Análise do Plano-Processo na Urbanização de Cidades no Baixo ...

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PRÓ-REITORIA DE PESQUISA, PÓS-GRADUAÇÃO E EXTENSÃO NÚCLEO DE ESTUDOS E PESQUISA EM QUALIDADE DE VIDA E MEIO AMBIENTE MESTRADO EM DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE URBANO JADER DUARTE FERREIRA ANÁLISE DO PLANO-PROCESSO NA URBANIZAÇÃO DE CIDADES NO BAIXO AMAZONAS: O CASO DE SANTARÉM-BRASIL BELÉM 2011

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PRÓ-REITORIA DE PESQUISA, PÓS-GRADUAÇÃO E EXTENSÃO

NÚCLEO DE ESTUDOS E PESQUISA EM QUALIDADE DE VIDA E MEIO

AMBIENTE

MESTRADO EM DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE URBANO

JADER DUARTE FERREIRA

ANÁLISE DO PLANO-PROCESSO NA URBANIZAÇÃO DE CIDADES NO

BAIXO AMAZONAS: O CASO DE SANTARÉM-BRASIL

BELÉM

2011

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PRÓ-REITORIA DE PESQUISA, PÓS-GRADUAÇÃO E EXTENSÃO

PROGRAMA DE MESTRADO EM DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE

URBANO

JADER DUARTE FERREIRA

ANÁLISE DO PLANO-PROCESSO NA URBANIZAÇÃO DE CIDADES NO

BAIXO AMAZONAS: O CASO DE SANTARÉM-BRASIL

Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente Urbano da Universidade da Amazônia como requisito para a obtenção do grau de Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente Urbano. Orientadora: Profa. Dra. Maisa Sales Gama Tobias

BELÉM

2011

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ANÁLISE DO PLANO-PROCESSO NA URBAIZAÇÃO DE CIDADES NO

BAIXO AMAZONAS: O CASO DE SANTARÉM-BRASIL

JADER DUARTE FERREIRA

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação da Universidade da

Amazônia como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre em

Desenvolvimento e Meio Ambiente Urbano.

BANCA EXAMINADORA

_____________________________________________ Profa. Dr. Maisa Sales Gama Tobias - Orientador

Universidade da Amazônia

_____________________________________________ Prof. Dr. Marco Aurélio Arbage Lobo – Examinador Interno

Universidade da Amazônia

_____________________________________________ Profa. Dr. Janete Marília Gentil Coimbra de Oliveira – Examinador Externo

Universidade Federal do Pará

Aprovado: _________________________

Belém, ____de _________________2011.

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A minha família, minha esposa Maria

Auxiliadora e meus filhos, Ana Beatriz e

Thiago Henrique, motivos da milha luta

por um futuro próspero e digno dos

vencedores.

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AGRADECIMENTOS

A Deus pai todo poderoso, pelo dom da vida e por todas as coisas que aconteceram e acontecem na minha vida, sempre no momento e na hora certa. À minha família, por entender as ausências nas brincadeiras, nos passeios de domingo e, também, pelo apoio incondicional em todos os momentos. À minha esposa, Maria Auxiliadora, pelo amor, carinho, paciência e apoio incondicional em todos os momentos desta jornada. Aos meus filhos Thiago Henrique e Ana Beatriz, pela certeza que vocês impulsionaram vontade de buscar essa conquista. À minha irmã Lena Vânia Duarte Ferreira, por ter assumido o papel de mãe em várias ocasiões da minha vida. Aos irmãos Raimundo Paulo, Ivair, Lilian e sobrinhos: essa conquista também é de vocês. À minha irmã Sônia Maria Sombra Soares Luz pelo carinho, amizade, pelos conselhos e pelo incentivo nos momentos de dificuldades. Ao meu irmão José Mauricio Sombra Soares pelo carinho, amizade e incentivo em todos os momentos. Aos irmãos José Antonio, José Francisco e Maria Elvira pelo carinho e amizade. À minha mãe (in memorian) Darci Duarte Ferreira pelo amor, carinho, dedicação e por ter me conduzido em boa parte da minha vida e ensinado o caminho do bem. Aos meus irmãos (in memorian) Orival Duarte Ferreira José Claudio Sombra Soares só pelo fato de terem existido em minha vida. À minha irmã (in memorian) Maria Eunice Soares Penner, grande incentivadora, sempre lembrando, “e o mestrado”. À minha irmã (in memorian) Ana Maria Sombra Soares pelo carinho, amizade e solidariedade em vários momentos da minha vida. À minha cunhada Maria do Socorro pela disponibilidade em cuidar dos meus filhos nos momentos da minha ausência e da minha esposa. À Professora Maísa Sales Gama Tobias, minha orientadora, pela presteza e firmeza com que conduziu a orientação, acreditando na vitória quando eu já não acreditava. À professora Julia Lourenço pela orientação indireta e por ter contribuído com preciosas informações sobre o plano-processo. À professora Janete Marília Gentil Coimbra de Oliveira pela disponibilidade e presteza em informações sobre Santarém. A todos os professores do Mestrado, em especial ao professor Marco Aurélio Arbage Lobo pela amizade e presteza das informações. Aos amigos e colegas da turma de Mestrado de 2009 pelos momentos que passamos juntos no período dos créditos e, depois, durante a elaboração de trabalhos, em especial ao Paulo Ávila, Paulo Costa, João Gabriel Huffner e Lucas, meus agradecimentos pela amizade e pelo companheirismo.

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.

“Tudo o que um sonho precisa para ser

realizado é alguém que acredite que ele

possa ser realizado.”

(Roberto Shinyashiki)

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RESUMO

O presente trabalho apresenta a aplicação da teoria do plano-processo, do ponto de vista analítico, mediante uma visão holística caracterizada pela integração de fatores, variáveis, ações e dimensões para o planejamento territorial de Santarém, face a sua realidade atual de expansão urbana. Inicialmente, há uma explanação sobre os aspectos conceituais do planejamento e da Teoria do Plano-Processo, seguido da sistematização dos períodos históricos do planejamento e desenvolvimento urbano da Amazônia. Na sequência, tem-se o estudo de caso em Santarém, Pará, aspectos naturais, demográficos, econômicos, históricos e relativos à sua urbanização. Finalmente, aplica-se a análise do plano-processo, elencando os fatores determinantes do plano-processo: bio-físicos, de fundamentação técnica e de ordem cultural, seguidos dos fatores críticos em termos de persistência no desígnio e de percepção das inovações. Com base na leitura desses fatores, tem-se a análise crítica do plano-processo em Santarém, com elucidações do ciclo de vida do planejamento do município e dos aspectos relevantes do planejamento a serem postos em prática para a efetiva materialização das ações previstas. Dentre os resultados mais relevantes, evidenciou-se como fatores determinantes do plano-processo em Santarém a ausência de atuação dos poderes municipal e estadual nas decisões sobre o planejamento territorial; linhas de descontinuidades da execução de projetos de infraestruturas e a pouca participação popular nos processos decisórios no município. Destacou-se como fatores críticos, as ações do Governo brasileiro em Santarém em função, principalmente, da sua localização regional estratégica do ponto de vista da integração e da segurança nacional e o processo de descentralização administrativa do território, sendo delegada muito lentamente à sociedade, aquém dos desejos das comunidades locais e das capacidades institucionais dos municípios, de serem verdadeiramente donos de seus destinos.

Palavras-chave: planejamento territorial, plano-processo, Santarém, urbano.

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ABSTRACT

This paper presents the application of the plane-process theory, under point of view analytical, through a holistic approach characterized by the integration of factors, variables, actions and dimensions for the territorial planning in Santarem, in the face of its current reality of urban expansion. Initially, there is an explanation about conceptual aspects of planning and the plane-process theory, followed by the systematization in historical periods of planning and urban development in Amazon. Further, there is the case study in Santarém, Pará, reporting natural, demographic, economic, historical and urbanization features. Finally, it applies the plane-process analysis, indentifying determinants factors of plane-process analysis: bio-physical factors, technical basis and cultural, followed by critics, factors in terms of persistency in the design and perception of innovations. The reading of these factors permits the critical plane-process analysis in Santarem, with elucidation of the planning life cycle with the city and the relevant aspects of the planning to be implemented for the effective materialization of planned actions. Among the most relevant results, has come up as determinants factors of the plan-process in Santarém the absence of state and local governments in decisions about land planning, lines of discontinuities in implementation of infrastructure projects and limited popular participation in decision making in the region. Stood out as critical factors, the actions of the Brazilian Government in Santarem, due mainly from its regional strategic location in terms of integration and national security and the process of administrative decentralization in territory being delegated to the regional society very slowly, below the wishes of local communities and the institutional capacity of municipalities, as truly masters of their destinies.

Keywords: territorial planning, plan-process, Santarém, urban

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Configurações da Rede Urbana Amazônica.......................................... 42

Figura 2: Principais Rodovias de Integração Nacional.......................................... 43

Figura 3: Frentes Pioneiras Antigas e Recentes................................................... 51

Figura 4: Eixos Nacionais de Integração e Desenvolvimento............................... 54

Figura 5: Programas Brasil em Ação e Avança Brasil: Obras prioritárias

com financiamento garantido................................................................. 54

Figura 6: Principais Investimentos do Programa Brasil de Todos......................... 56

Figura 7: Investimentos do PAC para a Região Norte........................................... 57

Figura 8: Localização de Santarém-PA.................................................................. 61

Figura 9: Bairros de Santarém-PA.......................................................................... 80

Figura 10: Mapa da expansão Urbana de Santarém-PA........................................ 86

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LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1: Quase-Modelo de Holton....................................................................... 35

Gráfico 2: Modelo Idealizado por Lourenço........................................................... 37

Gráfico 3: Crescimento da população da Região Norte........................................ 51

Gráfico 4: População Rural e Urbana da Região Norte......................................... 52

Gráfico 5: População Total, Urbana e Rural de Santarém em 1980, 91/96-2010. 64

Gráfico 6: Evolução dos Setores Econômicos e do PIB........................................ 67

Gráfico 7: Plano-Processo de Santarém-PA.......................................................... 97

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Distribuição dos Recursos do Programa de Emergência da SPVEA

por Setores de Atividades...................................................................... 48

Tabela 2: Recursos Orçados Para o Período de 1955 – 1959 da SPVEA............. 48

Tabela 3: Evolução da População Total, Urbana e Rural de Santarém-Pa

1980, 91,96 até 2010.............................................................................. 63

Tabela 4: Santarém Composição do PIB 2000 – 2007........................................... 66

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1: Períodos de Desenvolvimento da Rede Urbana Amazônica................. 40

Quadro 2: Ações do Estado brasileiro nas décadas de 1960 e 1970 do século

XX na Amazônia................................................................................... 45

Quadro 3: Planejamento Territorial para Amazônia no Século XX, pós década

de 80...................................................................................................... 53

Quadro 4: Fatores Determinantes de Planos Territoriais........................................ 83

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LISTA DE SIGLAS

PNSB PESQUINA NACIONAL DE SANEAMENTO BÁSICO

IBGE INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA

SPVEA SUPERINTENDÊNCIA DO PLANO DE VALORIZAÇÃO

ECONOMICA DA AMAZONIA

SUDAM SUPERINTENDÊNCIA DO DESENVOLVIMENTO DA

AMAZÔNIA

BASA BANCO DA AMAZÔNIA

INCRA INSTITUTO NACIONAL DE COLONIZAÇÃO E REFORMA

AGRÁRIA

ZFM ZONA FRANCA DE MANAUS

PND PLANO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO

PDA PLANO DE DESENVOLVIMENTO DA AMAZÔNIA

PPA PLANO PLURIANUAL

PAC PLANO DE ACELERAÇÃO DO CRESCIMENTO

COSANPA COMPANHIA DE SANEAMENTO DO PARÁ

COHAB COMPANHIA DE HABITAÇÃO DO PARÁ

DNIT DEPARTAMENTO NACIONAL DE INFRAESTRUTURA DE

TRANSPORTES

PIB PRODUTO INTERNO BRUTO

BEC BATALHÃO DE ENGENHARIA E CONSTRUÇÃO

EMBRATEL EMPRESA BRASILEIRA DE TELECOMUNICAÇÕES

UEPA UNIVERSIDADE DO ESTADO DO PARÁ

UFPA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ

UFOPA UNIVERSIDADE FEDERAL DO OESTE DO PARÁ

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO...................................................................................................... 16

2 TEORIA DO PLANO-PROCESSO...................................................................... 22

2.1 PLANEJAMENTO E PLANO-PROCESSO........................................................ 22

2.2 MODELOS PARA AVALIAÇÃO E ACOMPANHAMENTO DO

PLANO-PROCESSO......................................................................................... 35

2.2.1 O “quase-modelo” de Holton.......................................................................... 35

2.2.2 Modelo idealizado por Lourenço..................................................................... 36

3 PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO URBANO NA AMAZÔNIA............ 40

3.1 A ATUAÇÃO DO ESTADO BRASILEIRO À PARTIR DA SPVEA..................... 44

3.2 AS POLÍTICAS PÚBLICAS E O PLANEJAMENTO TERRITORIAL

NA AMAZÔNIA DA DÉCADA DE 1940 ATÉ A DÉCADA DE 1980................... 47

3.3 AS POLÍTICAS PÚBLICAS E PLANEJAMENTO TERRITORIAL NA

AMAZÔNIA APÓS A DÉCADA DE 1980.......................................................... 52

4 ESTUDO DE CASO: SANTARÉM, PARÁ.......................................................... 60

4.1 APRESENTAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO....................................................... 60

4.2 ASPECTOS SOCIO-DEMOGRÁFICOS E ECONÔMICOS............................... 62

4.3 FORMAÇÃO DO TERRITÓRIO E O DESENVOLVIMENTO URBANO............. 67

5 ANÁLISE DO PLANO-PROCESSO..................................................................... 82

5.1 FATORES DETERMINANTES DO PLANO-PROCESSO.................................. 82

5.1.1 Fatores bio-físicos............................................................................................ 82

5.1.2 Fatores de fundamentação técnica.................................................................. 88

5.1.3 Fatores de ordem cultural................................................................................ 91

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5.2 FATORES CRÍTICOS DO PLANO-PROCESSO............................................... 92

5.2.1 A Persistência no desígnio............................................................................... 93

5.2.2 Percepção das Inovações................................................................................ 93

5.3 SÍNTESE ANALÍTICA DO PLANO-PROCESSO................................................ 93

6 CONCLUSÃO...................................................................................................... 100

REFERÊNCIAS....................................................................................................... 109

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA........................................................................... 114

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1 - INTRODUÇÃO

O planejamento territorial e urbano, dentre outras finalidades, tem a função de

ordenar e estruturar o território para atender às necessidades do cidadão, bem

como, viabilizar o provimento de condições básicas tais como saneamento básico,

saúde, transporte, meio ambiente saudável, entre outros direitos garantidos em lei e

fundamentais à materialização da qualidade de vida.

Numa perspectiva histórica, na década de 1970, os planos territoriais se

caracterizavam como conservadores, na dinâmica físico-territorial, sem levar em

conta que a dinâmica social, econômica, política, cultural e espacial iria requerer

mudanças dos planos. Na década de 1990 do século passado, a análise dos planos

territoriais se constituiu em novo paradigma do planejamento territorial e instrumento

de realização do planejamento dinâmico, destinado a abranger a complexidade de

fatores, variáveis e segmentos sociais presentes na realidade.

A orientação de análise do planejamento urbano, como percurso, denominado de

“plano-processo”, foi um conceito desenvolvido a partir dos anos 1970 do século XX

e teve como principal instrumento o estabelecimento de planos definidos entre a

decisão e o ato de investir, bem como, entre a ação planejada e sua execução. A

partir dos anos 90, do século passado, que o plano-processo ganhou importância

por representar a alternativa de realizar o planejamento urbano por meio de

processos contínuos de retroalimentação, ou seja, do feed-back entre o planejado,

executado e as mudanças verificadas na realidade.

Neste sentido, pode-se dizer que a análise do plano-processo envolve processos

contínuos de planejamento, por meio do qual os planos são considerados

instrumentos essenciais. A maneira de planejar a partir do plano-processo leva em

conta a complexidade do processo de decisão, haja vista as distintas dimensões

vinculadas aos fenômenos da urbanização: econômica, social, política, cultural e

ambiental. Nessa perspectiva o planejador necessita de uma visão holística,

abrangente porque cada dimensão está integrada a outra.

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Nesse modelo de análise, cada plano elaborado é implementado e acompanhado

mediante uma avaliação. Ao se estabelecer um novo plano, inicia-se novo ciclo do

plano-processo (LOURENÇO, 2003).

Em termos de Brasil, torna-se interessante a aplicação do modelo de plano-processo

como modalidade de planejamento urbano porque a rede urbana brasileira vem se

tornando mais complexa devido às mudanças ocorridas no formato das redes

regionais, reflexo de diferentes articulações sócio-espaciais desenhadas entre as

cidades. A complexidade, também, se expressa pela desconcentração das

atividades produtivas e o surgimento de novos espaços dinamicamente econômicos,

bem como, a estagnação de outros (MOTTA, 2004).

Segundo Motta (2004), a complexidade é um dos fatores que justifica o uso do

plano-processo, porque sua abordagem no planejamento requer o acompanhamento

e avaliação contínua, resultando em ajustamento dos planos. Nesse contexto, as

estruturas urbanas no Brasil se diferenciam segundo três características espaciais

básicas: o ritmo da urbanização; o nível de adensamento da rede de cidades; e o

grau de complementaridade entre os centros urbanos que as compõem. Além disso,

é preciso levar em conta fatores de ordem social, como os níveis de

desenvolvimento humano alcançados pelos habitantes dos centros urbanos,

expressos nos indicadores de renda, alfabetização e acesso aos serviços urbanos

básicos.

A precariedade das condições de habitação, de infra-estrutura e de serviços básicos,

a insuficiência de ações direcionadas à regularização administrativa, urbanística e

jurídica se faz notória nas áreas informais da periferia das grandes cidades

brasileiras, pequenas e médias. O déficit habitacional brasileiro atinge atualmente

cerca de 20 milhões de pessoas (MOTTA, 2004).

Na Amazônia, a situação da urbanização, também, apresenta situações de

precariedade e, a maioria delas, decorrente da falta de um planejamento territorial

comprometido com as necessidades da maioria social. O emprego da análise do

plano-processo ainda não é visível na região, haja vista a política de ordenamento

territorial ter sido historicamente imposta de fora e com a prioridade de ocupar os

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vazios demográficos, integrar a região aos interesses do capitalismo nacional e

internacional e valorizar economicamente as riquezas naturais (PEREIRA, 2006).

A urbanização na Amazônia foi orientada pela criação de infra-estrutura,

especialmente a construção de estradas, no entorno das quais se foi formando a

rede urbana sem as condições adequadas de habitação. Embora a cada momento

histórico das várias atividades econômicas tenha se observado manifestações

distintas de urbanização, a exemplo da época da borracha, quando Belém e Manaus

se tornaram as cidades mais importantes da região, recebendo investimentos

significativos para sua modernização e algumas ações desenvolvidas em termos de

planejamento urbano, não se verificou a continuidade desse processo, após a crise

da borracha.

Assim, a urbanização foi se constituindo nas margens dos rios e das estradas, sem a

implementação de um planejamento urbano capaz de evitar o surgimento de

problemas futuros como, o inchaço das periferias, criminalidade, especulação

imobiliária, ocupação desordenada de áreas de marinha e falta de saneamento

básico. De acordo com dados da Pesquisa Nacional de Saneamento Básico (PNSB)

de 2008, publicada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, em

termos de saneamento o Estado do Pará continua entre os piores do Brasil. Apenas

1,7% de municípios paraenses possuem rede de esgoto sanitário, deixando o Pará

em segunda pior posição do país, ficando à frente apenas de Rondônia. Dentre os

municípios que fazem tratamento do esgoto, o Pará encontra-se no quarto pior

resultado, com 4,2% de cidades com a realização do serviço.

No conjunto do país, entre os municípios que possuíam o serviço, o número

de domicílios com acesso à rede geral de esgotamento sanitário teve um

avanço de 39,5% no período. As maiores altas foram registradas no

Nordeste (64,7%) e no Norte (89,9%). O percentual de domicílios com

acesso à rede geral de esgoto passou de 33,5% em 2000 para 44% em

2008. Apenas no Sudeste mais da metade dos domicílios (69,8%) tinham

acesso à rede geral, seguido do Centro-Oeste (33,7%), Sul (30,2%),

Nordeste (22,4%) e Norte (3,8%). As únicas unidades da federação com

mais da metade dos domicílios atendidos eram Distrito Federal (86,3%),

São Paulo (82,1%), e Minas Gerais (68,9%). Rio de Janeiro (49,2%) e

Paraná (46,3%) ficavam próximos da marca de 50% e se situavam acima da

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média nacional (44%). Os demais estados tinham menos de um terço dos

domicílios atendidos, ficando Amapá (3,5%), Pará (1,7%) e Rondônia (1,6%)

com as menores coberturas. (Pesquisa Nacional de Saneamento Básico,

2008). Disponível em: www.ibge.com.br/home/presidencia/noticias/noticia.

Acesso em 10.12.2010.

Esses problemas se agravam com a expansão urbana das cidades amazônicas, a

exemplo de Santarém, onde se constata o crescimento de áreas informais, o

adensamento populacional e de novas atividades econômicas, sem o efetivo

acompanhamento por ações planejadas de intervenção por parte do poder público.

Com o crescimento da cidade, ampliou-se o número de domicílios sem rede de

esgoto adequada, a quantidade de lixo produzida, a demanda por novos serviços de

saúde, educação, energia, telefonia e transporte.

A situação de Santarém, embora tenha suas peculiaridades à parte, é idêntica à

maioria das cidades brasileiras, e um estudo de análise do plano-processo, cuja

proposta se fundamenta na perspectiva holística de abranger a complexidade do

fenômeno urbano, reconhecendo as especificidades físicas, sociais, econômicas,

cultuais, técnicas e políticas de cada lugar, tem o mérito de contribuir com

informações relevantes sobre a viabilidade de se empregar o plano-processo para

buscar alternativas de solução aos problemas urbanos de um caso regional, pouco

explorado pela pesquisa acadêmica.

O estudo tem a relevância de esclarecer o significado do plano-processo dos planos

territoriais sob o espaço urbano em questão, na intenção de identificar as

especificidades do plano-processo e contribuir para o direcionamento do

planejamento territorial urbano. Esta dissertação parte da seguinte questão-

problema: Qual o ciclo de vida do planejamento territorial e urbano no município de

Santarém na perspectiva da análise do plano-processo?

Em resposta ao problema levantado, foram elaboradas as seguintes hipóteses:

a) Santarém é um município cuja urbanização foi historicamente construída por um

processo de planejamento autoritário e descontínuo, sem levar em conta as

principais necessidades da população local e os impactos de ordem social e

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ambiental causados pelas diversas atividades econômicas da Amazônia. A

adoção do modelo de análise do plano-processo poderia ser útil para ajudar a

compreender os diversos problemas urbanos atualmente existentes;

b) A adequação da metodologia de análise do plano-processo ao planejamento

territorial de Santarém se justifica por estar fundamentada numa visão holística,

considerando os vários fatores, variáveis e dimensões da dinâmica urbana de

maneira integrada.

c) A proposta de um planejamento urbano com o emprego da análise do plano-

processo abre caminhos para a participação da sociedade local na tomada de

decisões, favorecendo conhecer mais claramente os problemas e as prioridades

a serem definidas nas estratégias e linhas de ação.

Diante do exposto, este trabalho tem como objetivos:

Geral: analisar o plano-processo da expansão urbana de cidades amazônicas, tendo

como estudo de caso a cidade de Santarém, no Estado do Pará.

Específicos:

- Periodização histórica do processo de planejamento e desenvolvimento urbano na

Amazônia, com destaque para a cidade de Santarém;

- Apresentação do estudo de caso em Santarém, a partir de referenciais físicos,

socio-ambientais e econômicos do município;

- Análise do plano-processo do planejamento territorial de Santarém;

- Conclusões a respeito dos fatores críticos e determinantes do plano-processo, com

recomendações de direcionamentos para o ciclo de planejamento atual.

A dissertação está estruturada em seis partes. Inicialmente, pela introdução, na qual

são elucidadas as primeiras aproximações ao tema e os parâmetros de

fundamentação da dissertação. O segundo capitulo aborda os aspectos conceituais

do planejamento e da Teoria do Plano-Processo. No terceiro capítulo, destacam-se

os períodos históricos do planejamento e desenvolvimento urbano na Amazônia. O

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21

quarto capítulo apresenta o estudo de caso - Santarém, descrevendo aspectos

naturais, demográficos, econômicos, históricos e relativos à sua urbanização. No

quinto capítulo tem-se a análise do plano-processo, onde são elencados os fatores

determinantes: bio-físicos, de fundamentação técnica, de ordem cultural e, ainda, os

fatores críticos do plano-processo. Encerra-se este capítulo com a análise do plano

processo. No sexto capítulo estão as conclusões e recomendações.

