André Luís Teixeira Fernandes Doutor em Engenharia de Água ... · O Brasil já irriga 260.000 ha...
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1 Irrigação do cafeeiro – C3 Consultoria e Pesquisa - Gotejamento
CULTIVO DO CAFEEIRO IRRIGADO POR GOTEJAMENTO
André Luís Teixeira Fernandes
Doutor em Engenharia de Água e Solo
Pró Reitor de Pesquisa, Pós Graduação e Extensão
Universidade de Uberaba – UNIUBE
Cafeicultura Irrigada
O Brasil já irriga 260.000 ha de todo o seu parque cafeeiro, o que representa quase 10% da
cafeicultura nacional. O que chama a atenção é que esta fatia irrigada responde por 25% da
produção nacional, mostrando a grande competitividade da cafeicultura irrigada nacional.
Os cafezais irrigados estão mais concentrados nos estados do Espírito Santo, Minas Gerais,
Bahia e, em menor proporção, em Goiás, Mato Grosso, Rondônia e São Paulo.
A irrigação tem sido utilizada mesmo nas regiões consideradas tradicionais para o cafeeiro,
como o sul de Minas Gerais, Zona da Mata de Minas Gerais, Mogiana Paulista, Espírito Santo,
etc. Trabalhos de pesquisa demonstram que o aumento de produtividade média com o uso
da irrigação (médias de pelos menos 3 safras) tem sido de 50%, quando comparada com as
lavouras de sequeiro, trabalhos estes desenvolvidos nas regiões de Lavras e Viçosa, Minas
Gerais, regiões consideradas aptas climaticamente ao cultivo do cafeeiro, sem a necessidade
de irrigação.
Vários experimentos têm sido conduzidos nas diferentes regiões cafeeiras, objetivando, prin-
cipalmente, avaliar o efeito da irrigação na produtividade e qualidade do cafeeiro, sendo vários
deles relacionados a estresse hídrico x produtividade/qualidade do café.
Existem diferentes sistemas de irrigação que podem ser utilizados, sendo que a escolha do
sistema de irrigação mais adequado depende de uma série de fatores, destacando-se o tipo
de solo, a topografia, o tamanho da área, os fatores climáticos, os fatores relacionados ao
manejo da cultura, o déficit hídrico, a capacidade de investimento do produtor e o custo do
sistema de irrigação. Além disso, deve-se ter em mente também que é grande o volume de
água exigido na irrigação e, por isso, a necessidade de otimizar a utilização deste recurso é
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um dos aspectos mais importantes que deverá, também, ser considerado no momento de
decidir pelo método e pelo sistema de irrigação a ser utilizado.
Em geral, a irrigação do cafeeiro é feita por dois métodos: aspersão e irrigação localizada. Os
sistemas de aspersão utilizados na irrigação desta cultura são os seguintes: aspersão con-
vencional móvel (com aspersores pequenos, médios e canhões) ou fixa (que inclui o sistema
de aspersão em malha), autopropelido e pivô central. Em função de aspectos relacionados ao
consumo de energia, exigência de mão-de-obra e outros aspectos operacionais, os sistemas
mais viáveis de irrigação por aspersão têm sido o convencional (principalmente do tipo malha)
e o pivô central. Já com relação à irrigação localizada, os sistemas mais utilizados são o go-
tejamento, por suas características técnicas que permitem uma irrigação com grande preci-
são, economia de água e energia e as fitas de polietileno (sistema também conhecido como
“tripa”), principalmente pelo menor custo de implantação.
Irrigação localizada
Compreende os métodos de irrigação em que a água é aplicada diretamente sobre a região
radicular, em pequena intensidade e alta freqüência, para manter a umidade próxima da ideal,
que é a chamada capacidade de campo. O principal sistema é o gotejamento, onde a água
é aplicada de forma dirigida e localizada na zona de maior aproveitamento das raízes das
plantas. São caracterizados pela localização, que implica num umedecimento parcial da área
total sob irrigação, reduzindo, portanto, o volume total de solo explorado pelas raízes. O res-
tante da área não se umedece, fazendo com que a planta modifique seu crescimento radicu-
lar, o qual se concentra nos volumes de solo umedecidos. Outro aspecto importante a ser
salientado é a alta freqüência de aplicação de água, procedimento praticamente imposto pelo
baixo volume de solo explorado pelas raízes, a fim de compensar o consumo normal de água
pelas plantas.
