Análise Luis Cernuda

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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE FILOSOFIA, LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS Desolación de la quimera: Análise dos poemas de Luis Cernuda Literatura espanhola do Século XX Professora: Margareth Santos Mariana Rinaldi Ribeiro Rostás nº 8568770

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Trabalho para faculdade

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UNIVERSIDADE DE SO PAULOFACULDADE DE FILOSOFIA, LETRAS E CINCIAS HUMANAS

Desolacin de la quimera:

Anlise dos poemas de Luis Cernuda

Literatura espanhola do Sculo XXProfessora: Margareth SantosMariana Rinaldi Ribeiro Rosts n 8568770

So Paulo 2015

Luis Cernuda nasceu em 1902, na cidade de Sevilla, e foi um dos mais importantes autores da grande Gerao de 27, grupo que escreveu sob o mesmo contexto histrico turbulento da Espanha na poca, apesar disso, por conta da sua natureza tmida e solitria, Cernuda no se aproximou dos outros autores e foi o que mais se distanciou das ideias do grupo, mesmo este no tendo um s estilo literrio ou tema definido.

Nas suas obras, busca harmonizar os contraditrios, trabalhando com a dualidade entre o amor e o dio, tal qual com o desejo e a repulsa, de forma cida e crtica, com traos de erotismo. Temas que podem ser justificados na sua vida pessoal, uma vez que era completamente marginalizado pela sociedade por conta da sua sexualidade, foi ento considerado um rebelde, e sua literatura ofensiva, por utilizar dessas ferramentas.

Ao produzir, o que seria seu ltimo livro, Desolacin de la Quimera em 1962, j era um homem de idade e experiente, o que acabou moldando os temas de seus poemas, mesmo mantendo sua essncia ao trabalhar com os opostos e em cima das belezas e infelicidades da vida. Essa considerada sua obra mais madura, seus poemas so uma espcie de reflexo sobre sua vida e obras passadas, alm de seus efeitos nos leitores ou como a sociedade digeriu sua escrita. Tambm abordou o prprio processo de envelhecimento e a morte j prxima, de uma forma que fez com que esta obra se tornasse uma das mais cidas e melanclicas que escreveu.

Podemos comprovar tais caractersticas nos trs poemas retirados da obra, que sero analisados neste trabalho: A sus paisanos, Despedida e Malentend. Todos eles foram compostos em verso livre, sem qualquer preocupao com a mtrica, ou, muito menos, com o tamanho das estrofes, so escritos de forma corrida, quase que como um dilogo entre autor e algum com quem deseja falar, ou at mesmo o autor com si mesmo, mergulhado em suas memrias e questionando o que se passou.

Em A sus paisanos, faz uma crtica, de forma amarga, sociedade hipcrita que no aceitou ou compreendeu suas obras, que se fez ofendida e escandalizada como se fosse um problema do autor, e no de um preconceito e falso moralismo enraizado na cultura tradicional e religiosa da Espanha. Questiona o quanto ser marginalizado e julgado dessa forma acabou por moldar sua personalidade ou o quanto influenciou na sua escrita, ento diz que perdeu a doura nas palavras, que no mais amvel como antes, mas, de forma contraditria, agradece aqueles que lhe julgaram e fizeram com que envelhecesse para ser aquele homem. Tambm levanta a pergunta de como ser sua imagem aps sua morte, se, de fato, ser esquecido como a sociedade tanto queria, mas confessa como se sente a respeito das suas obras e de como acha que merecem ateno.

Ao escrever Despedida, retoma a crtica sociedade tradicional, da qual ele mesmo se distancia, fazendo uma conexo com a gerao mais nova que ele julga ser mais liberal e mais prxima da realidade de suas obras. Faz do poema um adeus essa gerao, tanto quanto sua prpria juventude e seus amores, desejos e experincias prprias dessa fase, contrastando com a amargura e ressentimento que a velhice lhe trouxe, mas tambm reconhecendo a importncia do seu amadurecimento, que foi o que lhe deu sabedoria para poder enxergar tais prazeres, uma vez que, enquanto jovem, por ter sido criado em uma famlia tradicional e severa, no via as caractersticas dessa fase com afeto, ou, muito menos, teve uma juventude com a liberdade dessa nova gerao. Ento, explica que seria impossvel conviver com esses jovens, pois a sua morte j se aproxima e por isso d adeus aos possveis companheiros e expressa seu desejo de voltar em uma outra vida para reviver todas essas boas experincias que descreveu.

