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Cláudia Sofia Santiago Ribeiro Vaz Afinal, quem sou? A identidade de crianças de origem cabo-verdiana em espaço escolar Tese conducente à obtenção do grau de Mestre em Antropologia Cultural - ANEXOS Orientador: Professor Doutor Carlos Diogo Moreira Universidade Técnica de Lisboa Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas Lisboa, 2001

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Anexos da Tese "Afinal, quem sou?", A identidade de crianças de origem cabo-verdiana em espaço escolar.

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Cláudia Sofia Santiago Ribeiro Vaz

AAffiinnaall,, qquueemm ssoouu?? A identidade de crianças de origem cabo-verdiana em

espaço escolar

Tese conducente à obtenção do grau de Mestre em

Antropologia Cultural - ANEXOS

Orientador: Professor Doutor Carlos Diogo Moreira

Universidade Técnica de Lisboa Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas

Lisboa, 2001

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Índice

Anexo 1. Passagens por Santiago (a minha «ilha fantástica») .......................... 1

Anexo 2. Guiões de observação ...................................................................... 16

Anexo 3. Material pedagógico utilizado ............................................................ 19

Anexo 4.1. Auto-retratos .................................................................................. 48

Anexo 4.2 Árvore genealógica……………………………………………………...56

Anexo 4.3 Ilustrações do texto "Fada branca, fada negra"……………………...61

Anexo 4.4 Ilustrações do tema "Racismo"………………………………………...64

Anexo 4.5. Outros ............................................................................................ 67

Anexo 5. Informações estatísticas complementares ........................................ 72

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Anexos

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ANEXO 1

Passagens por Santiago (a minha «ilha fantástica1»)

Anexo 1. Passagens por Santiago (a minha «ilha fantástica»)

1 “A Ilha Fantástica” é o título de um dos livros de Germano Almeida (escritor cabo-verdiano nascido na Boa Vista).

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Anexos

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Diário de Campo

(Transcrição da informação redigida durante a estadia em Santiago)

Cidade da Praia, 14 de Setembro de 1996 (sábado)

Partida de Lisboa às 11h35m. Chegada ao Sal às 13h25 (hora local). Uma vez que só

tinha avião para a Praia às 17h30, decidi apanhar um táxi rumo a Espargos (povoação mais

próxima).Não tinham passado 5minutos, e já eu me encontrava em frente ao aglomerado.

Não consegui disfarçar a desilusão (4horas naquele sítio...), e James (o motorista),

aconselhou-me a ir até à Praia de Santa Maria (local mais aprazível). Segui a sua

sugestão (também, as alternativas não abundavam...).

Chegada ao local, o que mais me impressionou foi a quantidade de crianças que ali se

encontrava a pedir dinheiro aos turistas (ou seja, a pessoas como eu). No fundo, o que me

chocou, foi a forma como pediam o vil metal: fixavam um indivíduo, sorriam-lhe (com um lindo

sorriso), acenavam-lhe e, automaticamente, pediam uma moeda (como se um sorriso tivesse

preço...). Perante este quadro, confesso que fiquei com receio de sorrir e de dar atenção a

qualquer criança que me aparecesse (paga o justo pelo pecador...).

Voltando ao James, é um motorista muito conversador e simpático. Durante uma amena

cavaqueira, apercebi-me da rivalidade existente entre os habitantes das várias ilhas: ao referir-

se aos badiu, fê-lo de forma depreciativa; chamou-os de estúpidos, ignorantes, brutos, porcos e

pretos.

Não deixou de ser engraçado estar a ouvi-lo dizer que os badiu parecem-se todos com os

nigerianos, porque são muito escuros (mesmo pretos) e têm o cabelo encrespado...o curioso é

que, aos meus olhos, o J. correspondia a esta imagem (é negro e tem o cabelo encrespado).

Quando querem ofender alguém, chamam-na de badiu.

Ao observar aquela paisagem tão seca e árida (completamente estéril), exclamei que a vida,

naquele pedaço de terra, certamente é muito difícil. O James, sorrindo sempre, limitou-se a

dizer: - “Não, nem por isso...nós já estamos habituados”.

Cheguei à Cidade da Praia eram 18h10. O Sr. Militão, um dos contactos estabelecidos a

partir do meu querido país, já me aguardava. (...)

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Anexos

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Instalei-me na Residencial Solmar, muito simples, mas muito acolhedora e simpática.

Acabei por jantar em casa de um casal ligado à Embaixada de Portugal em Cabo Verde. De

seguida, fizemos como quase todos os portugueses que aqui se encontram: fomos beber café ao

Hotel Trópico (onde conversámos durante aproximadamente duas horas).

Para mim, a cidade da Praia é uma desilusão. É uma cidade “feia e cinzenta”; as casas são

quase todas iguais, assemelhando-se mais a “bunkers” que a qualquer outra coisa. É tudo

muito árido e seco. A própria forma como as pessoas olham para mim não me é agradável...

sinto-me fora de contexto, completamente desintegrada. É verdade que também não tenho

andado muito pelas ruas... mas não me sinto à vontade (será que é assim que os cabo-

verdianos se sentem quando estão noutro País, nomeadamente em Portugal? Duvido, pelo

menos não estão sozinhos...).

Cidade da Praia, 15 de Setembro de 1996

Fui visitar a Cidade Velha com o Vasco (um dos contactos estabelecidos a partir de

Portugal). Mais uma vez, fiquei desapontada. As imagens que nos vendem desta cidade ficam

muito aquém da realidade. O próprio centro, onde está o pelourinho, é mais pequeno do que

supunha.

O que me deixou realmente impressionada foi observar a vida dura destas mulheres. Andam

quilómetros a pé, por caminhos verdadeiramente tortuosos e com pesos sobre a cabeça.

Também aqui uma criança andou atrás de mim para ver se conseguia ganhar uma moedinha.

Em Santiago, assim como no Sal (as duas únicas ilhas que vi até ao momento), as pessoas

são muito pobres. Ganham salários miseráveis (por exemplo, a Margarida, empregada aqui

da Solmar, ganha cerca de 10.000$00 por mês, com um marido e um filho para sustentar).

Um quadro muito comum aqui na Praia é a do vendedor ambulante: no Plateau há um de 10

em 10 metros (geralmente são mulheres) e, à semelhança do que sucede nos mercados, vende-se

tudo à unidade (dentes de alho, cigarros, cubos Knorr, fruta,... tudo o que o dinheiro não

permite comprar ao quilo ou ao litro).

Do pouco que observei até ao momento, o cabo-verdiano só consegue subsistir, ainda que com

grande dificuldade, graças a este mercado negro, onde tudo se vende e tudo se compra.

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Anexos

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Hoje à tarde choveu imenso na Cidade da Praia. No entanto, apesar de tudo ter passado em

apenas 30/40 minutos, foi o suficiente para que, em algumas zonas, os carros circulassem

com muita dificuldade. Cheguei a ver alguns miúdos a colocarem-se em zonas estratégicas

para, assim, tomarem banho (aproveitando a água das chuvas). Enquanto chovia, não cheguei

a observar um único guarda-chuva.

16 de Setembro, 1996

Posso dizer que hoje estou muito mais animada. Posso até dizer que estou a gostar de aqui

estar. Começo a ver algum encanto nesta cidade “cinzenta e feia”.

Uma das coisas que mais me fascina é o facto de predominarem as relações de tipo familiar

(“face to face”). Parece que aqui todos se conhecem. As pessoas falam muito alto, com muita

vida e parecem simpáticas (embora continue a sentir-me uma estranha...afinal, é o que sou...).

A educação em Cabo Verde, tem de facto sido uma das grandes apostas do Governo: fui a

uma papelaria (a Académica) e comprei um livro de leitura e outro de ciências (ambos da 3ª

classe) por 151$00 (surpreendente).

Para mim, a Cidade da Praia já não é feia e cinzenta. Muito pelo contrário, é uma cidade

maravilhosa. Tudo graças ao meu amigo José, de Lisboa.

Hoje conheci o bairro da Achadinha, na verdadeira acepção da palavra. Tudo começou com

um simples telefonema. Entrei em contacto com a Lurdes, a irmã do José, e ela foi buscar-me

à residencial. Pela primeira vez, senti-me realmente bem, parecia que estava em casa.

A Lurdes levou-me a conhecer os seus pais e toda a família. Receberam-me tão bem que

ainda me sinto comovida. A D. Joana, mãe de José. (e da Lurdes), levou-me a conhecer o

bairro todo e, à medida que íamos avançando, ia-me apresentando a todos aqueles com que nos

cruzávamos, dizendo: “Esta é a amiga de Iosé”. Quando lhe perguntavam: “Ele mandou

carta?”, respondia-lhes: “Não, mas mandou a amiga. É a mesma coisa”.

O afilhado do José, que gosta muito dele, ao saber que eu vinha a Cabo Verde, disse: “Se é

amiga do José, eu empresto-lhe o meu quarto” (se vissem o tamanho da casa, compreendiam

melhor a imensidão do gesto).

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Anexos

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Já em casa, mostraram-me todos os álbuns de família.

Estou encantada. O que diziam sobre os badiu é mentira. Eles são umas pessoas

maravilhosas, muito simpáticas e simples. São de facto, pobres... mas de uma grande

dignidade.

A D. Joana repetiu por várias vezes que a casa é pobre mas para eu me sentir à vontade...

como se estivesse em minha casa, e para lá voltar sempre que desejasse (era só telefonar).

Certamente que o farei.

Aproveitei para perguntar à Lurdes se ainda existe a prática da “guisa”, “esteira” e “quebra-

cabeças”, ao que me respondeu afirmativamente. De facto, os cabo-verdianos são um povo

bastante católico.

No centro do bairro há uma capelinha azul. Segundo a D. Joana, é usual ao Domingo

estar apinhada de gente. Já não vou à missa há anos...mas este Domingo vou ver se não

falho!

Devo confessar que tenho sido uma pessoa com muita, muita sorte na vida. Felizmente,

também nesta viagem, a sorte tem sido minha companheira e, em grande parte devo-o ao José

Obrigada José! É que a mãe do José pareceu-me ser das pessoas mais queridas e respeitadas

da comunidade. Melhor que isto é impossível. Estou só, mas sinto-me muito bem.

Ainda no bairro, vi uma mãe a pentear a filha à porta de casa. Vi um grupo de raparigas

(8/10) a dançar ao som da música, com um ritmo de corpo fantástico. Vi um grupo de jovens

a jogar às cartas. Vi um miúdo a brincar com um pneu. Vi muita gente à conversa à porta

de casa, ou na praça. É isto que eu noto que não existe em meios maiores, esta afectividade

entre as pessoas. É fantástico. Faz-nos sentir muito especiais. Que bom eu estar a participar

de tudo isto! Em tão pouco tempo, já vi tanta coisa... não acham?

