ANÁLISE SETORIAL PARA A AGROINDÚSTRIA DA SOJA NO...
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VITOR MIZUKAWA
ANLISE SETORIAL PARA A
AGROINDSTRIA DA SOJA NO BRASIL
Trabalho de Formatura apresentado Escola
Politcnica da Universidade de
So Paulo para obteno de Diploma
de Engenheiro de Produo.
So Paulo
2008
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VITOR MIZUKAWA
ANLISE SETORIAL PARA A
AGROINDSTRIA DA SOJA NO BRASIL
Trabalho de Formatura apresentado Escola
Politcnica da Universidade de
So Paulo para obteno de Diploma
de Engenheiro de Produo.
Orientador: Reinaldo Pacheco da Costa
So Paulo
2008
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minha famlia
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AGRADECIMENTOS
A toda minha famlia. Em especial aos meus pais, Julio e Marina, que sempre me
apoiaram em todas as etapas de minha vida e que foram peas fundamentais em minha
formao.
Aos meus amigos, por todos os momentos de descontrao proporcionados.
A Mariana, pelo carinho, companheirismo e apoio nas horas mais difceis.
Ao meu orientador Reinaldo Pacheco da Costa, pelas inmeras lies e contribuies
para a realizao deste estudo.
A Karine Carvalho, pela invejvel dedicao e pelos construtivos aportes feitos ao
trabalho.
A todos os colegas de trabalho, em especial a minha equipe: Fernando Martins, Rachel
Larocca e Ramiro Severo, que me acompanharam durante grande parte do desenvolvimento
deste projeto.
A todos os professores e funcionrios da Escola Politcnica, principalmente para
aqueles do Departamento de Engenharia de Produo, com os quais tive maior contato, em
especial a todos os funcionrios do Centro Acadmico de Engenharia de Produo.
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Anyone who has never made a mistake
has never tried anything new.
Albert Einstein
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RESUMO
O presente trabalho tem como principal objetivo definir possveis estratgias para a
originao de soja na regio centro-sul do Brasil, com o intuito final de exportar o gro para
suprir a crescente demanda do mercado internacional pela commodity.
Foi utilizada a abordagem de estratgia definida por Porter (1991 e 1993) para mapear
o setor. O diamante nacional de Porter (1991) foi utilizado para analisar o Brasil como um
todo, enquanto as cinco foras competitivas foram aplicadas para os potenciais estados
fornecedores do gro: Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Paran e Rio Grande do Sul.
Alm disso, foram realizadas projees da rea plantada e produtividade agrcola da
soja com o intuito de quantificar o potencial de expanso e crescimento da oleaginosa no pas.
O mtodo estatstico utilizado para tal finalidade foi o mtodo Box-Jenkins (1970), tambm
conhecido como ARIMA. Para complementar a anlise da produtividade da soja, o autor
tambm utilizou o conceito de Curva de Experincia (Dyson, 1942).
O estudo mostra que o Brasil se consolidar como primeiro produtor e exportador do
gro nos prximos anos, obtendo ainda maior presena no comrcio mundial da commodity.
Este destaque se deve, principalmente, ao potencial de expanso agrcola em rea, atributo
no encontrado em outros pases devido a escassez e saturao de reas agricultveis. Alm
disso, com a melhoria da infra-estrutura logstica, a soja brasileira se tornar ainda mais
competitiva neste setor.
Palavras-chave: Anlise setorial. Agronegcio. Soja. Originao.
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ABSTRACT
The main purpose of this study is to define possible strategies for the origination of
soybeans in the south-central region of Brazil, with the final aim of exporting the grain to
meet the growing demand of the international market.
The author used the strategic tools defined by Porter (1991 and 1993) to map the
sector. The national diamond was used to analyze Brazil as a whole, while the five
competitive forces have been applied to analyze specific states with potential to supply the
grain: Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Paran and Rio Grande do Sul.
In addition, forecasts of the planted area and agricultural productivity for soybeans
were constructed, in an effort of quantifying the potential for expansion and growth of this
oilseed in the country. The statistical method used for this purpose was the Box-Jenkins
method (1970) also known as ARIMA. To complement the projections of the productivity of
soybeans, the author also used the concept of Experience Curve (Dyson, 1942).
The study shows that Brazil can consolidate as the first producer and exporter of the
grain in the coming years, achieving even greater presence in world trade of soybeans. This
prominence is due, mainly, because of the potential for expansion in agricultural area,
attributes not found in other countries. Moreover, with the improvement of the logistic-
infrastructure, the Brazilian soybean will become even more competitive in this sector.
Keywords: Sector Analysis. Agribusiness. Soybeans. Origination.
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LISTA DE FIGURAS
Figura 1 - Distribuio dos Escritrios da Bain & Company no Mundo (Fonte: Bain & Co.) 18Figura 2 - As Cinco Foras Competitivas de Porter (Adaptado de Porter, 1991)....................23
Figura 3 - O Diamante Nacional de Porter (Adaptado de Porter, 1993) .................................28Figura 4 - Exemplo de Curva de Experincia (Fonte: Sallenave, 1985).................................34
Figura 5 - Delimitao do Sistema Agroindustrial (SAG) da Soja no Brasil (Fonte: Lazzarini e Nunes, 1998)........................................................................................................................44
Figura 6 - As Cinco Foras de Porter aplicada aos Estados Produtores (elaborada pelo autor).............................................................................................................................................84
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LISTA DE GRFICOS
Grfico 1 - Desempenho dos Clientes versus Mercado..........................................................19Grfico 2 - Matriz de Crescimento e Participao de Culturas Agrcolas (elaborado pelo autor).............................................................................................................................................32Grfico 3 - Curva de Experincia da Soja nos EUA (elaborado pelo autor)...........................35
Grfico 4 - Correlograma de Auto-Correlao (AC) (elaborado pelo autor com auxlio do software Minitab) .................................................................................................................40
Grfico 5 - Correlograma de Auto-Correlao Parcial (PAC) (elaborado pelo autor com auxlio do software Minitab).................................................................................................40
Grfico 6 - Cinco Maiores Pases Produtores de Soja no Mundo (elaborado pelo autor, fonte: USDA) .................................................................................................................................42
Grfico 7 - Cinco Maiores Pases Exportadores de Soja no Mundo (elaborado pelo autor, fonte: USDA) .......................................................................................................................43
Grfico 8 - Trs Maiores Pases Importadores de Soja no Mundo (elaborado pelo autor, fonte: USDA) .................................................................................................................................43
Grfico 9 - Evoluo do Esmagamento e Exportao da Soja (elaborado pelo autor, dados: FAPRI).................................................................................................................................47
Grfico 10 - Evoluo do Consumo e Exportao do Farelo de Soja (elaborado pelo autor, dados: FAPRI)......................................................................................................................48
Grfico 11 - Evoluo do Consumo e Exportao do leo de Soja (elaborado pelo autor, dados: FAPRI)......................................................................................................................49
Grfico 12 - Evoluo das Exportaes de Soja em Pases Selecionados (elaborado pelo autor, dados: USDA) ......................................................................................................................51
Grfico 13 - Evoluo das Exportaes de Farelo de Soja em Pases Selecionados (elaborado pelo autor, dados: USDA).....................................................................................................52
Grfico 14 - Evoluo das Exportaes de leo de Soja em Pases Selecionados (elaborado pelo autor, dados: USDA).....................................................................................................52
Grfico 15 - Evoluo Histrica da rea Plantada de Soja no Brasil (elaborado pelo autor com auxlio do software Minitab).................................................................................................56
Grfico 16 - Grfico de Auto-correlao da rea de Soja (elaborado pelo autor com auxlio do software Minitab) .................................................................................................................57
Grfico 17 - Auto-correlao (AC) da rea aps uma Diferenciao (elaborado pelo autor com auxlio do software Minitab) .........................................................................................58
Grfico 18 - Auto-correlao Parcial (PAC) da rea aps uma Diferenciao (elaborado pelo autor com auxlio do software Minitab) ................................................................................58
Grfico 19 - rea Plantada da Soja Histrica x Modelo ARIMA (2,1,0) (elaborado pelo autor com auxlio do software Minitab) .........................................................................................59
Grfico 20 - Projeo da rea Plantada de Soja no Brasil at 2018 (elaborado pelo autor com auxlio do software Minitab).................................................................................................60
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Grfico 21 - Evoluo Histrica da Produtividade Mdia da Soja no Brasil (elaborado pelo autor com auxlio do software Minitab) ................................................................................61Grfico 22 - Clculo das Diferenas de Produtividade da Soja no Brasil (elaborado pelo autor com auxlio do software Minitab) .........................................................................................61Grfico 23 - Auto-correlao (AC) da Produtividade aps uma Diferenciao (elaborado pelo autor com auxlio do software Minitab) ................................................................................62Grfico 24 - Auto-correlao Parcial (PAC) da Produtividade aps uma Diferenciao (elaborado pelo autor com auxlio do software Minitab) .......................................................62Grfico 25 - Projeo da Produtividade da Soja no Brasil at 2018 (elaborado pelo autor com auxlio do software Minitab).................................................................................................63Grfico 26 - Produtividade x Produo Acumulada de Soja no Brasil (elaborado pelo autor com auxlio do software Minitab) .........................................................................................64Grfico 27 - Projees para a Produo de Soja no Brasil (elaborado pelo autor)..................66
Grfico 28 - Matriz de Crescimento e Participao de Culturas Agrcolas no MT (elaborado pelo autor, dados: IBGE) ......................................................................................................69
Grfico 29 - Matriz de Crescimento e Participao de Culturas Agrcolas no MS (elaborado pelo autor, dados: IBGE) ......................................................................................................70
Grfico 30 - Matriz de Crescimento e Participao de Culturas Agrcolas no PR (elaborado pelo autor, dados: IBGE) ......................................................................................................71
Grfico 31 - Matriz de Crescimento e Participao de Culturas Agrcolas no RS (elaborado pelo autor, dados: IBGE) ......................................................................................................71
Grfico 32 - Capacidade de Estocagem no MT e MS (elaborado pelo autor, fonte: CONAB)74Grfico 33 - Capacidade de Estocagem no Paran (elaborado pelo autor, fonte: CONAB) ....74
Grfico 34 - Capacidade de Estocagem no Rio Grande do Sul (elaborado pelo autor, fonte: CONAB) ..............................................................................................................................75
