Andrezinho

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Atibaia é mesmo cidade de grandes personalidades. Só que, literalmente falando, ninguém está à altura do ilustre André Florenço da Rocha, que todos conhecem como Andrezinho. Click e conheça a história do cidadão mais conhecido da cidade!

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Atibaia é mesmo cidade de grandes personalidades. Só que, literalmente falando, ninguém está à altura do ilustre André Florenço

da Rocha, que todos conhecem como Andrezinho.

Para começar, Andrezinho é gaúcho nascido em Minas Gerais, numa cidade tão distante que chega a fazer divisa com o Japão. Como se não bastasse ele ainda carrega nas veias o sangue africano dos pigmeus, um povo guerreiro onde os homens adultos não ultrapassam o metro e meio de altura. Isso mesmo, têm a altura de cinco réguas daquelas de 30 centímetros. Isso explica, por exemplo, a origem de sua valentia. Apesar do corpo miúdo, Andrezinho também é famoso pela coragem e já botou muito marmanjo para correr. Inclusive o diabo. Sim, o diabo. E foi o diabo...

Sua grande paixão é o trabalho. Basta que se observe o seu currículo. Andrezinho conta que já fez de tudo na vida. Co-meçou trabalhando em roça de café, plantou milho, colheu batatas, frutas e fl ores. Já foi peão de boiadeiro, motorista de viatura da polícia, funcionário público registrado e tudo. Já foi ajudante de churrascaria, recolhedor de papelão, cobrador no banheiro do mercado municipal e garante garantido que tem até licença para dirigir avião. Segundo o cabeleireiro, amigo e fã Di, ele pode até provar. Atualmente vende bilhetes da loteria federal. Adotou esse trabalho porque só assim pode continuar batendo perna por aí, na cidade toda, visitando clientes e ami-gos. Diga-se de passagem, bater perna é a outra grande paixão do Andrezinho, “Ando mais do que vento!”, afi rmou em entre-vista exclusiva que concedeu no Bar do Neves, localizado no Alvinópolis e onde ele almoça todos os dias. E considerando o conhecimento que tem do mundo, fará uma tremenda bes-teira aquele que quiser convencê-lo de que a terra é redonda. Segundo o saudoso Fausto, da Selaria Mundial, Andrezinho afi rma que o mundo é plano e ponto fi nal!

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Parte da sua fama se deve ao seu visual exclusivo. Do ta-manho de 120 centímetros de altura, um metro e vinte, se preferirem, jamais foi visto fora do seu chapéu de cangacei-ro, suas galochas de borracha e sua bolsa à tira colo. Acostu-mado com doações de amigos, a quem pergunta o número das suas botas vai logo respondendo: “31!” Há quem garanta que ele já nasceu com esse “look” porque nem os mais anti-gos da cidade se lembram de tê-lo visto sem esses seus três paramentos. Andrezinho nunca usa roupa preta ou verme-lha. “São as cores do diabo”, retruca.

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Onde quer que se pergunte pelo Andrezinho, sempre vai haver alguém informando uma pista de onde ele pode ser encontrado. Mas tudo depende da hora. Seu apreço pelo re-lógio e pela pontualidade é o mesmo dos ingleses. Nada e nem ninguém consegue tirá-lo de suas rotas e horários. An-drezinho frequenta os mesmos lugares sempre nas mesmas horas. Nunca perde, por exemplo, a missa das oito da ma-nhã do domingo no Cristo Rei. Vai lá há uns 40 anos, desde que a igreja era uma simples capelinha. Acorda às quatro da manhã, todos os dias, e está dormindo às seis e meia da tarde. Quando o dia amanhece ele já está em frente à Loté-rica Ricão, que fica atrás da rodoviária, esperando a amiga Sônia para lhe pegar os bilhetes que vende. Logo ao lado, em uma loja de acessórios para celular também faz parada. Daí para a frente sai pela cidade visitando clientes e amigos. José Antonio Tavares, o Di do Salão do Di é um deles. E há muito tempo. “O Andrezinho é pessoa muito educada. Não tem esse negócio que muita gente fala que ele xinga e corre atrás não!, defende Di. É só ter respeito com ele”, ensina.

A verdade é que se o Andrezinho não for com as fuças do sujeito ou se a abordagem for sem educação ele se irrita mesmo. Não se pode chegar e chamá-lo de anãozinho, im-punemente, por exemplo.