A D. Joana disse por várias vezes que o cabo-verdiano é um povo conformado. As coisas,

hoje piores que ontem (esta senhora é da opinião de que Cabo Verde estava melhor na época

dos portugueses), são aquilo que Deus permite. Mas o cabo-verdiano não desanima... já sabe

que é assim mesmo. O importante é aceitar as coisas como elas são e seguir em frente. Que

povo perseverante!

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Anexos

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Bem, são horas de ir jantar e depois, talvez vá ao Trópico, com um casal português

conhecido, beber um café ou uma água...É monótono, mas à falta de melhor... Eles não sabem

é o que perdem por não participarem na vida do kauberdiano. Eles fecham-se nas suas

conchinhas, mas se poder vou divulgar o muito que tenho aprendido.

17 de Setembro de 1996

Hoje fui ao Ministério da Educação, no Palácio do Governo (fui de táxi e vim a pé, como

qualquer cabo-verdiano). No entanto, fiquei a saber que os meus contactos (previamente

estabelecidos através da Embaixada de Cabo Verde em Portugal), não trabalham nesta

instituição. Fui também à Câmara Municipal da Praia para entregar as lembranças que

trouxe do Seixal.

No Plateau assisti, por duas vezes (e num espaço de apenas 30 minutos), a um fenómeno

relativamente comum: assisti a “guerras” (ambas em frente à peixaria).

Numa das vezes, perguntei a uma cabo-verdiana que ali se encontrava o que é que estava a

suceder, ao que respondeu: - “É guerra...as peixeiras gostam muito de brigar”.

(...)

!8 de Setembro de 1996

Hoje, depois do almoço, tentei ir à biblioteca da Embaixada de Portugal em Cabo Verde.

No entanto, como a responsável está fora, tive de desistir desta ideia. De seguida, dirigi-me

ao Instituto Pedagógico, para tentar, mais uma vez, falar com a Drª Adriana Carvalho.

Também desta não tive sorte. Desanimada, telefonei à Lurdes, para os avisar de que

tencionava visitá-los ainda essa tarde. Sempre simpática, respondeu: “Ah, ainda bem...

estávamos mesmo agora a falar de ti”.

Mais uma vez, fui recebida como uma rainha. Inclusive, compraram fruta, sumos e um

gelado de calabaceira, típico de Cabo Verde (dos tais que tanto me recomendaram para não

comer...mas não tive como recusar...oxalá não me suceda nada). Ofereceram-me ainda uma

cachupinha.

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Quanto a panos d`obra, “panû di terra”, já não são muito comuns. A mãe da D. Joana,

portanto a avó da Lurdes e do José, usava sempre (ao peito). Há ainda quem os teça, mas

são muito caros (geralmente o seu preço varia entre os 6.000$ e os 8.000$ CV).

A D. Joana confidenciou-me que a sua filha não dá satisfações a ninguém. Faz o que gosta

e o que quer. Apesar de o cabo-verdiano TER de dar satisfações aos outros. Por mais de

uma vez, declarou que são várias as pessoas que vão ter com ela à procura de conselhos.

Voltaram a dizer que sou da casa e, sempre que o desejar, posso lá ir buscar comida. Para

além disso, se eu quisesse, podia passar lá uns dias (“Nós arranjamo-nos...já estamos

habituados”).

Ainda no bairro, havia imensos rapazes a jogar à bola, muitas pessoas à conversa à porta de

suas casas, “rapaziada” a jogar à cartas... e a D. Joana cumprimentava toda a gente.

Cheguei a gracejar-lhe que parecia um político, o Presidente da Câmara... a cada dez passos

estava a parar para cumprimentar alguém (conhece imensa gente, como ela mesma diz: “Eu

não sou sozinha”).

Fomos dar um grande passeio a pé. Já estou a conhecer esta cidade.

19 de Setembro de 1996

Mudança para o Hotel Luar, onde tive logo o prazer de enfrentar uma “barata gigantesca”

(obviamente que desci dois andares para chamar uma empregada... a minha coragem não chega

a tanto...).

Finalmente fui recebida pela Drª Adriana Carvalho, que incumbiu o Dr. Augusto Amado de

me auxiliar naquilo que fosse necessário. Achei-o simpático e solícito.

20 de Setembro de 1996

Eram 9 horas e já eu estava no Instituto Pedagógico. O Dr. Amado facultou-me alguns

trabalhos da autoria do Ministério de Coordenação Económica, nomeadamente: Estrutura das famílias, A mulher cabo-verdiana, Cultura e desenvolvimento em Cabo Verde, Alfabetização, instrução e escolarização (todos de 1995).

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Anexos

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Visionámos alguns filmes sobre experiências que estão a realizar com alunos do ensino básico

(experiência piloto com alunos da 1ª e 3ª classe, no seguimento da reforma curricular). É óbvio

que estes alunos foram seleccionados.

O rácio alunos/professores no ensino básico é, segundo me disseram, em média 30/1. A

tendência é para, nas salas de aula, existirem carteiras para dois alunos (estimulação do

trabalho em grupo/partilha/entre-ajuda, etc).

A educação tem sido, de facto, uma das grandes apostas políticas em Cabo Verde (como diz o

Dr. Amado: “Nada mais nos resta. A grande aposta tem de ser nas pessoas. São elas a

nossa riqueza”).

Durante a entrevista, a propósito do cabo-verdiano, o Dr. Amado declarou que “o cabo-

verdiano pensa e sente em crioulo. Ele nunca discute em português”.

Durante a tarde, conheci uma esteticista portuguesa que não se cansou de tecer avisos sobre a

“falsidade” da mulher cabo-verdiana, assim como da sua “necessidade” de estrangeiros (o

passaporte para outras terras). Por várias vezes disse para termos cuidado com os nossos

maridos.

Esta mulher cabo-verdiana que a todos engana, nada tem a haver com a imagem do cabo-

verdiano pobre mas digno. Até que ponto esta situação não se deverá ao fenómeno da

urbanização (quebra de laços, economia de mercado, presença de estrangeiros, etc)?

21 de Setembro de 1996

Hoje fui à Assomada (Santa Catarina). É notória a diferença entre estes cabo-verdianos e os

da Praia. São mais conservadores, por exemplo, os panos fazem parte da indumentária

feminina (apesar de os mais comuns serem os panos que vêm do continente, industrializados,

ainda se encontram “panû di terra”). São igualmente frequentes, os lenços na cabeça.

Aqui é tudo mais verde (pelo menos nesta altura do ano).

É incrível a diferença entre os papéis masculino e feminino: a mulher, seja adulta ou criança,

trabalha imenso (desde o ir buscar água aonde quer que ela esteja, a lavar roupa nos locais

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próprios, a vender nas ruas e mercados). Quanto aos homens, só os vejo a trabalhar no sector

terciário, nas obras, como taxistas ou como seguranças... (se bem que esta situação possa vir a

modificar-se com a escolarização- hoje, há mais mulheres a frequentar a escola).

Em Cabo Verde, as crianças, desde muito cedo, auxiliam os seus pais (por exemplo, é muito

normal ver-se “rapariguinhas” a carregar água à cabeça). “São adultos em ponto pequeno”

(Dr. Amado).

Hoje, no plateau, não pude deixar de me impressionar ao ver três homens a roubar os sapatos

e a carteira a um velhote que, provavelmente, já tinha bebido demais (estava deitado em cima

de um pequeno muro, sem qualquer acção). Tudo isto passou-se junto ao mercado, onde havia

imensas pessoas, e ninguém fez absolutamente nada (eu também não fiz nada...não tive

coragem para isso). Parecia uma coisa normal.

Foi dia de missa. Mesmo que não tivesse ouvido a música e as vozes, este acontecimento não

me teria passado despercebido. Bastava olhar para as roupas que os cabo-verdianos

ostentavam (as chamadas roupas de domingo)

22 de Setembro de 1996

Levantei-me cedo, ainda não eram 6h30. Finalmente havia chegado o dia de assistir à missa

na Capela da Achadinha. É, realmente, um acontecimento digno de se ver: juntaram-se ali

muitas pessoas (umas vestidas normalmente, outras com o traje domingueiro, algumas até com

panos de obra, todas muito bem penteadas) e cada uma leva o seu próprio banco. Em virtude

da dimensão da capela, a eucaristia é celebrada ao ar livre (o padre fala para um altifalante).

A leitura dos textos é feita em português, mas a explicação é dada em crioulo. Achei curioso o

padre, durante o sermão dizer “O fim último do Homem é Deus. A morte de uma pessoa

certamente que é triste, deixa cá a família, os amigos, todos choram a morte; mas a pessoa

está bem, porque está com Deus, cumpriu o seu destino”.

Alguns portugueses com quem falei disseram-me que ficam chocados com o “desapego” que os

cabo-verdianos demonstram pela vida (mesmo as crianças, encararem a morte de forma

demasiado natural, como não sendo nada de especial). Penso que o que existe é falta de

diálogo inter-cultural: para o cabo-verdiano, a morte é o destino do próprio homem, é um

acontecimento natural, é o desígnio de Deus.

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Em Santiago proliferam as igrejas e capelas, inclusive as não católicas (Igreja Nazareno,

Reino Universal de Deus, etc).

Depois da celebração dominical, fui passear com a D. Joana e com as três crianças

(Miguel, Patrícia e Maria) ao bairro Eugénio Lima (fica perto da Achadinha).

Durante o passeio, perguntei à D. Joana como é que o namoro é visto aqui. Respondeu-me

que, apesar de já não ser como era dantes, as pessoas ainda não o aceitam como algo normal.

Muitas vezes, as coisas passam-se no maior secretismo. Também pode acontecer que não

gostem do rapaz e então, para além da pancada, proíbem o namoro.

Também perguntei à D. Joana qual o motivo de se verem tão poucos grupos mistos de jovens.

Disse-me que aqui, uma rapariga que seja vista a falar com rapazes e no meio deles, fica mal

falada. Afirmou ainda que a Igreja Católica tem procurado combater esta situação, alertando

as pessoas para o facto de não haver qualquer problema por uma rapariga falar com um

rapaz. Mas tudo leva o seu tempo.

Questionei-a sobre a crença em bruxas e sobre a prática da guisa, esteira e guarda-cabeças.

Declarou que, aqui, na cidade estes costumes, ainda que ocorram, não têm o mesmo peso e

importância que no interior. Inclusive, há “zentz” que, para fazer estas cerimónias gasta tudo

o que tem e, no dia seguinte, não há o que comer (apesar de tudo, as coisas hoje já perderam

muito do seu carácter religioso).