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Figura 1 – Bulbo de umedecimento de gotejador
No que se refere especificamente ao goteja-
mento, quando a água é aplicada de forma
pontual, toda a propagação de umidade
ocorre através do ponto de emissão, que di-
funde a água mediante um fluxo tridimensio-
nal, formando os chamados bulbos de ume-
decimento (Figura 1), cujas formas e dimen-
sões dependem das propriedades físicas do
solo e das características da aplicação: tex-
tura, vazão e tempo de irrigação.
Nas chamadas linhas de aplicação contínua, produzidas pela instalação muito próxima de
gotejadores, tendência nos projetos de café, ao invés de realizar-se em um ponto, a aplicação
tem a forma de uma linha contínua. Nesse caso, o regime de fluxo se realiza em duas dimen-
sões.
No sistema de irrigação por gotejamento, o sistema pode trabalhar 24 h (devem ser evitadas,
porém, as horas de pico de energia, por motivo econômico), operando a baixas pressões, o
que permite o uso de bombas de baixa potência, com conseqüente economia de energia.
Além disso, também favorecem o controle automatizado da irrigação e são aproveitados para
aplicação de fertilizantes, num processo econômico de fertirrigação e de produtos fitossanitá-
rios, como inseticidas (insetigação) e fungicidas (fungigação).
Deve ficar claro que a irrigação localizada não deve ser considerada somente como uma nova
técnica para suprir de água as culturas, mas como parte integrante de um conjunto de técnicas
agrícolas nos cultivos de determinadas plantas, sob condições controladas de umidade do
solo, adubação, salinidade, doenças e variedades selecionadas, de modo que obtenham efei-
tos significativos na produção por área e por água consumida, bem como na época da colheita
e na qualidade do produto.
Um bom projeto de engenharia começa nos estudos básicos de solo, água, topografia e clima.
As práticas agronômicas e culturais de cada região devem ser incorporadas ao projeto, sem-
pre que possível. Restrições financeiras muitas vezes indicam soluções longe daquelas con-
sideradas ideais e cabe ao projetista incorporar esses aspectos no seu projeto.
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Muitos produtores de café nos últimos anos têm procurado empresas de irrigação de goteja-
mento para a irrigação de suas lavouras. Porém, ao se definir pela instalação de um sistema
desta natureza, de alta complexidade, vários cuidados devem ser tomados para que o empre-
endimento não fique prejudicado. Para que seja possível um bom projeto de irrigação, o ca-
feicultor deve ter disponíveis informações detalhadas sobre a água a ser utilizada (deve ser
feita análise completa da água – características físicas, químicas e biológicas). Na Tabela 1,
constam os parâmetros que devem analisados e os riscos de obstrução dos gotejadores. Re-
comenda-se que esta análise seja feita em pelo menos duas estações do ano, pois ocorrem
variações na qualidade da água ao longo do tempo. Além da qualidade da água, deve-se
saber a quantidade disponível, principalmente na época seca do ano, em que o sistema será
mais utilizado. Também é imprescindível para o projeto a existência de um levantamento pla-
nialtimétrico (com a demarcação das cotas do terreno, locação das linhas de café, fonte de
água, linhas de energia e planimetria de toda a área), realizado por profissionais capacitados,
e com bons equipamentos de medida.
Tabela 1 - Risco potencial de obstruções conforme a qualidade da água de irrigação
Tipo de problema Risco
Baixo Médio Alto
Físico
Sólidos em suspensão (ppm) < 50 50 a 100 >100
Químico
pH < 7,0 7,0 a 8,0 > 8,0
Sólidos dissolvidos (ppm) < 500 500 a 2.000 > 2.000
Mn (ppm) < 0,1 0,1 a 1,5 > 1,5
Fe (ppm) < 0,1 0,1 a 1,5 > 1,5
SH2 (ppm) < 0,5 0,5 a 2,0 > 2,0
Biológico
Bactérias (nº/cm3) < 10.000 10.000 a 50.000 > 50.000
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A combinação da boa engenharia de irrigação aliada ao manejo correto do sistema traz ótimos
resultados. O entendimento perfeito de quando e quanto irrigar, é um dos fatores fundamen-
tais para que se obtenha uma alta produtividade. Para tanto, é necessário que os dados bá-
sicos da física de solos sejam incorporados à metodologia de cálculo, de modo a definir, com
certa precisão, o momento correto de irrigar o cafezal e o tempo (ou volume de água) neces-
sário para que o solo volte a condições ótimas de umidade, permitindo um crescimento ideal
para as plantas.
