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ANÁLISE ERGONÔMICA: UM ESTUDO
DE CASO EM UM LATICÍNIO NO
INTERIOR DO RIO DE JANEIRO
DASSAYEVY FERNANDES DA COSTA (UNIG )
MARTA DUARTE DE BARROS (UNIG )
ALTINA SILVA OLIVEIRA (UNIG )
Muitos trabalhadores sentem fortes dores por serem obrigados a
trabalhar com posturas inadequadas, por longos períodos, em
bancadas desproporcionais, máquinas e/ou locais que foram mal
projetados. O objetivo deste estudo científico é avaliaar as condições
de um setor de trabalho em uma indústria de laticínios que está
localizada no interior do Rio de Janeiro com foco na organização do
trabalho. A partir da coleta de dados fez-se análise ergonômica do
trabalho, tendo como referência o método OWAS de análise postural.
Realizaram-se várias observações in loco no setor de recepção de leite
da empresa de estudo. A partir dos estudos realizados percebeu-se o
quanto o uso da Ergonomia é importante para a realização de tarefas
no trabalho, assim se torna necessário utilizar essa ferramenta no
processo de organização das atividades.
Palavras-chave: Ergonomia; Análise ergonômica do trabalho;
Laticínios; Organização do Trabalho.
XXXVI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCÃO Contribuições da Engenharia de Produção para Melhores Práticas de Gestão e Modernização do Brasil
João Pessoa/PB, Brasil, de 03 a 06 de outubro de 2016.
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1. Introdução
As organizações possuem grande necessidade de se adequarem ao ritmo do mercado,
pois os consumidores estão cada vez mais exigentes, com isso, as grandes empresas têm
desembolsado grande parte de sua receita com instrumentos que produzam sucesso quanto à
produtividade (SILVA et al., 2014).
Segundo Takeda (2010), no contexto atual, as empresas querem cada vez mais buscar
espaço no mercado, estão cada vez mais competitivas, buscam produzir grandes quantidades
no menor espaço de tempo possível, produtos com boa qualidade e que satisfaçam seu
consumidor, consequentemente, para que isso aconteça o trabalhador estará expondo sua
saúde, uma vez que através dele as organizações alcançam os resultados esperados.
Posto isto, entende-se que para alcançar o sucesso em uma organização é intrínseco
investir no ser humano, assim se começou a desenvolver técnicas para proporcionar um
ambiente de trabalho seguro, a fim de garantir a qualidade de vida do trabalhador (PAES,
2009).
Corroborando esta ideia, Takeda (2010) postula que neste clima de exacerbada
competição, é necessário também focar nas condições do local de trabalho e na saúde dos
colaboradores, pois o ambiente de trabalho está passando por grandes transformações
atingindo assim, as condições de saúde e segurança do trabalhador.
Muitos trabalhadores sentem fortes dores por serem obrigados a trabalhar com
posturas inadequadas, por longos períodos, em bancadas desproporcionais, máquinas e/ou
locais que foram mal projetados. O nível de serviço e sua qualidade, em qualquer
organização, está diretamente ligado aos locais de trabalho, estes devem estar
ergonomicamente apropriados aos trabalhadores, assim eles realizarão suas tarefas de modo
cômodo e seguro, logo seu trabalho se tornará eficiente e eficaz (PAES, 2009).
Com isso, percebe-se que na indústria de alimentos deve-se ter um cuidado especial
com a integridade dos produtos, e isso pode causar problemas psicológicos, físicos e mentais,
devido à pressão constante na sistematização das atividades, consequentemente o ritmo de
produção será em algum momento afetado pelo surgimento de enfermidades ocupacionais ou
pela ocorrência de acidentes (RODRIGUES et al., 2008).
