Análise mecânica de resistência a flexão de uma madeira plástica conformada a
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Revista de Cincias da Amaznia, Macap, n. 1, v. 2, p. 31-37. 2013.
Anlise mecnica de resistncia a flexo de uma madeira plstica conformada a
partir de resduos
Mechanical test of bending strength of a wood plastic paper conformed from
residues
Joo Antonio Pessoa da Silva1
Felipe Fernando da Costa TavaresII
RESUMO
Este trabalho avaliou o comportamento mecnico de resistncia flexo em trs pontos
de duas formulaes de compsitos: a primeira de matriz polimrica (resduos na
forma de garrafas PET), reforados com resduo vegetal de madeira, uma biomassa
proveniente da indstria de cavacos (tratados e no tratados com NaOH 10% m/v e
classificados nas peneiras Tyler 35, 14 e 8), a segunda constituda com a mesma matriz
polimrica e semelhante resduo vegetal tratado com NaOH 10% m/v e classificado na
peneira Tyler 14, porm com adio do resduo caulintico. Confeccionaram-se corpos
de prova que foram submetidos ao ensaio de resistncia flexo conforme a norma
ASTM D 790. Na anlise dos resultados verificou-se inviabilidade da primeira
combinao. Entretanto, na segunda, quando adicionado mistura PET / resduo
vegetal, o resduo do beneficiamento de caulim, observou-se uma melhora gradativa do
rendimento mecnico em funo da adio do resduo.
Palavras-chave: PET, caulim, compsitos, reciclagem, termodegradao.
ABSTRACT
This study evaluated the mechanical behavior of three point flexural test in two
formulations of composites: first a polymer matrix composite (in the form of residue
PET bottles) reinforced with wood waste, a biomass from the chip industry (treated and
not treated with NaOH 10% w/v classifieds in Tyler sieves 35, 14 and 8), the second
consisting of the same polymeric matrix and similar biomass residue treated with
NaOH 10% w/v and classified Tyler sieve 14, but with addition of kaolinitic residue.
Confected up samples that was submitted to mechanical test of bending strength of
according to ASTM D 790. In analyzing the results it was found infeasibility of the first
combination. However, in the latter, when it is added to the mixture PET / biomass
residue, the kaolin, showed a gradual improvement in mechanical efficiency.
Keywords: PET, kaolin, composite, recycling, thermodegradation.
Recebido em 10.01.2013. Aprovado em 03.12.2013. Publicado em 13.01.2014. 1Graduando em Engenharia Qumica - Universidade do Estado do Amap (UEAP) - Av. Presidente
Getlio Vargas, 650. Centro. 68900-070. Macap AP Brasil. Email - [email protected] IIProf. Me. - Curso de Engenharia Qumica - UEAP.
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Revista de Cincias da Amaznia, Macap, n. 1, v. 2, p. 31-37. 2013.
INTRODUO
A quantidade de lixo que gerada
no mundo alarmante e tem causado
impactos ao meio ambiente e para o ser
humano.
Em alguns pases como Japo,
Alemanha e Canad, as empresas so
consideradas responsveis pelos
impactos produzidos na natureza e no
bem estar da sociedade atravs da ao
de seus produtos, includo, em alguns
casos, o perodo que sucede a vida til a
que foram gerados. Estas empresas
assumem esta responsabilidade
preferencialmente atravs de acordos
voluntrios, tendo assim, a participao
na preocupao com o descarte desses
produtos, agora rejeitos, na natureza
(CHEHEBE, 1997).
Neste contexto, a madeira
presente em todas as pocas da
sociedade humana, utilizada para o
desenvolvimento tecnolgico em cada
uma delas, uma fonte de matria
prima renovvel, cujas aplicaes
tambm se do pelo desenvolvimento
de novos projetos de produtos. Apesar
de potencialmente renovvel, sua
produo ainda alvo de ilegalidade e
desperdcio ao meio ambiente. Assim
empresas que beneficiam madeira
produzem rejeitos que so descartados
formando imensas pilhas de resduo,
chamadas de biomassa, causando
diversos tipos de poluio alm de
diversos outros problemas ambientais e
sociais (SOBRAL et al., 1999).