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2 A TEORIA DO PLANO PROCESSO

O referencial teórico está pautado nos fundamentos da questão urbana no que se

refere ao planejamento e seus resultados práticos sobre a vida da cidade. Parte-se

da explanação sobre o método, onde a Teoria do Plano Processo é caracterizada

em termos de modelo e operacionalizada através da identificação e análise de

fatores determinantes e críticos no processo atual de ciclo de vida do planejamento

na região sob estudo.

2.1 PLANEJAMENTO E PLANO-PROCESSO

Para compreender a relevância do plano-processo no ordenamento territorial é

imprescindível considerar o planejamento como um contínuo adaptado às mudanças

da realidade, necessário para se definir tarefas, metas e otimizar o uso de seus

recursos, com continuidade no tempo. Planejar é tomar um conjunto de decisões

antecipadas, realizar previsões sobre determinadas variáveis, adquirir informações

internas e externas, criar cenários (hipóteses), problematizar a realidade e indicar

ações a seguir, que serão avaliadas conforme as mudanças ocorridas no âmbito

real. No entender de Peleias (2002, p.22):

Planejar pressupõe a existência de um processo decisório contínuo, que

contemple as atividades dos gestores de forma individual e conjunta. De

modo individual, as decisões tomadas por um gestor podem ter influência

nos níveis superiores, pares e subordinados, além da preocupação com os

melhores resultados para a área de sua responsabilidade, para seus

produtos e serviços. De modo conjunto, as decisões individuais e coletivas

afetam a empresa e devem ser tomadas à luz dos objetivos que se espera

atingir, tendo sempre em mente a sobrevivência, a continuidade e o

crescimento da organização.

É importante esclarecer que o Planejamento perfaz um processo contínuo,

permanente e dinâmico que visa antecipar-se às mudanças, como evidenciam

Miranda e Libonati (2002, p.53):

Planejamento é o processo de definir objetivos e desenvolver estratégias

para atingi-las. Prover mecanismos para coordenar o desenvolvimento de

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estratégias e a sua execução. Requer o comprometimento definido da

administração no sentido de atingir tais objetivos. Planejamento é, portanto,

a atividade de antecipar-se às mudanças, organizando as ações que serão

tomadas e os recursos que serão alocados.

Na concepção de Lourenço (2003, p.218):

[...] o plano é um elemento determinante do processo de planejamento. Isto

é, de um modo mais afirmativo, um processo de planejamento não pode ser

iniciado sem um plano, já que este se constitui como essência e motor

desse processo. Deste modo, é idealizado o desenrolar de um ciclo de

planejamento que se sucede no tempo sem descontinuidades, mas que vai

dando origem a variáveis de intensidade do ciclo (IC) [...].

Portanto, essencialmente, o plano não pode ser estático, ele precisa acompanhar a

evolução do espaço-tempo, ser flexível, conter mecanismos de ajuste, sofrer

monitoramento e avaliação permanente, principalmente nos dias atuais,

caracterizados pelo avanço da globalização.

A globalização é um processo amplo, ela não envolve apenas a questão

econômica, mas inclui múltiplas dimensões, como o crescimento do

consumo de drogas e seu combate, a ampliação de doenças, a

reestruturação dos organismos internacionais para se adequarem à nova

realidade. Por isso, os problemas econômicos, financeiros, políticos, sociais,

científicos, tecnológicos, ambientais e outros passam a ser vistos em âmbito

global (SANTANA, 2009, p.45).

Além da complexidade marcante no mundo atual, a mudança rápida e acelerada nas

distintas dimensões do espaço geográfico se processa em períodos de curto a

curtíssimo prazo. Novas tecnologias e inovações alteram o comportamento e hábitos

das pessoas, diversificam-se as formas de criminalidade, a ocupação dos espaços

urbanos ocorre sem previsão e de maneira muito rápida. Tais fatos exigem um

planejamento cada vez mais flexível, ou seja, aberto a alterações e avaliações

contínuas.

Nesse cenário, o plano-processo envolve um conjunto de planos sucessivos

adaptados às necessidades da sociedade, contemplando transparência, direitos,

deveres e outras prioridades, como explica Lourenço (2003, p. 37):

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A noção da existência permanente de plano implica a sua explicitação e

gestão [...]. Efetivamente, a consideração do plano-processo implica a

avaliação de um conjunto de planos que se sucedem ou podem coexistir no

tempo, para um determinado espaço territorial. A implementação dos vários

planos contribuirá para instrumentar o plano-processo [...]. A explicação

residirá nas garantias que os Planos Territoriais oferecem como sejam, uma

maior: transparência do processo; consagração de regras, direitos e

deveres; ponderação e análise conjunta de situações e problemas.

De acordo com Souza (2004), as técnicas de predição em projeções de curvas,

como são empregadas no plano-processo já vem sendo operacionalizado há vários

anos, com maior ou menor sofisticação no campo do planejamento. Mas, foi com a

construção de cenários que ocorreu uma ruptura qualitativa, epistemológica na teoria

do planejamento. Todavia, construir cenários significa apenas simular

desdobramentos, sem ter a preocupação de quantificar probabilidades e sem se

restringir a identificar um único desdobramento esperado, considerado como uma

tendência mais plausível.

Vale ressaltar que, a primeira experiência efetiva de planejamento ocorreu em 1933,

nos Estados Unidos, com a criação do TVA (Tennesse Valley Autorithy), criado no

governo de Roosevelt, como parte do programa New Deal (1933-1937), de

recuperação da economia face à crise econômica iniciada em 1929, o qual visava

combater o desemprego. Foram criadas naquele momento dezenas de agências ou

autarquias, planos para a recuperação da agricultura e metas para a indústria,

legislação para controlar o setor financeiro. Essa experiência também possibilitou

realizar obras de infraestrutura vinculadas ao rio Tennessee, como a construção de

hidrelétricas, rodovias, pontes, abastecimento de água e irrigação. Atualmente, são

desenvolvidos projetos na área de meio ambiente.1

No entendimento de Pagnussat e Giacomoni (2006) não há uma teoria específica

sobre o planejamento, mas um pensamento crítico-teórico acerca de seu conceito, o

qual evoluiu ao longo do tempo. Foi a partir de 1945 que ocorreu uma “explosão” a

respeito do tema.

1 Planejamento Regional. Disponível em:<www.fag.ed.br/professor/.../planejamento%20regional.p.p.t.>Acesso

em: 23 mar 2011.

Page 25: Análise do Plano-Processo na Urbanização de Cidades no Baixo ...

25

As correntes do pensamento crítico-teórico sobre o planejamento são: análise de

políticas, aprendizagem social, reforma social e mobilização social. A primeira foi

conservadora e incluiu autores ligados à análise de sistemas, à economia

neoclássica e suas vertentes na economia do bem-estar e na ciência política e na

administração pública. Essa corrente o planejamento se caracterizou como uma

forma de tomada de decisão antecipada, um processo cognitivo que empregou a

razão técnica para explorar e avaliar possíveis linhas de ação. Tal visão norteou a

elaboração do plano-processo, os quais começaram a ter seus primeiros ensaios,

segundo Kauchakje (2004), após a 2ª Guerra Mundial, quando a intervenção estatal,

até o momento centrada na área econômica, passou a ser ampliada para diversas

áreas da vida social.

O Plano Marshall (1946-1953) ao buscar reconstruir a Europa após a 2ª Guerra

Mundial contribuiu para difundir a importância do planejamento, em especial a

adoção da prática do planejamento de médio prazo para a maioria dos países.

Segundo Kauchakje (2004), foi na década de 1950 que ocorreu o crescimento do

papel do Estado e sua intervenção na economia, inclusive em países como o Brasil.

Nesse período a sistemática do plano-processo começa a ser implementada para

promover serviços básicos de saúde, educação e infraestrutura. No âmbito urbano,

um exemplo foi o planejamento desenvolvido na cidade de Curitiba.

Retomando a questão do pensamento crítico-teórico do planejamento, Pagnussat e

Giacomoni (2006) explicam que outra importante corrente foi a abordagem da

Aprendizagem Social. Esta atribuiu relevância à ação. O conhecimento derivado da

experiência foi visto como se validando na prática, constituindo-se parte da ação e

centrou sua atenção nos processos sociais. Nessa perspectiva, o conceito de

entorno social passou a ser usado como categoria para análise das situações de

aprendizagem e destacou a importância do diálogo para a prática social. Tal visão,

também, influenciou o plano-processo no que diz respeito à dimensão social do

planejamento. Foi uma abordagem com a relevante contribuição de Taylor, Follett,

Person e Mayo e consolidou-se com o novo campo de análise do desenvolvimento

organizacional.

Page 26: Análise do Plano-Processo na Urbanização de Cidades no Baixo ...

26

Outra abordagem que contribuiu para a visão do plano-processo foi a Reforma

Social. Para Pagnussat e Giacomoni (2006) esta foi uma corrente central na teoria

do planejamento que constituiu o berço da concepção moderna de planejamento.

Surgiu na França, no início do século XIX, e seus principais representantes foram

Claude-Henry de Rouvroy, o Conde Saint-Simon (1760-1852).

A sociologia de Augusto Comte, por intermédio de uma perspectiva evolucionista e

positivista, ancorou a idéia do planejamento à inelutabilidade do progresso e às

etapas da história, a qual concebeu os planejadores como conhecedores das leis do

movimento histórico, por isso, conseguem organizar os meios mais eficientes para

atingir o progresso.

Para a abordagem da Reforma Social, o planejamento é a aplicação do

conhecimento científico aos assuntos públicos e preconiza uma forte presença do

Estado nesse processo, desempenhando um papel condutivo e/ou mediador. Tem a

preocupação de elaborar instrumentos necessários ao Estado para dirigir a

economia em razão do interesse público.

Pode-se dizer que no Brasil a abordagem da Reforma Social também gerou

influências, pois entre 1930 até 1980, como explica Kauchakje (2004), o

planejamento no país teve uma retórica liberal e de prática intervencionista e

protecionista. Houve o planejamento de políticas setoriais. Somente após os anos

1990, os governos passaram a empreender planos econômicos e a estruturar

políticas sociais, afetando positivamente a sistemática do plano-processo no sentido

de abranger a constelação das necessidades sociais, inclusive, no meio urbano.

A corrente da mobilização social, segundo Giacomoni e Pagnussat (2006), resultou

da interação das linhas de pensamento marxista, anarquista e utópica. Contribuiu ao

plano-processo no sentido de reconhecer as causas e consequências dos

problemas estruturais de uma sociedade dividida em classe, bem como, deu suporte

ao planejamento em países de regime socialista.

Após essa breve explanação sobre o pensamento crítico-teórico do planejamento e

gênese do plano-processo nesse contexto, é válido ressaltar que um plano processo

está em função de três pilares básicos para sua continuidade no tempo: 1) empenho

Page 27: Análise do Plano-Processo na Urbanização de Cidades no Baixo ...

27

político; 2) a capacidade técnica; 3) aceitação cultural. Quanto aos fatores-chave,

Lourenço (2003) os divide nos seguintes grupos: fatores de ordem física, fatores de

fundamentação técnica e fatores de ordem cultural.

Os fatores de ordem física são os seguintes:

Ocupação do solo – é um fator que pode facilitar a ação;

Morfologia e constituição do solo – a constituição dos solos, além do relevo e da

geologia tem significativa determinação em decisões sobre o tipo de construção, o

traçado das vias a serem pavimentadas, entre outras;

Acessibilidades – são catalisadores ou inibidores de urbanização;

Cadastro – é um elemento que pode faltar ou estar presente de maneira demasiada

nos planos. No primeiro caso, pode acarretar problemas subseqüentes na

implementação do plano; no segundo, diminuir o significado técnico.

Os fatores de fundamentação técnica são os de grande relevância para os

planejadores/urbanistas, mas não podem ser isolados dos fatores de ordem física e

cultural, sob o risco de provocarem o fracasso do plano.

a) Propostas de planos – são a ponderação de normas e ações idealizadas,

em determinada escala de tempo, destinadas ao desenvolvimento de um

território. Estabelecem determinações mais ou menos restritas em relação

ao uso atual e potencial desse território. Em parte estão associados ou

dependentes da maior ou menor formação, criatividade, conhecimento e

capacitação técnica dos seus atores;

b) Indicações de viabilidade técnica e econômica – constituem indicadores

como Taxa Interna de Retorno, Play Back, Taxa de Crescimento, entre

outros que permitem mensurar o realismo de aplicação das propostas;

c) Gestão Urbanística – constitui o acompanhamento das propostas do

plano, traduzida na sua componente de licenciamento. Abrange o modo

Page 28: Análise do Plano-Processo na Urbanização de Cidades no Baixo ...

28

de administrar os recursos, negociar com os grupos sociais, discutir as

prioridades, entre outras ações;

d) Imposição de sanções – representa a ação e vigilância para o

cumprimento de regras estabelecidas no âmbito do Estado de direito. O

Ministério Público, os Órgãos Ambientais e as Agências de Regulação

possuem relevância em zelar por este fator.

Quanto aos fatores de nível cultural, possuem relevância determinante nas ações no

curto prazo, são eles:

a) Medidas de política ou políticas – representam as vias escolhidas pelos

agentes de decisão para o alcance dos fins em geral e objetivos em

particular, assim propostos. São importantes no sentido de orientar, dar

coerência e continuidade às formas de atuação. Essas medidas podem se

apresentar de modo mais geral e globalizante. De acordo com Solesbury

(1974) apud Lourenço (2003), as políticas podem ser orientadoras,

subdivididas em de caráter indicativo ou de tipo normativo; e políticas

operacionais, direcionadas para o curto prazo. Na concepção de Lowi

(1964) apud Lourenço (2003), as políticas podem ser regulatórias,

distributivas e redistributivas.

b) Políticas de Solos – são as vias seguidas pelos poderes públicos na

função de agentes reguladores e coordenadores do consumo ou utilização

do solo. Estas abrangem diversas ações, normatizações, instrumentos e

mecanismos, tais como: aquisição, expropriação do solo e os variados

mecanismos regulatórios dos processos de planejamento (legislação

sobre o solo e aspectos jurídicos pertinentes à propriedade e utilização

/avaliação do solo, gestão fundiária do patrimônio municipal).

É importante ressaltar que no Brasil se destaca em termos de legislação das

políticas do solo, o Estatuto da Cidade (Lei n. 10.257), aprovado em 2001,

cujo enfoque do planejamento ambiental se refere ao equilíbrio ecológico,

defende a preservação do meio ambiente em consonância com as

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29

competências e determinações da Constituição Federal de 1988.2 No enfoque

urbano, o Estatuto contempla normas de ordem pública e interesse social que

regulam o uso da propriedade urbana em prol do bem coletivo, da segurança

e do bem-estar dos cidadãos (parágrafo único do art. 1º). Nesse particular, a

propriedade urbana tem como fundamento a sua função social.

A função social da propriedade não se confunde com os sistemas de limitação

da propriedade, pois estes se relacionam com o respeito ao direito do

proprietário, enquanto a função social da propriedade integra a própria

estrutura do direito de propriedade. Como determina o § 2° do art. 182 da

Constituição Federal de 1988, a propriedade urbana cumprirá sua função

social quando atender às exigências fundamentais de ordenação da cidade

expressas no Plano Diretor. Caso a política de desenvolvimento urbano

municipal, estabelecida no Plano Diretor, não tenha como prioridade atender

às necessidades essenciais da população marginalizada e excluída das

cidades, estará em pleno conflito com as normas constitucionais norteadoras

da política urbana, com o sistema internacional de proteção dos direitos

humanos, em especial, com o princípio internacional do desenvolvimento

sustentável.

c) Organização Institucional – representa a instituição de um grupo técnico

de acompanhamento das propostas do plano-processo, assim como, a

articulação intersetorial, a cooperação intermunicipal e, eventualmente,

associação entre público e privado, originada de parcerias na realização

de serviços e investimentos em estrutura física, principalmente, aqueles de

grande envergadura econômica e relevância social.

d) Participação pública – é essencial para a transparência do plano-processo.

Segundo Lourenço (2003), nas sociedades desenvolvidas é comum se

definir, primeiramente, a população-alvo para avançar nas propostas dos

planos. Essa é uma forma de garantir o espaço democrático para

2 Municípios e Meio Ambiente. Disponível em: <http://www.mundodireito.com/node/3>. Acesso em: 27 ago 2010.

Page 30: Análise do Plano-Processo na Urbanização de Cidades no Baixo ...

30

aceitação ou crítica sobre o que se propõe no planejamento, antes de

qualquer tentativa de alteração.

O princípio da participação é explicado por Catalan (2008) da seguinte maneira:

A participação envolve „querer, saber e poder‟, um querer que se denota na

vontade de construir algo para a sociedade e não apenas para si próprio;

um saber como participar e que precisa ser constantemente apreendido

para que as medidas tomadas sejam eficazes; e, enfim, um poder que se

extrai da concretude dos comportamentos internalizados quando a

participação se fizer necessária (p. 76).

Mas, a participação das comunidades no Brasil ainda é limitada, seja porque não se

criam canais para sua fruição, seja pelo fato da falta de politização da sociedade. Na

visão de Nogueira (2004), não pode haver controle social, participação, se a

mentalidade política sem transparência continuar interferindo nos canais decisórios.

Segundo o autor, é necessário que a sociedade esteja habilitada para assimilar a

perspectiva de negociação e lutar por soluções políticas, fundamentadas em

debates, embates e acordos, caso contrário esta sociedade se torna presa fácil,

fragilizada ou até “deslegitimada”. Assim, uma sociedade que não é politizada acaba

não tendo representação e maior será o protagonismo das cortes e dos tribunais e o

peso da esfera administrativa com seus técnicos e burocratas.

Na concepção de Lourenço (2003, p. 236-237), duas condições são relevantes no

sucesso do planejamento: alargamento da participação pública e competência das

estruturas organizacionais:

Embora, atualmente, a concepção do cidadão passivo governado pelos

representantes eleitos esteja a ser alterada, para uma outra ligada ao

cidadão ativo que se dispõe a participar em todo o processo de mudança,

numa óptica antecipativa, intervindo também na escolha de opções de

desenvolvimento, importa ter presente a importância das estruturas

organizacionais, principalmente, do seu corpo técnico.

Page 31: Análise do Plano-Processo na Urbanização de Cidades no Baixo ...

31

Além dos fatores abordados anteriormente, Lourenço (2003) ressaltou a existência

de outros dois que, caso não sejam aplicados, podem colocar em risco o sucesso do

plano-processo aplicado ao ordenamento territorial, são eles:

a) Persistência no desígnio: é vital para a execução de qualquer plano e se

relaciona diretamente com o empenho político e a aceitação cultural.

b) Percepção das inovações: é a ação de perceber a distinção entre uma rotina

que já não corresponde à finalidade de fazer avançar o processo e uma nova

forma de conceber o existente ou operacionalizar o proposto, viabilizando a

aceitação técnica. Neste particular, Schumpeter (1988) explica que, inovar é

criar coisas novas ainda não experimentadas. Nos planos, também, é

possível acontecer isso, haja vista a inovação não ser somente tecnológica,

ela se configura como novos métodos e combinações na maneira de

administrar, planejar e organizar.

Todo plano necessita de um processo de avaliação para verificar seus erros e

acertos e poder viabilizar ajustes. Segundo Lourenço (2003), os planos territoriais

podem ser avaliados de duas maneiras:

i. avaliação do plano em si;

ii. avaliação do funcionamento do plano.

A avaliação do plano em si pode acontecer nas várias etapas de elaboração e

implementação. Nesse particular, três vertentes são consideradas: processual,

baseada na legalidade; técnica/funcional, a qual é subdividida em normal para áreas

com propostas de urbanizações-tipo e excepcional para aquelas de caráter arrojado

ou de inovação; e cultural, com subordinação a valores históricos, estéticos,

imagéticas e voluntaristas. A vertente processual do plano, geralmente, é realizada

desde que este alcance a fase de aprovação. A avaliação técnica-funcional, em

razão da dificuldade de estabelecer análises comparativo-dedutivas,

excepcionalmente é aprofundada. Por sua vez, a avaliação de caráter excepcional é

pouco aplicada.

Page 32: Análise do Plano-Processo na Urbanização de Cidades no Baixo ...

32

A avaliação do funcionamento do plano ainda é uma forma excepcional, dado o seu

caráter de inovação. Para Lourenço (2003), mesmo nos países mais avançados no

planejamento territorial esse tipo de avaliar é raramente executado. Uma condição,

no entanto, tem se verificado: os métodos de avaliação estritamente financeiros,

predominantes na década de 1970 do século passado, perderam espaço para os

métodos de apoio à decisão (LOURENÇO, 2003).

Nos dias atuais não se pode afastar por completo o emprego de métodos objetivos

como a avaliação financeira de investimentos, chek-list de critérios, análise multi-

objetivos, avaliação de custos dos recursos, custos de operação, análise de limiares,

análise custos benefícios, técnicas de otimização aplicadas à análise setorializadas

dos planos. Todavia, diante da complexidade de variáveis envolvidas no plano-

processo, é coerente reconhecer a interação entre avaliação, a geração de

alternativas e a tomada de decisões (LICHEFIELD, 1975 apud LOURENÇO, 2003).

Na atualidade, continua válido o conceito de interatividade e não de hierarquia entre

os processos de implementação e avaliação.

É importante ressaltar que, a avaliação de funcionamento de um plano, geralmente,

é norteada pela contraposição entre conformidade e desempenho. Esta última pode

ser avaliada pela eficiência, eficácia e adaptação dos objetivos. As experiências

internacionais demonstram o zoneamento como o principal meio de implementação

dos planos locais de âmbito geral.

Outra questão importante é avaliar o empenho de todos os envolvidos na execução

do plano. Lourenço (2003, p.56) cita o seguinte exemplo:

Mesmo em países como a Holanda, onde os planejadores têm,

supostamente, a possibilidade de um maior comando do processo de

urbanização, o consenso é a maneira preferida de concretizar as propostas

dos planos. Isto é, a título exemplificativo, quando preparam um plano de

pormenor (bestemmingsplan), farão consultas a todos os que virão a estar

envolvidos na sua implementação incluindo as empresas de fornecimento

de infra-estrutura e serviços, os promotores e construtores, a Câmaras de

Comércio local etc., antes de finalizarem o plano. O objetivo em vista é

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33

conseguir o empenho de todos no plano e, se for necessário, o conteúdo do

plano é adaptado de modo a conseguir esse empenho [...]

Compreende-se dessas considerações a importância do esforço de todos os

agentes envolvidos com o processo de planejamento para o sucesso do plano. Esse

esforço, também, deve ser avaliado porque ele é o criador da sinergia

impulsionadora do plano. Atualmente, planejar não se resume em definir diretrizes,

estratégias, e linhas de ação e colocá-las em prática a partir de decisões

hierarquizadas, é preciso o diálogo com os distintos segmentos e agentes co-

responsáveis na implementação do plano e no alcance dos seus objetivos. Por

essas razões, considerou-se nesta dissertação a importância da escala regional e

local, haja vista Santarém estar inserida na Amazônia, uma região específica do

Brasil, e ser um local com peculiaridades próprias.

Segundo Souza (2004), as escalas não são imutáveis e naturais, elas são produtos

de mudanças tecnológicas, modos de organização humana e da luta política. A

escala local constitui os recortes espaciais que, variando do tamanho, expressam a

possibilidade de uma vivência pessoal intensa do espaço e a formação de

identidades socioespaciais sobre a base dessa vivência. A escala local é por

excelência empregada no planejamento e gestão das cidades. De acordo com

Souza (2004), nessa escala se situam os níveis mais baixos da administração

estatal, a exemplo do municipal e as suas subdivisões político administrativas, bem

como, os organismos metropolitanos. Além disso, na escala local a participação

política direta se apresenta como mais viável, porque localmente os grupos sociais

vivenciam os problemas do planejamento.

A escala regional, para ser compreendida, é preciso compreender o conceito de

região, o qual, na visão de Souza (2004) não é definida exclusivamente em função

de particularidades objetivas, como o tipo de passagem, a economia predominante,

mas em espacial pela condição de ser um espaço vivido, sentido e percebido,

caracterizado pela densidade cultural, imagética, simbólica e histórica, situada entre

o nível local e a escala do país.

