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ANÁLISE MÉTODOS E DO ALINHAMENTO ESTRATÉGICO DO PORTFÓLIO DE PROJETOS SEGUNDO A PRODUÇÃO ACADÊMICA

Autoria: Tatiane do Céu Silveira Santos, Milton de Abreu Campanario

RESUMO Este estudo trata da análise da produção científica nacional e internacional em Gestão de Portfólio de Projetos (Portfolio Project Management/ PPM). O processo de gerenciamento de portfólio envolve métodos e procedimentos para fazer a ligação entre a estratégia corporativa e a operação organizacional. Dentro desta perspectiva, Project Management Institute/PMI criou um manual chamado The Standard for Portfolio Management. Esta iniciativa fornece ferramentas e indica processos capazes de facilitar e criar boas práticas para os gestores de portfólio de projetos alcançarem os objetivos organizacionais. O trabalho busca identificar/ analisar as metodologias utilizadas nos artigos pesquisados e verificar e a ligação entre PPM e a estratégia das organizações. Para tanto, parte-se da definição de que PPM é a arte e a ciência de aplicar um conjunto de conhecimento, habilidades, ferramentas e técnicas sobre uma coleção de projetos com o objetivo de atingir ou exceder as expectativas de uma estratégia de uma organização. Palavra-chave: gestão de portfólio; gestão de projetos; bibliometria.  

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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1. INTRODUÇÃO

O Gerenciamento de Projetos (GP) vêm adquirindo uma importância crescente nos últimos 20 anos. De fato, os princípios e as técnicas desta disciplina são cada vez mais utilizados nas empresas em todo o mundo. Com a crescente abertura de oportunidades de empreendimentos, também cresce o número de pesquisas científicas desenvolvidas para solucionar problemas e disseminar conhecimentos de assuntos relacionados ao gerenciamento de portfólio de projetos (Portfolio Project Management – PPM). Mais que isto, o processo de gerenciamento de portfólio envolve métodos ou procedimentos para fazer a ligação entre a estratégia corporativa e a operação organizacional. Dentro desta perspectiva, o Project Management Institute - PMI criou um manual chamado The Standard for Portfolio Management. Esta iniciativa fornece ferramentas e indica processos capazes de facilitar e criar boas práticas para os gestores de portfólio de projetos alcançarem os objetivos organizacionais.

Embora o portfólio de projetos nas organizações seja gerenciado desde os primórdios do capitalismo de forma relativamente aleatória e mesmo amadora, as pesquisas mais sistemáticas sobre este tema são recentes. A rigor, este campo de investigação tem sua origem na década de 50. Nos anos 70 a 90, estudos relacionados à gestão de portfólio surgem nas áreas de pesquisa e desenvolvimento (P&D) e no desenvolvimento de novos produtos, surgindo nesta época modelos de portfólio financeiros e os modelos de portfólio de projetos (DYE e PENNYPACKER, 1999; de REYCK et al., 2005). No Brasil, Kruglianskas (1992) foi o primeiro dos autores a estudar as técnicas de portfólio na gestão dos projetos. Sua pesquisa demonstrou que os recursos das empresas são limitados e os projetos devem alinhar-se com os objetivos estratégicos da organização. Esta definição é feita de uma forma geral por todos os autores que estudam o tema, tal qual Dye e Pennypacker (1999): “Gerenciamento de Portfólio de Projetos é a arte e a ciência de aplicar um conjunto de conhecimento, habilidades, ferramentas e técnicas sobre uma coleção de projetos com o objetivo de atingir ou exceder as necessidades e expectativas de uma estratégia de uma organização”. Já o PMI (2008) define o portfólio de uma forma um pouco mais ampla, colocando que este termo designa uma coleção não só de projetos, mas de programas, atividades e outros trabalhos que são alinhados e classificados de forma a facilitar o processo decisório, agrupando e direcionando estas atividades aos objetivos estratégicos da organização.