Grfico 35 - Capacidade de Estocagem no MT, MS, PR e RS (elaborado pelo autor, fonte: CONAB) ..............................................................................................................................76
Grfico 36 - Custos de Produo da Soja em 2007 (elaborado pelo autor, fonte: Instituto FNP).............................................................................................................................................77
Grfico 37 - Evoluo do Preo da Soja (elaborado pelo autor, fonte: CONAB) ...................79
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LISTA DE TABELAS
Tabela 1 - Exemplo de Clculo de Diferenciao (Fonte: Hoff, 1983) ..................................37Tabela 2 - Indicadores de Competitividade da Soja em Gro (adapatado de Lazzarini e Nunes, 1998)....................................................................................................................................54Tabela 3 - Projees de rea, Produtividade e Produo para o Brasil (elaborada pelo autor).............................................................................................................................................65Tabela 4 - Produo de Soja no Brasil (elaborado pelo autor, dados: CONAB).....................67
Tabela 5 - Margem Lquida do Produtor (elaborada pelo autor, conte: CONAB e Instituto FNP......................................................................................................................................80
Tabela 6 - Margem Econmica do Produtor (elaborada pelo autor, fonte: CONAB e Instituto FNP) ....................................................................................................................................80
Tabela 7 - Margem Logstica / Porturia (elaborada pelo autor: CONAB, estrevistas e AliceWeb)............................................................................................................................82
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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
AC Auto-CorrelaoAGE Assessoria de Gesto Estratgica (MAPA)
AR Auto-RegressivoARIMA Autoregressive Integrated Moving Average
BNDES Banco Nacional de Desenvolvimento Econmico e SocialCONAB Companhia Nacional de Abastecimento
CPR Cdula de Produto RuralEMBRAPA Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuria
ESALQ Escola Superior de Agricultura Luiz de QueirozFAO Food and Agricultural Organization of the United Nations
FAPRI Food and Agricultural Policy Research InstituteFOB Free on Board
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e EstatsticaICMS Imposto sobre Circulao de Mercadorias e Servios
IEA Instituto de Economia Agrcola
IICA Instituto Interamericano de Cooperao para a Agricultura
Kt Mil ToneladasMA Mdia Mvel
MAPA Ministrio da Agricultura, Pecuria e AbastecimentoMAPITO Maranho, Piau e Tocantins
MDIC Ministrio do Desenvolvimento, Indstria e Comrcio ExteriorMt Milhes de Toneladas
PAC Auto-Correlao ParcialSAG Sistema Agroindustrial
sc.60 kg Saca de Soja de 60 quilogramasSECEX Secretaria do Comrcio Exterior
SIFRECA Sistema de Informaes de Fretes (ESALQ)UE Unio Europia
USDA United States Department of Agriculture
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SUMRIO
1. INTRODUO ....................................................................................................... 171.1 O Estgio .................................................................................................................. 17
1.2 A Empresa ................................................................................................................ 181.3 O Estgio e o Trabalho de Formatura ........................................................................ 19
1.4 Objetivos do Trabalho ............................................................................................... 201.5 O Trabalho de Formatura e a Engenharia de Produo............................................... 20
1.6 A Importncia da Anlise Setorial para o Engenheiro de Produo............................ 201.7 Organizao do Trabalho........................................................................................... 212. REFERENCIAL TERICO................................................................................... 232.1 Foras Estruturais de Porter....................................................................................... 23
2.1.1 Ameaa de Entrada de Novos Competidores ................................... 24
2.1.2 Rivalidade entre os Concorrentes .................................................... 252.1.3 Ameaa de Produtos Substitutos...................................................... 26
2.1.4 Poder de Negociao dos Compradores........................................... 262.1.5 Poder de Negociao dos Fornecedores........................................... 27
2.2 Diamante Nacional.................................................................................................... 272.2.1 Condies de Fatores....................................................................... 28
2.2.2 Condies de Demanda ................................................................... 292.2.3 Indstrias Correlatas e de Apoio...................................................... 29
2.2.4 Estratgia, Estrutura e Rivalidade das Empresas.............................. 302.2.5 O Papel do Acaso............................................................................ 30
2.2.6 O Papel do Governo ........................................................................ 302.3 Matriz de Crescimento de Mercado x Parcela de Mercado......................................... 31
2.3.1 Adaptao do Modelo ..................................................................... 312.4 Curva de Experincia ................................................................................................ 33
2.4.1 Aplicabilidade................................................................................. 342.5 ARIMA..................................................................................................................... 35
2.5.1 Srie Estacionria............................................................................ 362.5.2 Modelos Auto-Regressivos (AR)..................................................... 37
2.5.3 Modelos de Mdia Mvel (MA) ...................................................... 382.5.4 Modelos Mistos (ARMA)................................................................ 38
2.5.5 Auto-Correlao (AC)..................................................................... 39
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2.5.6 Auto-Correlao Parcial (PAC) ....................................................... 39
2.5.7 Relevncia da AC e da PAC nos Modelos ARIMA.......................... 393. ANLISE SETORIAL DA SOJA........................................................................... 413.1 Soja no Mundo .......................................................................................................... 413.2 Soja no Brasil ............................................................................................................ 44
3.2.1 Condies de Fatores....................................................................... 45
3.2.2 Condies de Demanda ................................................................... 46
3.2.3 Indstrias Correlatas e de Apoio...................................................... 493.2.4 Estratgia, Estrutura e Rivalidade das Empresas.............................. 50
3.2.5 O Papel do Acaso ............................................................................ 503.2.6 O Papel do Governo ........................................................................ 51
3.2.7 Quadro Resumo............................................................................... 534. PROJEES........................................................................................................... 554.1 rea Plantada ............................................................................................................ 564.2 Produtividade Agrcola.............................................................................................. 60
4.2.1 Utilizando ARIMA.......................................................................... 604.2.2 Utilizando a Curva de Experincia................................................... 64
4.3 Produo ................................................................................................................... 655. EVOLUO HISTRICA REGIONAL............................................................... 675.1 Anlise Regional ....................................................................................................... 68
5.1.1 Culturas Concorrentes ..................................................................... 68
5.1.2 Estrutura dos Mercados ................................................................... 725.1.3 Anlise de Rentabilidade dos Produtores ......................................... 76
5.1.4 Esmagamento x Exportao............................................................. 815.1.5 Investimentos Necessrios............................................................... 83
5.1.6 Resumo Comparativo ...................................................................... 84
6. CONCLUSES ....................................................................................................... 88APNDICE CAPACIDADE DE ARMAZENAGEM.................................................. 91ANEXO CUSTOS DE PRODUO ............................................................................ 94
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17
1. INTRODUO
O mundo povoado por 6,7 bilhes de pessoas, e at o ano de 2018 alcanar a
quantia de 7,5 bilhes de indivduos. Isso nos traz um crescimento mdio anual de 1,1%, que
a princpio parece modesto, mas que representa, em nmeros absolutos, em torno de 80
milhes de pessoas a mais por ano, ou seja, mais de sete cidades de So Paulo todos os anos.
Para mover toda essa enorme e crescente massa humana, preciso fornecer energia
para a mesma, que transmitida atravs da gama de alimentos disponvel no planeta. Esta
gama de produtos pode tambm ser traduzida em algumas poucas matrias-primas que a
compe. Assim, resumidamente, toda essa imensa quantidade de pessoas ser abastecida
basicamente com os suprimentos do agronegcio mundial como: carne, frango, leite, acar,
arroz, milho, trigo, soja, etc.. E nesse contexto de demanda que o Brasil ganha destaque, j
que responde por grande parte do fornecimento de alimentos para o mundo.
No pas, em 2007, dos 58,4 bilhes de dlares vendidos ao mercado externo, o
complexo da soja respondeu pela maior fatia, ou quase 20% do total. Trata-se do principal
produto agrcola do Brasil em rea plantada e cultivada em 20 estados, tendo o Mato Grosso
como maior produtor, responsvel por quase metade da colheita do gro.
Diante da importncia desta commodity no mercado mundial, o estudo desenvolvido a
seguir busca mapear o setor em questo, o complexo da soja, visando trazer ao conhecimento
dos leitores as suas caractersticas e peculiaridades e, ao final, traar estratgias de originao
do gro na regio centro-sul do pas para a exportao. Alm disso, procura incentivar o
investimento na rea, para que a mesma possa se desenvolver adequadamente e para que o
Brasil possa cumprir com as expectativas de produo para os anos futuros, contribuindo com
o suprimento de alimento internacional.
1.1 O Estgio
De Janeiro a Agosto de 2007 o autor concluiu a primeira etapa do programa de trainee
da empresa de consultoria estratgica Bain & Company. Quando atravs do convnio entre a
Escola Politcnica da Universidade de So Paulo e a Escuela Tcnica Superior de Ingenieros
Industriales da Universidad Politcnica de Madrid, realizou-se intercmbio de estudos, com
um ano de durao, pela Rede Magalhes de ensino para aproveitamento de crditos. No seu
regresso ao pas, em Agosto de 2008, o autor retomou o estgio na mesma empresa.
-
18
1.2 A Empresa
A Bain & Company lder mundial em consultoria estratgica. Desde sua criao em
1973, a empresa trabalhou com mais de 3.900 clientes ao redor do mundo, em praticamente
todos os setores de atividades.
Desde 2003, reconhecida como a melhor empresa de consultoria para se trabalhar
segundo pesquisa anual de renomada mdia especializada, a Consulting Magazine.
Possui mais de quatro mil consultores, que esto divididos entre os 39 escritrios
presentes em 26 pases (vide Figura 1).