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34

Segundo Souza (2004), na escala regional é possível encontrar dois, três e até mais

níveis regionais. Há o deslocamento em sub-regiões, a exemplo das microrregiões

e, ao mesmo tempo, inserido em um conjunto regional maior, denominado de

macrorregião.

Quanto à eficácia do plano, avalia-se o grau de realização dos objetivos propostos,

pressupondo a mensuração quantitativa de desvios específicos como, por exemplo,

as ocorrências de usos fora das áreas previstas nos planos. No âmbito da eficiência

faz-se a avaliação das dificuldades na realização das quantificações, ou seja, avalia-

se qualitativamente a função da gestão do plano, a exemplo da avaliação dos custos

de urbanização por hectare ou da porcentagem de área do território infraestruturado

antes da construção ser iniciada.

Lourenço (2003) ressaltou que a avaliação do funcionamento do plano, na

perspectiva ex-Post, resulta em implicâncias para a noção ex-Ante. Neste sentido, é

preciso discutir a previsão de alterações, o grau de encorajamento da participação, a

existência de esquemas dilatórios ou de delegação de competências fundamentados

em análise de circunstâncias nas quais se esperam a realização do plano. Em suma,

é indispensável à adaptação da avaliação a natureza do plano inserida no plano-

processo, bem como, obedecer ao princípio da accountability, isto é, avaliar se o

plano dispõe de mecanismos para a prestação de contas.

Quanto às metodologias de avaliação, elas podem ser classificadas em: a) ex-Ante,

desenvolvida principalmente nos domínios da economia, do urbanismo e da

investigação operacional e visa estabelecer o melhor direcionamento das ações

futuras; b) ex-Post, mais usada nos campos de aplicação da sociologia, psicologia e

ciência política com o objetivo de apreciar a eficácia das políticas e programas

definidos; c) contínua, é a mais apropriada para o plano-processo, em razão da

complexidade e abrangência deste nos campos das ciências físicas e sociais, sua

preocupação com o passado, o presente e o futuro.

2.2 MODELOS PARA AVALIAÇÃO E ACOMPANHAMENTO DO PLANO-

PROCESSO.

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35

Neste trabalho, aborda-se os modelos básicos de avaliação do plano-processo, já

consagrados em estudos anteriores, na Europa e EUA, tidos assim como referência

para a análise pretendida neste trabalho.

2.2.1 O “quase-modelo” de Holton

É um modelo de análise utilizado para acompanhar e prever o desenvolvimento de

um plano-processo, associado a uma matriz de interdependência dos agentes

envolvidos no planejamento. Segundo Lourenço (2003), como no meio urbano há

vários fatores e informações a considerar no planejamento, a proposta de Holton é

utilizar a abordagem heurística e aplicar determinadas técnicas de inferência. Essa

opção é mais aproximada da realidade comparadamente ao uso de sistemas

convencionais baseados em algoritmos.

Para garantir maior qualidade nos planos-processo, o “quase-modelo” de Holton

propõe a participação da sociedade na investigação de base. Esta tem seu ápice no

primeiro período temporal, ente 0 e 2T (Gráfico 1), quando cresce um afluxo de

investigadores (descobridores). Após o 2T a participação nessa investigação de

base começa a declinar.

Gráfico 1: “Quase-modelo de Holton.

Fonte: LOURENÇO, 2003, p.221.

Nesse modelo pode-se observar que as idéias de base interessantes apresentam o

ponto máximo ainda no período 0 (zero), ou seja, 1ª descoberta, depois começa a

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36

declinar com o crescimento do tempo. Enquanto que, a curva de conhecimentos

aplicados tende a crescer com o tempo e a intensidade do ciclo de planejamento

(LOURENÇO, 2003).

De acordo com Lourenço (2003), o modelo de Holton pode ser usado para explicar

teoricamente a urbanização planejada de uma zona, denominando-se a curva de

idéias de base interessante como a curva do planejamento, a curva da participação

investigação de base associada às ações realizadas pelo planejamento e a curva de

conhecimento e idéias aplicadas à curva de vivência. Ainda, para Lourenço (2003), a

intensidade do planejamento é representada pelo número de planos produzidos

pelas verbas gastas com a realização consecutiva de planos, projetos e consultorias.

2.2.2 Modelo idealizado por Lourenço

Lourenço (2003) utiliza o “quase-modelo” de Holton com a diferença de delimitar a

variável tempo em décadas. O planejamento enquanto variável é incluído pelo

número de planos elaborados e pelas verbas gastas em consultoria (recursos

humanos) e técnicos para elaboração do planejamento.

No Gráfico 2 é possível identificar que a curva de cor sólida verde representa o

planejamento, constituída pelo número de planos elaborados e os recursos

despendidos em consultoria, ou seja, recursos humanos/técnicos, haja vista o

planejamento urbano requerer profissionais qualificados, como arquitetos,

urbanistas, geógrafos, topógrafos, economistas, principalmente, porque a

urbanização é um fenômeno complexo, que envolve a questão ambiental, os

problemas de ordem social, a racionalização no emprego dos recursos, entre outros

aspectos a serem planejados de modo interdisciplinar.

A curva das ações (curva da participação na investigação de base) é representada

de maneira tracejada na cor vinho. Ela abrange a mensuração dos recursos

financeiros despendidos para a materialização dos planos estabelecidos. Esses

recursos, também, mudam com o tempo em razão das necessidades urbanas e da

maneira como são distribuídos. Por exemplo, na década de 1970 não existia o

Fundo de Participação dos Municípios, hoje o planejamento urbano conta com esse

canal para a aquisição de recursos e aplicação na solução de seus problemas.

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37

A curva de vivência é representada pela linha pontilhada de cor azul no Gráfico 2.

Ela expressa a evolução da área urbanizável ou o crescimento demográfico (similar

à curva dos conhecimentos e idéias aplicadas descrita no modelo conceitual de

Holton). Neste sentido, o modelo procura mensurar o quanto cresceu a área

urbanizável, quais as mudanças sofridas, como ocupação do solo, acessibilidade,

verticalização, favelização, metropolização, redução ou ampliação da cobertura

florestal, segregação socioespacial, circulação de veículos e pedestres, entre outras

coisas.

Tais curvas são exponenciais, por definição de Lourenço (2003), que afirmou ser o

ciclo de expansão urbana de aproximadamente 70 anos. Em seu modelo divide a

variável tempo de 10 em 10 anos e o ciclo de intensidade do planejamento em três

níveis (I, II e III), como mostra o Gráfico 2.

Gráfico 2: Modelo idealiza do por Lourenço (2003)

Fonte: ALVARES, 2008, p.69.

A interpretação do planejamento em seus três níveis, no que se refere às curvas do

Gráfico 2 e o seu interelacionamento tem a seguinte conceituação:

Nível I: ocorre durante o período transcorrido de 20 anos, quando se tem a produção

do planejamento. Ao final dos primeiros 10 anos, essa produção começa a diminuir

significativamente.

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38

Nível II: é constituído de 20 anos, quando a curva de ações apresenta o início de

sua ascensão. A curva de vivência, também, aumenta no nível II, porém, mais

lentamente que a curva das ações.

Nível III: é o período no qual o modelo de comportamento ideal ocorre na área

urbana. A curva das ações alcança seu máximo depois de transcorridos 20 anos e,

começa a declinar. É no nível III que a curva de vivência atinge seu ápice e se

mantém estável entre 40 aos 70 anos do plano processo, sofrendo depois desse

período nova queda.

Esse modelo leva em conta fatores fundamentais do processo de planejamento e da

implementação de planos nas áreas de expansão urbana, sendo dividido em duas

categorias: a) fatores determinantes e b) fatores críticos

No que se refere aos fatores críticos, Lourenço (2003) ressaltou dois tipos: a

persistência no desígnio e a percepção das inovações.

A persistência no desígnio significa o empenho político, o qual se relaciona à

dimensão cultural (aceitação), representada pela capacidade de apoio da

comunidade e dos governantes. A participação é um vetor relevante na análise

deste fator. É importante e necessário para o sucesso dos planos-processo os

técnicos levarem em conta o sistema de valores, as regras e filosofias

predominantes em determinada área para implementar o planejamento. Isso, na

visão de Lourenço (2003), favorece a aceitação dos planos-processo pela

sociedade.

A percepção das inovações é o fator crítico do plano-processo, que se traduz na

capacidade de perceber onde se deseja e como se pode inovar para marcar a

diferença entre o êxito de um plano-processo ou da urbanização de uma zona.

Ultimamente, tem se travado debates controversos acerca do valor da inovação em

si e de sua contribuição para o desenvolvimento do planejamento territorial, como

evidencia Lourenço (2003, p.238):

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39

Alguns autores afirmam que as inovações num processo se distinguem da

introdução de melhorias no mesmo, dado que estas últimas procuram um

menor nível de mudanças e não introduzem cortes radicais nos processos

em curso (DAVENPORT, 1995:11). Estes dois aspectos são considerados

muito importantes mais não está, ainda, sedimentada a validade de cada

um na literatura mais recente de planejamento territorial. Por outro lado,

registra-se a equiparação entre os dois conceitos, o de inovação e o de

melhoria agradável de qualidade, sendo apresentado como fator justificativo

a dificuldade da distinção entre ambos na análise da evolução do

planejamento territorial nos EUA (TEITZ, 1996:653). Por outro lado, a

concepção da inovação como mola impulsionadora dos processos é

contestada por alguns autores que afirmam que o essencial do progresso,

traduzido em ganhos de desempenho, vem de micro-inovações, de um

progresso contínuo (VELTZ, 1994:62).

Os comentários anteriores deixam clara a falta de consenso na literatura sobre o

significado e o papel da inovação no planejamento territorial, e sua distinção do

conceito de melhorias de qualidade. Para Lourenço (2003) os defensores da

inovação se encontram demasiadamente centralizados no aspecto técnico do

planejamento, por isso, concebem a noção schumpeteriana de inovação, ou seja, de

quebra, ruptura radical dos equilíbrios pré-existentes.

Como partido teórico-analítico dessa dissertação pretende-se utilizar a versão do

modelo de Lourenço na análise do plano-processo do estudo de caso, por entender

que o mesmo é adequado a problemática existente e ter à disposição o conjunto de

acontecimento e informações sobre a região que permitem a compreensão do

processo em si e com aderência ao que é exigido como input pelo modelo de

Lourenço.

Para destacar a aplicação do modelo de Lourenço, o mesmo já foi utilizado em

análises de plano-processo da cadeia do turismo em Portugal e no Brasil

(ALVARES, 2008) e, ainda, em estudos de cidades portuguesas, na análise da

expansão urbana (LOURENÇO, 2003), tendo sido verificada a sua aplicabilidade e

consistência nos resultados obtidos.

Page 40: Análise do Plano-Processo na Urbanização de Cidades no Baixo ...

40

3 PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO URBANO NA AMAZÔNIA.

O planejamento da Amazônia tem sua trajetória ancorada aos diferentes momentos

de ocupação dessa região, verificando-se na literatura em geral sobre a região que,

antes da década de 1960 do século passado, os modos de produção praticados não

eram orientados por uma economia de mercado. A partir do conhecimento sobre

este passado anterior aos anos da década de 1960, constatou-se que os primeiros

ensaios impulsionados pelos colonizadores se fizeram com a coleta das drogas do

sertão e, depois, o extrativismo foi se diversificando.

Para compreender o percurso do planejamento e desenvolvimento urbano na

Amazônia é importante caracterizar a periodização da rede urbana na região. Esta é

dividida por Corrêa (1987) em sete períodos, conforme o Quadro 1.

Quadro 1: Períodos de Desenvolvimento da Rede Urbana Amazônica

Período Marco Característico

1o Período A fundação da capital do Estado do Pará, Belém, em 1616, devido

à expansão colonial portuguesa.

2o Período – 1655

até 1750. Criação das aldeias missionárias e o extrativismo das drogas do sertão, realizado pelos Jesuítas, mediante a exploração do trabalho indígena e apoiado no sistema de aviamento.

3o Período – 1755

até 1778. Criação, por intermédio da ação mercantil monopolista, da Companhia do Grão-Pará e Maranhão, pelo Marquês de Pombal. Abrangeu a introdução da agricultura comercial, utilizando o trabalho escravo e do colono e a transformação das aldeias e vilas, como Aveiro, Faro, Óbidos e Santarém, no Estado do Pará.

4o Período- 1778 até

1850. Extinção da companhia pombalina e a estagnação econômica da região e da vida urbana.

5o Período - 1850

até 1920. Marcado pelo crescimento derivado da exploração da borracha e da valorização da economia regional, com a crescente demanda externa pela borracha natural. Houve a introdução da navegação a vapor, a migração nordestina para suprir a falta de mão-de-obra e a oferta de capitais externos para o financiamento da produção.

6 o

Período - 1920 a 1960.

Caracterizado pela crise da borracha e a conseqüente estagnação econômica da região.

7o Período- a partir

de 1960. Mudança na redefinição do papel da região na divisão territorial do trabalho e sua incorporação ao processo geral de expansão capitalista do País.

Fonte: CORRÊA, 1987.

Para Machado (1999) apud Pereira (2006) só é possível falar em desenvolvimento

urbano na Amazônia a partir da economia da borracha, quando as cidades de Belém

e Manaus se destacaram no cenário regional com a urbanização de ruas, construção

de monumentos, formação de novos bairros, implantação de serviços idênticos aos

estruturados nos demais centros urbanos do Brasil. Todavia, é na década de 1960

Page 41: Análise do Plano-Processo na Urbanização de Cidades no Baixo ...

41

que se começa a desenhar uma presença mais clara do Estado brasileiro no

planejamento territorial, abrangendo o urbano.

Neste sentido, a realidade da urbanização ora observada no espaço amazônico

apresenta sua origem no século XIX, apoiada na economia gomífera, pois

anteriormente ocorria somente a ocupação do espaço, que teve início no século XVI

com atividades ligadas à coleta das drogas do sertão. Ainda, no século XVII, o

processo de ocupação se fazia através das missões jesuíticas, construções de

pequenas vilas e povoados, além das fortificações da coroa ibérica que foram

implantadas em áreas estratégicas na extensa planície de inundação dos

caudalosos rios amazônicos e em seus afluentes. O processo de urbanização que

se iniciou no século XIX, estaria apoiado na realidade proporcionada pela economia

e comércio da borracha, se desenvolvendo uma rede urbana com forma dendrítica.

A dinâmica desencadeada pela economia da borracha proporcionou o surgimento de

novas aglomerações urbanas e do que poderia se chamar de forma urbana. O

comércio da economia gomífera produziu uma hierarquia nas aglomerações

urbanas, fato que iria proporcionar o surgimento de cidades de grande importância

na realidade regional, pois o crescimento econômico conduziu ao desenvolvimento

de uma estrutura urbana primaz, evidenciando as diferenças entre as cidades

maiores e menores. Na visão de Kampel et al (2001), a evolução da economia da

borracha conduziu ao aparecimento da estrutura Urbana Primaz, onde se

destacavam as diferenças entre as cidades maiores e o conjunto das menores.

Nesta configuração primaz destacou-se, também, o papel desempenhado por Belém

e Manaus; a primeira mereceu destaque em função do conjunto populacional e do

poder de centralização do capital disponíveis para investimentos na infra-estrutura

urbana, enquanto a segunda caracterizou-se como a principal responsável pela

interiorização das atividades de coleta do látex e, também, por ser a segunda mais

importante na dinâmica econômica regional.

Page 42: Análise do Plano-Processo na Urbanização de Cidades no Baixo ...

42

Com o declínio da economia da borracha na primeira metade do século XX, ocorreu

uma desestruturação no modelo dendrítico3 de rede urbana, pois muitas cidades

sofreram estagnação econômica, fato que provocou um grande êxodo populacional,

contribuindo, desta forma, para o surgimento de uma rede urbana complexa4 com o

surgimento de novos núcleos urbanos que passaram a desenvolver novas

atividades, como a criação de gado, a exploração mineral e a cultura do arroz, fora

das áreas de coleta do látex (ver a Figura 1).

Figura 1: Configurações da Rede Urbana Amazônica – dendrítica

Fonte : Autor

A desestruturação do modelo de rede urbana dendrítica desencadeado com a crise

da economia gomífera, juntamente com as políticas desenvolvidas pelo Estado

brasileiro no sentido ocupar o espaço amazônico e, com a abertura de grandes

rodovias, a exemplo da Belém-Brasília – BR-153/010, Transamazônica – BR-230,

Cuiaba-Santarém – BR-163 e Perimetral Norte – BR-210 (ver Figura 2) houve o

surgimento de um novo modelo de rede urbana, mais complexo, no qual se percebe

o surgimento de núcleos urbanos próximos dessas grandes rodovias.

3 Johnson apud Corrêa (1989) disse que entre outros atributos, a rede dendrítica caracteriza-se primeiramente

por sua origem colonial, ou seja, é no âmbito da valorização dos territórios conquistados pelo capital europeu que nasce e se estrutura uma rede dendrítica. Seu ponto de partida e a criação de uma cidade estratégica e excentricamente localizada em face de uma futura hinterlândia. Esta cidade, localizada junto ou próxima ao mar, é o ponto inicial de penetração e conquista do território à sua retaguarda, é sua porta de entrada e saída. 4 Corrêa (1989), disse que as redes urbanas com formas espaciais complexas apresentam um complexo padrão

locacional de centros. Este inclui localizações à confluências de rios, como é o caso da rede dendrítica, no contato de áreas distintas no que se refere as condições ecológicas e a produção – como se exemplifica com as cidades da “boca da mata” ou que formam um alinhamento de centros no sopé de montanha, em função de estuário ou junto a recursos naturais de ocorrência concentrada.

1a) Até 1960 – Rede Dendrítica e Fluvial Rios 1b) Após 1960 – Rede Complexa e Intermodal Rios

Rodovias

Rodovias

Page 43: Análise do Plano-Processo na Urbanização de Cidades no Baixo ...

43

Figura 2: Principais Rodovias de Integração Nacional

Fonte: Adaptado pelo autor a partir de informações de LINK, 2009.

Na segunda metade do século XX, o processo de ocupação e urbanização do

espaço amazônico vive uma nova realidade (ver Figura 3), agora atrelada

diretamente às políticas públicas de planejamento vinculadas às ações do Estado

Desenvolvimentista, principalmente, no período militar (1964-1985), fato que coloca

o Brasil em destaque no cenário mundial, pois, tem o seu papel alterado na divisão

internacional do trabalho, algo que é reforçado por Bresser-Pereira (2004, p. 15).

O Brasil pertence ao grupo de países que adotaram nos últimos 50 anos uma economia capitalista moderna e internacionalizada. Países que procuram implantar uma ordem capitalista moderna têm de criar novas instituições. A operação de sistema capitalista moderno exige comportamentos individuais e institucionais compatíveis com a lógica de produção econômica (BRESSER-PEREIRA, 2004, p. 15).

O Estado desenvolveu um importante papel no povoamento e na valorização das

terras amazônicas, principalmente, através dos planos de desenvolvimento

vinculados à Doutrina de Segurança Nacional. Segundo Barcelar (2000) apud

Cardoso (2006, p. 60), a decisão do governo brasileiro de manter o crescimento da

economia do país, a partir da década de 1960, com um ambicioso programa de

investimentos públicos, financiados com o endividamento externo, caracterizou o

Estado brasileiro como desenvolvimentista.

Na perspectiva de alargar o desenvolvimento e a valorização das terras amazônicas

foi criado pelo governo brasileiro no início da década de 1950, a Superintendência

Page 44: Análise do Plano-Processo na Urbanização de Cidades no Baixo ...

44

do Plano de Valorização Econômica da Amazônia – SPVEA5, no qual o objetivo

principal estava assentado na elaboração de planos para a valorização econômica

da região (ver figura 3), fato que desencadeou profundas transformações no espaço

geográfico amazônico, a partir da apropriação, pelos grandes empresários, de

riquezas regionais.

3.1 A atuação do Estado brasileiro a partir da SPVEA

Na década de 1960, o espaço amazônico passa a vivenciar, a partir de iniciativas

estatais, um intenso processo de urbanização que na visão de Becker (1999, p. 30)

caracterizou-se como uma nova tecnologia espacial do poder estatal que se

desenvolveu, impondo ao espaço nacional uma poderosa malha de duplo controle –

técnico e político – correspondente ao conjunto de programas e projetos

governamentais (...) capazes de interligar os circuitos nacionais e internacionais de

fluxos financeiros e de mercadorias na Amazônia com a criação de novos territórios

diretamente geridos por instituições federais.

Tal aspecto é reforçado por Nunes (1997), quando diz que a criação de novas

instituições se tornaram inevitáveis e, muitas delas, tradicionalmente permeadas

pelo caráter do personalismo, passaram a ser construídas com a lógica da

impessoalidade advindas das modernas relações de mercado. Em contrapartida,

Pereira (2006) destacou a importância do papel do Estado na Amazônia afirmando

que:

A urbanização na Amazônia, em grande parte, guarda profunda relação

com a intervenção estatal, principalmente a partir da década de 1960. O

controle da terra, a política de migração induzida e financiada pelo Estado e

o incentivo a grandes empreendimentos asseguraram o desenvolvimento da

fronteira urbana (PEREIRA 2006, p. 24).

As explicações expressas na citação permitem compreender a peculiaridade da

urbanização desenvolvida na Amazônia, a qual foi estimulada pelo Estado para fins

de ocupação, criação de um mercado consumidor e orientada pela ideologia da

5 A SPVEA foi criada pela Lei 1.806 de 06/01/1953 para fomentar a política de desenvolvimento para a região.

No Artigo 22º, foi criada a Superintendência para a Valorização Econômica da Amazônia, a SPVEA, com sede em Belém, mas subordinada diretamente à Presidência da República. Suas metas seriam executadas por Planos Qüinqüenais, enquadrados em um Plano Geral, detalhado no Artigo 7º.

Page 45: Análise do Plano-Processo na Urbanização de Cidades no Baixo ...

45

Segurança Nacional. Todavia, não foi contemplada com uma política urbana de

desenvolvimento, capaz de propiciar o bem-estar social adequado à população

instalada nessas áreas. Por isso, até hoje, as cidades da região sofrem de graves

problemas estruturais e sofrem as consequências da concentração fundiária

vinculada ao controle da terra, dos efeitos provocados pelos grandes projetos, bem

como das recentes mudanças ocasionadas pela mecanização das atividades

agrícolas.

Santarém faz parte desse cenário, muitas famílias não só de outras partes da

Amazônia, como do Nordeste passam a buscar na cidade a esperança de uma vida

melhor, porém, a capacidade de atender aos anseios de emprego, geração de

renda, locais de moradia adequados, saúde, educação, transporte encontra-se

aquém do esperado.

Quadro 2: As ações do Estado Brasileiro nas décadas de 60 e 70 do século XX na Amazônia

Década de 60 Década de 70

Operação Amazônia Criação do I Plano de Integração Nacional –

PIN6 - 1970

Abertura de Grandes Rodovias: Belém-

Brasília – BR 153/010 e Cuiaba-Santarém –

BR 163

Criação do Instituto Nacional de Colonização

e Reforma Agrária - INCRA

Transformação da SPVEA em SUDAM –

1966.

Abertura das Grandes Rodovias:

Transamazônica – BR 230 e Perimetral Norte

– BR 210.

Criação do Banco da Amazônia – BASA -

1966.

Criação do II Plano Nacional de

Desenvolvimento - 1974

Criação da Superintendência da Zona Franca

de Manaus7

Criação do POLAMAZÔNIA e POLOCENTRO

Fonte: Elaborado pelo autor a partir de informações de BENCHIMOLl, 1991; BOMFIM,

2010;KAMPEL, 2002 e OLIVEIRA, 2008a.

6 O governo militar brasileiro, tendo à frente o Presidente Médici institui por meio do Decreto-Lei Nº1106, de 16

de julho de 1970, o Plano de Integração Nacional - PIN. Utilizando mão-de-obra nordestina liberada pelas grandes secas de 1969 e 1970 e a noção de vazios demográficos amazônicos, são cunhados os lemas "integrar para não entregar" e "uma terra sem homens para homens sem terra". 7 Criada pela Lei 3.173 de 6/6/1957, a Zona Franca de Manaus (ZFM) foi instituída para o armazenamento,

beneficiamento e comércio de mercadorias estrangeiras na Amazônia com os países limítrofes. Teve sua função alterada 1967 pelo Artigo 1º, Decreto-Lei 288 de 28/2/1967 que versou que a Zona Franca de Manaus é uma área de livre comércio de importação e exportação e de incentivos fiscais especiais, estabelecida com a finalidade de criar no interior da Amazônia um centro industrial, comercial e agropecuário dotado de condições econômicas que permitissem seu desenvolvimento, em face dos fatores locais e da grande distância a que se encontram os centros consumidores de seus produtos.