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A partir dos dados mencionados anteriormente, entende-se que o objetivo deste estudo
científico é avaliar as condições de um setor de trabalho em uma indústria de laticínios que
está localizada no interior do Rio de Janeiro. Esta fábrica possui ambientes destinados ao
beneficiamento de leite e produção de seus derivados, que são muito importantes para a
região, pois gera emprego e fomenta a economia local. O artigo levou em conta a análise da
Organização do Trabalho no setor de recepção de leite, uma vez que os trabalhos ainda são
bem manuais. Deste modo, realizou-se a análise ergonômica do processo produtivo,
objetivando a melhoria das atividades realizadas no setor da empresa.
O artigo está estruturado em seis seções, sendo que a primeira consiste nesta
introdução. Na seção 2 apresenta-se a Revisão da Literatura, contendo a Evolução do
Trabalho, Ergonomia, Análise Ergonômica do Trabalho (AET) e o Sistema de Avaliação. Na
seção 3, apresenta-se a metodologia utilizada. Na seção 4, a Unidade de Análise, que descreve
a empresa e o local de trabalho em questão. Na seção 5, os Resultados e Discussões. E, por
fim, a seção 6em que se encontram as Considerações Finais.
2. Revisão de Literatura
2.1 Evolução do Trabalho
Desde os primórdios da sociedade o homem fazia uso dos artifícios ergonômicos em
suas atividades diárias para otimizar suas tarefas, melhorar suas ferramentas, buscando
conforto quando estivessem utilizando-as. Com o tempo, novas técnicas surgiram e aumentou
cada vez mais a utilidade dos meios que faziam a interação entre o trabalho e o homem
(MORAES; MONT’ALVÃO, 2000).
Com o advento da Revolução Industrial, muitos trabalhadores passavam grande parte
do seu tempo dentro de uma fábrica, realizando tarefas mecanizadas e repetitivas para
conseguir alcançar o efetivo de produção determinado.
De acordo com Vainfas et al. (2010), entre os séculos XVIII e XIX, as formas de
trabalho mudaram completamente, vários trabalhadores, entre eles mulheres e crianças,
empregavam-se nas indústrias, sob um regime árduo e rigoroso, sem uma legislação
específica, a jornada de trabalho ultrapassava 12 horas diárias. Este autor diz que só a partir
de 1847, surgiram legislações que restringiam a jornada para 10 horas diárias e em 1950
criaram outra regulamentação para que o trabalho semanal se encerrasse às duas horas da
tarde de sábado, ficando o domingo para o descanso.
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Dentro deste cenário, surge a corrente Taylorista, que traz uma nova proposta para a
Organização do Trabalho. “Frederick Winslow Taylor (1856-1915) foi um engenheiro norte-
americano que iniciou, no final do século XIX, o movimento de administração científica”
(IIDA, 2005, p. 8).
Taylor postulou que o trabalho deveria ser cientificamente analisado de modo que,
para cada atividade, fosse determinado o modo correto de executá-la, com um tempo
estipulado, usando os instrumentos corretos (IIDA, 2005). Contudo, nada poderia ser deixado
a cargo do trabalhador.
Daí alia-se a engenharia de produção como importante instrumento usado para
compreender as lógicas da organização do trabalho, bem como as possíveis consequências
que os processos podem gerar nas condições de trabalho (LEITE, 2000).
2.2 Ergonomia
A Ergonomia é o estudo da adequação de tarefas realizadas pelo ser humano, neste, o
trabalho não envolve situações que só diz respeito a máquinas e equipamentos utilizados para
transformar a matéria prima, mas também toda a reciprocidade entre um indivíduo e uma
atividade produtiva, portanto envolve tanto os aspectos físicos quanto os aspectos
organizacionais (IIDA, 2005).
“A ergonomia surgiu com o objetivo de melhorar a qualidade de vida do homem
moderno, despertando assim a atenção de todos” (SOARES et al., 2014). Ela tem grande
abrangência, envolvendo atividades de planejamento e projeto, que podem anteceder o
trabalho realizado, e aquelas de controle e avaliação que ocorrem no momento em que o
trabalho está sendo realizado ou depois da realização deste (IIDA, 2005).
