabamento deve resistir ao ataque de agentes químicos e pode ser de diversos materiais.

Para os revestimentos das paredes de áreas molhadas, banheiros, cozinhas e áreas de serviço, a

especificação técnica do programa obriga o uso de azulejo até 1,50 m de altura em todas as

paredes e em toda altura na parede do box.

Para as paredes internas é exigido regularização da alvenaria em gesso, emboço ou reboco que

fiquem adequados ao acabamento final de pintura.

2.2.3 REQUISITOS PARA OS SISTEMAS DE COBERTURA

Conjunto de elementos / componentes , dispostos no topo da construção, com

as funções de assegurar estanqueidade às águas pluviais e salubridade,

proteger demais sistemas da edificação habitacional ou elementos e

componentes da deterioração por agentes naturais, e contribuir positivamente

para o conforto termoacústico da edificação habitacional. (NBR 15575 –

5/2013)

O sistema de cobertura é de suma importância nas edificações habitacionais já que contribui

para a preservação da saúde dos usuários e da própria construção. Ele impede a infiltração de

úmidas devido a intempéries, evita que a construção esteja exposta diretamente ao sol,

influenciando positivamente no conforto térmico.

Para a cobertura, a especificação técnica do programa exige que seja de telha em estrutura de

madeira ou metálica com beiral de 0,60 m. Em caso de telhas cerâmicas esmaltadas usar cores

claras.

O forro deve possibilitar a fixação de luminárias, para cargas de serviço no forro o deslocamento

limita-se à L/600, onde L é vão do forro, e não deve superar 5mm.

Segurança no uso e operação é um requisito importante que o sistema de cobertura precisa

possuir, não pode haver peças soltas ou destacáveis, o projeto deve estabelecer inclinação

24

máxima para que não haja deslocamento de seus componentes. Quando o sistema de cobertura

for de estrutura e/ou telha metálica deve ser aterrado, afim de propiciar condução das descargas.

2.2.4 REQUISITOS PARA SISTEMAS HIDROSANITÁRIOS

As instalações hidrossanitárias são responsáveis diretas pelas condições de

saúde e higiene requeridas para a habitação, além de apoiarem todas as

funções humanas nela desenvolvidas (cocção de alimentos, higiene pessoal,

condução de esgotos e águas servidas etc.). As instalações devem ser

incorporadas à construção, de forma a garantir a segurança dos usuários, sem

riscos de queimaduras (instalações de água quente), ou outros acidentes.

Devem ainda harmonizar-se com a deformabilidade das estruturas, interações

com o solo e características físico-químicas dos demais materiais de

construção. ( ABNT NBR 15575/2013)

A especificação técnica do programa é bem específica quanto as instalações hidrosanitárias, ela

especifica o tamanho, o tipo de material e o modelo, como mostra o quadro a seguir.

Quadro 4 Especificação de Louças e Metais do PMCMV.

Lavatório

Louça sem coluna, com dimensão mínima de 30 x 40 cm, sifão e

torneira metálica cromada com acionamento por alavanca ou cruzeta.

Acabamento de registro de alavanca ou cruzeta

Bacia Sanitária Bacia sanitária com caixa de descarga aclopada com sistema de duplo

acionamento, não sendo admitida caixa plástica externa.

Tanque Capacidade mínima de 20 litros, de concreto pré-moldado, PVC,

louça, inox, granilite ou mármore sintético com torneira metálica

cromada com acionamento por alavanca ou cruzeta com arejador.

Acabamento de registro de alavanca ou cruzeta.

Pia Cozinha Bancada de 1,20 m x 0,50 m com cuba de granito, mármore, inox,

granilite ou mármore sintético, torneira metálica cromada. Torneira e

acabamento de registro de alavanca ou cruzeta.

Fonte: Portaria N 269.

Quando as prumadas de esgoto, água e ventilação estiverem aparentes em alvenarias ou no

interior de shafts, é necessário que seja de material não propagante de chamas.

2.2.5 REQUISITOS PARA PORTAS E JANELAS

As janelas e portas também são itens bem especificados na especificação técnica do programa,

é preciso obedecer ao tamanho, material, altura, entre outros. As portas de acesso e internas

25

devem ser de madeira, mas em áreas litorâneas podem ser de alumínio, contanto que não

possuam vidros em altura inferior à 1,10 m. A porta deve ter vão livre de 0,80 x 2,10 m e as

maçanetas e alavancas devem estar entre 0,90 e 1,10 de altura. A tipologia de casa prevê duas

entradas de acesso, umas na cozinha e outra na sala.

As janelas devem ser completas e com vidros, sem folhas fixas e que atendam ao critério de

ventilação natural. Em todas as áreas bioclimáticas é necessário que as esquadrias de

dormitórios tenham mecanismo que permite o escurecimento do ambiente com garantia de

ventilação.

26

3. CONSTRUÇÃO EM CONTÊINER

3.1 HISTÓRICO DO USO DOS CONTÊINERES ISSO

De acordo com Slawik et al. (2010), o contêiner foi criado em 1937 por Malcon Mclean, com

ideia de diminuir desperdício, de tempo e dinheiro, com o movimento do material para carregar

os navios. Assim, projetou-se o contêiner de aço, resistente à corrosão, com bastante espaço

para as cargas e que pudessem ser dispostos de maneira mais fácil, economizando espaço e

ajustando-se a vários tipos de transporte.