Toronto
BostonChicagoSan Francisco
Palo Alto
Los Angeles
Mexico City
Atlanta
New York
So Paulo
Johannesburg
Singapore
Dubai
New Delhi
Beijing
Moscow
Helsinki
StockholmAmsterdam
Brussels
London
Paris
MadridZurich
MilanRome
Munich
KyivDsseldorf
Seoul
TokyoShanghai
Hong Kong
Melbourne
Sydney
Dallas
Frankfurt
Copenhagen
Buenos Aires
Toronto
BostonChicagoSan Francisco
Palo Alto
Los Angeles
Mexico City
Atlanta
New York
So Paulo
Johannesburg
Singapore
Dubai
New Delhi
Beijing
Moscow
Helsinki
StockholmAmsterdam
Brussels
London
Paris
MadridZurich
MilanRome
Munich
KyivDsseldorf
Seoul
TokyoShanghai
Hong Kong
Melbourne
Sydney
Dallas
Frankfurt
Copenhagen
Buenos Aires
Figura 1 - Distribuio dos Escritrios da Bain & Company no Mundo (Fonte: Bain & Co.)
O comprometimento da empresa com a criao de valor para seus clientes. Trabalha
com a alta direo para superar competidores e gerar impactos financeiros substanciais e
duradouros. O desempenho da empresa medido pelo sucesso de seus clientes, que
historicamente tm superado o mercado em quatro vezes (vide Grfico 1).
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19
0
2,000
4,000
6,000
8,000
Mudana percentual acumulada nos preos das aes
S&P 500
Clientes da Bain
80 82 84 86 88 90 92 94 96 98 00 02 04 06 070
2,000
4,000
6,000
8,000
Mudana percentual acumulada nos preos das aes
S&P 500
Clientes da Bain
80 82 84 86 88 90 92 94 96 98 00 02 04 06 07
Grfico 1 - Desempenho dos Clientes versus Mercado
O escritrio da Bain & Company em So Paulo foi criado em 1997 e, desde ento,
vivenciou forte crescimento, ganhando mercado sobre outras consultorias estratgicas que j
haviam se estabelecido na regio, como o caso do Boston Consulting Group e da Mckinsey &
Company, principais concorrentes da empresa atualmente.
1.3 O Estgio e o Trabalho de Formatura
No seu regresso ao estgio, o autor foi designado a um projeto na rea de
agronegcios, mais especificamente trabalhando com a soja, fator determinante para a escolha
do tema e desenvolvimento do estudo.
No projeto, o cliente buscava conceber as possveis estratgias de originao da soja
na regio centro-sul do pas. O escopo da anlise foi limitado a estes estados devido parceria
existente entre o cliente e outra empresa atuante no ramo, que possui como mercado de
atuao basicamente o Norte e Nordeste do Brasil. A concepo da estratgia tinha por
finalidade suprir a demanda de soja para um grupo chins, que estava interessado em investir
no pas.
A estrutura da equipe era enxuta, composta por dois analistas e uma consultora. As
anlises foram dividas em duas partes, uma relacionada com o mercado de soja no pas, cujo
analista responsvel foi o prprio autor. E a outra parte, a anlise porturia para o escoamento
do produto, em mos do segundo analista. Cabe ressaltar que todas as anlises apresentadas
neste estudo foram realizadas pelo prprio autor.
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20
1.4 Objetivos do Trabalho
O estudo, assim como o projeto realizado no escritrio de consultoria, tem como
principal objetivo analisar e encontrar as melhores alternativas para captar e escoar a soja na
regio centro-sul do Brasil (principal plo produtor do gro no pas), atravs do mapeamento
de toda a cadeia produtiva do complexo da soja. O intuito final deste projeto o de suprir as
futuras demandas pela matria prima, alm de servir como possvel catalisador de novos
investimentos na rea.
1.5 O Trabalho de Formatura e a Engenharia de Produo
A Engenharia de Produo da Escola Politcnica a nfase que possui o melhor
balano entre as reas tcnicas de engenharia e as reas mais qualitativas e de gesto. Dado
seu amplo escopo de matrias, o Engenheiro de Produo moldado para poder atuar em
praticamente todas as reas. Trata-se de um perfil dinmico, flexvel e ao mesmo tempo muito
bem embasado em ferramentas analticas que o diferencia dos demais e cujas caractersticas
so to apreciadas no mercado de trabalho.
Todo este processo de formao que o Engenheiro de Produo passa durante estes
cinco anos avaliado atravs do Trabalho de Formatura. Trata-se do marco que coroa e
distingue o engenheiro formado pelo Departamento de Engenharia de Produo das demais
engenharias. Nele, o aluno deve utilizar todos os conhecimentos e habilidades desenvolvidas
ao decorrer do curso para concluir um estudo individual e profundo sobre determinado
assunto e, por isso, deve ser tratado com o respeito e a seriedade dignos do ttulo.
1.6 A Importncia da Anlise Setorial para o Engenheiro de Produo
O Trabalho de Formatura do Departamento de Engenharia de Produo, que marca a
transio da fase acadmica para a profissional, em sua raiz pode ser enunciado como sendo a
resoluo de um problema prtico, em geral vinculado ao estgio obrigatrio, com a utilizao
de ferramentas acadmicas, estudadas ao longo do curso.
No caso desta pesquisa, o problema a ser resolvido era o de estruturar o procedimento
para captar soja no Brasil. Para isto, fez-se necessrio um estudo detalhado de quais seriam as
regies mais promissoras, atravs da utilizao do arcabouo estratgico estudado no decorrer
do curso. Alm disso, entender quais seriam as tendncias para os prximos anos do
comportamento dessa commodity no pas, o que demandou projees para a produo do gro
utilizando mtodos estatsticos.
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21
Esta uma das vrias abordagens que se pode realizar em uma anlise setorial. um
campo vasto de atuao, que nos permite utilizar todas as teorias estudadas ao longo do curso
de Engenharia de Produo. Desde reas como Economia, Contabilidade e Administrao, at
reas mais tcnicas como Logstica e PPCP.
Alm disso, para se realizar uma anlise como esta e traar concluses a respeito do
assunto, primeiramente, preciso possuir uma viso sistmica de todos os processos que o
compe para entender sobre seu correto funcionamento. Segundo, preciso tambm possuir
um raciocnio analtico bastante desenvolvido para transformar todas as anlises realizadas em
concluses. Tais caractersticas so as que fazem o Engenheiro de Produo ser to
demandado no mercado de trabalho atual, j que o curso nos proporciona um ensino
balanceado entre ambas vertentes de estudo, tanto as mais tcnicas e de engenharia, como as
mais gerenciais.
1.7 Organizao do Trabalho
Este trabalho organizado como descrito a seguir.
O primeiro captulo se dedica a introduzir o problema a ser tratado, descrevendo a
respeito do estgio onde se iniciou o estudo, quais os objetivos do mesmo, qual a importncia
do trabalho e qual a sua relao com a formao do Engenheiro de Produo formado pela
Escola Politcnica.
O segundo captulo versa sobre a reviso bibliogrfica, ou seja, detalha todas as
teorias e conceitos que foram utilizados para a concepo deste estudo. Partindo das
ferramentas estratgicas, como o diamante nacional e as cinco foras competitivas de Porter, e
a matriz de crescimento e participao no mercado. Passando pelo conceito de curvas de
experincia, e terminando com a descrio do mtodo Box-Jenkins utilizado para a realizao
de algumas projees.
A terceira parte concentra a anlise setorial da soja, partindo do mapeamento do gro
no mundo e enfocando no Brasil, com detalhamento sobre alguns aspectos do nosso setor
atravs da utilizao do Diamante Nacional de Porter (1993).
Em seguida, no captulo quatro, so apresentadas as projees de rea plantada,
utilizando o modelo ARIMA, e produtividade agrcola da soja, utilizando tanto ARIMA como
o conceito de curvas de experincia, para ao final chegarmos a um valor de produo anual
para o pas.
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22
A quinta parte dedica-se a analisar mais em detalhe os quatro estados presentes no
escopo do projeto: Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Paran e Rio Grande do Sul, atravs da
utilizao das cinco foras de Porter (1991) para nortear o raciocnio e a matriz de
crescimento e participao para analisar o impacto das culturas concorrentes da soja para cada
estado produtor.
Encerramos o projeto com as concluses e sugestes obtidas com o estudo,
recomendando quais possveis anlises poderiam ser feitas para dar continuidade ao
entendimento do assunto e melhoria na elaborao dos modelos de projeo.
Ao final do documento constam os Apndices e Anexos, que tambm so partes
constituintes do trabalho, mas que servem em grande parte como suporte para o melhor
entendimento do mesmo.
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23
2. REFERENCIAL TERICO
Assim como explicitado anteriormente, este tpico se dedica a apresentar todas as
teorias utilizadas como base para o desenvolvimento deste projeto, tendo como objetivo
estimular uma melhor compreenso das anlises realizadas.
Partindo desta viso, ser feita uma reviso das teorias sobre estratgia, cujo enfoque
ser centrado em trs diferentes e complementares perspectivas: as Foras Estruturais de
Porter, o seu Diamante Nacional, e a Matriz de Crescimento e Participao no Mercado.
Alm disso, neste trabalho tambm sero feitas revises conceituais sobre o mtodo
ARIMA (ou Box-Jenkins) e as Curvas de Experincia, que serviram como ferramentas de
suporte para a projeo da evoluo da rea e produtividade agrcola da soja no pas.
2.1 Foras Estruturais de Porter
Comeando com as Foras Estruturais, para Porter (1991), a intensidade da
concorrncia em um setor depende de cinco foras competitivas bsicas, representadas pelos
cinco retngulos na Figura 2. O conjunto destas foras determina a atratividade final do setor.
Dessa forma, medida que a intensidade deste conjunto de foras varia, varia tambm o
potencial de lucro que determinado setor pode gerar.
