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R. bras. Est. Pop., São Paulo, v. 23, n. 2, p. 269-286, jul./dez. 2006 Análise dos determinantes da participação no mercado de trabalho dos idosos em São Paulo * Doutoranda em Demografia do Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional (Cedeplar), da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). ** Professoras do departamento de Demografia do Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional (Cedeplar), da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Elisenda Rentería Pérez * Simone Wajnman ** Ana Maria Hermeto Camilo de Oliveira ** O objetivo do trabalho é analisar os determinantes da condição de atividade e das horas trabalhadas dos indivíduos de 60 anos e mais que moravam em São Paulo no ano 2000. Entre os determinantes, a condição de saúde é tratada com especial atenção. Os dados provêm da Sabe, uma pesquisa sobre Saúde, Bem- Estar e Envelhecimento, da Opas. Para controlar o viés de endogeneidade que provém da relação entre o estado de saúde e a participação no mercado de trabalho, foi utilizado o método das Variáveis Instrumentais. Foram utilizadas diferentes medidas de saúde para captar diversos efeitos sobre a oferta de trabalho. Os resultados mostram que, para os homens, são as variáveis econômicas as que apresentam um forte poder de explicação dos modelos de trabalho; já no caso das mulheres, são as variáveis relacionadas à composição familiar. Apresentar uma condição de saúde pior significa menor probabilidade de trabalhar. Para os homens, os resultados da instrumentalização das variáveis de saúde sugerem que o efeito da atividade dos idosos sobre sua saúde é negativo. Isto pode indicar que o trabalho afeta negativamente a saúde, ou pode ser resultado de que os idosos ativos são os mais escolarizados e de maior renda, tendo melhor acesso a serviços de saúde, levando a que os ativos tenham uma melhor percepção dos problemas de saúde. Palavras chave: Oferta de trabalho. Idosos. Saúde. Introdução O envelhecimento populacional no Brasil eleva a proporção de pessoas de 60 anos e mais, que de 8%, em 1996, atingirá os 15% em 2020. Tal perspectiva significa a duplicação da proporção de idosos, em menos de 35 anos (CAMARANO, 2002). Este envelhecimento repercutirá na força de trabalho, aumentando, também, a proporção de trabalhadores idosos, já que no Brasil, como em outros países em desenvolvimento, a idade de saída da força de trabalho ainda é elevada. A taxa de atividade entre as pessoas de mais de 60 anos, em 1997, correspondia a 41%, para os homens, e a 13%, para as mulheres (25% para o total da população idosa). A tendência destas taxas está em lento declínio, mas sua participação no total da população ativa é compensada pelo aumento relativo do segmento de idosos

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R. bras. Est. Pop., São Paulo, v. 23, n. 2, p. 269-286, jul./dez. 2006

Análise dos determinantes da participação nomercado de trabalho dos idosos em São Paulo

* Doutoranda em Demografia do Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional (Cedeplar), da Universidade Federal deMinas Gerais (UFMG).** Professoras do departamento de Demografia do Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional (Cedeplar), da UniversidadeFederal de Minas Gerais (UFMG).

Elisenda Rentería Pérez*

Simone Wajnman**

Ana Maria Hermeto Camilo de Oliveira**

O objetivo do trabalho é analisar os determinantes da condição de atividadee das horas trabalhadas dos indivíduos de 60 anos e mais que moravam em SãoPaulo no ano 2000. Entre os determinantes, a condição de saúde é tratada comespecial atenção. Os dados provêm da Sabe, uma pesquisa sobre Saúde, Bem-Estar e Envelhecimento, da Opas. Para controlar o viés de endogeneidade queprovém da relação entre o estado de saúde e a participação no mercado detrabalho, foi utilizado o método das Variáveis Instrumentais. Foram utilizadasdiferentes medidas de saúde para captar diversos efeitos sobre a oferta de trabalho.Os resultados mostram que, para os homens, são as variáveis econômicas asque apresentam um forte poder de explicação dos modelos de trabalho; já nocaso das mulheres, são as variáveis relacionadas à composição familiar. Apresentaruma condição de saúde pior significa menor probabilidade de trabalhar. Para oshomens, os resultados da instrumentalização das variáveis de saúde sugeremque o efeito da atividade dos idosos sobre sua saúde é negativo. Isto podeindicar que o trabalho afeta negativamente a saúde, ou pode ser resultado de queos idosos ativos são os mais escolarizados e de maior renda, tendo melhor acessoa serviços de saúde, levando a que os ativos tenham uma melhor percepção dosproblemas de saúde.

Palavras chave: Oferta de trabalho. Idosos. Saúde.

Introdução

O envelhecimento populacional noBrasil eleva a proporção de pessoas de 60anos e mais, que de 8%, em 1996, atingiráos 15% em 2020. Tal perspectiva significa aduplicação da proporção de idosos, emmenos de 35 anos (CAMARANO, 2002).Este envelhecimento repercutirá na forçade trabalho, aumentando, também, aproporção de trabalhadores idosos, já que

no Brasil, como em outros países emdesenvolvimento, a idade de saída da forçade trabalho ainda é elevada. A taxa deatividade entre as pessoas de mais de 60anos, em 1997, correspondia a 41%, paraos homens, e a 13%, para as mulheres (25%para o total da população idosa). Atendência destas taxas está em lentodeclínio, mas sua participação no total dapopulação ativa é compensada peloaumento relativo do segmento de idosos

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no total da população e espera-se que aproporção de maiores de 60 anos na forçade trabalho passe de 9%, em 1998, para13%, em 2020 (WAJNMAN et al., 1999).

Assim, estudar os determinantes daoferta de trabalho dos idosos torna-seessencial no atual contexto de aumento daparticipação relativa destes trabalhadoresno total da população. Entre estes determi-nantes, o estado de saúde é uma peçaessencial, já que, para os idosos, uma mácondição de saúde pode levar à retiradatotal da força de trabalho com muita maiorprobabilidade que o resto da população. Oestudo da relação entre saúde e trabalho éainda mais importante nos países emdesenvolvimento, porque, neles, os idososencontram-se em piores condições desaúde e têm menores alternativas desustento.

