André Luiz da Conceição e Juliana...
Transcript of André Luiz da Conceição e Juliana...
-
Andr Luiz da Conceio e Juliana Rink
(Organizadores)
GESTO AMBIENTAL:
ESTUDOS E PRTICAS 1 Edio
Editora UniAnchieta
Jundia-SP
2014
-
Edio e superviso editorial: Andr Luiz da Conceio e Juliana Rink
Arte da Capa: Claudia Cervantes Starke
Reviso textual: Caio Cesar Costa Ribeiro Mira
FICHA CATALOGRFICA
FICHA CATALOGRFICA
Catalogao na Publicao
Bibliotecria Elizabete Estevam Alves - CRB-8/6525
Gesto ambiental: estudos e prticas. [recurso eletrnico] / Andr Luiz da
Conceio, Juliana Rink, organizadores. Jundia: Unianchieta, 2014.
91. : il.
ISBN: 978-85-61764-05-0
1. Educao ambiental. 2. Gerenciamento de resduos. 3. Gesto ambiental.
I. Conceio, Andr Luiz da. II. Rink, Juliana. III. Ttulo
CDU: 504.06
-
APRESENTAO
A presente publicao resultado do esforo do corpo docente e
discente do Curso Superior de Tecnologia em Gesto Ambiental do Centro
Universitrio Padre Anchieta UniAnchieta, na produo do conhecimento
tcnico-cientfico atravs da realizao, nos ltimos anos, de pesquisas e
prticas acadmicas desenvolvidas em sala de aula envolvendo o municpio de
Jundia e regio.
Desse modo, um dos objetivos desta coletnea contribuir para o
debate local, regional e nacional de assuntos relacionados sustentabilidade e
a gesto ambiental, tais como a questo do gerenciamento dos resduos da
construo civil do municpio de Jundia-SP, a reciclagem de leo de cozinha
no municpio de Itapeva-SP, a educao ambiental como estratgia da
preveno da dengue em Vrzea Paulista-SP e a experincia de leitura de
texto de divulgao cientfica e de interpretao de conceitos inerentes rea
de Sistemas de Gesto Ambiental.
oportuno comentar que historicamente, a necessidade de especialistas
em tcnicas de gesto ambiental culminou no surgimento de cursos superiores
voltados para a formao de profissionais na rea. Desse modo, o Curso
Superior de Tecnologia em Gesto Ambiental do Centro Universitrio Padre
Anchieta pretende atender a uma demanda de profissionais formados para
terem um olhar holstico, humanstico, diferenciado e sistmico para as
questes ambientais que existem em nossa regio. Esperamos que esta seja
uma das muitas publicaes oriundas do trabalho desenvolvido em nosso
curso.
Andr Luiz da Conceio
Juliana Rink
-
SUMRIO
Educao ambiental como estratgia de preveno dengue no entorno de
uma rea de preservao em Vrzea Paulista/SP ............................................. 7
Uma experincia de leitura de textos de divulgao cientfica ......................... 23
Anlise do perfil de participantes em projeto de reciclagem de leo de cozinha
no municpio de Itupeva, So Paulo ................................................................. 43
Conceitos de Sistemas de Gesto Ambiental para graduandos em Tecnologia
em Gesto Ambiental ....................................................................................... 60
Anlise das iniciativas de gerenciamento de resduos da construo civil em
Jundia-SP ........................................................................................................ 72
-
7
GESTO AMBIENTAL: ESTUDOS E PRTICAS
EDUCAO AMBIENTAL COMO ESTRATGIA
DE PREVENO DENGUE NO ENTORNO DE
UMA REA DE PRESERVAO EM VARZEA
PAULISTA/SP.
Juliana Rink1
Diego Novaretti2
RESUMO
Este trabalho apresenta resultados de um projeto de pesquisa cujo objetivo foi
elaborar um diagnstico socioambiental de uma rea de preservao
ambiental, localizada em Vrzea Paulista (SP), enfatizando as concepes
socioambientais dos moradores do entorno a respeito da dengue. A aplicao
de questionrio semiestruturado em uma amostra de 200 domiclios,
durante os anos de 2011 e 2012, permitiu a caracterizao sociogrfica dos
indivduos e o mapeamento das concepes sobre a dengue, dos conceitos
sobre a doena e seu vetor. A pesquisa constatou desconhecimento e
equvocos dos moradores sobre o ciclo de vida do vetor e do vrus causador da
doena. Os resultados evidenciaram forte fragmentao dos conhecimentos
por parte dos indivduos, que pode agravar a possvel proliferao do vetor na
regio, dado o acumulo e despejo indevido de resduos slidos no local. Com
base nesse diagnstico, uma ao de EA foi realizada junto ao poder pblico,
para promover mudana conceitual dos moradores.
PALAVRAS-CHAVES: dengue, concepes e percepes, sade pblica,
educao ambiental.
1 Doutora e Mestre em Educao pela Universidade Estadual de Campinas, Licenciada em
Cincias Biolgicas pela mesma instituio. Professora do Centro Universitrio Padre Anchieta e da Faculdade de Tecnologia de Jundia - Centro Paula Souza. 2 Mestre em Cincias Sociais pela Universidade Federal de So Carlos, Tecnlogo em Gesto
Ambiental pelo UniAnchieta.
-
8
GESTO AMBIENTAL: ESTUDOS E PRTICAS
INTRODUO
De acordo com a Organizao Mundial da Sade (OMS), a dengue um
dos principais problemas de sade pblica no mundo. Estima-se que entre 50 a
100 milhes de pessoas se infectem anualmente, em mais de 100 pases, de
todos os continentes, exceto a Europa. Cerca de 550 mil doentes necessitam
de hospitalizao e 20 mil morrem em conseqncia da dengue.
O panorama brasileiro tambm no otimista. As condies
socioambientais favorveis expanso do Aedes aegypti possibilitaram a
disperso do vetor no pas desde sua reintroduo em 1976 e o avano da
doena cada vez mais rpido. Programas e iniciativas pouco integradas e
sem participao ativa da comunidade mostraram-se incapazes de conter um
vetor com altssima capacidade de adaptao ao novo ambiente criado pela
urbanizao acelerada e pelos novos hbitos. De acordo com as diretrizes
nacionais para preveno e controle de epidemias de dengue, a situao
epidemiolgica est se agravando dentro dos estados e municpios e, apesar
dos esforos do Ministrio da Sade, h epidemias nos principais centros
urbanos do pas (BRASIL, 2009).
Sabe-se que o setor de sade, por si s, no consegue derrubar tal
cenrio, j que h uma rede de fatores que favorecem a proliferao do vetor
da dengue. Historicamente, a rpida urbanizao do pas gerou deficincia na
infraestrutura de saneamento bsico, tais como falta de abastecimento de
gua, coleta e destinao inadequada de resduos slidos (BRASIL, 2008).
Assim, cada vez mais necessria a presena de projetos e aes articulados
que transcendam o setor da sade, fornecendo subsdios para que o problema
seja discutido sob uma perspectiva interdisciplinar. Ainda conforme o Ministrio
da Sade (BRASIL, 2001), o combate ao Aedes aegypti sempre foi
desenvolvido seguindo as diretrizes da erradicao vertical, onde a
participao comunitria no era tida como atividade essencial. Contudo, hoje
a abordagem ampla e a participao comunitria so consideradas
fundamentais e imprescindveis para controlar o vetor.
-
9
GESTO AMBIENTAL: ESTUDOS E PRTICAS
Entra em cena, ento, a Educao Ambiental (EA). Considerada desde
1965 como medida scio-educativa para melhoria da qualidade ambiental
(BRASIL, 1965), a EA definida pelo PRONEA (Programa Nacional de
Educao Ambiental) como:
os processos por meio dos quais o indivduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competncias voltadas para a conservao do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade (BRASIL, 1999).
Nesse contexto, a EA est vinculada a todos os objetivos de proteo ao
meio ambiente e desenvolvimento sustentvel por ser um instrumento capaz
de proporcionar o aumento da conscincia pblica, envolvendo a comunidade
na busca por solues para os problemas existentes e na construo de um
senso pessoal de responsabilidade em relao temtica aqui discutida. O
prprio Ministrio da Sade tem elencado a adoo de atividades, aes e
programas em EA como uma das principais formas de promover a participao
comunitria no saneamento domiciliar, visando contribuir para a eliminao de
criadouros potenciais do vetor da dengue (BRASIL, 2009); diretriz
exemplificada pelo investimento de mais de R$ 40 milhes em campanhas
publicitrias de sensibilizao no ano de 2009.
Ao considerarmos o controle ao vetor como uma das maneiras mais
eficazes para combater a dengue, a participao popular no combate ao Aedes
aegypti essencial. Assim, de extrema importncia propor aes de EA que
faam interveno em populaes locais, a fim de provocar uma mudana de
atitude da populao que combata o panorama atual da doena.
nesse contexto que se situa a presente pesquisa. A ideia do estudo
surgiu a partir de alunos do Curso Superior de Tecnologia em Gesto
Ambiental do Centro Universitrio Padre Anchieta (Jundia/SP), durante a
disciplina intitulada Tpicos em Sade Ambiental, ministrada no segundo
semestre de 2010. Uma das atividades propostas para a turma foi a escolha de
um local com condies favorveis para proliferao de animais sinantrpicos
e/ou vetores, com intuito de realizar um diagnstico socioambiental do entorno
e realizar aes de EA junto populao.
-
10
GESTO AMBIENTAL: ESTUDOS E PRTICAS
Dessa forma, um grupo de alunos que trabalhavam nas imediaes do
Parque Ecolgico Chico Mendes (Vrzea Paulista/SP) o escolheram para
realizar o diagnstico preliminar requisitado pela disciplina. O relatrio destacou
que o panorama de acelerada urbanizao do municpio gera um dficit na
infraestrutura de servios urbanos, cuja manifestao mais visvel a carncia
de saneamento e problemas constantes com enchentes. Essa situao, aliado
ao regime de chuvas alterado ocorrido no final de 2009 e incio de 2010 e os
conceitos equivocados sobre a biologia do vetor caracterizam-se como risco
socioambiental. A despeito dos esforos da prefeitura local, dos agentes
comunitrios de sade e das campanhas preventivas e informativas, a maioria
das pessoas entrevistadas pelos alunos no consideravam a simples
presena do vetor Aedes sp. como um risco provvel sade, acreditando que
o inseto no esteja contaminado ou, ainda, que no seja realmente o inseto
transmissor da dengue (FRANCO & RINK, 2011). A esse respeito,
interessante citar os estudos realizados por Chiaravalloti Neto et al. (1998) e
Chiaravalloti et al (2002) os autores mostram que mesmo que os
conhecimentos sobre a dengue e os vetores sejam incorporados por um
conjunto de indivduos, no haver necessariamente uma mudana de hbitos
e, conseqentemente, a reduo do nmero de criadouros a ponto de evitar a
transmisso da doena.