Pior ainda é chegar e dizer que vai tirar foto dele para mandar para o circo. Vixi... É falar e sair correndo! Na cabe-ça de Andrezinho circo é lugar de palhaço e ele é trabalha-dor! E tem mais heim: ele garante que não é anão, apenas deixou de crescer. E isso aconteceu porque, quando ainda era criança carregou muitas latas de água na cabeça. Por causa desse negócio de circo, teve uma vez que Andrezinho chegou a colocar o dono do circo Bartolo para correr. O circo estava na cidade instalado bem naquele terreno onde hoje está a concessionária da Chevrolet. O Bartolo foi até o bar do Neves refrescar a garganta e ficou encantado quando viu o Andrezinho. Não demorou e foi logo oferecendo emprego

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de verdade para ele. “Quero te dar casa, salário bom e você ainda vai conhecer o mundo todo!”, disse o dono do circo. Andrezinho topou na hora, mas quando ficou sabendo que era para trabalhar no circo ele virou uma fera. Achou que se tratava de mais um daqueles engraçadinhos gozadores de sempre. Saiu atrás do Seo Bartolo xingando alto e fingin-do que ia puxar uma faca da cintura. “O homem virou um pó!”, confirmou aos risos José Mario Neves, o Neves dono do bar. O Andrezinho frequenta o lugar há uns de 30 anos. “Ele chega aqui pontualmente às onze e meia da manhã. Bate papo, toma um aperitivo ou um copinho de cerveja se alguém pagar e divide uma marmita comigo, tira uma so-nequinha sentado na mesa e segue seu rumo”, conta Neves.

Andrezinho é celebridade graças à sua peculiaridade, já foi personagem em um filme dos irmãos Spacek (Tinha a gata Gioconda, no Youtube). No filme, Andrezinho é um su-per-herói que faz parte da L.D.S.L. (Liga dos Defensores da Singularidade da Simplicidade) e é o defensor dos aposta-dores da loteria federal. Divide com a Toniquinha, Elvis de Atibaia e o Lorenço Pipoca o dever de manter a ordem na cidade. Além do filme, Andrezinho também foi homenage-ado pelo professor Edson Beleza e virou bonecão de carna-val. Mas Andrezinho é a humildade em pessoa mesmo com toda sua fama. O único registro oficial de Andrezinho como personalidade ilustre de Atibaia (até agora) era no livro AR (Anônimos Revelados) do fotógrafo atibaiense Vitor Car-valho. O livro traz personalidades de Atibaia que fizeram e fazem parte da história e faturou o XI Prêmio Funarte de Fotografia. “Andrezinho é o último elo perdido da Atibaia antiga. A cidade está perdendo sua particularidade de cida-de do interior e ele é o único que ainda guarda essa caracte-rística”, afirmou Vitor. Isso não impediu que alguns fãs de Andrezinho o colocassem na internet. Possui comunidades nas redes sociais e conta com 1.milhares de seguidores. Um dos criadores das comunidades provoca até uma enquete:

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“O Andrezinho merece uma estátua na cidade?”, 100% dos seguidores dizem que sim.

A verdadeira história de Andrezinho

Na verdade, e de verdade, André Florenço da Rocha nas-ceu no dia 30 de novembro de 1939. É o quinto dos sete filhos de Benedita Euflásia da Rocha e Julio Florenço da Rocha. O casal criou com muito trabalho e sacrifício os filhos Ju-venal, Miguel, Bastião, Rafael, André, Luiza e Maria. Euflá-sia e Júlio casaram em Itapeva onde tiveram quatro filhos. André, Luiza e Maria nasceram em Camanducaia. Apesar da tranquilidade do lugar a vida foi corrida. Enquanto dona Benedita e as meninas ficavam em casa para os afazeres do-mésticos, Julio e os filhos mais velhos davam duro numa roça de café. Como André era o miudinho, atuava nas duas frentes: ajudava a mãe em casa carregando latas de água na cabeça, alimentava a criação e na roça era responsável pela entrega das marmitas. Enquanto o pai e irmãos almoçavam ele amolava as ferramentas. Ainda criança André percebeu que era menor do que todos os outros irmãos, inclusive de Maria, a irmã caçula e um dia resolveu tirar a história a lim-po com a mãe. Queria saber se não iria crescer mais. Dona Benedita, que tinha um xodó enorme pelo filho não sabia como explicar essas coisas de “ananismo primordial”. Ela era benzedeira e tinha um oratório com várias imagens de santos em casa. Diante do dilema foi até o oratório: “André, meu filhinho, você é o meu São Benedito. Por isso é peque-nino assim”, e colocou o santinho negro na mãozinha de Andrezinho. Ele ficou tão maravilhado pela revelação que nunca mais pensou nisso outra vez.

O tempo passou e as coisas que já não iam bem para os pa-trões da família acabaram por piorar. O café não dava mais nada e a crise que durava anos custou o emprego e a casa dos Florenço da Rocha. Depois de passar por fazendas em Joa-nópolis e Bragança Paulista, a família arrumou um bom em-

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prego na cidade de Atibaia. Para o pequeno André o nome era estranho e os novos patrões mais ainda. Eram uma gente de olhos puxados e que falavam de um jeito que ele não enten-dia nada. Precisou o irmão explicar: “Esse povo ai é ‘japoneis’ Andrezinho e falam outra lingua”. Os “japoneis” eram os Ya-nos. Recém chegados ao país e à cidade, e investiram na plan-tação de batatas. Falavam quase nada em português.