Em 1960, segundo Santos (1982), Malcom Mclean cedeu sua patente para International

Organization for Standardization (ISO), que em 1968 publicou recomendações para o uso que

resultou na norma atual ISO 668 (2013). Foi possível assim simplificar e universalizar a

utilização dos contêineres, como dimensões, resistência mínima e requisitos de teste para cada

componente do contêiner, tolerância, dispositivos de canto, certificados, terminologia,

marcação e identificação, dentre outros. Com essas medidas foi possível a movimentação dos

contêineres entre países garantindo a segurança das cargas e das modalidades de transporte.

Foi depois dessa universalização que os contêineres começaram a ser utilizados no Brasil, e

assim, em 1971 as recomendações da ISO foram legalizadas pela Associação Brasileira de

Normas Técnicas (ABNT) e pelo Instituto de Metrologia, Normalização e Qualidade Técnica

(INMETRO). Posteriormente, em abril de 1977, foi criada a Câmara Brasileira de Contêineres

(CBC) que criou toda a legislação brasileira de contêiner.

A utilização mundial de contêineres ISO foi um dos fatores mais significantes

experimentados na indústria dos transportes, sendo inegável sua contribuição

para a eficiência no manuseio de cargas e no desenvolvimento das economias.

(Santos, 1982).

As normas brasileiras em vigor que têm como base o sistema ISO e que tratam sobre os

contêineres estão listadas no quadro 4 a seguir.

Quadro 5 Normas Brasileiras que tratam sobre contêineres.

NORMA DESCRIÇÃO

NBR 5943 (1984) Contêiner - Tipos Classifica e codifica os tipos de

contêineres.

NBR ISO 668 (2000) Contêineres Séries 1 –

Classificação, Dimensão e Capacidade.

Especifica a classificação dos

contêineres série 1, baseado nas

dimensões externas, e estabelece as

massas brutas associadas, e quando

adequado, as dimensões mínimas e

abertura das portas para determinados

tipos de contêineres.

27

Continuação

Fonte: Carbonari, 2013

Os contêineres ISO são caixas metálicas pré-fabricadas formadas por seis lados por estrutura

com perfis e chapas de aço patinável que apresenta em sua composição elementos que

melhoram suas propriedades anticorrosivas, usualmente conhecido como aço Corten, como

mostra a Figura 7. Os contêineres são utilizados para embalar e transportar mercadorias a longa

distância pelos diversos sistemas de transporte, tendo como ideias básicas a segurança, a

inviolabilidade e a rapidez de manuseio.

As dimensões dos contêineres ISO são em pés (‘) ou polegadas (‘’), a largura máxima é limitada

a dimensões do transporte rodoviário (2,44 m) (8’), e as dimensões básicas são: 2,59 m (8,5’)

de altura e dois comprimentos mais conhecidos, que são 6,06 (20’) m e 12,19 m (40’).

Figura 6 Contêiner ISO 20’.

Fonte: Container Alliance (2014)

NBR ISO 6346 (2002) Contêineres de carga –

Códigos, identificação e marcação.

Proporciona um sistema para

identificação de informações sobre

contêineres de carga.

NBR 7475 (2010) Implementos rodoviários –

Dispositivos de fixação dos contêineres -

Requisitos

Estabelece os requisitos para o

dispositivo de fixação de contêiner do

veículo rodoviário porta-contêiner

(VPC) e especifica um método de

ensaio para determinação da sua

resistência.

NBR 9500 (2010) Implementos rodoviários –

Veículo porta-contêiner - Requisitos

Estabelece os requisitos de projeto e de

verificação da resistência e fixação do

contêiner no veículo porta-contêiner

(VPC) utilizado no transporte

rodoviário.

NBR 9762 (2012) Veículo rodoviário de carga -

Terminologia

Define os termos empregados para os

veículos rodoviários de carga.

28

Os contêineres possuem três elementos distintos: o piso, o painel frontal e os painéis laterais,

superior e posterior, como ilustrado na Figura 3.

Figura 7 Componente de um contêiner.

Fonte: Dissertação Luana Carbonari. (2015)

3.2 CARACTERÍSTICAS DO CONTÊINER

Existem vários tipos de contêineres de acordo com o tipo de carga a ser transportada e são

definidos pela norma ISO 830 (1999), variando entre fechados e abertos, com ou sem controle

da temperatura interna. Atualmente existem mais de 20 tipos de contêineres, mas nesse trabalho

foi selecionado alguns tipos principais, conforme mostra o Quadro 4 a seguir.

29

Quadro 6 Tipos e dimensões dos contêineres ISO usuais.

CONTÊINERES ISO DIM. INTERNAS

(m)

DIM. EXTERNAS

(m)

TIPO PÉS FUNÇÃO c l h c l h

20' Transporte de cargas gerais

secas.

Contêineres feitos de aço,

com estrutura paralelepipedal

e portas frontais.

5,91 2,34 2,4 6,06 2,44 2,59

40' 12,04 2,34 2,38 12,19 2,44 2,59

HC

20 5,91 2,34 2,69 6,06 2,44 2,89

HC

40 12,03 2,35 2,69 12,19 2,44 2,89

20' Transporte de cargas que

requerem ventilação. Este

tipo possui aberturas nos

fechamentos laterais e

sistema de ventilação forçada.