Diferentemente dos demais sistemas de irrigação, que irrigam a área total da lavoura, o gote-
jamento irriga apenas parte do solo. Denomina-se bulbo úmido o volume de solo umedecido
por um emissor de irrigação localizada. O movimento da água no solo determina a forma e o
tamanho desse bulbo, que tem grande importância, na medida em que é nessa região que se
desenvolve o sistema radicular das plantas.
A água no solo se move em todas as direções, em uns casos com maior ou menor facilidade
que em outros, dependendo da porosidade do solo: nos macroporos, a água circula, movi-
menta-se por gravidade e, nos microporos, a circulação é feita por capilaridade, em todas as
direções.
A forma e o tamanho do bulbo dependem dos seguintes fatores:
a) Textura do solo: em solos arenosos, com grande quantidade de macroporos, a água circula
com maior facilidade na vertical, e em solos argilosos, o bulbo se estende com mais facili-
dade para os lados. Em consequência, em solos arenosos, o bulbo tem a forma alongada
e, em solos argilosos, apresenta a forma achatada.
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b) Vazão do emissor: quando a água sai de um emissor, forma-se um pequeno “empoça-
mento”. O tamanho desse empoçamento depende da vazão do emissor: a maior vazão cor-
responde a uma superfície maior de encharcamento e, portanto, a um bulbo mais extenso
no sentido horizontal.
Vazão = 4l/h
Vazão = 20l/h
c) Tempo de irrigação: na medida em que aumenta o tempo de irrigação (supondo a vazão
constante do emissor), o tamanho do bulbo aumenta em profundidade.
Todos estes fatores devem ser considerados antes de se escolher um tipo de gotejador para
café (espaçamento e vazão do emissor). Em muitos casos de insucesso do sistema de gote-
jamento para café, o emissor não foi escolhido levando-se em consideração tais fatores, o
que pode acarretar sérios problemas de uniformidade do sistema depois de instalado. So-
mente depois de conhecido o perfil de molhamento de um dado emissor é que é possível a
escolha do seu espaçamento, para que seja possível a garantia de uma faixa molhada ade-
quada para a cultura. Algumas empresas de irrigação têm realizado “testes de bulbo” na pro-
priedade onde será instalado o projeto, antes da escolha do emissor mais adequado. Este
procedimento é altamente recomendável, porém, negligenciado na maioria dos casos, pelo
custo e tempo dispensados.
Com relação aos demais sistemas, o gotejamento tem uma série de vantagens, das quais se
destacam: a) Maior eficiência no uso da água (melhor controle da lâmina de água; diminui as
perdas por evaporação; não ocorre perdas por percolação e por escoamento superficial; não
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irriga ervas daninhas entre as fileiras da cultura; não é afetada pelo vento, tipo de solo ou
interferência do irrigante) ; b) Maior produtividade (em geral, obtém-se maior produtividade
com irrigações localizadas, pois a freqüência de irrigação é maior neste método; menores
variações na umidade do solo e em conseqüência produção mais uniforme; c) Maior eficiência
na adubação (permite o uso da fertirrigação e em razão de concentrar o sistema radicular da
cultura junto ao bulbo molhado, facilita a aplicação do adubo por cobertura; d) Maior eficiência
no controle fitossanitário (não irriga as ervas daninhas e não molha a parte aérea dos vege-
tais, o que facilita o controle destas ervas, dos insetos e fungos, permitindo maior eficiência
no uso de defensivos, além de permitir a aplicação direta de defensivos sistêmicos via água
de irrigação; e) Não interfere com as práticas culturais (por não molhar a faixa entre fileiras,
podem-se fazer capinas, colheitas e aplicação de defensivos antes, durante e depois da irri-
gação); f) Adapta-se a diferentes tipos de solo e topografia (como a aplicação de água na
irrigação é em pequena intensidade, este método se adapta melhor do que qualquer outro, a
diferentes tipos de solo e a variada topografia, mesmo no caso de terrenos com topografia
irregular e acidentada; g) Pode ser usado com água salina ou em solos salinos (como o turno
de rega é, em geral, muito pequeno, o teor de umidade dentro do bulbo molhado é sempre
bastante elevado, mantendo-o com menor concentração de sal no seu interior e maior na sua
periferia. Isso permite maior concentração de raízes na região central do bulbo; h) Economia
de mão-de-obra (por se tratar de sistemas fixos e possibilitar automatização, há grande eco-
nomia de mão-de-obra (1 homem/100ha) quando comparados com sistemas convencionais
de irrigação por aspersão e por superfície.