Poder de Negociao dos Fornecedores
Rivalidade entre Concorrentes
Poder de Negociao dos
Clientes
Ameaa de Produtos
Substitutos
Ameaa de Novos Entrantes
Poder de Negociao dos Fornecedores
Rivalidade entre Concorrentes
Poder de Negociao dos
Clientes
Ameaa de Produtos
Substitutos
Ameaa de Novos Entrantes
Figura 2 - As Cinco Foras Competitivas de Porter (Adaptado de Porter, 1991)
Desta forma, uma srie de caractersticas tcnicas e econmicas imprescindvel para
a determinao da intensidade de cada uma das foras competitivas dentro de um setor. A
seguir, de maneira resumida, cada uma destas foras ser identificada e detalhada.
-
24
2.1.1 Ameaa de Entrada de Novos Competidores
Novos competidores, que englobam desde empresas multinacionais entrando no
mercado brasileiro de originao de soja, cooperativas regionais sendo organizadas, empresas
de armazenagem e distribuio sendo criadas e, at mesmo, produtores privados investindo no
setor, trazem consigo sempre mais capacidade, mais recursos, alm do desejo de ganhar
mercado. Como conseqncia desse movimento, os preos podem cair graas ao excesso de
oferta, os custos podem aumentar por causa do aumento da demanda por insumos, fazendo
com que haja uma queda na rentabilidade. Em alguns casos, companhias provenientes de
outros setores adquirem empresas j existentes na indstria e conquistam uma nova posio
no mercado. Quando isso ocorre, elas devem tambm ser encaradas como uma nova entrada,
muito embora no tenha sido criada uma nova entidade.
Porter (1991) afirma que a ameaa de entrada numa indstria varia de acordo com
suas barreiras de entrada. Nesse caso, se as barreiras so altas, o entrante ir encontrar muitas
dificuldades de se estabelecer e, portanto, nesse caso, a ameaa de entrada pequena. Caso
contrrio, se as barreiras so baixas, o inverso ocorre e a ameaa se torna grande.
Entre as principais barreiras definidas por Porter (1991), podemos citar:
Economias de escala: referem-se aos declnios nos custos unitrios obtidos com o
aumento da produo absoluta. Indstrias com grandes economias de escala foram os
novos competidores a comearem com produo elevada ou com desvantagens de
custos;
Diferenciao por produto: as empresas estabelecidas tm sua marca identificada e
desenvolvem junto a seus clientes um forte sentimento de lealdade;
Necessidades de capital: a necessidade de investir vastas quantias de capital para se
estabelecer numa indstria cria uma barreira de entrada, principalmente se o risco
desse investimento for elevado;
Custos de mudana: so os custos incorridos pelos clientes quando mudam de um
fornecedor para outro. Se este custo for elevado, dificilmente um cliente ir mudar de
fornecedor, o que faz com que as barreiras de entrada aumentem;
Acesso aos canais de distribuio: diz respeito necessidade criada por uma nova
entrante em assegurar um canal de distribuio ao seu produto. Considerando que
-
25
esses canais j esto tomados, o entrante precisa persuadir os canais a aceitarem seu
produto;
Desvantagens de custo independentes de escala: vantagens como know-how do
produto, acesso favorvel a matrias primas, localizaes favorveis, etc., podem ser
vantagens inerentes a produtores j estabelecidos, o que torna a entrada de potenciais
concorrentes mais difcil;
Poltica governamental: certos tipos de leis ou licenciamentos podem impossibilitar,
ou dificultar imensamente a entrada de novos produtores em certos setores.
2.1.2 Rivalidade entre os Concorrentes
De acordo com Porter (1991), a rivalidade ocorre quando uma ou mais empresas se
sentem pressionadas ou percebem uma oportunidade para ganhar mais espao no mercado. As
tticas variam, mas costumam se basear em artifcios como a concorrncia de preos, batalhas
de publicidade, introduo de produtos e aumento dos servios ou garantias ao cliente.
A rivalidade uma conseqncia de diversos fatores estruturais, a saber:
Concorrentes numerosos ou bem equilibrados: quando existem muitas empresas em
um setor, elas tendem a acreditar que seus movimentos passam de forma despercebida,
o que gera ainda mais concorrncia. E mesmo se existirem poucos concorrentes,
porm equilibrados, isto pode fazer com que as empresas lutem entre si, gerando
retaliaes vigorosas;
Crescimento lento da indstria: faz com que aumente a disputa por fatias de mercado,
sendo assim muito mais instvel;
Custos fixos altos: criam fortes presses para combater a capacidade ociosa, o que por
sua vez gera uma queda generalizada de preos devido ao excesso de oferta;
Ausncia de diferenciao: quando os produtos no apresentam diferenciao
significativa, seus produtores so levados a baixar os preos, o que torna a
concorrncia um tanto quanto estvel;
Capacidade aumentada em grandes incrementos: quando as economias de escala
determinam que os aumentos de capacidade devem ser feitos em grandes movimentos,
a balana de oferta e demanda pode sair de equilbrio, o que gera momentos de preos
-
26
reduzidos e excesso de capacidade e outros de falta de capacidade, mas preos
excessivamente altos;
Barreiras de sada elevadas: so fatores econmicos que levam as empresas a
continuarem operando mesmo que estejam obtendo retornos abaixo do considerado
desejvel. Eles podem vir na forma de: ativos altamente especializados que tem baixo
valor de venda; custos fixos de sada como acordos trabalhistas; inter-relaes
estratgicas como o acesso a mercados financeiros; barreiras emocionais como a
ligao dos donos com o negcio; e restries de ordem governamental.
Outras fontes para a rivalidade entre concorrentes so: concorrentes divergentes e
grandes interesses estratgicos.
2.1.3 Ameaa de Produtos Substitutos
De uma maneira ou de outra, todas as empresas de uma indstria esto competindo
com indstrias que fabricam produtos substitutos. Os produtos substitutos trabalham
reduzindo o retorno potencial de uma indstria, colocando assim um teto nos preos a serem
fixados. Assim, quanto maior for a atratividade do produto alternativo em termos de preo-
desempenho, maiores sero as presses sobre os lucros do setor.
2.1.4 Poder de Negociao dos Compradores
Os compradores exercem presso sobre a indstria, forando os preos para baixo e
negociam por melhor qualidade e maior quantidade de servios. Segundo Porter (1991), os
compradores so poderosos quando:
Eles esto concentrados ou adquirem grandes volumes;
Os produtos que eles adquirem da indstria representam uma frao significativa de
seus prprios custos ou compras;
Os produtos que eles compram da indstria so padronizados ou no diferenciados;
Eles enfrentam poucos custos de mudana;
Eles conseguem lucros baixos;
Os compradores representam uma ameaa concreta de integrao para trs;
O produto da indstria no importante para a qualidade dos produtos ou servios dos
compradores;
-
27
Eles tm total informao.
2.1.5 Poder de Negociao dos Fornecedores
No movimento inverso dos compradores, os fornecedores exercem seu poder quando
aumentam os preos ou reduzem a qualidade dos bens e servios fornecidos. Dessa forma,
fornecedores poderosos podem reduzir muito a rentabilidade de uma indstria incapaz de
repassar os aumentos aos preos de seus insumos.
De acordo com Porter (1991) e analogamente ao poder dos compradores, os
fornecedores so poderosos quando:
O grupo fornecedor mais concentrado do que a indstria para qual vende;
No obrigado a lutar contra produtos substitutos;
A indstria consumidora no relevante para o grupo fornecedor;
O produto dos fornecedores um insumo importante para os consumidores;
Os produtos dos fornecedores so diferenciados ou foram criados altos custos de
mudana;
O grupo de fornecedores apresenta uma ameaa concreta de integrao para frente.
2.2 Diamante Nacional
Seguindo para a segunda ferramenta estratgica de Porter (1993), o xito internacional
de um pas em determinada indstria pode ser explicado atravs de quatro amplos atributos
que promovem a criao da vantagem competitiva. Estes atributos, alm de analisados
separadamente, devem tambm ser vistos como inter-relacionados e constituintes de um
sistema, o chamado diamante do pas.
Alm destes quatro determinantes, representados atravs de retngulos na figura
abaixo, outras duas variveis podem ser acrescidas anlise para complementar o raciocnio,
so elas: o acaso e o governo. Chegamos assim ao total de seis determinantes, que so
representados de acordo com a Figura 3 e que sero detalhados nos itens subseqentes do
estudo.
-
28
Condies de Fatores
Condies de Demanda
Indstrias Correlatas e
de Apoio
Estratgia, Estrutura e
Rivalidade das Empresas
Acaso
Governo
Condies de Fatores
Condies de Demanda
Indstrias Correlatas e
de Apoio
Estratgia, Estrutura e
Rivalidade das Empresas
Acaso
Governo
Figura 3 - O Diamante Nacional de Porter (Adaptado de Porter, 1993)
2.2.1 Condies de Fatores
Os fatores so basicamente os insumos necessrios para competir em qualquer setor,
como por exemplo, trabalho, terra cultivvel, recursos naturais, capital e infra-estrutura.
Podem ser agrupados em cinco amplas categorias:
Recursos humanos: diz respeito ao capital humano empregado na atividade, a
quantidade, qualidade, custos, capacidade, etc.;
Recursos fsicos: caractersticas, disponibilidade, acessibilidade da terra, dos insumos
e matrias primas, gua, energia, etc.;
Recursos de conhecimentos: quanto de informao e know-how o pas tem em
determinada rea, inclui conhecimentos tcnicos, cientficos, de mercado etc.;
Recursos de capital: disponibilidade de crdito e o custo deste capital para
financiamento, podem ser dvidas com ou sem garantia, emprstimos, patrimnio
lquido, capital de risco, etc.;
Infra-estrutura: suas caractersticas, qualidade e custo de utilizao, inclui os diversos
modais de transporte, sistema de comunicaes, correios, pagamentos ou
transferncias de fundos, assistncia mdica, etc..
