PROJETO IDENTIFICAÇÃO DOS - IPARDES - …¡rio Otávio Batalha Rosane Chicarelli Alcântara José...
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PROJETO IDENTIFICAÇÃO DOS
GARGALOS TECNOLÓGICOS DA
AGROINDÚSTRIA PARANAENSE
Subsídios para umapolítica pública
SUMÁRIO EXECUTIVO
Financiamento: Secretaria de Estado da Ciência, Tecnologiae Ensino Superior/Fundo Paraná
CURITIBA
2005
GOVERNO DO ESTADO DO PARANÁ
ROBERTO REQUIÃO - Governador
SECRETARIA DE ESTADO DO PLANEJAMENTO E COORDENAÇÃO GERAL
REINHOLD STEPHANES - Secretário
SECRETARIA DA AGRICULTURA E DO ABASTECIMENTO - SEAB
ORLANDO PESSUTI - Secretário
INSTITUTO PARANAENSE DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO E SOCIAL - IPARDES
JOSÉ MORAES NETO - Diretor-Presidente
NEI CELSO FATUCH - Diretor Administrativo-Financeiro
MARIA LÚCIA DE PAULA URBAN - Diretora do Centro de Pesquisa
SACHIKO ARAKI LIRA - Diretora do Centro Estadual de Estatística
THAÍS KORNIN - Diretora do Centro de Treinamento para o Desenvolvimento
INSTITUTO AGRONÔMICO DO PARANÁ - IAPAR
JOSÉ AUGUSTO TEIXEIRA DE FREITAS PICHETI - Diretor-Presidente
ALFREDO OTÁVIO DE CARVALHO - Diretor de Recursos Humanos
ÉSIO DE PÁDUA FONSECA - Diretor de Administração e Finanças
ANTONIO COSTA - Diretor Técnico-Científico
Equipe TécnicaJorge Sebastião de Bem - IPARDES (Coordenador)Adelar Motter - IAPARKaty Maia - pesquisadora externaMarcos Martins - IAPARSérgio Wirbiski - IPARDESSolange do Rocio Machado - IPARDESEstagiário: Frederico Barbosa Bez Batti - Acadêmico de Ciências Econômicas
Consultoria UFSCarMário Otávio BatalhaRosane Chicarelli AlcântaraJosé Flávio Diniz NantesMarcelo PinhoAndréa Lago da Silva
EditoraçãoMaria Laura Zocolotti - CoordenaçãoEstelita Sandra de Matias - Revisão de textoAna Batista Martins - Editoração eletrônicaLuiza de Fátima P. M. Lourenço - Normalização bibliográfica
I19i Identificação de gargalos tecnológicos da agroindústria paranaense :subsídios para uma política pública: sumário executivo / InstitutoParanaense de Desenvolvimento Econômico e Social, InstitutoAgronômico do Paraná. – Curitiba : IPARDES, 2005.
24 p.
1.Agroindústria. 2.Gargalos tecnológicos. 3.Desenvolvimentotecnológico. 4.Paraná. I.Título. II.Instituto Paranaense deDesenvolvimento Econômico e Social. III.Instituto Agronômicodo Paraná.
CDU 631.145(816.2)
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Introdução
A economia brasileira tem passado por significativas transformações nas
últimas décadas. Nos anos 80 iniciou-se uma revolução tecnológica e gerencial, a
qual determinou novas trajetórias, tanto industriais como agroindustriais.
Comportamentos inerentes a um ambiente inflacionário e fechado à concorrência
internacional foram radicalmente alterados pelas reformas econômicas ocorridas
desde o início dos anos 90. Nesse contexto, ganham espaço novas concepções,
ações e atitudes, em que produtividade, custo e eficiência se impõem como regras
básicas para os diversos agentes econômicos sobreviverem em um mercado cada
vez mais competitivo e globalizado.
Tais mudanças requerem novas formas de organização e atuação não
apenas desses agentes, mas também dos governos, e novas formas de articulação
entre ambos. O Estado, antes “protetor” e intervencionista, tem assumido posturas
menos defensivas, desregulamentando atividades e criando condições à concorrência
nos mercados. Por outro lado, o setor privado tem influenciado cada vez mais as
ações governamentais, as quais vêm adquirindo caráter mais “técnico”, além das
preocupações com a manutenção da estabilidade macroeconômica, reestruturação
produtiva e modernização da economia e do próprio Estado.
Na esfera do agronegócio, essa nova realidade abre perspectivas
importantes, mas também surgem problemas e desafios a serem vencidos, os quais
têm exigido grande esforço de adaptação das empresas e produtores. Para
alcançar melhores condições de competitividade, o empresariado desses segmentos
vêm adotando estratégias mais arrojadas que buscam promover uma reestruturação
produtiva e organizacional substantiva.
Nesse sentido, a incorporação de novas tecnologias assume um papel
central na agroindústria do Estado do Paraná, dada a relevância para o aumento da
produtividade e criação de vantagens comparativas dinâmicas. Os obstáculos que
podem surgir nesta incorporação interferem diretamente, prejudicando o desenvol-
vimento do agronegócio.
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Esta pesquisa apresenta um caráter inédito, visto que o Estado doParaná tem uma participação significativa no agronegócio nacional, o que nãoimpede que este enfrente fatores que podem inibir seu desenvolvimento. Apesquisa busca, pois, identificar os principais condicionantes tecnológicos quecriam esses obstáculos e aqueles que potencializam a eficiência e eficácia dascadeias agroindustriais, investigando causas e sintomas, bem como sinalizando asmedidas mais adequadas de intervenção para a melhoria do desempenho dossegmentos examinados.