Porém, apresenta também algumas limitações, como: a) Entupimento (uma das característi-
cas deste método é o fluxo de água por pequenos orifícios. Por isso necessita de um sistema
de filtragem cuidadosamente dimensionado, para atender as características do projeto. Com
o desenvolvimento das indústrias de filtros, podemos dizer que os problemas mais comuns
de entupimento no passado foram superados. Esse assunto será abordado com mais detalhes
nesta unidade de estudo; b) Distribuição do sistema radicular (quando os primeiros sistemas
de irrigação localizada foram instalados no Brasil, utilizavam-se gotejadores somente ao lado
das plantas, de acordo com o espaçamento entre elas. Isso gerava um bulbo úmido constante
somente naquela região e onde se concentrava o sistema radicular, diminuindo a estabili-
dade, principalmente de árvores frutíferas, o que levava ao tombamento. Hoje não é comum
este procedimento, sendo o mais recomendado a irrigação por faixa molhada ao longo da
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fileira da cultura, o que, consequentemente, elimina a má distribuição das raízes. Na cafeicul-
tura, este problema pode ser evitado, com o manejo dos emissores, através da mudança na
instalação das linhas de gotejadores, em relação às linhas de plantas; c) Capina, fogo, van-
dalismo, roedores (são problemas que realmente atormentam a vida dos produtores. Como o
sistema normalmente fica sobre o solo, no momento das capinas pode ocorrer corte dos tu-
bogotejadores e demais peças do sistema, como, por exemplo, dos tubos que conectam os
microaspersores na linha lateral; o fogo é outro problema, porque todo o material utilizado é
de plástico e de polietileno e estes são sensíveis à alta temperatura. Roedores também se
constituem em problemas, pois danificam os tubos quando vão matar a sede nas linhas late-
rais do sistema, onde estão instalados os gotejadores. Em alguns países, como Austrália e
Cuba, utiliza-se a subirrigação, que consiste em enterrar todas as linhas laterais a uma certa
profundidade, dependendo da cultura. No Brasil já existem alguns produtores que estão ado-
tando esta tecnologia. Porém, os resultados não tem sido satisfatórios. Há necessidade de
maiores pesquisas antes de se adotar com propriedade o enterrio de tubogotejadores em
café.
Componentes do sistema
Em geral, um sistema típico de gotejamento, conforme esquematizado, a seguir, é constituído
das seguintes partes: sistema de captação e bombeamento; cabeçal de controle; linha princi-
pal; linha de derivação; linha lateral; emissores (gotejadores) – Figura 2.
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Figura 2 - Lay-out geral de um projeto de irrigação por gotejamento
O conjunto motobomba é de fundamental importância no sistema de irrigação localizada. As
bombas, normalmente usadas neste sistema de irrigação, são as do tipo centrífuga de eixo
horizontal. A água é pressurizada através do sistema de bombeamento, e antes que chegue
a ser aplicada, necessita passar por um sistema de filtragem. Equipamentos de bombeamento
podem ser elétricos ou a diesel. Na maioria das situações que se encontram na prática, sis-
temas de gotejamento não trabalham sob gravidade ou com caixas d’água elevadas.
Embora as pressões de trabalho não sejam altas, para que os sistemas operem corretamente,
é necessário que as moto-bombas sejam capazes de pressurizar o sistema com valores muito
acima daqueles possíveis através de caixas d’água ou quedas naturais.
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O cabeçal de controle é uma das principais partes de um sistema de irrigação localizada. Ele
fica normalmente situado após o conjunto motobomba, ou seja, no início da linha principal.