No que se refere ao planejamento de aes de EA, as discusses
propostas por Carvalho (1989, 2006) vo ao encontro das observaes acima.
De acordo com o referido autor, para a efetivao de um trabalho em EA
devem ser consideradas trs dimenses: a dimenso axiolgica, referente aos
valores ticos e estticos presentes em uma sociedade ou indivduo, a
dimenso dos conhecimentos e a dimenso poltica, a qual, segundo este
autor, deve estar presente em todas as discusses relacionadas ao processo
educativo e, por conseguinte EA. Segundo Carvalho (2006), as dimenses
dos valores ticos e estticos e a dos conhecimentos sustentam a
possibilidade de intencionalizarmos as nossas aes, visando formao de
seres humanos (p. 26).
-
11
GESTO AMBIENTAL: ESTUDOS E PRTICAS
Assim, possvel perceber que o planejamento da ao educativa a
ser realizada aps a elaborao do diagnstico socioambiental deve perpassar
por questes que no s as referentes ao conhecimento da populao acerca
dos riscos da presena do vetor no Parque e em seu entorno.
Os resultados supracitados levaram a uma sistematizao do estudo,
que foi apresentado para a Secretaria de Obras e Meio Ambiente do municpio
sob forma de projeto de pesquisa, a fim de dar continuidade ao panorama
inicial. Aps aprovao institucional pelo Comit de Pesquisa e Extenso e
pelo Comit de tica, o projeto recebeu aval e apoio do poder pblico para
execuo.
Assim, nasceu esse projeto de iniciao cientfica, cujo objetivo geral foi
realizar um diagnstico socioambiental do entorno do Parque Ecolgico Chico
Mendes (Vrzea Paulista/SP) a respeito da dengue, com nfase no vetor
Aedes aegypti e, a partir da, executar uma ao de EA junto aos moradores
locais.
A pesquisa sobre concepes e percepes socioambientais
declarada desde 1973 pela Organizao das Naes Unidas para a Educao,
Cincia e a Cultura (UNESCO) como sendo extremamente importante, j que
consiste na investigao sobre valores, expectativas e atitudes que os sujeitos
possuem em relao ao entorno onde vivem. Portanto, a partir desses
conceitos e percepes, os indivduos interagem com o mundo e provocam
interaes positivas ou relativas sobre o ambiente (FERNANDES et al., 2009).
Nesse sentido, acredita-se que o estudo das concepes socioambientais da
comunidade de entorno do Parque Ecolgico Chico Mendes constitui-se de
ferramenta essencial para o planejamento de aes de EA que promovam a
sensibilizao e desenvolvimento de novas posturas por parte da populao,
principalmente no que tange ao controle da dengue na regio.
CARACTERIZAO DO LOCAL DE ESTUDO
Vrzea Paulista um municpio localizado na microrregio econmica
da cidade de Jundia. Emancipada desde 1965, possui populao estimada
em 110 mil habitantes, onde mais de 40% possui ingresso familiar de 0 at 4
-
12
GESTO AMBIENTAL: ESTUDOS E PRTICAS
salrios mnimos. Apesar de ter o IDH Municipal de 0,795, satisfatrio se
compararmos com o IDH mdio do Estado de So Paulo, 0,82, notrio o
vertiginoso declnio quando analisada as regies perifricas, onde se
concentram as populaes socialmente vulnerveis (classes D e E) (VRZEA
PAULISTA, 2010).
A populao predominantemente de trabalhadores pertencentes
classe de renda C (57%) e, D e E (23%). A renda per capita de 1,5 salrios
mnimo, semelhante mdia nacional, mas bem abaixo de Jundia (2,5). Por
ter sido emancipada apenas h 43 anos e, como toda cidade que experimenta
um processo acelerado de crescimento, o municpio teve seu desenvolvimento
espacial de forma desorganizada e sem o devido planejamento urbano e,
consequentemente, ambiental.
Apresentadas a caracterizao do municpio, passaremos agora a focar
nos dados obtidos sobre a situao ambiental do mesmo e, em especfico,
sobre a criao e funcionamento do Parque Ecolgico Chico Mendes.
De acordo com os dados obtidos na Secretaria de Obras e Meio
Ambiente da Prefeitura de Vrzea Paulista, o Parque conta com 133.400 m
dos quais, 63% constituem um bosque denso sobre uma encosta ngreme, com
desnvel mdio de 60 m, com predominncia de rvores nativas em estgio
mdio de recuperao13. Tambm conta com um Centro de Educao
Ambiental (CEA), utilizado em geral para receber visitas dos alunos da escola
bsica. O Parque e o CEA foram criados em 2008 atravs de uma
compensao ambiental de empresa metalrgica instalada na cidade. Na
ocasio, a empresa detectou danos ambientais e fez uma comunicao
espontnea a CETESB, Prefeitura e Promotoria Pblica. Como consequncia,
foi criado um Termo de Ajuste de Conduta para que a empresa fizesse um
trabalho de recuperao do solo e das guas e um projeto de compensao
ambiental no valor de R$ 500 mil, que originou a criao do Parque.
Com anfiteatro, mini viveiro de mudas, orquidrio, rea de
compostagem, playground, biblioteca, sala de pesquisas, o Parque ladeado
com mais de 50 mil metros de mata nativa em uma rea de 133 mil metros 3 A floresta em estgio mdio de sucesso apresenta nico estrato arbreo, com altura mxima
de 12 metros e dimetro de caule de at 30 cm.
-
13
GESTO AMBIENTAL: ESTUDOS E PRTICAS
quadrados. O CEA referencia municipal nas atividades de sensibilizao e
conscientizao popular sobre vrias questes ambientais e tambm abriga
aes do programa municipal de mobilizao social para o controle do Aedes
aegypti.
Conforme a prefeitura, a implantao do projeto do Parque Ecolgico
teve como objetivo primrio a preservao da fauna e flora numa perspectiva
socioambiental, integrando a qualidade de vida da populao e tambm
oferecendo a ela um espao fsico de lazer e conscientizao ambiental
(VRZEA PAULISTA, 2009).
As reas no entorno do parque j so intensamente utilizadas pelos
moradores e encontram-se em estgio de degradao antrpica. A populao
que vive nas imediaes foi se apropriando dos trechos mais planos, criando
espaos para prticas esportivas e caminhadas, praas e mirantes para
descanso e contemplao da paisagem, parquinhos para as crianas
brincarem, plantando rvores frutferas e florferas, verduras, legumes, plantas
medicinais e flores, improvisando equipamentos e mobilirio para a prtica de
atividades variadas.
Figura 1: Fotografia area do Parque Ecolgico Chico Mendes.
Fonte: Arquivo da Secretaria Municipal de Obras e Meio Ambiente, Prefeitura de
Vrzea Paulista, 2007.
-
14
GESTO AMBIENTAL: ESTUDOS E PRTICAS
Sendo um parque urbano, o projeto visava oferecer una grande
diversidade de usos tais como: com alamedas, equipamentos, mobilirios e
jardins adequados a crianas, jovens, adultos, idosos, portadores de
deficincia, entre outros. Os limites do local no so murados, contanto
apenas com cerca-viva. De acordo com essa concepo, murar o Parque
prejudicaria suas relaes com o entorno e diminuiria os fluxos de circulao e
dos fluxos visuais, o que no ocorre ao utilizar rvores, arbustos e forrao que
permitem a visibilidade do bosque e das vrzeas.
Todavia, mesmo aps a implementao do Parque, a populao
continua a ocupar, desmatar e destinar resduos de forma inadequada no local.
Sabe-se que o acmulo de resduos slidos e de construo civil tem sido
apontado como elementos potencializadores dos criadouros para o Aedes
aegypti (TORRES, 2005), cenrio que evidencia a situao de risco
socioambiental existente no entorno do Parque.
PROCEDIMENTOS METODOLGICOS
A presente pesquisa possui cunho quali-quantitativo e baseia-se
principalmente na anlise de questionrios abertos, aplicados aos moradores
do entorno do Parque a fim de identificar a percepo da populao do entorno
em relao doena e aos possveis focos de vetores e, conseqentemente, a
inter-relao entre a disposio irregular de resduos e a proliferao de
criadores do mosquito transmissor no local.
Inicialmente optou-se pela realizao de uma amostragem piloto, tendo
em vista que a rea de abrangncia que envolve todo o entorno do Parque
muito extensa. Para a amostragem inicial, foi selecionada a rea de entorno do
Parque considerada mais degradada ambientalmente e que recebe maior
impacto antrpico. Ainda, de acordo com a Prefeitura Municipal, a rea definida
abrange os moradores mais antigos do bairro que fazem uso indevido da rea,
como criao de animais, plantao de exticas e disposio irregular de
resduos, fator relevante para a determinao da referida rea como interesse
principal da aplicao do questionrio piloto (FRANCO & RINK, 2011).
-
15
GESTO AMBIENTAL: ESTUDOS E PRTICAS
Aps a realizao do mapeamento e da caracterizao do local a ser
investigado, de acordo com identificao de condies favorveis para
proliferao do vetor e de posse das informaes levantadas acima, foram
selecionadas quatro ruas Rua Catanduva, Rua Guaruj, Rua Orindiuva e Rua
Cafezal destacadas no mapa abaixo.
Figura 2: Fotografia area da regio do Parque Ecolgico Chico Mendes e suas
relaes com o entorno, destacando as ruas em que o questionrio piloto foi aplicado.
Fonte: Arquivo da Secretaria Municipal de Obras e Meio Ambiente, Prefeitura de
Vrzea Paulista, 2008, modificado pelos autores.
Tanto na amostragem piloto quanto nas posteriores etapas da pesquisa,
o questionrio apresentou dois grandes conjuntos de questes. O primeiro
serviu para caracterizar os indivduos entrevistados - um dos passos iniciais
para o estudo da percepo ambiental, j que os resultados obtidos esto
diretamente associados a essas caractersticas que influenciam direta e
indiretamente a percepo que as pessoas tm do ambiente. Para tanto, foram
elaboradas algumas questes socioculturais, tais como idade, gnero, nvel de
instruo, entre outros, que evidenciaram o contexto sociocultural dos sujeitos
entrevistados.
-
16
GESTO AMBIENTAL: ESTUDOS E PRTICAS
J o segundo conjunto de questes referiu-se aos conceitos e
percepes dos entrevistados sobre meio ambiente, sade e principalmente o
vetor da doena, totalizando doze perguntas.
Desta forma a amostragem piloto foi realizada em 50 domiclios nas ruas
citadas, iniciando-se em cada rua a partir da primeira casa mais prxima ao
Parque, alternando-se linearmente uma casa sim, e outra no, de acordo com
a recepo dos moradores. Quando havia recusa de entrevista ou ausncia do
morador, considerava-se o imvel seguinte (situao ocorrida em apenas dois
casos).