Ante estas considerações, este trabalhopretende investigar quais são os determi-nantes da participação no mercado de tra-balho e da quantidade de horas trabalhadasdos homens e mulheres de mais de 60 anos,prestando especial atenção à relação entreestado de saúde e oferta de trabalho.Entretanto, analisar a relação entre condi-ção de saúde e participação no mercadode trabalho implica incorrer num viés deendogeneidade, que impede realizar umaestimação direta adequada. Para controlareste problema, foi utilizado o método dasVariáveis Instrumentais, segundo o qualestimam-se as medidas de saúde por meiode uma série de variáveis chamadas instru-mentos, que afetam a saúde, mas não acondição de atividade, o que evita o viés nomodelo de trabalho. Foram utilizadas dife-rentes medidas de saúde para captardiversos efeitos da condição de saúde doidoso sobre a oferta de trabalho.

A fonte de dados utilizada é uma pes-quisa sobre saúde, bem-estar e envelheci-mento na América Latina e no Caribe(Sabe), realizada em 2000 em diversascidades latino-americanas, sob a coorde-nação da Organização Pan Americana deSaúde. No Brasil, escolheu-se a cidade deSão Paulo e a pesquisa foi realizada comfinanciamento da Fundação do Amparo àPesquisa de São Paulo (Fapesp).

Uma aproximação aos determinantesda oferta de trabalho dos idosos

Como bem argumentam Mete e Schultz(2002), nos países desenvolvidos, osfatores mais importantes para estudar aoferta de trabalho dos idosos estãorelacionados à sua demanda por lazer erenda. Por isso, questões como os segurosde aposentadoria ou de incapacidade sãolevadas em conta e exercem um grandeefeito sobre a decisão de retirada da forçade trabalho. Porém, nos países em desen-volvimento, onde as rendas são baixas eas aposentadorias são escassas, a decisãode se retirar da força de trabalho relaciona-se a “um contexto de oferta de trabalho maiscomum, que inclui renda de não-trabalho,riqueza, oferta de salários, suporte familiare estado de saúde da população idosa”(METE e SCHULTZ, 2002).

Entre os determinantes investigados naliteratura sobre a atividade dos idosos,verifica-se que o aumento da idade é umimpedimento para permanecer na força detrabalho. Contrariamente, a escolaridadecorrelaciona-se positivamente com a per-manência na força de trabalho e comestratégias mais erráticas no final da vidaativa. O estado conjugal possui efeitostotalmente diferentes entre homens emulheres. Os homens casados são os maispropensos a trabalharem enquanto jovens,em jornada completa, e aposentam-se, nofinal da vida ativa, deixando também umtrabalho de jornada integral. Já para asmulheres, o fato de ser solteira significamaior probabilidade de permanecer naforça de trabalho durante mais tempo, emcomparação às casadas. Os rendimentosde não-trabalho relacionam-se negativa-mente à permanência nos trabalhos dejornada completa, mas positivamente emrelação àqueles de jornada parcial e traje-tórias erráticas (BLAU, 1994; BENÍTEZ-SILVA,2000; PERACHI e WELTZ, 1994; HAIDER eLOUGHRAN, 2000).

Os arranjos familiares são levados emconsideração unicamente nos países emdesenvolvimento. Na maioria deles, o fatode estar co-residindo com os filhos, ou deter maior número de filhos, correlaciona-se

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com uma menor participação no mercadode trabalho (CAMERON e COBB-CLARK,2001; PARKER, 1999).

No caso do Brasil, Saad (1999), emestudo sobre as transferências intergera-cionais dentro das famílias, observa queestas não se dão apenas a partir dos filhospara os pais, como seria o caso de muitospaíses. Dadas as sucessivas crises econô-micas que vem sofrendo o país, provocandoum aumento da pobreza, os filhos adultosestão se tornando dependentes dos seuspais. Portanto, é possível intuir que a co-residência de idosos com filhos pode sermais provável se os primeiros estão aindatrabalhando e recebendo um salário e/ouaposentadoria.

A saúde como determinante da oferta detrabalho nos idosos

A endogeneidade existente entresaúde e trabalho deve-se ao fato de que aprimeira incide na capacidade de ofertar tra-balho e, ao mesmo tempo, a atividade nomercado de trabalho também tem um efeitosobre o estado de saúde. O tipo de empregopode afetar a saúde através do stress, dasatividades de risco ou da probabilidade deo posto de trabalho provocar males físicos(RHUM, 1996). Além disso, o estado de saú-de depende dos rendimentos da pessoa,pois depende dos investimentos realizadospelo indivíduo em benefício da própria saúdee, portanto, depende, também, dos rendi-mentos do trabalho.

Os efeitos da endogeneidade existenteentre o trabalho e a saúde indicam que asmedidas de saúde tendem a estar corre-lacionadas com o termo de erro dos modelosde trabalho. Isso leva a que a simplesestimação do modelo com a variável desaúde tomada como exógena gere estima-tivas viesadas para os coeficientes. Portanto,a saúde deveria ser tratada como umavariável endógena e deveriam ser tomadas

as medidas adequadas para controlar essaendogeneidade.

Outro grande problema para lidar coma variável de saúde é a escolha de qualmedida usar ou como medir o estado desaúde em relação ao trabalho. A medidaideal deveria referir-se à “capacidade detrabalhar”. Alguns estudos sugerem quemedidas subjetivas, como a saúde auto-percebida, são bons indicadores porqueestão altamente correlacionados com asaúde indicada medicamente (MOSSEY eSHAPIRO, 1982). Porém, tais medidassubjetivas apresentam um viés importantede relato por parte do indivíduo, e o proble-ma é que esses erros de relato não estãoigualmente distribuídos entre a populaçãotrabalhadora e a não-trabalhadora. As pes-soas que não estão trabalhando, oureduziram as horas de trabalho, têm umatendência a atribuir sua situação a umasaúde ruim. Assim, o viés decorre do fatode os indivíduos justificarem sua situaçãode inatividade através de problemas desaúde, ou porque esta é uma motivaçãosocialmente melhor aceita ou porque osindivíduos são incentivados pelos sistemassociais a relatarem que estão doentes,podendo, assim, continuar a receber umseguro por incapacidade.1 O relato errôneoda própria saúde por parte dos não-trabalhadores é chamado, na literatura, deviés de justificação (BOUND et al., 1999).