Em algumas situações, dependendo da topografia e do projeto, o cabeçal deverá ser adequa-
damente instalado. É constituído, em geral, das seguintes partes: medidores de vazão; filtros
(hidrociclones, areia, tela ou disco); injetores de produtos químicos e orgânicos; válvulas de
controle de pressão e medidores de fluxo; registros e manômetros.
O conhecimento de como o processo de filtragem ocorre quando a água passa pelos filtros,
aliado aos dados de análise da qualidade da água, é fundamental para que a escolha do
equipamento de filtragem seja o mais apropriado. Assim, a determinação do melhor equipa-
mento é uma combinação de vários fatores e um engenheiro de irrigação experimentado deve
ser capaz de indicar o filtro mais adequado para cada caso específico.
Com relação às tubulações, além da adutora, um sistema de irrigação por gotejamento tem a
linha principal, a linha de derivação e as linhas laterais com emissores. A linha principal con-
duz a água da motobomba até as linhas de derivação. Geralmente, utilizam-se na linha prin-
cipal tubos de PVC rígido ou aço galvanizado. Ela pode ser instalada na superfície do solo ou
ser enterrada, facilitando, neste caso, as operações com máquinas agrícolas na área. A linha
de derivação conduz a água da linha principal até às linhas laterais. Normalmente, utilizam-
se tubos de PVC. É comum a instalação de válvulas de controle de pressão e ventosas no
início dessas linhas. As linhas laterais são as linhas nas quais estão instalados os emissores
que aplicam água juntos às plantas. Devem ser dispostas em nível e são constituídas de
polietileno flexível, com diâmetro variando, geralmente, de 16 a 32 mm. São instaladas ao
longo das fileiras de café, com distâncias preestabelecidas, conforme critérios já discutidos.
Os emissores são, talvez, os componentes mais importantes da rede de distribuição de um
projeto de irrigação localizada e, por terem uma estrutura hidráulica que pode ser muito com-
plicada, são também os mais delicados do sistema.
Toda a dificuldade do seu projeto construtivo reside no seguinte problema: os emissores de-
vem proporcionar uma vazão baixa, mesmo porque os diâmetros das tubulações, tanto das
laterais como das linhas de distribuição, são reduzidos. Devido às grandes distâncias que
estes tubos devem conduzir a água, em sistemas de irrigação localizada, fazem com que um
ligeiro incremento no diâmetro encareça sobremaneira a instalação. Por outro lado, a pressão
de serviço dos emissores não deve ser muito baixa, para minimizar o efeito da redução da
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uniformidade de aplicação de água em condições de declive do terreno. Ambas estas condi-
ções, vazão baixa e pressão relativamente alta, conduzem, do ponto de vista exclusivamente
hidráulico, a emissores com orifícios muito pequenos, que, por outro lado devem ser os mai-
ores possíveis para evitar problemas de entupimentos. Esta contradição resulta na fabricação
de grande variedade de emissores.
Quando o produtor de café adota um sistema de irrigação por gotejamento, que é um dos
mais tecnológicos existentes, espera ter maior segurança no seu negócio. Se o projeto for
feito de forma adequada, com instalação cuidadosa e adotando-se um manejo racional da sua
água e energia, com certeza terá sucesso. São várias as histórias de sucesso com cafeicul-
tores irrigantes que adotam o gotejamento, em praticamente todas as regiões brasileiras. Em
experimento realizado em Uberaba, na Fazenda Escola da Uniube, em lavoura de café Catuaí
vermelho, foram avaliados diferentes sistemas de irrigação para o café, comparando-se com
a testemunha não irrigada. Após 7 safras, concluiu-se que nas condições de clima e solo de
Uberaba, a produtividade da lavoura de sequeiro é baixa quando comparada com a lavoura
irrigada; as áreas irrigadas por gotejamento tiveram produtividades 93% superiores. Nas re-
giões cafeeiras tradicionais, como o Sul de Minas Gerais, a irrigação por gotejamento tem
crescido de forma acelerada, graças aos excelentes resultados obtidos pelos produtores que
já adotam esta tecnologia há mais tempo (Figuras 3 e 4). Outros grandes projetos foram mon-
tados na região da Mogiana Paulista (Figura 5) e outros no cerrado (Figura 6), região já tradi-
cional de cafeicultura irrigada.