Aps a aplicao dos questionrios modelos, as respostas foram
tabuladas por meio do uso de planilha eletrnica e analisadas de acordo com o
intento da primeira etapa. Os resultados e as anlises apresentadas serviram
de diretrizes para a continuidade do projeto.
Na etapa procedente, a partir da anlise j feita e conseqente
readequao do questionrio, o mesmo foi aplicado em todo o entorno do
Parque, totalizando 200 moradores ao longo das ruas escolhidas, conforme
mostra a Figura 2.
APRESENTAO E DISCUSSO DOS RESULTADOS
Conforme dito anteriormente, as entrevistas foram realizadas com 200
moradores (123 do sexo masculino e 77 do sexo feminino), com faixa etria
compreendida entre 15 e 93 anos, sendo que a faixa etria predominante foi
dos 20-40 anos (35%). Quanto ao nvel de escolaridade dos entrevistados, a
pesquisa revelou que 50% possuam o Ensino fundamental incompleto, 32%
concluram o Ensino Fundamental, 12% concluram o Ensino Mdio e 6 %
eram analfabetos.
Tambm foi considerado importante o tempo em que os moradores
residiam no domiclio onde foi realizada a entrevista. Cerca de 5% respondeu
que moravam h menos de 5 anos, 15% moravam entre 5 e 10 anos, 20%
moravam entre 11 e 20 anos e 60% moravam h mais de 20 anos. Todos os
entrevistados afirmaram nunca ter contrado dengue.
-
17
GESTO AMBIENTAL: ESTUDOS E PRTICAS
Em relao pergunta O que dengue?, 80% dos indivduos
responderam que a mesma um mosquito. Apenas 14% dos indivduos
disseram se tratar de uma doena. Respostas com carter religioso, como
um castigo divino, compuseram 4% da amostra. Com base nesses resultados,
possvel afirmar que a percepo predominante dos moradores associa a
doena ao mosquito e sua picada, considerando a doena como sendo o
prprio vetor. Consideramos que tal concepo amplamente reforada pelo
discurso dos meios de comunicao e das prprias campanhas de preveno
da doena, que na grande maioria das vezes trazem como smbolo o inseto
sendo exterminado ou ainda personificam os desenhos do vetor. A existncia
do vrus quase que totalmente ignorada, tendo sido citada por apenas um
morador entrevistado.
Mediante a questo Como se contrai dengue?, a grande maioria
relacionou o contgio ao fator gua parada/acumulada, no citando a
necessidade de picada do vetor (72%), enquanto que 20% citaram que a
doena adquirida pela picada do mosquito transmissor. Surpreendentemente,
8% dos moradores afirmaram que a doena pode ser transmitida diretamente
de pessoa para pessoa (contgio direto).
Em relao pergunta Voc sabe explicar por que eliminar a gua
parada to importante para a preveno doena?, as respostas obtidas
revelam uma srie de concepes errneas relativas biologia e ciclo de vida
do Aedes aegypti. Mais de 70% dos entrevistados responderam que a gua
parada junta ou cria o mosquito da dengue e, desses moradores, quase
todos disseram que a gua em questo tem que ser suja para que ocorra tal
criao do transmissor. Isso nos mostra que a populao entrevistada no
discrimina adequadamente o tipo de gua/condies apropriada para
estabelecer criadouros do vetor. Outro aspecto relevante foi o
desconhecimento da fase de ovo no ciclo reprodutivo do agente. Esse dado
nos permite inferir que a percepo da populao em relao aos potenciais
recipientes e ao transporte passivo dos ovos praticamente nula. Alm disso,
foi possvel observar certa inquietao por parte dos moradores nessa questo,
principalmente nas mulheres. Respostas como na minha casa no tem
-
18
GESTO AMBIENTAL: ESTUDOS E PRTICAS
dengue, no, limpinha ; eu lavo o quintal sempre e no deixo gua
acumulada nunca ; aqui tudo limpo, mas no Parque uma sujeira s,
revelam que a presena de mosquitos (e, portanto, do vetor da dengue)
vinculada a ambientes descuidados, sujos ou insalubres. Tal percepo pode
acarretar no aumento do risco socioambiental no entorno, favorecendo
certamente a proliferao do vetor. O uso indiscriminado de inseticidas tambm
apareceu em vrias respostas dadas nessa questo.
Por fim, a questo Voc acha que existe alguma relao entre lixo
(resduos slidos) e a dengue? Se sim, qual? teve resultados preocupantes. A
grande maioria dos entrevistados (80%) respondeu que sim, estabelecendo
uma relao positiva entre os resduos slidos e a doena. Contudo, somente
20% dos entrevistados afirmaram que os resduos seriam recipientes que
acumulariam gua e poderiam se tornar criadouros do vetor. Os demais no
souberam exemplificar a relao. Quatorze por cento dos moradores
declararam que no havia relao alguma, j que o mosquito se cria em gua
e no em lixo; enquanto que 6% dos indivduos declararam no saber
responder.
Com base nos dados apresentados acima, foram tecidas reunies junto
a representantes do poder pblico local, com a presena dos administradores
do Parque em questo. O diagnstico foi discutido e as autoridades
concordaram com a necessidade de realizar, ao menos para parte da
populao investigada, alguma ao de EA que pudesse contribuir para a
mudana conceitual dos moradores. Por conta da situao inadequada de
despejos de resduos slidos nas reas de entorno do Parque, optamos por
executar uma ao de EA voltada para promover a conscientizao dos
indivduos e que ressaltasse a grande contribuio do resduo domstico e de
construo civil para potencializar os criadouros do vetor da dengue.
Desse modo, o grupo de trabalho constituiu uma campanha que contou
com a participao dos pesquisadores, dois agentes ambientais da cidade, dois
funcionrios do Parque, um representante da Guarda Municipal e um
representante da Secretaria de Obras e Meio Ambiente do municpio. A
campanha teve durao de dois meses (janeiro e fevereiro de 2012) e os
-
19
GESTO AMBIENTAL: ESTUDOS E PRTICAS
encontros junto populao foram desenvolvidos ao longo de trs finais de
semana, aos sbados e domingos pela manh. Basicamente, os trabalhos
envolveram trs pontos principais:
a) Dilogo informativo com os moradores: um pesquisador
acompanhado de mais um membro da equipe voltou em cada uma das
residncias visitadas na etapa inicial da pesquisa, a fim de esclarecer aspectos
sobre o ciclo de vida do Aedes aegypti. Esse trabalho contou com a
demonstrao de exemplares preservados do inseto e tambm com fotografias
das diversas fases de vida do mesmo.
b) Entrega de material de divulgao: o poder pblico possua vrios
materiais informativos produzidos com informaes sobre a eliminao dos
criadouros e medidas profilticas contra a doena. Os folhetos eram oferecidos
para os moradores e apenas sete entrevistados, do total de duzentos,
recusaram os mesmos. interessante relatar que a forma de abordagem do
pesquisador foi diferenciada antes de oferecer o folheto para as pessoas, era
mostrado um pequeno lbum com fotografias da prpria rua onde a casa do
morador se localizava, todas com situaes de despejo irregular de resduos
slidos. O pesquisador perguntava para o indivduo se ele reconhecia o local
fotografado. Para a surpresa da equipe, mais de 60% dos sujeitos relatou no
identificar o local. A partir da, iniciava-se o reconhecimento de situaes
propcias para o desenvolvimento dos vetores junto ao morador e somente
ento eram discutidas as formas de combate aos criadouros;
c) Convite para palestra: os moradores eram convidados para uma
conversa sobre outros agravos sade ocasionados pela contaminao
ambiental provocada pela deposio indevida de resduos slidos na rea do
entorno do Parque. A palestra foi realizada em espao dentro do Parque
Ecolgico, em dois encontros diferentes, que tiveram durao mdia de meia
hora. Aps a fala inicial, os pesquisadores, acompanhados de representantes
do poder pblico local, fizeram uma visita ao entorno do parque com os
moradores, de aproximadamente 400m, identificando as situaes de risco por
conta da contaminao por lixo nos locais. Na volta, os participantes
-
20
GESTO AMBIENTAL: ESTUDOS E PRTICAS
constituram uma roda de conversa e propuseram aes que os prprios
moradores pudessem executar, a fim de diminuir a problemtica apresentada.
Infelizmente, apenas 35% dos entrevistados na primeira etapa
participaram da atividade proposta. Contudo, consideramos que foi um passo
inicial para a mudana conceitual dos moradores do local investigado, j que os
indivduos presentes foram multiplicadores das informaes obtidas pela ao.
CONSIDERAOES FINAIS
O diagnstico efetuado nos permitiu traar alguns indicativos sobre as
concepes e percepes sobre a dengue e seu vetor, por parte dos
moradores do entorno do Parque Ecolgico Chico Mendes (Vrzea
Paulista/SP) e, a partir da identificao dos problemas, propor uma ao de EA
que pudesse contribuir para a formao de novos conceitos e do senso crtico
nos moradores.
Tal como em Lefrve (2007), possvel afirmar que os conhecimentos
sobre os vrios aspectos da doena revelados pelo conjunto de entrevistados
so incompletos, muitas vezes equivocados e fortemente influenciado pelas
informaes veiculadas pelos veculos miditicos. importante considerar os
aspectos sociais dos moradores: a baixa escolaridade dificulta o acesso e a
compreenso das informaes veiculadas campanhas e iniciativas no combate
doena. H grande desconhecimento do ciclo reprodutivo do vetor, elemento
que eleva o risco de proliferao do vetor na localidade, j que influencia
diretamente nas aes que a populao ali estabelece.
Tambm foi constatada a intensa fragmentao dos conhecimentos por
parte dos entrevistados: os elementos gua, vegetao do Parque, mosquitos,
vrus, lixo, resduo, aparecem nas respostas, mas sem relao intrnseca entre
esses elementos. Isso pode significar mera reproduo de discursos
apreendidos por meio de diversas fontes, sem mudana conceitual efetiva por
parte do cidado.
Apesar de contar com poucos participantes, a ao de EA foi
fundamental para que os moradores percebessem a degradao do entorno do
-
21
GESTO AMBIENTAL: ESTUDOS E PRTICAS
Parque e de suas prprias residncias por conta do despejo inadequado de
resduos.
Os resultados indicam a contnua necessidade de aes planejadas de
EA que levem em conta tais concepes e conhecimentos prvios dos
indivduos. Ao levar o mapeamento das percepes dos moradores para os
gestores pblicos, acreditamos que seja possvel criar e executar aes de EA
que tenha possibilidades mais reais de provocar mudana na realidade local. A
distribuio de materiais informativos importante, mas a populao deve ser
efetivamente envolvida na anlise do contexto onde est inserida, a fim de
promover mudana de atitudes nesse grupo social e no ambiente que o
circunda.
AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem ao apoio da Secretaria Municipal de Obras de
Vrzea Paulista/SP e Polcia Ambiental do Municpio.
REFERNCIAS
BRASIL. Ministrio da Sade. Fundao Nacional de Sade. Controle de
vetores: procedimentos de segurana: manual do supervisor de campo.
Braslia, 2001. 124 p.
______. Ministrio da Sade. Fundao Nacional de Sade. Diretrizes tcnicas
para o controle de vetores no Programa de Febre Amarela e Dengue. Braslia,
1994.
______. Ministrio da Sade. Fundao Nacional de Sade. Dengue,
instrues para pessoal de combate ao vetor : manual de normas tcnicas. - 3.
ed. Braslia, 2001. 84 p. : il. 30 cm.
-
22
GESTO AMBIENTAL: ESTUDOS E PRTICAS
______. Ministrio da Sade. Fundao Nacional de Sade. Programa
Nacional de Controle da Dengue PNCD/Fundao Nacional de Sade.
Braslia, 2002.
______. Ministrio da Sade. Secretaria de Ateno a Sade. Departamento
de Ateno Bsica. Vigilncia em sade: Dengue, Esquistossomose,
Hansenase, Malaria, Tracoma e Tuberculose. 2. ed. Braslia, 2008.
______. Ministrio da Sade. Secretaria de Vigilncia em Sade. Bases
Tcnicas e Operacionais para Controle Vetorial da Dengue. Braslia, 2006.
______. Ministrio da Sade. Secretaria de Vigilncia em Sade. Guia de
Vigilncia Epidemiolgica. 6. ed. Braslia, 2006.
CHIARAVALLOTI NETO, F.; MORAES, M.S.; FERNANDES, M.A. Avaliao
dos resultados de atividades de incentivo participao da comunidade no
controle da dengue em um bairro perifrico no Municpio de So Jos do Rio
Preto, So Paulo, e da relao entre conhecimento e prticas desta populao.
Cadernos de Sade Pblica. 1998; 14 Suppl 2:S101-9.
CHIARAVALLOTI, V.B.;, MORAIS,M.S.; CHIARAVALLOTI NETO, F.;
CONVERSANI, D.T., FIORIN,A.M.; BARBOSA,A.A.C. et al. Avaliao sobre a
adeso s prticas preventivas do dengue: o caso de Catanduva, So Paulo,
Brasil. Cadernos de Sade Pblica. 2002; 18:1321-9
FERNANDES, R. S., SOUZA, V. J., PELISSARI, V. B., FFERNANDES, S.T.
Uso da percepo ambiental como instrumento de gesto em aplicaes
ligadas s reas educacional, social e ambiental. Rede Brasileira de Centros de
Educao Ambiental. Rede CEAS. Noticias, 2009. Disponvel em:
Acessado em: 12 jan. 2009.
FRANCO, T.O.; RINK,J. Percepes sobre dengue e seu vetor por moradores
do entorno de uma rea de proteo ambiental. Caderno de Resumos I
Congresso Nacional de Pesquisa e Iniciao Cientfica UniAnchieta.
-
23
GESTO AMBIENTAL: ESTUDOS E PRTICAS
(CONAPIC) Ano 1, Nmero 1 (2011). Disponvel em:
http://www.anchieta.br/unianchieta/revistas/conapic/publicacoes/Conapic_Ano1
_num1.pdf. Acesso em: 20 julho 2011.
LEFEVRE, A. M. C., et al.Representaes sobre a dengue, seu vetor e aes
de controle por moradores do Municpio de So Sebastio, litoral norte do
Estado de So Paulo, Brasil. Cadernos de Sade Pblica. Vol.23, n7. Rio de
Janeiro, Julho, 2007.
ORGANIZACAO MUNDIAL DE SAUDE. Dengue Hemorrgico: diagnostico,
tratamento, preveno e controle. 2. ed. So Paulo, 2001.
ORGANIZACAO PAN-AMERICANA DE SAUDE (OPAS). Dengue y Dengue
Hemorrgico en las Amricas: Guias para su Prevencion y Control. Washington
(DC), 1995. 110 p.
TORRES, E. M. Dengue. Rio de Janeiro: Fiocruz, 2005.
VRZEA PAULISTA. Relatrio Bienal da Secretaria Municipal de Obras e Meio
ambiente. Prefeitura de Vrzea Paulista, 2008.
VRZEA PAULISTA. Relatrio Bienal da Secretaria Municipal de Obras e Meio
ambiente. Prefeitura de Vrzea Paulista, 2010.
VRZEA PAULISTA. Vrzea ganha Centro de Educao Ambiental.
Disponvel em: http://www.varzeapaulista.sp.gov.br/noticias/2009/jun/25_4.html.
Acesso em: 10 mar. 2010.
http://www.anchieta.br/unianchieta/revistas/conapic/publicacoes/Conapic_Ano1_num1.pdfhttp://www.anchieta.br/unianchieta/revistas/conapic/publicacoes/Conapic_Ano1_num1.pdfhttp://www.varzeapaulista.sp.gov.br/noticias/2009/jun/25_4.html
-
24
GESTO AMBIENTAL: ESTUDOS E PRTICAS
UMA EXPERINCIA DE LEITURA DE TEXTOS DE
DIVULGAO CIENTFICA
Isabel Cristina Alvares de Souza4
RESUMO
Este artigo apresenta algumas atividades de leitura e entendimento de textos
de divulgao cientfica, propostas a estudantes recm-ingressos em cursos
superiores tecnolgicos. Com o objetivo de submeter essas experincias
avaliao de um pblico que extrapola aquele diretamente participante delas,
procede-se exposio dos textos e questes, com uma breve discusso
sobre os objetivos colocados para as atividades e sobre a pertinncia desse
trabalho em termos da concretizao de propostas pedaggicas. Fundamenta-
se essa discusso em postulados tericos sobre a leitura de modo geral e a
leitura no ambiente escolar, especificamente, e a problematizao em torno da
classificao genrica de textos, neste caso os textos escritos. Conclui-se pela
necessidade de a prtica pedaggica estar permanentemente em avaliao, a
fim de se promoverem o estabelecimento e o aprimoramento dos instrumentos
de concretizao dos objetivos de formao do sujeito aprendiz.
Palavras-chave: Leitura. Entendimento de textos. Ensino formal. Texto de
divulgao cientfica.
INTRODUO
H nove anos, e, conforme as palavras do autor, pelo prazer em
divulgar descobertas5, o bilogo brasileiro Fernando de Castro Reinach
4 Licenciada em Letras Portugus/ingls; ps-graduada em Lngua Inglesa (lato sensu);
docente em cursos de licenciatura, bacharelado e tecnologia do Centro Universitrio Padre Anchieta, UNIANCHIETA. Contato: [email protected]
-
25
GESTO AMBIENTAL: ESTUDOS E PRTICAS
escreve semanalmente uma coluna para o peridico O Estado de S. Paulo,
sempre abordando temas cientficos, relacionados a ambiente, comportamento,
tecnologia, entre outros. O nome do autor aparece na relao de colunistas
regulares do jornal, e seus textos esto disponveis na rede, agrupados por
ano. Em 2010, os textos publicados na coluna entre 2004 e 2009 foram
reunidos em um livro (A longa marcha dos grilos canibais e outras crnicas
sobre a vida no planeta Terra), lanado pela editora Companhia das Letras, de
So Paulo. No texto de introduo dessa obra (p.14), o autor esclarece que os
textos reproduzem contedos absorvidos de publicaes cientficas, refletindo
seus interesses pessoais, e que o trabalho original referido ao final de cada
texto.
A partir do contato com essa obra, e posteriormente com a coluna do
autor na verso eletrnica do jornal, tomamos alguns dos textos como objeto
de atividades de leitura e entendimento, nas disciplinas de Leitura e produo
de textos, principalmente, e de Metodologia da investigao cientfica,
desenvolvidas nos ltimos trs anos com alunos ingressantes em cursos
superiores tecnolgicos (Gesto Ambiental e Processos Qumicos).
Este artigo contm a apresentao e o comentrio de algumas dessas
atividades, propostas com os objetivos principais de promover ou reforar o
contato dos estudantes com textos de cunho cientfico e de aprimorar
habilidades de leitura. Dada a breve extenso deste relato, foram selecionados
trs dos textos utilizados, dos quais apenas um, mais recente, no se encontra
no referido livro. A fim de facilitar o estabelecimento da relao entre textos e
questes, cada um dos textos est aqui reproduzido na ntegra, seguido das
questes propostas; ao lado do ttulo do texto, entre parnteses, se encontra a
data da publicao no jornal, e, exceto para o mais recente, se encontram
tambm o ano de publicao do livro e as pginas abrangidas pelo texto; no
houve edio dos contedos.
Antes de passarmos apresentao dos textos e das atividades,
julgamos ser pertinente a discusso de algumas questes de carter terico
que permeiam a prtica pedaggica. 5 Fernando Reinach respondeu por e-mail a uma breve entrevista sobre seu trabalho, cujo
contedo ser parcialmente reproduzido conforme a pertinncia ao tpico em desenvolvimento.
-
26
GESTO AMBIENTAL: ESTUDOS E PRTICAS
A PRTICA DA LEITURA NA ESCOLA E O PROBLEMA DO GNERO
Na obra Tipos de textos, modos de leitura (2001), Paulino et al.
apresentam sugestes de leitura, considerando a diversidade de gneros e
portadores e que cada texto possui chaves de leitura prprias,
disponibilizadas ao leitor. Ao tratarem de uma abordagem pedaggica da
leitura (p. 27-30), chamam a ateno para o fato de que o ambiente escolar,
espao privilegiado para a prtica da leitura, pode se converter num ambiente
de excluso, cerceando a liberdade e a criatividade do sujeito leitor, ao
promover a leitura de modo controlado (objetos, objetivos, estratgias,
sentidos). Considerando que escola e leitura so instituies em permanente e
inevitvel interao, as autoras defendem que essa relao pode ser fecunda e
estimulante, viabilizando a formao de um leitor crtico, capaz de interagir com
o que l, ativando seu repertrio; capaz de perceber e at mesmo de se
defender do controle da leitura imposto pela escola e pela sociedade. Na
prtica, a escola aparece como o lugar onde devem circular textos diversos e
no qual os estudantes/leitores devem ser preparados para receb-los.