Por ltimo, ao analisar Malentend, pode-se notar que o poema destoa com sua forma dos outros aqui j citados, mas o autor continua a falar da relao entre seus textos e os leitores ou a sociedade. Reflete sobre como foi incompreendido, mal interpretado, tanto quanto como poeta, quanto como pessoa, e at mesmo por seus colegas de profisso. ento que faz referncia Pedro Salinas, autor considerado de grande importncia que tambm faz parte da Gerao de 27, ao citar Licenciado Vidriera, nome dado ao Cernuda por Salinas, j que este o considerava muito delicado e solitrio. O que, para o autor, seria um grande equvoco, e uma m interpretao desse modo, vinda de um amigo, de algum que supostamente deveria compreend-lo, era inadmissvel. Porm, apesar de ter sido to mal interpretado quanto foi, afirma que isso no o impediu de continuar escrevendo e que acabou aceitando os ttulos que lhe foram colocados, portanto, para sempre, seria o poeta estranho e incompreendido.

Com esta anlise, percebe-se que Luis Cernuda foi um autor subestimado em sua poca, com sua importncia para a Gerao de 27 devidamente reconhecida tardiamente. Ele mesmo sabia disso e acreditava na qualidade de suas obras, mas a incompreenso da sociedade somada sua vida turbulenta, no s pela famlia tradicional e o julgamento moral que sofria, mas at mesmo pelo contexto histrico de uma guerra civil e exlio, acabaram por transparecer em seus textos. Foram essas experincias de vida que formaram a dualidade que Cernuda fala constantemente: o amor e dio, o fato da vida ser bela, mas, ao mesmo tempo, repleta de sofrimentos, e de como o tempo tira a doura de um homem.

Poemas utilizados nesta anlise:

A sus paisanos

No me queris, lo s, y que os molesta cuanto escribo. Os molesta? Os ofende. Culpa ma tal vez o es de vosotros? Porque no es la persona y su leyenda Lo que ah, allegados a m, atrs os vuelve. Mozo, bien mozo era, cuando no haba brotado Leyenda alguna, casteis sobre un libro Primerizo lo mismo que su autor: yo, mi primer libro. Algo os ofende, porque s, en el hombre y su tarea.

Mi leyenda dije? Tristes cuentos: Inventados de m por cuatro amigos (Amigos?), que jams quisisteis Ni ocasin buscasteis de ver si acomodaban A la persona misma as traspuesta. Mas vuestra mala fe los ha aceptado. Hecha est la leyenda, y vosotros, de m desconocidos, Respecto al ser que encubre mintiendo doblemente, Sin otro escrpulo, a vuestra vez la propalis.

Contra vosotros y esa vuestra ignorancia voluntaria, Vivo an, s y puedo, si as quiero, defenderme. Pero aguardis al da cuando ya no me encuentre Aqu. Y entonces la ignorancia, La indiferencia y el olvido, vuestras armas De siempre, sobre m caern, como la piedra, Cubrindome por fin, lo mismo que cubristeis A otros que, superiores a m, esa ignorancia vuestra Precipit en la nada, como al gran Aldana.

De ah mi paradoja, por lo dems involuntaria, Pues la imponis vosotros: en nuestra lengua escribo, Criado estuve en ella y, por eso, es la ma, A mi pesar quiz, bien fatalmente. Pero con mis expresas excepciones, A vuestros escritores de hoy ya no los leo. De ah la paradoja: soy, sin tierra y sin gente, Escritor bien extrao; sujeto quedo an ms que otrosAl viento del olvido que, cuando sopla, mata.

Si vuestra lengua es la materia Que emple en mi escribir y, si por eso, Habris de ser vosotros los testigos De mi existencia y su trabajo, En hora mala fuera vuestra lengua La ma, la que hablo, la que escribo. As podris, con tiempo, como vens haciendo, A mi persona y mi trabajo echar afuera De la memoria, en vuestro corazn y vuestra mente.