-
29
2.2.2 Condies de Demanda
O segundo determinante do diamante caracteriza a demanda interna do produto ou
servio dessa indstria e, segundo Porter (1993), so trs os determinantes gerais mais
significativos dessa varivel:
Composio: o que a compe e a maneira como ela est estruturada influencia
diretamente no desenvolvimento do mercado interno desta indstria, segmentos que
representam parcela importante da demanda local, normalmente tm grande poder
para competir internacionalmente devido ao seu grau de desenvolvimento;
Tamanho e padro de crescimento: um mercado interno de expressivo tamanho pode
levar determinada indstria a vantagens competitivas como as economias de escala,
por exemplo, se for o caso de possuir um grande nmero de compradores, isso induz
entrada de novos investimentos para esta indstria. Alm disso, o crescimento pode
contribuir para a gerao de vantagens competitivas uma vez que proporcional a
taxa de investimento no setor;
Internacionalizao da demanda interna: so os mecanismos atravs dos quais a
demanda interna se internacionaliza e impulsiona os produtos e servios dessa nao
para o exterior, pode ser o caso de compradores multinacionais (no qual os
compradores internos tambm so os externos) ou a influncia sobre as necessidades
estrangeiras (desejos locais so transmitidos a compradores estrangeiros).
2.2.3 Indstrias Correlatas e de Apoio
O grau de desenvolvimento das indstrias de abastecimento ou correlatas indstria
base tambm ditam a competitividade internacional do setor. Isto ocorre pelo fato destas
indstrias fornecedoras produzirem insumos amplamente utilizados no mercado mundial e
serem importantes para a inovao do segmento.
A presena de indstrias fornecedoras ou correlatas internacionalmente competitivas
cria vantagens de diversas maneiras:
Fcil e eficiente acesso aos insumos, que alm de possurem elevada qualidade so
reconhecidos e utilizados em todo o mundo;
Constante coordenao entre indstrias e fornecedores, o que no vivel para uma
empresa estrangeira. As semelhanas culturais tendem a facilitar o fluxo aberto de
informaes;
-
30
Processo de inovao, onde os fornecedores de classe mundial ajudam as empresas a
descobrir novas tecnologias. As empresas tm acesso fcil informao e
conhecimentos e servem tambm como local de testes para o trabalho de
desenvolvimento das indstrias de abastecimento.
2.2.4 Estratgia, Estrutura e Rivalidade das Empresas
O cenrio nacional influencia a maneira pela qual as empresas se estruturam, so
dirigidas e competem entre si. No existe uma regra explcita e nem uma absoluta
uniformidade entre as empresas, mas o contexto cria padres e tendncias que podem ser
percebidas por um observador externo.
Nas metas, bem como nas motivaes dos empregados, tambm se pode perceber este
fenmeno. Os pases tero xito nas indstrias nas quais essas metas e motivaes esto
alinhadas com as fontes de vantagem competitiva.
A rivalidade interna tambm ajuda a fomentar a criao e a manuteno da vantagem
competitiva. Pases que possuem liderana mundial tm, em muitos casos, vrios rivais locais
fortes, at mesmo em pases pequenos. Fato vlido no somente para indstrias fragmentadas,
mas tambm para setores com substanciais economias de escala.
2.2.5 O Papel do Acaso
Englobam as ocorrncias fortuitas, que tm pouco a ver com as circunstncias em que
o pas est inserido e fora do raio de alcance das empresas, mas que tambm possuem
influncia na determinao da vantagem nacional do setor.
Alguns exemplos so: guerras, decises polticas de outros pases, surtos de demanda,
variaes das taxas de cmbio, descontinuidades nos custos de insumos e tecnologia, crises
financeiras, etc. So acontecimentos que propiciam mudanas nas posies competitivas da
indstria, podendo tanto neutralizar determinadas vantagens, como criar novas.
2.2.6 O Papel do Governo
Porter (1993) no enaltece a influncia do governo sobre a competitividade
internacional, ele simplesmente classifica tal controle no como um quino determinante no
diamante, mas sim como um influenciador dos quatro anteriores.
-
31
Estas intervenes podem ocorrer atravs de subsdios, polticas relativas aos
mercados, regulamentos, o governo pode atuar como comprador direto dos produtos ou
servios, controlar a mdia, etc.
As polticas bem sucedidas funcionam nas indstrias nas quais os determinantes
subjacentes da vantagem nacional esto presentes e o governo os refora. A poltica
governamental falhar se continuar sendo a nica fonte de vantagem nacional.
2.3 Matriz de Crescimento de Mercado x Parcela de Mercado
A Matriz de Crescimento x Participao de Mercado (Growth-Share Matrix), em sua
essncia, utilizada para analisar unidades de negcios e portflios de produtos de empresas
(Dyson, 1942).
Trata-se de uma matriz com quatro quadrantes. O eixo horizontal corresponde
participao de mercado relativa ao principal concorrente, sendo uma maneira de caracterizar
a fora da empresa naquele negcio. Se for o caso do negcio ou produto ser o lder de
mercado, o valor calculado pela diviso de sua participao pela do segundo colocado,
resultando em uma quantia maior do que 1. Para o caso em que o negcio no lder, dividi-
se a participao do negcio analisado pela participao do lder de mercado, resultando
assim sempre em valores menores do que 1. O eixo vertical indica o crescimento percentual
no ano mais recente ou a atratividade do mercado para o negcio e os crculos representam
cada negcio ou produto, com a rea das circunferncias proporcionais s vendas totais de
cada unidade.
2.3.1 Adaptao do Modelo
Para o estudo desenvolvido neste trabalho, o modelo descrito no item anterior sofrer
algumas adaptaes, com o intuito de melhor analisar a interao existente entre as diversas
culturas agrcolas concorrentes da soja em cada estado.
A nova estrutura do modelo ser definida como a seguinte (Grfico 2).
-
32
-10.0
0.0
10.0
20.0%
0.00.20.40.60.81.01.2
? Mt
Participao Relativa da rea (Ano Trmino)
Crescimento Mdio Anual da rea(%, Ano Incio-Ano Trmino)
? Mt
Cultura 3
CulturaLder
Cultura 2
Cultura 4
Cultura 5
ProduoAno Trmino
Grfico 2 - Matriz de Crescimento e Participao de Culturas Agrcolas (elaborado pelo autor)
A anlise ser realizada em um grfico linear, onde as variveis plotadas so as
diversas culturas que concorrem com a soja por rea agricultvel em cada estado, ilustradas
no Grfico 2 como Cultura Lder, Cultura 2, Cultura 3, etc.
O eixo vertical o crescimento mdio anual da rea plantada da cultura em questo,
cujo perodo determinado segundo escopo de anlise relevante, e no qual os valores de
crescimento variam normalmente entre -10% a +20% anual.
O eixo horizontal a participao relativa em rea plantada da cultura analisada, com
a pequena diferena de que o clculo da participao da cultura lder (a que possui maior rea
plantada dentre as culturas concorrentes no estado) no mais ser referenciado segunda
cultura com maior participao, mas seguir a mesma metodologia de clculo das demais
culturas (rea plantada da cultura, dividida pela rea da cultura lder), resultando
conseqentemente em um indicador com valor 1 sempre.
O tamanho de cada bolha proporcional produo da cultura no ano de trmino da
anlise. Com a referncia de tamanho estipulada no canto inferior direito do grfico, em
milhes de toneladas (Mt).
A linha horizontal contnua faz referncia cultura lder e sua taxa de crescimento,
variando para cada estado. A linha tracejada horizontal marca a referncia zero no
crescimento de rea, sendo fixa na coordenada y = 0 para todas as anlises. As linhas verticais
so tambm fixadas, nas referncias x = 1,0 (Cultura Lder) e x = 0,5.
-
33
Estas linhas determinam quatro tipos de reas especficas de anlise:
Cinza escura: regio em que se encontram culturas que oferecem maior ameaa para a
cultura lder em termos de expanso de rea agrcola, uma vez que crescem mais do
que a lder e j possuem escalas bem prximas a mesma, significando real ameaa;
Cinza clara: presente em duas reas, engloba culturas que oferecem alguma ameaa
para a cultura lder ou porque possuem escala semelhante mas crescem a taxas
inferiores, ou porque apesar de no possurem reas muito relevantes crescem a nveis
superiores ao experimentado pela cultura lder;
Branca: culturas que no representam ameaa por crescerem menos que a lder e por
terem pouca quantidade de rea plantada no estado;
Vermelha hachurada: culturas que vivenciam redues em suas reas, principalmente
devido substituio por outras culturas.
2.4 Curva de Experincia
A curva de experincia uma ferramenta que relaciona a variao dos custos de
produo de determinado bem, ou sua reduo ao longo do tempo, com a evoluo da
produo do mesmo. Originalmente, as variveis utilizadas para anlise so o custo de
produo unitrio no eixo vertical e sua produo acumulada no eixo horizontal (Figura 4).
Utilizando um grfico bi-log pode-se visivelmente notar a correlao existente entre ambas
variveis e tal relao possibilita projetar tendncias futuras para determinada tecnologia.
Segundo Dyson (1942), os custos projetados pela curva podem ser obtidos atravs de
uma simples relao exponencial negativa como:
onde Co e Ct so os custos unitrios, corrigidos pela inflao, nos perodos 0 e t
respectivamente. P0 e Pt so os volumes acumulados de produo nos mesmos perodos 0 e t.
E a uma constante que reflete a elasticidade do custo unitrio do volume acumulado.
A teoria da curva de experincia mostra que o custo decresce numa porcentagem fixa
cada vez que a produo acumulada dobra em unidades. Por exemplo, uma curva de
experincia de 85% significa que o custo unitrio do produto cai 15% cada vez que a
produo acumulada do mesmo dobra.
a
t PPCC
=
0
10
-
34
Produo Acumulada
Cust
o U
nitr
io
Produo Acumulada (Log)Cust
o U
nitrio (
Log)
Produo Acumulada
Cust
o U
nitr
io
Produo Acumulada
Cust
o U
nitr
io
Produo Acumulada (Log)Cust
o U
nitrio (
Log)
Produo Acumulada (Log)Cust
o U
nitrio (
Log)
Figura 4 - Exemplo de Curva de Experincia (Fonte: Sallenave, 1985)
2.4.1 Aplicabilidade
uma tcnica bastante utilizada e de validade comprovada. Schaeffer (2004), que
comparou projees feitas com a curva de experincia, projees realizadas por engenheiros
da rea e valores reais obtidos para o preo de um mdulo foto-voltaico de energia solar,
mostrou que, para uma amostragem considervel de dados histricos, as projees com a
curva de experincia chegaram melhores resultados do que as realizadas por especialistas da
rea.