Além disso, as medidas subjetivas desaúde são influenciadas pelo acesso e usodos serviços de saúde e pela capacidadede perceber os sintomas, o que, por suavez, é influenciado pela escolaridade, renda,posto de trabalho e posse de um seguro desaúde pelos indivíduos. Existem trabalhosque demonstram que a utilização dosserviços de saúde aumenta com a rendados indivíduos, mesmo entre aqueles quese acham com melhor saúde (CURRIE eMADRIAN, 1999; STRAUSS e THOMAS,1998). A conseqüência é que pode parecer

1 Um achado interessante é o de Ettner (1997), que, usando dados da amostra de lares nos Estados Unidos, observa que as medidasde saúde autopercebida nas mulheres não são influenciadas pela condição de atividade, indicando que estas seguramente nãose vêem tão pressionadas socialmente, comparativamente aos homens, a justificarem sua ausência do trabalho através deproblemas de saúde.

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que os indivíduos com renda mais elevadarelatem maior número de doenças.

Como lidar com a endogeneidade

Entre as soluções para resolver osproblemas de endogeneidade e erros derelato mencionados, existe o método dasvariáveis instrumentais, através do qualestimam-se as medidas de saúde, utili-zando-se variáveis que não afetem a ofertade trabalho, de modo que “limpem” asvariáveis de saúde da correlação com otermo de erro do modelo de trabalho. Oproblema derivado deste método é saberescolher o vetor de instrumentos que per-mita quebrar essa endogeneidade. Esta éa solução adotada no presente trabalho.

A oferta de trabalho dos idosos no Brasil

No Brasil, existem poucos trabalhos queconsideram a variável saúde como determi-nante da atividade dos idosos. Talvez istodeva-se à carência de bases de dados ade-quadas para o estudo da relação entre asaúde do idoso e sua participação no merca-do de trabalho. Segundo os poucos estudosque existem (GIATTI e BARRETO, 2002 e2003; CAMPINO et al., 2003), os trabalha-dores tendem a ser mais saudáveis e umacondição de saúde ruim correlaciona-senegativamente com a probabilidade de estarativo. Porém, nenhum deles leva em contaos prováveis problemas de endogeneidadeda relação entre trabalho e saúde e, portanto,são resultados controversos.

Acredita-se que, no caso dos idosos noBrasil, também existam os mesmos proble-mas de endogeneidade entre saúde e traba-lho, como se verifica nos estudos para outrospaíses. Nas literaturas norte-americana eeuropéia, os estudos estão mais preocu-pados com os erros voluntários no relato desaúde dos que já não trabalham, porque osidosos estão desfrutando de aposentadoriasprecoces ou seguros por incapacidade.

No caso do Brasil, onde os empregosformais tornam-se cada vez mais escassos

e as aposentadorias tendem a ser insu-ficientes, o relato errôneo e voluntário dosque estão fora do mercado de trabalho,provavelmente, seria menor, já que nãoimplicaria benefícios de renda. Mas, nomesmo sentido, espera-se que aqueles quecontinuam trabalhando tendam a relataruma melhor saúde, mesmo que não sejaverdadeira, porque, como se vêem capazesde trabalhar, consideram que sua saúdeainda é boa. Até aqui, a endogeneidadeexistiria na mesma direção apontada naliteratura internacional. Porém, pode-sesupor um outro tipo de endogeneidadeatuando em sentido contrário.

Dado que possa haver correlaçãopositiva entre estar trabalhando e ter acessoa serviços de saúde (devido à maior escola-ridade dos idosos trabalhadores, renda dotrabalho ou posse de um seguro de saúde),um resultado possível seria que os traba-lhadores relatassem uma saúde pior do querelatariam pessoas com a mesma saúde,mas não-trabalhadoras, já que estas últi-mas teriam menos acesso a serviços e nãoperceberiam com exatidão seu verdadeiroestado de saúde. Por tudo isso, em paísescomo o Brasil, a endogeneidade converte-se em elemento-chave para estudar arelação da condição de saúde sobre a ofertade trabalho.

Dados e metodologia

A Sabe é uma pesquisa sobre saúde econdições de vida dos idosos residentesem sete cidades de sete países da AméricaLatina e do Caribe: Buenos Aires (Argen-tina); Bridgetown (Barbados); São Paulo(Brasil);2 Santiago (Chile); La Havana(Cuba); México D.F. (México); e Montevidéu(Uruguai). O presente trabalho somenteexplorou os dados da cidade de São Paulo.A base contém informações sobre caracte-rísticas básicas da família, autopercepçãode saúde e doenças crônicas, medidas an-tropométricas, de incapacidade funcional,de depressão e de estado cognitivo, uso e

2 Em São Paulo, a pesquisa foi de responsabilidade do departamento de Epidemiologia da Faculdade de Saúde Pública daUniversidade de São Paulo, com financiamento da Fundação do Amparo a Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).

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acesso a serviços de saúde, transferên-cias familiares e institucionais e força detrabalho e aposentadoria (PALLONI ePELÁEZ, 2003).

A amostra da pesquisa Sabe é de 2.142pessoas de 60 anos e mais de idade, queviviam no município de São Paulo em 2000.No presente estudo, foram eliminados osindivíduos que não responderam a algumasdas perguntas usadas como variáveis nosmodelos e aqueles que apresentaram defi-ciência cognitiva no teste e não tinham orespondente substituto no momento daentrevista, para evitar a falta de confiabi-lidade nas respostas. Assim, o universoestudado é de 2.113 indivíduos, sendo 871homens e 1.242 mulheres.