Nesta mesma circunstncia, a
produo mineral uma atividade
econmica muito importante, pois
impacta na economia do mundo.
Empresas que beneficiam minerais
como o caulim possuem um elevado
volume de produo, porm so
responsveis pela gerao de resduos
que so armazenados no meio ambiente,
que por sua vez podem ocasionar algum
risco ambiental, caso no sejam
tomadas as devidas precaues por
parte da empresa geradora do resduo.
Outro material que tem
importante papel no desenvolvimento
tecnolgico e social, onde tambm
ocorrem problemas ambientais so os
polmeros, mais conhecidos como
plsticos, em especial o polietileno
teraftalato (PET), que passou a ser um
material comum e gradativamente
importante para a sociedade consumista.
No entanto, por falta de polticas
pblicas eficientes, aliadas a
imprudncia da sociedade, os plsticos,
passaram de estado da arte tecnolgico
para um mal necessrio moderno
(TAVARES, 2007).
Por consequncia, este trabalho
estudou a viabilidade (por meio de
ensaio mecnico de resistncia flexo
(RF) em trs pontos), da produo de
dois compsitos processados a partir de
trs resduos processados na Regio
Norte, mais precisamente no Estado do
Amap: o resduo do beneficiamento do
caulim proveniente da empresa Caulim
da Amaznia S.A. (CADAM); o resduo
proveniente do beneficiamento da
madeira para produo de cavacos pela
empresa Amap Celulose S.A.
(AMCEL), a biomassa, e garrafas PET
coletadas na Universidade do Estado do
Amap.
MATERIAIS E MTODOS
Duas composies foram
estudadas: a primeira, codificada por
A, com 5% de biomassa (tratada e no tratada com NaOH 10% m/v,
variando-se a granulometria da
biomassa em valores inferiores ao Tyler
35, 14 e 8), e 95% de PET. A segunda
codificada por B, uma mistura da primeira composio A (usando-se apenas biomassa tratada com
granulometria inferior ao Tyler 14),
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com adio de percentuais de caulim em
0, 10, 20 30, 40 e 50%.
Tratamento das amostras
Tanto para a composio A
quanto para composio B, as amostras
de PET foram obtidas na forma de
garrafas plsticas ps-consumo. Estas
garrafas foram lavadas com gua, secas
ao ar e modas manualmente em chapas
de 4x4 cm. Em sequncia o material foi
levado para estufa Solotest modelo EEL
81 08 B 11, onde foi seco a 70oC. Aps
24 horas de secagem, a amostra
triturada foi disposta em formas de ao
para aquecimento no forno mufla
Indstrias Fornus Magnus a 270oC por
aproximadamente 5min, em seguida
retirou-se e aguardou-se resfriamento a
temperatura ambiente at solidificao e
formao de um bloco de PET. Depois
o bloco foi britado manualmente,
obtendo-se britas de 3 a 4 cm. Por fim,
passou-se a brita em moinho de martelo
da Solab, modelo SL-034 e de facas da
Solab, modelo SL 33, finalizando com a
classificao granulomtrica em peneira
de Tyler 35 para obteno de areia de
PET.
A biomassa foi ento levada a
estufa para secagem na temperatura de
80oC por 48 horas, depois moda em
moinho de facas e ento classificada em
peneiras srie Tyler 35, 14 e 8, obtendo-
se trs pores de biomassa. Aps
classificao, conforme Santos (2009),
cada poro foi dividida em duas partes,
pegando uma parte de cada poro e
tratando com NaOH 10% m/v, depois a
biomassa tratada foi lavada at pH
neutro.