As prticas de leitura aqui descritas foram pensadas e elaboradas nessa
perspectiva, embora entendamos que a linha que separa uma prtica de leitura
cerceadora do sujeito leitor de uma prtica, por assim dizer, libertadora desse
sujeito, nem sempre est muito definida, e resvalar de um a outro territrio
pode ser menos difcil do que parece, a despeito da adoo convicta de um
postulado terico. Um pensamento que tem norteado a prtica aqui
demonstrada est na direo do referido aparelhamento dos estudantes para a
leitura, no intuito de promover o contato com textos de modo que as estratgias
de leitura sejam assimiladas no sentido estrito do termo, ou seja, possam ser
acionadas no contato com outros textos, nos mais diversos contextos. Tambm
um cuidado permanente tem sido o de no escolarizar os textos, entendendo-
se que, como um produto sociocultural, o texto no se molda ou reformula ao
sabor de propostas pedaggicas, mas que estas devem ser construdas com
fundamento na realidade, tanto melhores quanto mais eficientes na apreenso
dessa realidade, o que obviamente inclui os textos que circulam socialmente.
-
27
GESTO AMBIENTAL: ESTUDOS E PRTICAS
Uma outra questo que se coloca de modo relevante no trabalho com
prtica de leitura e entendimento de textos diz respeito classificao genrica
dos produtos textuais. Ao definir tipo e gnero textual, Marcuschi (2002, p. 22;
grifos do autor) informa partir do pressuposto bsico de que impossvel se
comunicar verbalmente a no ser por algum gnero, assim como impossvel
se comunicar verbalmente a no ser por algum texto. Da se conclui sem
dificuldade que no h texto verbal, oral ou escrito, que funcione
comunicativamente, ao qual no se possa atribuir uma classificao genrica.
Ocorre, porm, que essa atribuio nem sempre bvia. Se, por um lado, h
ocorrncias textuais de classificao inequvoca, h outras cuja complexidade,
envolvendo aspectos formais, funcionalidade discursiva e suporte, oferece um
problema classificao. Sobre essa questo, o referido autor defende que os
aspectos sociocomunicativos e funcionais devem prevalecer sobre os aspectos
formais na atribuio de gnero aos textos, sem que isto signifique o desprezo
da forma, reconhecidamente determinante do gnero em muitos casos (2002,
p. 21). Sobre o suporte, afirma haver casos em que este ser o determinante
da classificao genrica de um texto, concluindo que
num primeiro momento podemos dizer que as expresses mesmo
texto e mesmo gnero no so automaticamente equivalentes,
desde que no estejam no mesmo suporte. Estes aspectos sugerem
cautela quanto a considerar o predomnio de formas ou funes para
a determinao e identificao de um gnero. (2002, p. 21; grifos do
autor).
A classificao genrica dos textos, a despeito das dificuldades que
podem cerc-la, assume particular importncia quando considerada a relao
entre gnero e produo de sentido, esta entendida como atividade interativa
do receptor de textos, que mobiliza seu repertrio (ou biblioteca interna)
nessa interao. Paulino et al. (2001, p. 85) assumem os gneros de textos
como determinantes dos modos de leitura, uma vez que a interao que o leitor
estabelece com o texto, chamada pelas autoras de pacto de leitura (2001, p.
31), determinada pelo objeto da leitura (o que inclui o seu gnero e suporte),
-
28
GESTO AMBIENTAL: ESTUDOS E PRTICAS
pelo contexto de leitura, e determinante do modo de ler (investimento
pessoal) e, portanto, do sentido construdo.
Essas consideraes importam especialmente, pois os textos tomados
para as atividades de leitura e produo de sentido aqui expostas e
comentadas oferecem alguma dificuldade de classificao. Veiculados
semanalmente no suporte jornal, referidos como coluna, e dados o seu
contedo, sua forma de exposio e sua funcionalidade discursiva, esses
textos parecem primeira vista se enquadrar ao gnero artigo de divulgao
cientfica. Assim eles so referidos pelo autor, Fernando Reinach, que afirma
no texto de introduo da obra publicada em livro que o formato de cada texto
tenta mimetizar o formato dos trabalhos cientficos, por meio da
contextualizao e do relato das descobertas (2010, p. 14). Ao ser perguntado
sobre o formato textual que pratica na coluna, o autor reitera essa percepo,
afirmando que ele semelhante ao de um trabalho cientfico.6 Ao serem
reunidos em livro e referidos como crnicas, entretanto, os textos esto
catalogados como literatura brasileira (CDD 869.93), e ento estamos diante de
um problema colocado para a sua recepo, pois o pacto de leitura de literatura
sensivelmente diverso do pacto de leitura de textos no literrios.
Paulino et al. (2001, p. 113) comentam que modernamente a crnica
um gnero no qual se relatam fatos circunstanciais cujos limites podem ser
superados, ampliando-se suas significaes; os acontecimentos desencadeiam
reflexes, comentrios, divagaes, que so incorporados ao relato. o que
afirma fazer Fernando Reinach (2010, p. 14), informando que os textos so
fechados por um pargrafo no qual ele d vazo imaginao e especula
sobre os significados das descobertas cientficas. Na sequncia, esclarece
(2010, p.14): Meu compromisso de fidelidade com o trabalho original, citado
aps cada texto, se restringe aos experimentos e resultados. Os delrios da
imaginao so de minha responsabilidade. Acrescidos ao relato de fatos
circunstanciais, neste caso tomados da realidade e de carter evidentemente
cientfico, esses reconhecidos delrios da imaginao provavelmente
constituem o trao principalmente responsvel pela classificao genrica dos
6 Ver Nota 1.
-
29
GESTO AMBIENTAL: ESTUDOS E PRTICAS
textos, pelo menos quando reunidos em livro (e poderia ser evocado o debate
sobre a questo do suporte como determinante do gnero textual).
Embora fuja aos limites deste trabalho uma discusso mais aprofundada
sobre a classificao genrica dos textos em questo, assumimos os aspectos
de contedo e funcionalidade discursiva, com apoio na proposta do autor de
recontar descobertas cientficas, para propor o tratamento desses objetos
textuais como artigos de divulgao cientfica, portanto de carter no literrio.
Como um dado preliminar proposto para o contato com os textos, essa
categorizao decisivamente determinante do pacto de leitura que se
estabelece com eles, conforme anteriormente mencionado, aspecto que,
segundo Paulino et al. (2001, p. 37), concorre com a considerao dos veculos
em que circulam os textos, contextos de leitura e mediadores do processo,
entre outros, na formulao desse pacto7.
Nas prximas sees, encontra-se a reproduo dos textos e atividades
propostas. O contedo que segue foi organizado conforme os principais
aspectos abordados ou conforme o modelo de atividade. A exposio
acompanhada de alguns comentrios, quando necessrio.
A EXPLORAO DA TEMTICA E DOS RECURSOS DE COMPOSIO
Considerando-se que o tema o objeto especfico de que trata um texto,
sua identificao fator imprescindvel no processo interativo de significao,
possibilitando a diferenciao de elementos centrais e marginais que
constituem seu contedo. Importante na leitura, essa habilidade posta em
7 Petzhold et al. (2008, p. 4) alinham a noo de fim discursivo dos textos noo de visada
proposta por Charaudeau (2006), segundo a qual os atos de linguagem se configuram conforme a visada seja prescritiva (fazer fazer), incitativa (fazer crer), informativa (fazer saber) e do pthos (fazer sentir). As autoras mencionam os resultados da anlise de um corpus de 120 artigos de divulgao cientfica, dos quais 116 apresentam a configurao considerada prototpica do gnero, a do fazer saber. Em uma anlise preliminar, entendemos que os textos de Fernando Reinach tomados como objeto deste trabalho apresentam essa configurao prototpica, o que vai ao encontro das palavras do autor sobre sua escrita, bem como do fim discursivo colocado para o gnero, que o de difundir conhecimentos cientficos na mdia, por meio de textos dirigidos a um pblico no necessariamente especializado. A esse respeito, vale acrescentar o testemunho do autor a respeito da aceitabilidade de seus textos; segundo ele (cf. Nota 1), que informa receber de trs a cinco e-mails por semana, os leitores gostam dos textos.
-
30
GESTO AMBIENTAL: ESTUDOS E PRTICAS
prtica na produo textual, oral ou escrita, promover qualidades essenciais
em textos expositivos e argumentativos, como a clareza e a objetividade da
exposio. A escrita de resumos e resenhas, por exemplo, no pode prescindir
de uma reproduo fiel das ideias principais do texto original (KCHE et al.,
2008, p. 79; 95). Esse processo de sntese ser mais bem-sucedido na medida
da preciso do processo de anlise.
A identificao dos elementos constituintes de um texto e dos recursos
de composio permite reconstruir o percurso de sua elaborao e verificar sua
tipologia predominante. Sendo o texto predominantemente argumentativo, por
exemplo, o reconhecimento dos elementos constituintes desse tipo textual
tema e problema; hiptese, tese e argumentao e da natureza lingustica da
elaborao textual desses elementos (narrao, descrio, exposio,
argumentao etc.) ser um fator decisivo na atribuio de sentido
(estabelecimento da coerncia), que demanda sempre a ativao do repertrio
do receptor. Ampliar o repertrio de leitura dos estudantes um papel
modernamente assumido pela escola; a ela tambm deve caber a ampliao
do repertrio de modos de leitura.
O texto de Fernando Reinach intitulado A ressurreio da floresta em
Anak Krakatoa, alm de seu contedo cientfico relevante, oferece
possibilidades mltiplas de explorao da composio; seguem-se sua
reproduo e algumas atividades propostas no desenvolvimento das disciplinas
de Leitura e produo de textos (1 a 12) e de Metodologia da investigao
cientfica (13 a 15).
Leitura A ressurreio da floresta em Anak Krakatoa (4 set. 2008; 2010,
p. 80-82; reproduzido do livro)
A maioria das pessoas associa a destruio de um ecossistema morte
de um ser vivo. Tal como um ser vivo no volta do mundo dos mortos,
imaginamos que ecossistemas devastados (como as reas desflorestadas na
Amaznia) jamais retornaro ao seu estado original. Esse engano resulta da
miopia temporal de um ser vivo cuja vida dificilmente dura mais que cem anos.
No entanto, se vivssemos milhes de anos, teramos observado a floresta
-
31
GESTO AMBIENTAL: ESTUDOS E PRTICAS
amaznica encolher, desaparecer e renascer diversas vezes. Muitos bilogos
estudam o renascimento de ecossistemas devastados, mas para isso
necessrio encontrar locais onde toda a vida foi extinta e documentar seu
reaparecimento. Um desses locais a ilha Anak Krakatoa.
Em 1883, a exploso de um vulco na ilha de Krakatoa, localizada entre
Sumatra e Java, foi to violenta que grande parte da ilha desapareceu. O
tsunmi gerado por essa exploso matou 36 mil pessoas e a cratera ativa do
vulco ficou submersa no oceano. Em 1927, o acmulo de lava foi suficiente
para que o topo do vulco aparecesse na superfcie do mar. A ilha sumiu e
ressurgiu trs vezes entre 1927 e 1930, e desde ento aflorou definitivamente.
