Análise do Perfil Docente: Uma Proposta para Acompanhar a Relação Docente-Componente Curricular
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Análise do Perfil Docente: Uma Proposta para Acompanhar a Relação
Docente-Componente Curricular
Jaguaraci Batista Silva Instituto de Ciência e Tecnologia, Universidade Federal de São Paulo
Campus São José dos Campos, São Paulo-SP [email protected]
Resumo: A ausência de estudos sobre a análise do perfil docente pode contribuir para a
elevação da taxa de evasão nas universidades brasileiras. A consequência é notada na dificuldade de contextualização dos conteúdos programáticos pelos professores, o que desencadeia a evasão do aluno desde o componente curricular até o curso. Este trabalho apresenta de forma breve um processo para análise do perfil docente. Uma abordagem top-down que permite avaliar a aderência da escolha do professor ao componente curricular desde a sua contratação até as competências desejadas e correspondidas diante de uma avaliação discente.
Palavras-chaves: Ensino, Perfil Docente, Universidade, Brasil, Ciência e Tecnologia.
Introdução
A área de Ciência da Computação possui uma taxa anual de evasão acima da média nacional (Filho et al 2007) e diversos sítios de notícias e universidades divulgam o problema de forma recorrente nos últimos anos. A Universidade de São Paulo (USP) elaborou um plano para apoiar o curso na instituição em 2010, por também destacar o alto índice de evasão e baixa procura nos seus concursos vestibulares. Dentre os principais motivos para evasão no curso de BCC (Bacharelado em Ciência da Computação) da USP, a falta de contextualização das disciplinas básicas do curso (e.g. física, álgebra, cálculo, probabilidade e estatística) é uma queixa recorrente dos alunos e similar na maioria das universidades brasileiras (Junior, 2010). A ausência de estudos sobre o paranoma do perfil docente, geralmente confundida pela sua produção acadêmica, pode ser uma das principais constribuições para elevação da taxa de evasão nessas instituições. A consequência pode ser melhor compreendida na atribuição, durante e após a relação de ensino-aprendizagem dos componentes curriculares juntos aos professores e alunos. Seja por negligência ou falta de conhecimento específico, presume-se que o docente possui todas as competências necessárias, embora o seu perfil profissiográfico não tenha sido analisado em função das necessidades do componente curricular. Como resultado, a dificuldade de contextualização dos conteúdos programáticos é visível pelos alunos e desencadeia uma evasão do componente curricular ou até mesmo do curso.
Neste estudo, será apresentada uma proposta para melhoria do ensino de Ciência e Tecnologia em universidades brasileiras para evitar a evasão. A proposta está fundamentada em um processo a ser acompanhado pela pró-reitoria de ensino e coordenadores de cursos com a finalidade de melhorar a qualidade do ensino através da
análise do perfil docente. A próxima seção apresenta uma idéia inicial da proposta e por fim, as considerações finais e as referências utilizadas nesse estudo.
Análise do Perfil Docente
A análise do perfil docente concentra-se em um conjunto aberto de atividades para garantir a qualidade do ensino através de 5 processos principais: (1) analisar a área de conhecimento e suas (2) sub-áreas, (3) analisar o componente curricular, (4) atribuir o componente curricular ao docente, bem como (5) prepará-lo e avaliá-lo após findar cada componente de acordo com os objetivos pedagógicos e metas de cada curso.
Figura 1 - Visão Geral da Análise do Perfil Docente.
De acordo com a Figura 1, os processo são abertos, pois não possuem precedência e podem ser executados em paralelo de acordo com as atividades e necessidades acadêmicas. As análises das áreas e sub-áreas de conhecimento corresponde a uma correlação direta entre cursos e docentes da instituição de ensino, promovendo uma primeira visão top-down para suporte em diversas atividades administrativas (e.g. contratação de docentes, planejamento de cursos, projetos de pesquisa e extensão) e pedagógicas. É essencial para analisar a correspondência do grupo de componentes curriculares que um docente poderá atuar em um curso, conforme a Tabela 1.
Tabela1 – Análise da Área e Sub-área de Formação Docente.