Comentei com esta amiga, que não me acostumo a ver as mulheres e as raparigas a

trabalharem tanto, nomeadamente a irem buscar água aos reservatórios e a terem de carregá-la

até casa, enquanto os homens e rapazes ficam sentados a olhar e a conversar. Disse-me que,

de facto, a mulher cabo-verdiana é ainda muito sacrificada. Normalmente, o chefe de família é

o homem e há muitos que não admitem que a mulher dê a sua opinião; só eles é que podem

decidir as coisas. Mas as circunstâncias tendem a mudar, sobretudo em virtude da crescente

independência económica da mulher.

A falta de água é uma constante. No bairro, não há água há 3 dias.

Perguntei à Patrícia, que frequenta o 5º ano, se as professoras falam em crioulo ou em

português. Disse-me que nas salas todos falam em português e no recreio em crioulo.

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À tarde fui passear com a D. Joana, o Sr. Gutemberg (pai de José), a Patrícia, a Lurdes.,

a Maria, o Miguel e mais três amigos à Água di Gato e à Praia-Baixo.

Água di Gato, que fica em S. Domingos, é um lugar lindíssimo, muito verde e com muitas

mangueiras, abacateiros, planta do sisal, milho, tabaco, gado, etc. Até macacos há aqui

(apesar de eu não ter visto nenhum). Há bastante água.

Em Água di Gato as crianças têm um ar felicíssimo, estão sempre a rir-se, sobem às árvores,

correm descalços, fazem “surf” (deslocam-se em pé pelo canal de água), etc. Aqui, as pessoas

são muito boas e honestas (deixei a mala dentro do carro, que ficou aberto, e ninguém lhe

tocou). Oferecem o que têm e o que não têm, são “fadjado”.

Um dos cabo-verdianos que aqui reside (um jovem), quando me viu, perguntou-me se eu era

cabo-verdiana ou “Je suis”.

Fartei-me de comer mangas (é das tais coisas, se eu pudesse, não as teria comido, porque,

para além de não tirar a casca, foram lavadas com água que eu não sei se é ou não tratada;

mas até agora estou bem, não me aconteceu nada). Também bebi grogue (não é nada mau).

Fui a única mulher a fazê-lo (penso que mo terão oferecido por delicadeza).

Quando íamos para Praia-Baixo, parámos outra vez no caminho, na casa da «Mamã»- os

homens que iam connosco saíram e quando regressaram, traziam torresmos e rebuçados.

Finalmente, chegámos a Praia-Baixo, eram 17h30. É uma praia de areia escura, bastante

extensa, ostenta algumas palmeiras, algumas casas e um pequeno bar.

Durante a minha curta permanência neste lugar, assisti a mais uma guerra entre duas

mulheres. De acordo com informações que me deram (aqui sabe-se tudo), este desentendimento

já vem de trás. Por qualquer razão (provavelmente o motivo são os homens), estas duas

mulheres terão andado à tareia uma com a outra. Entretanto, a filha da mulher que saiu

derrotada da contenda terá contado a seu pai o sucedido. Este, descontente com o insucesso

“bélico” da mulher, resolveu ir pedir satisfações à rival. E, para “agrado” dos espectadores,

encontrou-a ali, na Praia-Baixo. Mais uma vez, a mulher que havia vencido o conflito

inicial, voltou a agredir a outra mulher e, “com a embalagem”, também agrediu a filha

“delatora”. O episódio terminou com a chegada da polícia que os terá levado para a esquadra.

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No caminho para casa, parámos mais uma vez para abastecer o carro de água e os homens

de grogue. O regresso foi bastante atribulado; para dizer a verdade, pensei que não ia chegar

inteira a casa.

Apesar do receio que senti (derivado das quantidades de grogue ingeridas pelos homens e da

sua “maravilhosa” forma de conduzir, rara era a vez em que seguíamos na nossa faixa), foi

um dia muito bem passado.

23 de Setembro de 1996

Hoje de manhã, voltei a fazer as malas rumo à “minha casa”, à Residencial Solmar. Para

almoçar, resolvi ir ao “Cachito”, um bar com uns pratinhos muito em conta. Comi cachupa e

bebi sumo de calabaceira. Enquanto aqui estive, só vi homens (talvez por causa da televisão,

estava a dar futebol).

Á noite fui à Assembleia Nacional assistir a um espectáculo de acrobacia chinesa e a uma

actuação do grupo de ballet de Cabo Verde.

24 de Setembro de 1996

Desloquei-me mais uma vez ao IPE, mas ainda não é desta que fiquei despachada

(prometeram entregar-me materiais pelos quais demonstrei interesse). Tenho de voltar no dia

26.

Fui também ao estabelecimento onde funciona o Ensino Superior e à Rádio Educativa, onde

falei com o Dr. Osvaldino Barros (o Director da Rádio, mais conhecido por Dino).

Perguntei-lhe quais as directrizes da Rádio Educativa. Disse-me que a Rádio já passou por

três fases e que vais entrar numa quarta.

1ª fase (1980-84): Dar a conhecer o sistema educativo em Cabo Verde.

2ª fase (1984-88): Para além de continuarem preocupados em divulgar o sistema educativo,

passaram a dar primazia ao ensino à distância via rádio (sendo um dos objectivos o chegar ao

mundo rural) e ao esclarecimento do programa curricular do ensino básico (estas transmissões

eram feitas em crioulo).

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3ª fase (1988-até ao momento): Abandono do ensino à distância (apesar do sucesso

“estrondoso”). Preocupação em dar a conhecer novas técnicas; recolha de opiniões de

informadores qualificados no que respeita ao estado actual da educação em Cabo Verde,

nomeadamente sobre a reforma curricular.

4ª fase: A iniciar com o apoio de um subsídio para os PALOP. Voltar ao ensino à

distância, via rádio/televisão.

Têm tido também a seu cargo a divulgação e redacção do Boletim Educação (alguns trouxe

comigo, outros tirei fotocópias e os restantes consultei no local).

Á tarde fui, mais uma vez à Achadinha. Durante a conversa, perguntei à Lurdes quem é o

chefe de família em Cabo Verde. Depois de alguma hesitação, disse-me: - “Lá em casa quem

manda sou eu”.

Quando comentei com a Lurdes que o Dr. Dino havia afirmado (até com um certo orgulho)

que aqui a guerra entre mulheres é quase sempre devida aos homens (“é que aqui o cabo-

verdiano gosta muito de ter várias mulheres, tem a mulher legal e várias amantes”), a minha

amiga confirmou: “É verdade, aqui as mulheres brigam por causa de homem”.

Á noite fui jantar com o Sr. Militão (ao Gamboa). A certa altura, e sabendo da minha

curiosidade sobre os costumes desta gente, contou-me que no Domingo (dia 22) havia ido a um

enterro na Assomada. Nesta zona rural, ainda se pratica a guisa: as pessoas acompanham o

morto até ao cemitério, onde ficam cerca de uma hora a “chorar o morto”; ao fim desse tempo,

regressam para casa dos familiares, onde um verdadeiro banquete os espera (a única diferença

em relação a um baptizado é que não há doces).

Também mencionou que há pessoas, as mais “agarradas” às tradições, que ainda praticam o

“guarda-cabeças” (no entanto, dão-lhe um carácter mais festivo).

Quanto à poligamia, é um facto. Na Brava, ilha de origem do Sr. Militão, duas das suas

primas vivem, na mesma casa, com o mesmo homem. Se numa noite dorme com uma, na

seguinte dorme com a outra (sem quaisquer problemas nem constrangimentos).

E tudo isto apesar de as pessoas se meterem muito na vida umas das outras (é um meio muito

pequeno e o controlo é apertado).

25 de Setembro de 1996

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Fui novamente à Rádio Educativa, para consultar os Boletins que faltavam (e que poderiam

vir a ter interesse).

À tarde, chegou o Cláudio, meu amigo e “fotógrafo de serviço”. Estive a mostrar-lhe a cidade.

Obviamente ficou desiludido (também eu fiquei nos primeiros dias).

(...)

27 de Setembro de 1996

Fomos conhecer a Ilha de Santiago. A Benvinda, uma portuguesa em serviço na ilha, teve a

amabilidade de fazer de cicerone.

Na ida para o Tarrafal fomos pelo litoral (passámos Pedra Badejo, Calheta, etc).

Contrariamente ao que supunha, as pessoas não foram muito simpáticas, amáveis e educadas.

Assim que nos avistavam começavam logo a gritar “Money, money...” Uma das peixeiras

que fotografámos, chegou ao ponto de se dirigir a nós aos gritos e a professar furiosamente

uma série de palavras (que ninguém percebeu). Pareceu-nos que estava a pedir, ou melhor, a

exigir, o rolo de volta. Ainda nos conseguiu dar a entender que pretendia igualmente uma

boleia (a ela e ao seu peixe) e/ou money.

Depois de algumas peripécias chegámos finalmente ao nosso destino, ao Tarrafal (e o rolo da

máquina ainda estava connosco, em parte devido ao sangue frio do Cláudio, que soube reagir

da melhor forma). Também aqui os gritos de “money, money” continuaram...

Mas não pagámos a ninguém para tirar fotografias...ou permitiam ou não permitiam.

A praia do Tarrafal, onde estivemos cerca de uma hora, é das mais bonitas de Santiago:

areia fina e branca, água límpida e a uma temperatura amena, muitas palmeiras... O único

senão são as crianças que andam por ali atentas aos movimentos dos turistas (uma distracção

e lá se vão as coisas...).

Quando chegámos à prisão do Tarrafal foi um inferno: assim que saímos do carro, vimo-nos

cercados e agarrados por cerca de dez crianças (vindas não se sabe de onde). Para onde quer

que nos dirigíssemos, não nos largavam e mexiam-nos em tudo (nas máquinas, na roupa e nos

cabelos). Só queriam uma coisa: “Money”.

Page 17: Anexos-tese

Anexos

15

Acabámos por nos ir embora, sem ver nada (não é que houvesse grande coisa para ver...) e sem

lhes dar nada.

É uma pena que em Cabo Verde ocorram estes incidentes, porque um dos seus trunfos poderá

vir a ser, efectivamente, o turismo (ainda que o seu património não esteja aproveitado, o que

até é compreensível).

À vinda viemos pelo interior. Foi uma viagem bonita. O verde era a cor dominante.

Fizemos alguns desvios, um para S. Jorge (onde cozinham um frango célebre e onde existe

um jardim botânico) e para o Pico Rui Vaz (infelizmente a nebulosidade não nos deixou ver

as ilhas do Maio e Fogo).

De regresso à “linda” cidade da Praia, fomos ao “shopping”, ao Sucupira, comprar alguns

tecidos e outras recordações.

Fomos ainda à Cidade Velha, para o Cláudio ver e tirar mais umas fotografias (infelizmente

estraguei o rolo da outra visita a esta cidade). Aqui sim, as pessoas são muito amáveis e

receptivas.

Para finalizar o dia, fomos ao bairro buscar o saco que a família do José preparou para ele.