Hoje seu topo tem trezentos metros de altura. O vulco Anak Krakatoa o filho
de Krakatoa tem mais de quatro quilmetros quadrados.
Desde 1930, nove meses depois do reaparecimento da ilha, quando os
primeiros bilogos constataram a completa ausncia de seres vivos sobre a
lava recm-resfriada (minto, a primeira expedio encontrou uma nica e
solitria aranha), equipes de eclogos passaram a estudar como a vida
recolonizou a rocha vulcnica. Meses depois, apareceram os primeiros fungos
e micro-organismos. Em uma dcada, algumas reas estavam cobertas por
uma savana rala onde dominava a cana-de-acar (ela uma planta nativa
dessa regio). Depois vieram os insetos, aos poucos as aves e, nos seus
intestinos, as sementes das espcies que no haviam sido trazidas pelos
ventos ou pelo mar. Surgiram as primeiras florestas e com elas mais pssaros
e morcegos. Ningum sabe como os rpteis e os caranguejos chegaram ilha,
mas eles esto l. No censo de 1980, foram identificadas mais de 140 espcies
de plantas, quarenta pssaros e centenas de insetos, e a biodiversidade
continua a aumentar a cada ano. A descoberta de figueiras, cujas flores s so
polinizadas por vespas que dependem das figueiras para viver, levou os
pesquisadores a procurar, e finalmente encontrar, as primeiras colnias desses
insetos, o que levantou o debate sobre quem teria se estabelecido primeiro na
ilha.
A histria natural de Anak Krakatoa demonstra como a vida resistente
e capaz de recolonizar ambientes onde os ecossistemas foram devastados. O
-
32
GESTO AMBIENTAL: ESTUDOS E PRTICAS
processo longo, complexo e depende diretamente da existncia de seres
vivos em outros locais do planeta.
Esses experimentos corrigem nossa miopia temporal e provam que
comparar ecossistemas a seres vivos pode nos conduzir a decises
equivocadas. Ecossistemas ressuscitam, e isso deve ser lembrado s pessoas
que defendem a ideia de que as regies desmatadas da floresta amaznica
devem ser liberadas, uma vez que sua regenerao seria to impossvel
quanto ressuscitar um morto. Nada mais errado.
Mais informaes: Fire and life. Nature, vol. 454, p. 930, 2008.
Questes
1. Pode ser apontada alguma relao entre o texto reproduzido abaixo e o texto
A ressurreio da floresta, de Fernando Reinach? Explique.
Esses experimentos corrigem nossa miopia temporal e provam que
comparar ecossistemas a seres vivos pode nos conduzir a decises
equivocadas. Ecossistemas ressuscitam, e isso deve ser lembrado s pessoas
que defendem a ideia de que as regies desmatadas da floresta amaznica
devem ser liberadas, uma vez que sua regenerao seria to impossvel
quanto ressuscitar um morto. Nada mais errado.
Para esta atividade, o texto no foi disponibilizado na ntegra, tendo sido
excludo o ltimo pargrafo; o objetivo principal relacionar os contedos e
verificar a coerncia do texto.
2. Qual o tema do texto?
O texto possibilita um rico debate sobre a questo do tema, pois contm o
relato de um evento especfico, apontado no ttulo, aproveitado como
comprovao de uma ideia geral exposta e defendida pelo autor.
3. No primeiro pargrafo do texto, o autor explora uma associao comum. Que
associao essa? Como o autor se posiciona a respeito dela?
4. O que o autor refere por miopia temporal, no primeiro pargrafo do texto?
A explorao de metforas (sentido, pertinncia), viabiliza a discusso de
recursos e nveis de linguagem, alm de abrir caminho para a reflexo sobre a
classificao dos meios de comunicao em frios e quentes, proposta por
-
33
GESTO AMBIENTAL: ESTUDOS E PRTICAS
Marshall McLuhan, e sobre os recursos de esfriamento dos textos (cf. ABREU,
2008, p. 84-96).
5. O autor se refere floresta amaznica em dois momentos do texto. Como
essas referncias se relacionam com o fato ocorrido em Krakatoa?
6. Aponte a sequncia do texto que pode ser identificada como introduo.
Justifique.
7. Avalie o texto quanto ao nvel de linguagem.
Nveis e funes da linguagem constituem tpicos do contedo da disciplina de
Leitura e produo de textos. A anlise de produtos textuais a respeito desses
aspectos objetiva desenvolver/aprimorar habilidades de leitura que se espera
estarem refletidas na prtica de produo textual. Sobre os textos de Fernando
Reinach, perceptvel o esforo do autor em recontar as descobertas
cientficas de modo a tornar os relatos mais acessveis ao leitor leigo,
despojados de traos que fariam se perder o sabor da aventura em textos
quase incompreensveis. Esse trao de sua escrita assumido no texto de
introduo da obra em livro (2010, p. 13).
8. Localize e transcreva as informaes editoriais sobre a obra.
9. Redija uma sntese do contedo (ideia defendida; recursos da exposio e
argumentao)
10. Rena e organize os contedos das respostas s questes 8 e 9 em um
nico texto (composio de resumo).
11. Avalie o texto (seleo do contedo, modo de exposio, funcionalidade) e
rena esse contedo ao texto do resumo (composio de resenha).
12. Explique como na interpretao de cada um destes elementos se
estabelecem relaes de carter intratextual, intertextual ou extratextual: ilha
(3 pargrafo), tsunmi (2 pargrafo) e floresta amaznica (1 e 5
pargrafos).
As relaes intratextuais dizem respeito interpretao de termos, expresses,
sequncias textuais, com recurso a elementos disponveis no prprio texto. As
relaes extratextuais e intertextuais dizem respeito mobilizao do repertrio
do receptor, que extrapola o mbito do texto. O repertrio aparece como os
sistemas de conhecimento mobilizados no processamento textual, um dado
-
34
GESTO AMBIENTAL: ESTUDOS E PRTICAS
relevante no processo de significao em que se concebe a leitura como
interao leitor/texto (PAULINO et al., 2001, p. 12; 36); aparece tambm como
um dos fatores da coerncia (KCHE et al., 2008, p. 19) e da temperatura dos
textos (ABREU, 2008, p. 84).
13. No primeiro pargrafo do texto, o autor aponta como enganosa a
associao da destruio de um ecossistema morte de um ser vivo em
particular, pois este no volta vida. Esse engano seria produto do saber
baseado na cincia (testado; comprovado) ou no empirismo (senso comum;
experincia pessoal)? Explique.
14. Na sequncia do texto, o autor informa que muitos bilogos estudam o
renascimento de ecossistemas devastados, o que implica documentar o
reaparecimento da vida em locais onde foi extinta. O conhecimento resultante
desses estudos cientfico, filosfico, teolgico ou popular? Explique.
15. Uma das tcnicas argumentativas observadas em textos de carter
cientfico a comprovao pela experincia e observao. Comente a
importncia dessa tcnica na redao de carter cientfico e sua utilizao por
Fernando Reinach.
UM LUGAR NA SALA DE AULA PARA AS QUESTES DE MLTIPLA
ESCOLHA
comum encontrar objees quanto ao uso de questes de mltipla
escolha em situaes de ensino formal, principalmente por um pensamento
generalizado de que a atividade do estudante resulta simplificada ou mesmo
facilitada. Entretanto, ao se considerar, por um lado, a possibilidade de elaborar
essas questes de modo no a facilitar levianamente a tarefa do respondente,
mas de promover sua reflexo e o investimento de conhecimentos acumulados,
e, por outro, a ocorrncia desse tipo de questo em exames, provas e
concursos nos mais diversos contextos, possvel encontrar o espao para a
proposio desse tipo de atividade, atendendo a objetivos pedaggicos
relacionados principalmente compreenso de textos e aplicao de
contedos estudados.
-
35
GESTO AMBIENTAL: ESTUDOS E PRTICAS
O texto de Fernando Reinach intitulado O tucano e o palmito deu ensejo
elaborao de algumas questes de mltipla escolha utilizadas em situao
de avalio da aprendizagem; as questes envolveram tpicos do contedo da
disciplina de Leitura e produo de textos relacionados identificao de
gnero, tema, assunto, entendimento do contedo e anlise de recursos de
exposio. Considerou-se o enquadramento do texto como um tipo no
literrio, conforme anlise exposta anteriormente.
Leitura O tucano e o palmito (17 ago. 2013; reproduzido do site
www.estadao.com.br)
fcil compreender que os pssaros dependem das florestas, mas
como as plantas se comportam quando os pssaros desaparecem? Cientistas
brasileiros descobriram que a palmeira jussara (Euterpe edulis), produtora do
palmito, est evoluindo para se adaptar ao desaparecimento dos tucanos e
outros pssaros de bico grande.
A jussara produz frutos de aproximadamente um centmetro de dimetro.
A semente recoberta por uma camada de polpa saborosa que atrai os
pssaros. Devorada a fruta, somente a polpa digerida pelos pssaros. A
semente expelida junto com as fezes, germina no solo, e produz uma nova
palmeira. Isso permite que a jussara se espalhe pela floresta. A fruta que cai no
p da palmeira que a produziu dificilmente germina. A palmeira depende dos
pssaros para se espalhar.
Para estudar o que est acontecendo nos resqucios de Mata Atlntica,
os cientistas analisaram 22 locais distintos, 7 deles onde os tucanos e outros
pssaros j haviam desaparecido ou seu nmero estava muito reduzido, e 15
locais onde a mata ainda est relativamente preservada. Os locais estudados
vo desde o sul do Paran, passando pelo litoral e interior de So Paulo, Minas
Gerais, Rio de Janeiro e sul da Bahia. Em cada um desses locais foram
localizadas palmeiras jussaras e suas sementes, coletadas.
As sementes foram medidas cuidadosamente e, para cada local, foi feito
um grfico relacionando o tamanho da semente e sua frequncia. O resultado
mostra que nas regies mais preservadas o tamanho das sementes varia de 7
-
36
GESTO AMBIENTAL: ESTUDOS E PRTICAS
a 14 milmetros e a maioria mede entre 10 e 12 milmetros. Nas regies menos
preservadas, as sementes tambm variam de 7 a 14 milmetros, mas a grande
maioria mede entre 9 e 11 milmetros.
Mas qual a explicao para essas sementes menores? Os cientistas
tentaram verificar se a diferena poderia estar relacionada a caractersticas das
diferentes regies. Tentaram correlacionar o tamanho das sementes com a
qualidade do solo, a quantidade de chuva e a temperatura. Nenhum dos fatores
explica a diferena de tamanho. Somente a presena de pssaros de bico
grande estava correlacionada ao maior tamanho das sementes. Onde os
pssaros estavam ausentes, as sementes eram menores; onde eles estavam
presentes, elas eram maiores.