A partir da análise de áreas e sub-áreas por exemplo, foi possível verificar a necessidade de contratação de docentes na Universidade Federal de São Paulo com os dados coletados em sua própria página institucional, que são abertos, de acordo com a matriz curricular do BCC e corpo docente (Tabela 2).
Tabela 2 – Análise das Sub-áreas de acordo com a Matriz Curricular do BCC.
Após analisar os concursos atuais, a direção do campus com base nessa análise simples, poderia perceber rapidamente que há carências de docentes em determinados componentes curriculares (em amarelo) enquanto existem muitos docentes na sub-área de otimização que só poderão ser aproveitados em poucas disciplinas do curso de BCC. Embora a análise das áreas e sub-áreas possam ser exploradas por múltiplas visões da pró-reitoria e coordenação dos cursos ela não é suficiente para detalhar as necessidades de atribuições e acompanhamento da qualidade do ensino, por isso são necessários diversos dados que podem ser monitorados por sistema ou planilhas eletrônicas com a finalidade de evitar a evasão dos alunos. Por conta do espaço limitado apenas serão ilustrados alguns dados, porém as tabelas completas com sugestões de dados podem ser vistas no anexo deste trabalho.
Tabela 3 – Análise do Perfil Docente em Relação ao Componente Curricular.
A Análise do componente curricular é primordial para correlacionar o perfil docente necessário a partir das exigências, competências e habilidades técnicas e instrucionais. A Tabela 3 expõe uma forma didática para avaliar as competências de acordo com dados contidos nos planos de ensino e aulas, que são bastante utilizados pelos docentes. Também é necessário adicionar a média das notas recebidas nas avaliações discentes, tempo de dedicação a preparação das aulas, perfil dos alunos que irão estudar o
componente curricular para servir de base para uma avaliação diagnóstica e a forma de integração com outros componentes curriculares do curso.
Tabela 4 – Perfil Profissiográfico do Professor.
O trecho da análise do perfil profissiográfico exibido na Tabela 4 poderá ajudar na escolha do docente adequado ao componente curricular, não apenas relacionado dados diretos de acordo com o perfil docente desejado, mas também por ter um histórico das suas atividade em cada componente curricular que lecionou. Todos esses dados podem ser obtidos no próprio currículo lattes atualizado do professor e também podem ser acrescentados dados institucionais para detalhar a forma de contextualização do conteúdo programático através da coleta de dados do sistema de avaliação discente.
Tabela 5 – Planejamento do Programa de Formação Docente.
A avaliação discente é necessária para conhecer as inquietudes diante da contextualização do conteúdo programático pelo professor e só poderá ser obtida através do contato direto com os estudantes. É com base nessa avaliação que a universidade poderá planejar cursos de formação para os docentes que não foram bem avaliados pelos alunos e/ou pela própria universidade. Também com base na avaliação discente é possível cruzar diversos dados sociais e acadêmicos para acompanhar a evolução dos alunos cotistas, bolsistas, etc. Conforme a Tabela 5, a universidade poderá incentivar programas de formação para melhorar o seu quadro docente de acordo com as deficiências de cada professor. Entre os cursos ofertados, a preparação de aulas, avaliações e utilização de recursos instrucionais deveriam fazer parte do processo de atribuição de todos os componentes curriculares. Pois se constitui em grande dificuldade para o professor pela inexistência de programas de formação para professores contratados que desejam lecionar disciplinas em outras sub-áreas de sua
formação. Não obstante, todo esse ciclo de análise deverá ser contínuo para que possa ser avaliado e melhorado constamente.
Conclusão
A ausência de estudos sobre o paranoma do perfil docente, geralmente confundida pela sua produção acadêmica, pode ser uma das principais constribuições para elevação da taxa de evasão nas universidades brasileiras. Seja por negligência ou falta de conhecimento específico, presume-se que o docente possui todas as competências necessárias para lecionar, embora o seu perfil profissiográfico nunca tenha sido analisado em função do componente curricular. Como resultado, a dificuldade de contextualização dos conteúdos programáticos é visível pelos alunos e desencadeia uma evasão do componente curricular ou até mesmo do curso.