Essa variao no valor dos custos de produo pode ser explicada em grande parte, ou
85% segundo Hollander (1965), pela combinao de aprendizado ao fazer e avanos
tecnolgicos, sendo os outros 15% relativos aos ganhos de escala.
Outro fator fundamental na utilizao das curvas de experincia, como ferramenta de
projeo, o de que se trate de um produto padronizado e igual para todos os produtores,
alm dos mesmos terem acesso e utilizarem a mesma tecnologia (Sallenave, 1985).
Assim, para este Trabalho de Formatura, visto que os mesmos fatores citados acima
tambm esto presentes no setor a ser estudado, a ferramenta foi utilizada para projetar os
incrementos na produtividade agrcola da soja, expressa em toneladas por hectare, de acordo
com a evoluo acumulada de sua produo.
Esta ferramenta j foi utilizada para a projeo de produtividade de outras culturas
agrcolas, mostrando-se aplicvel para o caso da soja no Brasil e, alm disso, no caso do gro
-
35
nos Estados Unidos, obtemos um fator de R bastante significativo de 92%, ilustrado no
Grfico 3 abaixo.
0.5
1
2
3
1 2 5 10 20 50 100 200 500 1,0002,000 5,000
Produo Acumulada de Soja nos EUA(milhes de toneladas)
Produtividade Agrcola(toneladas por hectare)
20082004
20031999
1993
1992
19881984
1981
1979
1976
1974
1972
19681967
1964
1958
1956
1953
19501949
1947
1946
19451944
1936
1935
19331932
1931
1930
1928
1925
1924
1994
1941
1940
19391938
1937
Intercept = -0.12
# of Objs. = 85R = 0,92
Slope = 111%
Grfico 3 - Curva de Experincia da Soja nos EUA (elaborado pelo autor)
2.5 ARIMA
A abordagem ARIMA, tambm conhecida como Box-Jenkins (1970), uma
metodologia que ajusta modelos auto-regressivos integrados de mdia mvel a uma srie
histrica de dados, com o intuito de, ao final, gerar projees para os prximos perodos de
anlise.
Esta metodologia pode ser analisada separando-a em trs partes:
AR que significa auto-regressivo;
I que significa integrado;
MA que significa mdia mvel (em ingls, Moving Average).
Trata-se de um modelo bastante potente e complexo e que, ao mesmo tempo, flexvel,
j que pode ser moldado de acordo com o comportamento das diversas sries analisadas,
atravs da definio dos trs parmetros de clculo para as trs partes do modelo. Neste caso,
trata-se da configurao mais simples do modelo, onde as variveis relacionadas
sazonalidade da curva no so utilizadas.
-
36
2.5.1 Srie Estacionria
Para que se possa aplicar o modelo de Box-Jenkins a uma srie histrica, preciso que
a mesma possua uma caracterstica peculiar ou, mais especificamente, preciso que a srie
possua um comportamento estacionrio ao longo do tempo.
O processo estacionrio aquele caracterizado pela no tendncia de crescimento ou
decrscimo de uma srie de dados ao longo do tempo. uma srie que varia em torno de um
mesmo valor para todos os perodos.
Como o caso de grande parte das sries de dados se enquadrarem como possuindo uma
tendncia de variao, desvalidando a hiptese de um comportamento estacionrio, preciso
ajustar tais dados para que o modelo possa ser utilizado.
Para isto, utiliza-se a segunda das trs partes da anlise, ou a letra I do modelo ARIMA.
Para casos nos quais existem tendncias, diferenciamos uma vez a srie para que a mesma
passe para um comportamento estacionrio.
A diferenciao ocorre atravs do clculo das diferenas de valores consecutivos da
srie histrica. Assim, ao final, teremos um valor a menos na quantidade de valores original
da srie. Hoff (1983) exemplifica este clculo diferenciando uma simples srie crescente
(Tabela 1).
-
37
Tabela 1 - Exemplo de Clculo de Diferenciao (Fonte: Hoff, 1983)
1011310
n = 9n = 10
101039
10938
10837
10736
10635
10534
10433
10332
-231
Srie Diferenciada
Srie OriginalPerodo
1011310
n = 9n = 10
101039
10938
10837
10736
10635
10534
10433
10332
-231
Srie Diferenciada
Srie OriginalPerodo
2.5.2 Modelos Auto-Regressivos (AR)
Para entender como os parmetros auto-regressivos funcionam, pode-se considerar um
modelo que contenha apenas um parmetro AR. Este modelo escrito da seguinte maneira:
no qual Xt uma srie estacionria e o termo A1Xt-1 representa o ajuste do valor da srie Xt,
sendo A1 chamado de parmetro AR de ordem 1 e o termo Et representa um erro aleatrio
assumido no perodo t. Assim, qualquer valor Xt proporcional ao seu valor anterior Xt-1
acrescido de um erro Et.
Existe tambm a possibilidade de aumentar o nmero de parmetros AR do modelo, se
a srie estiver relacionada com mais de um valor passado. Por exemplo, um modelo auto-
regressivo com dois parmetros AR escrito da seguinte maneira:
no qual A2 o parmetro AR de ordem 2. Neste exemplo, o valor Xt relacionado
combinao dos dois ltimos valores da srie mais um erro aleatrio.
Se estendermos o mesmo raciocnio, chegamos a um modelo auto-regressivo geral com
p parmetros AR:
ttt EXAX += 11
tttt EXAXAX ++= 2211
-
38
no qual A1, A2, ..., Ap so os parmetros AR. Os ndices subscritos nos As so chamados de
ordens dos parmetros. A ordem p definida como sendo a ordem do modelo. Nessa forma de
representao, qualquer valor da srie pode ser expresso como uma combinao de p valores
passados mais um erro Et.
2.5.3 Modelos de Mdia Mvel (MA)
Os modelos de mdia mvel possuem uma estrutura semelhante aos modelos de auto-
regresso, porm, diferem significativamente em um ponto. Ao invs de relacionarem o valor
Xt aos seus valores precedentes, os modelos MA relacionam o valor Xt com os valores
precedentes dos erros passados, assim, pode-se definir um modelo Box-Jenkins com um nico
parmetro MA como:
no qual o termo B1Et-1 representa o ajuste ao valor Xt da srie, sendo B1 chamado de
parmetro MA de ordem 1 (o uso do sinal negativo simples conveno e no tem nenhum
outro significado).
Assim, os modelos de mdia mvel simplesmente dizem que qualquer valor Xt na srie
proporcional somente ao erro aleatrio Et-1 do perodo anterior mais um erro aleatrio Et.
Como os modelos AR, os modelos MA podem ser estendidos para incluir q
parmetros como ilustrado abaixo:
no qual B1, B2, ..., Bq so os parmetros MA de ordem 1, 2, ..., q, respectivamente. A maior
ordem q definida como a ordem do modelo. Nesse formato generalizado de modelo de
mdia mvel, qualquer valor Xt expresso como a combinao dos q erros passados mais um
erro aleatrio Et.
2.5.4 Modelos Mistos (ARMA)
Pode-se tambm combinar ambos os modelos, utilizando tanto parmetros auto-
regressivos (AR) como parmetros de mdia mvel (MA). Estes modelos combinados so
tambm chamados de modelos ARMA e podem ser expressos da seguinte maneira:
tptpttt EXAXAXAX ++++= ...2211
tqtqttt EEBEBEBX += ...2211
ttt EEBX += 11
tqtqttptpttt EEBEBEBXAXAXAX +++++++= )...()...( 22112211
-
39
A ordem do modelo ARMA expressa em termos de ambos os parmetros p e q.
2.5.5 Auto-Correlao (AC)
A auto-correlao uma medida estatstica que indica como uma srie se relaciona
consigo mesma no decorrer do tempo. Mais especificamente, a medida de como os valores
desta srie, separados por um nmero especfico de perodos, esto correlacionados entre si. O
nmero de perodos de distncia entre esses valores chamado de lag. Assim, a auto-
correlao para um lag de 1 a medida de como valores sucessivos esto correlacionados
entre si ao longo da srie.
Por exemplo, se forem tomados os valores que excedem a mdia em uma srie e os
mesmos estiverem espaados a cada n perodos, ento se obtm uma auto-correlao positiva
de lag n para aquela srie. Por outro lado, se estes valores acima da mdia estiverem
separados de valores mnimos a cada n perodos, ento se obtm uma auto-correlao
negativa de lag n. Se h inconsistncia ou aleatoriedade com os valores da srie depois de n
perodos, ento haver uma auto-correlao praticamente nula para o lag n.
2.5.6 Auto-Correlao Parcial (PAC)
A auto-correlao parcial tambm uma medida estatstica, cuja utilizao se d em
conjunto com a auto-correlao para a determinao dos parmetros dos modelos ARIMA. A
anlise do comportamento e disposio dos dados de ambas as curvas auxilia na busca pelos
parmetros a serem utilizados em cada uma das trs partes da modelagem Box-Jenkins. As
PACs so bastante teis quando os padres de comportamento nas ACs no esto muito
claros, e assim como as auto-correlaes, os valores das auto-correlaes parciais tambm
variam de -1 a 1.
2.5.7 Relevncia da AC e da PAC nos Modelos ARIMA
Para Hoff (1983), um bom modelo ARIMA caracterizado pela correta definio de
seus parmetros. Para isto, analisam-se as curvas de auto-correlao (AC) e auto-correlao
parcial (PAC) da srie de dados a ser modelada. O intuito final buscar por padres de
comportamento nestas duas curvas, que possam ser traduzidos em parmetros para as trs
partes do modelo: auto-regressivo, integrado e de mdia mvel. A seguir, so exibidas
exemplificaes de ambas as curvas plotadas em um correlograma.