Em geral, as publicações sobre os estudos de gerenciamento de portfólio estão pulverizadas por diversos periódicos, tanto na área de Administração e Engenharias quanto em outras ciências, uma vez que este assunto representa um campo de estudos multidisciplinar. Sbragia et. al (2009) analisaram os avanços e tendências das pesquisas na área de gerenciamento de projetos, de uma forma geral. Larieira e Albertin (2011) apresentaram os avanços e tendências relacionadas ao tema, utilizando uma abordagem qualitativa e exploratória. Da análise de 372 trabalhos autores concluíram que o tema de gestão de portfólio ainda carece de pesquisas acadêmicas sólidas.

O objetivo deste artigo parte de um levantamento dos estudos sobre PPM em artigos científicos publicados em revistas nacionais e internacionais visando mapear as principais metodologias ou procedimentos empregados nos mesmos, verificando se há de fato um alinhamento de portfólio de projetos e as estratégias empresariais. Portanto, trata-se de um estudo exploratório sobre o conteúdo e a forma dos procedimentos, metodologias e ferramentas empregadas nos estudos de gestão de portfólio em projetos, o que pode abrir novos campos de investigação ainda incipiente no país.

 

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2. REFERENCIAL TEÓRICO

Para Carvalho e Rabechini (2005) a gestão de portfólio de projetos é um conjunto de iniciativas que competem pelos mesmos recursos dentro de uma organização. Considerado como um processo dinâmico de decisão, a gestão de portfólio envolve não somente os projetos que vão ter início num futuro próximo, mas também a lista de projetos ativos que são constantemente revisados e atualizados (Fernandes et. al., 2010). A Figura 1 a seguir ilustra o processo de gestão de portfólio.

Figura 01 – Processo de Gestão de Portfólio

Fonte: http://www.pmtech.com.br/Programas/OficinaPortfolio.pdf

O gerenciamento de portfólio ou Portfolio Project Management – PPM teve sua

origem baseada no gerenciamento de carteira de investimentos, em 1952, pelo artigo “Seleção de portfólio” de Harry Markowitz (RAD e LEVIN, 2006). Desde então diversos autores tem estudado e proposto modelos de gerenciamento de portfólio. Os autores mais conhecidos na área são Cooper, Edgett e Kleinschmidt (2001); Archer e Ghasemzadeh (1999); Rabechini, Maximiano e Martins (2005); PMI (2008); Rocha, Negreiros (2009) e Castro e Carvalho (2010). De forma esquemática o processo de gerenciamento de projetos em uma organização envolve os fluxos complexos ilustrados na Figura 2.

Figura 02 - Processo de Gestão de Projetos

Fonte: Cooper, Edgett e Kleinschmidt (2001).

 

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Nesta figura, o vetor de portfólio de projetos e o vetor de desenvolvimento são balizados pela estratégia do negócio ou do novo produtor/serviço que é objeto de interesse da organização. A lista de projetos é cotejada com os imperativos estratégicos, criando-se uma priorização. Nos últimos anos demonstrou-se um grande interesse nos estudos relacionados ao tema de PPM (Miguel, 2008). Como dito anteriormente, em 2008, foi lançada a segunda edição do “The Standard for Portfolio Management” pelo PMI (2008) que apresentou, entre outras informações, uma proposta para o processo de gestão de portfólio, utilizando como base as melhores práticas do gerenciamento de projetos. Ademais, os estudos de gerenciamento de portfólio têm evoluído nos últimos anos e suas aplicações têm sido cada vez mais incorporadas ao dia-a-dia das empresas (Rabechini, Maximiano e Martins, 2005).

Este trabalho de pesquisa está fundado a partir de duas questões básicas: 1. A partir da literatura mais citada sobre PPM, quais os procedimentos, métodos e ferramentas mais empregadas nas pesquisas relacionadas ao tema de gestão de portfólio? 2. Como o PPM é tratado com relação ao seu alinhamento estratégico nos trabalhos analisados? Para tanto, três grandes etapas estão previstas para dar uma resposta convincente e sobre esta questão, por meio da análise bibliográfica exploratória existente na área.