É notório o potencial de desenvolvimento da agroindústria paranaense,dada sua vocação agrícola e sua elevada produção em relação à dos demaisestados. Um grande avanço pode ser alcançado com a identificação e superaçãodos possíveis gargalos tecnológicos em seus diversos segmentos. Esta pesquisacontempla o estudo de seis deles, considerados representativos para o Estado,quais sejam: couro, leite, mandioca, suco de frutas, trigo e olerícola.
O presente relatório está organizado em três partes. A primeira apresentaa síntese da metodologia adotada, na qual descrevem-se as etapas do trabalho,quais sejam: seleção das cadeias agroindustriais, revisão bibliográfica dos segmentos,seleção das empresas a serem pesquisadas, elaboração dos questionários,construção dos indicadores, realização das entrevistas-piloto, aplicação dos questio-nários, tabulação dos dados, tratamento estatístico aos dados, análise dos resultadose elaboração do relatório final.
A segunda parte examina os resultados por segmento e está subdivididaem três itens: o primeiro mostra a trajetória tecnológica dos segmentosselecionados; o segundo apresenta a caracterização geral e específica destes noParaná, seja pelo porte das empresas seja por regiões; o terceiro item analisa osindicadores de tecnologia, também pelo porte das empresas e por regiões. Aquidestacam-se as eficiências e fragilidades das cadeias produtivas.
Na última parte do relatório são identificados os gargalos tecnológicos decada segmento examinado, assim como elaboradas algumas proposições e/ousugestões de políticas públicas para o Estado do Paraná, tendo em vista os resultadosobtidos na presente pesquisa.
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1 Metodologia da Pesquisa
Os procedimentos metodológicos foram divididos em três etapas.
A primeira foi orientada para a elaboração de critérios que foram
utilizados para a escolha de cada um dos segmentos a serem objetos da pesquisa.
Como primeiro critério de seleção, foram descartados produtos ou
cadeias que haviam sido pesquisados nos últimos cinco anos. É o caso de proteína
animal e óleos vegetais, entre outros. Num segundo momento, foram distinguidos
segmentos cujas características setoriais atendiam a uma orientação geral do
projeto de perseguir, entre outros objetivos, além da questão tecnológica, a geração de
emprego e de renda.
Considerando esses critérios, foram selecionados os seguintes segmentos
da produção agroindustrial paranaense:
• Leite e derivados: o segmento foi escolhido por ser uma atividade que
está distribuída em todo o território paranaense e por incorporar um
número significativo de pequenos produtores.
• Trigo - moinho e massas em geral: foi selecionado tendo em vista que
seus produtos são de amplo consumo por parte da população e por se
tratar de uma atividade relevante para a geração de emprego e renda.
• Mandioca - fécula e amidos modificados: foi selecionado devido ao seu
potencial na produção de novos produtos e por ser uma atividade de
importância regional e nacional, apesar de sua produção ser realizada
em pequenas áreas com participação de pequenos e médios
produtores.
• Fruticultura - sucos de frutas: além de ser uma atividade relativamente
nova no Estado, caracteriza-se por ser processada em pequenas
áreas e por pequenos produtores.
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• Olerícolas - pré-cozidos e legumes em geral: a produção está
concentrada no cinturão verde das grandes cidades e está apoiada
numa pequena, mas significativa produção.
• Couro - curtumes: trata-se de uma atividade com grande espaço de
crescimento no agronegócio paranaense e geradora de empregos.
Numa segunda etapa, foram realizadas entrevistas com lideranças e
representantes dos segmentos selecionados, tais como sindicatos, associações e
cooperativas, que tiveram como objetivo conhecer as particularidades dos produtos
e cadeias. Como grande parte das lideranças está vinculada diretamente às unidades
industriais, aproveitou-se a oportunidade para uma visita ao processamento industrial,
bem como para observação de todas as etapas da linha de produção.
Concomitantemente a esse processo de conhecimento dos segmentos,
foi elaborado o questionário, que incorporou a experiência adquirida nas entrevistas
e do qual resultaram questões gerais e específicas para cada segmento selecionado.
A terceira etapa consistiu na adoção de um critério para classificar as
empresas por porte de faturamento. Para tanto, acessou-se o cadastro das
empresas da Secretaria da Fazenda do Paraná. O critério de seleção baseou-se
em um piso de faturamento anual de R$ 100.000,00 para o estabelecimento
industrial, o que resultou em 320 empresas selecionadas para o conjunto dos
segmentos. Após uma verificação mais apurada, com a identificação daquelas que
constavam em listas telefônicas atuais, já que as informações eram de 2002,
chegou-se a 270 empresas a serem pesquisadas. Desse total, foram pesquisadas
163 empresas, as quais responderam adequadamente ao questionário.
O cálculo do tamanho das empresas foi realizado por segmento, tendo
como parâmetro a média aritmética simples do faturamento, para definir o limite
entre pequena e média empresa. Em seguida, adotou-se a técnica de Niehans para
definir o limite entre a média e a grande empresa. A partir disto foram selecionadas
as grandes, médias e pequenas empresas a serem estudadas.
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Outro parâmetro utilizado foi o agrupamento das empresas selecionadas
para pesquisa por mesorregiões geográficas do IBGE. Em seguida, visando facilitar o
processamento e análise das informações levantadas, estas mesorregiões foram
agrupadas em quatro grandes regiões: região 1 - agrega as mesorregiões Norte
Central, Norte Pioneiro e Noroeste; região 2 - é composta pelas mesorregiões Oeste,
Centro-Ocidental e Sudoeste; da região 3 - fazem parte as mesorregiões Centro-Sul,
Sudeste e Centro-Oriental; e, por último, a região 4 - compreende a mesorregião
Metropolitana de Curitiba.