Em seguida, os cientistas estudaram o tamanho das sementes ingeridas
por diversos desses pssaros em cativeiro. Eles observaram que os tucanos e
seus parentes so capazes de ingerir sementes de at 14 milmetros, enquanto
que os pssaros de bico pequeno ingerem sementes de at 12 milmetros, mas
na mdia preferem as de 11 milmetros. Isso significa que sementes grandes
no so ingeridas ou transportadas nos ambientes em que os pssaros de
bicos grandes, como os tucanos, esto ausentes.
O que os cientistas acreditam que est acontecendo que a jussara,
sob presso de um novo ambiente, onde no existem tucanos, est diminuindo
o tamanho de suas sementes. Escrito assim parece que a jussara percebe
que os tucanos desapareceram e, portanto, decidiu produzir sementes
menores. Na verdade, o que est acontecendo um processo de seleo
natural. No novo ambiente, as rvores que produzem sementes menores se
reproduzem com mais eficincia, pois podem contar com os pssaros
pequenos para dispers-las.
As rvores que produzem sementes maiores no conseguem se
reproduzir to bem, pois os pssaros pequenos no conseguem ingerir as
sementes e os tucanos esto ausentes. O resultado desse processo de
seleo natural que a jussara que se propaga nos ambientes sem tucanos
acaba sendo a produtora de sementes menores. No limite, se todos os tucanos
desaparecerem, s sobraro as rvores que produzem sementes menores. a
-
37
GESTO AMBIENTAL: ESTUDOS E PRTICAS
evoluo ocorrendo em tempo real, bem debaixo de nosso nariz. Os cientistas
estimaram que grande parte dessa transio evolutiva ocorre em
aproximadamente 100 anos.
difcil prever o resultado do processo evolutivo posto em marcha pela
atuao desastrada do Homo sapiens. O que se sabe que sementes
menores germinam com menor frequncia e produzem rvores mais fracas.
Tambm sabemos que aves menores tm um raio menor de disperso de
sementes. Se a falta de tucanos vai provocar o desaparecimento do palmito s
saberemos no futuro. E a ser tarde.
Esse um bom exemplo de como a interferncia do ser humano
provoca mudanas bruscas no equilbrio ecolgico e pode redirecionar as
foras seletivas que impulsionam a evoluo das espcies.
Mais informaes: Functional extinction of birds drives rapid evolutionary
changes in seed size. Science, vol. 340, p. 1.086, 2013.
Questes
1. Sobre o contedo do texto e a forma de exposio, INCORRETO afirmar
que:
a) Trata-se de um texto no literrio, cujo tema relaciona-se realidade
concreta e exposto/desenvolvido com o recurso a dados recolhidos dessa
realidade.
b) Ao afirmar O que os cientistas acreditam que est acontecendo que a
jussara, sob presso de um novo ambiente, onde no existem tucanos, est
diminuindo o tamanho de suas sementes., o autor expe o posicionamento
dos cientistas dedicados investigao do objeto em questo, que extraram
uma concluso coerente dos dados observados.
c) O tema do texto est relacionado ao humana sobre o meio ambiente.
d) As perguntas que iniciam o primeiro e o quinto pargrafos esto
relacionadas entre si e ao tema do texto, mas, apesar disso, o contedo
desenvolvido no d resposta a elas.
-
38
GESTO AMBIENTAL: ESTUDOS E PRTICAS
e) No enunciado difcil prever o resultado do processo evolutivo posto em
marcha pela atuao desastrada do Homo sapiens., o autor se refere a um
dado objetivo da realidade, porm afirma uma posio subjetiva (crtica) em
relao a ele, marcada no adjetivo desastrada.
2. Ao associarem a diferena de tamanho das sementes da palmeira jussara
presena/ausncia de pssaros de bico grande no local, os cientistas levaram
em conta diversos fatores, entre os quais NO se inclui:
a) A experincia com aves em cativeiro, que demonstrou que as sementes
maiores so ingeridas por aves de bico grande.
b) A medio rigorosa de amostras das sementes da palmeira jussara nos
ltimos 100 anos.
c) A neutralizao de outras explicaes possveis para a diversidade de
tamanho das sementes, como a qualidade do solo e aspectos climticos.
d) A necessidade da presena dos pssaros para a reproduo da planta.
e) A adaptabilidade da planta ao ambiente (seleo natural).
3. H algum tempo, as questes ambientais tm estado no centro das
discusses sobre desenvolvimento em nvel global, o termo sustentabilidade
sinaliza uma preocupao que est na ordem do dia, e a ao humana sobre o
planeta tornou-se objeto de aes educativas mltiplas e diversas. O texto de
Fernando Reinach est inscrito nesse movimento, apontando especificamente
uma questo relacionada:
a) Ao aquecimento global.
b) Ao tratamento e destinao de resduos slidos.
c) alterao de ecossistemas.
d) Ao aproveitamento de recursos hdricos.
e) produo de energia limpa.
A ROTEIRIZAO DA LEITURA
A antiga frmula de atividade de entendimento de textos que se
concretiza na exposio do texto acompanhada de questes tem sido
condenada por promover o controle da leitura, empobrecendo a interao
-
39
GESTO AMBIENTAL: ESTUDOS E PRTICAS
texto/leitor. Partindo dessas consideraes, Paulino et al. (2001, p. 28-30)
defendem que a escola deve promover o dilogo do leitor com os textos, e que
as regras e rituais que cercam a leitura no contexto escolar, antes de serem
condenadas, devem ser conhecidas, assimiladas, para que o leitor esteja apto
a subvert-las, inclusive, quando for o caso.
Partindo desse pressuposto, a roteirizao da leitura no ambiente
escolar pode se converter em um instrumento eficaz de promoo da interao
com os textos, especialmente quando os estudantes no tm intimidade com
os gneros e tipos textuais tomados como objeto da anlise. Ao propormos
esse modelo de atividade, objetivamos explicitar estratgias de construo
textual e de leitura, para a promoo da apropriao de chaves de leitura pelos
estudantes, sem deixar de considerar que os limites entre a interao criativa e
a controlada muitas vezes so indistintos. Por essa razo, entendemos ser
fundamental que se proponha no apenas o dilogo leitor/texto, mas o dilogo
entre os leitores a respeito do texto, a fim de verificar a ocorrncia de leituras
diversas e confront-las entre si e com o texto, localizando nele, quando existir,
o respaldo objetivo que valide a leitura. Seria falacioso afirmar que uma prtica
como essa poderia ocorrer no ambiente escolar destituda de qualquer
controle, mas entendemos que a prtica pode ser controlada na direo do
aparelhamento do sujeito aprendiz, para que ele se torne cada vez mais
autnomo, como defendem Paulino et al. (2001, p. 28; 30).
O texto de Fernando Reinach intitulado Um cientista que sabia o que
medir foi apresentado aos estudantes acompanhado por um roteiro de leitura,
elaborado conforme os objetivos acima expostos. A atividade foi proposta na
disciplina de Leitura e produo de textos, abrangendo anlise de constituintes
textuais e de relaes entre contedos, estratgias e recursos de construo,
interpretao de problemas e mobilizao de conhecimentos especficos.
Leitura Um cientista que sabia o que medir (29 jun. 2005; 2010, p. 41-43;
reproduzido do livro)
Raros so os cientistas que se dedicam a medir um nico fenmeno.
Mais raros ainda so aqueles que alteram o comportamento da humanidade
-
40
GESTO AMBIENTAL: ESTUDOS E PRTICAS
com suas medies. O norte-americano Charles D. Keeling passou a vida
medindo a quantidade de gs carbnico existente na atmosfera. Foram suas
medies que demonstraram que a quantidade de gs carbnico est
aumentando na atmosfera. Essas medidas iniciaram as investigaes sobre as
mudanas climticas.
Em 1958, muito antes do surgimento dos movimentos ecolgicos,
Keeling desconfiou que o gs carbnico (CO2) produzido pela queima de
petrleo talvez estivesse se acumulando na atmosfera. Decidiu medir como
variava a concentrao de CO2. Para realizar suas medidas, escolheu o topo
de uma montanha no Hava, longe das grandes fontes de emisso de CO2,
instalando no pico do Mauna Loa um aparelho capaz de medir continuamente a
quantidade de CO2 na atmosfera. Em 1958, existiam 316 partes de CO2 na
atmosfera para cada milho de partes de gases. Durante os primeiros anos,
Keeling descobriu que a quantidade de CO2 aumentava no inverno e diminua
no vero, como reflexo da atividade das plantas, cuja fotossntese depende da
temperatura e da quantidade de luz.
A curva parecia uma montanha-russa. Foram mais de dez anos de
medies contnuas at se descobrir que a montanha-russa, na verdade,
apresentava a cada ano um pico um pouco mais alto que no ano anterior.
Finalmente foi possvel demonstrar que o CO2 estava de fato aumentando.
Entre 1958 e 2002, os nveis de CO2 na atmosfera cresceram 17%.
Os resultados de Keeling formam a base para toda a discusso sobre o
efeito estufa e o aquecimento global. Apesar de ainda haver discrdia sobre
como os nveis de CO2 influenciam o clima, o degelo das calotas polares e o
aumento do nvel dos oceanos, a veracidade dos dados de Keeling jamais foi
posta em dvida.
Na ltima dcada, a hiptese de Keeling ficou comprovada atravs da
anlise da quantidade de CO2 presente em bolhas de ar retidas no gelo polar.
Os cientistas analisaram bolhas retidas no gelo h centenas de anos e
determinaram a quantidade de CO2 que existia na atmosfera antes de o
homem comear a queimar petrleo. O gelo dos furos feitos no rtico revelou
que durante centenas de anos a concentrao de CO2 permaneceu inalterada,
-
41
GESTO AMBIENTAL: ESTUDOS E PRTICAS
s comeando a aumentar a partir do fim do sculo XIX. A intuio de Keeling,
portanto, estava correta: o homem realmente est modificando a atmosfera
terrestre.
A maioria das destruies observadas no meio ambiente constituda
de fenmenos locais que ocorrem em um perodo de tempo relativamente
curto. o caso do desmatamento da Amaznia, da poluio de um rio ou da
mudana da qualidade do ar em uma cidade. Mas o que realmente pe em
risco a sobrevivncia do homem so os fenmenos globais, que ocorrem ao
longo de dcadas e so difceis de reverter. Com a medio da quantidade de
gs carbnico acumulada na atmosfera, Keeling foi o primeiro cientista a
identificar de maneira incontestvel um desses fenmenos.