5,90 2,32 2,37 6,06 2,44 2,59

40' 12,02 2,34 2,38 12,19 2,44 2,59

Fonte: Supportcargo (2014) e CBF (2014)

Os contêineres possuem características específicas que fazem dele peças únicas, como é

possível observar no quadro a seguir:

Quadro 7 Características do contêiner.

CARACTERÍSTICA DESCRIÇÃO

Capacidade de Carga

A capacidade máxima a ser suportada por um contêiner é,

normalmente, medida em volume e não em peso, a NBR ISO

668 (ABNT, 2000) especifica a capacidade de cada

contêiner, por exemplo: contêiner ISO 20’ possui 2,33 t de

peso próprio, suportando capacidade de carga de 21,67 t e

capacidade em volume de 33,2 m³; o contêiner ISO 40’

possui 3,55 t de peso próprio, capacidade de carga de 29,93

t e capacidade de volume de 67,3 m³. Pela norma a massa

bruta massa de um contêiner é de 30,48 t.

30

Continuação

Empilhamento

Umas das vantagens do uso de contêiner para transporte de

cargas marítimas foi a capacidade de empilhamento,

fazendo com que houvesse uma economia de espaço nos

depósitos. Quando empilhados na vertical, o que não é muito

usual, é possível o agrupamento de 3 contêineres, já quando

empilhados na horizontal é possível o agrupamento de 8

contêineres.

Vida útil

A vida útil do contêiner para o uso de transporte de carga é

de 8 a 10 anos, dependendo de fatores como o material no

qual foi construído, o tipo de carga que transportou, as

condições climáticas que foi submetido, as manutenções

sofridas ao longo do tempo. Quando passado sua vida útil os

contêineres são descartados e não podem ser mais usados

para o mercado marítimo, no entanto, podem durar até 100

anos.

Estrutura

De acordo com Slawik et al. (2010) a estrutura do contêiner

ISO é feita por quatro vigas inferiores e quatro superiores

que se acoplam por meio de pilares posicionados nas quinas,

formando uma armação intertravada e rígida. Esses quatro

montantes são providos de cantoneiras que auxiliam no

apoio, manuseio e travamento do conjunto.

3.3 USO DE CONTÊINER NA CONSTRUÇÃO CIVIL

Em 1989, Philip C. Clark, registrou uma patente em que ele reivindicava a invenção de um

"método de converter um ou mais contêineres de aço em habitações, uso em canteiros de obra

ou qualquer outro produto derivado deste método".

31

Desde então os contêineres começaram a ser usados para habitações temporárias em países que

sofreram com guerras ou desastres naturais, além de serem usados como prisões para iraquianos

na Guerra do Golfo, em 1991.

Segundo a Green Container International Aid (2012), há mais de 20 milhões de contêineres

espalhados pelo mundo, sendo, aproximadamente, 1 milhão abandonados nos portos,

principalmente nos EUA e Europa. No Brasil, de acordo com Centro Nacional de Navegação

Transatlântica (CENTRONAVE, 2012), há cerca de 5 mil contêineres abandonados nos portos.

Com esse grande número de material descartado e a falta de espaço nos depósitos foi preciso

que houvesse algum destino para as caixas metálicas, fazendo com que o custo deste material

fosse reduzido.

Os contêineres mais usados na construção civil são o ISO 20’, com área interna de 14 m², e o

ISO 40’, com área interna de 28 m².

No Brasil, a primeira construção foi uma loja em 2010, em São Paulo, para a empresa Container

Ecology Store, mostrada na figura 8 a) abaixo, já primeira residência foi construída em 2011

pelo arquiteto Danilo Corbas que propôs soluções eficientes e práticas, como mostra a figura 8

b) abaixo. Outra utilização dos contêineres no Brasil é para o uso de canteiros de obra, com o

uso habilitado pela NR-18 (BRASIL, 2013), se seus módulos possuírem área de ventilação

efetiva.

a) b)

Fonte: Minha Casa Container (2013)

Figura 8 a) Loja Container Ecology Store; b) Escritório em contêiner – Canteiro de Obra.

32

a) b)

Fonte: Cursos em Arquitetura (2016)

As principais habitações em contêineres no Brasil foram construídas no Sul do país e a maioria

delas estão atreladas ao uso de materiais sustentáveis. Para o uso de contêineres na construção

é necessário fazer algumas modificações, como aberturas para portas e janelas além de ser de

grande importância a verificação de existência de resíduos químicos para posteriores

tratamentos.

Apesar de pouco explorada, a arquitetura feita com containers tem

experimentado, atualmente, um crescente desenvolvimento e consolidação,

resultando em interessantes soluções construtivas de baixo custo e alta

qualidade estética. (Carbonari,2013)

A padronização dimensional dos módulos é uma facilidade do sistema construtivo com

contêineres ISO e sua praticidade de junção estrutural possibilita a construção em etapas, o que

deriva em uma grande capacidade evolutiva do projeto.

Figura 9 a) Primeira casa contêiner no Brasil, São Paulo; b) Planta Baixa da primeira casa

contêiner no Brasil, São Paulo.