Levantamento de artigos científicos sobre análise de portfólio: Segundo Cooper e

Lindsay (1998) a análise de estudos científicos representa para a comunidade científica uma alta relevância, pois: a) indica a novos pesquisadores os temas já tratados; b) verifica inconsistências na pesquisa realizada, tais como necessidades de estudos qualitativos ou quantitativos; e c) permite identificar lacunas na teoria ou abordagem existente. No caso em questão, será feito um levantamento de artigos científicos sobre análise de portfólio de projetos, buscando aqueles mais acessíveis e citados na literatura;

Mapeamento dos Procedimentos sobre PPM: Com o levantamento dos metadados bibliográficos (revista, autores, datas, palavras chave, tema pesquisado, entre outros) será feita a identificação e uma tentativa de classificação de artigos científicos sobre os procedimentos, métodos e ferramentas das pesquisas desenvolvidas e divulgadas nos artigos científicos, identificando lacunas, analisando tendências e o estado da arte metodológico, buscando classificar estes métodos;

Classificação de procedimentos em PPM: Posteriormente a este artigo, o objetivo é fazer um comparativo dos procedimentos empregados nos estudos levantados e aqueles citados na literatura sobre metodologia, considerando os temas relacionados ao PPM. Uma possibilidade de investigação é verificar a adequação de tais procedimentos e o padrão de boas práticas definido no The Standard for Portfolio Management do PMI.

Segundo o Cooper (1998), os principais objetivos da gestão de portfólio são:

1. Análise de Valor (retorno esperado): o alinhamento se dá por meio da boa alocação ou maximização do portfólio em termos de alguns dos objetivos da empresa, tais como tempo de lucratividade do projeto e retorno do investimento; 2. Equilíbrio (balanceamento): alcançar um equilíbrio estratégico de projetos em termos de um conjunto parâmetros como risco, retorno, escopo, prazo, etc; 3. Aderência de missões (alinhamento estratégico): assegurar que o portfólio siga a missão geral da organização, seus objetivos e metas de forma explícita ou implícita.

As três etapas acima conjuntamente com os objetivos definidos para a análise de

portfólio formam um tipo de pesquisa que tem como eixo uma proposição teórica (que é a

 

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resposta hipotética dos autores à questão de pesquisa) que pode ser explicitada da seguinte maneira:

“Os métodos utilizados nos artigos de PPM correspondem a estudos de caso qualitativos, buscando induzir o alinhamento entre projetos e as estratégias das empresas por meio da análise de maximização de valor, balanceamento e alinhamento estratégico, mas sem a possibilidade de generalização teórica devido à escassez de trabalhos quantitativos.” Ao elaborar uma questão pertinente para uma determinada área de estudo e buscar uma resposta que será testada por meio de um método de investigação adequado aos limites de informação disponíveis, seguimos a postulação do correto método hipotético dedutivo de Karl Popper, tal que tratado por Campanario et all (2012). A proposição acima será então testada e confrontada com o levantamento de informações contidas nos artigos que tratam do tema de PPM visando confirmar ou falsea-la. Para o PMI (2008), o gerenciamento de portfólio pode ser centralizado para identificar, priorizar, autorizar, gerenciar e controlar projetos, programas e outras atividades relacionadas a projetos de forma a atingir objetivos de negócios estratégicos. Neste sentido é interessante comparar o que significa portfólio utilizando um metodologia de contraste com programas e projetos, tal qual apresentado no Quadro 1.

Projeto Programa Portfólio Fatores críticos é a boa definição do escopo e entregáveis muito bem definidos dentro do prazo e de custos estimados.

O escopo é amplo e pode ser alterado para atingir metas e interesses dos stakeholders.

Contém estruturas de negócios que podem variar de acordo com a estratégia da organização.

Mudanças não são aconselháveis para evitar risco e aumento de custo.

Gerentes têm que estar preparados para mudanças e adaptar suas metas.

Mudanças estão sempre com horizonte aberto, mas estruturadas tendo como critério o alinhamento do negócio.

Sucesso é medido pelo atendimento de metas e entregáveis no prazo e custo.

Sucesso é medido pelo Retorno sobre Investimento, novas oportunidades abertas e potencialização de capacitações.

Sucesso é medido em termos de valor agregado total da organização e da contribuição de cada um dos seus componentes.

Liderança no gerenciamento de pessoas é técnico e desenvolvido e valorizado por técnicos.