-
40
24222018161412108642
1,0
0,8
0,6
0,4
0,2
0,0
-0,2
-0,4
-0,6
-0,8
-1,0
Lag
Aut
ocor
rela
tion
Grfico 4 - Correlograma de Auto-Correlao (AC)
(elaborado pelo autor com auxlio do software Minitab)
24222018161412108642
1,0
0,8
0,6
0,4
0,2
0,0
-0,2
-0,4
-0,6
-0,8
-1,0
Lag
Part
ialA
utoc
orre
lati
on
Grfico 5 - Correlograma de Auto-Correlao Parcial (PAC)
(elaborado pelo autor com auxlio do software Minitab)
-
41
3. ANLISE SETORIAL DA SOJA
Para mapear o complexo da soja no Brasil, ser utilizada inicialmente uma abordagem
de estudos mais ampla, comentando sobre a situao do setor mundial para, em seguida,
aprofundarmos em nvel nacional, com a finalidade de chegar s anlises para cada estado
produtor contido no escopo do estudo.
3.1 Soja no Mundo
No caso da soja, segundo o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos
(USDA), as expectativas para o seu complexo, o que engloba o gro, o farelo e o leo de soja,
so bastante favorveis para os prximos anos.
O comrcio mundial do gro e de seus derivados cresceu rapidamente desde os
primeiros anos da dcada de 1990 e ultrapassou no somente o trigo, o lder tradicional no
comrcio agrcola, mas tambm o grupo de gros constitudo por: milho, cevada, aveia, sorgo,
etc. e impulsionada pela demanda por leo vegetal e protena, principalmente pela China,
esperado que a soja e seu complexo sustentem esta posio de liderana no comrcio mundial
pela prxima dcada.
No ano de 2008, foram produzidas 221 milhes de toneladas de soja no mundo. Deste
total, 82% esto concentrados nas mos dos trs maiores produtores: EUA (73 milhes),
Brasil (61 milhes) e Argentina (47 milhes).
um setor bastante concentrado, no qual nosso pas possui lugar de destaque, porque
apesar de figurar como segundo colocado na produo do gro, em alguns anos, ultrapassar
os Estados Unidos, maior produtor mundial da soja.
-
42
0
15
30
45
60
75
90
Milhes de toneladas
ndia
Argentina
EUA
Brasil
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008
China
7.3%
0.1%
10.3%
-0.7%7.5%
Cresc. Anual(00-08, %)
Grfico 6 - Cinco Maiores Pases Produtores de Soja no Mundo (elaborado pelo autor, fonte: USDA)
Pelo crescimento mdio anual da produo para cada pas, exibido na parte direita do
grfico, pode-se notar as tendncias de crescimento de Brasil e Argentina (7,3% e 10,3%
respectivamente), enquanto que nos EUA j h uma estabilizao deste ritmo (0,1% de
crescimento mdio anual entre o ano de 2000 a 2008).
Estas taxas de crescimento no devem se alterar tanto, j que no Brasil e Argentina
ainda existem muitas reas no exploradas para o cultivo da soja, o que impulsiona a sua
produo. Enquanto que nos EUA no existem mais regies para expanso agrcola e onde
tambm o milho tem ganhado participao em rea em detrimento da soja, visto a nova
poltica de biocombustveis adotada pelo pas. Portanto, os EUA dependem quase que
exclusivamente do desenvolvimento tecnolgico para incrementar sua produo.
No caso das exportaes, assim como na produo, o cenrio se mantm inalterado,
com os mesmo trs pases como lderes neste mercado, porm com uma diferena um pouco
menor entre os valores comercializados pelos EUA e pelo Brasil (vide Grfico 7). Pode-se
tambm notar o peso que a Amrica do Sul possui neste mercado, com Brasil, Argentina e
Paraguai exportando 44 das 79 milhes de toneladas.
-
43
0
10
20
30
40
Milhes de toneladas
Canad
Paraguai
Argentina
Brasil
EUA
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008
2.2%
10.9%
16.0%
12.2%
8.1%
Cresc. Anual(00-08, %)
Grfico 7 - Cinco Maiores Pases Exportadores de Soja no Mundo (elaborado pelo autor, fonte: USDA)
Como j esperado no caso das importaes, a outra ponta do comrcio mundial, a
China tem destaque absoluto. Enquanto a Unio Europia (EU-27) e o Japo, respectivamente
segundo e terceiro maiores importadores do gro, vm apresentando desde o ano 2000 uma
diminuio nestes valores, a China cresce a significativos 17,4% a cada ano, atingindo no ano
de 2008 um valor de 36,5 milhes de toneladas (vide Grfico 8).
0
10
20
30
40
Milhes de toneladas
Japo
UE-27
China
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008
17.4%
0.8%
-2.4%
Cresc. Anual(00-08, %)
Grfico 8 - Trs Maiores Pases Importadores de Soja no Mundo (elaborado pelo autor, fonte: USDA)
-
44
3.2 Soja no Brasil
De acordo com a Secretaria de Comrcio Exterior (SECEX), de Janeiro a Setembro de
2008 o Brasil exportou US$ 150,9 bilhes, superando em 29% as exportaes do mesmo
perodo para 2007.
Dentre este total, o complexo da soja, que inclui o gro, o farelo e o leo de soja,
respondeu por US$ 15,3 bilhes, ou 10,1% do total exportado pelo pas. A soja e seus
derivados ficam atrs somente do petrleo e seus derivados (US$ 17,6 bilhes / 11,7%) e do
setor de materiais de transporte e componentes (US$ 20,0 bilhes / 13,3%), que inclui
automveis, autopeas, avies, etc.
um dos setores mais importantes para a economia do pas, contribuindo para o saldo
positivo da balana comercial brasileira e por isso merece destaque.
Possui uma dinmica complexa e que envolve algumas etapas em seu processo.
Assim, com o intuito de ilustrar o funcionamento deste setor, utilizaremos um diagrama de
como as diversas partes do processo interagem entre si e contribuem para o funcionamento do
Sistema Agroindustrial (SAG) da soja.
De acordo com Lazzarini e Nunes (1998), o SAG da soja no Brasil pode ser
esquematizado de acordo com a Figura 5 abaixo. Sendo as caixas os segmentos do SAG e as
setas as transaes realizadas (T1, T2, etc.).
Figura 5 - Delimitao do Sistema Agroindustrial (SAG) da Soja no Brasil (Fonte: Lazzarini e Nunes, 1998)
-
45
O processo inicia-se com a Indstria de Insumos, responsvel pelo fornecimento,
dentre outros, de sementes, fertilizantes, defensivos e mquinas, sendo comercializada aos
Originadores por meio da sua Produo, que representa o segmento agrcola propriamente
dito.
J os Originadores so as empresas que adquirem a matrias-prima, no caso a soja,
com os produtores rurais, a armazena e a distribui, atravs de cooperativas, corretoras,
armazenadores e tradings, sendo estes ltimos responsveis pela coordenao da transferncia
fsica dos produtos no mercado internacional, apesar de tambm existirem cooperativas que
possuem departamentos internos que fazem este processo. As corretoras e armazenadoras
atuam fundamentalmente como prestadoras de servios para indstrias esmagadoras e
tambm para tradings, na formao de lotes de matria-prima para venda.
A Indstria Esmagadora e Refinadora gera o farelo e o leo de soja, integrando-se, na
maior parte dos casos, com os processos descritos acima. As esmagadoras processam o gro,
gerando, em mdia, para cada tonelada de soja, 780 kg de farelo e 190 kg de leo. O farelo
dedicado para a exportao e, internamente, para a indstria de raes, carnes e,
eventualmente, para a indstria processadora de soja. O leo segue o processo de
esmagamento, degomagem e refino, sendo que o produto processado destinado Indstria
de Derivados de leo, representada pelos mercados internos alimentcio, qumico,
farmacutico e de produo de Biodiesel, dentre outros.
Por fim, os Distribuidores representam os segmentos atacadistas e varejistas, comuns
a muitos outros SAGs, e os Consumidores Finais, os prprios consumidores dos derivados, os
compradores industriais nas vendas externas de tradings e indstrias processadoras.
Depois de compreendida a estrutura bsica do SAG da soja, prossegue o mapeamento
do complexo da soja no pas, no qual ser utilizada a metodologia desenvolvida por Porter
(1993) em seu Diamante Nacional. Deste modo, sero utilizadas as 6 perspectivas definidas
por seus parmetros: condies de fatores; condies de demanda; indstrias correlatas e de
apoio; estratgia, estrutura e rivalidade das empresas; o papel do acaso; e o papel do governo.
3.2.1 Condies de Fatores
Em termos de recursos fsicos, o Brasil o pas que oferece o maior potencial
geogrfico para a expanso agrcola. Segundo o rgo de Agricultura e Alimentao das
Naes Unidas (FAO), o Brasil detm aproximadamente 550 milhes de hectares que podem
ser aproveitados para a agricultura. Desse montante, apenas 4% utilizado, restando 495
-
46
milhes a serem explorados, o que representa 35% do estoque de terras disponveis no
globo para a explorao da agricultura.
Em termos de conhecimento, apesar de consideravelmente atrs dos Estados Unidos,
o pas se encontra na vanguarda da tecnologia de produo dessa oleaginosa nas regies
tropicais. A abundncia de mo-de-obra barata tambm vista como um dos fatores
diferenciais da regio em relao s outras naes.
Os mecanismos de financiamento da produo tem se desenvolvido, o que antes era
negociado atravs dos chamados contratos de soja verde, nos quais uma trading fornecia
recursos ou insumos antes do plantio, em troca do compromisso do produtor de entregar
determinada quantidade de soja na poca da colheita, passou a ser negociado atravs das
cdulas de produto rural (CPR) que ser mais bem detalhada na parte de estratgia das
empresas.