Finalmente, é importante ressaltar que fazem parte do relatório final deste
estudo os seguintes indicadores: de esforço de inovação em processo e qualidade;
desempenho em inovação de produto; e articulação local da cadeia produtiva. Os
resultados desses indicadores serão avaliados para o conjunto das empresas e
também para cada segmento isoladamente.
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2 Análise dos Resultados por Segmento
2.1 Segmento trigo: moinho
No segmento do trigo foram pesquisados 23 moinhos, sendo 18 de pequeno
porte, 3 de médio e 2 de grande porte. Os pequenos moinhos possuem em média 13
empregados, sendo que 12 estão na produção. Os de porte médio empregam em torno
de 50 trabalhadores, dos quais 41 estão na produção, e os grandes possuem cerca de
82 empregados, dos quais 60 estão na produção. Esse resultado, já esperado,
confirma que as empresas de portes médio e grande requerem mais postos de
trabalho na administração, dadas as suas escalas de produção.
De modo geral, os moinhos realizam controle de qualidade (CQ) da
farinha; 16 pequenos moinhos realizam esse CQ utilizando, principalmente,
laboratórios privados da região e fora dela. Apenas 2 moinhos de pequeno porte
não realizam CQ, que justificam pelo alto custo. Poucas empresas – 2 pequenas, 3
médias e uma grande – possuem laboratório próprio ou utilizam laboratório público
para elaborar suas análises. Segundo as pequenas empresas, a implantação e
manutenção de laboratório próprio acarreta um elevado custo.
Em relação à capacitação da mão-de-obra, os moinhos entrevistados
costumam treinar seus funcionários. Os principais treinamentos se dão por meio de
cursos internos, cursos ofertados pelos fornecedores de máquinas e equipamentos
e outros cursos profissionalizantes. Basicamente, não existe diferença entre as
pequenas e médias empresas com relação ao treinamento, sendo mais intensificado
nas grandes empresas.
O destino das vendas da farinha é predominantemente regional, para as
pequenas empresas (43,6%), e para fora do Estado para as de portes médio e
grande (65%). É importante destacar que 13,4% e 15% das vendas das pequenas e
médias empresas, respectivamente, são para outras regiões dentro do Paraná. Das
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vendas das pequenas empresas, 34% destinam-se para outros estados. Observa-se,
portanto, que o destino da produção de farinha está efetivamente relacionado ao
porte do moinho.
As três principais estratégias utilizadas pelos moinhos para o seu desen-
volvimento são as melhorias promovidas na qualidade do produto, a redução do
custo da mão-de-obra e a redução no consumo de energia. Isto ocorre indepen-
dentemente do porte do moinho. Somente uma empresa fez referência aos
equipamentos. Contudo, a melhoria nos equipamentos pode impactar nesses itens
citados anteriormente – qualidade e consumo de energia.
Confirmando a importância dos equipamentos, 66% das pequenas e médias
empresas e 63% das grandes implementaram seus processos via alterações nos
equipamentos, introduzindo também mudanças no layout das instalações.
As três principais dificuldades para adoção de novas tecnologias
observadas na pesquisa referem-se à falta de recursos próprios, falta de escala de
produção e reduzida demanda qualificada, o que independe do porte do moinho. A
falta de pessoal qualificado não foi citada, provavelmente em decorrência do
treinamento realizado pelas empresas.
Os três principais gargalos tecnológicos operacionais verificados nos
moinhos residiram na quantidade e qualidade da matéria-prima e na utilização de
máquinas e equipamentos relativamente defasados, independentemente do porte
do moinho.
Quanto ao controle de qualidade das várias etapas produtivas, constatou-se
que este é realizado na recepção da matéria-prima, no processamento e no produto
final, independentemente do porte do moinho.
E no que se refere à avaliação tecnológica, a maioria dos moinhos de
pequeno porte e os dois grandes consideram-se no padrão médio, enquanto os de
porte médio enquadram-se em um padrão acima.
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2.2 Segmento trigo: massas e biscoitos
Neste segmento foram pesquisadas 23 empresas, sendo 20 pequenas, 2
médias e uma grande. As pequenas empregam em média 30 empregados, dos
quais 27 estão na produção. As empresas de porte médio empregam 378
empregados em média, sendo que, destes, 320 estão na produção. O que chama a
atenção é que na grande empresa há em média 150 trabalhadores, dos quais 130
encontram-se na produção. Este fato de as médias empresas empregarem mais do
que a grande empresa se dá pela incorporação de novas tecnologias poupadoras
de mão-de-obra.
Em relação ao controle de qualidade, a maior parte das pequenas empresas
e todas as médias o realizam principalmente na matéria-prima. O local para a
realização das análises é variável. As pequenas utilizam laboratório próprio, privado e
público, na região e fora dela. As empresas médias não utilizam laboratório privado.
Apenas uma delas possui laboratório próprio, embora as duas realizem as análises em
laboratórios públicos. As empresas que não realizam CQ não o fazem por não
considerarem necessário tal procedimento ou devido ao elevado custo envolvido.
Verificou-se que, independentemente do porte, todas as empresas de
massas fornecem treinamentos aos seus funcionários. As formas mais utilizadas
são os cursos internos, seguidos de cursos realizados nas empresas fornecedoras
e cursos profissionalizantes.
As empresas de massas dão diferentes destinos aos seus produtos, em
função do seu porte. As pequenas concentram suas vendas principalmente no
município, na região e em outras regiões do Estado. A colocação dos produtos em
outros estados é bem menor. Este mercado é atendido preferencialmente pelas
médias e grandes empresas.
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Quanto às estratégias mais utilizadas para o desenvolvimento das
empresas, estas consistem em melhorar a qualidade do produto, reduzir o custo
da mão-de-obra e reduzir o consumo de energia. Isto ocorre independente do
porte da empresa.