Page 46: Análise do Plano-Processo na Urbanização de Cidades no Baixo ...

46

Neste contexto, as políticas estatais tiveram um importante papel em moldar o

cenário cujos resultados se fazem perceber na atualidade. Elas levaram à

intensificação do processo de urbanização e impulsionaram a ocupação da

Amazônia via espaço urbano mediante programas, planos e projetos definidos pelo

governo central (Quadro 2).

A nota de roda pé anteriormente explicitada deixa clara a intenção dos militares com

o PIN em tentar resolver três problemas ao mesmo tempo: viabilizar mão-de-obra

braçal para os grandes projetos, ampliar a ocupação da Amazônia e reduzir as

tensões sociais da região Nordeste, acentuadas pela seca e a miséria.

A atuação do estado desenvolvimentista com investimentos, na abertura de rodovias

implantação de núcleos de povoamento a exemplo das Rurópolis, Agrópolis e

Agrovilas foi determinante, pois, estimulou a mobilidade de migrantes em direção às

novas fronteiras de povoamento no espaço amazônico, ao longo das grandes

rodovias. Todavia, não se criou qualquer tipo de política social que garantisse

qualidade de vida a todos da população migrante, nem a inclusão da mesma em

atividades econômicas estáveis. Muitos, ao término dos projetos ficaram

desempregados, sem perspectiva.

Neste período, o fluxo migratório em direção ao espaço Amazônico provocou um

significativo incremento populacional que segundo Benchimol (1991) cresceu 38,5%

entre 1960/1970 e 62,7% entre 1970/1980, obtendo um ganho líquido absoluto de

3.256.154 habitantes. Assim, a população da Região Norte saltou de 332.847 em

1872 para 5.866.673 habitantes em 1980.

Esse crescimento acentuado, como já elucidado anteriormente, não foi

acompanhado de uma política urbana, social e econômica capaz de gerar bem-estar

social nas cidades a partir de moradia adequada, saneamento, oferta de serviços

básicos como saúde e educação no grau necessário, nem eficaz no sentido de

minimizar os efeitos “nocivos” do sistema capitalista, como desemprego,

criminalidade e desigualdade social.

Page 47: Análise do Plano-Processo na Urbanização de Cidades no Baixo ...

47

Por outro lado, a Zona Franca de Manaus, inspirada na Teoria dos Pólos de

François Perroux, embora tenha gerado emprego, renda e montagem de

eletrodomésticos e outros produtos, não proporcionou um grande impacto no

processo de desenvolvimento regional. A própria cidade de Manaus sofreu um

“inchaço” populacional advindo de outras partes da Amazônia e do Brasil, sem poder

garantir qualidade de vida em termos de moradias dignas, saneamento básico,

saúde e educação para todos.

3.2 AS POLÍTICAS PÚBLICAS E O PLANEJAMENTO TERRITORIAL NA

AMAZÔNIA DA DÉCADA DE 1940 A DÉCADA DE 1980

Segundo BUCCI apud SILVA (2008, p.2)8, as políticas públicas são programas de

ação governamental visando coordenar os meios à disposição do Estado e às

atividades privadas, para realização de objetivos socialmente relevantes e

politicamente determinados.

Para se ter a real percepção da atuação do Estado na região Amazônica,

considerando as ações que visaram o desenvolvimento e a integração da região ao

restante do espaço nacional e internacional, se faz necessário ressaltar como o

Estado tem atuado na região amazônica.

Fazendo uma regressão até a década de 1940, encontra-se em ação política o

Estado tentando acabar com a dependência amazônica em relação à borracha,

quando o Governo Dutra criou em 1946, como parte do Plano SALTE9 e em prol da

Superintendência do Plano de Valorização Econômica da Amazônia (SPVEA),

instituiu uma nova determinação constitucional em que 3% da receita tributária

federal, por um período de vinte anos, deveria ser usada pela SPVEA em projetos

de desenvolvimento da Amazônia, fundo orçamentário previsto e que nunca foi

cumprido (OLIVEIRA, 2008).

A partir de 1954, através da SPVEA, o Governo brasileiro orçou investimentos para o

espaço Amazônico que seriam destinados para diversos setores de atividades 8 Disponível em: ˂http:www3.esmpu.gov.br. /Solange_Teles_Politicas_publicas_e_sustentabilidade.pdf˃.

9 Criado em 1946, cuja sigla identificava os objetivos do plano: investir em saúde, alimentação, transporte e

energia.

Page 48: Análise do Plano-Processo na Urbanização de Cidades no Baixo ...

48

priorizando, principalmente, investimentos nos setores vinculados ao

desenvolvimento de infraestrutura para o ano de 1954 e para o período de 1955 a

1959, conforme mostram as Tabelas 1 e 2.

A prioridade dos investimentos na infraestrutura (Tabela 1) revela a preocupação do

governo federal em dotar a Amazônia de vias de acesso por onde seria escoada a

produção do Sudeste, ou seja, estava vinculado ao projeto nacional de integração da

região aos interesses do capital nacional e internacional, fazendo dela uma

consumidora de mercadorias produzidas fora de seu espaço geográfico, bem como

criar as bases para explorar os recursos naturais utilizados como matéria-prima.

Tabela 1: Distribuição dos recursos do Programa de Emergência da SPVEA por setores de

atividades (em milhões de cruzeiros) – ano de 1954.

Setor Valor %

Burocracia 40.000 12

Agropecuária, agricultura e colonização 65.820 20

Transportes, comunicações, energia 87.760 26

Educação e cultura 20.000 6

Pesquisa e extração de recursos naturais 33.460 10

Saúde 84.960 26

Total 330.000 100

Fonte: Adaptado de FGV, 1955 e SPVEA, 1961.

Tabela 2: SPVEA – Recursos orçados para o período de 1955 e 1959 (em milhões de

cruzeiros)

Setor Valor %

Administração 266.300 3

Desenvolvimento agrícola 1.823,428 22

Recursos Naturais 585.915 7

Transportes, comunicações e energia 1.772,722 22

Comércio e crédito 1.449,781 17

Saúde 1.518,710 19

Desenvolvimento Cultural 809.590 10

Total 8.226,446 100

Fonte: Adaptado de FGV, 1955 e SPVEA, 1961.

A SPVEA fez investimentos para o desenvolvimento agrícola no mesmo percentual

direcionado ao setor de infraestrutura (Tabela 2) no período entre 1955 e 1959.

Page 49: Análise do Plano-Processo na Urbanização de Cidades no Baixo ...

49

Todavia, esses investimentos não surtiram grandes efeitos no âmbito social porque

não contemplavam a agricultura familiar. Além disso, muitos dos projetos

apresentavam desvio de verba para outros fins, haja vista não haver um controle

eficiente do dinheiro público aplicado

O governo de Juscelino Kubitscheck continuou com uma política voltada para a

integração da região amazônica ao resto do país. No âmbito do Plano de Metas,

surgem as rodovias Belém-Brasília e Cuiabá-Porto Velho, que se configurariam nas

décadas seguintes importantes eixos de ocupação da Região Norte (ARBEX, 2005,

p. 34). A criação dessas rodovias está relacionada a integração da Amazônia ao

processo de acumulação de capital da região Centro-Sul brasileiro (OLIVEIRA,

2008).

Dentre as políticas públicas geradas pelos Planos Nacionais de Desenvolvimento

(PNDs), ligados diretamente aos governos militares, destinados a serem

instrumentos promotores do desenvolvimento sob a proposta de melhoria do padrão

econômico do país, destacou-se os planos de desenvolvimento aplicados, tendo

relevância para o espaço amazônico o I PND e o II PND no período de 1971 a 1974

e, entre 1975 e 1979, respectivamente, que retrataram o papel do governo Brasileiro

direcionado à promoção do desenvolvimento econômico, à estabilização da

economia e à redução das desigualdades regionais. No espaço regional, encontram-

se os Planos de Desenvolvimento da Amazônia, I e II PDA, cujo objetivo principal foi

o planejamento do desenvolvimento regional que a posteriori deu origem a ações do

poder central e, apoiado no paradigma da integração nacional, criou estratégia para

o desenvolvimento da Amazônia.

Ainda, com base nos planos vinculados ao I e II Planos de Desenvolvimento da

Amazônia, foi determinante o papel desempenhado pela SUDAM –

Superintendência para o Desenvolvimento da Amazônia10 pois, a mesma, enquanto

10 A SUDAM foi criada em 1966, pela Lei 5.173 de 27.10.1966, substituindo a SPVEA. A SUDAM tinha como objetivos coordenar e supervisionar os programas e planos destinados a Amazônia Legal, assim como decidir a respeito da distribuição de incentivos fiscais e creditícios.

Page 50: Análise do Plano-Processo na Urbanização de Cidades no Baixo ...

50

representante do Estado na região, teve a função de planejar e coordenar as

diretrizes federais na Amazônia, enfatizando no plano de desenvolvimento regional a

proposta de implantar projetos agropecuários e minerais.

No I Plano de Desenvolvimento da Amazônia tem-se a elaboração de subsídios para

a atuação do Estado, cabendo a SUDAM o papel de articuladora entre o privado e

estatal para implementação de ações na ocupação e desenvolvimento da região,

fato destacado por Bonfim (2010, p. 19), quando diz que, deve-se notar que o

modelo brasileiro de planejamento proposto pelo I PDA consistia em que a SUDAM

se relacionasse com a iniciativa privada e com os organismos governamentais de

âmbitos federal, estadual e municipal da área de abrangência da Superintendência

(....).

O II Plano de Desenvolvimento da Amazônia trouxe, ainda, o POLAMAZONIA:

programa que tinha como objetivo o desenvolvimento de infraestrutura e pesquisas

nos setores agropecuários e minero metalúrgicos no sentido de implantar 15 pólos

de desenvolvimento na Amazônia. Segundo Cativo (1995) apud Pereira (2004), o

Programa de Pólos de Desenvolvimento da Amazônia (POLAMAZÔNIA) foi instituído

pelo Governo Federal (...), abrangendo todos os estados da Amazônia Legal, nos

quais se consolidaram mais de 100 projetos. Ao Estado do Pará coube o maior

volume do montante dos recursos, 47,2%; seguido pelo Estado do Amazonas,

18,2% e Acre, 9,7%. (Ver a Figura 3).

A atuação do Estado brasileiro no espaço Amazônico neste período, através dos

Programas e Planos de Desenvolvimento, já citados, que proporcionaram a

implantação de diversas obras de infraestrutura, a exemplo das grandes rodovias

que integraram o espaço Amazônico à dinâmica nacional, foram determinantes,

também, para alterar a realidade demográfica da região, pois, tornaram-se

elementos facilitadores para os deslocamentos populacionais das outras regiões do

Brasil, em especial do Nordeste, em direção à Amazônia. Porém, como ressaltado

anteriormente, não criaram condições adequadas para alavancar o desenvolvimento

econômico em suas três dimensões: crescimento, estabilidade e equidade social, a

prioridade foi dada ao crescimento econômico, deixando a desejar quanto às demais

dimensões.

Page 51: Análise do Plano-Processo na Urbanização de Cidades no Baixo ...

51

Entre 1940 e 1980, a população da região Norte cresceu 302%, enquanto a

população do Brasil cresceu 188% no mesmo período. Em números totais absolutos,

a população do espaço Amazônico passou de 1.462.420 milhões para 5.880.706

milhões, fato que alterou, também, a participação relativa da Amazônia no contexto

nacional, passando de 3,5% na década de 1940 para 4,9% na década de 1980 (ver

o Gráfico 3).

Gráfico 3: Crescimento da população do Brasil da Região Norte

Fonte: Adaptado de IBGE/IPEADATA. Base de dados Regional, População. Disponível em:

˂www.ipeadata.gov.br˃. Acesso em: 10/12/2010.

Figura 3: Frentes pioneiras antigas e recentes

Fonte: MELLO, 2002.

1940 1950 1960 1970 1980

Pop Brasil 41.236.315 51.944.397 70.070.457 93.134.846 119.011.052

Pop R. Norte 1.462.420 1.844.655 2.561.782 3.603.679 5.880.706

0

20.000.000

40.000.000

60.000.000

80.000.000

100.000.000

120.000.000

140.000.000

Crescimento da população do Brasil e Região Norte (1940 - 1980)

Page 52: Análise do Plano-Processo na Urbanização de Cidades no Baixo ...

52

Outra tendência observada no período entre as décadas de 1940 e 1980 na região

foi a relativa ao processo de urbanização, fato também, que ocorreu no espaço

nacional. Na região norte a população urbana que na década de 1940 representava

apenas 28%, superou a população rural, passando em 1980 a representar 52% da

população Total. Ver o Gráfico 4.

Gráfico 4: População Rural e Urbana da Região Norte.

Fonte: adaptado de IBGE/IPEADATA. Base de dados Regional, População. Disponível em:

˂www.ipeadata.gov.br˃. Acesso em 10/12/2010..

3.3 AS POLÍTICAS PÚBLICAS E PLANEJAMENTO TERRITORIAL NA AMAZÔNIA

APÓS A DÉCADA DE 1980.

Em meados da década de 1990, já findado o período de dominação militar no Brasil,

e apoiado na Constituição de 1988, o planejamento urbano na Amazônia passou a

ter em sua dinâmica novos investimentos, agora atrelados aos novos programas e

planos de desenvolvimento que em graus diferenciados atuaram e atuam sobre a

realidade territorial amazônica. Neste novo momento de planejamento, a questão

ambiental ganha papel de destaque com as políticas de proteção ambiental que

fazem parte da realidade presente na Constituição Federal. No novo modelo de

planejamento para a Amazônia temos os seguintes programas. Ver o Quadro 3.

1940 1980

Pop Rural 1.056.628 2.844.442

Pop Urbana 405.792 3.036.264

0

500.000

1.000.000

1.500.000

2.000.000

2.500.000

3.000.000

3.500.000

População Rural e Urbana da Região Norte (1940 - 1980)

Page 53: Análise do Plano-Processo na Urbanização de Cidades no Baixo ...

53

Quadro 3: Planejamento Territorial para Amazônia no século XX, pós década de 1980.

Fonte: Elaborado pelo autor a partir de informações de MELLO, 2002; NIGRIELO, 2009; TOLEDO, 2009 e Programa Avança Brasil, 2000-2003.

Essa nova estratégia pensada para Amazônia surgiu no governo do Presidente

Fernando Henrique Cardoso, no qual ocorreram os lançamentos dos Programas

Brasil em Ação e Avança Brasil, que traziam em destaque a criação de eixos de

desenvolvimento (ver Figuras 4 e 5) atrelados à necessidade de integração da

Amazônia nacional e internacional. Tais programas teriam como função principal, a

partir da redução dos custos de transportes, dinamizar o acesso e ampliar a

capacidade de competição dos sistemas econômicos regionais.

Apesar de novas idéias sobre a realidade das políticas de desenvolvimento, as

mesmas trazem o mesmo discurso do período anterior de integrar a Amazônia ao

circuito produtivo brasileiro e na consolidação da integração regional sul-americana.

Neste sentido, Locatelli (2009, p. 52) afirmou que se propagou a crença de que o

aumento da quantidade de recursos em infra-estrutura eliminaria os entraves do

crescimento econômico. Ainda, segundo Locatelli (2009, p.53), após uma década o

Estado brasileiro voltou a apresentar uma proposta de desenvolvimento para

Amazônia, no qual se restaura e produz rearranjos do modelo exógeno por meio da

implantação de corredores ou eixos de desenvolvimento. (ver Figura 4). 11

Segundo Toledo (2009, p.1) “o Programa consiste em um conjunto de medidas destinadas a estimular o investimento privado, aumentar os investimentos públicos em infra-estrutura e remover obstáculos (burocráticos, administrativos, normativos, jurídicos e legislativos) ao crescimento econômico do país. O principal objetivo do Programa é estimular o crescimento da economia brasileira, através do investimento em obras de infra-estrutura (portos, rodovias, aeroportos, redes de esgoto, geração de energia, hidrovias, ferrovias, etc.).”

ANOS PROGRAMA PRINCIPAIS PROJETOS

1995 - 1999

Programa Brasil em Ação – Plano Plurianual – PPA.

-Recuperação das BR -164 (Brasilia-Acre), BR -163 (Cuiaba-Santarém) e asfaltamento da BR -174 (Manaus - Boa Vista). - Implantação das hidrovias Araguaia-Tocantins e Madeira. - Gasoduto do Urucu e a linha de alta tensão conectando Tucuruí a Altamira e Itaituba.

2000 - 2003

Programa Avança Brasil – Plano Plurianual – PPA.

2004 - 2007 Programa Brasil de Todos – Plano Plurianual - PPA

- Hidrovia do Rio Madeira. - Hidroelétrica de Belo Monte. - Gasoduto Urucu – Porto Velho. - Asfaltamento da BR -163.

2008-atual Programa de Aceleração do Crescimento - PAC

11

- Ampliação do Porto de Santarém – PA - Ampliação do Porto de Vila do Conde – PA - Recuperação das BR – 156, 364, 163 e BR 319. - Implantação de Terminal Hidroviário na Amazônia – PA/AM. - Conclusão das Eclusas da Hidroelétrica de Tucurui.

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54

Figura 4: – Eixos Nacionais de Integração e Desenvolvimento (ENID)

Fonte: MELLO, 2002.

Figura 5: Programas Brasil em Ação e Avança Brasil: obras prioritárias com financiamento

garantido.

Fonte: Adaptado pelo autor, a partir de informações de NIGRIELO, 2009.

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55

Na perspectiva consolidação dos projetos previstos nos programas desenvolvidos

para a Amazônia, (BRASILIANA 2000, p. 10 apud MELLO, 2002, p. 251), destacou-

se para o PPA de 2000 a 2003 o portfólio de investimentos suplementares que

atingiu a casa de 180 bilhões US$.

Para o PPA de 2004 a 2007 (BRASILIANA 2000, p.100 apud MELLO, 2002, p. 251),

destacaram-se investimentos suplementares, em torno de 560 bilhões US$, trazendo

para o foco da discussão a continuidade dos projetos anteriores, no entanto

abrangendo a questão vinculada ao Plano Amazônia Sustentável 12. Ver a Figura 6.

No contexto de criação do Plano Amazônia Sustentável que está vinculado

diretamente aos objetivos do PPA 2004 a 2007, temos o Plano de Desenvolvimento

Regional Sustentável para a área de influencia da BR-163, que traz em seu bojo,

segundo (BRASIL, 2005, p. 3) a importância da dinâmica regional, pois, a rodovia

Cuiabá-Santarém (BR-163) atravessa uma das regiões mais importantes da

Amazônia do ponto de vista do potencial econômico, diversidade biológica, riquezas

naturais e diversidade étnica e cultural. Nessa região, há uma paisagem diversa

formada pelos biomas da Floresta Amazônica e do Cerrado e por áreas de transição.

Além disso, a região possui três imensas bacias hidrográficas (Teles Pires/Tapajós,

Xingu e Amazonas) e dezenas de tributários. Dessa riqueza natural dependem

aproximadamente dois milhões de habitantes, envolvendo diversos grupos sociais e

econômicos. Além disso, a Região Centro-Norte do Mato Grosso abriga um dos

pólos agrícolas mais produtivos do País, com destaque para a produção de soja.

12

O Plano Amazônia Sustentável (PAS), lançado em 8 de maio de 2008, é um plano do Governo Federal brasileiro em parceria com os governadores dos estados da região amazônica (Acre, Amapá, Amazonas, Maranhão, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins). O plano tem como objetivo definir as diretrizes para o desenvolvimento sustentável na Amazônia brasileira. O PAS não é um plano operacional, mas sim, estratégico contendo as diretrizes gerais e as recomendações para sua implementação. As ações operacionais serão planos sub-regionais, alguns já elaborados ou em processo de elaboração, como o Plano de Desenvolvimento Regional Sustentável para a Área de Influência da Rodovia BR-163 (Cuiabá-Santarém), o Plano de Desenvolvimento Territorial Sustentável para o Arquipélago do Marajó e o Plano de Desenvolvimento Regional Sustentável do Xingu. Disponivel em: <www. pt.wikipedia.org/wiki/Plano_Amazônia_Sustentável>. Acesso em: 01/01/2011.

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56

Ainda segundo (BRASIL, 2005, p. 4) com um conjunto de políticas públicas

estruturantes, o Plano BR-163 Sustentável está baseado na premissa de que é

possível conciliar o crescimento econômico e integração nacional com a justiça

social e a conservação e uso sustentável dos recursos naturais. Para isso, é

necessário que o asfaltamento da rodovia esteja inserido em um plano mais amplo,

contemplando ações de ordenamento do território, infra-estrutura, fomento a

atividades econômicas sustentáveis, melhoria dos serviços públicos e outras ações

voltadas à inclusão social e fortalecimento da cidadania.

Neste entendimento se tem a percepção da importância que a rodovia BR-163,

apresenta para a realidade regional amazônica, principalmente, hoje, com a

expansão da cultura da soja em direção a Amazônia que interfere na dinâmica

econômica e socioambiental de áreas de adjacentes a grande rodovia, então, se faz

necessário um plano que realmente contemple uma visão holística, na qual, temos

impactos que se relacionam diretamente a intensificação de fluxos migratórios para a

região que desencadeiam ocupações irregulares, grilagem em terras públicas,

concentração fundiária, queimadas, desmatamentos, além do desenvolvimento de

atividades não-sustentáveis vinculadas a biodiversidade regional.

Figura 6: Principais investimentos do Programa Brasil de Todos PPA 2004 -2007

Fonte: Adaptado pelo autor, a partir de informações de NIGRIELO, 2009.

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57

Na sequência cronológica, o Programa Brasil de Todos (PPA 2004-2007), que surgiu

no governo do presidente Luis Inácio Lula da Silva e, se desenvolveu dando

continuidade aos programas desenvolvidos nos governos anteriores prosseguiu com

as políticas de eixos de integração e desenvolvimento do espaço amazônico, como

forma de dinamizar o desenvolvimento regional.

Seguindo a lógica dos programas anteriores, tem-se no segundo governo do

presidente Lula, a criação do Plano de Aceleração do Crescimento (PAC), que traz

em seu bojo a proposta de eliminar os obstáculos à capacidade de obtenção de

divisas, ampliando o saldo de balança comercial e desencadeando a capitalização

do processo produtivo. O Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), de 2007 a

2010 contempla um conjunto de investimentos em infraestrutura e um conjunto de

normas vinculado à expansão do crédito no país, e que se estenderá até 2011.

No documento de apresentação do PAC (2007-2010), esse programa anuncia a

promoção da aceleração do crescimento econômico, o aumento do emprego e a

melhoria das condições de vida da população brasileira (PAC, 2007 apud TOLEDO,

2009). Ver a Figura 7.

Figura 7: Investimentos do PAC para a Região Norte.

Fonte: BRASIL, 2004.

Nessa perspectiva, o Estado brasileiro buscou eliminar os entraves ao

desenvolvimento econômico, trazendo para a região amazônica novas

possibilidades de investimentos, dinamizando as potencialidades regionais.

Page 58: Análise do Plano-Processo na Urbanização de Cidades no Baixo ...

58

Em síntese, foram apresentadas neste capítulo as ações conhecidas e discutidas

por diversos autores especialistas no assunto, sobre a atuação do Estado e a

presença do capital na região Amazônica, bem como, as implicações no processo de

ocupação e desenvolvimento.

O município de Santarém encontra-se neste contexto regional, exercendo o papel de

pólo regional de uma rede urbana constituída ao longo do Baixo Amazonas. Como

tal, Santarém participou direta ou indiretamente do planejamento regional, sendo de

alguma maneira impactada por tais ações e que, atualmente, vem sendo acrescidas

algumas ações locais neste processo, a exemplo do Plano Diretor, que segundo

Holanda (2010) estará interligado às intervenções do PAC, implementadas pelas três

esferas de governo:

a) pela Prefeitura Municipal: 1- implantação da primeira etapa do sistema de

esgotamento sanitário na área central (Bacia do Tapajós), investimento total de R$

31,6 milhões. De acordo com Gambôa (2010), está prevista a ampliação de duas

estações de tratamento de esgoto para evitar que dejetos sejam jogados

diretamente no rio, em frente da cidade; 2 - urbanização dos assentamentos

precários Mapiri e Uruará, investimento o total de R$ 45,9 milhões (COHAB). Caldas

(2011) explica que, desse total foi liberado R$ 30 milhões e executado apenas 40%

das obras. No período de estiagem de 2010 as obras ficaram paradas e foram

retomadas no período chuvoso, demonstrando certa irregularidade na

operacionalização do programa. Por outro lado, as obras são lentas e a Prefeitura

não se pronuncia diante da situação. Em termos de acompanhamento, alguns

vereadores já ingressaram no Ministério Público solicitando esclarecimentos sobre

os investimentos do PAC.

b) pelo Governo do Estado através da Companhia de Saneamento do Pará -

COSANPA: implantação do sistema de abastecimento de água na área central

(Bacia do Tapajós), investimento total R$ 25 milhões (COHAB);

c) pelo Governo Federal: 1- construção e pavimentação de mil quilômetros da BR-

163 (Cuiabá-Santarém), investimento da ordem de R$ 1,5 bilhão. De acordo com

Caldas (2011), essa rodovia teria a função de unir o pólo do agronegócio do

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59

Matogrosso ao Porto de Santarém, porém, as obras estão lentas e só foram

pavimentados 20 quilômetros em dois anos de trabalho. O revestimento é de baixa

qualidade, pois os engenheiros optaram pelo tratamento superficial duplo, uma

cobertura mais barata e com vida útil curta de dois a sete anos. 2- construção do

Píer 200 do Porto de Santarém, com 250 metros de extensão por 33 de largura,

investimento no valor de R$ 35 milhões (DNIT).