Havia chegado o momento das despedidas. Já estava com saudades destas pessoas que, sem

me conhecerem de lado algum, estimaram-me como se realmente fosse da família. Tento

agradecer-lhes por tudo, especialmente pelo carinho com que me trataram. Não sei se têm

consciência da imensidão de coisas que me proporcionaram. Aprendi muito aqui.

28 de Setembro de 1996

Fizemos as malas e partimos para S. Vicente (uma outra realidade, uma outra história).

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Anexos

16

ANEXO 2

Guiões de observação

Anexo 2. Guiões de observação

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Anexos

17

Guião de observação de Cabo Verde

Práticas culturais: Guisa Esteira Guarda-cabeça Crença em Deus e no Destino

Forma de vestir (uso de panos tradicionais?) Alimentação

Música Objectos (pilão, balaio, contas,...) Maneira de ser e estar do cabo-verdiano

Morabeza Djuntamon Fatalismo

Estrutura familiar Nuclear / Extensa Chefe de família Poligamia / Monogamia “Espaço rede” e “espaço território” Relações transnacionais vs relações de vizinhança Educação Veículos de transmissão Escolas Língua (português/crioulo)

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Anexos

18

Guião de observação do Bairro de Santa Marta de Corroios

Razões da vinda para este bairro Organização espacial Condições de vida Práticas culturais: Guisa Esteira Guarda-cabeça Crença em Deus e no Destino

Forma de vestir (uso de panos tradicionais?) Alimentação

Música Objectos (pilão, balaio, contas,...) Maneira de ser e estar do cabo-verdiano adulto

Morabeza Djuntamon Fatalismo

Maneira de ser e estar da criança cabo-verdiana Obrigações familiares Brincadeiras Formas de comunicação Amizades Estrutura familiar Nuclear / Extensa Chefe de família Poligamia / Monogamia “Espaço rede” e “espaço território” Relações transnacionais vs realções de vizinhança Sonhos

Guião de obsevação da Escola nº5 de Santa Marta de Corroios

Alunos Brincadeiras Rede de amizades Formas de comunicação Maneira de estar (sala / pátio) Professores Atitude face aos alunos (em especial em relação aos africanos) Iniciativas extra-curriculares

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Anexos

19

ANEXO 3

Material pedagógico utilizado

Anexo 3. Material pedagógico utilizado

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20

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Anexos

46

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Anexos

47

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Anexos

48

ANEXO 4

4.1 Auto-retratos

os

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Anexos

49

O Gabriel, 10 anos, origem cabo-verdiana diz que tem cabelos pretos e olhos castanhos escuros. Não faz qualquer referência à cor da pele, ainda que o seu auto-retrato revele a apropriação da categoria “negro”.

Trindade, 10 anos, são-tomense. Neste auto-retrato o aluno representou-se como negro. Na descrição que faz de si declara que é castanho e que gosta da sua cor. Não faz qualquer menção à origem ou nacionalidade.

Page 52: Anexos-tese

Anexos

50

Ruca, 10 anos, origem cabo-verdiana (nacionalidade portuguesa). O aluno enumera algumas características físicas (estatura, cor dos olhos e do cabelo) mas não menciona a sua “raça”. No entanto, no auto-retrato aparece como negro. No texto “Meninos de todas as cores” diz que é “mais parecido com o Carlos porque ele é negro e tem o cabelo encaracolado”.

A Isabel, 11 anos, filha de pai cabo-verdiano e de mãe portuguesa, residente do bairro de Santa Marta, utilizou o lápis de cor castanho para retratar o seu tom de pele. Para além disso, a primeira característica a que recorre para se definir é à variável “raça” (“eu sou mulata”...).

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Anexos

51

Clementina, 11 anos, cabo-verdiana (chegou este ano a Portugal). Apesar dos erros de português, percebe-se que a aluna se define como sendo “clara e morena” (ainda que para nós um negro seja sempre um negro, independentemente de ser mais ou menos escuro, o cabo-verdiano distingue as tonalidades e quanto mais escuro pior).

Sofia, 9 anos, pais cabo-verdianos. Não há correspondência entre a descrição (“eu sou mulata”) e o seu retrato (utilizou um lápis cor de rosa para pintar a cara).

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Anexos

52

César, 9 anos, origem angolana. Apesar de afirmar que é negro e de se representar como o sendo (quer no que concerne à cor da pele, mais especificamente da cara, não do resto do corpo, quer no que concerne à textura do cabelo), no texto “Meninos de todas as cores” declara que “eu identifico-me com o menino branco porque ele é português” (curiosamente, na auto-descrição, não faz qualquer referência a esta categoria).

Vanessa, 12 anos, origem cabo-verdiana. Nem a sua descrição nem o seu auto-retrato aludem à variável “raça”. No entanto, diz que é cabo-verdiana (apesar da sua nacionalidade ser portuguesa, a aluna sente-se cabo-verdiana).

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Anexos

53

Serafim, 9 anos, filho de pai cabo-verdiano e mãe são-tomense. À pergunta “Quem sou eu?” o aluno respondeu sou negro, cabo-verdiano, português e sou criança. No entanto, o seu auto-retrato revela a apropriação da categoria oposta (pintou-se como sendo branco) e na sua auto-descrição não refere nem a sua origem / nacionalidade, nem a sua “raça”.

Cristiano, 8 anos, origem são-tomense. Começa a sua descrição a dizer “Eu sou negro...”. No entanto, pintou o seu rosto (mas não as orelhas) de cor-de-rosa. Curiosamente, quando lhe foi sugerido que ilustrasse o texto “Fada branca, fada negra”, representou a fada negra enquanto negra e as fadas brancas enquanto brancas.

Page 56: Anexos-tese

Anexos

54

Gervásio, 11 anos, são-tomense. Neste auto-retrato, o aluno apropriou-se da categoria “branco”. Vai ao pormenor de dizer que tem cabelos, nariz e ouvidos pretos, mas não diz que é “preto”/negro (aliás, nem o nariz nem os ouvidos são pintados de preto). No texto “Meninos de todas as cores”, afirma que se identifica “com todas as pessoas do mundo porque somos todos iguais”.

Silvestre, 9 anos, cabo-verdiano (este é um dos alunos que ainda tem algumas referências da sua terra). Afirma que é “preto” mas não se pintou enquanto tal.

Page 57: Anexos-tese

Anexos

55

Princesa, 8 anos, origem cabo-verdiana. A aluna refere a sua nacionalidade, diz que é portuguesa, mas que os seus pais são cabo-verdianos. A Princesa vive confusa em relação à sua identidade racial: a sua família chama-a de branca, ainda que ela não se considere enquanto tal. Na auto-descrição deixa transparecer esta desorientação quando afirma “tenho cabelo loiro um bocado castanho”.

Alina, 12 anos, são-tomense. A sua descrição deixa transparecer uma certa nostalgia em relação à sua terra: “Eu sou são-tomense e vim de S. Tomé há um ano e gosto muito de São Tomé”. Não faz qualquer menção à “raça”.

Page 58: Anexos-tese

Anexos

56

ANEXO 4

4.2 Árvore genealógica

Page 59: Anexos-tese

Anexos

57

Esta é a família da Sofia, 9 anos, origem cabo-verdiana. A Sofia representa as suas quatro irmãs e os seus dois irmãos como tendo diferentes cores de cabelo mas é omissa no que concerne à cor da pele (no seu auto-retrato a Sofia diz que é mulata).

Page 60: Anexos-tese

Anexos

58

Esta é a árvore genealógica do Pinto, 11 anos, cabo-verdiano. É curioso que o Pinto chegou ao ponto de pintar os olhos dos vários membros da família (incluindo os dele) como sendo azuis. A observação desta árvore permite-nos ainda saber que o aluno tem cinco irmãos.

Page 61: Anexos-tese

Anexos

59

Este desenho é da autoria da Feliciana, 13 anos, cabo-verdiana. A Feliciana elaborou um auto-retrato revelador de uma apropriação exacta da variável “raça” e na sua auto-descrição chegou a afirmar “eu gosto muito da minha cor”. No entanto, neste exercício, a cor dos vários membros da família não foi tida em conta.

Page 62: Anexos-tese

Anexos

60

Isabel, 11 anos, filha de pai cabo-verdiano e mãe portuguesa. Repare no pormenor deste desenho: a Isabel representou as várias tonalidades dos vários membros da sua família (quer no que concerne às irmãs quer no que concerne aos ascendentes).

Page 63: Anexos-tese

Anexos

61

ANEXO 4

4.3 Ilustrações do texto “Fada branca, fada negra”

Page 64: Anexos-tese

Anexos

62

O Afonso, 8 anos, filho de pai são-tomense e mãe cabo-verdiana, retrata muito bem toda a atmosfera de uma história de dragões: temos um castelo, um cavalo e as fadas (uma negra, a heroína e uma branca).

Ilustração da autoria de Augusto, 9 anos, origem cabo-verdiana. A fada negra do Augusto é uma fada branca.

Page 65: Anexos-tese

Anexos

63

Esta linda fada negra, heroína da história, é da autoria de Feliciana, 13 anos, cabo-verdiana. Para além da cor da pele, repare no formato dos lábios e do nariz.

Esta ilustração, da autoria de Bela, 9 anos, origem cabo-verdiana, é curiosa na medida em que nem as fadas brancas nem a fada negra são retratadas (cada uma das fadas apresenta uma cor diferente).

Page 66: Anexos-tese

Anexos

64

ANEXO 4

4.4 Ilustrações do tema “Racismo”

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Anexos

65

Gabriel, 10 anos, origem cabo-verdiana. Este é um desenho que pode ser considerado de violento. Repare na expressão dos negros a dispararem sobre o branco. Repare também nas armas utilizadas assim como na frase em crioulo: “Morabeza (“agradabilidade), nu mata branco”.

Afonso, 8 anos, filho de pai são-tomense e mãe cabo-verdiana. Representação de uma cena de racismo entre dois negros (um adulto e uma criança).

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Anexos

66

Clementina, 11 anos, cabo-verdiana: pinta a cara da menina branca de cor de rosa, mas não pinta a dos menino “preto”.

Susana, 7 anos, portuguesa. “Era bom que fossemos todos amigos...”

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Anexos

67

ANEXO 4

4.5 Outros

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Anexos

68

Cátia, 9 anos, portuguesa (residente no bairro de Santa Marta). Não faz qualquer distinção entre os colegas nem entre “eles” e “eu”.

Feliciana, 13 anos, cabo-verdiana. É curioso que a Feliciana representa o Michael Jackson como tendo os olhos azuis e a pele cor de rosa.

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Anexos

69

Anabela, 10 anos, angolana. “O meu super-herói é ... Jesus Cristo”.