Figura 3 – Sistema de irrigação por goteja-
mento na região de Machado, MG.
Figura 4 – Sistema de irrigação por gotejamento na
região de Alfenas, MG.
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Figura 5 – Sistema de irrigação por goteja-
mento na região de Pedregulho, SP.
Figura 6 – Sistema de irrigação por gotejamento na
região de Presidente Olegário, MG.
Determinação da quantidade de água necessária
Ao contrário de outros sistemas de irrigação, na irrigação localizada, o turno de
rega deve ser pequeno, normalmente variando de um a três dias, o que mantém a
umidade do solo na zona radicular próxima à capacidade de campo, conforme já foi
visto no início deste capítulo. Nesta situação, a planta transpira continuamente pró-
ximo ao seu potencial máximo, o que é uma característica comum deste método de
irrigação.
O intervalo de irrigações deve ser tal que permita a manutenção do alto poten-
cial de transpiração da planta como a formação de bulbos molhados que possibilitem
o desenvolvimento adequado do sistema radicular.
Porcentagem de área molhada (PAM)
Este parâmetro expressa a porcentagem da área molhada em relação à área
total ocupada pela planta (Figura 7) e depende de características do emissor (vazão,
espaçamento e raio irrigado) e da planta (espaçamento e desenvolvimento), podendo
ser expressa pela equação:
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𝑃𝐴𝑀 =𝐴𝑀𝑒
𝐴𝑇
em que:
AMe - área molhada pelo emissor, m2.
AT – área total da planta, m2.
Figura 7 - Demonstração da porcentagem de área molhada (PAM)
O conhecimento sobre a porcentagem de área molhada e o perfil de molha-
mento do solo são necessários no dimensionamento e manejo da irrigação localizada,
uma vez que afetam a produção da cultura e o crescimento, tanto do sistema radicular
quanto da parte aérea da cultura. A porcentagem de área molhada e o perfil de mo-
lhamento do solo variam em função do tipo de solo, do tipo de emissor, do espaça-
mento entre emissores e da vazão do emissor, conforme já comentamos anterior-
mente.
Na irrigação por gotejamento, comum na irrigação do café, na determinação da
PAM, deve-se considerar a irrigação de uma faixa contínua do solo. O valor mínimo
recomendado para a PAM é definido principalmente em função do clima. Em locais
de clima úmido (com maior volume de chuvas), esse valor deve ser maior que 20%;
em regiões áridas e semiáridas (menores precipitações), deve ser superior a 33%.
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Exemplo para a cultura do café, com espaçamento de 4,0 x 0,5 m e irrigação por
gotejamento formando uma faixa molhada de 1,2 m de largura:
𝑃𝐴𝑀 =1,2 𝑚
4,0 𝑚→ 𝑃𝐴𝑀 = 0,30 𝑜𝑢 30%
Porcentagem de área sombreada (PAS)
Expressa a relação entre a área sombreada pela planta e a área total ocupada
pela mesma planta, sendo definida pela equação:
𝑃𝐴𝑆 =𝐴𝑆
𝐴𝑇
em que:
AS – área sombreada pela planta, m2.
AT – área total da planta, m2.
Exemplo para a cultura do café, com espaçamento de 4,0 x 0,5 m e irrigação por
gotejamento formando uma faixa molhada de 1,5 m de largura:
𝑃𝐴𝑆 =1,5 𝑚
4,0 𝑚→ 𝑃𝐴𝑀 = 0,375 𝑜𝑢 37,5%
Evapotranspiração
Devido à forma de molhamento da irrigação localizada, onde não se irriga toda
a área, se faz necessária uma correção da evapotranspiração, por influência da redu-
ção da evaporação direta do solo da área não molhada. De forma simplificada, e eva-
potranspiração localizada pode ser representada pela equação:
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𝐸𝑇𝐶𝐿𝑂𝐶 = 𝐸𝑇𝐶 × 𝐾𝐿
Em que:
ETCLOC = evapotranspiração média, na área sob irrigação localizada, em
mm/dia;
ETC = evapotranspiração da cultura (ETo x Kc), em mm/dia. Para este cálculo,
é possível a utilização de vários métodos de estimativa, conforme a disponibilidade
dos dados;
KL = fator de correção devido à localização, em função da fase de desenvolvi-
mento da cultura, do espaçamento, da área molhada e da área sombreada (K≤1, ge-
ralmente 0,2 ≤ KL ≤ 1,0).