Escolha das variáveis

Para medir a oferta de trabalho, asamostras de homens e de mulheres foramdivididas entre os que, na data da pesquisa,realizavam alguma atividade e os que nãorealizavam. As horas trabalhadas foramcalculadas pela média de horas trabalhadaspor dia. As variáveis utilizadas nos modelosde oferta de trabalho foram classificadas emtrês tipos de determinantes para homens emulheres:

• sociodemográficas – idade, grau deescolaridade, estado conjugal enúmero de filhos;

• econômicas – renda monetária denão-trabalho e número de bens deconsumo do domicílio;

• estado de saúde – dados os proble-mas citados anteriormente em rela-ção à escolha da medida de saúde,decidiu-se pela realização de testesde modelos com duas medidas desaúde:

1. Autopercepção de Saúde (APS):refere-se à auto-avaliação do en-trevistado quanto ao próprio estado

de saúde. Adotou-se a forma dico-tômica, separando a população emsaudáveis (os que respondiam teruma saúde excelente, muito boa eboa) e doentes (os que respondiamter uma saúde regular ou má).

2. Atividades da Vida Diária (AVD): umadas formas de avaliar a saúde doidoso é determinar sua indepen-dência. Para o caso foi consideradaa dificuldade que o idoso apresentaem realizar seis atividades da vidadiária: atravessar um quarto cami-nhando, se vestir, tomar banho,comer, se deitar e levantar da camae ir ao banheiro. Foram separadosem duas categorias: aqueles quepossuíam pelo menos uma dificul-dade e aqueles que não apre-sentavam nenhuma. Esta medidaé considerada mais objetiva, por-que não implica uma avaliaçãosubjetiva, pois refere-se a fatos.

O método das variáveis instrumentais

Existem diferentes formas de identificaros problemas de endogeneidade entreduas variáveis, neste caso, entre a saúde ea oferta de trabalho. O método usado nesteestudo para verificar se existe realmenteendogeneidade entre as medidas de saúdeescolhidas e as de trabalho foi o teste deespecificação de Hausman.3

A endogeneidade existente entre oestado de saúde e a condição de atividadefaz com que os coeficientes dos modelosde determinação da oferta de trabalhosejam estimados com viés. Para controlareste viés, foi utilizado o método das VariáveisInstrumentais inspirado no Método dosMínimos Quadrados em Dois Estágios(MQ2E). Através deste método, estimam-seas medidas de saúde por meio de uma sériede variáveis chamadas instrumentos queafetam à saúde, mas não a condição de

3 Este método consiste em modelar a medida de saúde através das variáveis exógenas do modelo de trabalho e, a partir daí, estimaro termo de erro. Seguidamente, estima-se o modelo de trabalho, incluindo-se a medida de saúde e o termo de erro anteriormenteestimado. Se o teste T-Student, para o termo de erro, dá significativo, está indicando que não se pode aceitar a hipótese nula denão correlação. Ou seja, se o coeficiente do termo de erro estimado, no modelo de trabalho com a variável de saúde, é significativo,existe correlação ou endogeneidade entre a medida de saúde e a oferta de trabalho.

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atividade, permitindo que a variável de saú-de estimada esteja “limpa” da correlaçãoque deriva da endogeneidade e não provo-que viés no modelo de trabalho.

O método segue a seguinte lógica,consideram-se os modelos:

T X X S= * + * + * +1 1 12 2 13 1� � � � ���� � � � ���

(modelo trabalho) (1)

S T X Z Z= * + * + * + * +2 21 22 1 1 2 2 21� � � ��� � � ��

(modelo saúde) (2)onde os Xs são variáveis exógenas, prede-terminadas fora do modelo, e S está correla-cionada com o termo de erro ε1, já que estádeterminada simultaneamente por T, o quea define como uma variável endógena.

Para corrigir o viés que produziria esti-mar a equação (1) através de Mínimos Qua-drados Ordinários, precisa-se uma estima-ção de S, que não esteja correlacionadacom o resíduo ε1. Esta estimativa obtém-secom a equação (2) e graças à presença deZ1 y Z2, chamados instrumentos, que secorrelacionam com S, mas não com ε1. Estasvariáveis Zs permitem “limpar” a variável Sde sua correlação com o resíduo eð1 eestudar o efeito “limpo” de S, sem o viésque provoca a endogeneidade. Esta “nova”estimativa, que vamos dar o nome de SIV

,

que deve estar altamente correlacionadacom S, mas não se correlaciona com ε1, échamada variável instrumental, e asvariáveis Z1 e Z2 são os instrumentos(WOOLDRIDGE, 2003; POWERS e XIE,1999).

Escolha das variáveis instrumentais

Para encontrar um instrumental ade-quado é imprescindível achar pelo menosuma variável que esteja correlacionadacom as medidas de saúde, mas que não secorrelacione com o termo de erro do modeloque estima a oferta de trabalho.

As variáveis selecionadas neste traba-lho restringiram-se àquelas que ofereciama base de dados e que se esperava estaremmenos relacionadas com a probabilidadede o idoso estar ativo e que estivessempreenchidas da forma mais confiável. Aescolha final foi a seguinte: número dedoenças antes dos 15 anos (tentando con-

trolar a propensão de o indivíduo estardoente); se a pessoa morou no campo maisde cinco anos antes dos 15 anos (estavariável pode indicar o acesso a serviçosde saúde durante a infância); se a pessoafoi fumante ou ainda é; e o nível de con-sumo de álcool (estas duas últimas variáveistentam controlar comportamentos adversosà saúde).

Especificação dos modelos

Para estimar a probabilidade de o idosoestar ativo, foi usada uma regressão logís-tica binomial, dado que a resposta é se apessoa está ativa ou não:

Logito(atividade)=log

prob (trabalhousemana passada)

prob (não trabalhousemana passada)

=xi � (3)

A variável resposta de horas de trabalhocaracteriza-se por ser uma variável linear,mas que apresenta a restrição de que osvalores hão de ser positivos, além de existiruma grande concentração dos indivíduosno valor zero. Estas variáveis são chamadasde solução de canto. As regressões quemodelam este tipo de variáveis são conhe-cidas como modelos de regressão censu-rados. No presente estudo, para as horasde trabalho, utilizou-se o modelo Tobit, des-crito da seguinte forma:

Pr( )=Pr( )=y=a y* aa

se y*≤ k (4)

A mesma densidade de y se y*> k (5)

O modelo Tobit é uma mistura entreuma distribuição contínua e uma discreta,em que se atribui toda a probabilidade daárea censurada ao ponto de censura k, que,no caso, é o zero. Os coeficientes podemser decompostos em dois efeitos, porém,neste trabalho, serão interpretados sem estadecomposição, o que vai levar a limitar ainterpretação deles quanto a magnitude,direção e significância dos coeficientes(WOOLDRIDGE, 2003).