33

Fonte: Carbonari, (2015)

3.4 ASPECTOS PROJETUAIS

Para seu uso em habitações são necessárias diversas modificações para que o contêiner seja

habitável, mesmo que ele já seja uma peça pronta e permitam a simplificação de vários

processos existem várias materiais, peças e mão de obra específica para o serviço.

É preciso ter definido alguns quesitos antes de começar a construção de uma casa contêiner,

como um projeto arquitetônico da casa pois é preciso, antes de começar a pensar na construção,

ter definido como será a casa, qual tamanho, disposição de cômodos, e, também, será necessário

para a legalização do imóvel.

Segundo Figuerola (2013), a escolha técnica dos contêineres que serão utilizados no projeto é

a primeira etapa do processo, que acontece ainda no terminal de contêineres. Nesta etapa, de

Figura 10 Algumas construções no Sul do Brasil.

34

acordo com Castilho (2014), é examinada a existência de resíduos químicos, o estado do piso,

o alinhamento do contêiner (que pode refletir no revestimento interno), o amassamento em seu

invólucro e principalmente a integridade da estrutura do contêiner. Em seguida, são

selecionados os contêineres, sendo desamassados com o auxílio de um martelo e removidos os

adesivos e outros elementos que possam atrapalhar na pintura.

No momento da elaboração do projeto será a hora de definir quantos contêineres serão

necessários para sua construção, pensando organização da forma e espaço, em relação também

ao terreno onde será situada a habitação. A organização pode ser feita com espaços contíguos,

ou seja, com contêineres sobrepostos ou uso contêineres lado a lado (figura 26), ou como

espaços divididos com um elemento comum.

a) b)

Figura 11 a) casa com contêineres sobrepostas; b) casa com contêineres lado a lado.

Fonte: Minha Casa Container (2015)

Outro aspecto muito importante para ser definido na hora da elaboração do projeto é se haverá

necessidade de modificação na estrutura do contêiner com aumento suas dimensões para se

obter, por exemplo, um pé direito maior que ele proporciona.

Fonte: Carbonari, 2014

Figura 12 Esquema de transformação de contêiner – ampliação.

35

A previsão de aberturas nos contêineres é fundamental na fase de elaboração de projeto para

que a construção seja otimizada, pois muitas das vezes essas aberturas não são feitas no local

da construção. As aberturas são feitas para a colocação de janelas, portas, na junção de dois

contêineres, para colocação de parede de vidro, e outros. Além de ser importante ficar atento a

execução de aberturas que facilitem a ventilação natural e a iluminação natural.

a) b)

Fonte: Minha Casa Container

As construções em contêiner podem ou não ter o aspecto visual do material utilizado. Caso

opte-se pelo aspecto mais industrial não é necessário a utilização de qualquer tipo de

revestimento externo, sendo necessário a especificação no projeto, pois irá influenciar nos

materiais utilizados, identidade visual da obra, tempo e preço de execução.

a) b)

Fonte: a) Fabrica habitat (2010); b) Construindo (2013)

Figura 13 a) Abertura no contêiner para colocação de portas e janelas; b) Casa contêiner com

parede de vidro.

Figura 14 a) Casa com aspecto visual com contêiner; b) Casa sem aspecto visual de contêiner.

36

3.5 ASPECTOS CONSTRUTIVOS

Os aspectos projetuais estão diretamente relacionados com os aspectos construtivos, pois é

através dos projetos e dos requisitos solicitados por ele que se escolhem os métodos utilizados.

Na construção em contêiner os aspectos construtivos são muito importantes já que é utilizado

um material que não é projetado para ser usado em habitação e, por isso, é necessário ser feito

várias adaptações.

3.5.1 ABERTURA

Como já dito neste trabalho, para o uso do contêiner na habitação é necessário fazer aberturas

no módulo para as janelas e portas, por exemplo. Esses recortes são feitos com máquinas de

plasma com ar comprimido.

Os requadros das aberturas são feitos do mesmo material do contêiner para evitar que haja

corrosão diferenciadas nos tipos diferentes de ligas metálicas.

Fonte: Delta Container (2010)

3.5.2 PINTURA EXTERNA

Depois de feita a lavagem em todo contêiner é necessário pintar o exterior pois, além do aspecto

estético, a pintura anticorrosiva ajuda a garantir que o aço não sofra corrosão. A primeira etapa

da pintura é a lavagem de todo contêiner para que saia qualquer tipo de óleo ou graxa que

fiquem devido ao seu uso anterior, essa lavagem pode ser feita com detergente biodegradável

ou com produtos químicos.

Após a lavagem é feito a remoção da corrosão que possa haver na chapa, esse processo deve

ser muito bem feito pois ele é fundamental para a boa qualidade da pintura, atrelado a retirada

da corrosão está a criação de rugosidade na superfície da chapa para que a pintura tenha maior

aderência. O próximo passo é novamente a limpeza do contêiner, dessa vez feita com ar

Figura 15 Recorte do contêiner e instalação do requadro.

37

comprimido para retirada de qualquer poeira de aço que possa ficar, principalmente nos cantos

do contêiner.