Desenho da autoria de Sofia, 9 anos, origem cabo-verdiana

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Anexos

70

Gabriel, 10 anos, origem cabo-verdiana. Este foi o “super herói” mais desenhado por todos (retirado da famosa série “Dragon Ball”).

Trindade, 10 anos, origem cabo-verdiana

Page 73: Anexos-tese

Anexos

71

Afonso, 8 anos, filho de pai são-tomense e mãe cabo-verdiana

Page 74: Anexos-tese

Anexos

72

ANEXO 5

Informações estatísticas complementares

Anexo 5. Informações estatísticas complementares

Page 75: Anexos-tese

Anexos

73

O objectivo do "Twenty Statements Test" é, neste caso, o de possibilitar que

as crianças que frequentam a Escola de Santa Marta de Corroios se

identifiquem espontaneamente, ou seja, que respondam à pergunta "Quem sou eu?". Assim, das 5 principais variáveis apresentadas aos alunos, os critérios mais

escolhidos na 1ª opção, foram os relacionados com a «Nacionalidade»

(31,1%), a «Idade» (24,6%) e a «Raça» (19,7%).

É de realçar que dos 19 alunos que se referem à sua nacionalidade, 68%

identificam-se enquanto portugueses. Destes alunos que se definem enquanto

portugueses, 31% são negros.

Podemos ainda observar que dos 12 alunos que seleccionaram a variável

«Raça», 58% são negros. Quadro 1. Primeira opção dos alunos na resposta à pergunta "Quem sou eu?" Valid Cum

Value Label Value Frequency Percent Percent Percent

IDADE 1 15 18,8 24,6 24,6

GENERO 2 6 7,5 9,8 34,4

RAÇA 3 12 15,0 19,7 54,1

NACIONALIDADE 4 19 23,8 31,1 85,2

CLASSE ECONÓMICA 5 9 11,3 14,8 100,0

NÃO FEZ O EXERCÍCIO 0 19 23,8 Missing

------- ------- -------

Total 80 100,0 100,0

Mean 3,016 Median 3,000 Mode 4,000

Std dev 1,420

Valid cases 61 Missing cases 19

Quadro 2. Primeira opção dos alunos na resposta à pergunta "Quem sou eu?"

Valid Cum

Value Label Value Frequency Percent Percent Percent

ser criança 1 15 18,8 24,6 24,6

Género 2 6 7,5 9,8 34,4

Branco(a) 3 5 6,3 8,2 42,6

Negro(a) 4 3 3,8 4,9 47,5

Preto(a) 5 3 3,8 4,9 52,5

Mestiço(a) 6 1 1,3 1,6 54,1

Caboverdiano(a) 7 3 3,8 4,9 59,0

Angolano(a) 8 1 1,3 1,6 60,7

Santomense 9 2 2,5 3,3 63,9

Português(a) 10 13 16,3 21,3 85,2

Nem rico(a) nem pobr 13 9 11,3 14,8 100,0

não fez o exercício 0 19 23,8 Missing

------- ------- -------

Total 80 100,0 100,0

Mean 6,049 Median 5,000 Mode 1,000

Std dev 4,481

Valid cases 61 Missing cases 19

Page 76: Anexos-tese

Anexos

74

Gráfico 1. Relação entre a raça dos alunos e a primeira variável seleccionada para responder à pergunta "Quem sou eu?"

12

34

5 1

23

0

2

4

6

8

10

12

Nº o

corr

ênci

as

1ª opção no TST

Raça dos alunos

1-Idade2-Género3-Raça4-Nacionalidade5-Classe Económica

1-Branca2-Negra3-Mestiça

Como se pode observar pela leitura do gráfico, os alunos brancos

responderam, antes de mais, que são portugueses, enquanto que os alunos

negros responderam que são crianças. Há igualmente um número elevado de

alunos negros que se definiram em termos de nacionalidade. Em relação à 2ª opção, as escolhas dos alunos foram muito dispersas estando

distribuídas de forma mais ou menos uniforme pelos vários critérios

continuando a ser a «Nacionalidade» (31,1%) e a «Raça» (24,6%) os mais

seleccionados.

É curioso notar que, segundo o teste do Qui-quadrado (teste Q) e o teste

exacto de Fisher (Teste E), existe associação entre estas duas variáveis

(«Raça» e «Nacionalidade»).

Assim, a maioria dos alunos que na 1º opção seleccionam a categoria «Raça»,

escolhem a «Nacionalidade» como 2ª opção. O teste utilizado foi o teste E com

um nível de significância p=0,02. De forma semelhante, a maioria dos alunos

que na 1ª opção refere a sua «Nacionalidade», na 2ª opção selecciona a

«Raça». O teste utilizado foi o teste Q, com o nível de significância p 0,01.

Page 77: Anexos-tese

Anexos

75

Dos 19 alunos que seleccionaram a «Nacionalidade» como 2ª opção, 11 são

de nacionalidade portuguesa e apenas 4 são cabo-verdianos (o que não é de

estranhar já que a maioria dos alunos possui nacionalidade portuguesa)

Quanto à escolha da raça, 2/3 dos alunos que se identificaram com esta

variável são de raça negra. Quadro 3. Segunda opção dos alunos à questão "Quem sou eu?"

Valid Cum Value Label Value Frequency Percent Percent Percent

idade 1 7 8,8 11,5 11,5

género 2 10 12,5 16,4 27,9

raça 3 15 18,8 24,6 52,5

nacionalidade 4 19 23,8 31,1 83,6

classe económica 5 10 12,5 16,4 100,0

não fez o exercício 0 19 23,8 Missing

------- ------- -------

Total 80 100,0 100,0

Mean 3,246 Median 3,000 Mode 4,000

Std dev 1,247

Valid cases 61 Missing cases 19

Quadro 4. Segunda opção dos alunos à questão "Quem sou eu?"

Valid Cum

Value Label Value Frequency Percent Percent Percent

ser criança 1 7 8,8 11,5 11,5

Género 2 10 12,5 16,4 27,9

Branco(a) 3 6 7,5 9,8 37,7

Negro(a) 4 5 6,3 8,2 45,9

Preto(a) 5 4 5,0 6,6 52,5

Caboverdiano(a) 7 4 5,0 6,6 59,0

Angolano(a) 8 1 1,3 1,6 60,7

Santomense 9 3 3,8 4,9 65,6

Português(a) 10 11 13,8 18,0 83,6

Rico(a) 11 1 1,3 1,6 85,2

Pobre 12 4 5,0 6,6 91,8

Nem rico(a) nem pobr 13 5 6,3 8,2 100,0

não fez o exercício 0 19 23,8 Missing

------- ------- -------

Total 80 100,0 100,0

Mean 6,262 Median 5,000 Mode 10,000

Std dev 4,151

Valid cases 61 Missing cases 19

No que respeita à 3ª opção, e à semelhança do que sucedeu anteriormente, a

escolha dos alunos também se distribuiu pelos 5 critérios. No entanto, tendo

sido a «Idade» (24,6%) e a «Raça» (21,3%) os mais seleccionados.

Page 78: Anexos-tese

Anexos

76

Ao contrário do que acontecera com as escolhas anteriores, dos 10 alunos que

referiram a categoria «Nacionalidade», 6 não possuem nacionalidade

portuguesa mas sim cabo-verdiana (3), angolana (1) e santomense (2).

76% dos alunos que consideram os seus traços físicos enquanto um elemento

identitário, são de raça negra.

Quadro 5. Terceira opção dos alunos à questão "Quem sou eu?" Valid Cum

Value Label Value Frequency Percent Percent Percent

idade 1 15 18,8 24,6 24,6

género 2 11 13,8 18,0 42,6

raça 3 13 16,3 21,3 63,9

nacionalidade 4 10 12,5 16,4 80,3

classe económica 5 12 15,0 19,7 100,0

não fez o exercicio 0 19 23,8 Missing

------- ------- -------

Total 80 100,0 100,0

Mean 2,885 Median 3,000 Mode 1,000

Std dev 1,462

Valid cases 61 Missing cases 19

Quadro 6. Terceira opção dos alunos à questão "Quem sou eu?"

Valid Cum

Value Label Value Frequency Percent Percent Percent

ser criança 1 15 18,8 24,6 24,6

Género 2 11 13,8 18,0 42,6

Branco(a) 3 3 3,8 4,9 47,5

Negro(a) 4 5 6,3 8,2 55,7

Preto(a) 5 3 3,8 4,9 60,7

Mestiço(a) 6 2 2,5 3,3 63,9

Caboverdiano(a) 7 3 3,8 4,9 68,9

Angolano(a) 8 1 1,3 1,6 70,5

Santomense 9 2 2,5 3,3 73,8

Português(a) 10 4 5,0 6,6 80,3

Rico(a) 11 1 1,3 1,6 82,0

Pobre 12 4 5,0 6,6 88,5

Nem rico(a) nem pobr 13 7 8,8 11,5 100,0

não fez o exercício 0 19 23,8 Missing

------- ------- -------

Total 80 100,0 100,0

Mean 5,410 Median 4,000 Mode 1,000

Std dev 4,436

Valid cases 61 Missing cases 19

Page 79: Anexos-tese

Anexos

77

No que concerne à 4ª opção, foram a «Classe Económica» (21,3%), a «Idade»

(16,3%) e a «Raça» (15%) as categorias seleccionadas por mais alunos.

Ao contrário do que vinha acontecendo nas escolhas da «Raça» para as

opções anteriores, a maior parte dos alunos que se identificaram com esta

categoria são de raça branca.

Quadro 7. Quarta opção dos alunos à questão "Quem sou eu?" Valid Cum

Value Label Value Frequency Percent Percent Percent

idade 1 13 16,3 22,4 22,4

género 2 6 7,5 10,3 32,8

raça 3 10 12,5 17,2 50,0

nacionalidade 4 12 15,0 20,7 70,7

classe económica 5 17 21,3 29,3 100,0

não fez o exercício 0 22 27,5 Missing

------- ------- -------

Total 80 100,0 100,0

Mean 3,241 Median 3,500 Mode 5,000

Std dev 1,537

Valid cases 58 Missing cases 22 Quadro 8. Quarta opção dos alunos à questão "quem sou eu?"

Valid Cum

Value Label Value Frequency Percent Percent Percent

ser criança 1 13 16,3 22,4 22,4

Género 2 6 7,5 10,3 32,8

Branco(a) 3 6 7,5 10,3 43,1

Negro(a) 4 2 2,5 3,4 46,6

Preto(a) 5 2 2,5 3,4 50,0

Caboverdiano(a) 7 1 1,3 1,7 51,7

Português(a) 10 11 13,8 19,0 70,7

Pobre 12 5 6,3 8,6 79,3

Nem rico(a) nem pobr 13 12 15,0 20,7 100,0

não fez o exercício/ 0 22 27,5 Missing

------- ------- -------

Total 80 100,0 100,0

Mean 6,793 Median 6,000 Mode 1,000

Std dev 4,944

Valid cases 58 Missing cases 22

Tendo sempre por objectivo compreender de que modo as crianças cabo-

verdianas se percepcionam, logo na primeira sessão de trabalho, propus aos

vários alunos que se auto-retratassem e se auto-descrevessem através de um

desenho e de um pequeno texto, respectivamente. Pretendia saber até que

Page 80: Anexos-tese

Anexos

78

ponto a cor e a nacionalidade constituem variáveis importantes da sua

identidade.