A participação das ações do Governo do Estado na mesorregião do Baixo

Amazonas e em especial em Santarém é ampliada com as ações previstas em

Infraestrutura de Apoio ao Desenvolvimento Socioeconômico no Período 2007-2010

materializado em obras do Parque Tecnológico do Tapajós, Distrito industrial de

Santarém e infovia do Tapajós (MONTEIRO et al, 2010).

De acordo com Caldas (2011), as obras do PAC, no entanto, têm causado danos à

estrutura das ruas e casas nos bairros contemplados pelo programa. Com as chuvas

a água fica empossada nas ruas e os terrenos alagados. Quando foi iniciado o PAC

2 em dezembro de 2009, o presidente Luiz Inácio da Silva afirmou que iria ser

investido R$ 315 milhões para as cidades de Belém, Marabá, Ananindeua,

Castanhal, Breves, Marituba, Paragominas, Parauapebas e Santarém. Para esta

última foi liberado um milhão e meio para retomar as obras nos bairros.

É sobre esta temática do impacto do planejamento sobre este espaço contínuo, de

alterações direcionadas e outras espontâneas, que se pretendeu discutir neste

trabalho, o ciclo atual de planejamento do sítio urbano de Santarém e os impactos

dos diversos planos sobre desenvolvimento desse município. Segue-se, então, no

próximo capítulo, ao Estudo de Caso.

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4 ESTUDO DE CASO: SANTARÉM , PARÁ

Como dito anteriormente, na perspectiva de análise do plano-processo de um

espaço urbano da região Amazônica, optou-se por escolher o município de

Santarém que, ao longo da calha do Amazonas, possui destaque como pólo regional

e representa a realidade de um conjunto de municípios do Baixo Amazonas. Assim,

Santarém, no Estado do Pará, tornou-se o estudo de caso a ser tratado neste

capítulo. Parte-se da apresentação da área, seguido dos aspectos socio-

demográficos e econômicos. Finalmente, encerra-se este capítulo com a

periodização histórica da formação do território no qual está inserido o município de

Santarém, com destaque para o desenvolvimento urbano.

4.1 Apresentação da área de estudo

Considerando a forma político-administrativa de como está regionalizado o Estado

do Pará, a cidade de Santarém está localizada na mesorregião do Baixo Amazonas,

na região norte do Brasil, a 700 km de Belém, da capital do Estado do Pará, no

Brasil, exercendo papel de suma importância como a cidade mais importante do

Oeste do Estado do Pará, em função de apresentar na área sede do município, a

mais desenvolvida infraestrutura, dentre os municípios do Baixo Amazonas, com

destaque para o setor de serviços e transportes, no qual chamam atenção a

presença de escolas, hospitais, universidades, porto e aeroporto. Santarém

apresenta limites territoriais com dez municípios: ao norte limita-se com os

municípios de Óbidos, Alenquer e Monte Alegre; ao sul limita-se com os municípios

de Aveiro, Rurópolis, Placas e Belterra; ao leste limita-se com os municípios de

Prainha e Uruará e a oeste limita-se com o município de Juruti (ver Figura 8).

Quanto aos fatores naturais, o clima predominante na região é o quente e úmido,

não estando sujeito a mudanças significativas de temperatura, devido sua

proximidade da linha do Equador. A temperatura média anual varia de 25º a 28ºC,

com umidade relativa média do ar de 86%. A precipitação pluvial média anual é de

1920 mm, com maior intensidade no chamado período de "inverno", que ocorre de

dezembro a maio, quando a precipitação média mensal varia de 170 mm a 300 mm.

Nos meses de junho a novembro ocorre o período mais seco, correspondendo ao

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61

"verão" regional. Nesse período, ocorrem as menores precipitações pluviais

registradas na região, com valores médios inferiores a 60 mm, entre os meses de

agosto a outubro.

Figura 8: Mapa de localização de Santarém-Pa

O clima favorece a uma formação vegetal constituída de diversos tipos de vegetais,

que variam bastante em função dos tipos de solos e da drenagem hídrica. As áreas

de vegetação nativa apresentam maior representatividade, correspondendo a 69%

do município. Ocorrem na porção meridional, ao longo das principais bacias

hidrográficas. Em função de suas características, foi subdividida em Floresta,

Cerrado e Várzea, esta última com ampla ocorrência no extremo norte.

A rede hidrográfica do município é constituída por seis bacias hidrográficas com

destaque para as bacias do rio Amazonas e do Tapajós, importantes para

navegabilidade e atividades pesqueiras, além das bacias do rio Arapiuns, dos rios

Moju e Mojuí e do rio Curuá-Una.

A importância dos rios que formam a rede hidrográfica do município de Santarém se

mostram historicamente, pois, os mesmos tem influenciando diretamente na

Rio Tapajós

Rio Amazonas

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62

dinâmica socioeconômica e espacial do município. Essa dinâmica é iniciada com o

surgimento do núcleo inicial da cidade e, posteriormente, servindo como via de

circulação para o comércio que se desenvolvia no local, com destaque para o

transporte das drogas do sertão e outros produtos coletados e produzidos ao longo

dos rios durante a dominação portuguesa, fato que é comprovado por Costa (2009,

p. 13) quando diz:

Santarém tem uma dinâmica que se desenvolve historicamente a partir de

atividades ligadas ao rio, sendo este estruturador da vida econômica,

política e social da cidade. Algumas atividades que se desenvolveram ao

longo da história nos ajudam a visualizar este processo, entre elas temos

alguns ciclos econômicos como a exploração das drogas do sertão, ainda

no período colonial, a extração do látex nas várzeas do tapajós, no início

do século XX a introdução da cultura da juta nas várzeas do baixo

amazonas, logo após o declínio dos seringais da região e, ainda, a corrida

do ouro a partir da década de 1970.

Mesmo com a abertura das grandes rodovias, a partir da segunda metade do século

XX, os rios continuaram a desempenhar papel de destaque na realidade local, sendo

aproveitados em diversas atividades econômicas, a exemplo dos portos de

Santarém e da CARGILL13, bem como, para a geração de energia elétrica através

da Hidrelétrica de Curua-Una e outras atividades que se densevolvem em

comunidades localizadas as margens desses rios.

4.2. Aspectos socio-demográficos e econômicos

A cidade de Santarém possui, segundo o IBGE (2010), população de 294.794

habitantes, com densidade demográfica de 11, 28 hab/Km2, ocupando a 3ª posição

em população por municípios do Estado do Pará. Essa população se apresenta em

215.947 habitantes vivendo no espaço urbano e 78.827 vivendo no espaço rural,

conforme a Tabela 13

A Cargill é uma empresa privada, multinacional, com sede no estado de Minnesota, EUA, cuja atividade é a

produção e o processamento de alimentos. Atualmente a Cargill, maior empresa do mundo de capital fechado, está presente nos 5 continentes e emprega mais de 160.000 pessoas em 67 países. Disponivel em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Cargill. Acessado em 04/01/2011.

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63

Tabela 3: Evolução da Pop. Total, Urbana e Rural de 1980 – 1991; 1996 - 2007 e 2010.

Anos Urbana Rural Total Taxa de

Crescimento % (base 1980)

Taxa de crescimento %

(Base ano anterior) 1980 111. 657 80.293 191. 950 - - 1991 180. 018 85.044 265. 062 38,09 38,09

1996(1) 166. 023 76.732 242.755 26,47 -8,42 1997(1) 165. 773 76.617 242.390 26,28 -0,15 1998(1) 165. 562 76.519 242.081 26,12 -0,13 1999(1) 165. 350 76.421 241.771 25,96 -0,13 2000(2) 186. 297 76.241 262.538 36,77 8,59 2001(1) 188. 038 76.954 264.992 38,05 0,93 2002(1) 189. 031 77.360 266.391 38,78 0,53 2003(1) 190. 301 77.879 268.180 39,71 0,67 2004(1) 193. 179 79.058 272.752 41,83 1,51 2005(1) 194. 439 79.573 274.012 42,75 0,65 2006(1) 195.902 80.172 276.074 43,83 0,75 2007(1) 197.353 80.765 278.118 44,89 0,74

2010 215.947 78.827 294.774 53,56 4,75

Fonte: Censos demográficos do IBGE

(1) População Estimada pelo IBGE

A evolução dos dados pertinentes à Tabela 3 encontra-se no Gráfico 5, para melhor

visualização do processo de crescimento demográfico. Os dados demográficos

verificados na Tabela 3 e no Gráfico 5 demonstram que, de um modo geral, a

população do município de Santarém, entre 1980 e 2010, cresceu em 53,56%. O

contingente populacional saltou de 191.950 para 294.774.000 habitantes. Observou-

se que a participação maior foi da população urbana, ou seja, 182%, enquanto a

população rural declinou em aproximadamente 2%.

Uma das explicações para esse declínio na população rural está no fato da fronteira

ter sua expansão impulsionada pelo controle do território para fins econômicos, o

qual se encontra articulado ao poder político notoriamente influenciado em

determinado município da Amazônia. Como ressalta Pereira (2006, p. 31), “a

fronteira é um espaço gerador de novas realidades e com elevado potencial político,

dependente da capacidade de intervenção de cada segmento social”. Em

consonância, a fronteira econômica ou geopolítica vem a ser a configuração de

limites estabelecidos por entidades nacionais ou supranacionais, mediante a

influência exercida pelo poder econômico e político.

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Gráfico 5: População total, urbana e rural de Santarém - 1980/91/96 até 2010

Fonte: Censos demográficos do IBGE.

No Estado do Pará a expansão da fronteira está intimamente relacionada ao

controle dos recursos naturais e se manifesta na apropriação de consideráveis

glebas de terras, inclusive, para a ampliação da soja. Portanto, o poder econômico

de firmas e grandes grupos empresariais contribuiu para o exercício do poder sobre

áreas do território paraense, pelo fato de possuírem maiores possibilidades de

apropriação, como esclarece Cardoso e Lima (2006, p. 69):

De um modo geral, verifica-se que o fazendeiro de maiores posses resiste melhor às deficiências infra-estruturais do campo [...], podendo, dependendo do seu poder econômico, instalar condições de auto-suficiência a esse respeito [...]. Nos casos de grupos dedicados à exploração madeireira, o uso de máquinas pesadas permite a abertura de estradas particulares de acesso às fazendas, que não raro invadem lotes agrícolas do pequeno produtor. Nos casos de grupos dedicados à agroindústria, a dominação se manifesta pela semeadura de sementes de arroz, soja ou capim por aeronaves sobre o solo dos lotes agrícolas, comprometendo a produção familiar, e pressionando o abandono das propriedades.

Essa situação leva à expulsão dos colonos de sua terra, os quais não dispõem de

condições econômicas para manter a ocupação efetivamente e enfrentar a pressão

realizada por empresários e grupos poderosos, processo denominado por Martins

(1980, p. 35) de Frente Pioneira:

São as porções do espaço amazônico apropriadas por apenas algumas pessoas ou firmas, ou seja, é o espaço do capital que se expande sobre

0

50.000

100.000

150.000

200.000

250.000

300.000

350.000

Urbana Rural Total

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65

as terras indígenas e de pequenos proprietários ou posseiros, contribuindo para o aumento do grupo de expropriados já existentes na região.

Outro fator que contribuiu para a expansão da população no município de Santarém

foi o fluxo populacional proveniente do Nordeste para trabalhar nos garimpos do

Tapajós na década de 1980, durante a chamada febre do ouro. Esse contingente

usou a cidade de Santarém como área de entreposto comercial para o

desenvolvimento de diversas atividades vinculadas à garimpagem.

No período entre 1991 e 1999 ocorreu um pequeno declínio em números absolutos

da população santarena, fato atribuído à crise na exploração aurífera. Além disso, às

políticas econômicas governamentais de contenção inflacionária implementadas pelo

governo do então Presidente Fernando Collor de Melo gerou, segundo Ramos

(2004), desvalorizam abruptamente com o confisco do ativo monetário do país,

inviabilizando a garimpagem artesanal no Vale do Tapajós. Porém, mesmo após a

queda desse ciclo, muitos garimpeiros sem ter para onde ir ficaram morando na

cidade, contribuindo para a formação de ocupações informais nas áreas de periferia.

No período de 1999 a 2010, a população total do município apresentou crescimento.

Neste período, a dinâmica demográfica sofreu influência direta da expansão da

cultura da soja, a qual atraiu para Santarém, através BR-163 significativo fluxo

populacional principalmente de sulistas que migraram com suas famílias para a

região.

Esses números não foram acompanhados pelo planejamento, de forma a evitar

problemas como impactos ambientais, a expansão de ocupações informais na

periferia da cidade, desprovidas de infraestrutura básica e serviços essenciais e

aumento da criminalidade. Tal situação confirma a explicação de Trindade Jr (2004

apud PEREIRA, 2006), ao considerar Santarém como uma das cidades médias da

Amazônia caracterizada pela precária qualidade de vida, um grande número de

desempregados, sem qualificação e empobrecidos.

Quanto aos aspectos econômicos, a economia do município de Santarém está

assentada nos três setores de atividades econômicas, o primário, o secundário e o

terciário, que juntos produziram em 2007 um PIB de 2.204 milhões de reais,

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66

conforme distribuição por atividades mostrada na Tabela 4, tendo-se a evolução dos

dados no Gráfico 6.

Tabela 4: Santarém - composição do PIB a preço de mercado (em R$ 1 milhão),

2000 a 2007

Item Descrição/Ano 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007

PIB – SANTARÉM 718 832 965 1.235 1.372 1.610 1.986 2.204

1 Agropecuário (1) 160 189 270 375 395 459 506 564

2 Indústria extrativa mineral (2) 26 30 30 32 34 36 41 57

3 Indústria de transformação (2) 91 101 103 111 114 121 143 151

4 Construção Civil (2) 69 75 77 95 115 134 196 218

5 Serviço, indústria de utilidade

pública (3)

7 7 8 14 17 24 39 43

6 Comércio (3) 52 62 75 95 98 105 151 166

7 Transporte e armazenamento(3) 20 25 28 45 67 85 115 130

8 Alojamento e alimentação (3) 4 4 12 15 19 25 38 44

9 Aluguel (3) 75 86 90 104 110 114 129 132

10 Comunicação (3) 27 35 40 60 71 94 123 141

11 Adm pública e seguridade social

(3)

113 122 120 135 143 158 173 187

12 Saúde e educação (3) 22 26 30 37 48 56 67 76

13 Intermediação financeira (3) 25 35 40 60 71 102 135 151

14 Outros serviços (3) 21 29 33 45 52 68 89 96

15 Serviços domésticos (3) 6 6 9 12 18 29 41 48

Taxa nominal de variação (%) 15,9 15,9 16,0 28,00 11,1 13,3 23,4 11,0

Fonte: Adaptado pelo autor a partir de Informações Municipais de Santarém – SEMPLAN/CIAM 2010. Prefeitura Municipal de Santarém. Disponível em:http://www.fit.br/home/InformacaoMunicipais.pdf. Acesso em 15/10/2010. (1) Setor Primário da Economia (2) Setor Secundário da Economia

(3) Setor Terciário da Economia

Os dados retratados na Tabela 4 e no Gráfico 6, sobre a realidade econômica da

cidade de Santarém, revelam a evolução dos setores econômicos, quanto ao

processo produtivo do município, com destaque, para os setores primário e terciário,

pois, foram estes, os que mais contribuíram nos últimos anos para o crescimento do

PIB municipal.

A importância desses setores está vinculada, principalmente, ao surgimento de

atividades agropecuárias, com destaque para a cultura de produção de soja que

altera a cadeia produtiva local, o que vem proporcionando a ampliação das

atividades comerciais ligadas à soja, a partir do incremento no comércio da cidade

de lojas de matérias agrícolas. Logo, contribuindo para o incremento do PIB

municipal.

Page 67: Análise do Plano-Processo na Urbanização de Cidades no Baixo ...

67

Gráfico 6: Evolução dos Setores Econômicos e do PIB de Santarém

Fonte: Elaborado pelo autor a partir de Informações Municipais de Santarém – SEMPLAN/CIAM 2010. Prefeitura Municipal de Santarém. Disponível em: http://www.fit.br/home/InformacaoMunicipais.pdf. Acesso em 15 outubro 2010.

Ainda, no setor terciário, o turismo, impulsionado por Alter do Chão, despontou como

uma fonte de dinamização da economia local. No setor secundário, apesar de,

também, apresentar significativo crescimento, ainda, apresenta pouca relevância,

em termos de desenvolvimento local, sendo por isso o que menos proporciona

divisas para o município.

4.3 FORMAÇÃO DO TERRITÓRIO E O DESENVOLVIMENTO URBANO

A análise histórica da formação territorial, bem como, o desenvolvimento do

processo de urbanização de Santarém ocorreu considerando a periodização

abrangendo desde o período pré-histórico até o atual, destacando os principais

elementos na configuração e na conformação territorial (ROOSEVELT, 1992 e

RAMOS, 2004):

Pré-Histórico (Período Paleoíndigena) - 15.000 e 10.000 aC.

Pré-Histórico (Período Arcaico) - 10.000 e 2.500 aC.

2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007

Terciário 372 437 485 622 714 860 1100 1214

Secundário 186 206 210 238 263 291 380 426

Primário 160 189 270 375 395 459 506 564

PIB 718 832 965 1235 1372 1610 1986 2204

0

500

1000

1500

2000

2500

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68

Pré-Histórico (Período de Formação) 2.500 aC até a chegada dos

Colonizadores.

Período Colonial (Drogas do Sertão e Missões Jesuíticas) - século XVI ao

XIX.

Brasil Independente (Ciclo da Borracha) – fim do século XIX ao início do

século XX.

Brasil Independente (Ciclo do Ouro) – década de 1950 e 1960.

Brasil Independente (Ciclo Militar) – 1964 a 1985.

Brasil Independente (Ciclo da Soja) – 1986 aos dias atuais.

Pré-Histórico (Período Paleoíndigena) - 15.000 e 10.000 aC.: no espaço amazônico

os vestígios arqueológicos encontrados em escavações estão representados,

principalmente, pelos objetos de cerâmica, pedra e de ossos, as marcas de

fogueiras, os sepultamentos, os resíduos de alimentação e as sinalizações

rupestres. Na Amazônia, a pesquisa arqueológica é recente e a realidade de resgate

sobre o processo de ocupação apenas está começando, no entanto, já se tem

conhecimento da presença de grupos humanos com diversidade de conhecimento

tecnológicos, observados nos diferentes tipos de vida, habitando diferentes espaços

na imensidão amazônica.

No período paloeíndigena são escassas as informações sobre a realidade da

presença de grupos humanos na região, no entanto, estudos arqueológicos

mostraram vestígios de atividades humanas desenvolvidas próximo aos grandes rios

da região, o Amazonas e o Tapajós, em área próximas de onde está localizado o

município de Santarém que, segundo Roosevelt et al (1992), são os mais antigos

vestígios da ocupação humana na Amazônia. O processo produtivo não apresentava

técnicas avançadas em sistemas agrícolas, provavelmente, em função da rica

biodiversidade da região, os grupos humanos em sua cultura de subsistência

sobreviviam das atividades de caça, coleta de frutos e pesca.

Pré-Histórico (Período Arcaico) - 10.000 e 2.500 aC: sobre este período, existem

informações de grupos humanos na região do Baixo Amazonas, também,

localizados às proximidades dos rios da região, respaldados em dados de pesquisas

Page 69: Análise do Plano-Processo na Urbanização de Cidades no Baixo ...

69

arqueológicas, nas quais foram encontrados fragmentos em cerâmica e em outros

artefatos (machados, lâminas, arcos e flechas). Outro fator importante, que é

referência para o entendimento da ocupação humana na região e da concentração

populacional em uma área próxima a cidade de Santarém, é a presença de solos

denominados de Terra Preta Arqueológica, que são característicos de resíduos

orgânicos diversos.

Nesse período as atividades de sobrevivência estavam ligadas à produção de

produtos cerâmicos e, também, a domesticação de espécies vegetais em sistemas

de produção agrícola, a exemplo da pupunha e da mandioca. Em função do tipo de

material encontrado nas pesquisas geológicas desenvolvidas na região, se

pressupõe certo conhecimento tecnológico e, também, uma hierarquização no

processo produtivo, pois a diversificação de materiais mostrava graus diferenciados

de conhecimentos.

Pré-Histórico (Período de Formação) 2.500 aC até a chegada dos Colonizadores até

a chegada dos colonizadores: nesse período, a região do Baixo Amazonas passou a

apresentar características ligadas a sociedades com dinâmicas diferenciadas, tendo

o desenvolvimento de técnicas agrícolas de subsistência mais evoluídas. As

pesquisas arqueológicas trazem informações de que as aglomerações eram maiores

do que nos períodos anteriores e que o período de ocupação de determinadas áreas

era maior. Segundo Neves (2006), essa nova etapa de ocupação e desenvolvimento

do espaço Amazônico se deu através da associação de diversos produtos à base de

mandioca e utilização recursos aquáticos e da exploração de outros produtos

vegetais.

Período Colonial (Drogas do Sertão e Missões Jesuíticas) - século XVI ao XIX:

ocorrem várias investidas estrangeiras sobre o espaço amazônico, feitas por

expedições exploratórias espanholas, portuguesas, inglesas e holandesas que, a

priori fizeram o reconhecimento da área e, posteriormente, a exploração,

desencadeando com isso transformações no espaço local, tanto de ordem

econômica como social, que ganharam ênfase nas ações materializadas das

conquistas de novas terras.

Page 70: Análise do Plano-Processo na Urbanização de Cidades no Baixo ...

70

Vale ressaltar que, neste período, a associação entre as expedições exploratórias

com as missões jesuíticas que atrelaram às conquistas a expansão religiosa, além

das chamadas metrópoles européias. A investida sobre o espaço amazônico

materializou-se através das atividades comerciais, nas quais ganhou destaque a

exploração das drogas do sertão (salsaparrilha, baunilha, manteiga de ovo tartaruga,

pimentas variadas, bálsamo de copaíba, puxuri, anil, guaraná e outros), encontrados

de forma abundante na densa floresta amazônica. Esses produtos eram altamente

rentáveis ao comércio europeu, pois eram produtos escassos nas regiões européias.

Pode-se dizer que, o contexto exploratório das terras amazônicas, embutido em uma

logística de caráter político-religioso-estratégico, iniciou-se quando o navegador

Pedro Teixeira navegando pelo vale do Tapajós, subindo o rio Amazonas encontrou

com a tribo dos índios Tupaius, este fato incentivou o deslocamento do Padre

Antonio Vieira a região em 1659. Este episódio culminou com a fundação do

povoamento da Missão de Nossa Senhora da Conceição do Tapajós, tendo o Padre

Bettendorf sido enviado para exercer o papel de administrador dessa missão, pondo

em prática o exercício político e religioso da dominação, pois, o processo de

dominação do espaço amazônico dependia da pacificação e domesticação dos

nativos da região e submissão dos mesmos a ordem da coroa portuguesa.

A estratégia militar de dominação imposta pela Coroa Portuguesa sobre a realidade

do espaço amazônico esteve atrelada ao levantamento de fortificações ao longo do

rio Amazonas e de seus principais afluentes que desempenharam papel de grande

importância na fixação de marcos de penetração portuguesa no Vale do Amazonas.

Dessa estratégia, tem-se a construção no Baixo Amazonas do marco que deu

origem a cidade de Santarém, a “Fortaleza do Tapajós”, iniciada em 1684 e

concluída em 1722, posteriormente, em função de seu papel estratégico na região

foi elevada à categoria de Vila em 1758.