Segundo a ABERGO (Associação Brasileira de Ergonomia), Ergonomia é o estudo de
um conjunto de interações que o indivíduo faz com outros ambientes em que está inserido, e
também a implantação de ensinamentos que visam melhorar a qualidade de vida do ser
humano assim como o seu desempenho nas organizações. O Ergonomista coopera para a
sistematização de tarefas, organizando-as de acordo com a capacidade de cada pessoa.
A primeira associação científica de ergonomia, segundo Iida (2005) foi fundada na
Inglaterra, em 1950. Portanto, pode-se dizer que não é algo novo. A partir desses períodos a
Ergonomia expandiu-se ligeiramente por diversos países, principalmente no setor industrial.
“Em 1974, foi realizado no Rio de Janeiro o I Seminário Brasileiro de Ergonomia, quando
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diversos pesquisadores brasileiros apresentaram seus trabalhos” (IIDA, 2005, p.7 apud
MORAES; SOARES, 1989). Em 1983, foi criada a ABERGO (Associação Brasileira de
Ergonomia) (IIDA, 2005).
2.3 Análise Ergonômica do Trabalho
Através da metodologia AET (Análise Ergonômica do Trabalho) começa-se a nortear
as posturas adotadas pelos colaboradores, assim esta ferramenta teve grande importância no
desenvolvimento da pesquisa realizada.
“A AET visa aplicar os conhecimentos da ergonomia para analisar, diagnosticar e
corrigir uma situação real de trabalho. Ela foi desenvolvida por pesquisadores franceses e se
constitui em um exemplo de ergonomia de correção” (IIDA, 2005, p. 60). Ela é um conjunto
de procedimentos produtivos e totalmente interativos, usados para que um problema difícil
seja resolvido, isso requer um conhecimento prévio da atividade que se deseja analisar, saber
todas as dificuldades encontradas na realização das mesmas, para que se consiga atingir os
objetivos esperados (BRASIL, 2002).
Segundo Jackson Filho (2004), a AET é um modo de pensar e aproximar a realidade
das tarefas e não um manual de técnicas ou procedimentos. É intrínseca para a verdadeira
percepção de cada parte de adequação do trabalho ao ser humano, transformando assim os
métodos de se realizar cada tarefa, por mais simples e corriqueira que pareça.
De acordo com Wisner (1994), a AET constitui-se de cinco etapas, esta impõe
diferentes condições tanto no que diz respeito ao grau de dificuldade quanto na sua
importância, são elas: a Análise da demanda e proposta de contrato; Análise do ambiente
técnico, econômico e social; Análise das atividades e da situação do trabalho e restituição
dos resultados; Recomendações ergonômicas e Validação da intervenção, e eficiência das
recomendações.
O autor diz que a análise da demanda determina o bom entendimento da tarefa
solicitada, no fim dessa fase faz-se o contrato, que é o acordo firmado com os colaboradores
para que cumpram o que foi combinado no que diz respeito à postura no trabalho, prazos de
implantação do projeto e o sucesso nas atividades.
Corroborando a ideia de Wisner (1994), Guérin et al. (2001) diz que a demanda é o
esclarecimento de determinadas falhas não expostas entre os trabalhadores, que muitas vezes,
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são controversas. Assim, independente dos problemas identificados, faz-se necessário ensinar,
estabelecer novos conceitos para se obter uma análise de demanda eficaz.
Na análise do ambiente técnico, econômico e social, o ergonomista familiarizar-se-á
com pontos que estão fora de sua área de conhecimento, observará fatores internos e externos
que interferem de forma geral na empresa, nesta etapa o ergonomista tentará entender de que
forma esses fatores interferem em situações corriqueiras no interior da organização
(WISNER, 1994).
Segundo Wisner (1994) a Análise das atividades e da situação do trabalho
estabelece o cerne do projeto dos ergonomistas, nessa etapa observam-se os procedimentos e
faz-se a explicação de seus pontos, esta fase é observada não apenas os atos de ação, mas
também os de comunicação e observação, estabelecendo-se um diagnóstico legítimo. De
acordo com Guérin et al.(2001), essa fase refere-se aos múltiplos motivos, que levam em
conta tanto as características dos funcionários quanto os da empresa, que podem interferir na
atividade de trabalho.