Os resultados obtidos não deixam de ser curiosos. De um total de 76 alunos,

apenas 43 efectuaram um auto-retrato considerado correcto. Destes 43, 31 são

brancos, 10 são negros e 2 são mestiços. Das restantes 33 crianças, que

realizaram um auto-retrato considerado incorrecto, 32 são negras e 1 mestiça.

Segundo o teste Q, com o nível de significância p=0,01, existe associação

entre estas variáveis: todos os alunos que fizeram um auto-retrato considerado

correcto são brancos.

Quadro 9. Auto-retrato efectuado pelos alunos da escola nº5 de Santa Marta de Corroios

RETRATO Auto-retrato

Valid Cum

Value Label Value Frequency Percent Percent Percent

côr correctamente re 1 43 53,8 56,6 56,6

côr retratada incorr 2 33 41,3 43,4 100,0

não fez o exercício 0 4 5,0 Missing

------- ------- -------

Total 80 100,0 100,0

Mean 1,434 Median 1,000 Mode 1,000

Std dev ,499

Valid cases 76 Missing cases 4

Quadro 10. Raça dos alunos versus auto-retrato realizado pelos alunos

RETRATO

Count ”

” Row

” 1” 2” Total

RACA ““““““““•““““““•““““““›

1 ” 31” ” 31

” ” ” 40,8

š““““““•““““““›

2 ” 10” 32” 42

” ” ” 55,3

š““““““•““““““›

3 ” 2” 1” 3

” ” ” 3,9

–““““““�““““““ ̃

Column 43 33 76

Total 56,6 43,4 100,0

Number of Missing Observations: 4

Page 81: Anexos-tese

Anexos

79

Gráfico 2. Relação entre a raça dos alunos e o seu auto-retrato.

12

31

205

101520253035

Nº o

corr

ênci

as

Raça dos alunosAuto-retrato

1-Correcto2-Incorrecto1-Branca

2-Negra3-Mestiça

Como podemos constatar, todos os alunos brancos realizaram um auto-retrato

considerado correcto. Em relação aos alunos negros, cerca de 76% não

executaram correctamente esta tarefa.

O critério para classificar um auto-retrato de correcto/incorrecto, limitou-se à

forma como as crianças retrataram a sua cor, ou seja, em relação a uma

criança branca era suposto que esta desenhasse uma criança branca,

enquanto que uma criança negra deveria desenhar uma criança negra. No

entanto, o que constatámos é que, de um total de 42 crianças negras, 32 não

retrataram correctamente a sua cor, ou seja, desenharam crianças brancas

(mesmo depois de lhes ter sido explicado que o auto-retrato deveria possibilitar

a sua identificação imediata).

Curiosamente, quando lhes foi sugerido que escrevessem um pequeno texto

que iniciasse com "Eu sou...", de um total de 42 crianças negras, 18

mencionaram traços raciais e 5 referiram-se à nacionalidade.

Page 82: Anexos-tese

Anexos

80

Quadro 11. Auto-descrição dos alunos versus raça dos alunos

RACA Page 1 of 1

Count ”

” Row

” 1” 2” 3” Total

DESCR ““““““““•““““““•““““““•““““““›

1 ” 2” 18” 3” 23

” ” ” ” 30,3

š““““““•““““““•““““““›

2 ” 1” 5” ” 6

” ” ” ” 7,9

š““““““•““““““•““““““›

4 ” 28” 19” ” 47

” ” ” ” 61,8

–““““““�““““““�““““““ ̃

Column 31 42 3 76

Total 40,8 55,3 3,9 100,0

Number of Missing Observations: 4

Gráfico 3. Relação entre a raça dos alunos e os elementos por si referidos na auto-descrição.

1 2 4

1

2

0

5

10

15

20

25

30

35

Nº o

corr

ênci

as

Elementos referidos na auto-descrição

Auto-retrato1-Correcto2-Incorrecto

Menciona:1-Raça2-Nacionalidade3-Nem raça nem nacionalidade

A maioria dos alunos que considera pertinente mencionar as suas

características físicas e/ou a sua nacionalidade por forma a completarem a

Page 83: Anexos-tese

Anexos

81

frase "Eu sou...", são negros. Em contrapartida, 90% dos alunos brancos não

refere nenhuma destas duas categorias («Raça» e «Nacionalidade»).

O teste Q, com o nível de significância p 0,01 comprova que existe associação

entre estas variáveis: na sua auto-descrição, a grande maioria dos alunos

brancos da Escola nº5 de Santa Marta de Corroios, não faz qualquer menção à

raça ou à nacionalidade, contrariamente aos alunos negros.

Só assim se compreende que 57% das crianças que na sua auto-descrição se

referem a elementos raciais tenham desenhado um auto-retrato considerado

incorrecto. O mesmo se verifica relativamente à nacionalidade: 83% dos alunos

que consideram pertinente referir a sua nacionalidade não elaboraram um auto-

retrato considerado correcto.

Quadro 12. Auto-descrição versus Auto-retrato

RETRATO

Count ”

” Row

” 1” 2” Total

DESCR ““““““““•““““““•““““““›

1 ” 10” 13” 23

” ” ” 30,3

š““““““•““““““›

2 ” 1” 5” 6

” ” ” 7,9

š““““““•““““““›

4 ” 32” 15” 47

” ” ” 61,8

–““““““�““““““ ̃

Column 43 33 76

Total 56,6 43,4 100,0

Number of Missing Observations: 4

Page 84: Anexos-tese

Anexos

82

Gráfico 4. Relação entre o auto-retrato e os elementos referidos pelos alunos na sua auto-descrição.

1 2 4

1

2

0

5

10

15

20

25

30

35

Nº o

corr

ênci

as

Elementos referidos na auto-descrição

Auto-retrato1-Correcto2-Incorrecto

Menciona:1-Raça2-Nacionalidade3-Nem raça nem nacionalidade

A maioria dos alunos que realizou um auto-retrato considerado correcto na sua

auto-descrição não mencionaram a raça ou a nacionalidade.

A este respeito, é ainda curioso notar que dos alunos que fazem menção a

características rácicas na sua descrição, 82,6% possuem mãe ou pai de

nacionalidade não portuguesa. Destes 82,6%, cerca de 50% são de origem

cabo-verdiana.

Page 85: Anexos-tese

Anexos

83

Quadro 13. Auto-descrição versus nacionalidade da mãe.

NAC.MAE

Count ”

” Row

” 1” 2” 3” 4” Total

DESCR ““““““““•““““““““•““““““““•““““““““•““““““““›

1 ” 4 ” 9 ” 7 ” 3 ” 23

” ” ” ” ” 30,3

š““““““““•““““““““•““““““““•““““““““›

2 ” 2 ” 3 ” 1 ” ” 6

” ” ” ” ” 7,9

š““““““““•““““““““•““““““““•““““““““›

4 ” 28 ” 9 ” 8 ” 2 ” 47

” ” ” ” ” 61,8

–““““““““�““““““““�““““““““�““““““““˜

Column 34 21 16 5 76

Total 44,7 27,6 21,1 6,6 100,0

Number of Missing Observations: 4

Gráfico 5. Relação entre a nacionalidade das mães dos alunos e os elementos por estes referidos na auto-descrição.

12

34

1

2

40

5

10

15

20

25

30

Nº o

corr

ênci

as

Nacionalidade da mãe

Auto-descriçãoMenciona:1-Raça2- Nacionalidade4-Nem raça nemnacionalidade

1-Portuguesa2-Cabo-verdiana3-Santomense4-Angolana

A maioria dos alunos que se caracterizam quanto à sua raça e/ou à sua

nacionalidade na auto-descrição não têm mães de nacionalidade portuguesa.

Page 86: Anexos-tese

Anexos

84

Quadro 14. Auto-descrição versus nacionalidade do pai

NAC.PAI

Count ”

” Row

” 1” 2” 3” 4” 5” Total

DESCR ““““““““•““““““““•““““““““•““““““““•““““““““•““““““““›

1 ” 4 ” 10 ” 7 ” 1 ” 1 ” 23

” ” ” ” ” ” 30,3

š““““““““•““““““““•““““““““•““““““““•““““““““›

2 ” 1 ” 4 ” 1 ” ” ” 6

” ” ” ” ” ” 7,9

š““““““““•““““““““•““““““““•““““““““•““““““““›

4 ” 29 ” 8 ” 8 ” 2 ” ” 47

” ” ” ” ” ” 61,8

–““““““““�““““““““�““““““““�““““““““�““““““““˜

Column 34 22 16 3 1 76

Total 44,7 28,9 21,1 3,9 1,3 100,0

Number of Missing Observations: 4

Gráfico 6. Relação entre a nacionalidade dos pais dos alunos e os elementos por estes referidos na auto-descrição.

12

34

51

2

40

5

10

15

20

25

30

Nº o

corr

ênci

as

Nacionalidade do paiAuto-descrição

Menciona:1-Raça2-Nacionalidade4-Nem raça nemnacionalidade

1-Portuguesa2-Cabo-verdiana3-Santomense4-Angolana5-Moçambicana

À semelhança da observação relativa ao gráfico anterior, a maioria dos alunos

que se caracterizam quanto à sua raça e/ou à sua nacionalidade na auto-

descrição não têm pais de nacionalidade portuguesa.

Page 87: Anexos-tese

Anexos

85

Destes alunos que, na auto-descrição, mencionam elementos raciais, 45% têm

mais de 9 anos de idade, 18,5% têm 9 anos de idade e apenas 28% das

crianças têm menos de 9 anos.

Quadro 15. Auto-descrição versus Idade dos alunos

IDADE

Count ”

” Row

” 7” 8” 9” 10” 11” 12” 13” Total

DESCR ““““““““•““““““•““““““•““““““•““““““•““““““•““““““•““““““›

1 ” ” 7” 5” 4” 4” 1” 2” 23

” ” ” ” ” ” ” ” 30,3

š““““““•““““““•““““““•““““““•““““““•““““““•““““““›

2 ” ” 2” ” 2” 1” 1” ” 6

” ” ” ” ” ” ” ” 7,9

š““““““•““““““•““““““•““““““•““““““•““““““•““““““›

4 ” 1” 15” 22” 5” 2” ” ” 47

” ” ” ” ” ” ” ” 61,8

–““““““�““““““�““““““�““““““�““““““�““““““�““““““˜

Column 1 24 27 11 7 2 2 76

(Continued) Total 1,3 31,6 35,5 14,5 9,2 2,6 2,6 100,0

Gráfico 7. Relação entre a idade dos alunos abrangidos pelo estudo e os elementos por si referidos na auto-descrição.