Para estimar as variáveis de saúdeatravés dos instrumentos, foram usadosdiversos modelos, segundo a natureza davariável a ser estudada. Para a variável deAutopercepção de Saúde (APS) dicotômica

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e a de Atividades da Vida Diária (AVD)dicotômica, a modelagem usada é aregressão logística binomial, dado que aresposta é binária:

Logito(saúde ruim)=logprob (saúde ruim)

prob (saúde boa)=xi � (6)

Logito( ou+dif.AVD’s)=log1

prob ( ou+dif. AVD’s)

1

prob (nenhumadif. AVD’s)

=xi � (7)

Análise dos resultados

Distribuição dos idosos de São Paulo porcaracterísticas sociodemográficas eepidemiológicas

Segundo dados do Censo Demográficode 2000 (IBGE), 972.199 pessoas de 60 anose mais residiam no município de São Paulo,representando 9,3% da população total.

TABELA 1Distribuição da população de 10 anos e mais, por sexo, segundo características sociodemográficas

Município de São Paulo – 2000

Fonte: Sabe, São Paulo 2000.

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Na Tabela 1, observa-se a distribuição,na base de dados da Sabe, da populaçãode 60 anos e mais, segundo característicassociodemográficas. Verifica-se que asmulheres correspondiam a 58,52% e oshomens a 41,47%, sendo que mais de 70%dos homens e de 80% das mulheres tinhamapenas até quatro anos de estudo. Noreferente ao estado conjugal, 79% doshomens estavam unidos e apenas 41,4%das mulheres encontravam-se nessa con-dição. Os homens, como era de se esperar,dispunham de maior renda do que asmulheres. Por outro lado, quase 30% dasmulheres não possuíam nenhuma renda denão-trabalho e somente 18% dos homensachavam-se nesta situação.

Em geral, as mulheres encontravam-se em pior estado de saúde do que os ho-mens e os dois sexos concentraram suaavaliação nos níveis intermediários: boa eregular. Quanto às dificuldades para realizarAtividades da Vida Diária (AVD), 77,7% dasmulheres e 85% dos homens não apresen-tavam nenhuma dificuldade. Além disso, só17% das mulheres não receberam nenhumdiagnóstico de doença crônica, contra 27%dos homens.

Taxas de atividade simples dos idosos porcaracterísticas sociodemográficas

A Tabela 2 mostra as taxas de atividadedas pessoas de 60 anos e mais, segundoas variáveis explicativas. Os dados indicamque 40,62% dos homens e 17,11% dasmulheres declararam estar trabalhando nasemana anterior à pesquisa. Umaproporção importante de homens (8,84%)ainda estava inserida no mercado detrabalho aos 80 anos de idade. Aparticipação feminina é significativamentemenor do que a masculina em todas asidades.

Os mais escolarizados apresentam asmaiores taxas de atividade, sendo espe-cialmente surpreendentes as taxas dasmulheres com mais de 12 anos de estudo –38%. Por estado conjugal, as mulheressolteiras e os homens casados são os queregistram as maiores taxas de participação.A taxa de atividade dos homens aumenta à

medida que se eleva o número de filhosvivos. Entre as mulheres, esta relação nãoé tão clara. A distribuição das taxas deatividade por renda de não-trabalho doshomens exibe uma forma de J, segundo aqual aqueles sem rendimentos têm a maiortaxa de atividade (66,3%). Quanto aonúmero de bens de consumo, o grupo commaior quantidade apresenta a taxa deatividade mais elevada (48,78%).

No que se refere às variáveis de saúde,as maiores taxas estão entre as categoriasde melhor saúde. Porém, a taxa de ativi-dade dos homens que relataram estar comsaúde ruim também é relativamente elevada(17%). Já entre as mulheres, não hádiferenciação clara entre as taxas de ativi-dade das que se declaram saudáveis e dasdoentes.

Oferta de trabalho: a probabilidade deestar ativo e as horas trabalhadas

O primeiro passo foi descobrir se ahipótese de existência de endogeneidadeentre a probabilidade de estar ativo e oestado de saúde deveria ser aceita. Paraisso, utilizou-se o teste de especificação deHausman. Os resultados mostraram que,para os homens, todas as medidas reve-laram-se endógenas. Para as mulheres, asmedidas não se mostraram endógenas emrelação à probabilidade de estar ativo; mas,em relação às horas trabalhadas, a hipótesede não-correlação foi rejeitada em todos oscasos. Portanto, os resultados indicam que,para os homens, é preciso usar instrumentose, para as mulheres, unicamente os mo-delos de horas de trabalho. De qualquerforma, optou-se por estimar as medidas desaúde através dos instrumentos para os doissexos, de forma a facilitar a comparaçãoentre eles.

Uma vez verificada a endogeneidade,o segundo passo foi estimar as variáveissobre estado de saúde através dosseguintes aspectos: idade, escolaridade,estado conjugal e os citados instrumentos.Nos modelos, estes determinantes estimama probabilidade de o indivíduo se encontrarem uma condição de má saúde. Destaforma, quando introduzidos no modelo de

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trabalho, o coeficiente destas estimativasindica como um estado de saúde ruim afetaa probabilidade de trabalhar.

O último passo foi estimar a probabi-lidade de estar ativo e o número de horastrabalhadas. Estes resultados podem ser

TABELA 2Taxas de atividade das pessoas de 60 anos e mais, por sexo, segundo características sociodemográficas

Município de São Paulo – 2000

Fonte: Sabe, São Paulo 2000.