Nesse período, a região apresentou comércio dinâmico que esteve ligado

diretamente às atividades de subsistência desenvolvidas pelo povo que habitava a

área, além da caça, pesca e coleta das drogas do sertão, que atendiam aos

interesses dos colonizadores no direcionamento das mercadorias amazônicas para

abastecer o mercado europeu.

Page 71: Análise do Plano-Processo na Urbanização de Cidades no Baixo ...

71

A partir da segunda metade do século XVIII, vários acontecimentos marcaram a

dinâmica política e econômica no Baixo Amazonas, onde mereceu destaque o

encerramento da atuação das companhias missionárias jesuíticas na região a partir

de 1755, como parte de atos da política portuguesa da época (liderada pelo Marques

de Pombal). Mais adiante, na primeira metade do século XIX, em 1848, a Vila de

Santarém foi elevada à condição de Cidade, fato associado à sua localização

geográfica e à consolidação do papel desempenhado em sua centralidade, política,

militar e religiosa. Santarém consolidou-se cada vez mais como cidade primaz no

Baixo Amazonas, comandando a economia na região, onde se desenvolvia

significativa quantidade de atividades econômicas, principalmente, vinculadas ao

extrativismo do cacau, salsaparrilha, cravo, guaraná, e, também culturas agrícolas

como café, milho, feijão, arroz, mandioca, algodão e tabaco, os últimos destinados

ao abastecimento do mercado interno.

Em função do grande número de atividades econômicas, a cidade de Santarém,

desde o período Colonial, caracterizou-se como área de entreposto comercial,

destacando-se, também, nas atividades comerciais que segundo (REIS, 1979)

desenvolveu-se principalmente através da vias fluviais, tendo, conseqüentemente,

uma verdadeira frota de embarcações dos mais variados tipos e tamanhos.

Brasil Independente (Ciclo da Borracha) – fim do século XIX ao início do século XX:

do final do século XIX até as duas primeiras décadas do século XX, o município de

Santarém viveu o “boom” da Borracha que, além de dinamizar a economia regional,

colocou a cidade como uma das principais áreas de exportação do látex, em função

de sua posição estratégica de entreposto comercial para a produção de borracha

coletadas na abrangência do rio Tapajós, fato que desencadeou o processo de

urbanização, pois, atraiu para seu espaço uma grande contingente populacional,

principalmente, de nordestinos expulsos pela miséria e pela seca que assola a

região, e impulsionou o desenvolvimento da infraestrutura urbana na cidade.

O período em que a economia da borracha esteve em crescimento, promoveu um elevado crescimento populacional na região Norte e, em 1872 os habitantes da região eram cerca de 332.847 habitantes mas, em 1920, eram 1.439.052, correspondendo sobretudo a nordestinos, principalmente, cearenses. Estes migrantes dirigiram-se principalmente para os vales dos rios Juruá, Purus, Madeira, Tapajós e Xingu (MONTEIRO e COELHO, 2004).

Page 72: Análise do Plano-Processo na Urbanização de Cidades no Baixo ...

72

A economia da borracha teve seu declínio nas primeiras décadas do século XX,

ocasionada pela concorrência desleal promovida pela entrada da borracha asiática

no mercado internacional, a mesma que se desenvolveu no sudeste asiático em

função do contrabando de milhares de sementes da região do Tapajós para a

Inglaterra e, posteriormente, sendo levada para a Ásia. O declínio da economia

gomífera na Amazônia desencadeou na região abrangida pelo rio Tapajós o

fechamento das áreas favorecidas pelos seringais, bem como, o declínio das

atividades comerciais, ocasionando significativos impactos socioeconômicos, como a

carência de serviços, desemprego, miséria e fome.

Ainda, na primeira metade século XX, a economia gomífera provocou um novo

alento na realidade econômica amazônica e, principalmente, nas cidades localizadas

no Baixo Amazonas, pois, foi implantado no município de Santarém por intermédio

do norte americano Henry Ford, dono da Companhia Ford Industrial do Brasil, que

para garantir a produção de pneus para seus automóveis, um sistema de plantio

ordenado de seringueiras no município, o que fez surgir em plena floresta os núcleos

urbanos de Fordlandia e Belterra, nos anos de 1926 e 1934 respectivamente.

A plantação feita de forma ordenada e mais bem elaborada de seringueiras na

floresta amazônica, além de alimentar esperanças de dias melhores e condições

socioeconômicas para a população local, desencadeou aumento significativo da

população e exerceu influências diretas no desenvolvimento urbano, pois, esse novo

“boom” da borracha gerou em Santarém o aparecimento de várias formas de

infraestrutura, dentre elas destacam-se a implantação de um hospital de

complexidade em várias especialidades médicas e a rede de abastecimento de água

com estação de tratamento.

Brasil Independente (Ciclo do Ouro) – década de 1950 e 1960: a continuação do

processo de urbanização do município de Santarém passou a apresentar uma nova

realidade a partir da extração do ouro ocorrido na região abrangida pelo rio Tapajós,

pois, a febre ocasionada, por esse no ciclo econômico na Amazônia desencadeou

grandes transformações na estrutura socioeconômica e espacial da região e,

principalmente, na cidade de Santarém, associado ao papel desempenhado de

entreposto comercial nos ciclos econômicos anteriores ocorridos na região.

Page 73: Análise do Plano-Processo na Urbanização de Cidades no Baixo ...

73

Em função desse novo momento econômico ocorrido no Baixo Amazonas, um

grande surto migratório ocorreu em direção à área de abrangência do rio Tapajós,

algo que gerou um considerável crescimento demográfico, principalmente, de

nordestinos expulsos por condições climáticas desfavoráveis no nordeste e tangidos

por melhores condições de sobrevivência financeira na Amazônia. Este

acontecimento, segundo Ramos (2004), ocasionou nas décadas de 1950 e 1960

índice migratório de 52,98% de nordestinos.

Foram grandes as transformações ocasionadas no espaço da região do Tapajós,

estimando-se que em torno de 600.000 a 800.000 pessoas trabalharam direta ou

indiretamente nas atividades de extração do ouro, gerando grande pressão

demográfica sobre os recursos da região. Este contingente demográfico dirigiu-se,

principalmente, para as cidades com melhor infraestrutura, notadamente no Baixo

Amazonas, a cidade de Santarém foi a que mais apresentou transformações, tanto

no âmbito socioeconômico quanto no âmbito ambiental.

O ciclo do ouro na região do Tapajós durou até o início dos anos noventa do século

passado, quando medidas de ordem econômica adotadas no governo do Presidente

Fernando Collor de Melo de controle da inflação desvalorizou os ativos do ouro,

gerando uma crise sem precedentes na economia aurífera da região. Esta crise

espalhou-se por todas as atividades econômicas, ocasionando uma cadeia de

acontecimentos que vão desde desemprego, crescimento das atividades informais e

serviços temporários até o processo de ocupação desordenado e, consequente

periferização da cidade.

Brasil Independente (Ciclo Militar) – 1964 a 1985: em função de sua localização

estratégica privilegiada nas confluências dos rios Amazonas e Tapajós e, tendo

papel de extrema relevância na realidade de preservação da soberania nacional no

espaço amazônico, a cidade de Santarém foi declarada pelo Estado brasileiro no

período militar (1964-1985) como área de segurança nacional, fato que

desencadeou por parte do Estado estratégias de ocupação e valorização do espaço

urbano da cidade. Durante o período militar, a atuação do Estado na cidade de

Santarém se fez, principalmente, pela implantação de infraestrutura, no sentido de

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74

viabilizar os projetos vinculados a Doutrina de Segurança Nacional. Destacam-se os

projetos:

a) Hidroelétrica de Curuá-Una

Ainda, na década de 1960, tem início em Santarém a construção da hidroelétrica de

Curuá-Una, com projeto inicial prevendo a capacidade de gerar 40 MW de energia.

No entanto, somente três das quatro turbinas com capacidade de geração de

energia 10 MW cada, foram implantadas, sendo considerado o suficiente de energia

para as necessidades da região, incluindo, Santarém até a década de noventa.

Somente nos dias atuais o consumo regional ultrapassou a potência gerada

pela hidroelétrica, hoje 36MW, deficiência que é suprida pela Hidroelétrica

de Tucurui, através do “linhão de Tucuruí” com capacidade de transmissão

de 69MW, sendo este o mais importante e único investimento feito após os

governos militares na região de Santarém, o qual foi implementado no

programa “Pra frente Brasil”, do Presidente Fernando Henrique Cardoso

(RAMOS, 2004, p. 55).

b) As grandes rodovias: a BR-163

A abertura das grandes rodovias no espaço amazônico alterou o padrão de

circulação e ocupação do espaço, antes dendríticos, vinculados aos grandes rios da

região, fato que denotava uma realidade ribeirinha como característica principal

cidades amazônicas.

No leque da abertura das grandes rodovias, a cidade de Santarém foi premiada com

a construção da rodovia federal BR-163 (Cuiabá-Santarém) que a interligou a cidade

ao município Cuiabá no estado do Mato Grosso. A rodovia foi planejada para

abranger uma área de 1000 km desde Santarém até a Serra do Cachimbo no

Estado de Mato Grosso. A obra ficou sob a responsabilidade de um batalhão do

exército brasileiro sediado em Santa Catarina que, mais tarde, transformou-se em 8º

BEC, Batalhão de Engenharia e Construção.

A unidade militar transformou-se no 8º Batalhão de Engenharia e

Construção, o 8º BEC, que trouxe junto com seu corpo técnico, civil e

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75

militar, os familiares dos mesmos, bem como, todos os equipamentos de

construção para a execução da obra da rodovia. (RAMOS, 2004, p. 56).

A transferência 8º BEC para Santarém atrelou a necessidade de interligação do

espaço amazônico as outras regiões brasileiras, bem como, a de implantar, a partir

da Doutrina de Segurança Nacional, um Batalhão do Exército Brasileiro na região do

Baixo Amazonas, espaço estratégico para a segurança da Amazônia Brasileira.

A abertura da rodovia Cuiabá-Santarém teve papel de fundamental importância para

o desenvolvimento do processo de urbanização de Santarém, pois, juntamente com

outras obras de infraestrutura desenvolvidas na cidade, não só contribuiu como

elemento facilitador para intensificar os fluxos migratórios em direção ao Baixo

Amazonas, mas, também, servindo como atrativo para vinda de pessoas oriundas de

outras regiões em busca de condições mais dignas de vida.

Na atualidade, a rodovia Cuiabá-Santarém, mesmo sendo de grande importância

para a economia brasileira, apresenta vários trechos sem asfaltamento, com isso,

dificulta o dinamismo econômico da região por ela abrangida, fato que acaba por

gerar atraso econômico e impossibilidades de uma maior dinâmica socioeconômica

para os vários municípios que são influenciados diretamente e indiretamente pelos

fluxos de capitais, produtos e pessoas proporcionados pela rede rodoviária atrelada

a rodovia.

A possibilidade de asfaltamento total da rodovia BR-163, a partir do PAC, Plano de

Aceleração do Crescimento acalenta um desejo antigo da sociedade local, pois,

esse acontecimento tornaria Santarém um novo corredor de distribuição dos

produtos produzidos na Zona Franca de Manaus e, também, de grande parte dos

produtos que ainda são distribuídos por Belém. Nesta premissa, o Porto de

Santarém ampliaria seu papel como uma nova alternativa para a

importação/exportação regional.

Mesmo não estando totalmente asfaltada, a rodovia Cuiabá-Santarém, na

atualidade, desenvolve papel que é de fundamental importância para a estratégia do

agronegócio do Brasil com o mercado internacional, pois, consolida-se como

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76

facilitadora para o alargamento da fronteira agrícola do norte do estado Mato Grosso

em direção à região do Baixo Amazonas, tendo a cidade de Santarém, em função de

seu porto, papel de grande importância na dinâmica regional.

c) Infraestrutura de Saneamento Básico

As políticas de saneamento básico no município de Santarém durante o período

militar se fizeram presentes com a construção de uma rede coletora de águas

pluviais abrangendo 40% da cidade, além dessa obra, foram implantados 50

quilômetros de rede coletora de esgoto, que segundo Ramos (2004) ficou

inacabada, pois não foram executados o coletor final e a estação de tratamento e,

até os dias atuais, a malha coletora enterrada sem um único imóvel atendido,

enquanto o esgoto escorre à céu aberto, causa transtorno e doenças,

principalmente, à população mais carente dos bairros periféricos .

Ainda neste contexto, os governos militares construíram em 1974 o cais portuário da

cidade, pois, a mesma era constantemente assolada por enchentes nos períodos de

chuvas mais intensas, fato que deixava algumas áreas da cidade submersa. A obra

abrangeu 3 Km de extensão margeando o lado direito do rio Tapajós.

d) A construção do Porto de Santarém

O porto de Santarém, obra da maior importância para o desenvolvimento urbano da

cidade, construído na década de 1970, tinha o objetivo de ligar através da rodovia

BR-163 a região Centro-Oeste e Sul ao mercado importador Americano e Europeu,

sendo uma importante via de escoamento dos produtos (RAMOS, 2004).

Para Ramos, a construção do Porto de Santarém foi uma das obras mais

importantes implantadas, no período militar, na cidade de Santarém, pois, favoreceu

a intensificação comercial do município e da região do Baixo Amazonas com o

comercio nacional e internacional. Na estratégia do Estado, a associação

rodovia/porto poderia engrenar uma dinâmica de crescimento econômico para toda a

região, no entanto, em função da não pavimentação total da rodovia BR-163 e,

também, das constantes chuvas na Amazônia deixando as rodovias intrafegáveis, o

Page 77: Análise do Plano-Processo na Urbanização de Cidades no Baixo ...

77

porto de Santarém não conseguiu ter a funcionalidade esperada pelos militares,

ficando ocioso em sua capacidade de serviços de operalização por vários anos.

Na atualidade o porto de Santarém apresenta:

As instalações de acostagem compreendem o Cais Marginal de 228m de extensão, contendo quatro berços, com profundidade de 3m, destinado a embarcações fluviais de pequeno porte, e o Cais Comercial com 435m e profundidades variando de 6m a 10m, dispondo de seis berços de atracação. Conta com dois armazéns para carga geral com área total de 3.000m2, dois galpões totalizando 900m2, um pátio descoberto com 10.000m2 e 7 tanques para granéis líquidos, de uso privativo, somando 3.500t de capacidade estática de armazenagem. Disponível em: <www.antaq.gov.br/portal/pdf/Portos/Santarem.pdf> Acesso em: 25/08/ 2010.

A infraestrutura do porto de Santarém capacita-o a receber navios de até 18.000

TDW14, enquanto as pequenas embarcações utilizam o cais da cidade.

e) A construção do aeroporto

Outra obra de grande importância implantada no município durante o tempo de

dominação militar e que contribuiu para “diminuir” a distância de Santarém com as

outras regiões e até com outros países, foi a construção do aeroporto da cidade, fato

que ampliou a mobilidade populacional, bem como, possibilitou o incremento das

atividades econômicas na região.

Além dos objetos urbanos já citados, Costa (2009) destacou outros criados a partir

da década de 1950, que foram de grande importância para o processo de

urbanização da cidade: a inauguração do serviço telefônico de Santarém em outubro

de 1954, com duzentos aparelhos automáticos instalados; a TV Tapajós em agosto

de 1979; a Empresa Brasileira de Telecomunicações (EMBRATEL) em 1980; e

inauguração em 1998 do projeto Tramoeste, que levou energia elétrica da Usina

Hidrelétrica de Tucuruí para o município.

14

TDW, porte bruto. Diferença entre o peso do navio com o máximo de carga autorizado e o peso do navio leve. Tal diferença, que pode ser expressa em toneladas métricas, corresponde ao peso da carga, passageiros e sua bagagem, combustível e lubrificantes, aguada e víveres. É nesta unidade (TDW) que, normalmente, se exprime a tonelagem dos navios/tanques (petroleiros etc.). Disponível em: http://ue2007.ine.pt/bddXplorer/htdocs/minfo.jsp?var_cd=0000763. Acesso em 04/01/2011.

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78

Atualmente, Santarém destaca-se, regionalmente, também, em função da alocação

do Hospital Regional, sendo o de maior complexidade na mesorregião do Baixo

Amazonas, inaugurado em dezembro de 2006, bem como, de um setor educacional

que, cada vez mais, conta com instituições de nível superior, com destaque para as

universidades públicas UFPA, UEPA e UFOPA, contado ainda com faculdades

particulares e institutos de ensino superior.

Brasil Independente (Ciclo da Soja) – 1986 aos dias atuais: tendo como referência

as últimas décadas do século XX, e o papel da Amazônia como a nova fronteira

agrícola e ou econômica, se vivencia uma nova realidade econômica atrelada à

produção de soja no município de Santarém e no estado de Mato Grosso, tendo

como vias principais de escoamento a rodovia BR-163 e o porto da cidade de

Santarém e o da CARGILL.

Esse novo ciclo econômico está atraindo para Santarém um grande contingente

demográfico feito, principalmente, de sulistas capitalizados e acostumados com as

atividades agrícolas, que vêem nesse novo ciclo econômico uma possibilidade de

avançar economicamente para uma vida com melhores condições. Na visão de

Ramos (2004), os objetivos são de plantar grandes lavouras mecanizadas, utilizando

alta tecnologia agrícola e grãos selecionados e a expectativa de aproveitar os

500.000 hectares de mata degradada, com terras planas, com solo de excelente

qualidade, propício para o plantio.

Em função desse novo processo produtivo, várias transformações estão ocorrendo

em Santarém, dentre elas, destacam-se a valorização fundiária que elevou o valor

da terra em mais 2000% nos últimos cinco anos, onde terrenos que custavam R$

100,00 passaram a custar R$ 2.000.00, incrementando mais de R$ 154.000.000,00

na economia do município (RAMOS, 2004). Ainda, rumo das transformações, o

comércio de Santarém vem apresentando novas facilidades para a produção

agrícola, como lojas concessionárias de tratores e equipamentos agrícolas,

atentando para a nova dinâmica comercial do município.

Em função dos vários ciclos econômicos ocorridos na realidade histórica da cidade

de Santarém, verificou-se, principalmente, a partir da segunda metade do século XX,

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79

um grande salto no crescimento populacional, incrementando a dinâmica urbana do

município.

Esse grande crescimento populacional de Santarém tem importância na população

urbana, que supera a população rural ainda na segunda metade da década de 1970,

fato relacionado, principalmente, a infraestrutura implantada nas décadas de 1960 e

1970, dinamizando a realidade local e influenciando no aumento dos fluxos

populacionais para a cidade. No entanto, não se pode de deixar de observar,

também, outros fatores tais como a cultura da soja que chegou à região na década

de 1980, gerando transformações nas relações de produção, com desestruturação

das unidades de agricultura familiar, produzindo um processo de desterritorialização

na realidade rural, empurrando essa população em direção a cidade, fato relatado

por Pereira apud Oliveira (2008, p. 6) em:

Portanto, na década de 80 a 90, a expansão se adensou, incentivada pela

migração das áreas rurais para a cidade, estimulada fortemente pela

introdução da cultura da soja, espacialmente na década de 90. Esta cultura

promoveu grandes transformações, pois, os empresários mato-grossenses

provocaram desagregação da agricultura familiar, ao incorporarem grandes

áreas agrícolas, forçando a vinda de migrantes das áreas rurais para a

cidade.

Para Oliveira (2008), a área urbana de Santarém apresenta-se, atualmente, bastante

espraiada, com problemas de periferização, ou seja, com precária infraestrutura

urbana, assim como, habitações precárias. Nos bairros periféricos reside uma

população de baixa renda, coabitando com a violência, muito presente nestas áreas

e constituindo-se em verdadeira expressão de exclusão e segregação. Em função

do processo de periferização, observa-se no espaço urbano de Santarém expressiva

desigualdade social, pois o centro da cidade, estruturado a partir da década de

1960, concentra a melhor infraestrutura e abriga a população de renda mais

elevada, diferentemente da periferia, carente de infraestrutura e habitado por

população de baixa renda.

Atualmente, a cidade de Santarém apresenta 48 bairros (ver Figura 9), sendo 22

oficializados e o restante passando por legalização, bairros que se espraiam ao

Page 80: Análise do Plano-Processo na Urbanização de Cidades no Baixo ...

80

longo dos três eixos principais de entrada e saída do centro da cidade. A reprodução

de expansão urbana configurou a definição de algumas manchas urbanas. Ao longo

da Cuiabá-Santarém, a mancha atinge a Vila de São José. Na rodovia Curuá-Una, a

urbanização se adensou até a área do planalto Diamantino e pela rodovia Fernando

Guilhon, até a Vila de São Braz, em direção à Vila de Alter do Chão. (OLIVEIRA,

2008).

Figura 9: Bairros de Santarém-Pa

Fonte: Prefeitura Municipal de Santarém – Plano Diretor Participativo. 2010.

Concluindo, é sob esta retrospectiva histórica e socio-ambiental que a cidade de

Santarém se constitui atualmente, fruto de diversas ações direcionadas ou não, mas

cujo resultado se faz presente na paisagem e na qualidade de vida das pessoas que

habitam este espaço urbano. Assim, a partir dos diversos aspectos citados neste

capítulo e, ainda, de outros aspectos citados nos capítulos anteriores, fruto de

exaustiva pesquisa bibliográfica sobre o assunto, é que se tem os elementos que

descrevem os fatores de planejamento e desenvolvimento, para inserção na análise

do plano-processo, arcabouço teórico de estudo do município em questão.

Page 81: Análise do Plano-Processo na Urbanização de Cidades no Baixo ...

81

De posse deste entendimento, fruto da pesquisa bibliográfica e da reflexão sobre os

fatos, no capítulo posterior identifica-se os fatores determinantes e críticos do

processo de planejamento de Santarém e, com isso, realizar-se a análise desejada.

Page 82: Análise do Plano-Processo na Urbanização de Cidades no Baixo ...

82

5 ANÁLISE DO PLANO-PROCESSO

Neste capítulo tem-se, finalmente, a análise do plano-processo do município de

Santarém, no Estado do Pará. Partiu-se do modelo conceitual de Lourenço,

apresentado no item 2.1, do Cap. 2 deste trabalho, atendo-se aos fatos e aos dados

de crescimento demográficos, além do histórico de investimentos feitos na região

Amazônica, com incidência específica para o município de Santarém.

Assim, de acordo com o referencial teórico, os fatores determinantes e críticos foram

evidenciados, seguidos de uma síntese analítica do plano-processo para a área de

estudo, destacando-se os fatores-chave contributivos para a situação atual do

planejamento no município.

5.1 Fatores determinantes do Plano-Processo

Os fatores determinantes do plano-processo possuem as seguintes dimensões de

análise, como citado anteriormente, e sintetizado no Quadro 4.

5.1.1 Fatores bio-físicos

Seguindo a ordem do Quadro 4, observou-se os seguintes aspectos:

a) Ocupação do solo

Santarém situa-se em posição estratégica regional, tendo à frente o encontro dos

rios Amazonas e Tapajós, este último percorre o município ao meio. A ocupação do

solo se dá ao longo destes rios, tendo sido historicamente iniciada a ocupação a

partir da frente de encontro dos grandes rios, permanecendo por séculos desta

maneira e, no século passado, adentrou o interior, com movimento fortemente

marcado pela apropriação do território para a exploração econômica dos recursos

naturais.

i) Quanto à Hidrografia, há seis bacias: 1) rio Amazonas, importante pela

navegabilidade e riqueza na variedade e quantidade de pescados como

Page 83: Análise do Plano-Processo na Urbanização de Cidades no Baixo ...

83

pelas terras de várzeas, de elevada fertilidade natural; 2) rio Arapiuns, na

porção oeste, entre as bacias do Tapajós e do Amazonas, abrangendo

28% de todo o território; 3) rio Tapajós, na porção central da região, de sul

para norte, extensão de 132 km, desaguando no Amazonas, em frente à

Santarém; 4) dos rios Moju e Mojuí, tributários da bacia do rio Curuá-Una,

formam a malha hídrica existente da chamada "Região do Planalto",

constituída por inúmeros igarapés e rios de pequeno porte; e 5) rio Curuá-

Una, no extremo oriental, representando 15% de todo o território.

Quadro 4: Fatores determinantes de planos territoriais

Bio-Físicos Técnicos Culturais

Ocupação do solo: fator que pode facilitar a ação.

Propostas de planos: é a ponderação de normas e ações idealizadas, em determinada escala de tempo, destinadas ao desenvolvimento de um território.

Participação pública: é essencial para a transparência do plano-processo; uma forma de garantir o espaço democrático para aceitação ou crítica sobre o que se propõe no planejamento, antes de qualquer tentativa de alteração.