O resduo de caulim passou por
secagem a 120oC por 24 horas. Foi
fragmentado manualmente e depois
modo em moinhos de facas. Finalizou-
se o tratamento obtendo-se o passante
na peneira Tyler 35.
Conformao dos corpos de prova
para composio A
Estando as matrias primas
preparadas foram separadas as
composies de acordo com a Tabela 1.
Para referencial preparou-se corpos de
provas com 100% de PET.
Na preparao do compsito,
tendo todos os materiais secos, o PET
foi levado ao forno mufla a 270oC em
uma forma de ao. Estando o polmero
no estado fluido (decorridos 15min no
forno), o material foi retirado do forno e
misturado manualmente (com ajuda de
uma esptula), com a madeira em p.
Tabela 1: Distribuio granulomtrica de biomassa tratada e no tratada com NaOH.
Granulometria
(Tyler)
Serragem
tratada
Serragem
no tratada
Codificao Codificao
35 C-35-T C-35-NT
14 C-14-T C-14-NT
8 C-8-T C-8-NT
Estando misturado e ainda
viscoso entornou-se o fluido no molde
de ao para obteno do CP de madeira
plstica. Os corpos de provas foram
conformados sob uma compresso de 1
kg, usando-se para isso uma prensa
manual hidrulica de marca Tecnal de
16 toneladas. Em sequncia o CP foi
desmoldado, ver figura 1.
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Revista de Cincias da Amaznia, Macap, n. 1, v. 2, p. 31-37. 2013.
a b c d e f g
Figura 1: CP`s conformados, onde: a) o CP de PET sem adio de resduo, b)
composio C-35-t, c) composio C-35-NT, d) composio C-14-T, e) composio C-
14-NT, f) composio C-8-T e g) C-8-NT.
Conformao dos corpos de prova
para composio B
A mistura de PET com madeira
foi invarivel. J a adio de caulim foi
realizada nos teores de 0, 10, 20, 30, 40
e 50% em funo da mistura PET com
madeira, ver tabela 2. Para referencial
preparou-se CPs 100% de PET.
Na preparao do compsito,
estando todos os materiais secos, o
caulim foi adicionado ao PET e levado
ao forno mufla a 270oC. Estando o
polmero no estado fluido (decorridos
15min), o material foi retirado e
misturado manualmente com ajuda de
uma esptula.
Tabela 2: Quantidades percentuais do compsito de madeira plstica.
Codificao Percentual invarivel da
mistura madeira com PET
(Percentual de p de caulim)
+ (Percentual invarivel da mistura
madeira com PET)
B1 5% + 95% 0% + 100%
B2 5% + 95% 10% + 90%
B3 5% + 95% 20% + 80%
B4 5% + 95% 30% + 70%
B5 5% + 95% 40% + 60%
O plstico misturado com caulim
retornou ao forno a 270oC por 5min
para obter novamente fluidez. Estando a
mistura fluida, retirou-se a mesma do
forno e adicionando-se a madeira em
p. Em seguida a mistura foi despejada
no molde de ao para obteno do CP
de madeira plstica. Os corpos de
provas, ver figura 2, foram conformados
sob uma compresso de 1 kg, usando-se
para isso uma prensa manual hidrulica
da marca Tecnal de 16 toneladas.
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PET B1 B2 B3 B4 B5
Figura 2: CP`s conformados, onde: PET o CP sem adio de resduo e B1, B2, B3,
B4 e B5, so os CP`s referentes a cada composio da Tabela 2.
Ensaios mecnicos
Com os CPs conformados foi realizado o ensaio de resistncia a
flexo (RF), em trs pontos de acordo
com a norma ASTM D 790, em uma
mquina universal de ensaios mecnicos
da EMIC de modelo DL 30000.