7 89

1011

1213 1

24

0

5

10

15

20

25

Nº o

corr

ênci

as

Idade das crianças

Auto-descriçãoMenciona:1-Raça2-Nacionalidade3-Nem raça nem nacionalidade

A maioria dos alunos faz menção a características raciais tem 9 ou mais anos. Verifiquei que as crianças negras com idade de 9 ou mais anos, são aquelas

que têm uma maior percepção das suas características físicas. A este

propósito, torna-se ainda interessante estabelecer uma relação entre as

Page 88: Anexos-tese

Anexos

86

variáveis idade e raça. Da leitura do quadro e gráfico seguintes, pode

comprovar-se que 44% das crianças com 9 ou mais anos de idade são negras.

Quadro 16. Idade versus Raça RACA

Count ”

” Row

” 1” 2” 3” Total

IDADE ““““““““•““““““•““““““•““““““›

7 ” 1” ” ” 1

” ” ” ” 1,3

š““““““•““““““•““““““›

8 ” 16” 8” 2” 26

” ” ” ” 32,5

š““““““•““““““•““““““›

9 ” 14” 15” ” 29

” ” ” ” 36,3

š““““““•““““““•““““““›

10 ” 1” 10” ” 11

” ” ” ” 13,8

š““““““•““““““•““““““›

11 ” 2” 4” 1” 7

” ” ” ” 8,8

š““““““•““““““•““““““›

12 ” ” 2” ” 2

” ” ” ” 2,5

š““““““•““““““•““““““›

13 ” ” 2” ” 2

” ” ” ” 2,5

š““““““•““““““•““““““›

14 ” ” 2” ” 2

” ” ” ” 2,5

–““““““�““““““�““““““ ̃

Column 34 43 3 80

Total 42,5 53,8 3,8 100,0

Number of Missing Observations: 0

Page 89: Anexos-tese

Anexos

87

Gráfico 8. Relação entre a idade e a raça dos alunos.

7 8 9 10 11 12 13 14 12

3

0

5

10

15

20

Nº o

corr

ênci

as

Idade

Raça dos alunos

1-Branca2-Negra3-Mestiça

Como podemos observar, a grande maioria das crianças brancas a frequentar

o 3º e 4º Anos, têm 9 ou menos anos de idade. No que concerne aos alunos

negros, verifica-se o fenómeno inverso: a grande maioria possui 9 ou mais

anos de idade.

Numa outra sessão de trabalho, propus aos alunos que lessem o texto

"Meninos de todas as cores", de Luísa Ducla Soares, e, de seguida, que

realizassem uma ficha de leitura sobre o mesmo. Numa das questões,

designadamente a questão 8, foi-lhes perguntado com qual das crianças se

identificavam e porquê.

Curiosamente, 66,2% dos alunos escolheram a personagem do texto com que

mais se identificavam tendo por base a variável raça. Destes 66,2%, 19 são

brancos, 27 são negros e 1 é mestiço.

Page 90: Anexos-tese

Anexos

88

Quadro 17. Identificação com o personagem do texto "Meninos de todas as cores" versus raça dos alunos

RACA

Count ”

” Row

” 1” 2” 3” Total

MENINOS ““““““““•““““““•““““““•““““““›

1 ” 19” 27” 1” 47

” ” ” ” 66,2

š““““““•““““““•““““““›

2 ” 6” 4” ” 10

” ” ” ” 14,1

š““““““•““““““•““““““›

3 ” 4” 2” 2” 8

” ” ” ” 11,3

š““““““•““““““•““““““›

4 ” ” 2” ” 2

” ” ” ” 2,8

š““““““•““““““•““““““›

5 ” ” 1” ” 1

” ” ” ” 1,4

š““““““•““““““•““““““›

6 ” ” 3” ” 3

” ” ” ” 4,2

–““““““�““““““�““““““ ̃

Column 29 39 3 71

Total 40,8 54,9 4,2 100,0

Number of Missing Observations: 9

Gráfico 9. Relação entre a raça dos alunos e a razão da escolha do personagem do texto "Meninos de todas as cores" com o qual se identificam.

12

34

56 1

2

30

5

10

15

20

25

30

Nº o

corr

ênci

as

Identificação com o personagem

Raça dos alunos1-Branca2-Negra3-Mestiça

Com base em:1-Raça2-Outro traço físico3-Género4-Nacionalidade5-Nenhum6-Todos

Page 91: Anexos-tese

Anexos

89

Independentemente da sua raça, a maioria das crianças identifica-se com

aquele personagem que tem a mesma cor que a sua.

É interessante notar que 62% dos alunos que elaboraram um auto-retrato

considerado incorrecto afirmam identificar-se com o personagem do texto que

pertence à mesma raça que a sua, ou seja, que apresenta características

físicas semelhantes. Quadro 18. Identificação com o personagem do texto "Meninos de todas as cores"

versus auto-retrato

RETRATO

Count ”

” Row

” 1” 2” Total

MENINOS ““““““““•““““““•““““““›

1 ” 28” 18” 46

” ” ” 67,6

š““““““•““““““›

2 ” 5” 4” 9

” ” ” 13,2

š““““““•““““““›

3 ” 5” 2” 7

” ” ” 10,3

š““““““•““““““›

4 ” 1” 1” 2

” ” ” 2,9

š““““““•““““““›

5 ” ” 1” 1

” ” ” 1,5

š““““““•““““““›

6 ” ” 3” 3

” ” ” 4,4

–““““““�““““““ ̃

Column 39 29 68

Total 57,4 42,6 100,0

Number of Missing Observations: 12

Page 92: Anexos-tese

Anexos

90

Gráfico 10. Relação entre o auto-retrato realizado pelos alunos e o personagem com que se identificam no texto "Meninos de todas as cores".

1 23

45

6 1

2

0

5

10

15

20

25

30N

º oco

rrên

cias

Identificação com o personagem

Auto-retrato

1-Correcto2-Incorrecto

Com base em:1-Raça2-Outro traço físico3-Género4-Nacionalidade5-Nenhum6-Todos

A maioria dos alunos que realizaram um auto-retrato considerado incorrecto

identificam-se com o personagem do texto com base em critérios raciais.

Do total de alunos que se identificaram com o personagem do texto com base

na variável raça, 57,45% possuem mãe de nacionalidade não portuguesa (63%

destas mulheres são cabo-verdianas) e 55% têm pais de nacionalidade não

portuguesa (dos quais 62% são cabo-verdianos).

Page 93: Anexos-tese

Anexos

91

Quadro 19. Identificação com o personagem do texto "Meninos de todas as cores" versus nacionalidade da mãe NAC.MAE

Count ”

” Row

” 1” 2” 3” 4” Total

MENINOS ““““““““•““““““““•““““““““•““““““““•““““““““›

1 ” 20 ” 17 ” 8 ” 2 ” 47

” ” ” ” ” 66,2

š““““““““•““““““““•““““““““•““““““““›

2 ” 6 ” 3 ” 1 ” ” 10

” ” ” ” ” 14,1

š““““““““•““““““““•““““““““•““““““““›

3 ” 5 ” ” 2 ” 1 ” 8

” ” ” ” ” 11,3

š““““““““•““““““““•““““““““•““““““““›

4 ” ” ” 1 ” 1 ” 2

” ” ” ” ” 2,8

š““““““““•““““““““•““““““““•““““““““›

5 ” ” ” ” 1 ” 1

” ” ” ” ” 1,4

š““““““““•““““““““•““““““““•““““““““›

6 ” ” ” 3 ” ” 3

” ” ” ” ” 4,2

–““““““““�““““““““�““““““““�““““““““˜

Column 31 20 15 5 71

Total 43,7 28,2 21,1 7,0 100,0

Number of Missing Observations: 9

Gráfico 11. Relação entre a nacionalidade das mães dos alunos e o personagem do texto "Meninos de todas as cores" com que estes se identificam.

1 2 3 4 5 6 12

340

2468

101214161820

Nº o

corr

ênci

as

Identificação com o personagem

Nacionalidade da mãe

1-Portuguesa2-Cabo-verdiana3-Santomense4-Angolana

Com base em:1-Raça2-Outro traço físico3-Género4-Nacionalidade5-Nenhum

Page 94: Anexos-tese

Anexos

92

Como se pode observar da leitura do gráfico, mais de metade das crianças que

se identificam com o personagem do texto com base em critérios raciais têm

mães de nacionalidade não portuguesa (17 destas mães são de nacionalidade

cabo-verdiana).

Quadro 20. Identificação com o personagem do texto "Meninos de todas as cores" versus nacionalidade do pai

NAC.PAI

Count ”

” Row

” 1” 2” 3” 4” 5” Total

MENINOS ““““““““•““““““““•““““““““•““““““““•““““““““•““““““““›

1 ” 21 ” 16 ” 10 ” ” ” 47

” ” ” ” ” ” 66,2

š““““““““•““““““““•““““““““•““““““““•““““““““›

2 ” 7 ” 2 ” 1 ” ” ” 10

” ” ” ” ” ” 14,1

š““““““““•““““““““•““““““““•““““““““•““““““““›

3 ” 4 ” 2 ” 1 ” ” 1 ” 8

” ” ” ” ” ” 11,3

š““““““““•““““““““•““““““““•““““““““•““““““““›

4 ” ” ” 1 ” 1 ” ” 2

” ” ” ” ” ” 2,8

š““““““““•““““““““•““““““““•““““““““•““““““““›

5 ” ” ” ” 1 ” ” 1

” ” ” ” ” ” 1,4

š““““““““•““““““““•““““““““•““““““““•““““““““›

6 ” ” ” 2 ” 1 ” ” 3

” ” ” ” ” ” 4,2

–““““““““�““““““““�““““““““�““““““““�““““““““˜

Column 32 20 15 3 1 71

Total 45,1 28,2 21,1 4,2 1,4 100,0

Number of Missing Observations: 9

Page 95: Anexos-tese

Anexos

93

Gráfico 12. Relação entre a nacionalidade dos pais dos alunos e o personagem do texto "Meninos de todas as cores" com que estes se identificam.

1 2 3 45

6 12

34

50

5

10

15

20

25

Nº o

corr

ênci

as

Identificação com o personagem

Nacionalidade do pai1-Portuguesa2-Cabo-verdiana3- Santomense4-Angolana5-Moçambicana

Com base em:1-Raça2-Outro traço físico3-Género4-Nacionalidade5-Nenhum6-Todos

À semelhança da leitura do gráfico anterior, mais de metade das crianças que

se identificam com o personagem do texto com base em critérios raciais têm

pais de nacionalidade não portuguesa (16 destes pais são de nacionalidade

cabo-verdiana).