Morfologia/Constituição do solo: a constituição dos solos, além do relevo e da geologia tem significativa determinação em decisões sobre o tipo de construção, o traçado das vias a serem pavimentadas, entre outras.

Indicações viab. técnica-econ.: constituem indicadores como Taxa Interna de Retorno, Play Back, Taxa de Crescimento, entre outros que permitem mensurar o realismo de aplicação das proposta.

Medidas de políticas: representam as vias escolhidas pelos agentes de decisão para o alcance dos fins em geral e objetivos em particular, assim propostos. São importantes, no sentido de orientar, dar coerência e continuidade às formas de atuação. Podem se apresentar de modo mais geral e globalizante; serem orientadoras, regulatórias, distributivas e redistributivas.

Acessibilidades: são catalisadores ou inibidores de urbanização.

Gestão urbanística: constitui o acompanhamento das propostas do plano, traduzida na sua componente de licenciamento. Abrange o modo de administrar os recursos, negociar com os grupos sociais, discutir as prioridades, entre outras ações.

Políticas de solos: são as vias seguidas pelos poderes públicos na função de agentes reguladores e coordenadores do consumo ou utilização do solo, abrangendo ações, normatizações, instrumentos e mecanismos tais como: aquisição, expropriação do solo e os variados mecanismos regulatórios dos processos de planejamento. (legislação sobre o solo e aspectos jurídicos pertinentes à propriedade e utilização /avaliação do solo, gestão fundiária do patrimônio municipal).

Cadastro: é um elemento que pode faltar ou estar presente de maneira demasiada nos planos. No primeiro caso, pode acarretar problemas subseqüentes na implementação do plano; no segundo, diminuir o significado técnico.

Imposição de sanções: – representa a ação e vigilância para o cumprimento de regras estabelecidas no âmbito do Estado de direito. O Ministério Público, os Órgãos Ambientais e as Agências de Regulação possuem relevância em zelar por este fator.

Organização Institucional: representa a instituição de um grupo técnico de acompanhamento das propostas do plano-processo, assim como, a arranjo intersetorial, a cooperação intermunicipal e, eventualmente, associação entre público e privado, originada de parcerias na realização de serviços e investimentos em estrutura física, principalmente aqueles de grande envergadura econômica e relevância social.

Fonte: Extraído e adaptado de LOURENÇO, 2003, p. 225.

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84

i) Vegetação: o município possui diversos tipos de vegetação, que variam

bastante em função dos tipos de solos e da drenagem hídrica. Ocorrem na

porção meridional, ao longo das principais bacias hidrográficas. Em função

de suas características, foi subdividida em Floresta, Cerrado e Várzea,

esta última com ampla ocorrência no extremo norte.

A floresta ocupa a maior porção da vegetação nativa, cobrindo uma

superfície de 16.882 km2, correspondendo a 63,66% da área total do

município. Compreende três grandes grupos:

1) Floresta Densa de Terra Firme: formação típica da região Amazônica,

também conhecida como floresta tropical chuvosa. É caracterizada por

suas grandes árvores, ocorrendo, principalmente, nas porções sul,

sudeste e sudoeste;

2) Floresta Aberta com Cipoal: floresta rala, apresentando poucas

árvores, normalmente envolvidas por cipós, de baixa altura, raramente

ultrapassando 20 m. Este tipo de floresta concentra-se na parte centro sul,

ao longo da rodovia BR-163;

3) Floresta Aberta com Palmeiras: a formação mista de palmeiras e de

árvores latifoliadas bem espaçadas, de altura bastante irregular (entre 10

a 25m), com maior concentração a nordeste e pequena porção no centro

do Município. As áreas de floresta apresentam interesse relevante para a

economia do município, notadamente àquelas da Floresta Densa de Terra

Firme e Floresta Aberta com cipoal, pela presença de madeiras de alto

valor comercial.

A várzea, localizada na porção setentrional, está submetida

temporariamente às inundações do rio Amazonas e seus afluentes,

formados pela justaposição de ilhas, diques marginais, cordões fluviais

etc.

Page 85: Análise do Plano-Processo na Urbanização de Cidades no Baixo ...

85

ii) Urbanização: na década de 1980, verificou-se um acelerado processo de

expansão urbana em Santarém, acompanhando a orientação dos eixos

das rodovias Santarém-Curuá-Una, Cuiabá-Santarém e Av. Fernando

Guilhon (Santarém-Aeroporto). Esta expansão tem assumido grandes

proporções, verificando-se, portanto, o espraiamento de sua periferia nas

direções Sul (Cuiabá-Santarém e Santarém-Curuá-Una) e Sudoeste

(Fernando Guilhon).

Até ao final da década de 1970, a expansão urbana de Santarém só se

orientava no sentido Sul, em virtude dos igarapés (denominação a

pequenos rios na Amazônia) do Urumary, a Leste e o do Irurá/Mapiri, a

oeste servirem de obstáculos naturais para seu crescimento urbano.

Somente na década de 1980, que estes igarapés foram ultrapassados,

dando possibilidade ao surgimento de vários bairros, no sentido leste. Na

direção oeste, foi grande o número de bairros que surgiram em virtude do

aterramento do Igarapé do Irurá, realizado para interligar o novo aeroporto

ao centro do município.

Portanto, nas décadas de 1980 e 1990, a expansão se adensou,

incentivada pela intensa migração das áreas rurais para a cidade,

estimulada fortemente pela introdução da cultura da soja, especialmente

na década de 1990. Deve-se ressaltar, ainda, que a corrida do ouro aos

garimpos do Tapajós, principalmente, entre 1980 e 1990, contribuiu,

sobremaneira, para o “inchaço” urbano de Santarém, visto que esta

cidade funcionou como um centro distribuidor de produtos para os

garimpos e quando estes entraram em crise, o refluxo de pessoas que se

dirigiram para a cidade foi considerável. Na Figura 10 encontra-se o mapa

de expansão urbana de Santarém de 1940 até 2002 (RAMOS, 2004).

b) Morfologia e constituição do solo

A área do município é predominantemente ocupada por floresta e superfícies

hídricas.

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86

Figura 10: Mapa da Expansão Urbana de Santarém de 1940 a 2002 Fonte: Extraído e adaptado de RAMOS, 2004.

i) Geologia: o município de Santarém apresenta estrutura geológica

característica da mesorregião do Baixo Amazonas, recebendo influencia

na sua formação original da bacia sedimentar amazônica, determinando a

presença de terrenos terciários de Formação Barreira, que abrange a

maior parte do terreno do município e terrenos sedimentares expostos do

Quaternário Antigo e Recente. Isto significa oportunidades para diversos

usos do solo e a existências de riquezas naturais e minerais de grande

diversificação, também, tornando-se solo próspero para atividades

primárias e minerais.

ii) Morfologia: o relevo do município de Santarém é diversificado e apresenta

áreas de várzeas, terraços, praias fluviais, tabuleiros, baixas colinas,

planaltos tabulares e algumas pequenas serras, com elevações de até 150

metros de altitude.

c) Acessibilidade

Na Amazônia o que propiciou, inicialmente, a sua acessibilidade foi a existência de

numerosos rios, sendo possível a navegação em todo território. Porém, para

colaborar com a acessibilidade regional foram construídas no século passado

rodovias, que juntamente com os rios formaram uma rede viária decisiva para a

2002

1977

1950

1940

Rio Amazonas

Rio Tapajós

river

Mapa da Evolução Urbana, anos

Page 87: Análise do Plano-Processo na Urbanização de Cidades no Baixo ...

87

ocupação regional, tendo a construção e modernização de terminais de transportes

como fator de integração modal.

i) As grandes rodovias: a abertura das grandes rodovias alterou o padrão de

circulação e ocupação do espaço, antes dendrítico, vinculado aos rios da

região, fato que denotava uma realidade ribeirinha como característica

principal das cidades amazônicas. Ressaltam-se as rodovias federais BR-

163, BR-230 e BR-210 e as rodovias estaduais PA-254, PA-255/423, PA-

257, PA-457 e PA-370. A abertura das rodovias concretizou a necessidade

de interligação do espaço amazônico às outras regiões brasileiras, a

exemplo da BR-163 (Cuiabá-Santarém), que foi planejada para abranger

uma área de 1000 km: de Santarém até o Estado do Mato Grosso.

ii) O porto e aeroporto de Santarém, obras que favoreceram a intensificação

comercial de Santarém e demais municípios do Baixo Amazonas com o

comércio nacional e internacional.

d) Cadastro

Os dados cadastrais sobre a região amazônica começaram a serem produzidos a

partir da década de 1960, com a criação da Superintendência para o

Desenvolvimento da Amazônia (SUDAM) e a realização de outros estudos

governamentais, fruto do período dos governos militares, por conta de uma

geopolítica de apropriação do território. Porém, especificamente, para o município de

Santarém há um importante estudo da Companhia de Pesquisas de Recursos de

Pesquisas Minerais na década de 1990 e, ainda, nesta década tem-se as propostas

de eixo de integração e desenvolvimento nacional.

Tais estudos evidenciaram indicadores e caracterizações geológicas, geográficas e

de recursos minerais sobre o município que serviram para o início dos trabalhos de

planejamento do desenvolvimento municipal de Santarém. O cadastro municipal

ocorre efetivamente por conta do Plano Diretor Municipal nesta década. Assim,

pode-se dizer que a formação de cadastro é algo recente em Santarém. Vale

Page 88: Análise do Plano-Processo na Urbanização de Cidades no Baixo ...

88

destacar que, até a época do Plano Diretor do Município, a maioria dos bairros

estavam na ilegalidade do ponto de vista fundiário.

Na atualidade, Santarém, a exemplo de outras cidades está passando por vários

problemas de ordem ambiental. Em seu entorno parte da cobertura vegetal foi

devastada para a implantação de fazendas e áreas de ocupação informal.

Recentemente, o avanço da soja constitui uma ameaça às áreas florestais. Essa

situação amplia as perspectivas de assoreamento do rio Tapajós, o qual também é

afetado pelo despejo de esgoto doméstico e gerado pelas atividades econômicas,

provocando a contaminação das águas.

A questão ambiental em Santarém ganha proporções maiores porque o

planejamento urbano pouco tem se emprenhado em realizar projetos para minimizar

os impactos ambientais. A proposta de tratar o esgoto despejado na frente da cidade

no âmbito do PAC, a partir de investimentos, é uma iniciativa louvável no sentido de

mudar um pouco esse quadro, mas existem outros problemas que precisam ser

olhados com mais atenção, a exemplo do tratamento do lixo urbano, da poluição

atmosférica e do uso de pesticidas nas atividades agrícolas próximos aos

mananciais hídricos.

5.1.2 Fatores de fundamentação técnica

Como fatores de fundamentação técnica foram observados:

a) Propostas de planos

Os planos na região vieram a ocorrer recentemente, no século passado, por conta

desenvolvimento e a valorização das terras amazônicas. O governo brasileiro criou

em 1953 a Superintendência do Plano de Valorização Econômica da Amazônia

(SPVEA), cujo objetivo principal estava assentado na elaboração de planos para a

valorização econômica da região, fato que desencadeou profundas transformações

no espaço geográfico amazônico, a partir da apropriação, pelos grandes

empresários, de riquezas regionais. Os principais elementos das políticas públicas

que impulsionaram a ocupação da Amazônia neste período foram:

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89

i) Criação do Plano de Integração Nacional (1970), que em seu bojo trouxe a

criação do INCRA, a construção das rodovias Transamazônica - BR-230,

juntamente com os projetos de colonização;

ii) Transformação em 1966 da SPVEA em SUDAM e a criação do Banco da

Amazônia que foram determinantes para a atuação capitalista na região,

pois, eram facilitadoras de financiamentos para implantação de diversos

projetos, abertura de grandes rodovias Belém-Brasília – BR -153/010 e

Cuiaba-Santarém – BR-163;

iii) Criação do POLOAMAZÔNIA (1974) e da SUFRAMA que viabilizaram o

“desenvolvimento em áreas específicas do espaço amazônico.

A atuação do estado desenvolvimentista com investimentos, em abertura de

rodovias implantação de núcleos de povoamento, a exemplo das rurópolis, agrópolis

e agrovilas, foi determinante para estimular a mobilidade de migrantes em direção as

novas fronteiras de povoamento no espaço amazônico, ao longo das grandes

rodovias.

Na segunda metade da década de 1990, já findado o período de dominação militar

no Brasil, e apoiado na Constituição de 1988, o planejamento urbano na Amazônia

passou a ter em sua dinâmica novos investimentos, agora atrelados a novos

programas e planos de desenvolvimento que em graus diferenciados atuaram e

atuam sobre a realidade territorial amazônica.

No novo modelo de planejamento para a Amazônia tem-se os seguintes programas:

1. Programa Brasil em Ação - Plano Plurianual (PPA, 1995-1999).

2. Programa Avança Brasil- Plano Plurianual (PPA, 2000-2003).

3. Programa Brasil de Todos - Plano Plurianual (PPA, 2004-2007).

4. Programa de Aceleração do Crescimento - PAC.

Essa nova estratégia pensada para a Amazônia se manifestou no lançamento dos

Programas Brasil em Ação e Avança Brasil, que traziam em destaque a criação de

Page 90: Análise do Plano-Processo na Urbanização de Cidades no Baixo ...

90

eixos de desenvolvimento atrelados à necessidade de integração nacional e

internacional. Tais eixos teriam como funções principais: reduzir dos custos de

transportes, dinamizar o acesso e ampliar a capacidade de competição dos sistemas

econômicos regionais. Também, estavam previstos os investimentos:

i) Recuperação das BR-164 (Brasilia-Acre), BR-163 (Cuiabá-Santarém) e

asfaltamento da BR-174 (Manaus-Boa Vista).

ii) Implantação das hidrovias Araguaia-Tocantins e Madeira.

iii) Construção do Gasoduto do Urucu e a implantação da linha de alta tensão

conectando Tucuruí a Altamira e Itaituba.

Seguindo a lógica dos programas anteriores, os programas da década de 2000,

Brasil de Todos (PPA 2004-2007) e o Plano de Aceleração do Crescimento (PAC -

atual) trouxeram em seu bojo a proposta de eliminar os obstáculos a capacidade de

obtenção de divisas ampliando o saldo de balança comercial e desencadear a

capitalização do processo produtivo e, ainda, de dar prosseguindo com as políticas

de eixos de integração e desenvolvimento no espaço amazônico, como forma de

dinamizar o desenvolvimento regional (investimentos previstos na Hidrovia do Rio

Madeira, Hidroelétrica de Belo Monte e o Gasoduto Urucu-Porto Velho),

respectivamente. Vale ressaltar que, para Santarém todas as obras assinaladas há

relação de vizinhança direta com o seu território.

b) Indicações de viabilidade técnica e econômica

Os planos sempre se mantiveram com indicações gerais de viabilidade técnica e

econômica, não alcançando especificamente o município, logo, pode-se considerar

que estas indicações de fato não eram para Santarém.

c) Gestão Urbanística

Os indícios de preocupação coma gestão urbanística é recente em Santarém, algo

deste início de século. O próprio município não apresenta capacidade institucional

Page 91: Análise do Plano-Processo na Urbanização de Cidades no Baixo ...

91

adequada para a realidade urbana que se apresenta, sem estrutura institucional

claramente definida e fortalecida por mecanismos capazes de se converter em

instrumentos capazes de conduzir o processo regulatório e normativo de controle

urbanístico. Logo, pode-se afirmar que a gestão urbanística não existiu de fato.

d) Imposição de sanções

Por motivos já expostos no item anterior, pode-se dizer que dificilmente se consegue

impor sanções no âmbito do sítio urbano do município, porém, no âmbito rural

municipal, os órgãos governamentais em nível de Estadual e Federal se encontram

bastante presentes na gestão do território, principalmente, na questão ambiental.

5.1.3 Fatores de ordem cultural

Tais fatores podem ser considerados como os mais evidenciados nas

discussões sobre planejamento e desenvolvimento na região, sendo aqueles de

maior necessidade de investidura técnica, social e política.

a) Participação pública

A participação pública dos diversos atores urbanos nos processos decisórios de

planejamento da cidade é algo recente, dos últimos governos presidenciais,

marcada pela participação da população no Plano Diretor do município.

b) Medidas de política ou políticas

O município ainda carece de políticas públicas tanto de modo mais geral e

globalizante; de serem orientadoras, regulatórias, distributivas e redistributivas.

Pode-se dizer que, atualmente, as políticas urbanas atingem de maneira ainda muito

incipiente a população urbana.

c) Políticas de Solos

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92

De maneira semelhante ao que ocorre com a escassez de medidas de políticas

públicas, os poderes públicos, na função de agentes reguladores e coordenadores

do consumo ou utilização do solo, ainda, necessitam empreender ações,

normatizações, instrumentos e mecanismos de controle do uso e ocupação do solo

em Santarém, fato que é confirmado por Leão e Oliveira (2010) quando afirmam que

a expansão urbana de Santarém “(....) não foi acompanhada por um real

planejamento, dando origem a ocupações irregulares(....) com profunda carência de

infraestrutura, seja de equipamentos urbanos, seja de saneamento.”

d) Organização Institucional

Este fator é determinante em relação aos citados anteriormente quanto à ordem

cultural, pois a organização institucional das propostas do plano-processo, assim

como, o arranjo intersetorial, a cooperação intermunicipal e, eventualmente,

associação entre público e privado, originada de parcerias na realização de serviços

e em investimentos em estrutura física, principalmente aqueles de grande

envergadura econômica e relevância social é praticamente inexistente, existindo

apenas iniciativas isoladas por parte da Prefeitura da cidade.

5.2 Fatores críticos do Plano-Processo

Conceitualmente, como dito no Capítulo 2, os fatores considerados críticos no Plano-

Processo são a persistência no desígnio e a percepção das inovações (LOURENÇO,

2003). A persistência no desígnio trata-se de um fator vital para a execução de

qualquer processo, quer tenha como objetivo o plano das idéias ou da ação, estando

diretamente relacionado ao empenhamento político e a aceitação cultural. A

percepção das inovações é o fator crítico do plano-processo, que se traduz na

capacidade de perceber onde se deseja e como se pode inovar para marcar a

diferença entre o êxito de um plano-processo ou da urbanização de uma zona.

Portanto, apresenta-se como o fator que permite, principalmente, em situações de

excepcionalidade, perceber as diferenças entre uma rotina que já não estará apta a

fazer avançar o processo e uma nova forma de conceber o existente ou

operacionalizar o proposto, promovendo a aceitação técnica.

Page 93: Análise do Plano-Processo na Urbanização de Cidades no Baixo ...

93

Na leitura do processo de expansão da área urbana que se desenvolveu em

Santarém-PA, observou-se tanto persistência de desígnio, quanto das inovações. Há

relevância a partir da segunda metade do século passado, destacando-se nessa

dinâmica temporal uma continuidade no melhoramento de equipamentos urbanos

pertinentes, principalmente, nos fatores ligados à acessibilidade, favorecendo com

isso a interrelação entre desenvolvimento econômico e qualidade de vida que,

apesar dos esforços do poderes federais, estaduais e municipal, se desenvolveu de

forma precária não conseguindo atingir satisfatoriamente nem as necessidades

econômicas do município, tampouco, os anseios da população.

5.2.1 A Persistência no desígnio.

O processo que ora se desenvolve no município de Santarém-PA, originou-se,

principalmente, das ações do governo brasileiro na Amazônia, que viu em Santarém

elementos suficientes, a exemplo da localização estratégica privilegiada, na

extremidade norte da rodovia BR-163, que vem do Centro-Oeste do país, área

grande produtora de grãos em especial de soja.

Em outra frente de posição estratégica, adentra no sentido Norte, Leste a Oeste na

imensidão amazônica, nova área de expansão da fronteira econômica e na

confluência dos rios Amazonas e Tapajós, fato que favoreceu o desenvolvimento de

atividades portuárias, que são de extrema relevância para os interesses do Estado

brasileiro, na preservação da soberania nacional e para a concretização de suas

estratégias de ocupação e dominação do espaço amazônico. É nesse contexto, que

seqüencialmente, desde o período de dominação militar no Brasil até o momento

atual, vários planos de desenvolvimento econômico e territorial foram criados

atingindo de forma direta e indireta o município de Santarém.

5.2.2. Percepção das Inovações

Destacam-se os seguintes aspectos:

a) Avaliação de Planos

Page 94: Análise do Plano-Processo na Urbanização de Cidades no Baixo ...

94

A avaliação de planos é algo novo para a realidade das políticas públicas de

planejamento territorial no Brasil, surgindo no início dos anos de 1990, apoiados na

Constituição de 1988, com a obrigatoriedade de acompanhamento e avaliação de

planos, fato que se mostrou primeiramente nos planos plurianuais: Plano Plurianual

(PPA, 1995 - 1999), Plano Plurianual (PPA, 2000-2003), Plano Plurianual (PPA,

2004-2007), Programa de Aceleração do Crescimento – PAC.

b) Descentralização da Administração

Desde o período de dominação militar até o inicio da década de 90 do século

passado todas as decisões sobre a dinâmica de desenvolvimento, principalmente,

na Amazônia esteve atrelada e subordinada às mãos do governo federal, que

determinava todas as estratégias a serem desenvolvidas para efetivação de sua

dominação e ocupação do espaço Amazônico. Para tanto as políticas de

planejamento territorial se fizeram através da criação de diversos planos de

desenvolvimento.

No início dos anos de 1990 essa dinâmica de administração é alterada, em virtude

da Constituição de 1988 que proporcionou a abertura democrática no país e que

criou em 2001 o Estatuto da Cidade, dando poderes aos municípios para aprimorar

a realidade da administração e controlar e direcionar melhor as verbas públicas, fato

que está associado à obrigatoriedade para municípios com mais de 20.000

habitantes da criação de um Plano Diretor Municipal. Em Santarém, o Plano Diretor

Municipal foi criado em 2006, já prevendo investimentos do PAC (Programa de

Aceleração do Crescimento) para a primeira etapa do sistema de esgotamento

sanitário na área central da cidade, na ordem de R$ 31,6 milhões e R$ 45,9 milhões

em urbanização dos assentamentos dos bairros do Mapiri e Uruará, além de outras

obras ao encargo dos governos Federal e Estadual (HOLANDA, 2010).

c) Participação Popular

Em 2005, quando do início da elaboração do Plano Diretor de Santarém, a Prefeitura

do município propôs que os movimentos sociais participassem das discussões,

primeiramente, sobre a formação das agendas de discussão sobre os principais

Page 95: Análise do Plano-Processo na Urbanização de Cidades no Baixo ...

95

pontos necessários para que o Plano Diretor fosse o indutor de desenvolvimento e

que o mesmo se materializasse nos principais anseios da sociedade quanto às

melhorias dos equipamentos urbanos.

Apesar das inovações, com a possibilidade de grande participação popular, os

movimentos sociais questionam que o processo não ocorreu de forma transparente

e que vários dos encontros programados não ocorreram, fato que alijou do processo

diversas comunidades, que excluídas, não tiveram como expressar suas ansiedades

(HOLANDA, 2010).

Os questionamentos das comunidades sobre a forma de como ocorreram as

discussões sobre o desenvolvimento do Plano Diretor de Santarém e como o mesmo

foi aprovado ocasionou, no final de 2007, uma sessão na Câmara de Vereadores, na

qual foram discutidos vários pontos sobre as diretrizes urbanísticas do Plano Diretor

que foi aprovado em 2006. Nesta sessão, os vereadores do município prorrogaram

em 24 meses o prazo limite para implementação da legislação urbanística, fazendo

valer discussões com as comunidades locais. Dentre os resultados destas

discussões, tem-se o Projeto de Lei de Parcelamento do Solo Urbano, Código de

Obras e Código de Postura.

5.3 Síntese analítica do Plano-Processo

Na análise retrospectiva dos acontecimentos relativos ao processo de urbanização

de Santarém, bem como, em sua dinâmica de expansão urbana, foi possível

perceber que a cidade de Santarém foi influenciada direta ou indiretamente por

todos os planos de desenvolvimento territorial propostos nas políticas territoriais de

ocupação do espaço Amazônico, desde a segunda metade do século passado.

Neste sentido, pode-se considerar a existência do plano-processo em Santarém com

início da segunda metade do século XX, momento de implantação de grandes obras

de infraestruturas na cidade, concomitantes com os planos criados para o

dinamismo econômico regional e que foram de significativa importância para o

desenvolvimento urbano, merecendo destaque a construção do porto de Santarém,

Page 96: Análise do Plano-Processo na Urbanização de Cidades no Baixo ...

96

a abertura das grandes rodovias e o aeroporto, que contribuíram para a ampliação

da área urbana e da acessibilidade.