Embora este estudo tenha sido apresentado de forma breve, foi possível perceber rapidamente uma inconsistência na contratação de docentes diante da matriz curricular de um curso em uma universidade federal, bem como analisar a oferta e demanda de docentes em relação aos componentes curriculares de um curso de Bacharelado em Ciência da Computação da mesma universidade. Como trabalho futuro sugere-se uma avaliação prática da abordagem com a utilização de dados reais e o estabelecimento de um processo para coleta e avaliação da atribuição de componentes curriculares aos docentes. O estudo poderia comparar as avaliações discentes nas duas formas de atribuições de componentes curriculares: da forma convencional e com a utilização da proposta exibida neste estudo.
Referências
• Filho, R. L. L. S., Montejunas, P. R., Hipólito, O., Lobo, M. B. C. M.. (2007) “A Evasão no Ensino Superior Brasileiro”. Cadernos de Pesquisa, v. 37, n. 132, p.641-659, set. / dez. 2007.
• Junior. J. C. P. (2010) “Apoio ao Bacharelado em Ciência da Computação”. Comissão de Coordenação do BCC, Departamento de Ciência da Computação, IME-USP, Universidade de São Paulo.
Anexos
Doutores Mestres Área de Conhecimento
Universidade
21 Ciência da Computação
7 Física
7 Matemática
2 Probabilidade e Estatística
Vale do Paraíba
64 50 Ciência da Computação
83 28 Física
12 15 Matemática
4 2 Probabilidade e Estatística
Universidade Doutores Mestre Sub-área de Conhecimento
Linhas de Pesquisa
2 Arquitetura de Sistemas de Computação
2 Aprendizado de Máquina
3 Processamento de Imagens e Sinais
8 Otimização
2 Redes e Sistemas Distribuídos
1 Banco de Dados
1 Engenharia de Software
1 Ciência da Computação
Mat
riz
Cu
rric
ula
r d
e C
iên
cia
da
Co
mp
uta
ção
Lógica de Programação
N/A N/A Computação e Sociedade
Algorítmos e Estruturas de Dados
Programação Orientada a Objetos I
Programação Orientada a Objetos II
Banco de Dados
Arquitetura e Organização de Computadores
Projeto e Análise de Algorítmos
Paradigmas de Programação
Redes de Computadores
Sistemas Operacionais
N/A N/A Linguagens Formais e Automátos
Engenharia de Software
Programação Concorrente e Distribuída
N/A N/A Compiladores
Teoria dos Grafos
Validação e Verificação de Software
Sistemas Distribuídos
N/A N/A Multimídia
Processamento de Imagens
Método de
Exposição das
Aulas
C. Horária Prática C. Horária TeóricaMetodologia de
Ensino
Recursos
Instrucionais
Critério de
AvaliaçãoQuantidade de Alunos Alunos Aprovados
Atuação Técnica
Profissional (em
anos)
Experiência
Docente
Cursos em
Tecnologias
Relacionadas
Nota da Avaliação
Discente
Horas de Dedicação
a Preparação de
Aulas
Perfil dos Alunos
Integração de
Componentes
Curriculares
...
Perfil Recomendado Para Componente Curricular
Versão do Projeto
Pedagógico do Curso
Componente
CurricularVersão da Ementa
Responsável pela
Ementa
Método de Exposição
das AulasC. Horária Prática C. Horária Teórica
Metodologia de
Ensino
Recursos Instrucionais
Utilizados
Critério de
AvaliaçãoQuantidade de Alunos Alunos Aprovados
Atuação Técnica
Profissional (em anos)
Experiência
Docente
Cursos em
Tecnologias
Relacionadas
Nota da Avaliação
Discente
Horas de Dedicação a
Preparação de Aulas
Perfil dos
Alunos
Integração de
Componentes
Curriculares
...
Perfil Profissiográfico do Professor
Docentes
Treinados
Docentes
Aprovados...
...
Recursos instrucionais
Seminários de Práticas Docente
Planejamento de Componente Curricular
Integração de Componentes Curriculares
Critérios de Avaliação
Cursos em Tecnologias
Programa de Formação Docente (Contínuo)Docentes Reprovados em
Avaliações Discentes
Métodos de Exposição das Aulas