A pintura deve ser feita logo após a última limpeza do contêiner para que não fique nenhuma

umidade, proveniente do ambiente, entre a chapa e a pintura, fazendo com que acha possíveis

corrosões nas placas. A escolha da tinta usada é muito importante para a durabilidade da pintura,

ela deve ser anticorrosiva e de alto desempenho.

Fonte: Minha Casa Container (2015)

3.5.3 DIVISÃO E REVESTIMENTO

As divisões, segundo RSPC (2014), normalmente são feitas de paredes secas com quadros wood

frame (estrutura de madeira) ou de steel frame (estrutura de aço). Esses métodos possibilitam

as instalações elétricas e hidrossanitárias e também as camadas de revestimento térmico. O

revestimento mais utilizado para são os de gesso acartonado, usualmente usados em construções

de alvenaria para shafts e rabaixamentos.

a) b)

Fonte: a) RSPC, 2014; b) Container Tech, 2014

Figura 16 Tratamento na chapa para remoção de corrosão.

Figura 17 a) Estrutura wood frame; b) Revestimento de gesso acartonado.

38

Os pisos dos contêineres são de compensado naval, eles podem ser mantidos ou pode ser

colocado sobre ele qualquer outro revestimento usual na construção civil, como cerâmica,

porcelanato, piso emborrachado e madeira.

Para revestimento externo o mais comum é o uso de painéis de argamassa armada, mas além

dele é possível o uso de chapas laminadas, lambris de madeira, entre outros. Para a cobertura

pode ser usado o teto verde (coberto por vegetação) ou recobrimentos de madeira.

Fonte: Eco Telhado

3.5.4 INSTALAÇÕES

As instalações podem ser feitas internas, por dentro de paredes falsas, ou externa, precisando

considerar as intemperes para não maltratar as instalações. No caso de instalações internas é

importante que haja uma compatibilização do projeto de arquitetura com de elétrica para que

não seja necessário diminuir o espaço do ambiente interno pela construção de uma parede falsa

para passar a fiação.

Figura 18 Escritório em contêiner com utilização do teto verde.

39

a) b)

Fonte: a) Remobilia, 2013; b) Miranda Container, 2015

3.5.5 ISOLAMENTO TÉRMICO

Pelas placas de aço do contêiner não serem um material isolante é necessário o isolamento

térmico de todo entorno e esse isolamento pode ser feito interna e externamente, inclusive no

piso. Segundo Slawik et al (2010) é possível o uso de qualquer tipo de isolamento térmico

convencional, mas dependendo do método utilizado pode acorrer uma perda significativa da

área interna.

Figura 19 a) Instalação elétrica embutida na placa de gesso acartonado; b) instalação

hidráulica externa.

40

4. ESTUDO DE VIABILIDADE PROJETUAL E CONSTRUTIVA EM CONTÊINER

4.1 ASPECTOS PROJETUAIS

Considerando o uso do contêiner Dry Box de 40’ para a construção e planta baixa padrão de

uma casa do PMCMV inserida na faixa 1, será analisado, a partir das normas técnicas do

programa encontrada na Portaria 269 e pela NBR 15575/2013 (Edificações Habitacionais –

Desempenho), se a construção em contêiner é viável tecnicamente através das técnicas e

materiais usados comumente nesse tipo de habitações já existentes no Brasil.

A planta baixa da figura 16 é de um imóvel em construção em Minas Gerais, Betim, pela

construtora Direcional Engenharia, com área de, aproximadamente, 45 m².

Fonte:Site Direcional Engenharia, 2018

Como já visto anteriormente neste trabalho, um contêiner ISO 40’ tem, aproximadamente, 28

m², então, para a construção da casa com esta planta baixa seria necessário a junção de 2

contêires.

A planta a seguir é uma adaptação do projeto do condomínio Betim Conquista para uma casa

contêiner utilizando a mesma disposição dos cômodos, mas com a mudança de área, devido ao

tamanho fixo dos contêineres.

Figura 20 Planta baixa apartamento do condomínio Betim Conquista, em Betim, MG.

41

Figura 21 Projeto de uma casa em contêiner Dry 40’ baseado na planta da casa do PMCMV.

Com o projeto em mãos já é possível realizar o corte dos contêineres com as medidas e posições

adequadas, sem esquecer de adequar as aberturas de forma a facilitar a ventilação e iluminação natural.

É preciso nesta fase escolher quanto a opção visual da casa, se permanecerá o aspecto visual do contêiner

em seu exterior ou haverá alguma modificação.

Sobre o aspecto projetual existe, portanto, a viabilidade para este tipo de construção pois é possível

atender com o contêiner um projeto básico de uma construção comum do programa.

4.2 ASPECTOS CONSTRUTIVOS

4.2.1 REQUISITOS PARA OS SISTEMAS DE VEDAÇÕES VERTICAIS INTERNAS

E EXTERNAS

Em uma casa contêiner o sistema de vedação externa é do próprio aço do contêiner que,

usualmente, é revestido no seu interior para que possa garantir o conforto térmico.

O aço é impermeável e com seus fechamentos totalmente bem feitos, impede a entrada de água

no seu interior. O aço Corten, aço que é feito o contêiner, é de 40 a 75% mais forte que o aço

comum e na sua liga existe anticorrosivos e, por isso, que o aço oxida mas não corrói. Com

tratamento adequado do material com a utilização de tintas anticorrosivas pode-se dizer que a

durabilidade do aço Corten é eterna.