Todo o processo foi vivenciado em diferentes momentos, saindo da beira do rio e

adentrando a cidade em direção ao interior, mostrando-se em períodos retratados na

Figura 10, no primeiro momento até 1940; segundo momento de 1941-1950; terceiro

momento de 1951-1977 e, por último, de 1978-2002, ampliando o traçado inicial das

vias de circulação e a forma de utilização do solo com um processo de ocupação

desordenado e desenfreado e não acompanhado, inicialmente, pelo poder

municipal.

Até a segunda metade da década de 1980, notou-se ausência de atuação dos

poderes municipais e estaduais, pois as decisões, bem como, os planos criados para

o espaço amazônico eram aprovados e implantados sob a tutela de poder na Esfera

Federal, logo, todos direcionados para as políticas de integração nacional. Neste

sentido, entende-se que os planos, apesar de afetar a dinâmica territorial urbana,

econômica e demográfica de diversas cidades amazônicas, não eram específicos

para nenhuma delas, fato que, no entanto, não impedia o direcionamento de

investimentos e ações para áreas de interesses estratégicos ou pela localização ou

pela presença de recursos naturais no território, que de alguma forma pudesse dar

retorno as iniciativas de integração da Amazônia à dinâmica nacional e internacional.

Nessa premissa, o que se observa é que não houve uma política voltada para se

criar um planejamento que atendesse a realidade local, uma vez que não foram

observadas as especificidades e necessidades dos municípios da região, somente

se pensou nas políticas federais de ocupação. No caso de Santarém, apesar de ter

crescido economicamente e expandido a sua forma urbana, os diversos planos

voltados para a região não impediram o surgimento ou ampliação de seus maiores

serviços públicos básicos e o crescimento desordenado, com áreas de ocupação

irregulares que desencadearam outras demandas ao poder público tais como

aqueles relacionados ao meio ambiente e as carências populacionais por novos

serviços e habitação, pavimentação de vias de circulação, saneamento, dentre

outros, fatos que são relevantes e merecem destaque nos fatores determinantes e

críticos na análise do plano-processo deste município.

Page 97: Análise do Plano-Processo na Urbanização de Cidades no Baixo ...

97

Os ciclos de planejamento no espaço amazônico e, por sua vez, de Santarém

sofreram várias interrupções que são reveladas nas sucessões de governo, próprias

jogo de interesses vinculados às políticas territoriais na região, muitas vezes sem

terem suas ações iniciadas e/ou complementadas, sendo algo muito comum nas

políticas publicas brasileiras. Outrossim, enquanto a vivencia aumenta relativamente,

pois, é referendada pela qualidade de vida e pelas atratividades presentes em

Santarém, cada vez mais novos interesses econômicos surgem a partir de seu

potencial, ainda pouco explorado.

Em suma, pode-se inferir, a partir do histórico de planejamento e de materializações

das ações no espaço urbano em questão, que pela teoria do Plano-Processo o ciclo

de vida do planejamento em Santarém se comportaria de maneira semelhante à

apresentada no Gráfico 7.

Gráfico 7: Plano-Processo em Santarém-Pa

Fonte: Autor

O gráfico representa esquematicamente, diante da análise do Plano-Processo de

Santarém, as dimensões dos ciclos de vida (IC) do planejamento urbano do

município. Neste sentido a análise se dá em função de três níveis de intensidade (III

- elevada, II – médio e I - reduzida), sendo aplicadas ao Planejamento, às Ações e à

Vivência.

Page 98: Análise do Plano-Processo na Urbanização de Cidades no Baixo ...

98

Como se pode observar no Gráfico 7, a curva de planejamento é decrescente

porque à medida que novos planos são elaborados e implementados o planejamento

vai perdendo intensidade, fato que desencadeia a ascendência da curva das ações,

pois, existe uma relação de proporcionalidade inversa entre as duas curvas.

A Curva de planejamento iniciou-se na década de 1950, quando o governo brasileiro

direciona suas atenções para o espaço Amazônico, criando planos, fato que

influencia diretamente Santarém, como visto nos fatores determinantes e críticos do

Plano Processo, perdurando até a segunda metade da década de 1980, período

predominante de atuação dos governos militares no Brasil, fato que denota o

encerramento de um ciclo de planejamento para Amazônia e Santarém.

A estagnação, a partir da segunda metade da década de 80, explicitada na curva de

planejamento do Gráfico 7 é explicada pelo fato do país ter entrado em crise

econômica, e a transição do regime militar para a abertura democrática foi

acompanhada pelo problema inflacionário, o qual dificultou a continuidade do

planejamento na Amazônia. A descrição da retomada do planejamento a partir da

década de 1990, por meio da curva de cor verde, é explicada pelo início de um novo

ciclo de planos, como o Programa Brasil em Ação (1995-1999), seguido do

Programa Avança Brasil (2000-2003), Programa Brasil de Todos (2004-2007) e mais

recentemente o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).

Quanto às ações, caracterizada pela linha tracejada de cor vinho, observou-se

ascendência, pois, no período de 1950 a meados da década de 1980 os

investimentos e as obras implementadas pelo governo federal através da SPVEA e,

posteriormente, pela SUDAM, como a abertura de grandes rodovias - a exemplo da

BR-163, foram determinantes para a integração da Amazônia e Santarém à

dinâmica nacional.

Em razão da crise econômica na década de 80 houve uma ruptura dos

investimentos, consequentemente, as ações foram paralisadas de 1985 até 1995,

quando começaram a ser construídas novos eixos rodoviários e hidrovias,

prosseguindo até os dias atuais com o PAC e outras inversões realizadas pelos

governos estadual e municipal.

Page 99: Análise do Plano-Processo na Urbanização de Cidades no Baixo ...

99

A curva de vivência, representada pela linha pontilhada em cor azul é observada,

também, de forma ascendente, pois, com as políticas de planejamento e as ações

que integraram a realidade amazônica às outras regiões brasileiras, proporcionou

incremento crescente de população na região e, em Santarém. Embora tenha

ocorrido estagnação no planejamento e nas ações a ele relacionadas na segunda

metade da década de 1980, a vivência na região, em particular em Santarém não

parou, continuou sua dinâmica. Entre 1980 e 1990 experimentou grande expansão

devido a migração de pessoas das áreas rurais para a cidade. Além disso, houve a

corrida do ouro nos garimpos do Tapajós.

É importante frisar que nos anos 90, após a estagnação da segunda metade dos 80,

tem-se a emergência no espaço Amazônico de um novo ciclo de planos, atrelados a

criação por parte do Governo Federal dos Planos Plurianuais e do PAC que se

fazem presente influenciando, diretamente, a diminuição da intensidade do

planejamento, materializada nas obras de infraestrutura já implementadas ou em

fase de implantação, fato que altera dinâmica regional, impulsionando a curva das

ações representada pela cor vinho no Gráfico 7 do Plano-Processo de Santarém,

enquanto que a curva da vivência representada pelo pontilhado azul continua em

constante crescimento, pois, retrata o incremento demográfico no município.

Em suma, o Plano-Processo abrange vários fatores: bio-físicos, de fundamentação

técnica, de ordem cultural, críticos, porque se trata de um processo dinâmico e

complexo, o qual possui peculiaridades conforme a formação social, econômica e

histórica do lugar, município, cidade, região ou país. O caso de Santarém é um

exemplo, por estar na Amazônia a maioria dos planos terem sido elaborados e

implementados pela esfera federal. Por outro lado, fatos como a corrida do ouro e o

crescimento da ocupação urbana demonstram realidades peculiares com as quais o

Plano-Processo precisa contemplar e incluir como variáveis. As mudanças nos

regimes políticos, as crises econômicas, o surgimento de novas oportunidades de

negócio, os efeitos dos investimentos realizados em infraestrutura, tudo interfere na

dinâmica do planejamento e cria a necessidade de rever diretrizes, estratégias,

linhas de ação e metas.

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100

6 CONCLUSÃO

As transformações na dinâmica geográfica influenciam o planejamento urbano e,

assim, teorias como a do Plano-Processo ganham importância por representar a

alternativa de se avaliar o ato de planejar por meio de processos contínuos de

retroalimentação, ou seja, do feed-back entre o planejado, executado e as

mudanças verificadas na realidade.

Como se teve oportunidade de refletir neste trabalho, o planejamento urbano na

perspectiva do plano-processo considera a complexidade do processo de decisão,

ao reconhecer as distintas dimensões atinentes à dinâmica da realidade urbana:

econômica, social, política, cultural e ambiental. Por isso, o planejador necessita se

orientar por uma visão holística, especialmente, porque o plano não é algo estático,

para ter proximidade com o real necessita ser flexível, acompanhar a evolução do

espaço-tempo, prever mecanismos de ajuste, ser monitorado e avaliado

permanente.

Essa visão holística é indispensável para o caso das estruturas urbanas no Brasil, as

quais apresentam três características espaciais básicas: o ritmo da urbanização; o

nível de adensamento da rede de cidades; e o grau de complementaridade entre os

centros urbanos que as compõem. Por outro lado, a complexidade da realidade

urbana abrange diversos fatores de ordem social, os níveis de desenvolvimento

humano alcançados pelos habitantes dos centros urbanos, expressos nos

indicadores de renda, alfabetização e acesso aos serviços urbanos básicos, a

cultura, a economia regional e local, as características peculiares do lugar, as

necessidades de transporte, o nível de educação ambiental; enfim, há uma

variedade de elementos cuja significância não pode ser menosprezada.

Para a análise de sistemas complexos, a teoria do plano-processo incorpora a

complexidade analítica a partir da análise de fatores determinantes e críticos, sendo

que os determinantes são obtidos em função de três pilares básicos para sua

continuidade no tempo, a saber: o empenho político, a capacidade técnica e a

aceitação cultural. É um tipo de planejamento por meio do qual são considerados

fatores-chave, subdivididos em fatores de ordem física, fatores de fundamentação

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101

técnica e fatores de ordem cultural. Todos estão articulados entre si em razão do

caráter sistêmico da dinâmica urbana.

Na elaboração e execução de um plano processo, também, se deve levar em conta

dois fatores críticos: a persistência no desígnio, vinculado diretamente com o

empenho político e a aceitação cultural e a percepção das inovações, ou seja, a

ação de perceber a distinção entre uma rotina desvinculada da finalidade de fazer

avançar o processo e uma nova forma de conceber a realidade.

O plano-processo, também, em sua abordagem analítica, busca consonância com a

legislação urbana, cujo teor defende a promoção da qualidade de vida da população

e a definição de planos e programas destinados a priorizar as necessidades

essenciais da população, principalmente, aquela que é marginalizada e excluída das

cidades; associada, em harmonia, com as normas constitucionais norteadoras da

política urbana, com o sistema internacional de proteção dos direitos humanos e o

princípio internacional do desenvolvimento sustentável.

Todavia, o sucesso do planejamento, na perspectiva do plano-processo, pressupõe

a ampliação da participação pública e competência das estruturas organizacionais.

Infelizmente, no Brasil essas duas condições ainda deixam muito a desejar. O baixo

grau de instrução, o desconhecimento da necessidade de participar, a falta de

canais democráticos reais e a fragilidade das instituições públicas constituem

obstáculos a serem superados para se solidificar a transparência e uma efetiva

participação da maioria social nas decisões. Por isso, raramente se constata os

setores menos favorecidos participarem das prioridades do orçamento urbano e da

definição de estratégias nas políticas urbanas.

A participação popular, juntamente, com outros fatores é considerada no modelo

proposto por Lourenço para o desenvolvimento do plano-processo e representada

como um importante vetor para fazer um planejamento urbano vinculado às

necessidades da população local. Essa visão tem razão de ser porque é no espaço

da cidade que as pessoas vivenciam os problemas da urbanização e podem prestar

informações relevantes para o processo de decisão.

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102

O plano-processo, também, abrange um processo avaliativo em razão da

necessidade de acompanhar e monitorar sua articulação com a dinâmica urbana, a

qual se altera no tempo e no espaço, principalmente, porque o planejamento urbano

não é visto apenas no curto prazo, mas também no médio e longo prazo, surgindo

na temporalidade e espacialidade mudanças econômicas, sociais, culturais e

políticas.

Entende-se que além dos fatores já evidenciados, a proposta de desenvolver uma

análise do plano-processo para qualquer cidade amazônica requer considerar a

história da urbanização na Amazônia, a qual começou sua formação hierarquizando

cidades, sobretudo, a partir do ciclo da borracha. Essas condições influenciaram o

direcionamento de investimentos e políticas para os centros mais importantes:

Belém e Manaus, deixando em segundo plano cidades de menor expressividade

regional, situação ainda predominante no cenário regional e nacional.

Após a decadência da economia gomífera, o Estado desenvolveu um importante

papel no povoamento e na valorização das terras amazônicas, principalmente,

através dos planos de desenvolvimento vinculados a Doutrina de Segurança

Nacional. Esse fato histórico contribuiu para afastar a participação da população

regional no planejamento territorial, o qual foi imposto pela tecnocracia do regime

militar.

O projeto de desenvolvimento regional proposto pelos militares era ancorado no

crescimento econômico, na promoção da segurança nacional e na valorização

econômica da Amazônia, ou seja, integrá-la aos interesses do capitalismo nacional e

internacional. Sendo assim, não havia qualquer intenção de sustentabilidade,

participação, transparência. Nesse contexto, ao urbano era dada a função de

garantir a ocupação territorial, sem qualquer preocupação com a qualidade de vida e

o bem-estar da sociedade local.

A fronteira urbana começou a se expandir sob a lógica militarista do autoritarismo,

fortemente determinada pelo controle estatal sem qualquer feição democrática.

Ademais, vinculou-se aos programas de incentivo à imigração, os quais não previam

infra-estrutura urbana adequada para receber o contingente, contribuindo para criar

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103

nas cidades áreas sem saneamento básico e outros serviços essenciais. Essa

situação tendeu a piorar quando os grandes projetos minerais chegaram à

Amazônia, atraindo um êxodo demográfico maior e criação de núcleos urbanos sem

qualquer tipo de planejamento urbano.

Santarém experimentou esse crescimento demográfico, sobretudo como reflexo da

garimpagem, atividade realizada por imigrantes nordestinos, que após a exaustão da

atividade, geralmente, fixam habitação nos arredores das cidades em áreas de

ocupação informal, acontecimentos observados, posteriormente com a cultura da

soja que atraiu para a cidade número significativo de mão-de-obra, principalmente

de sulistas para trabalhar nas diversas atividades proporcionadas pelo produto.

Como foi possível identificar por meio de dados no Capitulo 3 deste trabalho, que a

população total do município cresceu 53,56% de 1980 até 2010.

Todavia, essa expansão não contou com a realização de um planejamento urbano

capaz de garantir qualidade vida e bem-estar a toda a população residente. A

maioria das obras implantadas ainda no período militar não surtiram um impacto

expressivo para o desenvolvimento urbano e regional, muitas ficaram inacabadas,

outras, a exemplo do porto de Santarém tiveram sua funcionalidade comprometida

devido a não pavimentação das estradas.

Os fatos atinentes ao que aconteceu em Santarém demonstraram como o

planejamento territorial deixou a desejar quanto à integração de distintos elementos

da infraestrutura. Mas, um fato marcou a importância da participação da população

local na definição de diretrizes, estratégias e linhas de ação para o desenvolvimento

e meio ambiente urbano, por exigência do Governo Federal no PDU de Santarém. A

intensificação do processo de periferização originou bairros sem critérios claros de

demarcação, os quais necessitaram de delimitação. A tentativa de delimitação por

parte da Prefeitura foi questionada pelos moradores, os quais participaram de

sessões na Câmara Municipal, no final de 2007, para argumentar que as

demarcações não correspondiam à realidade de seus bairros. Ou seja, o sentimento

de pertencimento dos moradores os impulsionou a participar do planejamento

urbano e, a partir dessa ação, retardar o projeto de regulamentação dos bairros de

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104

Santarém, constituindo um avanço na gestão municipal, antes orientada apenas pela

visão dos técnicos.

Na atualidade, Santarém vivência alterações em sua dinâmica urbana influenciada

pela nova fronteira agrícola e ou econômica, atrelada à produção de soja no

município e no estado de Mato Grosso, pois as vias principais de escoamento são a

rodovia BR -163 e o porto da cidade e o da Cargill. Todavia, como se observou essa

rodovia ainda não está toda pavimentada, e a opção por um revestimento superficial

de vida curta é um aspecto preocupante porque pode inviabilizar a continuidade do

fluxo de produtos escoados e, consequentemente, os benefícios para a economia

local.

Como se teve oportunidade de constatar, esse novo ciclo econômico está atraindo

para Santarém um grande contingente demográfico feito, principalmente, de sulistas

capitalizados e experientes nas atividades agrícolas, os quais investem na

esperança de prosperidade econômica. Tais fatos demonstram como o cenário

regional e local muda com o tempo e exige uma constante adaptação do

planejamento urbano. A própria imigração que antes era para o garimpo, agora

ganha um novo conteúdo, ela é atraída pela expansão da soja em direção a

Santarém. Mas, “velhos fantasmas” continuam a existir nesse contexto, como é o

caso da falta de saneamento básico e infraestrutura adequada no meio urbano.

Agora, porém com outros agravantes, a população é maior, há índices mais

elevados de criminalidade, prostituição e desigualdade, além da sociedade está

sendo afetada pelo mundo globalizado; enfim, são questões às quais o plano-

processo precisa envolver a partir de sua visão sistêmica.

Na proposta analítica de plano-processo é imprescindível planejar investimentos

para reduzir as áreas de periferização. Para isso, os investimentos governamentais,

através de programas, a exemplo do Plano de Aceleração do Crescimento é uma

alternativa, mas não é o bastante. A competência política das autoridades locais e

regionais (persistência do desígnio) precisa ser ampliada no sentido de buscar novas

alternativas para reduzir as desigualdades sociais, econômicas e espaciais em

Santarém.

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105

Um ponto de destacada relevância é ampliar os canais de participação da

população, permitir que ela ajude na definição de prioridades e estratégias. As

audiências públicas, o orçamento participativo, as assembléias de bairro são

algumas das alternativas nesse sentido. Mas, seguindo uma visão holística, eles

precisam ser integrados a outras linhas de ação no plano-processo, como mais

investimentos na educação e atividades de incentivo à participação social.

Foi possível verificar por meio desta dissertação que em Santarém há fatores físicos

subaproveitados, como é o caso das vias fluviais. O poder público precisa envolver

no planejamento territorial o melhor uso dessas vias fluviais não só para o

escoamento da soja, mas também para contribuir com a população ribeirinha no

transporte de pessoas e mercadorias, bem como, para as necessidades alimenticias.

Por outro lado, persiste o problema das rodovias apresentarem trechos intrafegáveis,

situação que necessita de maior atenção por parte das autoridades, dada a

necessidade de adequar a malha viária ao novo ciclo econômico e demográfico.

Nesse sentido, é necessário o planejamento dinamizar a dimensão política,

envolvendo senadores, prefeitos e outros representantes políticos para realizar

pressão e conseguir recursos.

Ao mesmo tempo, é indispensável abranger no plano-processo o controle da

degradação ambiental. A expansão da soja pode levar ao desmatamento de grandes

áreas. Além disso, o crescimento da população urbana em áreas sem saneamento

básico e tratamento de esgoto amplia a possibilidade de contaminação das reservas

hídricas. Nesse sentido, é necessário planejar a adequação das áreas periféricas,

incentivar o manejo florestal, investir em educação ambiental, elaborar o

zoneamento ecológico. Tais ações devem ser prioridades do planejamento e

programadas de maneira integrada.

Embora já tenha a iniciativa de dados cadastrais, é importante ampliar a construção

dos mesmos para subsidiar as tomadas de decisão do plano-processo, haja vista

este prever o acompanhamento e a avaliação. Além de previsão pelo Plano Diretor,

a construção de um banco de dados precisa ser estruturado pelos órgãos de

planejamento e alimentado periodicamente para manter bem informados os gestores

do plano-processo.

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106

Por outro lado, a gestão urbanística necessita ser efetivada mediante o

fortalecimento das instituições locais, para que tenham a capacidade institucional

adequada para a realidade urbana existente e em construção. Não há mecanismos

capazes de conduzir o processo regulatório e normativo de controle urbanístico.

Esse fortalecimento requer recursos financeiros, humanos, materiais e a definição de

uma gestão eficiente e eficaz, pautada na integração entre as diversas organizações

municipais, estaduais e federais, mediante um sistema de comunicação ágil e menos

burocrático.

As carências de serviços de infraestrutura básica precisam ser superadas, até para

que os problemas de mobilidade urbana não afetem tão profundamente a

população, uma vez que atualmente muitas necessidades são supridas em outras

cidades. Para isso, será fundamental abrir espaços democráticos para a população

definir as prioridades, além de articular com órgãos estaduais e municipais a dotação

de infraestruturas que possibilitem a população um atendimento melhor em suas

necessidades básicas de deslocamento.

Na análise do plano-processo, vislumbra-se inúmeras possibilidades de

investimentos no espaço urbano em questão, em que a operacionalização do

planejamento em ações integradas e preventivas, como definir programas de

educação integral, ampliar o número de escolas, executar projetos de

ressocialização de presos, estabelecer estratégias de geração de emprego e renda,

a exemplo do incentivo ao turismo local, fortalecer o combate ao crime organizado,

ao tráfico de drogas, entre outras estratégias e linhas de ação, podem ser propostas

essenciais ao atendimento da população. Evidentemente, antes é necessário

realizar um diagnóstico fundamentado na curva de vivência, mediante as

informações prestadas pela população local sobre as necessidades prioritárias. Além

disso, os planejadores precisam desenvolver a capacidade de inovar, perceber como

fazer diferente na solução dos problemas urbanos.

Logo, pode-se afirmar que as hipóteses levantadas nesta dissertação são

verdadeiras, pois Santarém é um município cuja urbanização foi historicamente

construída por um processo de planejamento autoritarista e descontínuo, idealizado

e colocado em prática pelo regime militar nas décadas de 1960 e 1970, sem levar

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107

em contra as principais necessidades da população local e os impactos de ordem

social e ambiental causados pelas atividades da economia amazônica. Em razão

desse fato, a adoção da metodologia do plano-processo tornou-se útil para ajudar a

compreender e buscar soluções para os diversos problemas urbanos existentes.

A utilidade da referida metodologia ao planejamento territorial de Santarém se

justificou por estar fundamentada numa visão holística, considerando os vários

fatores, variáveis e dimensões da dinâmica urbana de maneira integrada, haja vista

as peculiaridades locais e regionais. Por outro lado, a proposta de um planejamento

urbano com o emprego da análise do plano-processo abre caminhos para a

participação da sociedade local na tomada de decisões, favorecendo conhecer mais

claramente os problemas e as prioridades a serem definidas nas estratégias e linhas

de ação. Todavia, ficou claro que essa participação ainda é tímida, como na maioria

dos municípios da região dado o baixo grau de conhecimento da sociedade sobre a

importância de participar, a falta de uma cultura voltada a esse fim e a carência de

espaços democráticos no processo de tomada de decisão.

Neste sentido, os fatores analisados, tendo como matriz de interpretação, a priori as

políticas do Estado brasileiro para Amazônia e, posteriormente, suas conseqüências,

nos permitiram explicar a realidade do planejamento em Santarém, afetado direta ou

indiretamente por tais políticas, retratadas através do Gráfico 7, presente no capitulo

5, referendando o modelo de Lourenço. Por sua vez, traz em seu bojo a percepção

da realidade de como, a partir da década de 1950 até 2010, a dinâmica

socioespacial no município através do comportamento das variáveis planejamento,

ações e vivência em Santarém, retrataram o comportamento e o grau de intensidade

do planejamento e das ações que desencadearam intenso crescimento populacional

e impactos de diversas ordens para a realidade local.

Por fim, este trabalho propõe para estudos posteriores investigar os novos cenários

a se formar e as suas implicações na realidade urbana de Santarém. Uma das

indicações seria compreender a interferência na dinâmica socioeconômica e

ambiental proporcionada pelo plantio de soja nas proximidades e no município de

Santarém, haja vista as possibilidades de expansão dessa cultura na região

amazônica. Outra possibilidade ficaria por conta da produção de biodiesel, cuja

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108

perspectiva, também, é de crescimento em decorrência do aumento da demanda e

com tendências a gerar mudanças na produção de alimentos, no emprego da mão-

de-obra local, na definição de políticas e programas governamentais, questões a

serem consideradas no plano-processo. Tais assuntos são de utilidade para

estudantes universitários, pesquisadores e profissionais das áreas de geografia,

economia, agronomia, sociologia, arquitetura, entre outras.

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109

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