Os irmãos de André foram se casando e mudando para outros sítios, a maioria de japoneses. Quando visitava os ir-mão, Andrezinho só via “japoneis” para todo lado. Para ele, Atibaia era o Japão!

Quando trabalhava na roça de batata voltava sempre ma-chucado. As mangueiras de irrigação eram cruéis e pesadas para seu corpinho. Ele queria ajudar os irmãos, mas não conseguia. Resolveu então procurar outro emprego para ajudar nas contas da casa.

Com o passar dos anos, Seo Julio, o patriarca, adoeceu e morreu. Não demorou muito e dona Benedita também começou a sofrer os castigos da idade e partiu para o céu. Mas antes de morrer precisou passar a guarda do pequeno Andrezinho para sua filha mais velha, Luiza. Antes de se ir para sempre, Luiza também passou a guarda do tio para a fi-lha que passou para a filha e assim Andrezinho foi vivendo, mudando de casa e assistindo a família diminuir. Andrezi-nho morava em um casebre na Vila São José, com a filha de uma sobrinha e atualmente mora no Jardim Imperial, na casa de outra sobrinha, filha de uma das irmãs, que também já faleceu. Se para o leitor é difícil de entender, imagine o sofrimento de Andrezinho.

Andrezinho e os muitos empregos

Andrezinho já era famoso em 1980 graças à suas caracte-rísticas únicas e por isso mantinha uma relação muito pró-xima com o então prefeito de Atibaia, Cido Franco. Foi por intermédio dessa amizade que o diretor do SAAE, um jovem

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advogado de nome Sérgio Marcos Roque (que mais tarde se tornou um dos melhores delegados que São Paulo teve), lhe presenteou com um cargo de mensageiro. Foi a primei-ra vez que Andrezinho teve um registro em carteira. “Con-tratei o André porque ele mostrou muita competência para exercer a função”, assinou embaixo o Dr. Sérgio Roque na entrevista. O exame médico de admissão foi assinado pelos doutores Olavo Malheiros e Kenji Kawakami, que seriam os futuros fundadores do hospital novo, o AMHA. Em 1982 o Dr. Sérgio Roque deixou a direção do SAAE. Como a vaga ocupada por Andrezinho era um cargo comissionado ele foi dispensado pelo novo diretor do serviço de saneamento da cidade. Andrezinho não se abalou. Voltou a viver de peque-nos biscates. O que pintasse de trabalho para ganhar um di-nheirinho ele topava. O ruim é que na vida pessoal as coisas não corriam tão bem. Andrezinho precisava de um lugar onde morar porque estava vivendo muito longe da cidade.

Foi então que Orlando Soldera, famoso fabricante de carrocerias para caminhões, cuja empresa fica no Recreio Estoril, transformou uma antiga carroceria em um trailer e ofereceu para Andrezinho morar. Na mesma época An-drezinho passou a ajudar na churrascaria Recanto do Gaú-cho, que também fica no Recreio Estoril. Com os gaúchos Andrezinho faturava comida e uns trocados. Eram tão bons esses gaúchos, tão amigos, tratavam tão bem o Andrezinho que ele não teve dúvidas: passou a dizer que também era gaúcho, só que nascido em Minas, claro.

Andrezinho fazia parcerias de toda a sorte. Em uma delas, por exemplo, passou a ser cobrador do banheiro do Merca-do Municipal. Parceria com o amigo Zé Wilson, atualmente engraxate na praça do coreto. Enquanto Zé limpava tudo e deixava o banheiro cheiroso, Andrezinho ficava com a lata da caixinha na porta cobrando as moedas de quem entrava. No fim do dia os dois dividiam a dim dim. Por fora, e já sem sociedade, Andrezinho passou a vender bilhetes de loteria.

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Esse ofício de vendedor de bilhetes só engrenaria uns tem-pos depois, e dura até hoje. Andrezinho vende não mais do que cinco bilhetes por dia, todos cuidadosamente fechados e dobrados como um origami . É um jogo “às escuras”, como Andrezinho costuma dizer. Ele garante que se o apostador desfizer a dobra para ver os números antes do dia do sor-teio o jogo não vai dar sorte nenhuma. Até hoje, não se tem notícia de que algum apostador mais sortudo tenha ficado rico pelas mãos do Andrezinho. Mas isso não tem a menor importância, pois André Florenço da Rocha, por si só, já é uma fortuna para todos nós de Atibaia. E comprova nessa reportagem que tudo o que dizem por aí sobre ele não passa da mais pura verdade. ■