Gerenciamento é feito sobre outros gestores e líderes e não necessariamente envolvendo técnicos diretamente.

Liderança é medida pela capacidade de agregar valor e alinhar prioridades dos vários projetos envolvidos na organização.

O staff é constituído por um time que trabalha sincronizado e motivado pela aplicação de técnicas e boas práticas.

O staff é formado por líderes capazes de formular novas propostas e encaminhar soluções e visões criativas.

O staff é formado por líderes capazes de alinhar propostas e obter sinergismo entre vários projetos distintos.

Planejamento e comunicação são feitos visando as entregas previstas,

Os programas são desenhados para cobrir uma integração de iniciativas nem

Planejamento e comunicação são componentes críticos para definição de prioridades

 

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convergindo todos esforços para uma única finalidade.

sempre convergentes. e obtenção de consenso nas decisões.

Monitoramento e controle tarefas nos detalhes visando a entrega dos produtos finais.

As estruturas de comando são próximas de um sistema de governança e mais distantes de métodos e técnicas de controle de tempos e movimentos.

O controle é feito por meio de estrutura de sistemas de indicadores inteligentes e integrados na organização.

Quadro 1: Comparação entre projeto, programa e portfólio. Fonte: Elaborado pelos autores.

No padrão definido pelo PMI (2008), há as seguintes etapas e procedimentos sobre os

componentes de gestão de portfólio e seu alinhamento estratégico nas organizações, conforme ilustrado na Figura 3: 1. Identificação de componentes: criar uma lista atualizada com informações suficientes

dos componentes e dos novos proponentes a projetos dentro do portfólio alinhado a estratégias da organização.

2. Categorização de componentes: identificar os componentes em grupos/categorias relevantes que reflitam o negócio através de filtros e critérios aplicáveis para avaliação, seleção, priorização e balanceamento do portfólio.

3. Avaliação de componentes: agrupar as informações quantitativas e qualitativas referentes a cada projeto e compará-las entre si, a fim de facilitar o processo de seleção.

4. Seleção de projetos: baseado nas indicações do processo de avaliação e nas capacidades de recursos, desenvolver uma lista de projetos que agregam valores para a organização.

5. Priorização de projetos: Os componentes devem ser hierarquizados, considerando cada estratégia ou categoria de projetos (inovação, crescimento, economia de recursos, manutenção e operação), segmento de investimento (curto, médio ou longo prazo) ou foco (cliente externo, cliente interno ou fornecedores), considerando todos os critérios estabelecidos.

6. Balanceamento do Portfólio: verificar o melhor mix de componentes com a maior probabilidade de sucesso e que dê suporte às estratégias da organização. Demonstrar a habilidade de planejar e alocar recursos para maximizar o retorno diante dos riscos identificados e desejáveis.

7. Autorização para execução: comunicar formalmente a aprovação para execução do que foi planejado diante da comprovação de sua praticabilidade.

A proposição deste trabalho atesta que muito raramente os artigos sobre portfólio seguem estas etapas metodológicas maduras (sugeridas pelo PMI na Figura 3). O que se espera encontrar na relativamente esparsa literatura existente são estudos de caso em profundidade. Nossa proposição que os estudos teóricos apontam para um alinhamento do portfólio com estratégia, mas sem uma sistematização dos componentes de otimização com os negócios e sem o entrosamento para cumprir a missão da PPM que é integrar os projetos dos objetivos estratégicos da organização. Em defesa desta proposição é relevante salientar que a PPM não é uma técnica de análise financeira de retorno somente, mas um conjunto de atributos capazes de direcionar a organização para finalidades que são julgadas necessárias para a competitividade das organizações. É neste sentido que afirmamos que não existe ainda uma integração orgânica entre portfólio e estratégia.

 

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Figura 3 – Processos de Gerenciamento de Portfólio

Fonte: PMI (2006).

3. MÉTODO DE PESQUISA

Para atingir os propósitos deste artigo, foi feito um levantamento dos principais artigos sobre PPM encontrados na literatura nacional e internacional. Os atributos da publicação de um tema podem ser estudados em termos estatísticos por meio da bibliometria (Borschiver, 2005). Trata-se de uma ciência de medir os resultados e a divulgação da própria ciência.