Em contrapartida, as ineficincias existentes na infra-estrutura logstica e de
armazenamento so fatores que reduzem bruscamente o potencial competitivo na insero dos
derivados da soja nos mercados externos, em especial para a produo oriunda de zonas mais
afastadas dos portos para exportao do gro, como o caso da regio centro-oeste do pas.
3.2.2 Condies de Demanda
Em se tratando das condies de demanda interna, atualmente as exportaes do gro
so mais atrativas do que o seu processamento, em virtude de alguns pontos, como: a
desonerao do Imposto sobre Circulao de Mercadorias e Servios (ICMS) sobre a
exportao de matrias primas, a ineficincia de processadoras nacionais e as polticas
protecionistas de pases desenvolvidos, que privilegiam a importao de matrias primas em
detrimento de produtos j processados.
Segundo a FAPRI, o esmagamento de soja no Brasil, durante o perodo de 2000 a
2008, cresceu anualmente 4,4%, passando de um patamar de 21,1 milhes de toneladas em
2000 para 29,7 Mt em 2008 (vide Grfico 9).
-
47
0.0
20.0
40.0
60.0
Milhes de Toneladas
00
Esm
agam
ento
Expo
rta
o
31.5
01
Esm
aga
men
toEx
port
ao
37.5
02
Esm
agam
ento
Exp
orta
o
38.1
03Esm
agam
ento
Exp
orta
o
45.5
04
Esm
agam
ento
Exp
orta
o
49.4
05
Esm
agam
ento
Exp
ort
ao
48.9
06
Esm
agam
ento
Exp
ort
ao
54.1
07
Esm
agam
ento
Exp
ort
ao
54.1
08
Esm
aga
men
toExp
orta
o
59.3
4.4%
13.9%
Grfico 9 - Evoluo do Esmagamento e Exportao da Soja (elaborado pelo autor, dados: FAPRI)
No caso do farelo, existe um equilbrio maior entre os crescimentos mdios anuais do
consumo interno e de suas exportaes. Durante o mesmo intervalo de tempo, o consumo
interno partiu de 7,1 Mt para 11,2 Mt, resultando em um crescimento mdio de 5,9% (vide
Grfico 10). Este equilbrio existente entre a quantidade exportada e a quantidade consumida
de farelo se deve principalmente pelo fato do mesmo servir como rao para o setor de sunos
e aves, o que o torna atrativo para consumo local. Portanto, o futuro do consumo de farelo da
soja no pas est amplamente vinculado ao bom desempenho destes setores.
-
48
0.0
10.0
20.0
30.0
Milhes de Toneladas
00
Exp
ort
ao
Con
sum
o
16.9
01
Exp
orta
o
Con
sum
o17.6
02
Exp
ort
ao
Consu
mo
19.1
03
Exp
orta
o
Con
sum
o
21.4
04Exp
orta
o
Cons
um
o
22.2
05
Exp
ort
ao
Cons
um
o
22.9
06
Exp
orta
o
Con
sum
o
22.3
07
Exp
ort
ao
Con
sum
o
23.4
08
Exp
ort
ao
Con
sum
o
23.0
5.9%
2.3%
Grfico 10 - Evoluo do Consumo e Exportao do Farelo de Soja (elaborado pelo autor, dados: FAPRI)
Para o leo obtido do gro, o consumo pode ser dividido em duas variveis, uma o
consumo voltado para a indstria alimentcia, que se manteve constante ao longo dos anos,
totalizando um valor de 2,9 Mt em 2008, e o outro o leo utilizado para a produo de
biodiesel, que em 2006 era de 41 mil toneladas, chegando a 617 Kt em 2008 (vide Grfico
11). Se ambas variveis fossem analisadas conjuntamente, chegaramos a um crescimento
mdio anual de 2,4%. No caso das exportaes de leo, de 2000 a 2003 observa-se um forte
crescimento de 33% anual, enquanto que de 2003 a 2008 os valores se mantm constantes,
alcanando um valor de 2,3 Mt exportados em 2008.
-
49
0.0
2.0
4.0
6.0
Milhes de Toneladas
00
Cons
um
oExp
ort
ao
3.9
01
Cons
um
oExp
orta
o
4.4
02
Con
sum
oExp
orta
o
4.6
03Con
sum
oExp
orta
o
5.2
04
Cons
um
oExp
orta
o
5.6
05
Con
sum
oEx
por
ta
o
5.4
06
Con
sum
oExp
orta
o
5.4
07
Con
sum
o
Biodiesel
Exp
ort
ao
5.8
08
Con
sum
o
Biodiesel
Exp
orta
o
5.8
-0.1%
289.0%
10.9%
Grfico 11 - Evoluo do Consumo e Exportao do leo de Soja (elaborado pelo autor, dados: FAPRI)
Todos os 3 produtos, tanto a soja em gros, como o farelo e o leo, possuem nveis de
internacionalizao elevados, ou seja, a porcentagem da produo voltada ao mercado externo
bastante alta. Em 2008, atingiram respectivamente 49%, 51% e 40%, o que exige que a soja
brasileira e seus derivados atendam aos requisitos mnimos estipulados pela demanda
mundial.
Visto o crescimento vivenciado pelas exportaes do gro nos ltimos anos em
detrimento do consumo interno, a no ser que haja uma significativa mudana na tributao
brasileira, a situao competitiva indica que o pas assumir uma posio de fornecedor de
matria-prima para a indstria processadora de soja mundial, comprometendo at mesmo a
expanso e desenvolvimento da infra-estrutura de processamento local.
3.2.3 Indstrias Correlatas e de Apoio
Seguindo para a anlise das indstrias correlatas, a de maior importncia dentro do
cenrio da soja de fato a indstria de fertilizantes, que alm de servir como um insumo para
o processo produtivo serve de financiamento para a produo. As empresas que fabricam os
fertilizantes os fornecem aos produtores em troca de uma quantidade de soja no perodo de
colheita. Este mecanismo um importante driver na capacidade de originao do gro que
uma empresa possui j que resolve o problema de escassez de financiamento para os
produtores. Segundo pesquisa realizada pela HSM Management (2005), todas as cinco
empresas nacionais entrevistadas frisaram a importncia que o mecanismo de financiamento
-
50
com a utilizao de fertilizantes tem sobre o poder de originao de uma empresa. por este
motivo e outros mais, que as grandes tradings de soja atuantes hoje no pas tambm
comercializam o insumo agrcola.
3.2.4 Estratgia, Estrutura e Rivalidade das Empresas
A participao destas tradings multinacionais na coordenao das atividades um dos
motivos que evidenciam a competitividade brasileira nas exportaes do complexo da soja.
Um mecanismo integrado de financiamento, processamento e escoamento da produo,
coordenado por estas empresas, garante o bom funcionamento da cadeia. Apesar da influncia
que os mesmos exercem na dinmica nacional, no se observa uma ao conjunta entre eles
para alavancar as vendas dos produtos brasileiros no exterior.
Este financiamento da produo j passou por algumas etapas at os dias atuais. No
incio da utilizao dos mesmos, os acordos eram firmados atravs dos contratos de soja
verde, mas devido ao pouco comprometimento com a ferramenta por parte dos produtores,
que rompiam os acordos quando os preos da soja disparavam, desenvolveram as chamadas
cdulas de produto rural (CPR) em 1994. Neste novo procedimento so fixadas garantias
CPR, realizadas atravs de uma instituio bancria ou seguradora. De posse da CPR
aprovada, o emissor pode negoci-la no mercado. Todos os dados da CPR so registrados
pelo Sistema de Custdia de Ttulos do Agronegcio, reconhecido pelo Banco Central do
Brasil.
3.2.5 O Papel do Acaso
A escassez de crdito, que vivenciamos atualmente com a crise financeira mundial,
ser transmitida tambm ao agronegcio. Alguns bancos internacionais j cancelaram crditos
j aprovados para grandes produtores e exportadores. As tradings, empresas que financiam a
atividade agrcola, tambm tiveram seu crdito reduzido em funo dos preos do gro no
mercado futuro.
No Brasil, o governo federal j tomou medidas para amenizar estes impactos,
anunciando reforo de 5 bilhes de reais nas linhas de crdito para a agricultura (Portal
Exame, 2008).
-
51
3.2.6 O Papel do Governo
Prosseguindo para o papel do governo no setor, pode-se destacar sua influncia nas
exportaes atravs da Lei Kandir. A mesma entrou em vigor em 13 de Setembro de 1996 e
isenta o tributo do ICMS sobre produtos e servios destinados exportao. No caso da soja,
ela se aplica somente aos gros da oleaginosa, deixando o farelo e o leo fora do escopo de
atuao da lei por serem produtos processados. Assim, o que houve foi um incremento na
exportao dos gros em detrimento dos outros derivados. Tomando os trs pases que mais
exportam o gro no mercado mundial Estados Unidos, Brasil e Argentina e que
representam 89% do volume total comercializado, se pode ver o claro aumento da
participao brasileira a partir de 1996 (vide Grfico 12).
0
20
40
60
80
100%
Milhes de Toneladas
1995
79%
9%
12%
29.0
1996
81%
7%
12%
28.7
1997
72%
2%
25%
33.3
1998
67%
8%
25%
35.3
1999
65%
9%
26%
33.9
2000
64%
10%
27%
41.8
2001
54%
15%
31%
49.9
2002
59%
12%
29%
49.4
2003
50%
15%
35%
56.7
2004
47%
13%
40%
51.3
2005
50%
16%
34%
59.6
2006
44%
12%
44%
58.7
2007
48%
15%
37%
63.4
BrasilArgentinaEUA
Grfico 12 - Evoluo das Exportaes de Soja em Pases Selecionados (elaborado pelo autor, dados: USDA)
Enquanto que as exportaes do farelo e do leo seguem a tendncia contrria ao do
gro da soja (Grficos 13 e 14).
-
52
0
20
40
60
80
100%
Milhes de Toneladas
1995
27%
28%
45%
23.3
1996
21%
32%
47%
26.0