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observados nas Tabelas 3 e 4. Nas regres-sões logísticas, as razões de chance reve-lam a probabilidade de estar ativo sobre ade estar inativo. Nas tabelas das regressõesTobit, a interpretação se faz como em umaregressão linear, só que os coeficientes nãopodem ser analisados da mesma forma.São tomados, apenas, o sinal e a magnituderelativa dos coeficientes para analisar osresultados.

Foram rodados dez modelos de con-dição de atividade – cinco para os homense cinco para as mulheres – e mais dez paraas horas trabalhadas. Nos dois tipos demodelos, o primeiro deles não inclui nenhu-ma variável de saúde, dois usam as variá-veis de saúde como exógenas4 e outros doismodelos utilizam estas mesmas variáveis,porém instrumentalizadas.5 As variáveis desaúde são: APS dicotômica (APS) e difi-culdades nas AVDs dicotômica (AVD).

Começando pelos modelos de proba-bilidade de estar ativo, os resultados mos-tram, para os homens, a partir do modelosem medidas de saúde, que os mais idososapresentam menor chance de trabalhar eesta diminui à medida que aumenta a idade.Os mais escolarizados possuem maiorchance de estarem trabalhando, chegandoa ser 162% superior para aqueles com noveanos ou mais de estudo, em relação aosanalfabetos. O estado conjugal não pareceter efeito algum sobre a condição deatividade dos homens idosos, assim comoo número de filhos. Este resultado, para asduas variáveis, é uma constante em todosos outros modelos. A renda de não-trabalhotem um efeito negativo, mesmo que a razãode chances (odds ratio) seja pequena. Estavariável foi incluída no modelo como contí-nua e, portanto, para cada unidade a maisde renda a chance de estar trabalhandodecresce em 0,026%, em comparação aosque declararam não receber nenhumarenda de não-trabalho. Aqueles com maior

número de bens têm chance maior de es-tarem trabalhando.

Quando se incorporam as variáveis desaúde como exógenas, a idade e a escola-ridade perdem capacidade explicativa nomodelo, até o ponto em que algumascategorias de escolaridade perdem signifi-cância. Com as medidas de saúde estima-das através de instrumentos, estas duasvariáveis perdem ainda mais significância.Uma explicação para esse resultado seriaque parte dos efeitos da idade e da es-colaridade sobre a probabilidade detrabalhar deve-se ao fato de que os maisidosos estariam em piores condições desaúde do que os mais jovens, e os maisescolarizados desfrutariam de melhorescondições de saúde que os analfabetos. Asvariáveis de renda de não-trabalho e bensde consumo não mudam ou têm variaçõesmuito pequenas e erráticas, difíceis de inter-pretar nos modelos com a saúde exógena.

O resultado mais importante dosmodelos que incluem as medidas de saúdeinstrumentalizadas é que, na maioria deles,o efeito negativo de se ter uma saúde piorsobre a probabilidade de estar trabalhandoaumenta espetacularmente, em compara-ção ao efeito da saúde quando tratadacomo exógena. No caso da APS, o coefi-ciente negativo desta medida, quando étratada como exógena (um pior estado desaúde implica uma chance 40% menor deestar trabalhando comparativamente aosque estão com saúde boa), chega a dobrarquando ela passa a ser tratada como endó-gena (80% menos de chance). Isto foiobservado, também, em outros trabalhosreferentes a países em desenvolvimento,como o México (PARKER, 1999) ou Taiwan(METE e SCHULTZ, 2002).

Para a amostra de mulheres, no casodos modelos relativos à probabilidade deestarem ativas, o comportamento de algu-mas variáveis é completamente diferentedaquele identificado para os homens. No

4 Foram consideradas exógenas as medidas de saúde não instrumentalizadas e, como endógenas, as variáveis de saúde estimadasatravés dos instrumentos. A não instrumentalização pressupõe que a variável seja exógena ao modelo, embora se saiba que issopode não ser verdade.5 Estas medidas de saúde instrumentalizadas estão codificadas, nos modelos, pela terminação EST.

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modelo sem medidas de saúde, o efeito daidade e da escolaridade ocorre no mesmosentido, mas menor do que para os homens.Além disso, o coeficiente referente ao grupode 2 a 4 anos de escolaridade não ésignificativo em nenhum modelo, indicandoque não existe diferença na condição deatividade entre as mulheres sem estu-do e aquelas com até quatro anos deescolaridade.

Em relação ao estado conjugal, aocontrário dos homens, o coeficiente para acondição de ser solteira é significativo emuito positivo, mostrando que estasmulheres têm quase três vezes maischance do que as casadas de estaremtrabalhando. Por outro lado, aquelas comcinco filhos ou mais possuem até 2 vezesmais chance de estarem trabalhando do queas que não têm nenhum filho vivo. Final-mente, e contrariamente o que se verificapara os homens, as variáveis de renda denão-trabalho e de número de bens deconsumo parecem não ter qualquer efeitosobre a probabilidade de as mulheresidosas estarem trabalhando, em nenhumdos modelos de atividade.

Na análise dos modelos incluindo asmedidas de saúde, os resultados tambémrevelam diferenças das mulheres emrelação aos homens. No modelo dedificuldades nas AVDs, os resultados dosmodelos com as variáveis instrumenta-lizadas devem ser analisados com muitarestrição, já que os instrumentos não foramos mais adequados e isso deve implicar apresença de algum viés. O efeito da idadequase não muda quando as medidas desaúde são incorporadas. A escolaridade,nos modelos com a saúde exógena, diminuio seu efeito. Quando se instrumentaliza asaúde, o resultado é variado: para a medidade APS, o efeito da escolaridade aumentae, para a variável de AVDs, deixa de sersignificativo. Era de se esperar o segundoefeito ao incluir uma variável de saúde.Porém, é preciso lembrar que este resultadopode estar enviesado, porque não seobservou a presença de endogeneidadeentre o estado de saúde e a condição deatividade, no caso das mulheres, e, portanto,não era preciso instrumentalizar a saúde.