Observou-se que a prática de desenvolver novos produtos e processos
ocorre mais freqüentemente nas médias empresas do que nas pequenas. Para
estimular o desenvolvimento, as empresas têm introduzido novas máquinas e
equipamentos, modernizado as atuais e executado procedimentos de melhoria no
layout. Algumas também introduziram sistemas de controle e automação, fato mais
freqüente nas médias do que nas pequenas empresas. Mudanças na matéria-prima
e controle ambiental não fazem parte das três principais preocupações da maioria
das empresas de massas.
Em relação às dificuldades para a adoção de novas tecnologias, destaca-se
principalmente a falta de recursos próprios, de escala de produção e de uma demanda
qualificada, para todas as empresas analisadas.
Os três principais gargalos para as produtoras de massas, independente
do porte, referem-se à quantidade e qualidade da matéria-prima e ao uso de
máquinas e equipamentos ultrapassados, que comprometem o processo. Convém
ressaltar que 5 pequenas empresas relataram a questão da logística e 4
mencionaram o controle do meio ambiente. Entre as médias, 2 relataram a logística
como gargalo e somente uma fez menção ao controle ambiental.
Verificou-se que a matéria-prima não representa dificuldade para 43%
das pequenas empresas. Os dois principais problemas enfrentados por 18% delas
referem-se ao custo e à sazonalidade. Já as empresas de porte médio apresentam
problemas com a oferta da matéria-prima e com a tributação.
Em geral, o controle de qualidade é realizado, principalmente, na recepção
da matéria-prima, no processamento da mesma e no produto final para todas as
empresas.
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As pequenas empresas de massa consideram-se no padrão tecnológico do
setor (62%) ou abaixo dele (29%), enquanto as 2 empresas de médio porte situam-se
dentro do padrão tecnológico, e a grande encontra-se acima desse padrão.
2.3 Segmento couro: curtumes
Este segmento é formado, em sua maioria, por pequenas empresas, das
quais 46% foram implantadas há mais de 10 anos, sendo que 38% iniciaram suas
atividades entre 5 e 10 anos, e somente 15% foram recentemente implantadas, há
menos de 5 anos. Das empresas de médio e grande portes, 50% estão funcionando
há mais de 10 anos, e 50% entre 5 e 10 anos. Cabe ressaltar que, da amostra
analisada, 13 são pequenas, 2 são de médio e 2 de grande porte.
No que se refere ao número médio de empregados dos curtumes, as
pequenas empresas empregam em média 36 trabalhadores, sendo que, destes, 29
trabalham na produção. Já as empresas de porte médio ocupam 88 empregados
em média, sendo que 80 estão na produção. As grandes empresas empregam, em
média, 307 trabalhadores, dos quais 296 encontram-se na produção. Tal resultado
indica que, quanto maior o porte da empresa, maior é o número médio de
trabalhadores envolvidos na administração.
Várias empresas de pequeno porte declararam não usar nenhum tipo de
laboratório. O uso de laboratórios é mais difundido em empresas consideradas aqui
como de maior porte. Laboratórios próprios estão presentes em apenas duas das
treze empresas deste porte. Metade das médias e grandes dispõe de laboratório
próprio. A razão apontada pelas empresas que afirmaram não utilizar laboratórios
está em não o considerarem necessário ou avaliarem seu custo como elevado.
Quanto ao sistema de controle de qualidade, apenas as empresas
consideradas de grande porte indicaram a implantação de forma completa das ISO
9000 e ISO 14000. A implantação parcial ocorreu entre as pequenas e médias
empresas, as quais indicaram a adoção de HACCP, CEP e ISO 9000.
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Nos curtumes visitados, independentemente do porte, os dois tipos de
treinamento mais utilizados são os cursos internos e os cursos fornecidos por
empresas fornecedoras ou clientes. Os cursos profissionalizantes estão em terceiro
lugar para empresas de pequeno e médio portes, e para as grandes estão com o
mesmo peso das duas primeiras opções já citadas.
Quanto ao destino das vendas, 73% dos pequenos curtumes vendem
para outros estados, sendo que os de médio e grande portes vendem para esse
destino, respectivamente, 23% e 27%. Já a venda regional está entre os pequenos,
que atendem a 15%, e os médios, que atendem a 25%. As vendas para o mercado
externo estão concentradas nas grandes e médias empresas, 68% e 52%,
respectivamente. As pequenas participam marginalmente com 1% nesse mercado.
No que se refere às estratégias de desenvolvimento mencionadas pelos
empresários do segmento, destacam-se a melhoria na qualidade dos produtos e a
redução de custo da mão-de-obra e de consumo de energia. Alguns citaram ainda,
como estratégia, o aumento da produtividade dos equipamentos. As empresas de
médio e grande portes ressaltaram, também, a agregação de valor nos produtos,
a ampliação do leque de produtos e a redução do consumo de insumos e dos
danos ambientais.
Das 13 pequenas empresas entrevistadas, apenas 3 afirmaram ter
lançado produtos novos nos últimos dois anos e apenas uma afirmou ter lançado
produtos substancialmente modificados. Já as médias e grandes empresas
entrevistadas lançaram novos produtos, e metade delas também lançou produtos
substancialmente modificados neste período.
Em relação à alteração dos processos produtivos introduzidos para a
melhoria das empresas, constatou-se que, independentemente do porte, a maioria
promoveu principalmente a modernização de máquinas e equipamentos. A segunda
alteração mais significativa se deu pela aquisição de máquinas e equipamentos e
melhoria do layout. E, em terceiro lugar, o sistema de controle e automação de
processo foram opções das médias e grandes empresas.