A infiltração de água só ocorre houver alguma abertura na estrutura, caso contrário não.

O revestimento das paredes externas do contêiner pode ser feito de gesso acartonado, utilizando

a estrutura de alumínio, mas para garantir o conforto térmico da habitação é necessário o uso

de um material isolante entre eles. Na obra de um escritório de arquitetura no município de

Palhoça, SC, foi usado lã de rocha entre a estrutura do contêiner e o gesso acartonado. Após o

fim da obra foi analisado o desempenho térmico do material pela arquiteta Luana Carbonari

42

para sua dissertação de Pós-Graduação e como resultado obteve que as modificações feitas no

contêiner satisfez a norma e garantiu o desempenho térmico.

Na construção em Palhoça, Santa Catarina, para o sistema de forro, que é o revestimento interno do teto

do contêiner, foi usado o mesmo material de vedação das paredes, o gesso acartonado. E no espaço entre

o revestimento e o teto do contêiner duas camadas de lã de rocha foram colocadas para que se cumpra

o conforto térmico.

Fonte: Carbonari (2013)

a) b)

Figura 25: a) Seção de vedação externa estudada b) Seção de vedação da cobertura estudada.

Outro tipo de isolamento que pode ser usado é a lã de pet, que é um isolante termoacústico. No

projeto do arquiteto Danilo Corbas, em São Paulo, foi utilizado 500 m² do material, utilizando

camadas de 50 a 75 mm de espessura.

De certa forma, pode-se dizer que o conforto térmico se dá quando a temperatura interna do

ambiente é mantida numa faixa ideal para o homem, que de acordo com KOENIGSBERGER;

MAYHEW (1977), nos países tropicais é entre 22 e 27 graus.

O gesso acartonado por si só não garante o desempenho térmico requisitado.

O gesso acartonado possui uma camada de ar entre suas placas, quando usado para vedação

interna e pode ser deixado para o revestimento interno das paredes do contêiner, facilitando o

conforto térmico pois há menor transmissão de ondas sonoras, aumentando a capacidade de

isolamento. O uso de uma camada de material absorvente, como a lã de pet, ou até mesmo lã

de vidro, aumenta o nível de conforto térmico.

43

Figura 22 Amostra de lã de pet.

Fonte: Metálica (2018)

Figura 23 Lã de Pet aplicada na casa do arquiteto Danilo Corbas.

Fonte: Metálica (2018)

Como já visto, as aberturas para ventilação são feitas nas chapas de contêiner para a colocação

da esquadria desejada. A quantidade de aberturas e o tamanho dos vãos depende do tamanho

dos cômodos.

44

Figura 24 Portas e janelas em casa container.

Fonte: GuiaContainer (2015)

A durabilidade do sistema externo é medida de acordo com fissurações, deslocamentos e falhas

nas paredes externas. Com uso do contêiner não é preciso essa verificação, pois como já disto

neste trabalho, se o aço for tratado com materiais adequados sua durabilidade é eterna.

A resistência ao fogo tem intenção de limitar a influência dos componentes do sistema de

vedação vertical na alimentação e propagação do incêndio.

A resistência ao fogo pode ser entendida como o tempo durante o qual os

elementos da construção, sujeitos a uma elevação padronizada de temperatura,

mantém a sua estabilidade ou integridade, não permitindo, no caso de

elementos separadores de ambientes, a elevação acentuada de temperatura no

lado não exposto ao fogo, nem a passagem de gases quentes ou chamas.

(Berto, 1988).

O sistema já possui nos seus componentes materiais isolantes, como a lã de pet e a lã de vidro,

mas existe também um tipo de chapa de gesso resistente ao fogo (conhecidas como chapas

rosas), que apresenta na sua composição retardante de chama.

45

Figura 25 Aplicação de placas de gesso acartonado resistente ao fogo.

Fonte: Nunes, 2015

Para áreas molhadas, como cozinha e banheiro, é recomendável o uso da placa de gesso

acartonada impermeabilizante, ou placa verde, além da umidade nesses locais a presença da

água é constante. Para garantir a estanqueidade alguns cuidados na execução são importantes:

ao fazer recortes para colocação de pontos de água, como torneiras, é necessário a vedação com

uso de um selante resistente a água, nas áreas úmidas, além do uso da placa especial é necessária

uma camada de proteção na face do gesso, podendo ser o revestimento cerâmico.

Figura 26 Diferentes tipos de placa de gesso.

Fonte: Toleto, 2014

46

O IPT em 1988 realizou um teste de carga suspensa com mão francesa em chapas de gesso,

sendo os resultados apresentados no quadro a seguir.

Quadro 8 Resultado do ensaio de carga suspensa.

Fonte: IPT 1988

De acordo com os requisitos do programa para vedação, apresentado no item 2.2.1, existe uma

viabilidade construtiva pelo sistema avaliado pois atende a espessura mínima exigida, pois com

a estrutura para o gesso acartonado é possível variar o quanto quiser entre espaço de placas;

atende ao requisito de estanqueidade se instalado adequadamente e houver uma preservação

das placas durante sua vida útil; atende ao aspecto à solicitações de carga como visto

comparando os valores pedidos pela norma e os obtidos no ensaio; atende ao requisito contra

incêndio, se usado a placa certa.