Para a determinação do KL, existem diversas metodologias. Para cultivos pe-
renes, como o café, o método proposto por Keller; Bliesner tem sido recomendado
(Figura 8).
Figura 8 - Valores do fator de correção KL, para ajuste da evapotranspiração de culturas sob irri-
gação localizada.
16 Irrigação do cafeeiro – C3 Consultoria e Pesquisa - Gotejamento
Utilizando-se a Figura 8, para se obter o KL, coloca-se no eixo horizontal o valor
da PAM pelo sistema de irrigação ou a PAS pela cultura, sendo a decisão devendo
ser tomada sempre pelo maior valor.
Uma dúvida muito comum refere-se ao cálculo da intensidade ou lâmina real
aplicada pelos emissores (mm/h) em um sistema de irrigação localizada. A dúvida é
utilizar para o cálculo a área molhada, a área coberta ou a área total ocupada pela
planta. Segundo Mantovani; Bernardo; Palaretti (2009), deve-se sempre utilizar a área
total ocupada pela planta.
Lâmina e intervalo de irrigação
O valor da evapotranspiração vai determinar a retirada de água do solo, o que
faz com que a umidade deste diminua, definindo a lâmina líquida de irrigação ou a
irrigação real necessária (IRN).
Em irrigação localizada, como o gotejamento, o cálculo da lâmina de irrigação
máxima a ser aplicada é feito utilizando-se a equação a seguir:
𝐼𝑅𝑁𝐿𝑂𝐶(𝑚á𝑥) = (𝐶𝐶 − 𝑃𝑀𝑃
10) × 𝐷𝑠 × 𝑓 × 𝑍 ×
𝑃𝐴𝑀
100
em que:
CC - capacidade de campo, % em peso;
PMP - ponto de murcha permanente, % em peso;
Ds - densidade do solo, g/cm3;
f - fator de disponibilidade de água no solo, adimensional;
Z - profundiade efetiva do sistema radicular, cm;
PAM - porcentagem de área molhada, %.
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Caso a umidade do solo no dia da irrigação seja conhecida, o cálculo da irriga-
ção será:
𝐼𝑅𝑁𝐿𝑂𝐶(𝑟𝑒𝑎𝑙) = (𝐶𝐶 − 𝑈𝑎
10) × 𝐷𝑠 × 𝑍 ×
𝑃𝐴𝑀
100
em que:
IRNLOC (real) - irrigação real necessária para irrigação localizada (real), mm;
Ua - umidade atual do solo, % em peso.
Quando as irrigações são diárias, a IRNLOC é igual à ETCLOC. Para o cálculo da
lâmina bruta de irrigação ou irrigação total necessária (ITNLOC), divide-se IRNLOC pela
eficiência de aplicação de água (Ea), em decimal:
𝐼𝑇𝑁𝐿𝑂𝐶=
𝐼𝑅𝑁𝐿𝑂𝐶𝐸𝑎
Além do conceito de eficiência de aplicação de água, deve-se levar em consi-
deração também a uniformidade de aplicação, pois nem sempre se consegue alta
eficiência com alta uniformidade (Figura 9).
18 Irrigação do cafeeiro – C3 Consultoria e Pesquisa - Gotejamento
Figura 9 - Comparação da eficiência e da uniformidade de aplicação de água.
Foi publicada a segunda edição da obra: Cultivo do Cafeeiro irrigado por gotejamento, dos
autores Roberto Santinato e André Luís T. Fernandes. O livro tem 396 p., sendo 40 coloridas.
É dividido em 6 capítulos: 1) Introdução; 2) Sistema de irrigação por gotejamento; 3) Seleção
de áreas para plantio do cafeeiro irrigado por gotejamento pelo clima, solo e disponibilidade
de água; 4) Implantação da lavoura; 5) Condução de Lavoura e 6) Colheita e pós-colheita.
Os interessados poderão adquirir a obra por e-mail ([email protected]) ou na As-
sociação dos Cafeicultores de Araguari, (34) 3242-8888, falar com Cecília Araújo.
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