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Entre as principais dificuldades na adoção de estratégias para
incorporação de novas tecnologias destacaram-se, em todas as empresas, a falta
de recursos próprios, a falta de escala de produção, bem como a ausência de
demanda qualificada.
Quanto aos possíveis gargalos tecnológicos, os curtumes, em geral,
mencionaram ineficiência na quantidade e qualidade ofertada de matéria-prima.
Algumas empresas sublinharam que há problemas no que tange às
máquinas e equipamentos, na qualidade total e na logística de vendas. Em menor
incidência foram citados gargalos na questão do meio ambiente, bem como na
manutenção dos equipamentos utilizados.
As maiores dificuldades encontradas para aquisição de matéria-prima,
independentemente do porte da empresa, foram: oferta insuficiente e baixa
qualidade. O custo é uma variável importante para as grandes e pequenas
empresas entrevistadas. Para as médias, a tributação, entre outros, é também
apontada como relevante.
O controle de qualidade das etapas produtivas das pequenas empresas
ocorre primeiramente no processamento industrial, em segundo lugar no produto
final, e, em terceiro, na recepção da matéria-prima. O controle de qualidade se dá
nessas três etapas nas empresas de médio e grande portes, sendo que uma das
grandes empresas também controla a qualidade no transporte da matéria-prima.
Quanto à avaliação tecnológica, a maioria dos empresários (69%) avaliou
sua pequena empresa como de padrão tecnológico médio, e 23% consideraram-na
abaixo desse padrão. Tanto as empresas de médio como de grande porte conside-
ram-se como tendo padrão tecnológico médio.
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2.4 Segmento leite: laticínios
Neste segmento foram pesquisadas 63 empresas, sendo que 56 são de
pequeno porte, 5 de médio e 2 de grande porte. Predominam plantas com mais de dez
anos de implantação, sendo 29 pequenas, 5 médias e uma grande. É interessante
registrar, ainda, que 18% dos pequenos laticínios representam o investimento mais
recente em novas unidades (indústrias com menos de 5 anos de idade).
Em relação a emprego, verificou-se que nos pequenos e médios laticínios
a maior parte dos empregados está alocada em atividades da produção. Já nas
grandes empresas este percentual é menor. Isso sinaliza uma preocupação maior
das grandes empresas (atrelada a questões de maior disponibilidade de capital e
marcas mais fortes no mercado) em desempenhar diretamente atividades
relacionadas à comercialização, distribuição e desenvolvimento de novos produtos.
Quanto à presença de laboratórios nessas empresas, verificou-se que
predominam, em todas elas, o laboratório próprio para análises de seus produtos.
Destaca-se que nas empresas pequenas e médias são utilizados também
laboratórios privados e públicos da própria região e fora dela. Das três empresas
pesquisadas que não possuem laboratório, apenas duas apontaram razões para
este fato. Estas empresas, classificadas como de pequeno porte, afirmaram que ou
não o consideram necessário ou o custo de criá-lo e mantê-lo é elevado,
inviabilizando a iniciativa.
Em relação ao sistema de controle de qualidade, verifica-se que é muito
baixa a difusão de sistemas de gestão, mesmo entre as empresas de maior porte.
Entre as empresas entrevistadas, apenas duas implantaram integralmente sistemas
de controle total da qualidade e uma dispõe de certificação ISO 9000. Observa-se
que algumas poucas empresas implantaram parcialmente sistemas de controle da
qualidade, sendo mais comum o HACCP.
No que se refere ao tipo de treinamento da mão-de-obra, constatou-se que
nos laticínios visitados, independentemente do seu porte, os dois tipos de treinamento
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mais utilizados são os cursos internos e os cursos oferecidos por empresas
fornecedoras ou clientes. Os cursos profissionalizantes estão em terceiro lugar para
empresas de pequeno e médio portes, e as grandes mantêm o mesmo peso que as
duas primeiras opções já citadas. Em menor grau para empresas de pequeno e médio
portes, os cursos técnicos de órgãos como Senai, Sebrae e Cefet são também
relevantes, assim como cursos regulares de graduação e pós-graduação.
As vendas das empresas pesquisadas destinam-se tanto para a
própria região e município como para outras regiões e estados. Ressalta-se que
as vendas das grandes e médias empresas estão concentradas em outros
estados, 65% e 48%, respectivamente. Chama a atenção que, nos dois últimos
anos, as grandes empresas realizaram vendas para o mercado externo, em
torno de 18% da sua produção.
Em relação às estratégias apontadas para o desenvolvimento dos
laticínios, destacam-se três prioridades, quais sejam: melhorar a qualidade dos
produtos, reduzir custos de mão-de-obra e de energia.
É importante ressaltar que 13 empresas de pequeno porte lançaram
novos produtos, além das grandes e médias empresas do segmento analisado.
As maiores dificuldades das empresas, independentemente do porte, em
adotarem estratégias para incorporação de novas tecnologias, foram falta de
recursos próprios, falta de escala de produção e ausência de demanda qualificada.
Mesmo as empresas consideradas grandes assinalam a falta de escala de produção
como um gargalo.
Os tipos de processos alterados ou introduzidos pelo conjunto dos laticínios
analisados foram principalmente por meio da aquisição de novas máquinas e
equipamentos, pela melhoria do layout das plantas e pela modernização de máquinas
e equipamentos.
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As três maiores dificuldades para absorção de novas tecnologias pelas
empresas analisadas, em geral, foram: falta de recursos próprios, falta de escala de
produção e reduzida demanda qualificada para os produtos lácteos.