4.2.2 REQUISITOS PARA OS SISTEMAS DE PISOS

A camada estrutural do sistema de piso do contêiner é formada pelas travessas soldadas às vigas

inferiores que servem para sustentação das placas de compensado aparafusadas sobre toda

estrutura do chão.

47

As placas compensadas de madeira, do que são feitos os pisos originais do contêiner, embora

sejam relativamente caras, são resistentes e apresentam pouca deformação, podendo serem

substituídas durante reparos, esses pisos são normalmente lixados e envernizados. Mas, é

importante ressaltar que os contêineres quando usados para sua função inicial, transporte de

cargas, são tratados com produtos químicos, principalmente a madeira do piso, podendo ter

níveis baixos ou elevados de toxidade. A utilização desses produtos é feita para evitar que algum

inseto se aloje no interior da madeira, aumentando a vida útil do piso. Para que se evite qualquer

transferência desse material tóxico é importante usar epóxi sobre o piso. Normalmente na placa

exterior de cada contêiner tem especificado qual o material usado e o ano de aplicação.

Mesmo que o compensado do piso original do contêiner esteja em boas condições visualmente

na parte superior é de extrema importância que se avalie a parte inferior do compensado para

checar a condição real. Para que não se tenha o trabalho da retirada de placa por placa é possível

checar o inferior do piso elevando o contêiner e se houver alguma placa quebrada ou podre é

necessária sua troca.

Figura 27 Inspeção da condição do piso do contêiner com ajuda de cavaletes.

Fonte: Brsete (2017)

Antes de começar o preparo do piso é necessário checar a fixação do compensado nas travessas

do contêiner, ou seja, se há algum parafuso frouxo. O próximo passo é o lixamento do piso,

mas não é possível ser feito caso esteja úmido. O lixamento do piso pode ser feito com lixadeira

48

industrial, obtendo uma maior produtividade, ou com lixadeira orbital, comumente utilizada

para pequenas obras residenciais.

Essas placas formam o que seria a camada de contrapiso do sistema convencional.

Todo contêiner é impermeabilizado, quanto por dentro, quanto por fora, pois, a vida útil do aço

depende disso. Essa impermeabilização é feita com tinta. A camada de isolamento térmico pode

ser feita com placas rígidas de poliestireno (XPS) ou com Oriented Strand Board, OSB, (Painel

de tiras de madeira)

Figura 28 Camada de isolamento térmico entre o piso original do contêiner e o revestimento.

Fonte: Tincan Cabin (2014)

De acordo com a norma técnica do programa é obrigatório ter piso e rodapé em toda a unidade

e o revestimento cerâmico possuir índice de absorção inferior a 10%, o que é totalmente viável

de ser feito em uma habitação em contêiner. A instalação do piso cerâmico é feita da mesma

forma e com os mesmos materiais comumente usados, sendo atendida as exigências do

PMCMV.

4.2.4 REQUISITOS PARA OS SISTEMAS DE COBERTURA

O contêiner, por ser uma estrutura retangular fechada, poderia ficar sem cobertura, pois, se não

houver nenhum furo na sua superfície, ele fica totalmente vedado, mas, sem uma cobertura não

é possível conseguir conforto para habitação, pois o aço esquenta muito se exposto diretamente

ao sol e faz muito barulho quando chove.

49

Um método utilizado para coberturas em habitação de contêiner é o telhado embutido, um

telhado escondido pela platibanda.

Figura 29 Projeto de uma casa contêiner com telha embutido.

Fonte: GuiaContainer (2017)

Na parte de cima do contêiner não há travessas estruturais como na parte de baixa, dessa forma

a estrutura do telhado deve ser fixada somente nas bordas.

Figura 30 Estruturação do telhado fixados nas laterais do contêiner.

Fonte: Guiacontainer (2017)

Na casa contêiner construída em Taubaté, São Paulo, foi escolhido opção de telha metálica

galvanizada e a escolha do tipo de telha depende de alguns requisitos. Para começar é preciso

saber o tamanho do vão, ou seja, a distância dos apoios. Nessa casa escolheram por diminuir o

número de apoios e aumentar a espessura da telha, pois assim haveria uma economia financeira.

Outra escolha a ser feita é o tipo de isolamento que será usado, na figura 29 é possível ver os

tipos e quanto de calor eles transmitem, mas os materiais mais usuais são o EPS (Isopor) e PU

(poliuretano).

50

Figura 31 Gráfico Espessura do isolante X Condutibilidade Térmica.

Fonte: CasaContainer (2017)

Após a escolha do material a ser usado para isolamento é preciso determinar sua espessura,

dependendo da área construída, locais com maior incidência de raios solares necessitará de

espessuras maiores. Vale ressaltar que quanto maior a espessura, mais caro fica o material.

Figura 32 Montagem do telhado com isolamento térmico de poliuretano.

Fonte: GuiaContainer (2017)

Para que cumpra as exigências da NBR 15575 o telhado com estrutura e telhas metálicas deverá ser

aterrado.