O quarto passo firma-se nas recomendações ergonômicas faz-se mister orientar,
nortear, criar meios de aprendizagem na prática, para que exista uma inovação na conjuntura
dos serviços, pode-se também adequar essa situação quando o propósito seja o
desenvolvimento de um produto (WISNER, 1994).
Por fim, é necessário ratificar a proposta, colocar de maneira efetiva as ações
apresentadas no projeto, o que segundo Wisner (1994), nem sempre é possível, pois alguns só
irão se concretizar em longo prazo e precisa ter a ajuda tanto dos projetistas quanto dos
operários.
2.4 Sistema de Avaliação
Para realização do estudo, utilizou-se o sistema OWAS (Ovaco Working Posture
Analysing Sytem). Segundo Iida (2005) este sistema “foi desenvolvido por três pesquisadores
finlandeses (Karku, Kansi e Kuorinka, 1977), que trabalhavam em uma empresa siderúrgica”
(IIDA, 2005).
Eles ilustraram através de fotografias as diversas posturas existentes na indústria
pesada, conforme apresentado na Figura 1.
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A Figura 2 mostra a classificação das posturas pela combinaçao da variável (dorso,
braços, pernas e cargas).
FIGURA 1 – Sistema Owas para registro da postura
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Fonte: Adaptado de Iida (2005)
FIGURA 2 – Quadro de classificação das posturas pela combinação de variáveis
Fonte: Adaptado de Iida (2005)
3. Metodologia
A pesquisa é de caráter descritivo exploratório, de natureza qualitativa. A partir da
coleta de dados fez-se análise ergonômica do trabalho, tendo como referência o método
OWAS de análise postural.
Foi necessário um profundo conhecimento da empresa, realizaram-se várias
observações in loco, em que passou a analisar os vários aspectos ergonômicos existentes,
desde a chegada da matéria prima até o encaminhamento para as demais etapas do processo
de produção.
A coleta de dados para a realização da Análise Ergonômica do Trabalho foi feita
através de observações da postura dos trabalhadores ao realizarem as tarefas, registros
fotográficos, diálogos constantes com os colaboradores e relatórios ergonômicos.
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A pesquisa foi realizada no mês de março de 2016, uma busca feita na literatura Iida
(2005) sendo a principal fonte de análise do estudo e outros autores especialistas no assunto
trabalhado.
4. Unidade de Análise
A Empresa atua no ramo de laticínios há vários anos, possui um quadro de
funcionários total de 136 funcionários (incluindo pessoal de escritório, motoristas, funcionário
de postos de recebimento de leite etc.). A usina possui aproximadamente 50 funcionários.
A Análise Ergonômica do Trabalho (AET) foi realizada no setor de recepção de leite,
aonde a matéria prima (leite) chega em latas de 50 litros através de caminhões que as buscam
nas propriedades produtoras, e depois são levados até o laticínio. Quando os caminhões
chegam ao local, as latas são transportadas até a plataforma através de esteiras elétricas, e
depois são jogadas na balança para obter o volume total de leite de cada matrícula, assim são
computados diariamente quantos litros são enviados por cada produtor e no fim do mês,
realiza-se o pagamento pelo montante enviado no período.
O setor dispõe de quatro funcionários, respectivamente. Um analisador, que faz
exames de alizarol para identificar se o leite está apto para utilização. Um funcionário para
tirar a lata da esteira e colocar na banca e depois jogar o leite na balança. Um anotador para
registrar as matrículas e seus respectivos volumes e, por fim, um colaborador para encaminhar
as latas para a limpeza e higienização, elas são postas em uma esteira e depois passam em um
túnel com água quente e soda cáustica.
Após esse processo o leite é pasteurizado e estocado em tanques, que os conserva em
temperatura adequada para manter sua qualidade, posteriormente é encaminhado para os
setores de fabricação.