Os indicadores bibliométricos mais representativos só se tornaram uma realidade concreta nas últimas décadas do século XX (Mugnaini, Jannuzzi, & Quoniam, 2004). Para isso são utilizados variados processos de levantamento, tratamento e apresentação de dados (Moretti & Campanario, 2009). Os parâmetros a serem quantificados na bibliometria são chamados de metadados, dentre os quais os mais utilizados são: revistas, autores, palavras-chave, usuários, citações, periódicos, palavras, paginação, entre outros (Borschiver, 2005). Os estudos bibliométricos podem ser divididos em dois planos: a) macroplano: unidades estruturais de uma ciência; b) o microplano: elabora os mapas de conhecimento de um domínio disciplinar (Boyack et al., 2002).

Existem inúmeras formas de medir a produção bibliográfica de um determinado tema, revista, autor, palavra, ou outro indicador qualquer. A principal maneira de investigação neste campo ainda é a estatística descritiva, com detalhamento de frequências, médias e outros

 

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indicadores corriqueiros. Em análises mais sofisticadas, mas que dependem de um volume grande de informações, podem ser aplicadas uma ou mais leis bibliométricas, sendo as mais conhecidas: a lei de Lotka, a lei de Bradford, a lei de Zipf e a regra Trueswell (Ridi, 2010).

A Lei de Lotka, ou Lei do Quadrado Inverso, mede a produtividade dos autores. Isso é possível mediante a um modelo de distribuição tamanho-freqüência dos diversos autores em um conjunto de documentos. A Lei de Bradford, ou Lei de Dispersão, permite, através da medição da produtividade das revistas, estabelecer o núcleo e as áreas de dispersão sobre um determinado assunto. Já a Lei de Zipf, conhecida também como Lei do Mínimo Esforço, mede a freqüência do aparecimento das palavras em vários textos, resultando em uma lista ordenada de termos de um determinado assunto ou disciplina (Vanti, 2002).

O padrão de distribuição de tais princípios bibliométricos, possui uma abordagem na ciência conhecida como o efeito Mateus: “aos que mais têm será dado em abundância e, aos que menos têm até o que têm lhes será tirado” (MERTON, 1968; Campanario & Santos, 2011). Esta metáfora sugere uma lógica: os cientistas e pesquisadores de universidades mais renomadas e conceituadas frequentemente obtêm mais reconhecimento do que outros cientistas igualmente produtivos que possuem vinculação com ademais Universidades. Tal instrumento quantitativo permite minimizar a subjetividade inerente à indexação e recuperação das informações, produzindo assim conhecimento, em determinada área de assunto (Borschiver, 2005).

Para este estudo, dado que o levantamento da literatura não permitiu a identificação de um grande volume de artigos sobre portfólio, não há possibilidade de ser aplicada uma lei bibliométrica específica, estando a análise condicionada à descrição de frequências por meio do levantamento de dados feitos na literatura científica disponível e acessível por meio da internet e banco de dados da área de administração. Mas, em compensação, é feita uma abordagem qualitativa sobre os artigos, tendo em vista testar a proposição teórica elaborada acima. Por ora, o levantamento de estatística descritiva e análise de conteúdo dos artigos identificados é o limite que podemos desenvolver.

O estudo proposto é uma análise de conteúdo que consiste no levantamento e classificação de artigos científicos sobre o tema em Gerenciamento de Portfólio de Projetos (PPM) com o objetivo de analisar as metodologias ou procedimentos das pesquisas desenvolvidas até determinado momento. Nos últimos anos, houve um esforço considerável de pesquisadores para elaborar meta-análises em diversas áreas sobre PPM. Podem ser citados os seguintes estudos: Dye e Pennypacker (1999); Cooper, Edgett e Kleinschmidt (2001); Archer e Ghasemzadeh (1999); Rabechini, Maximiano e Martins (2005); Reyck (2005); Rocha, Negreiros (2009); PMI (2008); Castro e Carvalho (2010); Fernandes, Silva Turrioni (2010); Miguel (2011); Soares e Quadros (2011). Todos os estudos mencionados contribuem com a literatura sobre o gerenciamento de portfólio e são objeto de investigação da análise de seus conteúdos a ser utilizada após o levantamento dos artigos mais citados na área.