Ele provavelmente foi um homem realizado, pois viveu tempo suficiente
para ver a maioria dos pases assumir o compromisso de combater o aumento
do CO2. Mas deve ter morrido decepcionado, pois seu pas, os Estados Unidos,
o maior consumidor mundial de petrleo, recusou-se a assinar o Protocolo de
Quioto.
Mais informaes: http://cdiac.ornl.gov/new/keel_page.html.
Questes
1. A quem o ttulo do texto se refere? Explique como se relacionam o contedo
do texto e seu ttulo.
2. No primeiro pargrafo do texto, na passagem dos dois primeiros perodos
para o terceiro, ocorre generalizao ou especificao? Explique.
3. Que ponto do texto voc indicaria como incio do desenvolvimento? Por qu?
4. Qual o sentido de a curva parecia uma montanha-russa, no incio do
terceiro pargrafo?
5. De acordo com o texto, em 1958 havia 316 partes de CO2 na atmosfera para
cada milho de partes de gases (316ppm). Entre 1958 e 2002, os nveis de
CO2 na atmosfera cresceram 17%. A quantas partes por milho de CO2 na
atmosfera corresponde essa alta?
6. Que relao tem o achado de Keeling* com o efeito estufa e o aquecimento
global?
-
42
GESTO AMBIENTAL: ESTUDOS E PRTICAS
7. Em se tratando de meio ambiente, que diferenas o autor informa haver
entre fenmenos locais e fenmenos globais?
8. No ltimo pargrafo do texto, o autor realiza algumas especulaes sobre
Keeling. Que palavras ou expresses evidenciam isso?
* Charles David Keeling (1928-2005) foi um qumico e climatologista
estadunidense.
CONCLUSO
No nova a afirmao de que escola cabe um papel fundamental na
promoo do contato entre sujeitos e objetos de leitura; tampouco original a
proposio de que em nosso pas a escola constitui-se como um espao
privilegiado, quando no nico, para o estabelecimento desse contato. Desses
pontos em diante, colocados como premissas, surgiro questes relevantes
relacionadas aos critrios de seleo dos textos, s estratgias de leitura como
objeto de conhecimento, ao tratamento da multiplicidade de leituras, ao mais ou
menos inevitvel controle da leitura, promoo da autonomia do sujeito leitor,
verificao da aprendizagem, entre outros aspectos da prtica pedaggica da
leitura.
Se no novo, pelo menos renovador, pode ser o dilogo sobre essa
prtica, no sentido de explicitar e avaliar suas estratgias, aprimorando-a e
corrigindo-a na direo do cumprimento dos objetivos colocados
modernamente de formao de leitores crticos e amadurecidos. A breve
demonstrao aqui realizada apresenta-se para essa reviso; se puder dar
ensejo a algum dilogo, ter cumprido seu principal objetivo.
REFERNCIAS
ABREU, Antnio Surez. Curso de redao. 12. ed. So Paulo: tica, 2008.
(Srie tica Universidade).
-
43
GESTO AMBIENTAL: ESTUDOS E PRTICAS
KCHE, Vanilda Salton; BOFF, Odete Maria Benetti; PAVANI, Cinara Ferreira.
Prtica textual: atividades de leitura e escrita. 5. ed. Petrpolis: Vozes, 2008.
MARCUSCHI, Luiz Antnio. Gneros textuais: definio e funcionalidade. In:
DIONISIO, A. P.; MACHADO, A. R.; BEZERRA, M. A. (Org.). Gneros textuais
e ensino. 2. ed. Rio de Janeiro: Lucerna, 2002, p. 19-36.
PETZHOLD, Paula Elise; KASPARI, Tatiane; MLLER, Valquria. Artigo de
divulgao cientfica: fim discursivo e prototipicidade. In: Travessias Revista
de Educao, Cultura, Linguagem e Arte da Universidade Estadual do Oeste
do Paran, v. 2, n. 3, 2008. 22p. Disponvel em: . Acesso
em: 5 fev. 2014.
PAULINO, Graa et al. Tipos de textos, modos de leitura. 2. ed. Belo
Horizonte: Formato Editorial, 2001. (Srie Educador em formao).
REINACH, Fernando. A longa marcha dos grilos canibais e outras crnicas
sobre a vida no planeta Terra. So Paulo: Companhia das Letras, 2010. (3
reimpresso).
______. O tucano e o palmito. O Estado de S. Paulo, 17 ago. 2013. Disponvel
em: . Acesso em: 1 set. 2013.
AGRADECIMENTOS
Dirijo especiais agradecimentos ao Centro Universitrio Padre Anchieta
UNIANCHIETA, pelo acolhimento e pelas oportunidades de trabalho e de
crescimento pessoal e profissional; ao professor Andr Luiz da Conceio, pelo
convite a participar desta publicao e pelo permanente incentivo produo
acadmico-cientfica; s professoras Juliana Rink e Nilva Aparecida Ressineti
Pedro, pelo convite a integrar o corpo docente dos cursos de tecnologia em
Gesto Ambiental e em Processos Qumicos do UNIANCHIETA e pelo
amigvel acolhimento e constante ateno ao aprimoramento da atuao
pedaggica; aos estudantes atendidos nos referidos cursos, pelas
enriquecedoras vivncias no processo formativo; ao bilogo Fernando de
-
44
GESTO AMBIENTAL: ESTUDOS E PRTICAS
Castro Reinach, pela solicitude e prontido em conceder uma breve entrevista
sobre seu trabalho.
-
45
GESTO AMBIENTAL: ESTUDOS E PRTICAS
ANLISE DO PERFIL DE PARTICIPANTES EM
PROJETO DE RECICLAGEM DE LEO DE
COZINHA NO MUNICPIO DE ITUPEVA, SO
PAULO
Claudio da Cunha8 Mrcia Sumagawa Oku9
RESUMO
Algumas cidades brasileiras apresentam taxas de crescimento econmico e
demogrfico acima da mdia brasileira, tendo como consequncia direta, o
aumento na produo de resduos de origem industrial e domstico. O
municpio de Itupeva se destaca como rea de expanso demogrfica,
estimulada pelo crescimento dos setores industrial e de servios do
aglomerado urbano de Jundia. As cidades da macrorregio apresentam taxas
de crescimento 9,8 % acima da mdia do estado de So Paulo e como
consequncia, nveis proporcionais de ao antrpica sobre o meio ambiente
com riscos de degradao mais elevados que a mdia estadual e nacional.
Projetos e polticas de educao ambiental so necessrios para reduzir os
impactos da atividade humana pela preveno e reduo de danos bem como
na formao de multiplicadores de conhecimento. Este trabalho, baseado em
aes de educao ambiental informal, produziu um banco de dados sobre o
perfil de uso e descarte de leo comestvel residual do municpio de Itupeva-
SP.
Palavras chave: Educao Ambiental. leo comestvel. Arborizao.
Consumo de leo. 8 Bilogo, Mestre em Ecologia de Ecossistemas. Docente do Curso Superior em Tecnologia e
Bacharelados do Centro Universitrio Padre Anchieta, UNIANCHIETA. Docente do Curso Superior em Tecnologia da Faculdade de Tecnologia do Estado de So Paulo, FATEC. Docente do Bacharelado em Psicologia da Anhanguera Educacional-AESA. Contato: [email protected]
9 Tecnloga em Gesto Ambiental pelo UNIANCHIETA. Trabalha na Secretaria de Mobilidade
Urbana e Meio Ambiente de Itupeva-SP. Contato: [email protected]
-
46
GESTO AMBIENTAL: ESTUDOS E PRTICAS
INTRODUO
A educao ambiental possui como uma de suas caractersticas bsicas
a multidisciplinaridade (Guimares, M. 1995). A conscientizao sobre
problemas associados ao meio ambiente um das ferramentas que podem
auxiliar na mudana de hbitos e comportamentos das populaes. Um dos
problemas associados temtica ambiental a falta de dados quantitativos e
qualitativos sobre o comportamento das pessoas no seu cotidiano. Os
referenciais numricos so importantes para modelar projetos, definir a tomada
de decises em diversos nveis, permitindo o acompanhamento temporal na
modificao de atitudes e avaliao de objetivos, fornecendo bases concretas
para formulao de hipteses e direcionamento de solues.
Nas ltimas dcadas, campanhas para reciclagem de resduos so
observadas em nmero crescente no Brasil e no mundo, destacando a
importncia para a sustentabilidade dos meios de produo. Dentro deste
contexto, o leo comestvel residual pode representar uma fonte de matria
prima para diferentes cadeias produtivas (Fernandes et al, 2008), fonte de
renda para comunidades carentes (Silva, M. V. et al, 2012), ou ser um
importante agente de contaminao do solo e da gua, causando prejuzos
ambientais diretos e indiretos, danificando e obstruindo redes de tubulaes e
aumentando os custos operacionais ao setor pblico (SABESP, 2007).
Vrias cidades do Brasil j iniciaram programas de entrega espontnea
de leo de cozinha residual (Branco, S.M. et al, 2012 ; Orlandi, A. M. et al,
2012), mas entretanto, a troca de leo por mudas de rvores para arborizao
urbana realizada no municpio de Itupeva-SP, destacou-se como ao
inovadora de educao ambiental informal e multidisciplinar, servindo tambm
como base de dados para aes futuras.
A soluo para o descarte incorreto de resduos gerados pelo homem
continua sendo um grande desafio, que afeta todo o planeta e alvo de
pesquisas integradoras em diversos ramos da cincia, envolvendo bases
tecnolgicas, ambientais, sociais, educacionais e da sade.
O leo de cozinha que muitas vezes ingenuamente descartado pela
pia da cozinha ou despejado no solo pode causar srios problemas ao meio
-
47
GESTO AMBIENTAL: ESTUDOS E PRTICAS
ambiente e dessa forma, medidas e regras mitigadoras de danos devem ser
implementadas. Como exemplo, foi criada no estado de So Paulo, a Lei
12.047 (So Paulo set. 2005) que, em seu Artigo 1, estabelece e institu o
Programa Estadual de Tratamento e Reciclagem de leos e Gorduras de
Origem Vegetal ou Animal e Uso Culinrio, servindo como base para
implementao de novos projetos.
Ao atingir corpos dgua, este resduo forma pelculas superficiais que
reduzem os processos de oxigenao direta e entrada de luz, alm de obstruir
as vias respiratrias dos animais aquticos e interferir negativamente nas
cadeias alimentares.
Tambm podem prejudicar os processos nas Estaes de Tratamento
de gua (ETA), dependendo de sua concentrao.
bastante comum a divulgao de que um litro de leo pode contaminar
milhares de litros de gua. O volume exato de gua contaminada por leo
carece de base tcnica adequada. Vrias estimativas so encontradas na
literatura, como 1.000.000 de litros de gua contaminada por um litro de leo
(Orlandi, A. M. et al, 2013), mas importante destacar que embora tais
estimativas caream de embasamento tcnico (SABES