5. Resultados e Discussão
De acordo com Slack “todas as operações produzem produtos e serviços através da
transformação de entradas em saídas, o que é chamado de processo de transformação”
(SLACK et al., 2009, p. 8).
Slack et al. (2009) ratifica que dentro dos inputs (entradas) encontram-se tanto
recursos transformados quanto os de transformação. Os transformados por sua vez, são os que
sofrerão alguma mudança em determinado momento (materiais, informação e consumidores).
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Já os recursos de transformação são os que agirão para a conversão dos transformados
(instalações, pessoal). Esses inputs passam pelo Processo de Transformação e dão origem aos
outputs, que são os recursos de saída.
Faz-se mister dizer que em todos esses processos encontra-se a inserção da mão de
obra humana, tal afirmação leva-se a entender que esta, sofre as maiores consequências e que
de fato, elas podem apresentar em algum momento danos irreparáveis. Assim, pensa-se que o
melhor método para evitar problemas futuros, é usando os meios ergonômicos para
sistematizar o trabalho de forma eficaz, fazendo com que o colaborador produza, gere lucro
sem interferir em sua saúde ocupacional.
A partir dos diálogos descobriu-se que grande parte dos funcionários que trabalham no
setor, especificamente os que trabalham virando o leite das latas na balança, apresentam
problemas crônicos de coluna, o que às vezes causa o afastamento do trabalho por alguns
períodos. Outros, apesar de não apresentarem uma doença crônica no local, sentem as vezes,
algum incômodo, tanto na coluna como nos braços e pernas.
A seguir estão apresentados através de fotografias do local, os principais movimentos
dos funcionários.
Através das avaliações, as posturas foram classificadas em uma das seguintes
categorias citadas abaixo (IIDA, 2005):
a) Classe 1: postura normal, que dispensa cuidados, a não ser em casos excepcionais;
b) Classe 2: postura que deve ser verificada durante a próxima revisão rotineira dos
métodos de trabalho;
c) Classe 3: postura que deve merecer atenção a curto prazo;
d) Classe 4: postura que deve merecer atenção imediata.
Essas classificações estão diretamente ligadas as Figuras 3, 4, 5, 6 e 7 das variáveis.
FIGURA 3 – Momento em que a lata é
colocada na banca FIGURA 4 – Fechamento da válvula
para se obter o volume do leite
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FIGURA 7 – Terceiro movimento de despejo do leite
FIGURA 6 – Segundo movimento de
despejo do leite
FIGURA 5 – Primeiro movimento de
despejo do leite
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Assim, após realizada todas as etapas da AET, pode-se observar que:
a) Figura 5: observou-se que para a tarefa, deve-se tomar providências imediatas;
b) Figura 6: deve ser verificada durante a próxima revisão rotineira dos métodos de
trabalho e também merecer atenção a curto prazo;
c) Figura 7 e 8: deve merecer atenção a curto prazo;
d) Figura 9: deve merecer atenção imediata.
De acordo com Norma Regulamentadora NR 17 (BRASIL, 2002) as condições de
trabalho devem proporcionar segurança, conforto, sanidade física e mental para que o
trabalhador desenvolva suas atividades de tal forma que não cause prejuízos a curto, médio ou
longo prazo. Os postos de trabalho devem ser totalmente projetados para atender às
necessidades de quem executa as tarefas, nos trabalhos que exijam sobrecarga deve haver
intervalos para descanso, os níveis de ruído, temperatura e iluminação devem atender a todos
os parâmetros estabelecidos na NR 17 (BRASIL, 2002).
Segundo a NR 17 (BRASIL, 2002), na maioria das vezes, leva-se em conta a
necessidade de se produzir em larga escala deixando de lado o conforto do trabalhador em
suas devidas posturas nos locais de trabalho. Através das imagens pode-se observar que o
colaborador fica em pé para a realização do trabalho. Diante disso, pensa-se que por mais
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correta que seja a postura nessa posição, a tendência é sempre apoiar o peso em um dos lados
do corpo, esquerdo ou direito, quando esse apoio é feito com excesso de peso, torna-se ainda
mais prejudicial aos membros, conforme NR 17 (BRASIL, 2002). Esta diz que a postura em
pé causa a sensação de peso nas pernas e o surgimento de varizes, dores nas articulações onde
o peso do corpo é sustentado, os músculos ficam tensos e vários outros incômodos.