Na elaboração do levantamento da literatura, um dos pontos críticos é a escolha de quais as fontes serão pesquisadas e analisadas. Existe um grande questionamento sobre a fonte destas pesquisas bibliográficas de PPM. Muitos autores debatem se a pesquisa deve incluir livros, periódicos, congressos científicos e working papers, a fim de ter uma visão mais completa do campo de conhecimento que está sendo pesquisado (Cooper e Lindsay, 1998). Outras pesquisas são feitas utilizando as fontes de dados somente das revistas científicas. Esta fonte tem a vantagem de encontrar pesquisas de maior densidade que normalmente foram selecionadas para publicação por meio do sistema de blind review, aceito no meio acadêmico e que torna possível a rastreabilidade de procedimentos, o que as revistas puramente profissionais não permitem, pois seu objetivo maior é divulgar o conhecimento e

 

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não produzir conhecimento novo. De fato, os pesquisadores acabam optando por revistas científicas que também permitem a utilização de métodos estatísticos capazes de verificar como um determinado objeto de investigação se comporta frente às leis bibliométricas.

Foram selecionados para este estudo os periódicos sobre PPM encontrados na literatura nacional e internacional. No total foram analisados 53 artigos relacionados ao tema de gestão de portfólio. Por meio de um estudo exploratório sobre o conteúdo e a forma dos procedimentos, metodologias e ferramentas empregadas. A coleta de dados foi realizada em artigos publicados e disponibilizados pela internet, sob a temática de gestão de portfólio de projetos. Os seguintes passos foram realizados: 1. A amostra foi selecionada a partir de busca nos seguintes sistemas de busca e indexadores: Ebsco (23 fontes); Google Acadêmico (17 fontes); Mendeley (04 fontes); Redalyc (03 fontes); Scielo (06 fontes). 2. Inicialmente, somente textos a partir de 1995 foram incluídos, pois o objetivo é captar a literatura mais recente sobre o tema. No entanto, dado o pouco volume de textos encontrados, a busca retroagiu até 1980, com a inclusão de mais 5 artigos; 3. Os artigos foram catalogados utilizando o Microsoft Excel para a tabulação dos dados. A análise dos resultados da pesquisa realizada nos 53 artigos foi subdivida nos tópicos:

a) Metadados bibliográficos: revista, autor, ano, palavras-chave, tema pesquisado, entre outros; b) Conteúdo dos artigos: questão da pesquisa, objetivo e resultados; c) Classificação dos procedimentos, métodos e ferramentas utilizados; e) Identificação de lacunas, análise das tendências e do estado da arte metodológico; f) Alinhamento do portfólio com estratégica da empresa e algumas características deste alinhamento.

4. ANÁLISE DE RESULTADOS Como anunciado, a análise de resultados se divide em duas perspectivas: avaliação da estatística descritiva e análise de conteúdo dos artigos, buscando verificar o tipo de metodologia e a relação do portfólio com a estratégia organizacional.

A Figura 4 mostra o número de artigos publicados sobre assuntos relacionados a portfólio, disponíveis na internet no período 1981 a 2011. Realmente impressiona o crescimento do volume de trabalhos identificados nos principais meios de comunicação científicos sobre a análise de portfólio, mostrando que esta é uma área de especialização que deve mostrar produtos com maior sofisticação técnica no futuro. Ademais, esta é uma boa indicação que também talvez mais breve do que se pode esperar, o volume de trabalhos permita que análises quantitativas bibliométricas sejam desenvolvidas para aquilatar o real estágio científico da disciplina.

 

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Figura 4 - Evolução acumulada do número de artigos sobre portfólio por ano.

Fonte: Dados da pesquisa (2012).