Os principais gargalos tecnológicos apontados por todas as empresas
foram: disponibilidade de matéria-prima em quantidade, matéria-prima com
qualidade e máquinas e equipamentos. Para empresas de porte médio e pequeno
foram apontadas, também, dificuldades com qualidade total, logística de vendas e
manutenção dos equipamentos utilizados no processo produtivo.
Entre as maiores dificuldades encontradas pelos laticínios de pequeno e
médio portes para aquisição de matéria-prima encontram-se o elevado custo, oferta
insuficiente e sazonalidade. Nos grandes laticínios a situação é um pouco diferente,
pois os principais problemas, neste caso, são apenas sazonalidade, custo e tributação.
O controle de qualidade ocorre por todas as etapas produtivas nas
empresas de médio e grande portes. Já nas empresas de pequeno porte este
controle ocorre, na maior parte das vezes, nas etapas de recepção de matéria-
prima, no processamento industrial e no produto final.
Os laticínios entrevistados, de modo geral, consideraram-se em um
padrão tecnológico médio do mercado (71% para os de pequeno porte, 60% para
os de médio e 50% para os de grande porte).
2.5 Segmento mandioca: fécula
Neste segmento da mandioca, no que se refere às empresas produtoras
de amido, seja nativo (fécula), seja modificado, foram pesquisadas 24 empresas,
sendo 17 pequenas, 5 médias e 2 grandes. Das pequenas, 47% foram abertas há
menos de 5 anos, 35% delas têm entre 5 e 10 anos de fundação e 18% possuem
mais de 10 anos de funcionamento. Entre as de médio porte, 60% operam entre 5 e
10 anos. Uma das grandes empresas foi inaugurada há menos de 5 anos, e outra
tem mais de 5 anos de existência.
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Quanto ao número médio de empregados por porte das empresas,observou-se que quanto menor o porte da fecularia maior é a concentração detrabalhadores na produção. Esse resultado já era esperado, visto que empresas deportes médio e grande, dadas as suas maiores escalas de produção, requeremmaior número de postos de trabalho na administração.
Em relação à utilização de laboratórios pelo conjunto das empresasanalisadas, verificou-se a predominância de laboratórios próprios. Os laboratóriospúblicos e privados da região e fora dela também são utilizados, mas em menorproporção.
Com relação ao controle de qualidade, independentemente do porte,poucas fecularias o realizam, e as que o fazem utilizam diferentes procedimentos,como ISO 9000 e TQC. O sistema HACCP está sendo implantado em uma pequena eem uma grande fecularia.
Quanto à capacitação da mão-de-obra, o conjunto das fecularias costumatreinar seus funcionários por meio de cursos internos, cursos nas empresasfornecedoras e cursos profissionalizantes. Já as grandes e médias feculariastendem a oferecer auxílio na escolarização de seus funcionários.
As vendas, independentemente do porte das empresas, destinam-seprincipalmente a outros estados. Ressalta-se que as grandes empresas tambémvendem uma proporção significativa para a própria região.
Em relação às estratégias para o desenvolvimento da empresa, a maioriadelas priorizou a melhoria na qualidade dos produtos, assim como a redução decustos tanto da mão-de-obra como de energia. As empresas de pequeno e médioportes destacaram também o aumento da produtividade dos equipamentos, aagregação de valor nos produtos e a ampliação de seu leque de produtos. Duaspequenas empresas ressaltaram a redução do consumo de insumos e a reduçãodos danos ambientais como estratégias para o seu desenvolvimento.
No que se refere ao lançamento de novos produtos, verificou-se que 24%das pequenas, 60% das médias e as duas grandes empresas pesquisadasinvestiram para tanto. Já no que tange aos produtos substancialmente modificados,apenas 18% das pequenas e 60% das médias investiram nessa linha.
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As fecularias têm realizado alterações no processo de fabricação, pormeio da aquisição de novas máquinas e equipamentos, modernização, automaçãoe melhoria do layout da planta industrial. Estes três itens relacionados às máquinase equipamentos foram responsáveis por alterações no processo em aproxima-damente 70% das fecularias, independentemente do porte das mesmas. Algumaspequenas e médias empresas também citaram como importante o controle ambiental.
As dificuldades para adoção de novas tecnologias concentram-se em trêsitens principais: falta de recursos próprios, ausência de escala de produção e faltade uma demanda qualificada.
Os principais gargalos tecnológicos que as fecularias, em geral, têmenfrentado, referem-se à quantidade ofertada da principal matéria-prima, à qualidadeda mesma e das máquinas e equipamentos. Algumas pequenas empresas tambémcitaram como gargalo a qualidade total e a logística de vendas, sendo que umnúmero reduzido delas mencionou o meio ambiente e controle de resíduos, além damanutenção de equipamentos utilizados no processo produtivo.
Foram observadas reclamações relacionadas à aquisição da matéria-prima. As principais referem-se à oferta insuficiente e à sazonalidade para todas asempresas, além do seu elevado custo para as pequenas e médias, e baixa qualidadepara as pequenas.
O controle de qualidade tem sido realizado em várias etapas produtivas,por todas as empresas entrevistadas. Verificou-se que esse controle é efetuadoprincipalmente no processamento industrial e no produto final. Na etapa darecepção da matéria-prima as empresas também realizam o controle de qualidade,sendo em menor incidência nas etapas de transporte da matéria-prima e napropriedade agrícola.
Quanto à avaliação tecnológica da indústria, segundo os empresáriosentrevistados 76% das pequenas empresas consideram-se em um padrãotecnológico médio e 24% declararam estar acima do padrão. Já 80% das empresasde porte médio reconhecem que estão em um padrão tecnológico médio e 20%consideram-se acima desse padrão. Das duas grandes empresas, uma delasdeclarou estar acima, e outra no padrão tecnológico médio.