As medidas de saúde exógenasmostram que, quanto pior o estado desaúde, menor a probabilidade de asmulheres estarem ativas, mas com um efeitomenor que no caso dos homens. Já asmedidas de saúde instrumentalizadascomportam-se de forma totalmente diversadaquela observada entre os homens, poisnenhuma delas é significativa. Estesresultados podem estar relacionados aofato de o teste de Hausman não ter indicadoa necessidade da instrumentalização.Porém, também pode estar indicando queessas variáveis não estão melhorando aespecificação dos modelos de trabalhoentre as idosas e, portanto, que o efeito dasaúde no trabalho seja muito menor que nocaso dos homens.

Nos modelos com horas trabalhadas,os resultados são bem parecidos aosobtidos com a probabilidade de estar ativo.Talvez o mais importante para ser destaca-do aqui sejam os pontos que se mostraramdiferentes. No caso dos homens, o maisdestacável é que a escolaridade não pareceafetar o número de horas tanto como nocaso dos modelos de atividade, já que oúnico grupo significativo é o de nove anosou mais de estudo. Este grupo afeta positi-vamente o número de horas, ou seja, ape-nas aqueles que têm nove anos ou mais deestudo apresentam maior probabilidade deestarem trabalhando mais horas por sema-na do que os que não possuem estudo. Istopode ter a ver com o fato de que a maioriados homens trabalha a maior parte da suavida em jornada completa. A maior oumenor escolarização não muda a jornadalaboral, apenas determina a capacidade doindivíduo de se manter no posto de trabalhoa partir de certa idade. Quanto às medidasde saúde instrumentalizadas, todas apa-recem com maior efeito negativo sobre ashoras de trabalho em relação a quando eramexógenas, reforçando este mesmo resul-tado na probabilidade de estar ativo.

Entre as mulheres, os resultados dosmodelos de horas trabalhadas também semostram altamente parecidos. Porém,existem alguns pontos destacáveis. Aescolaridade, ao contrário do que ocorreno caso da probabilidade de estar ativo, em

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que seu efeito era menor do que nos ho-mens, aqui aparece com grande efeitopositivo sobre o número de horas traba-lhadas, superior ao dos homens. Outroponto a destacar é em relação ao númerode filhos. Esta variável só apresentou signi-ficância na categoria de cinco filhos ou mais,no modelo de probabilidade de estar ativo.Nos modelos de horas trabalhadas, todasas categorias aparecem significativas e amaior magnitude dos coeficientes é a decinco filhos ou mais. Isto mostra que o fatode a mulher idosa ter filhos representa maiorprobabilidade de estar trabalhando do queaquela que não tem, sendo que essa proba-bilidade é maior quanto maior for o númerode filhos.

No que se refere à maneira como as di-ferentes medidas de saúde afetam onúmero de horas, os resultados são pareci-dos com aqueles dos modelos de atividade,mesmo que para estes modelos tenha sidoconstatada a existência de endogeneidadeentre saúde e horas trabalhadas. Issoconfirma a suspeita de que, seguramente,o efeito da saúde sobre a atividade dasmulheres é muito fraco, ou o tipo de instru-mentos e medidas de saúde escolhidos nãoforam os mais adequados para o caso dasmulheres idosas.

Considerações finais

Os resultados obtidos estão consoantescom a literatura internacional, em relação aoefeito da idade na probabilidade de par-ticipar da força de trabalho, tanto para oshomens como para as mulheres. Um resul-tado a ressaltar é que, no caso dos homens,a escolaridade apresenta o efeito esperadona probabilidade de estar ativo, mas poucoefeito na diferenciação do número de horasque estes trabalham, confirmando o obser-vado por outros autores, de que o númerode horas não varia substancialmente entreos mais ou os menos escolarizados(KINSELLA e VERKHOFS, 2001). Entre asmulheres, contrariamente, a escolaridadetorna-se essencial para diferenciar astrabalhadoras das inativas e, mais essen-cialmente ainda, na diferenciação donúmero de horas que trabalham.

Já em relação ao estado conjugal, aliteratura mostra que os homens casadossão aqueles que têm maior probabilidadede permanecerem na força de trabalho(BLAU, 1994; BENÍTEZ-SILVA, 2000;PERACHI e WELTZ, 1994). Com asmulheres, são as solteiras as queapresentam o mesmo comportamento queos homens na oferta de trabalho. Osresultados aqui apresen-tados concordamno que diz respeito às mulheres, mas nãoaos homens idosos, para os quais o estadoconjugal não é significativo.

As variáveis mais relacionadas com onível econômico do indivíduo possuemgrande poder de explicação da oferta detrabalho masculina. Quanto maior a rendaindividual de não-trabalho, menor aprobabilidade de estar trabalhando e deestar trabalhando maior número de horas.No entanto, a proxy da renda familiar indicaque quanto maior o número de bens nodomicílio, maior é a chance do indivíduoidoso tanto de estar ativo como de trabalharmais horas. É interessante perceber adireção contrária destas duas variáveiseconômicas nos dois modelos: por um lado,a renda de não-trabalho indica a ca-pacidade do indivíduo de se manter, mesmosem receber os rendimentos do trabalho;por outro, a renda familiar pode indicar onível de consumo a que a família estáacostumada ou estava acostumada nopassado, o que levaria o indivíduo a con-tinuar trabalhando para manter esse nível.Esta variável, como proxy do nível socioeco-nômico, também pode indicar o tipo deredes sociais a que o indivíduo tem acesso.Essas redes afetariam, positivamente, aempregabilidade dos idosos.

Entre as mulheres, as variáveis econô-micas não são significativas. São asvariáveis sociodemográficas, como o nú-mero de filhos vivos, que explicam emgrande parte seu comportamento emrelação ao mercado de trabalho. Ao con-trário do que acontece em outros países(PARKER, 1999; CAMERON e COBB-CLARK, 2001), o número de filhos incide,positivamente, na probabilidade de asidosas estarem trabalhando. Entre oshomens, a análise descritiva indicava uma

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tendência de maior atividade quanto maioro número de filhos, mas esta não se confir-mou nos modelos econométricos. Esteresultado pode estar relacionado ao com-portamento das transferências intergera-cionais no Brasil entre os idosos e os seusfilhos adultos, como mostradas por Saad(1999). Segundo o autor, os idosos no Brasilproporcionam ajuda financeira significativaaos seus filhos adultos. O fato da variávelnúmero de filhos só ser significativa paraas mulheres, talvez deva-se à situação,também apontada por Saad (1999), de queas mulheres tendem a manter laços fa-miliares mais fortes.