Analisando as pesquisas do ponto de vista da abordagem das pesquisas empregadas,

constatamos que há uma alta predominância de pesquisas qualitativas (79%), com 11% sendo quantitivas e 10% um misto das duas. Na maioria das abordagens não há teste de hipótese ou de alguma proposição mais teórica, limitando-se os estudos a uma avaliação qualitativa, sem aprofundamento teórico maior ou mesmo uma comparação com as recomendações do PMI sobre portfólio. Pode ser verificado que no uso de métodos quantitativos são geradas medidas precisas e confiáveis que permitam uma análise estatística.

Dentre os métodos de pesquisas mais empregados, podemos observar, na Figura 5, que 45% correspondem às pesquisas de estudo de caso, método qualitativo. Na análise de portfólio de projetos, que demanda uma comparação de desempenho e alinhamento estratégico na organização, os estudos poderiam em tese apresentar uma abordagem mais quantitativa, o que não ocorre. De outra sorte, 29% dos artigos são pesquisas bibliográficas, indicando que há ainda uma busca por uma maior consolidação nas fundamentações teóricas talvez pouco conhecidas.

Já as pesquisas que se utilizam de levantamentos por meio de questionários (survey) correspondem a apenas 10% da amostra. Este pequeno percentual pode significar que os assuntos relacionados com a gestão de portfólio ainda não possuem maturidade para a construção da coleta de dados e testes de leis da bibliometria. Pesquisas utilizando juntamente os métodos de pesquisa de estudos de caso e survey também foram identificadas na pesquisa. 10% destes estudos foram estudados inicialmente de forma exploratória e posteriormente coletados dados em forma de questionários. Por fim, podemos observar que foram utilizados, porém em poucos casos, outros métodos menos usuais como: pesquisa ação, pesquisa ação/estudo de caso e coleta de dados documental, correspondendo 6% no total, identificando que métodos had hoc estão sendo empregados a fim de estudar diferentes perspectivas para analisar a questão de gerenciamento de portfólio de projetos.

 

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Figura 5- Métodos de pesquisa empregados.

Fonte: Dados da pesquisa (2012).

A figura 6 apresenta os resultados sobre o alinhamento do portfólio com a estratégica da empresa. Observamos que os artigos publicados e analisados em nosso estudo sob a temática de gestão de portfólio de projetos procuraram alinhar a estratégia da empresa com o portfólio de projetos, correspondendo a 77% dos periódicos pesquisados.

Figura 6 – Alinhamento do Portfólio com a Estratégia da empresa.

Fonte: Dados da pesquisa (2012).

A ligação entre o processo de estratégia e gerenciamento de portfólio é identificada em diversos artigos pesquisados como resultantes de fatores de sucesso, importantes e essenciais para a um bom gerenciamento eficaz para a organização. Em contrapartida, foram identificadas 12 pesquisas (23%) que não abordaram ou enfatizaram a estratégia da empresa como sendo um dos fatores importantes para gerenciar o portfólio em uma organização.

A Gestão de Portfólio tem sentido quando alinhada aos objetivos estratégicos da organização. Dentre os artigos pesquisados que procuraram alinhar a estratégia da empresa

 

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com o portfólio do projeto (41 artigos), mencionados na figura 6, foram identificados três grandes objetivos de alinhamento. 90% (37 artigos) procuraram agrupar o gerenciamento de portfólio nas 3 categorias: Análise de Valor, Equilíbrio e Aderência de Missões. Entretanto, constatamos na pesquisa que 7% dos artigos (3 artigos) mencionam apenas a análise de valor e a aderência de missões, não enfatizando o equilíbrio e balanceamento entre os projetos. Por fim, detectamos em 01 artigo (3%) a ausência da análise de valor, como representado na figura 7.

Figura 7 – Objetivos dos alinhamentos de portfólio.

Fonte: Dados da pesquisa (2012).