É notável que as posições e esforços realizados pelo colaborador em questão, levam a
crer que com o passar do tempo poderá surgir também, uma doença muito comum para quem
faz frequentes e repetitivos movimentos, a LER (Lesão por esforço repetitivo).
A LER não é uma doença que apresenta rápido desenvolvimento, ela é gradativa e se
manifesta durante o período profissional, os seus sintomas podem evoluir, se de antemão as
condições de trabalho não forem alteradas, os agravos podem se multiplicar causando outros
desconfortos (MUROFUSE; MARZIALE, 2001). Segundo Ribeiro (1997) e Barbosa et al.
(1997), existem outros termos que são usados frequentemente para os mesmos sintomas,
como LTC (Lesões por Traumas Cumulativos) e DORT (Doenças Osteomusculares
Relacionadas ao Trabalho), que são entendidas como desarranjo nos tecidos musculares
ocasionados por intensa utilização da força e de constantes movimentos. Estes danos são
ocasionados pela biomecânica incorreta dos músculos e nervos transformando-se em dor,
cansaço, baixo rendimento nas atividades, comprometendo tanto as atividades profissionais
quanto a vivência secular (OLIVEIRA, 2007). Desta forma, percebe-se que o emocional do
trabalhador também será abalado, atingindo diretamente suas faculdades cognitivas, uma vez
que vários fatores surgirão, tais como constrangimentos, incapacidade na realização de
tarefas, desânimo e outros.
Mesmo que os avanços tenham sido alcançados, continua recorrente a difícil missão
de confirmá-la como doença do trabalho e que o funcionário submetido a algum problema
deve receber tratamento adequado e medidas concretas (MUROFUSE; MARZIALE, 2001).
Para que o problema seja evitado, é de suma importância trabalhar com o sistema de
revezamento de pessoal, uma vez que esta prática ajuda o trabalhador a prevenir certos riscos
à saúde. Este revezamento é exatamente a variação constante de indivíduos entre os diversos
setores da empresa, assim o indivíduo aumenta a flexibilidade e reduz a monotonia nas
atividades (SLACK et al., 2009).
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Outra opção que pode ajudar na qualidade e segurança da tarefa realizada é o trabalho
em conjunto. Utilizando essa metodologia, os trabalhadores do setor analisado poderão dividir
a carga, fazendo com que esta seja menos prejudicial.
Santos et al. (2013) apresentaram em seus resultados que após a análise dos postos de
trabalho, sugestões foram apresentadas a empresa para que os mesmos sejam adequados aos
colaboradores. Importante observar que após a realização deste estudo, que segue a mesma
linha de pesquisa, os autores também apresentaram a empresa pesquisada (laticínios) um
diagnóstico para que possíveis melhorias sejam inseridas no setor de recepção de leite.
6. Considerações Finais
A partir dos estudos realizados percebeu-se o quanto o uso da Ergonomia é importante
para a realização de tarefas no trabalho, assim se torna necessário utilizar essa ferramenta no
processo de organização das atividades. Vale ressaltar que o trabalhador tem função intrínseca
nesse processo, ele deve conscientizar-se que há uma necessidade de colocar em prática tudo
o que foi abordado através das análises.
Feito o diagnóstico do setor, o ergonomista reuniu-se com o Técnico em Segurança e
Gerente de Produção propondo melhorias para a realização das tarefas, foi indicado os pontos
mais prejudiciais, assim pôde-se trocar informações e definir as soluções cabíveis para que a
saúde do colaborador não seja prejudicada.
Dessa forma, o presente artigo atendeu ao objetivo proposto que é avaliar as condições
de um setor de trabalho em uma indústria de laticínios que está localizada no interior do Rio
de Janeiro com foco na organização do trabalho.
Referências
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