Sobre a condição de saúde, os resul-tados concordam de forma geral com aliteratura. Estar em uma condição de saúderuim significa menor probabilidade tanto deestar ativo como de trabalhar maior númerode horas, para homens e mulheres. Quandose introduz a saúde, a idade e a esco-laridade perdem grande parte do seu poderexplicativo, indicando que parte do efeitodessas variáveis era conseqüência da suainter-relação com a condição de saúde.

No caso dos homens, a comparaçãoentre as medidas objetivas e subjetivas desaúde indica um comportamento contrárioao argumento do viés de justificação e,portanto, contrário à grande parte dosresultados encontrados na literatura depaíses desenvolvidos (BOUND et al.,1999;LINDEBOOM e KERKHOFS, 2002). Se oviés de justificação existisse, a medida desaúde com maior efeito sobre a oferta detrabalho deveria ser a de APS e não a maisobjetiva, representada pelas AVDs, que é oque acontece aqui. Outro resultado queconfirma a não aplicabilidade da teoria doviés de justificação é que as medidas desaúde estimadas através de instrumentosapresentam um efeito mais negativo do queaquelas tratadas como exógenas. SegundoBound et al. (1999), se existe viés dejustificação, o efeito da saúde ruim sobre aoferta de trabalho, tratada como exógena,estaria sobreestimado e afetaria maisnegativamente a atividade do que real-mente afeta. Assim, o resultado da instru-mentalização “positivaria” o efeito damedida de saúde, quer dizer, tiraria parte

do efeito negativo que esta medida estives-se provocando sobre a condição de ativi-dade, o que significa que o coeficiente seriamenos negativo. Como os resultados mos-tram o contrário, isso significa que, ou o viésde justificação não existe, ou não é sufici-entemente importante para ser notado.Reforçam estes resultados os trabalhos so-bre países em desenvolvimento (PARKER,1999; METE e SCHULTZ, 2002).

Este resultado leva a uma outra con-clusão muito importante quando se entendeo que acontece na estimação das medidasde saúde através de instrumentos. Quandose instrumentaliza a medida de saúde,procura-se eliminar o efeito do trabalhosobre a saúde, ou seja, busca-se captar,unicamente, o efeito da saúde sobre otrabalho, sem o viés de endogeneidade. Ofato de a medida de saúde ter um efeito maisnegativo do que quando não foi estimadaindica que o diferencial de saúde entreativos e inativos é maior quando se ins-trumentaliza, significando que, se o efeitodo trabalho sobre a saúde não existisse, ostrabalhadores realmente estariam emmelhor estado de saúde e que a saúde dosidosos seria mais diferenciada para ativose inativos. Ou seja, se existe algum efeitodo trabalho sobre a saúde, ele é negativo,já que, quando se tira este efeito, os tra-balhadores ficam em melhor estado desaúde. Esta conclusão difere totalmente daapresentada por Giatti e Barreto (2001,2002), que inferiram que a atividade produzefeitos positivos na saúde. No presentetrabalho, como em outros (RUHM,1996), oresultado indica que o fato de estar ativo ede trabalhar maior número de horas pareceafetar negativamente a saúde dos traba-lhadores idosos, mesmo que estes sejam,em princípio, mais saudáveis do que os não-trabalhadores.

Já entre as mulheres, os resultados dasvariáveis sobre condição de saúde diferemmuito em relação aos homens. Primeiro, amedida de APS não tem efeito algum sobrea oferta de trabalho nem sobre as horastrabalhadas e, depois, nenhuma medida desaúde instrumentalizada mostrou-se signi-ficativa. Estes resultados ratificam aquelesencontrados por Parker (1999) e Mete e

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Schultz (2002), que mostram que a saúdequase não tem efeitos sobre a oferta detrabalho das mulheres. Alves (2004) ar-gumenta que este resultado pode ter a vercom o fato de as mulheres estarem in-seridas em trabalhos menos demandantesfisicamente, que requerem em menormedida uma boa saúde. No entanto, asmedidas de saúde não apresentaramcorrelação com o termo de erro dos modelosde probabilidade de as mulheres idosas

estarem ativas e os instrumentos usadosparecem não ter sido os mais adequadospara elas. Assim, antes de aventurarconclusões muito definitivas, seria prudentefazer um estudo com instrumentos maisadequados e investigar outros possíveisdeterminantes da oferta de trabalho dasmulheres idosas. Algumas pistas aparecemaqui, diante da evidência de que as variá-veis familiares mostraram-se especialmentesignificativas entre as mulheres.

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Abstract

Analysis of the determinants of participation of elderly persons in the labor market in SãoPaulo, Brazil

The aim of this article is to analyze the determinants of the probability of being in the labor forceand the number of working hours per week of persons over the age of 60 in the city of SãoPaulo, Brazil, in 2000. The study pays special attention to the influence of the health of elderlypersons on their participation in the labor force. The dataset used in this study is the SABE, asurvey on Health, Well-Being, and Aging in Latin America and the Caribbean, with funding

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Recebido para publicação em 01/09/2006.Aceito para publicação em 06/11/2006.

from the Pan American Health Organization. To control the bias of endogeneity resulting fromthe relationship between a person’s state of health and his or her participation on the labormarket, the Instrumental Variable method is used. Various measures of health were used inorder to analyze different effects of the condition of the health of elderly persons in the laborsupply. The results indicate that, among men, variables representing economic status carryconsiderable weight in explaining their participation in the labor supply. Among women,variables more closely related to family composition are important in explaining the results ofthe estimations. Having poor health means less probability of being active and of working agreater number of hours per week. Among men, the results of the models related to healthconditions estimated by instruments suggest that the effect of participating in the labor force forthe elderly could be negative to their health. This may be because of possible truly negativeaffects on health, or because the working elderly have better schooling and better economicstatus. This means that they use health services more frequently and are able to describe theirhealth problems more clearly.

Key words: Participation in the labor force. Elderly. Health.