Grande es mi vanidad, diris, Creyendo a mi trabajo digno de la atencin ajena y acusndoos de no querer la vuestra darle. Ah tendris razn. Mas el trabajo humano Con amor hecho, merece la atencin de los otros, y poetas de ah tcitos lo dicen Enviando sus versos a travs del tiempo y la distancia Hasta m, atencin demandando. Quise de m dejar memoria? Perdn por ello pido.

Mas no todos igual trato me dais, Que amigos tengo an entre vosotros, Doblemente queridos por esa desusada Simpata y atencin entre la indiferencia, y gracias quiero darles ahora, cuando amargo Me vuelvo y os acuso. Grande el nmero No es, mas basta para sentirse acompaado A la distancia en el camino. A ellos Vaya as mi afecto agradecido.

Acaso encuentre aqu reproche nuevo: Que ya no hablo con aquella ternura Confiada, apacible, de otros das. Es verdad, y os lo debo, tanto como A la edad, al tiempo, a la experiencia. A vosotros y a ellos debo el cambio. Si queris Que ame todava, devolvedmeAl tiempo del amor. Os es posible? Imposible como aplacar ese fantasma que de m evocasteis.

Despedida

MuchachosQue nunca fuisteis compaeros de mi vida, Adis.

Muchachos Que no seris nunca compaeros de mi vida, Adis.

El tiempo de una vida nos separa Infranqueable: A un lado la juventud libre y risuea; A otro la vejez humillante e inhspita.

De joven no saba Ver la hermosura, codiciarla, poseerla; De viejo la he aprendido y veo a la hermosura, mas la codicio intilmente.

Mano de viejo mancha El cuerpo juvenil si intenta acariciado. Con solitaria dignidad el viejo debe Pasar de largo junto a la tentacin tarda.

Frescos y codiciables son los labios besados, Labios nunca besados ms codiciables y frescos aparecen. Qu remedio, amigos? Qu remedio? Bien lo s: no lo hay.

Qu dulce hubiera sido en vuestra compaa vivir un tiempo: Baarse juntos en aguas de una playa caliente, Compartir bebida y alimento en una mesa, Sonrer, conversar, pasearse Mirando cerca, en vuestros ojos, esa luz y esa msica.

Seguid, seguid as, tan descuidadamente, Atrayendo al amor, atrayendo al deseo. No cuidis de la herida que la hermosura vuestra y vuestra gracia abren En este transente inmune en apariencia a ellas.

Adis, adis, manojos de gracias y donaires. Que yo pronto he de irme, confiado, Adonde, anudado el roto hilo, diga y haga Lo que aqu falta, lo que a tiempo decir y hacer aqu no supe.

Adis, adis, compaeros imposibles. Que ya tan slo aprendo A morir, deseando Veros de nuevo, hermosos igualmente En alguna otra vida.

Malentend

Fue tu primer amago literario (Amigo? No es palabra justa), el que primero Te procur experiencia en esa inevitable Falacia de nuestro trato humano: Ver cmo las palabras, las acciones Ajenas, son crudamente no entendidas.

Pues no quera o no poda entenderte, Tus motivos l los trastocaba A su manera: de claros En oscuros y de razonables En insensatos. No se lo perdonaste Porque es imperdonable la voluntaria tontera.

El escribi de ti eso de Licenciado Vidriera y aun es de agradecer que superior inepcia no escribiese, Sindole tan ajenas las razones Que te movan. Y te extraabas De su desdn a tu amistad inocua, Favoreciendo en cambio la de otros? Estos eran los suyos.

Los suyos, sus amigos predestinados, Los que l entenda, los que a l le entendieron, Si es que en el limbo entendimiento existe. Por eso su intencin, aunque excelente, al no entenderte, Hizo de ti un fantoche a su medida: Raro, turbio, intilmente complicado.

Bibliografa

MCKINLAY, Neil C. The Poetry of Luis Cernuda: Order in a World of Chaos. Londres, 1968.

FORNERON, Ivan Martucci. Marco, Valeria De (orient). Etopeyas de Luis Cernuda presena e conduo do mito em Desolacin de la Quimera. So Paulo, 2010.

ZEGARRA, Chrystian. Amor ertico y poesa: elementos formativos de humanidad en "Desolacin de la quimera" de Luis Cernuda in: Cuadernos del minotauro N. 5 (pgs. 71-82). Valencia, 2007.