RESULTADOS E DISCUSSO
Para composio A
Os dados dos valores mdios do
ensaio de RF dos CP`s sem adio de
caulim esto dispostos na tabela 3 e no
figura 3. Para controle foram
confeccionados amostras de PET sem
adio.
Tabela 3: Valores mdios do ensaio de resistncia flexo.
PET + Madeira
Composio Resistncia a Flexo (MPa)
C-35-T 6,94
C-35-NT 7,07
C-14-T 5,01
C-14-NT 5,02
C-8-T 7,15
C-8-NT 7,34
PET (controle) 19,08
Figura 3. Ensaios comparativos de RF. a)
6,945,01
7,157,075,02
7,40
19,08 19,08 19,08
0
5
10
15
20
25
35 14 8
Re
sist
n
cia
a Fl
ex
o (
MP
a)
Granulometria da biomassa (Tyler)
Madeira tratada com NaOH Madeira no tratada com NaOH Controle
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De acordo com o Figura 3,
constata-se que a RF dos CPs dos compsitos independe do tratamento
com NaOH e da granulometria da
biomassa. Porm, percebe-se uma
reduo significativa da RF dos CPs
dos compsitos quando comparados aos
CPs do controle. A figura 4 mostra a superfcie
de fratura do material submetido a testes
de RF.
Figura 4: a) Superfcie de fratura para o compsito de PET com madeira tratada ou no
tratada. b) Superfcie de fratura do corpo de provas controle.
A superfcie de fratura mostra a
presena de diversas bolhas no interior
do material, figura 4a, indicando a
formao de gases por consequncia da
combusto da madeira a 270C. Este
processo deixou o compsito mais frgil
que o controle, ver figura 4b, que por
no ter a adio de madeira apresentou
maior resistncia a flexo.
Para composio B
Os valores mdios do ensaio de
RF esto mostrados no Figura 5.
Figura 5: Ensaios comparativos de RF.
O figura 5 mostra que a RF dos
corpos de prova aumenta em funo da
adio de caulim na mistura. Isto sugere
que a adio do caulim reduz o efeito
degradativo decorrente da combusto da
biomassa.
A figura 6 mostra a superfcie de
fratura do compsito de PET produzido
e do corpo de provas de controle.
b)
a)
a)
7,298,7
10,27
12,4
15,5
19,08 19,08 19,08 19,08 19,08
0
5
10
15
20
25
B1 B2 B3 B4 B5
Re
sist
n
cia
a fl
ex
o (
MP
a)
Composio
Compsito Controle
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Figura 6: a) Superfcie de fratura para o compsito de PET com madeira tratada e com
adio de caulim. b) Superfcie de fratura do corpo de provas controle.
Com a anlise da fratura, figura
6a e 6b, observou-se que de forma geral
os dimetros das bolhas diminuram,
mas continuam aparecendo no controle.
De certa forma a presena do caulim
favoreceu no aumento da resistncia
mecnica. Todavia outros testes sero
necessrios para determinar os
mecanismos funcionais do caulim na
mistura.
CONCLUSES
Com este trabalho constatou-se
que com a adio do resduo vegetal,
biomassa, no compsito, ocorre a
reduo da RF por consequncia da
gerao de bolhas derivadas da
combusto da madeira durante o
preparo da mistura. Verificou-se
tambm que o tratamento com NaOH
10% m/v e a granulometria da biomassa
incorporada no compsito no interfere
na RF. Todavia a RF aumenta em
funo da adio de caulim na mistura,
mostrando que o caulim diminui os
efeitos da degradao trmica,
evidenciando sua viabilidade na reduo
dos efeitos termodegradativos durante o
processamento do compsito aqui
proposto.
REFERNCIAS
CHEHEBE, J. R.B. Anlise do Ciclo
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gerencial da ISO 14000. Rio de
Janeiro: Qualitymark, 1997. 104 p.
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E., AZEVEDO, T., SMERALDI, R.
Acertando o Alvo: Consumo de
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a) b) a)