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2.6 Segmento olerícola: produtos minimamente processados
No segmento de olerícolas foram entrevistadas 7 empresas, sendo 5 de
pequeno porte, uma de médio e outra de grande porte. Das pequenas empresas, 2
operam há mais de 10 anos, outras duas entre 5 e 10 anos, e uma foi implantada
há menos de 5 anos. A empresa média instalou-se há menos de 5 anos, e a grande
há mais de 10 anos.
O número médio dos empregados das pequenas empresas é de 30
trabalhadores, sendo que 25 deles estão na produção. A empresa de porte médio
tem 54 empregados, dos quais 48 trabalham na produção, e a grande empresa
emprega 160 trabalhadores, dos quais 146 estão na produção.
Em relação à utilização de laboratórios, observou-se que apenas uma
pequena empresa usa laboratório privado fora da região para o controle de qualidade,
assim como as de médio e grande portes, sendo que estas últimas também possuem
laboratório próprio. Além disso, a grande empresa faz uso de laboratório privado na
região. As duas empresas pequenas que não utilizam laboratórios para controle de
qualidade relataram que não os consideram necessários.
Em relação à adoção de sistemas de qualidade, apenas a média e a
grande empresas possuem HACCP implantados parcialmente. A empresa média
possui TQC e CEP já implantados, e a grande possui a ISO 9000. As pequenas
relataram possuir outros sistemas de qualidade vinculados à produção orgânica que
certificam a cadeia produtiva como um todo. Nenhuma das empresas possui ISO
14000, o que pode ser creditado ao fato de o processo produtivo não ser poluente.
Em relação à qualificação e treinamento da mão-de-obra, os cursos
internos, seguidos dos cursos oferecidos por fornecedores de equipamentos ou
clientes e cursos profissionalizantes (pós-médio), são os mais utilizados pelo
conjunto de empresas pesquisadas. Em relação ao auxílio para elevar a
escolaridade, seja na graduação seja na pós-graduação, apenas a grande empresa
possui essa preocupação.
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As vendas das pequenas e médias empresas são de 89% e 80%,
respectivamente, no próprio município ou região onde está instalada, e o restante
destina-se a outros estados. Já no caso da grande empresa, 80% da produção é
vendida para outros estados, 10% é vendida para outras regiões, 7% para o
município ou para a própria região e 3% é exportada.
No que se refere às estratégias de desenvolvimento mais importantes, as
empresas do segmento mencionaram: melhorar a qualidade dos produtos, reduzir
custos com mão-de-obra e reduzir consumo de energia.
As empresas média e grande afirmaram ter lançado produtos novos
nesses últimos dois anos. Das pequenas, apenas 40% fizeram a mesma opção e
20% afirmaram ter efetuado alterações substanciais nos produtos existentes.
Em relação aos processos alterados ou introduzidos para melhoria das
empresas pesquisadas, constatou-se que as duas empresas de porte médio e
grande, bem como 60% das pequenas, relataram ter adotado ações que visam à
melhoria do layout das instalações industriais. Esta mesma proporção das
pequenas e a grande afirmaram ter adquirido novas máquinas e equipamentos. Já
a empresa média apontou mudanças no processo de aquisição de matérias-primas
e outras iniciativas não especificadas. A modernização das máquinas e equipamentos
existentes e a adoção de controle ambiental foram opções de apenas 20% das
pequenas empresas. Já a adoção de sistemas de controle e automação de
processos foi opção de 40% das pequenas empresas e da grande empresa.
Para o conjunto das empresas, as duas dificuldades mais importantes em
relação às estratégias para incorporação de novas tecnologias foram: falta de
recursos próprios, de escala de produção e de demanda qualificada. A falta de
financiamento foi citada por apenas uma pequena empresa.
Quanto aos gargalos tecnológicos operacionais das empresas
processadoras de olerícolas, os mais citados foram: matéria-prima em quantidade,
para as empresas de todos os portes, matéria-prima em qualidade, assim como
máquinas e equipamentos, para todas as pequenas e a grande empresas.
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Em relação às dificuldades para aquisição de matéria-prima pelas
empresas pesquisadas, uma pequena e a média empresa não as encontraram. No
entanto, duas pequenas empresas alegaram insuficiência na oferta e problemas de
sazonalidade. Já a grande empresa mencionou dificuldades relativas ao custo da
matéria-prima.
A maioria das empresas pesquisadas realiza controle de qualidade da
matéria-prima em todas as etapas da produção, na propriedade rural, até na
elaboração do produto final, com exceção da empresa média, que faz também o
controle de qualidade no transporte da matéria-prima.
Na avaliação tecnológica do setor, 80% das pequenas empresas
consideram-se no padrão tecnológico médio do setor e 20% abaixo deste. A empresa
de porte médio avalia-se acima do padrão, e a grande empresa considera-se no
padrão médio do setor.
2.7 Segmento fruticultura: suco e polpa de frutas
Este segmento merece uma observação inicial, pois ele é ainda incipiente no
Estado do Paraná. Há apenas 5 empresas, das quais 3 foram pesquisadas: uma de
pequeno porte, uma de médio e outra de grande porte. As empresas média e grande
foram instaladas há menos de 5 anos, e a pequena entre 5 e 10 anos. Os resultados
destas três empresas pesquisadas serão considerados a seguir em seu conjunto.
As empresas deste segmento empregam em média 42 empregados, dos
quais 27 estão ocupados na produção. Duas empresas possuem laboratório
próprio, mas também utilizam laboratórios privado e público na região e fora dela.
Quanto ao sistema de controle, duas empresas pesquisadas implantaram
parcialmente o sistema HACCP. Em relação às estratégias para o seu desenvol-
vimento, as três empresas buscam melhorar a qualidade dos produtos, reduzir custos
de mão-de-obra e de energia; duas delas mencionaram como estratégia o aumento da
produtividade dos seus equipamentos e a redução do consumo de insumos.