51

4.2.5 REQUISITOS PARA OS SISTEMAS HIDROSANITÁRIOS

As instalações hidrosanitárias são feitas da mesma forma que uma casa de alvenaria comum,

mas suas tubulações ficam embutidas nas paredes de drywall, como mostra a figura 31.

Figura 33 Instalação hidráulica de uma casa contêiner.

Fonte: Ribeiro, 2013.

Depois de feita toda instalação hidráulica é colocada o painel de gesso para vedação vertical

fazendo aberturas nos pontos de água para instalação dos aparelhos, que é feito da mesma

maneira usualmente conhecida.

a) b)

Figura 34 a) Banheiro de uma casa contêiner com aparelhos hidrosanitários instalados; b)

Cozinha de uma casa contêiner com aparelho hidráulico instalado.

Fonte: Miranda Container (2016)

Como as instalações feitas nas casas em contêineres são com o mesmo sistema usado nas habitações

comuns, é possível a utilização dos modelos exigidos na especificação do programa.

52

4.2.6 REQUISITOS PARA PORTAS E JANELAS

A maioria das casas em contêiner construídas até hoje usam para portas e janelas materiais

metálicos, pois combina com o material do contêiner e por grande parte usar painéis de vidro,

buscando uma arquitetura mais aberta. Mas é possível a instalação de portas de madeira, sendo

feitas da mesma maneira comumente usada, com colocação de batente, alisar e folha.

Figura 35 Porta de madeira no acesso da casa contêiner.

Fonte: Container S.A (2014)

O sistema de vedação interna usado nas construções em contêiner, sistema de gesso acartonado,

possibilita também a colocação de portas de madeira para que seja possível atender ao requisito

do PMCMV, como mostra a figura 37.

53

Figura 36 Paredes em gesso acartonado com porta de madeira.

Fonte: www.superfeito.com.br

4.3 RESULTADO DO ESTUDO

No quadro abaixo é possível verificar o requisito avaliado, o sistema utilizado e o resultado da

análise.

Quadro 9 Resultado do estudo de viabilidade.

REQUISITO SISTEMA RESULTADO

Sistemas de vedações verticais

internas e externas Gesso Acartonado VIÁVEL

Sistema de Pisos Piso contêiner mais

revestimento VIÁVEL

Sistemas de Cobertura Embutido com telhas metálicas VIÁVEL

Sistemas Hidrosanitários Hidrosanitário Residencial VIÁVEL

Sistemas de Portas e Janelas Madeira, Alumínio e Vidro VIÁVEL

54

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Construções de novas moradias é uma das principais maneiras de diminuir o déficit habitacional

em que não só o Brasil enfrenta, mas também o estado do Rio de Janeiro. Este presente trabalho

se configura como uma tentativa de apresentar nova solução construtiva para o Programa Minha

Casa Minha Vida, que visa a construção de moradias para famílias de classe baixa.

Foram apresentadas modificações que devem se feitas nos contêineres para que ele possa passar

a exercer função de moradia depois que acabar sua vida útil no transporte e as modificações

necessárias a serem feitas para torna-lo habitável, com o mínimo de conforto exigido.

A preparação do terreno para uma casa contêiner é a mesma que para uma construção de

estrutura de concreto armado, como estamos habituados, e os métodos usados para fundação

também são os mesmos comumente utilizados. Em vista disto, analisamos os métodos

construtivos como vedação externa e interna, pisos e instalações.

Como foi possível analisar, os métodos construtivos utilizados nas construções em contêiner

são conhecidos de outros tipos de construção com algumas adaptações e com outras finalidades,

como as placas de gesso acartonado, que habitualmente usamos em shafts para embutir as

tubulações, mas que na construção em contêiner é usado como uma parede divisória dos

cômodos.

Outro ponto que é muito importante na construção em contêiner e não é muito preocupante nas

construções com paredes de tijolos cerâmicos na vedação externa, é o conforto térmico, pois o

aço é um material com alta condutibilidade térmica, fazendo com que o interior do contêiner

fique com uma temperatura superior à confortável se exposto ao sol. Mas como podemos ver,

analisando construções já existentes e pesquisas feitas, com o uso de um bom isolante,

executado de maneira correta, é possível garantir o conforto térmico exigido pela especificação

técnica do programa e pela norma brasileira.

Diante das outras análises feitas das exigências técnicas do programa, foi possível detectar que

a construção em contêiner é capaz de atende-las sendo possível a mudança de alguns métodos

já utilizados.

É importante ressaltar a limitação do estudo quanto aos requisitos dos sistemas de construção.

Neste trabalho foi abordado somente alguns de muitos itens que contém a Portaria 269, como

o sistema estrutural, um sistema de extrema importância para construção.

Por fim, sugere-se que seja feita pesquisas futuras quanto a viabilidade econômica e social deste

tipo de construção, pois sabe-se que para que haja uma mudança é preciso que seja vantajoso

55

em todos os aspectos, principalmente financeiro, visto que o país enfrenta uma crise. A

viabilidade social é uma maneira de ver o ponto de vista do consumidor do produto, pois como

a construção em contêiner não é muito difundida no país, é possível que a população não aceite

e não pense em adquirir uma moradia deste tipo, mesmo que por um baixo custo.

56

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ANEXO 1 – PORTARIA NÚMERO 269