Para a literatura especializada o alinhamento de um projeto só faz sentido se este estiver contido em um portfólio e este no plano estratégico da organização que deve conter, no mínimo, missões, objetivos, prazos e recursos (King, 1988; Reich e Benbasat, 1996). Desta forma, na investigação conduzida, a busca pelo alinhamento estratégico corresponde a esta identificação entre a centralidade do portfólio e sua adequação e integração com o ambiente de tomada de decisões para desenvolver o desempenho organizacional (Henderson e Venkatraman, 1993; Ward e Griffiths, 1996). Para estes autores, o alinhamento estratégico requer ao menos duas suposições: 1) o desempenho da organização depende do posicionamento da organização no mercado competitivo; e 2) a adequação estratégica é essencialmente dinâmica, afetando prioridades no tempo. De forma geral, a partir dos resultados dos trabalhos pesquisados, se pode concluir que o a adoção do PPM e seu gerenciamento é uma estratégia eficaz que produz diversas qualidades, entre elas: melhorar a produtividade, diminuir o risco, aumentar a probabilidade de satisfação dos stakeholders, além de auxiliar na tomada de decisões. Porém nas pesquisas também foi identificado que o PPM ainda é pouco presente nas organizações, necessitando ser mais utilizado.

 

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5. CONSIDERAÇÕES FINAIS O objetivo deste texto foi fazer um levantamento dos estudos sobre PPM por meio de

pesquisa bibliográfica em revistas nacionais e internacionais e mapear as principais metodologias ou procedimentos empregados nos mesmos, além de identificar relação entre portfólio e seu alinhamento estratégico nas organizações. Foram encontrados 53 artigos para análise.

Os resultados da pesquisa mostraram que houve um aumento substancial sobre o tema a partir de 2008, o que evidencia a consolidação e o recente amadurecimento da área disciplinar. A alta predominância de pesquisas qualitativas sobre as pesquisas quantitativas demonstra que ainda há um espaço a ser explorado e pesquisado sobre o tema em gestão de portfólio de projetos nas organizações. Daí a impossibilidade até o momento de realizar estudos quantitativos que utilizem as modernas técnicas bibliométricas. Neste texto, duas são as questões básicas investigadas: 1. A partir da literatura mais citada sobre PPM, quais os procedimentos, métodos e ferramentas mais empregadas nas pesquisas relacionadas ao tema de gestão de portfólio? 2. Como o PPM é tratado com relação ao seu alinhamento estratégico nos trabalhos analisados? Estas questões nos remetem para uma resposta entendida aqui como uma proposição construída a partir da teoria de gestão de portfólio: os métodos utilizados nos artigos de PPM correspondem a estudos de caso qualitativos, buscando induzir o alinhamento entre projetos e as estratégias das empresas por meio da análise de maximização de valor, balanceamento e alinhamento estratégico, mas sem a possibilidade de generalização teórica devido à escassez de trabalhos quantitativos. O teste desta proposição utilizou a estatística descritiva como ferramenta. Particularmente, seria interessante analisar as redes de cooperação de pesquisa por meio da análise de citações, mas o volume de artigos não permite que tal exercício seja feito.

Nos artigos analisados foi possível observar que foram utilizados na maioria dos casos estudos de caso e, num segundo plano, surveys. Em poucos casos, métodos de pesquisa menos usuais como pesquisa ação, pesquisa ação/estudo de caso e coleta de dados documental, correspondendo 6% no total. Não há assim, a utilização de métodos mais quantitativos e sim qualitativos que são empregados na área para de estudar diferentes perspectivas de gerenciamento de portfólio de projetos.

A pesquisa também identificou uma preocupação nos periódicos pesquisados em abordar e conceituar o alinhamento de portfólio com os negócios, indo ao encontro da missão da PPM. Foi realmente encontrada esta preocupação de alinhamento na maioria dos artigos analisados, porém, como o uso de métodos é predominantemente de estudos de caso, se torna difícil as generalizações teóricas mais profundas, limitando o alcance da análise desenvolvida. No entanto, a proposição elaborada pode ser testada e confirmada de forma adequada.

Pode-se considerar como limitações deste estudo o fato de o mesmo cobrir poucos periódicos e artigos, apesar do esforço desenvolvido na busca por artigos. Outras publicações e artigos sobre o tema podem estar disponíveis em outras publicações em áreas como engenharia e economia, que não entraram na análise. Sugere-se para futuros estudos a ampliação da base de dados desta pesquisa, mapeando também a produção de congressos, dissertações e teses dos programas de mestrado e doutorado em Gestão de Projetos, Administração e Engenharia.

 

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