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É importante ressaltar que as vendas deste segmento destinam-se princi-
palmente à exportação (64%) e o restante está voltado para o mercado interno.
No que se refere aos processos alterados ou introduzidos para melhoria
das empresas, o conjunto destas ressaltou a modernização de máquinas e equi-
pamentos, sistemas de controle e automação de processos e controle ambiental.
Em relação às dificuldades para adotarem estratégias na incorporação de
novas tecnologias, as empresas indicaram principalmente a falta de recursos
próprios e de escala de produção. Citaram, ainda, que a matéria-prima, tanto em
termos de quantidade como em qualidade, assim como máquinas e equipamentos,
são os três gargalos tecnológicos mais importantes.
O controle de qualidade é efetuado por todas as empresas nas etapas de
recepção da matéria-prima e no processamento industrial; duas delas também
controlam a qualidade na propriedade agrícola, no transporte da matéria-prima e
em seu produto final.
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3 Propostas de Políticas para os SegmentosSelecionados
Com base no diagnóstico elaborado, foi possível identificar alguns
gargalos nos seis segmentos examinados. Um dos gargalos, particularmente,
chamou a atenção por ser comum a todos eles, o que diz respeito ao fornecimento
da matéria-prima, seja em quantidade seja em qualidade. As causas são as mais
diversas, passando pela questão da sazonalidade, do preço, do estímulo à
exportação (como é o caso do couro wet blue), entre outras.
A preocupação com as matérias-primas desses segmentos fundamenta-se
na incerteza que é inerente à produção agropecuária. Em face dos ciclos biológicos
a que estão submetidas, tais matérias-primas sofrem oscilações na oferta e
demanda devido ao comportamento das safras e às dificuldades de logística de
algumas delas, visto que não podem percorrer grandes distâncias, causando,
assim, escassez temporária em seu mercado.
É importante destacar que, sejam quais forem as dificuldades dos agentes
envolvidos nas cadeias produtivas, as soluções dos gargalos só poderão ser
alcançadas se se elevar o seu nível de organização e de governança das mesmas.
A partir dessa recomendação geral, apresentam-se, a seguir, algumas
propostas de políticas:
• A dificuldade na gestão da qualidade e certificação dos produtos
apresenta-se de forma geral para todos os segmentos selecionados,
devido principalmente ao alto custo de sua contratação e implemen-
tação. Sugere-se o desenvolvimento de um software de gestão da
qualidade direcionado às pequenas e médias empresas. A orientação
que deve constar no edital, colocada como meta a ser cumprida pelo
agente executor, é a implantação e acompanhamento do referido
software em dez empresas de pequeno e médio portes.
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• Em relação à matéria-prima leite, a dificuldade no controle da
qualidade dos pequenos laticínios reflete-se em perdas médias de
10% nessas unidades industriais. Esse gargalo, que se estende por
toda a cadeia, desde a produção rural, passando pelo transporte, até
os laticínios, é um dos fatores de perda de competitividade, pois
prejudica todos os elos da cadeia produtiva. Por outro lado, deve-se
destacar que o Estado do Paraná é o segundo maior produtor de
matéria-prima do setor lácteo nacional e o quarto maior produtor de
derivados de leite em nível nacional. Diante dessa problemática,
sugere-se a criação de um Centro de Desenvolvimento e Difusão de
Tecnologia para o Setor de Laticínios no Paraná, tendo como meta
principal a redução de perdas na cadeia produtiva do leite1. O
potencial para desenvolvimento de novos produtos será também uma
das metas do órgão a ser criado. O Centro de Desenvolvimento e
Difusão de Tecnologia dos Laticínios deve implantar a capacitação e
treinamento de pessoal, a fim de atender à nova demanda de mão-
de-obra com a ampliação da pauta de produtos.
• Quanto aos curtumes, o principal gargalo identificado diz respeito à
adoção de tecnologias para curtimento natural do couro. Nesse sentido,
sugere-se edital para estudo das variedades de cultivares mais
adequadas às condições edafomorfológicas do Estado do Paraná para
implantação de reflorestamentos, com vistas à industrialização dos
produtos naturais para curtimento de couro no Estado.
1Segundo dados da Pesquisa, as perdas diárias podem chegar a 90 mil reais, e as perdas no anopodem alcançar 27 milhões de reais para os produtores de leite do Estado.
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• No que se refere às fecularias, há um grande potencial no Estado
para o desenvolvimento de novos produtos derivados do amido
modificado, além da ampliação dos já desenvolvidos, os quais
participam como insumos em diversas indústrias além da alimentícia –
indústria têxtil, de papel e papelão, farmacêutica, petroquímica, de
embalagem, de cosméticos, entre outras. A difusão do amido e sua
utilização como substituto de outros insumos em determinados
produtos requer muitos estudos e testes. Sugere-se um edital para
criação de um laboratório especializado em desenvolvimento de sub-
produtos derivados dos amidos modificados para atender à demanda
das fecularias paranaenses, as quais buscam ampliar o leque de
diversificação dos seus produtos, bem como alcançar maior produti-
vidade e competitividade.
• Outra questão geral, mencionada por todos os segmentos examinados,
refere-se ao elevado custo da energia elétrica. Esse fator é deter-
minante, principalmente para aqueles segmentos que utilizam a
tecnologia do frio, como o do leite, de sucos de frutas e de olerícolas.
Sugere-se um edital para o desenvolvimento de sistemas de raciona-
lização no uso de energia, que vise tanto ao controle e à manutenção da
temperatura como aos mecanismos mais eficientes de conservação a frio.