No entanto, não devemos estranhar que 76,6% destes alunos sejam

portugueses, uma vez que a grande maioria dos alunos, independentemente

da sua origem e da sua raça, já nasceu em Portugal.

Page 96: Anexos-tese

Anexos

94

Quadro 21. Identificação com o personagem do texto versus nacionalidade dos alunos NACIONAL

Count ”

” Row

” 1” 2” 3” 4” 5” Total

MENINOS ““““““““•““““““““•““““““““•““““““““•““““““““•““““““““›

1 ” 36 ” 4 ” 4 ” 2 ” 1 ” 47

” ” ” ” ” ” 66,2

š““““““““•““““““““•““““““““•““““““““•““““““““›

2 ” 8 ” 1 ” 1 ” ” ” 10

” ” ” ” ” ” 14,1

š““““““““•““““““““•““““““““•““““““““•““““““““›

3 ” 8 ” ” ” ” ” 8

” ” ” ” ” ” 11,3

š““““““““•““““““““•““““““““•““““““““•““““““““›

4 ” ” ” 1 ” 1 ” ” 2

” ” ” ” ” ” 2,8

š““““““““•““““““““•““““““““•““““““““•““““““““›

5 ” 1 ” ” ” ” ” 1

” ” ” ” ” ” 1,4

š““““““““•““““““““•““““““““•““““““““•““““““““›

6 ” 2 ” ” 1 ” ” ” 3

” ” ” ” ” ” 4,2

–““““““““�““““““““�““““““““�““““““““�““““““““˜

Column 55 5 7 3 1 71

Total 77,5 7,0 9,9 4,2 1,4 100,0

Number of Missing Observations: 9

Gráfico 13. Relação entre a nacionalidade dos alunos da Escola nº5 de Santa Marta de Corroios e o motivo da escolha do personagem do texto "Meninos de todas as cores" com o qual se identificam.

1 2 3 4 5 6 12

34

505

10152025303540

Nº o

corr

ênci

as

Identificação com o personagem

Nacionalidade das crianças

1-Portuguesa2-Cabo-verdina3-Santomense4-Angolana5-Brasileira

Com bse em:1-Raça2-Outro traço físico3-Género4-Nacionalidade5-Nenhum6-Todos

Page 97: Anexos-tese

Anexos

95

Contrariamente aos dois últimos quadros e gráficos, a grande maioria das

crianças que justifica a sua escolha com base em critérios raciais é de

nacionalidade portuguesa.

Como já foi referido, os alunos da Escola nº5 de Santa Marta de Corroios leram

e interpretaram outros textos para além deste "Meninos de todas as cores".

Assim, ao responderem à pergunta "Se fosses um(a) feiticeiro(a) poderoso(a)

como a Josefina o que é que fazias?", referente à ficha de leitura do texto

"Fada negra, fada branca", das cinco respostas possíveis e de um total de 51

alunos, 8 afirmaram que mudavam a sua cor. Destes 8 alunos, 6 identificaram-

se com aquele personagem do texto "Meninos de todas as cores" que,

fisicamente, mais se assemelhava a si. É ainda de salientar que 5 destas

crianças são negras.

Quadro 22. Identificação com o personagem do texto "Meninos de todas as cores" versus resposta à pergunta "Mudarias de cor?"

MUDA_COR

Count ”

” Row

” 1” 2” 3” Total

MENINOS ““““““““•““““““•““““““•““““““›

1 ” 31” 6” 1” 38

” ” ” ” 74,5

š““““““•““““““•““““““›

2 ” 5” 2” ” 7

” ” ” ” 13,7

š““““““•““““““•““““““›

3 ” 2” ” ” 2

” ” ” ” 3,9

š““““““•““““““•““““““›

4 ” 1” ” ” 1

” ” ” ” 2,0

š““““““•““““““•““““““›

5 ” 1” ” ” 1

” ” ” ” 2,0

š““““““•““““““•““““““›

6 ” 2” ” ” 2

” ” ” ” 3,9

–““““““�““““““�““““““ ̃

Column 42 8 1 51

Total 82,4 15,7 2,0 100,0

Number of Missing Observations: 29

Page 98: Anexos-tese

Anexos

96

Gráfico 14. Relação entre o motivo que condicionou a identificação com o personagem do texto "Meninos de todas as cores" e a resposta à pergunta "Se fosses um feiticeiro(a) poderoso(a) como a Josefina que é que fazias?".

1 2 3 4 5 6 12

305

101520253035

Nº o

corr

ênci

as

Identificalção com o personagem

Mudarias de côr?

1-Não2-Mudava a minha3-Mudava a dos outros

Com base em: 1-Raça2-Outro traço físico3-Género4-Nacionalidade5-Nenhum

Independentemente da sua raça, a esmagadora maioria dos alunos, ainda que

tivesse esse "poder", não mudaria a sua cor. No entanto, não podemos deixar

de observar que quase todos os alunos que, hipoteticamente, mudariam a sua

cor, identificaram-se com o personagem do texto com base em critérios raciais.

Quadro 23. Resposta à pergunta "Mudarias de cor?" versus raça dos alunos

RACA

Count ”

” Row

” 1” 2” 3” Total

MUDA_COR ““““““““•““““““•““““““•““““““›

1 ” 22” 25” 2” 49

” ” ” ” 84,5

š““““““•““““““•““““““›

2 ” 3” 5” ” 8

” ” ” ” 13,8

š““““““•““““““•““““““›

3 ” ” 1” ” 1

” ” ” ” 1,7

–““““““�““““““�““““““ ̃

Column 25 31 2 58

Total 43,1 53,4 3,4 100,0

Number of Missing Observations: 22

Page 99: Anexos-tese

Anexos

97

Gráfico 15. Relação entre a resposta à pergunta "Se fosses um feiticeiro(a) poderoso(a) como a Josefina que é que fazias?" e a raça dos alunos.

12

31

2

30

5

10

15

20

25N

º oco

rrên

cias

Mudarias de côr?

Raça dos alunos

1-Branca2-Negra3-Mestiça1-Não

2-Mudava a minha3-Mudava a dos outros

Como podemos observar da leitura do gráfico, a maioria dos alunos que

mudaria a sua cor são negros.

É ainda interessante notar que, apesar de na Escola nº5 de Santa Marta de

Corroios, de um total de 59 crianças, 12 crianças brancas terem amigos

preferenciais brancos e 11 crianças negras terem amigos preferenciais negros,

as restantes 59,3% das crianças, ao serem interrogadas quanto aos seus

amigos preferidos, mencionam, simultaneamente amigos brancos e negros.

Quadro 24. Raça dos amigos preferenciais versus raça dos alunos RACA

Count ”

” Row

” 1” 2” 3” Total

AMIGOS ““““““““•““““““•““““““•““““““›

1 ” 12” ” 1” 13

” ” ” ” 22,0

š““““““•““““““•““““““›

2 ” ” 11” ” 11

” ” ” ” 18,6

š““““““•““““““•““““““›

3 ” 12” 23” ” 35

” ” ” ” 59,3

–““““““�““““““�““““““ ̃

Column 24 34 1 59

Total 40,7 57,6 1,7 100,0

Number of Missing Observations: 21

Page 100: Anexos-tese

Anexos

98

Gráfico 16. Relação existente entre a raça dos alunos e a raça dos amigos

preferenciais.

12

31

2

3

0

5

10

15

20

25

Nº o

corr

ênci

as

Raça dos amigos preferidos

Raça dos alunos1-Branca2-Negra3-Mestiça

1-Branca2-Negra3-Mestiça

A maioria dos alunos negros tem amigos preferenciais brancos e negros. No

entanto, no que concerne aos alunos brancos, verifica-se um equilíbrio entre

aqueles que só têm amigos preferenciais brancos e aqueles que têm amigos

preferenciais brancos e negros.

Numa das sessões de trabalho, perguntei a estas crianças se já tinham ouvido

falar em racismo e, caso a resposta fosse positiva, através de que meio(s)

(escola, pais, rua ou televisão).

Constatei que 82% dos alunos já ouviram falar de racismo através da televisão

e apenas 18% fala deste tema em casa. Quanto à escola e à rua, as respostas

foram muito próximas: 52% afirma ter ouvido falar em racismo na escola e 45%

alegam ter ouvido falar sobre o fenómeno na rua.

Page 101: Anexos-tese

Anexos

99

R_CASA racismo em casa

Valid Cum

Value Label Value Frequency Percent Percent Percent

nπo ouve falar 1 63 78,8 81,8 81,8

ouve falar 2 14 17,5 18,2 100,0

nπo fez o exercφcio 0 3 3,8 Missing

------- ------- -------

Total 80 100,0 100,0

Mean 1,182 Median 1,000 Mode 1,000

Std dev ,388

Valid cases 77 Missing cases 3

- - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -

R_ESCOLA racismo na escola

Valid Cum

Value Label Value Frequency Percent Percent Percent

nπo ouve falar 1 37 46,3 48,1 48,1

ouve falar 2 40 50,0 51,9 100,0

nπo fez o exercφcio 0 3 3,8 Missing

------- ------- -------

Total 80 100,0 100,0

Mean 1,519 Median 2,000 Mode 2,000

Std dev ,503

Valid cases 77 Missing cases 3

- - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -

R_RUA racismo na rua

Valid Cum

Value Label Value Frequency Percent Percent Percent

nπo ouve falar 1 42 52,5 54,5 54,5

ouve falar 2 35 43,8 45,5 100,0

nπo fez o exercφcio 0 3 3,8 Missing

------- ------- -------

Total 80 100,0 100,0

Mean 1,455 Median 1,000 Mode 1,000

Std dev ,501

Valid cases 77 Missing cases 3

- - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -

R_TV racismo na televisπo

Valid Cum

Value Label Value Frequency Percent Percent Percent

nπo ouve falar 1 14 17,5 18,2 18,2

ouve falar 2 63 78,8 81,8 100,0

nπo fez o exercφcio 0 3 3,8 Missing

------- ------- -------

Total 80 100,0 100,0

Page 102: Anexos-tese

Anexos

100

Mean 1,818 Median 2,000 Mode 2,000

Std dev ,388

Valid cases 77 Missing cases 3

Através de que meios ouviste falar em racismo?

0

10

20

30

40

50

60

70

Casa Escola Rua Televisão

Não ouviu

Ouviu

Gráfico 17. Como pode observar, são poucos os pais que falam, ou já falaram, sobre racismo com os seus filhos. Em contrapartida, a televisão é o principal meio de divulgação do tema junto destas crianças.